O elemento clínico dominante e aquele Presença de auto-anticorpos como o
relacionado à maior morbidade da fator reumatóide, que é um auto
doença é a presença de artrite, ou anticorpo padrão, um anticorpo seja dos fenômenos clássicos da dirigido contra um outro anticorpo, ou inflamação (dor, calor, rubor, tumor e seja, uma imunoglobulina, geralmente perda de função) nas mais diferentes IgM dirigida contra a porção articulações diartrodiais. constante de uma IgG. Artropatia inflamatória crônica mais Incidência maior em mulheres (3:1). comum. No período pós parto e pré menopausa Fenômenos inflamatórios e melhora na gravidez. persistentes, duração maior que 6 Fator protetor: pílulas semanas. anticoncepcionais. Pode ter caráter sistêmico: febre, Envolvimento da AR com o tabagismo, mal estar, emagrecimentos, adinamia, infecções causadas pelo EBV (Epstein além do comprometimento de outros Barr), parvovírus B-19 e três órgãos. bactérias: M. tuberculosis, E. coli, Proteus Mirabilis. Estresse, dieta. Doença de herança poligênica. Afeta predominantemente as pequenas articulações periféricas, simetricamente, podendo evoluir para incapacidade física e significativa limitação de qualidade de vida. comuns são polimorfonucleares, seguidas de cél T, macrófagos, cél dendríticas e cél B em pequenas quantidades.
Dor e edema das articulações,
poliarticular, envolvendo frequentemente as pequenas articulações dos pés e das mãos, mas as outras articulações também estão predispostas ao acometimento. Rigidez articular (inchaço, enrijecimento). Fatores genéticos (hormonais etc), Observada principalmente pela ambientais (tabagismo). manhã, rigidez matinal maior ou Alvo primário: membrana sinovial, que igual a 1 hora (após período de torna-se mais espessa, aumento do inatividade noturna). Melhora com número de células (sinoviócitos tipo A a atividade. e B), invação maciça de células do Articulações mais acometidas dos sistema linfo-hematoipoiético. membros superiores: punho, Células tipo A semelhantes à metacarpofalangianas e macrófagos e cél. Tipo B semelhantes interfalangianas proximais. a fibroblastos. Fibroblastos são Envolvimento das interfalangianas responsáveis pela síntese do líquido distais é incomum (como acontece sinovial. artrite psoríaca, osteoartrose). Nas camadas mais profundas da Mão reumatoide: punho alargado membrana sinovial da AR: pela sinovite, atrofia dos músculos neoformação de vasos, aglomerados interósseos das mãos e aumento linfoides (T CD4+). T CD8+ entre os do volume das neovasos. metacarpofalangianas e/ou Na região da membrana sinovial interfalangianas proximais. próximo a cartilagem articular: tecido Aspecto simétrico. granulomatoso com cél gigantes, Deformidades: desvio ulnar dos fibroblastos e macrófagos. dedos, dedo em “pescoço de cisne” Líquido sinovial também se (hiperextensão da articulação transforma na AR com aumento de interfalangiana proximal e flexão volume e celularidade. As células mais interfalangiana distal) e boutonniere (flexão da interfalangiana proximal e hiperextensão da interfalangiana distal).
