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1 anos Teatro Porto Seguro

2,49 mil inscritos


Neste segundo episódio da nova temporada da web série “Teatro em
3 atos”, conversamos com o diretor e encenador Jorge Farjalla, o
iluminador Cesar Pivetti e o diretor musical Gilson Fukushima sobre
os elementos presentes na peça e as referências usadas para criar a
iluminação e a sonoplastia do espetáculo “O Mistério de Irma Vap”.
#TeatroPortoSeguro #OMisterioDeIrmaVap
2007 Áustria EL PECADO ORIGINAL una obra magistral
Zurcaroh Acrobatic Group A SHOW STOPPER & INCREDIBLE
Semifinals 1 America's Got Talent 2018 AGT
Zurcaroh Acrobatic Group THE CROWD WENT WILD JAW DROPPING A
MULTIDÃO DEIXOU DE CAIAR O QUEIXO

Ministério DramArt

124 mil inscritos

Um par de mãos com unhas pintadas, uma saia curta, um cabelo exótico, um estilo irreverente
ou o comportamento de quem pensa diferente de nós... Quando julgar o próximo se tornou
mais importante do que falar do amor de D-s? Fundamos então o "padrão" da igreja, o
"cristão" pré-formatado de fábrica com carimbo de fariseu na testa. O "cristão" da Lei sem a
Graça. Tudo isso diluído na impaciência e intolerância. Jesus fez o oposto. Lutou contra o
isolamento, posicionou-se contra a hipocrisia, não acusou a mulher adúltera, expulsou do
templo quem fazia da casa de D-s uma bagunça, andou com pecadores e demostrou amor por
cada um deles. Por que então nós fazemos diferente? Reflita em cada frase dessa música e
preste atenção em qual personagem você se encaixa. Essa peça é um desabafo, uma crítica,
um grito.

MÚSICA Entrega

ARTISTA Daniela Araújo

ÁLBUM Criador do Mundo

Imagens: Guilherme Figueiredo, Nycollas Matos e Rafael Rossini.

Edição: Guilherme Figueiredo e Nycollas Matos.

3 anos
Guia de Profissões | Música
Sequência didática
Tópico 1
Atividade 1 : Leitura do poema, audição da música e comentários
Música: “Geração Coca-Cola” – Legião Urbana
Poema: “Ode ao Burguês” – Mário de Andrade[1]
O professor inicia a atividade lendo o poema com os alunos, em voz alta, em voz
baixa, uma, duas, três vezes, até ele se tornar mais familiar, até ele ser “sentido”. Para
a música, é sempre bom reservar um bom aparelho e pedir silêncio para que as
condições da audição sejam adequadas.
Antes de qualquer análise do poema ou da música, é imprescindível que se comente
[2] ambas as obras.
É importante situar o poema no momento histórico para que, mais adiante, na
conclusão, possamos apresentar o movimento literário, o Modernismo. Também será
a ocasião de discutir palavras e imagens estranhas, tudo devendo ser explicado pelo
professor, mas partindo da percepção dos alunos, de suas dificuldades, perguntas,
estranhezas. Pode-se dizer que se trata de uma “vivência” do poema, um contato
maior com matéria (o assunto do poema) e com o material (a forma do poema).
Só num segundo momento é que o poema sairá da vivência dos alunos para o plano da
análise do texto propriamente, situado no seu momento da história.

