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CELSO LISBOA CENTRO UNIVERSITÁRIO

MEDICINA VETERINÁRIA

CAIO MARTINS

CINTIA FERNANDES

FLAYRA MARTINS

LETÍCIA RIBEIRO

MANUELA RAMOS
MARIA PEREIRA

RAÍSA TORRES

ESPORIOTRICOSE
Estudo de Patologias

Rio de Janeiro

2024
SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................
INTRODUÇÃO.................................................................................................................

DESENVOLVIMENTO....................................................................................................

A Origem e sua Evolução...................................................................................................

Formas do Fungo Sporothrix Catalogadas e Aplicadas ao viés Anatômico...................

Epidemiologia no Brasil.....................................................................................................

O Diagnóstico.....................................................................................................................

Caso e Relato Clínico.........................................................................................................

O Prognóstico e o Tratamento...........................................................................................
A Saúde Pública e seus Serviços........................................................................................

REFERÊNCIAS.................................................................................................................
Resumo:

A patologia conceituada como esporiotricose se define como uma doença que afeta a pele.
Ela é dada como uma micose, ou seja, um conjunto de infecções que são provocadas pelo
crescimento excessivo de fungos. Seus principais agentes infectantes são a classe dos
felinos, porém quando tratamos de infectados podemos citar caninos, equinos, bovinos,
suínos, aves, primatas, alguns artrópodes (abelhas, pulgas e formigas) e até seres huma-
nos. Por isso é considerada uma doença zoonótica, além de ter períodos e lugares em que
se desenvolvem como epidemias. Este trabalho visa pontuar questões gerais relativas a
essa patologia, como sua origem, a ocorrência do processo infeccioso, iniciativas de tra-
tamento e outros.
Introdução:

Temos a Enfermidade de Schenck (nome alternativo, pois foi descrita inicialmente por
Benjamin Schenck nos Estados Unidos em 1898), como uma micose subcutânea, ou seja,
que afeta as camadas externas e superiores do tecido epidérmico. O agente fúngico res-
ponsável é do gênero Sporothrix Schenckii, porém também foi descoberto no Brasil o que
chamamos de Sporothrix Brasilienses. Especificamente, em território brasileiro a trans-
missão começou na cidade do Rio de Janeiro e se espalhou para pelo menos três territórios
do país ditos como o próprio Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul. Aqui, no estado carioca,
tivemos uma das maiores epidemias já vistas em seres humanos. Nos meados de 1998 até
2004, receberam o diagnóstico pela Fundação Oswaldo Cruz 1.503 gatos, 64 cachorros e
759 humanos enfermos.

A forma de infecção por esse patógeno é dada por feridas na pele por onde o fungo abre
espaço e entra no organismo. Esses machucados podem ser decorrentes de acidentes com
espinhos, palha, lascas de madeira, sendo espaços em que o fungo já instalado no ambi-
ente simplesmente tem caminho liberado e direto para a corrente sanguínea através do
ferimento. Porém em situações de arranhadura ou mordedura de animais doentes, ou con-
tato com vegetais em decomposição sem luvas e com regiões acidentadas, já pode ser o
suficiente para que o fungo possa se desenvolver dentro do sistema. É importante dizer
que em seres humanos as áreas ocupacionais mais afetadas já foram as de horticultores,
sementeiros, jardineiros, floristas, tosadores e tratadores de animais como médicos vete-
rinários. Porém, atualmente se tornou uma preocupação de saúde pública à medida que
pessoas comuns passaram a ser suscetíveis a patogenia com o crescimento da vivência
com animais domesticados e comunitários. Os domésticos com acesso a rua também são
capazes de provocar acidentalmente uma disseminação caso se infectem na sua própria
residência ou entrarem em contato com o agente infeccioso ao serem contaminados, já
que animais em situação de contágio costumam socializar com os que estão saudáveis.
Dado que os gatos são animais com hábitos direcionados a arranhar, eles tendem a pro-
duzir isso em locais e áreas contaminadas como o tronco das árvores, galhos ou pedaços
de madeira, por isso acabam sendo os maiores agentes transmissores da doença e são
grandes receptores, pois costumam se envolver em brigas territoriais que geram a proli-
feração da enfermidade por mordidas e arranhaduras ou até pelo compartilhamento de
potes para a alimentação, bebedouros ou caixas de areia. Além de terem o costume de se
esfregarem no solo, que também é rico em reprodução fúngica para enterrarem suas ex-
cretas. O professor de Dermatologia Veterinária da PUC-PR, Marconi Farias, orienta que
para haver maior controle desse patógeno “São necessárias ações, além de outras como
o controle populacional de gatos nas áreas mais acometidas, a educação em posse res-
ponsável e o estímulo à adoção para minimizar a população de animais comunitários
são importantes para evitar a expansão dessa endemia.”
A Origem e sua Evolução:

