Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Para que a Umbanda fosse legitimada era necessário que ela quebrasse sua ligação com
a África e, por consequência, com qualquer coisa que lembrasse os negros; ademais, era
necessário um mito criacional que afirmasse, sem dúvida, essa legitimação: por isso a
escolha do 15 de novembro, dia da proclamação da República, como data de sua
“anunciação”, bem como a escolha de um Caboclo como porta-voz do “mundo
espiritual”, em um momento em que a literatura romântica brasileira e o brasilianismo
buscavam estabelecer, no Caboclo (indígena), o símbolo da nação. Para temperar esse
caldo, o Caboclo que se manifestou no dia 15 de novembro de 1908 não era um simples
índio, mas a reencarnação de um sacerdote jesuíta, o Padre Malagrida. Dessa forma, a
Umbanda poderia se inserir, de forma legítima, no universo religioso brasileiro, pois
estava totalmente de acordo com os anseios dos ideais brancos-europeus: era cristã,
tinha as bênçãos da Igreja Católica e era espírita (por isso ela se chamava “espiritismo
de Umbanda”, denominação pela qual foi conhecida por muitos anos).
Assim, se não há consenso entre judeus e católicos como esperar que os umbandistas,
em sua maioria cristãos, com pequeno conhecimento teológico dessa religião, podem
categorizar os Orixás, colocando-os na hierarquia angélica judaico-cristã, fazendo
associações impossíveis entre eles? Qual é o objetivo disso? O que se espera? Será que
ainda se precisa legitimar as práticas umbandistas por meio das religiões ocidentais? Até
quando o pensamento colonizador martelará a cabeça dos escritores umbandistas,
fazendo-os buscar nas religiões ocidentais as respostas para suas dúvidas?
Observação: não foi trazida, ao texto, a associação dos Orixás com os Anjos baseada
nos autores umbandistas, para não se reproduzir o que se está a evitar.