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UM BREVE RELATO DO MONITORAMENTO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA NA

SUBIDA AOS CASTELOS DO AÇU – PARNASO

Marcelo Faria Porretti¹², Fernando Amaro Pessoa¹, Marcelo Soares Salomão¹, João
Thompsom¹.
¹Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ campus Petrópolis;
²Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e do Esporte - UERJ;
marceloporretti@gmail.com

Palavras Chaves: Caminhada; Atividade Física; Montanhismo.

Introdução: Este trabalho relata uma prática didática de caminhada por trilha aos
Castelos do Açu, a partir da sede Petrópolis do Parque Nacional da Serra dos Órgãos
(PARNASO). A atividade foi realizada no âmbito do projeto de extensão “Expedições do
CEFET/RJ – campus Petrópolis”, o qual possui como objetivo realizar idas a campo
contextualizando conteúdos aprendidos em sala de aula por estudantes, despertando a
conscientização ambiental, a prática regular de atividades físicas e ressaltando as influências
efetivas do ser humano na natureza. Tais aspectos perpassam o tema meio ambiente e também
das práticas corporais de aventura, ressaltando a interdisciplinaridade presente na atividade,
tendo como base a prática do montanhismo, a começar pelos docentes envolvidos que
coordenam o projeto de extensão citado: docentes de Matemática, Geografia, Engenharia da
Computação e Educação Física.
Durante o desenvolvimento do projeto, ouvimos diversas falas no sentido de que os
indivíduos se manifestam não aptos fisicamente a realizarem algumas trilhas e caminhadas,
seja por condicionamento físico, pelas vestimentas/calçados, pelo medo e desconhecimento
do que irão encontrar (matas, insetos, animais peçonhentos, etc). O fator mais citado nestas
ocasiões é a falta de condicionamento físico. Sendo assim, decidimos mapear a frequência
cardíaca de um grupo de pessoas durante uma trilha considerada de dificuldade moderada,
mas sem trechos técnicos existentes, a fim pontuar possíveis trechos de maior dificuldade,
justificando-se compreender e avaliar esta trilha de montanha que compõe o primeiro dia da
famosa Travessia Petrópolis – Teresópolis.
A prática regular de atividades físicas é um fator de desenvolvimento e manutenção do
condicionamento físico e de saúde das pessoas, em que o American College of Sports
Medicine (ACSM, 2011) orienta pela prática de 150 minutos de atividades físicas distribuídas
durante uma semana, o que daria 30 minutos por 5 dias no mínimo. Farinatti e Ferreira (2006)
apontam que a saúde dos indivíduos é cercada por um caráter multifatorial que inclui questões
ligadas ao meio ambiente onde este indivíduo mora, trabalha, se relaciona e se desenvolve,
não somente a prática de atividades físicas responsáveis pela saúde dos indivíduos.
Objetivos: A subida aos Castelos do Açu é realizada em uma trilha com cerca de 8 km
de extensão, porém com um ganho de elevação de aproximadamente 1.200 metros, tornando a
caminhada exigente e cansativa (ICMBio, 2019; NETO, 2008). Sendo assim, nosso objetivo é
pontuar os locais de maior exigência cardiorrespiratória através do monitoramento de
frequência cardíaca.
Metodologia: A atividade ocorreu no dia 17 de julho de 2018, com a participação de
um grupo de 18 pessoas, sendo 8 discentes e 5 docentes do CEFET/RJ – campus Petrópolis,
além de 5 voluntários externos. Todos concordaram em participar da pesquisa, porém, os
dados do professor de Educação Física responsável pela aferição da frequência cardíaca foram
excluídos para dar maior fidedignidade à pesquisa. Assim, a frequência cardíaca de 17
participantes foi apresentada. Antes da trilha ser iniciada foi realizado um treinamento pelo
professor de Educação Física de como aferir a frequência cardíaca, ensinando os participantes
a sentirem a veia jugular pulsando e, assim, contando os batimentos por 15 segundos com
auxilio de um relógio digital. O professor responsável realizou aferições no início da atividade
e em mais 6 pontos pré-determinados (no momento imediato em que o participante chegava
ao ponto de aferição), conforme veremos a seguir.
Resultados: Os pontos pré-determinados para aferição dos batimentos cardíacos
foram:1- Saída da sede Petrópolis do PARNASO; 2 - Bifurcação para a cachoeira Véu da
Noiva; 3 - Pedra do Queijo; 4 – Pedra do Ajax; 5 – Mirante do Chapadão; 6 - Castelos do
Açu, além de uma aferição após 5 minutos de chegada ao topo e repouso. Os dados obtidos
estão distribuídos abaixo na Tabela 1.

Tabela 1: Frequência cardíaca dos participantes da trilha para os Castelos do Açu ao longo do percurso.