O fungo causador da esporiotricose é denominado como dimórfico e saprófito, o que sig-


nifica respectivamente que eles podem existir em forma de bolor ou como leveduras e
este ainda obtém seus nutrientes advindos de matéria orgânica em decomposição. Por isso
há a destruição contínua dos tecidos epidérmicos transformando-os em uma espécie de
necrose para que seja possível a sua subsistência. Nesse caso, o Sporothrix assume a
forma de micélio que se traduz por um conjunto de hifas emaranhadas (Figura 1), sobre-
vive na temperatura ambiente de 25 a 30ºC, porém dentro do organismo vivo adquire
outra forma, a de levedura (Figura 2), ditos como organismos unicelulares microscópicos.
Entre o período que ele entra no corpo, até a aparição dos primeiros sintomas são de três
até oitenta e quatro dias, dependendo também do nível imunitário que o paciente se en-
contra, pois o fato do paciente estar ou não em boas condições imunitárias influencia no
desenvolvimento ou não do patógeno.

Figura 1: Sporothrix schenckii na forma de micélio a 27ºC.


Fonte: file:///C:/Users/Aluno/Downloads/36758-Texto%20do%20artigo-84614-1-102017

Figura 2: Sporothrix schenckii na forma de levedura a 37ºC.


Fonte: file:///C:/Users/Aluno/Downloads/36758-Texto%20do%20artigo-84614-1-102017
Formas do fungo Sporothrix catalogadas e aplicadas ao viés Anatômico:

Sabemos que as patologias são complexas e geralmente em sua progressão pelo sistema
do organismo vivo, elas têm a capacidade de evoluir ou se apresentar em mais de uma
variante (polimorfismo). No caso, a esporiotricose em geral é denominada como cutânea,
pela sua relação infecciosa com os tecidos epidérmicos, e dentro dela temos três subclas-
sificações:

Esporiotricose Disseminada:

Sabe-se que o fungo mencionado tem a habilidade de se infiltrar no corpo por feridas, e
delas partir para dentro da corrente sanguínea. Esta, contendo sangue em seus vasos, per-
mite a entrada do intruso na grande circulação que passa por todos os tecidos, inclusive
no coração e pulmões. Nesse sentido, quando mencionamos a infecção disseminada, es-
tamos fazendo referência a contaminação difundida por todo o corpo, mais proveniente
nos órgãos internos. Se traduzem por lesões nodulares, ulceradas e verrucosas. Asso-
ciam-se muitas vezes a pacientes imunodeficientes, tais como pacientes com HIV, porta-
dores de neoplasias (multiplicação anormal das células de um tecido), transplantados em
uso de corticoide (medicamento de ação anti-inflamatória e imunossupressora), alcoóli-
cos e diabéticos.

Figura 1: Caso de Esporiotricose Disseminada em humanos.


Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/08/1102196/
Figura 2: Caso de Esporiotricose Disseminada em gatos.
Fonte: Google imagens

É possível exemplificar casos clínicos da esporiotricose disseminada em pacientes que


desenvolveram uma forma pulmonar da doença. Esta acontece pela aspiração das molé-
culas fúngicas que entram pelas fossas nasais, seguem pela faringe, laringe, desembocam
na traqueia, passam pelos brônquios e por fim pelos bronquíolos que por capilares se
movimentam e instalam-se nos alvéolos pulmonares. Os agentes invasores atacam os al-
véolos, os quais tem a importante funcionalidade de promover a troca gasosa entre O² e
CO² (oxigênio e dióxido de carbono). Ao danificar essa função os enfermos desenvolvem
baixa taxa de oxigênio no sangue, causando problemas respiratórios como tosses cons-
tantes, dispneia (sensação de falta de ar) e expectoração purulenta (secreção com pus).
Esporiotricose Extracutânea:

Tem sua ocorrência relacionada no momento em que o patógeno acomete áreas mais ex-
ternas do organismo, tais como o sistema ósseo e as mucosas (revestimentos membrana-
res das cavidades que estão abertas para o exterior, como as do trato oral: boca e língua).

Figura 3: Caso de Esporiotricose Extracutânea em humanos – Granuloma.


Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/08/1102196/
Para amostragem, temos os casos ósseos. A entrada fúngica produz lesões granulomato-
sas, que se caracterizam por serem traumas osteolíticos. Estes danos (osteolíticos) aco-
metidos nos ossos são ocasionados porque a degradação natural do tecido ósseo antigo
(com os osteoclastos) e a construção de um novo (feita pelos osteoblastos) não ocorrem
de forma devida. A situação de normalidade é quando há a quebra e a partir dela a forma-
ção de uma nova estrutura esquelética. Contudo quando se tem a quebra excessiva e a
escassez de reposição, os ossos ficam enfraquecidos e por sua vez podem consequente-
mente sofrer fraturas patológicas. Além da osteomielite, que é uma condição médica que
se determina também pela contaminação fúngica. Ela pode gerar abcessos e necroses nos
ossos. Tanto as lesões líticas como a osteomielite podem incluir derrame articular (acú-
mulo de líquido dentro das articulações), edemas (inflamação do osso) e dor intensa. As
ossaturas mais afetadas são a tíbia, carpa, metacarpo, ulna, joelho e tornozelo.

Esporiotricose Linfocutânea:

O agente fúngico Sporothrix objetivamente ataca o tecido epidérmico, porém produz efei-
tos dentro do Sistema Linfático, além de poder causar até doenças Sistêmicas (Em condi-
ções raras o fungo pode entrar pelas vias aéreas ou digestórias). Podemos dizer que esse
Sistema (Linfoide) está conectado com outros dois: O Imunológico e o Cardiovascular.
Nele temos os vasos linfáticos que se espalham por todo o corpo além de fazerem inter-
ligações com os vasos sanguíneos, que transportam o sangue para o coração e pelos de-
mais órgãos. Dentro deles (vasos linfoides) tem abrigada a Linfa que é excesso de líquido
intersticial (que fica entre as células e tecidos), o qual se unifica com o sangue e colabora
no transporte de macromoléculas (como proteínas, lipoproteínas, ácidos graxos, bacté-
rias e fragmentos de bactérias). Ao final do caminho chega-se aos linfonodos, e lá existem
várias células de defesa, as quais tem a função de remover resíduos e patógenos do corpo
por meio de “degradação celular”. O que acontece é que o fungo causador da esporio-
tricose é caracterizado como demácio, possui melanina em sua composição, o que o pro-
tege do processo de macrofagia celular que resumidamente é a fagocitação das células
(quando há o englobamento e a destruição celular) nas primeiras fases da doença. Isso
significa que o organismo, em alguns casos, não consegue se livrar dele através das bar-
reiras criadas pelo sistema imune, já que sua proteção o impede de ser expelido e o deixa
circulando dentro do corpo prejudicando seu funcionamento. Seu formato se conceitua
por nódulos papulares (lesões avermelhadas), úlceras, eritemas (manchas na pele) e ex-
sudação (fluido proveniente das feridas).

Figura 4: Caso de Esporiotricose Linfocutânea em humanos.


Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/08/1102196/
Figura 5: Caso de Esporiotricose Linfocutânea em gatos.
Fonte: Google imagens.