Alfredo Bosi (2000, p. 9) afirma:


Contextualizar o poema não é simplesmente datá-lo, é inserir as suas imagens e
pensamentos em uma trama já em si mesma multidimensional: uma trama em que o
eu-lírico vive ora experiências novas, ora lembranças de infância, ora valores
tradicionais, ora anseios de mudança, ora suspensão desoladora de crenças e
esperanças. A poesia pertence à História Geral, mas é preciso conhecer qual é a
história peculiar imanente e operante em cada poema. “Ode ao Burguês” é um poema
de Mário de Andrade incluído na obra Paulicéia Desvairada, publicada em 1922, e
causou muita polêmica em sua época; também, para o olhar de hoje, mostra-se
bastante esclarecedor para entender os motivos que levaram autores como Mário de
Andrade a participar ativamente do movimento Modernista. A música “Geração Coca-
Cola” foi composta mais de meio século depois por Renato Russo e cantada pela banda
Legião Urbana, que os alunos conhecem e gostam muito. A banda foi uma das mais
influentes no comportamento dos jovens na década de 1980 e conquistou uma legião
de fãs. Assim como o Legião Urbana buscou pela música expressar a angústia e a
revolta contra nossa sociedade, que, diziam, se deixava dominar pelos norte-
americanos, Mário de Andrade em seu poema “Ode ao Burguês” expõe com sarcasmo
a revolta contra o burguês explorador do seu tempo. Nesse poema, se evidenciam
experiências ousadas, como versos livres, imagens audaciosas e inesperadas e uma
crítica social incomum na poesia de então.
Provavelmente os alunos se sentirão mais à vontade para discorrer sobre a letra da
música uma vez que ela faz parte do repertório deles, mas não se furtarão a
estabelecer comparações com o poema.
Ao final desta aula introdutória, os alunos devem levar para casa a cópia escrita da
poesia e da música para lerem atentamente e virem mais preparados para a próxima
atividade, que será interpretativa.
Atividade 2 - Estudo do poema e da música dentro da história
A) Relação dos autores com a História
B) Relação da poesia e da música com a História
C) Função social da poesia e da música dentro do contexto histórico
D) Semelhanças contextuais entre a música e a poesia
A) Mário de Andrade (1893-1945) era um moderno, mas um moderno diferente, não
vivia citando avanços, mas realizou rupturas estruturais no modo de fazer poesia –
“Somos primitivos da era moderna – o passado é lição para se meditar, não para se
reproduzir”. Já Renato Russo (1960-1996), o compositor da música “Geração Coca-
Cola” e integrante da banda Legião Urbana incutia um caráter social a algumas de suas
músicas, que chegava aos garotos muito jovens, seu público mais fervoroso. A
biografia de ambos os autores pode ser pesquisada: a de Mário nos livros e na
internet, a de Renato Russo sobretudo na internet. Essa pesquisa certamente trará aos
alunos, por meio dos hiperlinks, conhecimentos diversos sobre os contextos desses
autores e seria importante que o professor concedesse um tempo para que os alunos
pudessem se manifestar a propósito dessas descobertas.

B) O livro em que se insere o poema, Paulicéia Desvairada, manifesta um estado de


espírito eminentemente transitório: cólera que se vinga, revolta que não se esconde,
confiança infantil no senso comum dos homens. A obra em si e consequentemente o
poema trazem à tona o contexto citadino, com suas tensões e diferenças sociais. Mário
viveu em um período de grandes transformações tais como Primeira Guerra Mundial,
vanguardas europeias, o realinhamento e reestruturação de forças da burguesia no
Brasil, revoltas das classes médias e as lutas de classe contra o poder do Estado. O
modo como todas essas transformações repercutiram no poeta é único e essa
identidade poética que é que se deve privilegiar no trabalho com os alunos. A banda
Legião Urbana criada no início dos anos 80 movimentou toda uma geração, que ficou
conhecida como “Geração Coca-Cola”, devido às letras polêmicas que retratavam a
situação político-cultural dessa década; a banda conquistou multidões, chegando a
formar uma verdadeira legião de fãs até hoje. Renato Russo retrata sua geração à luz
da dominação globalizante. Também aqui vale a pesquisa que os alunos podem fazer.
C) O poema é uma crítica à sociedade fútil burguesa da época. O próprio título pode
ser entendido como uma “brincadeira” sonora feita pelo autor: o significado de “Ode”
(composição poética de caráter lírico) pode ser “traduzido” por ódio, ódio aos
burgueses. Em versos livres, se contrapõe às formas fixas, mais convencionais até
então; as contradições do poeta acabam por constituir uma notável multiplicação de
olhares e de perspectivas sobre a cidade de São Paulo que parecem se sobrepor umas
às outras dando a impressão de simultaneidade. Nota-se que a crítica de Mário não é
para a cidade de São Paulo, que ele ama, e sim para os seus governantes, assim como
na música, o grupo Legião Urbana critica os norte-americanos, o que deve ser
entendido em termos de poder dominante e não de uma crítica ao povo.

