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Creio ser essencial que os Umbandistas conheçam a mitologia africana e não apenas
a de origem Yorùbá (que cultua os Orixás), mas todas aquelas que se ligam ao
“panteão” adotado na Umbanda, tais como as de origem Jeje e Angolana.
Infelizmente o que temos visto é a clara imposição daquilo que o Prof. Mário Teixeira
de Sá Júnior chama de “embranquecimento umbandista”, ou seja, o afastamento
proposital da Umbanda e dos umbandistas de suas origens africanas, de sua
“negrura”, perpetrado, especialmente, pelos “intelectuais umbandistas” que foram
influenciados pela discriminação racial no Brasil, especialmente entre o término da
escravidão e o fim da Era Vargas.
Vamos discutir um pouco sobre esse assunto, analisando alguns fatos históricos:
Nesse esforço para legitimar a Umbanda como uma religião original e “evoluída” os
participantes procuraram cortá-la, totalmente, de suas raízes africanas, concluindo
que:
Acrescento, que houve, ainda, mais dois Congressos: o segundo realizado em 1961,
organizado por Leopoldo Bettiol, Oswaldo Santos Lima e Dr. Armando Cavalcanti
Bandeira, e o terceiro foi organizado e presidido pelo Dr. Armando Cavalcanti
Bandeira. Todos os Congressos foram no Rio de Janeiro.
O Dr. Cavalcanti Bandeira, autor do livro “O que é a Umbanda”, refuta que a origem
do nome Umbanda venha do sânscrito, mas sim da língua bantu. Afirma, também,
que não quer que se “reafricanize” os rituais de Umbanda, pois diz que assim “ela
voltará para trás” (mais uma vertente do racismo instituído pela doutrina kardecista
aplicada no Brasil, que prega que as pessoas evoluem e, por isso, os negros seriam
menos evoluídos).
Uma obra que tenho, que data do ano de 1953, chamada “Umbanda Sagrada e
Divina”, escrita por Paulo Gomes de Oliveira, famoso jornalista carioca, que tinha um
programa de rádio no qual falava sobre Umbanda e que dava palestras sobre ela
desde 1930, diz:
“As tendas de Umbanda surgiram com a Umbanda evoluída [quer dizer, então, que
havia uma outra Umbanda?, gn], ou seja, despida de muitas tradições obsoletas e
revestida do Espírito evangélico cristão. O culto jêje-nagô [para o autor é uma coisa
só] tem sua origem nas relações fetichistas sudanesas, e é esta coisa esquisita e
estranha que se observa nos chamados Candomblés e Cangerês, onde a ignorância,
a par de um enfermiço misticismo idólatra, estendeu seu nefasto império de
superstições, enchendo a alma de seus adeptos de vibrações negativas, e dos
complexos originários de crendices e vícios. Usam vestimentas esquisitas e bisonhos
títulos. Praticam uma série de atos verdadeiramente chocantes e ridículos,
revelando um acentuado desequilíbrio nervoso que somente afeta o delicado
organismo psicológico. Atualmente admitem a mescla de todas as religiões,
formando um ecletismo absurdo e nocivo. Os locais de trabalho estão revestidos de
símbolos exclusivamente materiais e tudo respira uma atmosfera de idolatria áulica,
perigosa aos destinos do Espírito. Acredito que, evoluindo através do estudo,
venham a se transformar em Umbanda”.
Por essas e por outras não podemos julgar os Irmãos que denigrem os ensinamentos
contidos no Candomblé, achando-os atrasados, falhos, sem nenhuma base espiritual;
afinal eles aprenderam assim, e assim transmitem aos seus discípulos e seguidores.
É nossa obrigação afastar esse tipo de pensamento dos umbandistas. Não podemos
aceitar que digam que essa ou aquela prática é fetichista, atrasada, “magia negra”
etc, sem a conhecê-la muito bem. Acusar os outros é fácil, difícil é ver os próprios
erros!
O Dr. Bernardo de Gregório diz: “Na Antiguidade o ser humano não conseguia
explicar a Natureza e os fenômenos naturais, então, dava nomes ao que não podia
explicar e passava a considerar os fenômenos como deuses. O trovão inspirava um
deus, a chuva outro. O céu era um deus pai e a terra, uma deusa mãe e os demais
seres, seus filhos. Criava, a partir do Inconsciente, histórias e aventuras que
explicavam de forma poética e profunda o mundo que o rodeava. Essas ‘histórias
divinas’ eram passadas de geração a geração e adquiriam um aspecto religioso,
tornando-se mitos ao assumirem um caráter atemporal e eterno, por dizerem
respeito aos conflitos e anseios de qualquer ser humano de qualquer tempo ou
local”. Vemos, portanto, que a experiência mítica é característica de todos os povos
e culturas. É a forma de explicarmos a religião e o sentimento religioso. Dá-nos
ferramentas para entender e conceituar nossa experiência religiosa e justificar
nossas práticas. Assim deve caminhar a Umbanda!
REFERÊNCIAS
CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. Ed. Palas Athena. São Paulo: 1999.