Esporiotricose Cutânea Fixa ou Localizada:

Engloba apenas o tecido epidérmico na sua parte mais externalizada. A ferida se forma
exatamente no local onde a lesão foi acometida. Se compõe geralmente por uma única
ferida com pouco comprometimento do sistema linfoide, porém cria nódulos avermelha-
dos (pápulas) com aspecto de bolhoso e purulento (pústulas) com úlceras acneiformes
(aspecto de espinha) que estouram e aparecem na superfície da pele com tecido danifi-
cado. Em alguns doentes podem aparecer úlceras (lesões incômodas que acometem o
tecido mucoso ou cutâneo) maiores, com bordas definidas, escamosas e crostosas.

Figura 6: Caso de Esporiotricose Cutânea Fixa ou Localizada em humanos.


Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/08/1102196/

Figura 7: Caso de Esporiotricose Cutânea Fixa ou Localizada em gatos


Fonte: Google Imagens
Epidemiologia no Brasil:
Os fungos em geral têm a particularidade de se proliferarem em áreas com umidade e
altas temperaturas, pois elas facilitam na sua reprodução. Logo, são mais frequentes sua
vivência em localidades de climas tropicais e temperados, como a América Latina que
tem a esporiotricose sendo sua micose subcutânea mais comum.

A classe de felinos, como já mencionado anteriormente, se reverbera como o principal


agente de transmissão, em especial machos não castrados e de livre acesso a rua. Tra-
tando-se mais especificamente do estado do Rio de Janeiro, no município de Duque de
Caxias, foi atendido no ano de 1998 o primeiro caso clínico de esporiotricose, tendo a
equipe do Serviço de Zoonoses o primeiro contato com a enfermidade. Com a progressão
do fungo em meados de 2000, o município citado era o mais acometido pela doença.
Desse modo, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com a IPEC (Inteligência
em Pesquisa e Consultoria Estratégica) iniciaram um plano estratégico visando catalogar
aspectos epidemiológicos (locais de concentração do patógeno), laboratoriais e terapêu-
ticos. Nesse sentido, os pacientes foram submetidos a testes clínicos, coleta de dados so-
ciodemográficos (problemas sociais relativos ao crescimento da população infectada), de
material para diagnóstico micológico (exame clínico que coleta parte do tecido epidér-
mico danificado), exames completares para diagnóstico diferencial (certificar-se que a
doença é realmente a esporiotricose) e monitoramento de eventos adversos, tratamento
específico e acompanhamento pós-tratamento. É válido ressaltar que essas pesquisas de-
mostraram que a apresentação clínica mais recorrente da doença em seres humanos é a
linfocutânea e nos animais, mais especificamente felinos, a patogenia é uma progressão,
se inicia pela cutânea fixa, caso não seja tratada evolui para a linfocutânea e o último
estágio e mais grave é a disseminada.

A projeção e análise das estatísticas demonstrou que a epidemia (doença de nível nacio-
nal, sem atingir o meio global) é bem distribuída geograficamente na região metropolitana
do Estado do Rio de Janeiro e arredores (principais municípios são Rio de Janeiro, Duque
de Caxias e São João de Meriti) como mostra a imagem a seguir.

Figura 1: Casos de Esporiotricose e sua Distribuição Geográfica.


Fonte: https://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v27n6/07.pdf
Contudo nas dimensões atuais, com patógeno já sendo considerado endêmico (que se de-
senvolve em localidades específicas) e o crescimento populacional em alta, não tem sido
mais possível estimar com exatidão a quantidade correta de casos. Alguns fatores servem
como obstáculos para dificultar o processo de reconhecimento. São eles:

• O atendimento clínico especializado é disponibilizado em poucos hospitais e clínicas.