D) Ao expressar seu ódio aos burgueses da metrópole paulistana, o poema se mostra


também como uma espécie de manifesto do poeta modernista contra os
conservadores que se posicionavam contra o Movimento Modernista: “Quanto aos
aristôs do dinheiro, esses nos odiavam no princípio e nos olharam com desconfiança.
Nenhum salão de ricaço tivemos, nenhum milionário estrangeiro nos acolheu”
(Andrade, 1974, p. 232). O mesmo movimento modernista que perturba a cristalização
do lirismo, cria um lirismo difícil e incompleto, que representa as dificuldades e
incompletudes do sujeito lírico na modernidade incipiente. Em “Ode ao Burguês”,
assim como em toda a Paulicéia Desvairada, diante da paisagem citadina o poeta não
registra simplesmente a face externa que seus olhos enxergam, mas procura em suas
sensações, as impressões que a cidade deixa dentro dele.

Na canção “Geração Coca-Cola” do Legião Urbana há também esse tom de manifesto.


No agressivo refrão “somos os filhos da revolução/ somos burgueses sem religião/
somos o futuro da nação/ geração Coca-Cola”, seu autor Renato Russo, alude ao
“sistema” – o Regime Militar (chamando-o de Revolução) como responsável pela
alienação dos jovens. Esta crítica irônica fica mais explícita nos versos que se referem à
massificação da cultura norte-americana – os enlatados – como lixo da indústria
cultural digerido pelos adolescentes programados desde pequenos. Um embrião de
revolta é plantado nos versos dirigidos aos governantes: “vocês vão ver/ suas crianças
derrubando reis/ fazer comédia no cinema com as suas leis”.
Essas e outras considerações podem surgir espontaneamente ou vir orientadas pelo
professor.
Tópico 2 Atividade 1 – Ler o poema, ouvir a música e comentá-los
Música: “Brasil” – Cazuza
Poema: “Epílogos” – Gregório de Matos
Se uma noção de poesia já estiver se formando nos alunos, procede-se a uma
discussão mais “teórica” sobre aspectos do poema – verso, estrofe, versos livres,
ritmo... Também situar o poema e a música em seus respectivos períodos históricos e
discutir como ambos os autores traduziram o momento em que viveram,
apresentando semelhanças e diferenças, pois, apesar de pertencerem a séculos
distantes, é possível distinguir em ambos uma visão do Brasil que – sim – possui
pontos em comum.
O poema de Gregório de Matos tem um vocabulário em desuso para o jovem de hoje,
o que não significa que seja ininteligível. Mostrar isso aos alunos, as variantes
históricas da língua, e levá-lo a ter contato com esse tipo de linguagem seria uma
maneira de enriquecer o repertório deles e de desmistificar o que, muitas vezes, é
tomado como impossível para alunos da 8ª série. Claro que não se fará uma análise
profunda, considerando-se a complexidade constituinte da poesia gregoriana e os
sucessivos jogos de linguagem utilizados por Cazuza. A intenção é interpretar ambos os
textos de forma a trabalhar com os alunos a capacidade de extrair elementos sobre os
alcances da poesia nesse trabalho comparativo.

