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A Cabala e a Mística

Carolina Schmukler

Neste capitulo sobre a Cabala e a Mística encontraremos os principais


exponentes da cabala judaica, assim como a origem da mesma. Como se
desenvolveu, desde o século I D.C ate os dias atuais.

Gershon Scholem foi mestre e pioneiro nos estudos da mística judaica. Em sua
etimologia a palavra cabala vem do grego e significa fechar. O individuo que
“recebe” os conhecimentos da cabala deve se fechar em si. Boca e olhos,
referenciando aos cultos místicos de manter em segredo o ensinamento e ritos
de sua religião. O mistério/místico é algo que pede a boca fechada, ou seja, que
não pode ser expressado por palavras, seja pelo perigo que esse misticismo põe
o iniciado ou por ser de uma natureza tão elevada que a linguagem humana não
e capaz de expressar sem desvirtua-la.

Segundo Scholem a mística é uma etapa definida na evolução histórica da


religião e aparece em circunstâncias bem especificas. Surge quando existe a
quebra entre Deus, o Universo e o Homem, este ultimo percebendo o abismo
que se abriu entre ele e Deus e tenta criar uma ponte para reconectar-se a Deus.
O místico pretende transcender os limites de tempo e espaço normais para se
comunicar com Deus.

Segundo DRAE, mística é um estado extraordinário de perfeição religiosa,


unindo a alma com Deus pelo amor que vem acompanhado pelo êxtase.
A maioria das definições destacavam como o objetivo da união da alma com
Deus.

Alguns estudiosos chegaram a negar o misticismo fora da religião cristã, contudo


Scholem, afirma que não existe o misticismo fora da religião, mas é um processo
que nasce e se desenvolve no contexto religioso.

A cabala significa receber. A primeira a ser recebida foi a Tora, recebida por
Moises e passada a Josué. Mostra-nos assim como tradição oral foi transmitida
de mestre a discípulo. A parte exotérica, tradição oculta da origem divina e com
acesso restrito é o núcleo da cabala como doutrina judaica.

Segundo o filosofo hispano Salomão Inb Gabirol, pode-se afirmar que a cabala
não é a transmissão do conteúdo, mas sim a forma de passar e receber os
ensinamentos.

Já para Scholem a cabala é uma doutrina mística, teosófica e exotérica que se


dá no seio do judaísmo. É mística pois tem como objetivo conhecer a Deus,
contemplando e estabelecendo um contato intimo. Sobre a teosofia, doutrina que
estuda a divindade e as relações entre o seu Criador e a criação. O caráter
exotérico trata temas dessa origem e quem pode estuda-lo são poucos, já que
os requisitos são grandes.
A mística judaica antiga

A primeira fase foi a mais longa, chamada de Mercava e Mística. As Hechalot


têm inicio na Palestina no final do século I D.C. Seu personagem principal foi
Yohanan Ben Zakai que contou com discípulos. No final do século V e VI foi
escrita na tentativa de sintetizar esta nova fé religiosa. Estendeu-se para a
Babilônia onde teve grande desenvolvimento.

O inicio do esoterismo: Maase Bereshit e Maase Mercava

Proíbe comentar abertamente as tradições esotéricas. Os principais nomes


desse movimento são Rabi Akiva e Ismael. O principal trecho destaca a entrada
de quatro sábios as Pardes e somente um deles sai vivo e ileso. Nessa
passagem é relatada a experiência mística religiosa. A expressão ao entrar no
Pardes, acrostico de Peshat=significado literal, R=Remez=alegórico, D-
Derash=interpretação homiliaca do texto e por ultimo S=Sod=Segredo, que dá o
significado místico e esotérico.

A literatura das Hechalot

Fragmentos de textos encontrados que foram escritos por grupos de místicos na


Palestina e da Babilônia e que foram posteriormente incorporados a literatura
judaica. Os textos falam sobre a tentativa do místico passar por sete palácios
celestiais que eram guardados por anjos. O desafio era chegar ao sétimo palácio
e contemplar o Rei em sua beleza.

O livro da Criação – Sefer Yetzira

É um ensaio teórico sobre questões de cosmogonia e cosmologia que descreve


o processo de criação através das letras do alfabeto hebraico. Sua escrita data
dos séculos III e IV na Palestina, atribui-se tradicionalmente ao nosso patriarca
Abrahão, mas fontes afirmam que vem de Rabi Akiva. O livro possui duas
versões. Uma mais curta e outra mais extensa, não ultrapassando duas mil
palavras. Dividido em seis capítulos chamados de Misnayot. O livro contém duas
partes temáticas, a primeira trata das Sefirot e a segunda sobre as 22
consoantes do alfabeto hebraico.

Chasside Ashkenaz

Em meados do século XII, nasce na Alemanha um novo movimento místico.


