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1. USA-SE O HÍFEN:
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com seus prefixos e falsos prefixos — situação que, aliás, exige outra
compreensão.
Desse modo, persiste o hífen em palavras compostas formadas por:
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(daí a falta de concordância nominal entre os termos ligados) e, sendo assim,
tais termos deixariam de ser exemplos de composto e passariam à
classificação de derivado (como “primogênito”), o que justificaria, então, a
ausência do hífen. Talvez por isso é que seja admitida a variante
“priminfecção”.
1.1.7. verbo + substantivo: conta-gotas; guarda-roupa; toca-discos; finca-pé
1.1.8. verbos ou substantivos repetidos: quero-quero; ruge-ruge; ruge-ruge; tico-
tico
Observações gerais:
1. Pouca coisa mudou em relação ao que era, antes do Acordo, nos oito casos
acima explicitados.
2. Não aparece aí nenhum prefixo; trata-se só de termos — de base nominal,
adjetival, numeral ou verbal — formados pelo processo de composição por
justaposição, salvo, talvez, o caso de “primoinfecção” e “primovacinação”. E
a justaposição de palavras, sem incluir jamais prefixos ou falsos prefixos, é
que determina, salvo algumas exceções, que as palavras do conjunto se
separem por hífen.
3. Em sua maior parte, as palavras unidas pelo hífen têm plena autonomia na
língua, podendo encontrar-se separadamente em contextos verbais diversos e
com sentidos variados: “Vou na quinta à escola, e não no sábado”; “Dê-me a
terça parte do que arrecadar”; “O pombo voa”; “O pão está bom”; “O
americano curte muito o Brasil”; “O guarda me parou na rua”; “Ele guarda
tudo nos armários”; “Quero água”; “A obra que você escreveu é sofrível”;
“O médico é bom nos seus diagnósticos” etc.
4. Chama atenção, no Acordo, entretanto, que palavras como “manda-chuva” e
“pára-quedas” (item 1.1.7) perderam extraordinariamente o hífen, passando a
grafar-se “mandachuva” e “paraquedas” (e seus derivados “paraquedista” e
“paraquedismo”). Mantêm-se as antigas formas “para-lama”, “para-brisa”,
“para-choque” e “para-vento”, apenas, agora, sem o acento agudo na forma
verbal “para”. Alegam os gramáticos que os compostos “mandachuva” e
“paraquedas” perderam a noção de composição, cristalizando-se. Pode-se, no
entanto, perguntar: e por que perderam e se cristalizaram? Com entender esse
critério, mais semântico que formal, o da “cristalização”? E, a ser assim, por
que “guarda-chuva”, “para-lamas” ou “para-brisa” continuam a ter o hífen?
Não se cristalizaram? O critério “cristalização” é muito vago e não encontra,
entre os estudiosos da língua, consenso ou justificativa que seja razoável ou
convincente. Trata-se de uma flagrante inconsistência do Acordo Ortográfico.
5. Fato que também chama atenção — por não ter sido resolvido
satisfatoriamente pelo Acordo, nem pela Academia Brasileira de Letras — é
que convivem, lado a lado, ainda, as chamadas locuções substantivas,
adjetivas e adverbiais, às vezes com hífen, às vezes sem ele, mesmo depois da
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intervenção arbitrária da ABL nesse tópico específico. Aliás, os melhores
dicionaristas do país já não se entendiam. Por exemplo, antes da reforma
ortográfica, o dicionário Aurélio registra “dona-de-casa”, com hifens,
enquanto o Houaiss grafa “dona de casa”, sem hifens. Como o liame entre
composto, locução e lexia complexa tem sido muito impreciso, o
Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, da Academia Brasileira de
Letras, resolveu eliminar, apenas na maioria dos casos, o hífen. Assim,
escrevem-se com hífen “cão-de-guarda”, “pão-de-leite”, “cor-de-rosa”, “pé-
de-meia”, “bico-de-papagaio” (planta), “água-de-colônia”, “água-doce”,
“arco-da-velha”, “mais-que-perfeito”, “ao deus-dará”, “copo-d’água”, “copo-
de-leite”, “Timor-Leste”, “cola-de-sapateiro”, enquanto ficam sem hífen “fim
de século” (por analogia, também “fim de semana”, embora esse termo não
apareça na nova edição do Vocabulário ortográfico), “dona de casa” (julga-se
que seja assim, pois não aparece no Vocabulário, mas, se valer a analogia
com “dono da lei”, sim), “dor de cotovelo”, “café com leite”, “pão de ló” (e
por que, então, “pão-de-leite”? ou “pão-de-leite”, nesse caso, é apenas uma
espécie vegetal, justificando-se os hifens?), “pão de milho” (idem), “sala e
quarto”, “quarto e sala”, “cor de carne” (mas “cor-de-rosa”), “cor de burro
quando foge” (idem), “mula sem cabeça”, “à vontade” (tanto faz ser a
locução adverbial quanto o substantivo masculino), “pé de moleque” (mas
“pé-de-meia”), “pé de vento” (idem), “pé de chinelo” (idem), “calcanhar de
aquiles”, “bico de papagaio” (formação óssea), “arco e flecha” (mas “arco-
íris” e “arco-da-velha”), “dia a dia” (tanto faz a locução adverbial quanto a
locução substantiva). Aqui, houve simplificação pela metade e, ao mesmo
tempo, boa dose de arbitrariedade. Dizem os gramáticos e especialistas da
ABL que o contexto verbal é que vai definir se “dia a dia” é substantivo ou se
é advérbio. Mas não se entende por que “copo-d’água” e “arco-da-velha” têm
hifens e “pé de vento” não tem.