Após a leitura do poema e audição da música, podemos começar apresentando os


autores: Gregório de Matos: poeta do século XVII (1636-1713), que viveu no período
colonial no âmbito do movimento chamado de Barroco. Português, Gregório residia na
Bahia, cujas questões políticas e sociais serão tema de sua poesia. Era conhecido como
“Boca do Inferno” justamente pelas críticas acirradas dirigidas ao clero, nobreza,
escravos, etc., ou seja, não poupava ninguém. Gregório foi o primeiro poeta brasileiro
a expressar critica e sarcasticamente um sentimento nacional, característica também
muito presente em “Brasil” de Cazuza.
Cazuza: poeta e músico do século XX (1958-1990), marcou o rock nacional nos anos
80. Inicialmente, pertencia ao grupo musical Barão Vermelho, posteriormente, partiu
para a carreira solo. Viveu em um período de grande turbulência política, no final da
ditadura militar, quando lutava pelas “Diretas Já”. Cazuza também não excluía
ninguém em suas críticas. Caracterizado como um espírito irreverente, viveu
intensamente, até contrair o vírus da AIDS. Assim como Gregório, expressava em suas
músicas sua indignação quanto aos problemas do país, marcado pela fome, miséria,
corrupção, exploração da classe dominante, etc. Suas letras falavam de dores, paixões
e sofrimentos, mas foi com o disco Ideologia que Cazuza divulgou mais assuntos
relacionados a questões sociais.
A poesia possui uma linguagem que combina arranjos verbais próprios como
processos de significação pelos quais sentimento e imagem se fundem em um tempo
denso, subjetivo e, ao mesmo tempo, histórico.
A música é a arte de coordenar fenômenos acústicos para produzir efeitos estéticos.
Como todas as artes, a música é patrimônio comum da humanidade. Quando
associada à poesia, na canção, é uma das formas mais populares de arte. Na verdade, a
poesia surgiu com os gregos, simultaneamente com a música, a dança e o teatro, que
buscam realizar, dentro dos limites da linguagem rítmica, uma síntese de pensamento
e sensibilidade. São inúmeras, entretanto, as variantes do conceito de poesia.

Atividade 2 – Estudo do poema e da música dentro da história


“A poesia resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos, esta coleção de objetos
de não-amor. Resiste ao contínuo harmonioso pelo descontínuo gritante, resiste ao
descontínuo gritante pelo contínuo harmonioso. Resiste aferrando-se à memória viva
do passado, e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da
utopia”.
(Carlos Drummond de Andrade)
A) Relação dos autores com a História
B) Relação da poesia e da música com a História
C) Função social da poesia e da música dentro do contexto histórico
D) Semelhanças contextuais entre a música e a poesia

A) Gregório de Matos Guerra nasceu e formou-se em Direito em Portugal. Transferiu-


se para o Brasil vivendo como fidalgo, porém convivendo com várias camadas da
população. Conforme dito da aula anterior, o Brasil ainda estava sob o jugo português,
apesar da crise que se instalava paulatinamente sobre a Colônia. O comércio colonial
estava cada vez mais defasado, emergindo uma classe poderosa, ávida por dinheiro e
poder, a burguesia. Esta classe agrava ainda mais essa crise e tirando o máximo de
proveito dela. Gregório, apesar de pertencer à nobreza percebia os problemas da
Colônia, a exploração, corrupção e suborno.

“Ao lado da economia agrícola que até então dominara, se desenvolve a mobiliária: o
comércio e o crédito”[3] e, com isso, passa a haver uma “disputa” entre os
proprietários rurais em crise e a burguesia crescente. Ambos pertencem à classe
dominante, defendendo seus próprios interesses e explorando o povo cada vez mais
pobre, ou seja, nessa disputa pelo poder, político e econômico, quem perde é a classe
menos favorecida. Conforme afirmou Alfredo Bosi, em Dialética da Colonização, na
poesia de Gregório de Matos “o que está em jogo (...) é (...) uma rija oposição
estrutural entre a nobreza, que desce, e a mercancia, que sobe”.
O Brasil de Cazuza, por sua vez, saía de um longo ciclo ditatorial e vivia um clima de
democracia ainda incipiente, mas suficiente para liberar as energias contidas. Cazuza
desempenhou um papel importante nesse processo.