Isso facilita os demais estabelecimentos hospitalares a diagnosticar erroneamente um
paciente. Isso também dificulta o controle da catalogação e quantificação dos enfer-
mos.
• Alguns pacientes têm condições socioeconômicas tão precárias que são incapazes de
chegar a quaisquer que sejam as clínicas para a sua reabilitação.
O Diagnóstico:

Como já foi mencionado, a patologia de Schenck é polimórfica, o que significa que há


várias variantes da mesma doença e ainda que existem sintomas que podem ser observa-
dos em outras enfermidades, tais como febre, dor, coceira e limitação funcional, além dos
acometimentos físicos que são feridas profundas na pele purulentas que não cicatrizam.
Por isso surge a necessidade que se peça o chamado diagnóstico diferencial, para a certi-
ficação de que é realmente uma infecção por esporiotricose. Esta pode ser confundida
com diversas dermatoses (como sífilis, leishmaniose, tuberculose cutânea, além de uma
lista enorme de outros patógenos), e dificulta ainda mais o fato de que o desenvolvimento
fúngico em humanos ser relativamente raro ou pouco comum, os casos são pequenos em
comparação com a métrica do quantitativo populacional afetado.

Para a diagnose, primeiramente é necessário que haja o exame físico, este permite com-
preender a topografia (localização e extensão) do tecido lesionado. Alguns sinais já po-
dem ser identificados nesse processo como o chamado rosário esporotricótico (lesões
avermelhadas com aspecto bolhoso, podendo estar estouradas ou não). Em seguida, é
requisitado o exame citopatológico (que mede as alterações celulares por meio da coleta
de secreções), o histopatológico (o qual retira um pedaço do tecido dérmico danificado),
de cultura fúngica ou exame micológico (feito para identificar com precisão o agente
causador do problema através da sua coleta e isolamento), hemograma e perfil bioquímico
(que estima o estado funcional dos tecidos e reações metabólicas). Os materiais biológi-
cos coletados nesses processos são o pus e a escarificação (cortes propositais feitos no
tecido), ambos são retirados diretamente do local lesionado, porém podem não ser sufici-
entes para o diagnóstico preciso com o exame direto, pois a presença do microrganismo
nessas áreas é escassa. Contudo pelo método de Gram (desenvolvido em 1884 por Hans
C. J. Gram), tem-se a coloração do agente que permite que ele seja visto de maneira clara
no microscópio, sendo assim, com a apresentação reconhecida no meio acadêmico como
formato de charuto, já é possível confirmar um diagnóstico inicial de esporiotricose.

Figuras 1 e 2: Casos de Rosário Esporotricóico.


Fonte: Google Imagens
Caso e Relato Clínico:

O presente artigo transcrito contém o relato de diagnóstico geral relativo a Esporiotricose


Cutâneo Disseminada em um gato doméstico na cidade de Curitiba-PR.

O paciente clinicado é um gato macho SRD (sem raça definida) com o peso de 2,6 kg. O
atendimento foi realizado em uma clínica de dermatologia localizada no estado de Curi-
tiba. O enfermo já estava em situação crítica com a doença tomando os tecidos epidérmi-
cos de forma rápida e progressiva. Durante o processo de anamnese (avaliação sintomá-
tica do indivíduo) foi informado a administração feita pelo tutor no dia anterior de 40mg
de metil-prednisolona, um anti-inflamatório, aplicado através da via subcutânea (sob a
pele). E ainda que o tratamento já estava sendo iniciado por um profissional da área ve-
terinária há aproximadamente quinze dias, o qual fez a recomendação do uso de itraco-
nazol (10mg/kg), administrado por via oral, devido à alta suspeita de esporiotricose.

Figuras 1 a 4: Caso Clínico Real.


Fonte: https://medvep.com.br/wp-content/uploads/2020/09/Esporotricose

As lesões ulcerativas se iniciaram no plano rostral e nasal e evoluíram rapidamente se


distribuindo para as regiões cefálicas, face externa, orelhas, tronco, nas extremidades dis-
tais dos membros pélvicos e toráxicos. Além disso, observou-se uma leve desnutrição,
temperatura corporal e coloração das mucosas normalizadas, avaliação cardiovascular
não alterada, e também sem alterações comportamentais. Após a análise física, foi feito o
exame citopatológico da ferida localizada na região toráxica, a qual foi capaz de definir
a existência de pequenas estruturas ovais em forma de charuto descritas na patologia clí-
nica referente a esporiotricóide.
Figuras 5 e 6: Caso Clínico Real.
Fonte: https://medvep.com.br/wp-content/uploads/2020/09/Esporotricose