1 2 3 4 5 6

PONTOS DE Sede Bifurcação Pedra do Pedra do Chapadão Castelos Final/


AFERIÇÃO Petrópolis Véu da Queijo Ajax do Açu
Noiva Repouso

ALTITUDE ~1.000 m ~1.300 m ~1.500 m ~1.800 m ~2.000 m ~2.245 m


HORÁRIO s=09:00 c=9:47 c=10:36 c=11:42 c=13:15 c= 14:45 5 min.
s= saída i=23min. i=24min. i=63min. i=45min. repouso
i=intervalo s=10:10 s=11:00 s=12:45 s= 14:00
c= chegada
PARTICIPANTE
BATIMENTO POR MINUTO (BPM)

1 23 68 108 108 156 148 128 96

2 21 76 132 108 148 128 120 80

3 19 116 136 152 180 160 148 132

4 17 96 160 116 200 168 140 108

5 16 68 144 156 200 140 132 112

6 16 92 124 148 196 140 144 124

7 18 76 144 152 212 180 136 120

8 31 64 100 88 112 144 124 76

9 32 104 176 176 184 180 168 112

10 28 64 100 160 164 144 140 116

11 17 84 140 156 200 160 128 88

12 31 64 120 120 140 168 128 72

13 29 96 132 136 128 128 128 100

14 47 64 68 112 160 144 112 72

15 18 84 132 144 152 160 108 84

16 18 88 168 160 200 168 148 124

17 52 72 156 136 132 152 152 96

O tempo total do percurso foi de 5 horas e 45 minutos. Porém, se retirarmos o tempo


de paradas, que totalizou 2 horas e 35 minutos, o percurso poderia ter sido feito em 3 horas e
10 minutos. A velocidade média levando em consideração as paradas foi de 1,28 Km/h.
Discussão: Sendo um dos fatores limitadores de uma caminhada íngreme, a frequência
cardíaca varia de acordo com o esforço realizado. Assim, com os dados obtidos é possível
apontar os trechos durante a caminhada que exigem maior condicionamento
cardiorrespiratório dos indivíduos que procuram este tipo de atividade.
Os batimentos por minuto (BPM) variaram no grupo entre 64 e 212. Dos trechos com
picos de batimentos cardíacos, o principal foi o da Pedra do Queijo até a Pedra do Ajax (dos
17 participantes, 12 apresentaram maior BPM ao chegar na Pedra do Ajax), podendo ter
sofrido interferências da proximidade da hora do almoço, da maior exposição ao sol nesse
trajeto, o peso da mochila, ou mesmo do desnível presente neste trecho. Tais dados indicam
ser necessária uma melhor adaptação cardiorrespiratória para este trecho, não desmerecendo
atenção os demais trechos de caminhada.
Na perspectiva de que o meio ambiente manifesta-se como aliado na manutenção da
saúde e bem estar, é possível destacar que a realização de atividades físicas em ambientes
naturais proporciona aprendizados e emoções não desencadeados em outras atividades físicas.
Com isso, temos uma conjugação de atividades físicas beneficiando o controle e manutenção
da pressão arterial (Monteiro e Sobral, 2004), além de estímulos à maior conscientização
ambiental e resignificações sobre as relações entre sociedade e natureza.
Conclusão: Neste breve relato concluímos que o nível de frequência cardíaca é
individual, tendo momentos de elevação que não representam empecilhos para realizar
caminhadas em montanhas, porém, é necessária a busca de um melhor condicionamento, onde
a própria natureza pode aparecer como aliada.
Além disso, estudos recentes demonstram que o banho de floresta, a imersão dos
indivíduos no meio ambiente, afastando-os das tecnologias e atividades diárias, produzem
efeitos benéficos no organismo humano, onde esta simbiose com a floresta ajuda na melhoria
da saúde dos indivíduos, melhorias que ocorrem também no aumento da criatividade das
pessoas (Li; Otsuka; Kobayashi, 2011), o que ressalta a importância de se estimular essas
atividades de aprendizado aliado à promoção de saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARINATTI, Paulo de Tarso Veras; FERREIRA, Marcos Santos. Saúde, promoção da saúde
e educação física: conceitos, princípios e aplicações. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2006.
Fox III SM, Naughton JP, Haskell WL. Physical activity and the prevention of coronary heart
disease. Ann Clin Res. 1971; 3: 404-32.
Garber CE , Blissmer B , Deschenes MR , Franklin BA , Lamonte MJ , Lee IM , Nieman
DC , Swain DP. Med Sci Sports Exerc. Julho de 2011; 43 (7): 1334-59
ICMBio, INSTITUTO CHICO MENDES Parques e Florestas Nacionais. Travessia
Petrópolis - Teresópolis. Disponível em:
http://www.icmbio.gov.br/parnaserradosorgaos/guia-do-visitante/mapas-e-enderecos/32-
travessia-petropolis-teresopolis.html Acesso: 17 out 2019.
Li, Q., Otsuka, T., Kobayashi, M. et al. Eur J Appl Physiol 111: 2845.
https://doi.org/10.1007/s00421-011-1918-z. 2011.
NETO, Waldyr Garcia de Oliveira. Guia de Trilhas de Petrópolis. 1ª ed. Petrópolis, 2008.
MONTEIRO, Maria de Fátima; SOBRAL, Dário C. Exercício físico e o controle da pressão
arterial. Rev Bras Med Esporte; Vol. 10, Nº 6 – Nov/Dez, 2004.

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