Compressões neurológicas: pode
ocorrer compressão do nervo mediano com desenvolvimento da síndrome do túnel do carpo. Pode ocorrer também a compressão do nervo ulnar (envolvimento do canal de Guyon ou no cotovelo) e síndrome do túnel do tarso (compressão do nervo tibial posterior). No cotovelo: limitação do movimento, quadro doloroso. Membros inferiores: joelhos e pés são frequentemente acometidos principalmente nas fases iniciais da doença. Artrite no tornozelo, nas metatarsofalangianas e interfalangiana dos artelhos deformidades como desabamento, desalinhamento, sobreposição. Essas deformidades são comuns mas não são patognomônicas. No joelho: formação de grandes derrames e cistos sinoviais – cisto de Baker, que pode se estender para a fossa poplítea, panturrilha e face posterior da coxa. AR também acomete o esqueleto axial. Quadros de compressão medular, morte súbita são decorrentes principalmente da subluxação atlanto-axial. Coluna SNC e SNP: neuropatias cervical é envolvida na AR em 17-86% periféricas por dos casos. compressão (síndrome do Articulação temporomandibular: túnel do carpo), envolvida em mais de 50 % dos casos. compressão medular por Dificíl mastigação, dor referida no desarranjo cervical ouvido médio e garganta. (subluxação de C1, C2), Manifestações extra articulares: mononeurites múltiplas 20% dos casos, pode afetar a pele, (vasculite), e raramente tecido subcutâneo, olhos, pericárdio, vasculite do SNC. coração, pulmão e pleura, SNC, SNP, Fígado e baço: síndrome de baço, vias aéreas respiratórias Felty: esplenomegalia, superiores e inferiores, incluindo febre, neutropenia e úlcera cordas vocais, laringe e passagens de membros inferiores nasais. durante a evolução da AR, Na pele e subcutâneo: alterações das enzimas nódulos subcutâneos, hepáticas vasculites cutâneas Vias aéreas superiores: (úlceras cutâneas, rouquidão por pioderma gangrenoso, acometimento das eritema palmar), isquemia, cricoaritenóideas. necrose e perda tecidual. Anemia: comum, por várias Nos olhos: causas, desde o uso crônico ceratoconjuntivite sicca ( de AINES e depleção de 10-35%), episclerite, ferro até anemia de doença esclerite e nódulos crônica. coroides e retinianos. Para avaliar fatores de pior Coração e pericárdio: 50% prognóstico: dos casos evolui com derrame pericárdico no Em estágios iniciais, pacientes ecocardiograma, com acometimento miocardite, doença poliarticular agudo, de altos coronária. níveis de PCR, tendem a ter Pulmão: doença pleural, melhor prognóstico, pois o nodulose pulmonar, fibrose diagnóstico é mais fácil e o intersticial e bronquiolite tratamento é precoce. obliterante. Síndrome de Fator reumatoide: é o mais Caplan: associação da AR e consistente preditor de mau nódulos pulmonares prognóstico, quando positivo múltiplos (granulomas pode estar associado a erosões reumatoides) em pacientes ósseas, mortalidade maior, com pneumoconiose. manifestações extra articulares são mais comuns. Proteína C-reativa: melhor Diagnóstico clínico. prova de reação inflamatória Exames laboratoriais + exames de imagem + aguda, porém valor prognóstico história clínica + exame físico articular. é limitado. O diagnóstico é estabelecido quando 4 dos 7 Alterações funcionais e critérios a seguir são identificados: radiológicas: vários estudos tem demonstrado que a 1. Rigidez matinal (rigidez articular ou avaliação funcional basal, periarticular matinal). medida pelo HAQ, seria o 2. Artrite das articulações das mãos melhor preditor de futuros (edema nas mãos, punho, danos e perdas funcionais. Uso metacarpofalangianas ou de US e RM aumenta a interfalangianas proximais. sensibilidade detecta formas 3. Artrite de 3 ou mais regiões precoces de sinovites e lesões articulares. ósseas. 