Vários de seus membros pertenciam a mesma família, os Kalonimo. Os
principais foram Samuel Hel Hassid e seu filho Yehuda. Sua visão girava em
torno do massacre constante dos judeus pelas cruzadas, desenvolvendo um
sistema ético religioso com o objetivo de preparar seus semelhantes para a
experiência do martírio. Na qual se expressava como Quidush Hashem. O
movimento ensinava sobre as normas e regras religiosas que o chassid deveria
adotar, independente de sua posição politica e intelectual. Esta forma de vida
continha vários exercícios místicos que eles deviam fazer.
O começo da Cabala

Os pioneiros cabalistas surgem na Provence e em Languedoc.

Pode-se afirmar que a primeira obra cabalística foi o Sefer HaBahir, onde foram
encontrados pensamentos da simbologia cabalista. De autoria ainda discutida
foi escrita no sul da França. E se supõe que é do ano de 1185.

O Sefer HaBahir, está escrito da mesma forma do Midrash tradicional. Divide-se


em varias seções onde são apresentados breves tratados independentes, mas
interligados por ideias. Cada seção esta atribuída a rabinos famosos. É a
primeira obra que apresenta o masculino e feminino no interior do Divino.

Isaac o Cego, foi um dos mais reconhecidos cabalistas. Diziam que possuía o
dom para saber se a pessoa viveria ou morreria e se sua alma era nova ou
reencarnada. Seu foco de estudo foram as Sefirot, como esferas luminosas que
revelam os aspectos da divindade. Afirmou que o processo da revelação Divina
pode ser descrito também usando símbolos linguísticos, onde o místico conecta-
se com Deus mediante a contemplação dessas Sefirot.

A Escola de Gerona

Asher Ben David, sobrinho de Isaac o Cego, leva seus conhecimentos a Gerona,
onde escreve o Sefer HaYihud, livro destinado a um publico mais amplo e aborda
os principais temas desenvolvidos pelos primeiros cabalistas.

Nachmanides, outro nome de destaque entre os cabalistas, foi rabino mor de


Barcelona, onde sua autoridade politica e intelectual ajudou a difundir a cabala
no judaísmo tradicional.

Jacob Bem Sheshet, membro ativo do grupo, incorporou na cabala novos


aspectos e ideias. Essas novas ideias vindas das tradições se integraram com o
legado do passado e fez com que ate fosse confundido como se sempre
estivesse lá.

Abraham Abulafia, foi um cabalista profético. Principal representante dessa linha,


tem um cunho antropocêntrico e se interessa pela experiência extática pessoal
e suas técnicas. Nascido em Zaragoza, conheceu a Itália, Grécia e Palestina.
Seus atos messiânicos lhe causaram vários problemas. Compôs mais de
cinquenta obras, a maioria delas inéditas ate o inicio do século passado. Estava
convencido de ter encontrado a inspiração profética levando ao verdadeiro
conhecimento de Deus. Utilizou em sua obra, uma escrita simples e direta. Sua
cabala caiu no esquecimento na Espanha, porem influenciou os místicos judeus
do século XVI da Escola de Safed.

Os cabalistas de Castilha

Surge na metade do século XII na cidade de Sória. Um dos seus principais


personagens foi Yacov bem Yacov HaCohen onde baseava seus estudos nos
anjos e na numerologia. Sua cabala criou uma ponte entre o movimento
Ashkenaz e Abulafia. Foi reconhecido por sua originalidade.

Yosef Bem Chiquitilla (1248/1325) um dos mais reconhecidos cabalistas do


século XIII. Exerceu forte influencia em seus sucessores. Estudou com Abulafia,
de 1270 a 72, e foi bastante influenciado por ele. Teve contato com Moises de
Leon e a cabala teosófica, que ajuda a compreender o Zohar.

Moises de Leon (1240/1305) foi o mais famoso cabalista de Castilha. Vem de


família humilde e não se tem conhecimento sobre seus professores. Seus
escritos baseiam-se numa voz interna, que ouvia, onde reconhece a palavra
Divina. Pretende contra-atacar as ideias racionalistas radicais que culpava o
abandono de uma parte importante da tradição e da lei judaica. Sua obra de
maior destaque foi o Zohar, considerado um dos três pilares judaicos, juntamente
com a Biblia e o Talmud. O Zohar esta dividido em cinco volumes.

Isaac Luria (1534/1572) foi o fundador da nova cabala. Conhecido também como
Ari, era extremamente carismático. Seus discípulos escreveram seus
pensamentos. Sua cabala falava sobre a conexão entre as atividades religiosas
judaicas e a chegada do messias, trazendo a restauração cósmica. A base do
pensamento de Luria foi dividida em três. A contração, a ruptura e a restauração.

A cabala de Luria converteu-se a partir de 1630 na teologia do judaísmo ate os


nossos dias.

Numa breve síntese, tivemos a oportunidade de conhecer os maiores expoentes


da cabala judaica. Vimos, que não existe uma cabala, e sim varias cabalas. Que
ate os momentos presentes podemos e devemos aprender a ter vários níveis de
consciência através da arvores da vida, e que esses místicos, nos ensinaram
que o caminho a Deus pode ser através da Cabala.

Bibliografia:

- ALBA, Amparo - Cabala e Mistica, capitulo 26, pag 597 a 628

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