Cazuza nasceu e morreu no Rio de Janeiro, e acompanhou o período da ditadura


militar e campanha para as “Diretas Já”. Com a morte de Tancredo Neves, o país passa
a viver novamente na expectativa. Sobe ao poder José Sarney que “afunda” ainda mais
o país, marcado pela eterna recessão política e econômica. E é nesse cenário que
Cazuza comporá suas músicas.

B) “Epílogos” – Gregório de Matos - A obra poética de Gregório de Matos é composta


de duas vertentes: uma satírica (composição poética que ataca de forma incisiva ou
ridiculariza instituições, costumes e/ou idéias contemporâneas) e outra lírica de fundo
religioso e moral. Mostrar aos alunos que o poema a ser analisado pertence à primeira
vertente e é estruturado de modo a observar o jogo pergunta-resposta mais
conclusão.

Lembrar que o poema se insere no sistema colonial, onde cada passo da seqüência
corresponde a instituições que organizam a sociedade. Há várias vozes no poema
contestando e questionando, compondo um debate. Para que os alunos percebam
esse tom de debate, propor a eles a leitura alternada em voz alta.

“Brasil” – Cazuza – Uma das músicas de maior sucesso de Cazuza, “Brasil” está inserida
no disco Ideologia. O Brasil encontrava-se, mais uma vez, afundado na recessão e com
um presidente não eleito pelo povo após anos de ditadura militar. “Brasil” retrata de
forma contundente o novo (ou velho?) cenário político que se configurava.

C) Mediante o estilo pergunta-resposta, o poeta denuncia problemas sociais. É


importante observar aos alunos que muitos assuntos tratados ainda são atuais,
revelando a persistência dos problemas, sobretudo, em relação à corrupção das
instituições que deveriam zelar pelo bem público. Assim, os alunos podem perceber
que, mesmo sendo um poema do século XVII, é possível a partir dele refletir sobre a
vida de hoje, estabelecendo relações críticas entre passado e presente, para, quem
sabe, projetar um futuro.

D) Conforme já foi dito anteriormente, tanto o poema quanto a música denunciam


problemas sociais e políticos: corrupção, suborno e exploração da classe dominante.
Contudo, no poema de Gregório temos essa denúncia de forma mais explícita se
considerarmos que o eu-lírico nomeia cada instituição responsável pela degradação do
país. Já em “Brasil” isso ocorre de forma indireta, pois o eu-lírico utiliza-se de
metáforas para se referir a essas instituições.

Ambos deixam bem claro que o capital/dinheiro é que determina a “hora e a vez” do
indivíduo: “o meu cartão de crédito é uma navalha” (“Brasil”); “Quem causa tal
perdição?..... Ambição.” (“Epílogos”). O povo, alienado e ignorante, é incapaz de
mudar esse quadro, aceitando a situação passivamente: “Será que é meu fim ver TV a
cores na taba de um índio programada só para dizer sim?” (“Brasil”) ou em: “a pagar
sem ver toda essa droga que já vem malhada antes d'eu nascer” (“Epílogos”)