Já na requisição do exame histopatológico de fragmento retirado das lesões faciais e to-


ráxicas, foram encontradas estruturas fúngicas pleomórfitas (de variados formatos), a
maioria esféricas, igualmente compatíveis com o agente fúngico Sporothix Schenckii. Em
segundo plano, dava-se continuidade a terapia com o medicamento itraconazol (10mg/a
cada 24h), o cefalexina (antibiótico de 30mg/kg/a cada 12h) e a corticoterapia (40mg de
metil-prednisolona). Devido aos efeitos imunossupressores da corticoterapia, após dez
dias houve uma piora no quadro do paciente que teve um aumento nos quesitos de desi-
dratação, desnutrição, produção de pus nasal, excesso de saliva, aprofundamento dos
olhos nas órbitas, anorexia, dispneia, prostração, febre, aumento dos gânglios linfáticos e
ruídos pulmonares, além do surgimento de novas lesões. Nesse caso, foi aumentada a
quantidade de itraconazol administrada (20mg), incluiu-se o uso do antibiótico enrofloxa-
cina (10mg) relativo aos problemas pulmonares e se iniciou a utilização de supositório
expectorante (transpulmin). Com esse conjunto de terapias medicamentosas o enfermo
começou a melhorar e em trinta dias já apresentava ganho de peso, diminuição de corri-
mento nasal, e quase uma ausência dos demais sintomas. Em 60 dias, com a continuidade
do tratamento, as lesões começaram a regredir e cicatrizar. E assim, mesmo após oito
meses, o animal permaneceu em tratamento, entretanto obteve em seu quadro grande me-
lhora, de modo que sua aparência é a de um felino saudável com pequeninas e quase
imperceptíveis lesões.

Figura 7: Caso Clínico Real.


Fonte: https://medvep.com.br/wp-content/uploads/2020/09/Esporotricose
O Prognóstico e o Tratamento:

A princípio é essencial ressaltar que a esporiotricose é uma patologia que tem cura, porém
não é espontânea e requer cuidados por um longo período. As medidas terapêuticas não
são complexas e podem ser aplicadas facilmente, desde que haja condições como o acesso
as respectivas medicações. É notório que o interrompimento antecipado do regime terá-
pico pode resultar no retorno progressivo da doença, o indicado é seguir com o tratamento
até o final sem pausas. Assim, abaixo estão descritas algumas delas em conjunto com a
explicação da sua atuação dentro do organismo:

Iodeto de potássio:

A solução saturada de iodeto de potássio foi a primeira droga a tratar a esporiotricose,


hoje é utilizada na variante cutânea fixa. Estudos mostram que há efetividade na sua uti-
lização e que agrega benefícios como o baixo custo e sua simplicidade no momento de
administração.

O seu funcionamento se dá através de via oral, em doses crescentes, de maneira gradual


e conforme a tolerância de cada paciente. Esse aumento gradativo é feito por segurança,
para que não haja no corpo efeitos colaterais (intolerância gastrointestinal, ardência na
boca, cefaleia, insônia e problemas cardíacos). Quando ela adentra no corpo a sua função
se traduz em colaborar com o sistema imunológico com o auxílio das células T3 (hormô-
nios produzidos na glândula tireoide) para prejudicar o funcionamento natural do pató-
geno Sporothrix, ou seja, danificar sua demácidade, fazendo com que a parcela de mela-
nina existente não possa impedir o fungo de ser fagocitado (ter sua destruição celular),
dessa maneira, o agente pode ser englobado e expelido do sistema. Contudo, a desvanta-
gem desse procedimento é dada quando é inserido na atuação contra as formas dissemi-
nada e linfocutânea.