6. Tratando ainda das locuções, a que mais sofreu, no passado, engano e
incompreensão foi a locução adjetiva “à-toa”, que tinha hífen para poder
diferenciar-se da homônima adverbial “à toa”, sem hífen, mas que, também
por decisão da ABL, da mesma maneira que ocorreu com o substantivo “dia a
dia”, deixou de ter. Em frases figés como “Não é à-toa que...”, a imprensa
nacional e as grandes publicações brasileiras dificilmente usavam o hífen,
tratando essa locução adjetiva como adverbial, indiferentemente. Note-se
que, no lugar dessa locução, nesse tipo de construção, é sempre possível usar
um adjetivo, e nunca um advérbio: “Não é casual que...”, ou “Não é fortuito
que...”, ou, ainda, “Não é indiferente que...”. Sobre essa filigrana linguística
os dicionaristas e gramáticos sempre se calaram. Particularmente cheguei a
consultar até a Academia Brasileira de Letras, que não soube responder a essa
consulta. Agora, o caso está resolvido, por mais uma dessas simplificações
que passam ao largo do Acordo mas que acabaram de ser impostas pela ABL:
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a locução adjetiva não tem mais hífen, grafando-se sempre “à toa” como a
sua homônima locução adverbial, em qualquer contexto verbal.
7. No caso das palavras compostas de caráter onomatopeico ou de caráter
expressivo, estas escrevem-se sempre com hífen. Assim, temos “trim-trim”,
“pingue-pongue”, blá-blá-blá”, “tintim-por-tintim”, “zum-zum”, “zigue-
zague”, “reco-reco”, “xique-xique”.
8. O composto antes grafado tanto “vaivém” (de forma aglutinada) quanto “vai-
e-vem” passa, com a reforma, a escrever-se “vai e vem”, sem hifens. Não se
sabe por quê.
Observação: Por isso, por não se enquadrarem nas regras enunciadas neste
quesito, é que se grafam sem hífen “América do Sul”, “Estados Unidos”,
“Costa Rica” etc. No entanto, “Timor-Leste” aparece com hífen no
Vocabulário ortográfico.
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causa da contaminação de derivados em que apareça o advérbio mal
funcionando como prefixo. “Mal” só admite hífen quando o segundo
elemento do derivado é iniciado por vogal (como “mal-intencionado”) ou
pela letra h (como “mal-humorado”). Por possível contaminação, a grafia de
“malmequer” faz perder os hífens. (Ver o item 1.4.2, logo a seguir, deste
documento).
1.3.2. animais: bem-te-vi; andorinha-do-mar; formiga-branca; cobra-d’água;
beija-flor; tigre-dentes-de-sabre
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Observação 2: Quando indica o nome de uma doença, a palavra mal aparece,
na quase totalidade dos exemplos, sem hífen. Assim, em menor parte, temos
“mal-canadense” e “mal-caduco”; mas, em sua maior parte, “mal de luanda”,
“mal de gota”, “mal de lázaro”, “mal de holanda”, “mal de nápoles”, “mal de
fígado”, “mal de cadeiras”.
Observação 3: Registre-se a forma “mal-limpo”, que apresenta hífen por
causa da consoante l, que aparece no fim da palavra mal e no início da
palavra “limpo”.