Tanto em um quanto no outro temos o uso do termo “negócio”. No poema de


Gregório, fica bem claro que por causa do comércio (negócio) a Bahia encontra-se em
estado de decadência, porque a classe dominante rouba (socrócio) tudo que lhe
pertence, fazendo com que o povo fique cada vez mais pobre (“Quem a pôs nesse
socrócio?....... Negócio.”). Já em “Brasil” o eu-lírico trata de maneira indireta: “Quero
ver quem paga pra gente ficar assim”, ou seja, quem nos explora para que fiquemos
tão pobres e miseráveis?. Por isso, o eu-lírico pede: “Brasil, qual é o teu negócio, o
nome do teu sócio?”. E quando ele diz “confia em mim” sugere que o eu-lírico que ser
incluído nesse sistema a fim de se beneficiar também, mas isso só será possível através
do suborno. Tanto no poema quanto na música, o tom de pessimismo é bastante
marcado, pois só através de ações ilícitas consegue-se ser alguém neste país. Na
música de Cazuza, o eu-lírico vai ainda mais longe, se considerarmos que não há
nenhuma “brecha” para que tal quadro mude. No poema de Gregório, há a conclusão
bem clara de que os dirigentes não querem e não vão mudar o país (“A Câmara não
acode?...... Não pode./ Pois não tem todo o poder?..... Não quer.”). A presença de
perguntas no poema e na música supõe um tom de desafio e indignação com a
situação. Diante de tais considerações, pode-se mostrar aos alunos problemas que o
Brasil carrega desde o descobrimento: a renda concentrada, a falta de acesso a bens
que, entretanto, poucos desfrutam plenamente.

Tópico 3
Atividade 1 – Leitura, audição, interpretação e produção de texto
Música: Homem na estrada – Racionais MC's.
Poema: Operário em construção – Vinicius de Moraes
O objetivo deste primeiro momento é despertar os alunos para a reflexão sobre os
problemas atuais; utilizar o debate tanto para este momento como para a seqüência
das próximas aulas, uma vez que este gênero possibilita o desenvolvimento da
capacidade de argumentação:
Tendo posições diferentes em relação à questão colocada, porém não
necessariamente contraditórias, cada participante do debate pressupõe nos outros,
participantes ou ouvintes, a faculdade da razão e a vontade de encontrar através do
raciocínio uma solução coletivamente aceitável para a questão. (...) O debate aparece,
assim, como a construção conjunta de uma resposta complexa à questão, como
instrumento de reflexão que permite a cada debatedor (e a cada ouvinte) precisar e
modificar sua posição inicial (Schneuwly, Dolz, 1999, p. 12) Além dessa qualidade
intrínseca ao gênero, acreditamos que haverá maior participação dos alunos e a aula
será mais dinâmica.
Ao ouvir a música, o aluno poderá reconhecer nela fatos comuns ao seu cotidiano,
porém, em uma realidade “inventada ou recriada” pelo autor. Em primeiro lugar,
discute-se a biografia dos autores da música, cuja pesquisa deverá ter sido
previamente solicitada aos alunos, já que são eles que conhecem e sabem como
procurar as informações sobre os integrantes da banda. Cabe ao professor organizar e
selecionar, para efeito do trabalho escolar, as informações que os alunos trouxerem.
Por se tratar de um grupo muito popular na periferia, os alunos têm muitas
informações e isso já os estimularia a emitir suas opiniões. O mesmo ocorreria com a
leitura e audição (por possuir uma gravação com Vinicius de Moraes) do poema O
operário em construção e, logo após este momento, fazer uma breve exposição da
biografia do autor. Para a biografia do grupo de rap Racionais, selecionamos um texto
eletrônico. Clique aqui para ter acesso.

Atividades 2 e 3 – Produção de Texto


Como tarefa para a aula seguinte, podemos pedir que escrevam o que eles pensam de
cada uma das obras. Como eles enxergam a opinião de cada autor, tomando como
base o texto e a música. Claro que os alunos já devem ter uma noção de organização
de um texto opinitivo. Mas lembramos também que a prática do comentário pode ser
exercida a partir de uma forma textual livre. Os textos redigidos podem ser lidos na
aula seguinte. Esta atividade dá chance ao professor de saber como está a expressão, a
argumentação e a produção de textos dos seus alunos.