Para administrar esse medicamento é necessário manipular 50g de KI em 35 ml de água


destilada e utilizar um conta gotas, nesse caso são:

• 5 gotas - duas vezes ao dia, após as refeições, diluídas em suco ou leite. Aumentar 1
gota por dia até atingir 20-25 gotas duas vezes ao dia.
• Não é recomendado o uso puro da substância, pois pode causar lesões estomacais.
Itraconazol:

É considerada uma terapia alternativa caso haja resistência ou intolerância ao iodeto de


potássio.
Estudos in vitro mostram como é a age essa medicação dentro do sistema vivo. O itraco-
nazol inibe a síntese do ergosterol. Ele está entre os componentes principais das membra-
nas (barreiras seletivas que protegem a célula) celulares dos fungos colaborando para sua
sobrevivência estando envolvido nas suas funções biológicas (fluidez da membrana - sua
movimentação, distribuição de proteínas - repõe ATP e ajudam na defesa do organismo e
ciclo celular - nascimento até a divisão/origem de novas células). Logo, nessas condições
não há como o fungo manter sua existência, pois afeta diretamente suas reações metabó-
licas, seu deslocamento e sua reprodução.

A quantidade manejada na variação cutânea fixa ou localizada é de:

• 100mg a cada 12 horas, durante 60 dias.


• Após esse período: 100mg a cada 24 horas, por mais 30 a 60 dias.
• A melhora de quadro é dada por evolução clínica, sendo esta considerada a cicatriza-
ção completa da lesão. Ainda deve-se manter o uso por mais 3-4 semanas.

E a aplicação na variação linfocutânea é de:

• 200mg a cada 12 horas, durante 60 dias.


• Após esse período: 100mg a cada 12 horas, por mais 60 dias.
• A melhora de quadro é dada por evolução clínica, sendo esta considerada a cicatriza-
ção completa da lesão, além da regressão dos nódulos subcutâneos. Ainda deve-se
manter o uso por mais 3-4 semanas.
• Em alguns casos, pode ser que tenha que ser estendido o tempo por mais 60 dias de
tratamento, na dose de 100mg/12h.

Térmico:

Em situações de infecção esporiótrica cutânea fixa, é possível a inserção de calor contro-


lado nas localidades lesionadas. Como o fungo é termossensível, ele tende a se manifestar
em oposição a altas temperaturas. Podem ser feitas compressas diárias com panos ou ba-
nhos com água quente. Desse modo, o combate a micose tende a ser efetivo.

Terbinafina:
Faz parte das medicações alternativas, em situações de intolerância ou uso de medica-
mentos de contraindicação ou interação moderada/grave com o intraconazol. Esta tam-
bém se caracteriza como mais um antifúngico, pois inibe a ação do esqualeno epoxidase,
a enzima que auxilia na biossíntese (produção de proteínas, lipídios - reserva energética
e participa da composição membranar, ácidos nucleicos – armazenam e transmitem in-
formação genética, etc.) do ergosterol (componente vital da membrana plasmática fún-
gica). Sem a possibilidade de gerar macromoléculas essenciais, o agente fúngico morre.

E o manejo é dado por via oral, seguido por:

• 250mg/dia
Anfotericina B:

Essa opção é relativa a pacientes com a contaminação da variante disseminada. Os quais


foram acometidos por doenças pulmonares ou nos demais tecidos. Esse fármaco é usado
nos casos em que há intolerância de intraconazol ou falha em sua função e para gestantes.
Deve ser dosado em ambiente clínico hospitalar, com o paciente internado ou passando
um dia no hospital para o procedimento.
O desempenho da flucitosina (elemento primário) consiste em entrar na célula fúngica
por meio da citosina permease (que é o processo de transporte de substâncias para o in-
terior da célula, ao núcleo, onde se encontram o DNA e o RNA) e já infiltrada, esse com-
posto primário (flucitosina) metaboliza e se transforma no 5-fluorouracilo. Esse novo
composto se incorpora diretamente no RNA e impede o funcionamento correto do DNA.
Isso resulta na morte do organismo fúngico que tem a genética reprodutiva danificada.
Saúde Pública e seus serviços:

Dados apontam que em 2005, o Ministério da Saúde possuía na região do Estado do Rio
de Janeiro 434 centros de saúde e unidades básicas para atendimento populacional. Estas
foram capazes, apesar das limitações laboratoriais, de oferecer os primeiros atendimentos
aos portadores de esporiotricose, além de vários atendimentos serem oferecidos pela
IPEC e a Fiocruz. Quando tratamos dos animais infectados, o IBGE informou em 2002,
que havia a existência de onze estabelecimentos de controle de zoonoses e vetores, entre-
tanto a maioria não atua no monitoramento da disseminação dessa patologia e nem seu
tratamento. As organizações que se disponibilizam para isso, são: O Centro de Controle
de Zoonoses, em Santa Cruz e o Instituto Municipal de Medicina Veterinária, situado na
Mangueira. As consultas nesses espaços são totalmente gratuitas, incluindo também o
diagnóstico, recursos terapêuticos e a eutanásia. E em 2004 a Secretaria de Estado e Saúde
promoveu a capacitação de médicos e veterinários para liderarem a construção de melho-
res redes de atendimento, vigilância e controle do agente fúngico ao ampliar o conheci-
mento clínico do patógeno, seu diagnóstico laboratorial, junto com o aperfeiçoamento de
terapias e tratamentos. Porém, há problemas de superlotação, limitação de vagas de aten-
dimento e indisponibilidade de medicamentos. O itraconazol, por exemplo, é um medi-
camento de referência e importância na luta contra o fungo esporiotricóide, mas é de uso
restrito (é retido, geralmente por redes especializadas), e, portanto, inacessível a popula-
ção, principalmente, de baixa renda (tendo o custo de aproximadamente R$156,67 - 15
cápsulas). Assim, acabam sendo feitos muitos processos de eutanásia sem necessidade
(casos em que o animal ainda pode ser salvo), por escassez de recursos. Também ocorre
de os doentes progredirem até estágios muito avançados, já que o tratamento é longo e
nem todos os tutores têm disponibilidade de irem com frequência a esses centros. Certa-
mente há algumas falhas no sistema que precisam ser urgentemente revistas, além das
mencionadas, tais como a ausência de um programa de saúde pública direcionado espe-
cificamente para o Sporothrix. Esta falta impede que mais redes capacitadas sejam incor-
poradas com atendimento, diagnóstico e tratamento especializados, podendo também dei-
xar de impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias, como as vacinas. Outra pro-
blemática é que a diagnose ao ser feita não é registrada, logo não se tem noção se está
havendo um crescimento ou uma redução da circulação do agente patogênico na cidade.
E ainda, os mais afetados que são as pessoas comuns revelam serem bastante leigas no
assunto, o que dificulta o entendimento de aspectos relevantes, como as medidas profilá-
ticas, que colaboram para prevenir as infecções com a doença.
Referências:

Sites da Web:
https://inovaveterinaria.com.br/esporotricose-felina/

https://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/biblioteca-digital/microbiologia/microbiolo-
gia_saude_publica/34-Eporotricose-humana.pdf

https://crmvsp.gov.br/sporothrix-brasiliensis-fungo-descoberto-no-brasil-deixa-saude-publica-em-alerta/

Artigos Acadêmicos:
file:///C:/Users/joylu/Downloads/34074-Texto%20do%20artigo-106947-1-10-20180719%20(2).pdf

https://www.scielo.br/j/cr/a/pqJdGcqxrRhQZYshPyFky5j/

file:///C:/Users/joylu/Downloads/36758-Texto%20do%20artigo-84614-1-10-20170515%20(1).pdf

https://www.scielosp.org/pdf/rpsp/v27n6/07.pdf

file:///C:/Users/joylu/Downloads/camilamg,+a10v48n3%20(1).pdf

https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/5cTkPfQHPhYcRcTpx4R8M5S/?format=pdf

file:///C:/Users/joylu/Downloads/jof-03-00006.pdf

https://medvep.com.br/wp-content/uploads/2020/09/Esporotricose-cut%C3%A2neo-disseminada-em-gato-
dom%C3%A9stico-na-cidade-de-Curitiba-PR-%E2%80%93-Relato-de-caso.pdf

https://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/08/1102196/nota-tecnica-09-dve-zoo-2020_esporotricose_v6-alterada-a-pe-
did_CBJA7E3.pdf

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