Observação 1: Tal regra não serve nem para o prefixo co- nem para o prefixo
re-, aparecendo, assim, da seguinte maneira, as palavras “coordenar”,
“coocupante”, “coobrigação”, “coerdeiro” (sim, trata-se do antigo “co-
herdeiro”), “reeducar”, “reeleição”, “reempossado”, “reescrita”.
Observação 2: Não havendo coincidência de vogais, em outros casos também
(vogal mais consoante ou consoante mais consoante), o hífen desaparece de
uma vez por todas dos derivados, como se vê em “contracheque”,
“multivalente”, “autoimunidade”, “antiplaca”, “agroindústria”, “contrapé”,
“semiárido”, “radiopatrulha”, “microindústria”, “autopeças”,
“hidroginástica”, “antivírus”, “hidroavião”, “anticaspa”, “antiácido”,
“antiferrugem”, “anteprojeto”, “autoeducativo”, “contragolpe”, “seminovo”,
“radiotáxi”, “megaoperação”, “cardiovascular”, “infravermelho”,
“macroeconomia”, “radiovitrola”, “seminu”, “antimatéria”, “antigreve”,
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“microempresário”, “autoestrada”, “autodefesa”, “audiovisual”,
“hiperdesconto”, “supermercado”, “intercomunicacional”, “socioeconômico”,
“sobreloja” etc. (consultar os itens 2.2.1 e 2.2.2).
Observação 3: Quando o prefixo termina pela letra r e o radical da palavra
que se lhe segue começa pela mesma letra r, ocorre o hífen: “hiper-
requintado”, “inter-resistente”, “super-revista” (ver o item 1.9 e o 2.2.3).
Observação 4: O conjunto “ensino-aprendizagem”, que apresenta vogais
diferentes no fim de uma palavra e no começo da outra (ensino e
aprendizagem), não se deixa reger, apesar da aparência formal, por essa
regra, porque, aí, em primeiríssimo lugar, não temos prefixo — primeira
condição (ver a Observação 1 do item 1.1. deste documento) —, nem essa
palavra é um composto da mesma maneira que “hispano-americano” ou
“pombo-correio”. É um fenômeno à parte, isolado de todos aqueles que foram
comentados até este momento. Note-se que as duas palavras envolvidas —
“ensino” e “aprendizagem” — têm completa autonomia mesmo no conjunto a
que pertencem, o que não é, evidentemente, o caso de “pombo-correio”, em
que “correio” define o tipo de “pombo”, qualificando-o como se fosse um
adjetivo. Aqui, em “ensino-aprendizagem”, trata-se tão-somente de uma
relação entre termos, como acontece com “estrada Rio-São Paulo”, sequência
nominal em que a cidade de São Paulo não determina a cidade do Rio de
Janeiro e vice-versa. Indicia, pois, uma relação de trajeto, nas duas direções:
do Rio para São Paulo, e de São Paulo para o Rio. O mesmo ocorre com
“ensino-aprendizagem”, em que o ensino leva ou não à aprendizagem ou a
aprendizagem direciona o tipo de ensino, mas não necessariamente. Antes da
reforma ortográfica de 2008, essas cadeias vocabulares eram unidas por
travessão, e não por hífen: “estrada Rio—São Paulo” e “processo ensino—
aprendizagem”. Com o Acordo, deu-se, acertadamente, a simplificação, com
a adoção do hífen.
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Observação 2: Assim como ocorre com o par “subumano”/”sub-humano”,
aparecem outros exemplos de dupla grafia: abrupto agora também pode
escrever-se ab-rupto (aliás, o Dicionário Houaiss já registrava essa forma);
da mesma forma, carboidrato convive com a variante carbo-hidrato; e,
ainda, o já comentado bem-querer, também pode escrever-se benquerer.
Não sei a que se deve tal duplicidade. Decerto, não será por amor à
etimologia, porque, em português, há muito tempo, desde 1943,
desapareceram de uma vez por todas o ph de “farmácia” e o sc de “ciência”.
Ademais, na separação silábica, não se respeita a razão etimológica, pois a
palavra “transatlântico”, por exemplo, se separa “tran-sa-tlân-ti-co” e não
“trans-a-tlân-ti-co” assim como “bisavô” se separa “bi-sa-vô”, e não “bis-a-
vô”. Essa duplicidade gráfica é, portanto, inútil e injustificável.