4. Artrite Simétrica: artrite Idade, sexo e cigarro: idade do simultânea, bilateral na mesma região. paciente pode interferir no 5. Nódulos reumatoides: nódulos desfecho da doença. Fator subcutâneos em proeminências reumatoide, HLA DR4 e ósseas. elevação de proteínas agudas 6. Fator reumatoide sérico. foram preditores de dano 7. Alterações radiográficas: erosões ou independentes da idade. Pior osteopenia periarticular importante prognóstico em mulheres, na radiografia de mãos e punhos. maior taxa de remissão em Novos testes: homens. Tabagismo é fator de risco para o desenvolvimento Anticorpos anti-peptídeos da AR, pior evolução, alta citrulinados; são detectados incidência de manifestações atualmente por ELISA, com a extra articulares como utilização de peptídeos sintéticos vasculites, doença pulmonar cíclicos como antígenos (anti-CCP). FR intersticial, nódulos, síndrome e anti-CCP quando presentes, sicca e neuropatia. especificidade para diagnóstico de Anti-CCP: alguns estudos já AR chega a ser 99,5%. O anti-CCP mostram a relação desses auto positivo ajuda no diagnóstico, mas anticorpos com dano articular e quando negativo não exclui o perda funcional. diagnóstico da doença, e esse anticorpo indica fator de risco para erosões, portanto, pior prognóstico. Exames de Imagem: Uso de glicocorticoides sempre em doses inferiores a 10mg/dia. Em casos de Radiografia: aumento das partes utilizações mais prolongadas recomenda-se moles periarticulares nas prevenção da osteoporose com o emprego de articulações mais acometidas, cálcio e vitamina D e mesmo bifosfonatos. osteopenia periarticular, redução dos espaços articulares, erosões Sulfassalazina em muitos países é marginais, sublxações, anquilose usada como AMARD (agentes óssea, com distribuição simétrica. modificadores do curso da doença) de Boa para diagnóstico e primeira linha. A sulfassalazina é acompanhamento da doença. considerada mais efetiva que o US e RM: útil para diagnóstico de AR placebo na redução da atividade da nos estágios iniciais, quando as doença, no controle da dor e na alterações ainda não são visíveis na avaliação clínica global. radiografia. Diagnóstico mais precoce Metrotexato Inibidor da e acurado. US ainda está sendo diidrofolato redutase. Usado como padronizada, é operador-dependente. monoterapia ou terapia combinada. Vários estudos comprovam sua Diagnóstico diferencial: eficácia e superioridade a outros Uma gama de doenças fazem poliartrite. AMARD como a azatioprina. Inclui quadros infecciosos crônicos, doença Metotrexato é considerado entre os gonocócica disseminada, hepatites virais agentes modificadores do curso da crônicas e outras doenças auto-imunes. doença o mais bem tolerado. Atualmente, vem sendo considerado Mais frequentes: osteoartrose nodal, LES, Síndrome de Sjogren Primária, Miosites fármaco padrão para o tratamento da AR. Preferencialmente, deve-se Inflamatórias, Doenças Infecciosas começar o tratamento com Crônicas, Artrite Psoríaca, Condrocalcinose DRE-like. metotrexato. Efeitos adversos: intolerância TGI, ulcerações orais (piora de nodulose, pneumopatia, hepatotoxicidade, mielotoxicidade). Contra-indicação: gestação, insuficiência renal, hepática ou Metas: controle da dor, do edema (sinovite), nodular. Associar com um AINES. com um mínimo de efeitos colaterais, evitar Antimaláricos: difosfato de a lesão articular e consequentemente a cloroquina ou hidroxicloroquina deformidade e perda funcional, manter a baixa eficácia, devende ser usados qualidade de vida, e capacidade para o isoladamente somente em casos leves. trabalho e lazer. Leflunomide. Ciclosporina A. Além da fisioterapia e terapia ocupacional o Azatioprina. paciente deverá receber o tratamento Ciclofosfamida. sintomático e de base. D-Penicilamina Clorambucil. Agentes biológicos: 2ª linha de tratamento – refratariedade a 2 DMARDS associados em dose máxima. São uma nova geração de medicamentos para AR. Consiste em anticorpos monoclonais ou antagonistas de receptores e têm como alvos específicos citocinas ou moléculas de superfície celular. Bloqueadores do TNF-alfa - Infliximabe (Remicade), Etanercepte (Enbrel) e Adalimumabe (Humira) estão atualmente disponíveis para uso no Brasil, sendo recomendados para pacientes refratários a pelo menos dois esquemas terapêuticos com medicações tradicionais, incluindo metotrexato em doses adequadas. O anticorpo monoclonal contra CD20 (rituximabe – Mabtera), depletando as células B, também já está disponível para uso em pacientes refratários aos agentes anti-TNF. Anti-IL6, inibidor da coestimulação linfócito T.