Atividades 4 e 5 – Análise da Música e Poesia


Nesta aula poderíamos falar sobre as origens e contextos em que foram escritas a
música e a poesia.
Sobre O homem na estrada é interessante expor as origens do rap e principalmente da
ramificação da qual os Racionais fazem parte: o movimento hip-hop. Não esquecer que
sobre rap e hip-hop os alunos provavelmente sabem mais que o professor. Para evitar
que a atividade se torne desnecessária e negativamente escolarizada (com o professor
polarizando as explicações), deixar que os alunos apresentem suas considerações. O
papel do professor pode ser muito importante nesse momento ao organizar as
intervenções, apontar semelhanças e as diferenças entre os pontos de vista, mostrar a
riqueza da diversidade das apreensões. Muitas informações podem ser obtidas em
textos online. Clique aqui.
Quanto a Vinicius de Morais, devido a sua grande obra e aos diversos movimentos em
que esteve envolvido, consideramos mais importante lembrar quando ele escreveu O
operário em construção, cuja contextualização pode ser encontrada clicando aqui.
As diferenças entre a linguagem oral e escrita é um outro ponto que pode ser
abordado, sendo bem apropriada a atividade em que os alunos transcrevem a música
(comparada ao poema, é mais próxima da língua oral pelas marcas que possui) para
uma forma em prosa, uma prosa poética, por exemplo, ou, ao contrário, um texto
jornalístico. E, por fim, discutir com os alunos como ocorre a distribuição das rimas e
sua classificação, conforme a adotada por Said Ali (Versificação em língua portuguesa)
como um primeiro passo para o estudo de recursos formais da composição poética.

Outras sugestões
1.Música: “Índios” – Legião Urbana
Poema: “Romance I ou da Revelação do Ouro” – Cecília Meireles

O Romance I ou da Revelação do Ouro, em Romanceiro da Inconfidência, primeiro


texto da obra, foca a ganância do homem branco e o papel do índio durante esse
acontecimento histórico. O poema possui fortes marcas épicas, pois trata da
constituição de um povo, situando-se no presente histórico. Índios , da banda Legião
Urbana, expõe de maneira mais direta opapel do índio na sociedade, é uma espécie de
lírica argumentativa. Sobre o Período histórico, o professor pede que os alunos leiam a
música e, em grupos de três ou quatro alunos, discutam e cheguem a uma conclusão a
respeito do período histórico de que a canção trata. Se o professor considerar seus
alunos ainda imaturos para desempenhar a tarefa, sugerimos que sejam oferecidas e
discutidas opções de respostas. Ex: a) Independência dos EUA; b) 1929; c) os dias
atuais; d) colonização do Brasil. Essa atividade servirá como base para que os alunos e
adquiram noções de temporalidade (no caso, os verbos no passado da canção e os
verbos no presente no poema). Também é possível lidar com as funções da linguagem,
sendo as marcas de emissor e destinatário muito marcantes tanto no poema quanto
na música.
Comparações que podem ser estabelecidas: ambição desregrada; a natureza
envergonhada; injustiça para com os índios.
2. Música: “A Minha Alma” – O Rappa
Poema: “Canção do Exílio” – Gonçalves Dias
Os grupos elaborarão apresentações a partir das semelhanças, diferenças, enfim
aspectos levantados a partir do estudo e comparação entre a música e o poema. Essas
apresentações serão elaboradas de diferentes formas, à escolha de cada grupo:
dramatização, seminário com utilização de recursos gráficos, visuais e/ou auditivos, ou
ainda de acordo com a criatividade da turma pode ser sugerida a criação de paródias,
tanto da música quanto do poema que serão passados aos demais colegas através de
dramatizações e consequente interpretação de seu significado. Sugere-se a maior
quantidade possível de atividades escritas.
Notas
[1] O poema “Ode ao Burguês” de Mário de Andrade e a música “Geração Coca-Cola”,
do Legião Urbana, assim como todos os outros poemas e letras de música, estão
anexados ao final deste trabalho.
[2] Antonio Candido, no Estudo analítico do poema, distingue três momentos no
estudo do poema: comentário, análise e interpretação, sendo que, para ele, o
comentário já uma importante entrada para a compreensão do poema.
[3] MATOS, Gregório. Poemas Escolhidos, Introdução de José Miguel Wisnik. Círculo do
Livro, SP - p.8.

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