Observação 3: Como aparece no item 1.6.1, Observação 1 deste documento,
o prefixo “co-” como também o prefixo “re-” não se escrevem com hífen nos
derivados em que aparecem. Segundo determinação da Academia Brasileira
de Letras, que acaba de lançar o Vocabulário ortográfico da língua
portuguesa, escrevem-se “coerdeiro” (e não “co-herdeiro”, como antes),
“cossignatário” (e não mais “co-signatário”) e “coabitar” (que, aliás, já era
“coabitar” antes da reforma ortográfica, sem hífen, por tradição ou
cristalização de uso).
Observação 4: Por decisão da Academia Brasileira de Letras, desaparece o
hífen que havia nos chamados derivados formados com o advérbio “não” e o
advérbio “quase”: “não agressão” (antes, “não-agressão”), “quase delito”
(antes, “quase-delito”).
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1.8.1. com o prefixo pós-: pós-graduação; pós-militar; pós-tônico (ao lado da
variante “postônico”)
1.8.2. com o prefixo pré-: pré-escolar; pré-datado; pré-natal; pré-moderno; pré-
molar; pré-letrado; pré-matrícula; pré-história; pré-diluviano; pré-
jurídico; pré-menstrual; pré-menopausa
1.8.3. com o prefixo pró-: pró-reitor; pró-europeu; pró-africano
Observação: Diz a regra que tais prefixos se separam por hífen da palavra
seguinte porque esta tem acento próprio e inconfundível. No entanto, ainda se
escrevem “prever” (“ver” tem vida à parte), “pospor” (idem) e “promover”
(idem).
1.10. Emprega-se sempre hífen em DERIVADOS com o sufixo ex-, desde que o
sentido seja o de estado anterior:
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1.11.1. com o sufixo –açu: andá-açu; capim-açu; jacaré-açu
Observação: Não se usa hífen em “leitor mirim”, por exemplo, porque nem
“leitor” termina por vogal acentuada graficamente (caso de “anajá-mirim”)
nem há o risco de ocorrer ligação fonética entre “leitor” e “mirim” (como em
“capim-açu”), que são as duas restrições da presente regra.
2.1. Nos casos em que o DERIVADO tenha o prefixo terminado por vogal e a
palavra que se segue comece pelas consoantes r ou s, tais consoantes se dobram:
2.1.1. vogal + consoante r: autorretrato; antirreligioso; Contrarreforma;
contrarregra; biorritmo; microrradiografia; radiorrelógio; autorradiografia;
arquirrival; antirracional; contrarrazão; antirracial; alvirrubro;
antirrevolucionário; anterrosto; suprarrenal
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2.1.2. vogal + consoante s: antissocial; autosserviço; minissaia; autossuficiente;
antissemita; antisséptico; extrassensorial; pseudossufixo; pseudossigla;
multisserviço; contrassenso; autossugestionável; entressafra; ultrassonografia
2.2. Não se usa o hífen nos DERIVADOS em que o prefixo ou o falso prefixo do
termo terminem por uma vogal e o outro elemento comece por vogal diferente
ou quando o segundo elemento se inicie com consoante após uma vogal e, ainda,
quando tanto o fim do prefixo quanto o início do radical da palavra sejam
consoantes:
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hífen colocado no fim da linha realmente existe, fazendo parte de um
composto ou de um termo derivado, e não surgiu ocasionalmente por causa
de eventual separação silábica em fim de linha.
CONCLUSÕES:
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AZEREDO, José Carlos de (Coord.). Escrevendo pela nova ortografia: como usar
as regras do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa. São Paulo:
Publifolha/Instituto Antônio Houaiss, 2008.
BOSCOV, Isabela. A última do português. Veja. São Paulo: Abril, ano 41, nº 2.093,
31 dez. 2008, p. 192-197.
LEDUR, Paulo Flávio. Guia prático da nova ortografia. 3. ed. rev. Porto Alegre:
AGE, 2009.
LIMA, Roberto Sarmento. Estava à toa na vida. Língua portuguesa. São Paulo:
Segmento, ano 2, nº 24, out. 2007, p. 48-50.
MONTEIRO, José Lemos de. Morfologia portuguesa. 4. ed. rev. e ampl. Campinas:
Pontes, 2002.
NOVO Acordo entra em vigor. Língua portuguesa. São Paulo: Segmento, ano 3, nº
39, jan. 2009, p. 16-17.
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PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Os buracos do acordo. Língua portuguesa. São
Paulo: Segmento, ano 3, nº 41, mar. 2009, p. 30-32.
TEIXEIRA, Jerônimo. A riqueza da língua. Veja. São Paulo: Abril, ano 40, nº 2.025,
12 set. 2007, p. 88-96.
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