Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O paradigma bioenergético
Se você tiver interesse em saber um pouquinho mais sobre a medicina tradicional indiana
(ayurveda) e a medicina tradicional chinesa (MTC), você pode acessar os seguintes vídeos:
Ayurveda: https://www.youtube.com/watch?v=ao-0zpTW3g0
MTC: https://www.youtube.com/watch?v=1Sim-rTsyio
Você sabia que “ser doente” nem sempre é visto como algo ruim?
Segundo Phillipe Adam e Claudine Herzlich (2001): “O doente viverá a doença como
‘destrutiva’ se, a partir da interrupção da atividade provocada pela mesma, que se
acompanha tanto da destruição dos laços com os outros como de perdas diversas em
suas capacidades e em seus papeis, ele não conseguir visualizar nenhuma pos-
sibilidade de reconstruir sua identidade, dependente inteiramente da integração so-
cial. [...] Ao contrário, a doença é vivida como ‘libertadora’ se quando ela é entendi-
da como possiblidade de fuga de um papel social repressor de sua individualidade.
Neste caso, a doença, longe de representar somente uma série de destruições, permite
reencontrar o ‘verdadeiro sentido da vida’. Ela oferece a possibilidade de uma revela-
ção, ou mesmo uma superação de si.” (p. 78)
Para os românticos do século XVIII a tuberculose era algo desejável: “era um índice de ser
distinto, delicado, sensível”, “sinal de distinção de uma origem nobre”, “simbolizava uma
vulnerabilidade atraente, uma sensibilidade superior” (Sontag, 2007: 30-31).
Corpos que fogem aos padrões estéticos de beleza e normalidade podem causar estranha-
mento e serem alvos de estigmas. Houve um período da história humana, entre os séculos
XIX e XX, em que corpos diferentes serviram ao entretenimento dos considerados “normais”.
Esses eventos de “entretenimento” ficaram conhecidos como “circo de horrores”, “show de
horrores”, “show de aberrações” ou freak show.
Você pode conhecer um pouco mais sobre esses shows de horrores no seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=hp-QwsYeBdg
Patologia e produtividade
Até agora trabalhamos com a ideia de saúde ligada diretamente com o estado
patológico do sujeito, isto é, a saúde concebida pela ausência de sinais e sinto-
mas do organismo. No entanto, devemos entender que saúde não é a simples
ausência de doenças, o conceito engloba muitos outros aspectos como vere-
mos a seguir.
Anteriormente, mencionamos que a partir do século XIX começou a
aumentar a preocupação com os aspectos sociais da saúde, especialmente no
que dizia respeito à saúde dos trabalhadores. Tais questionamentos e estudos
contribuíram para o surgimento de uma medicina social e posteriormente uma
sociologia da saúde (cf. Nunes, 2007).
Questões como nível de renda, questões sanitárias, desigualdades sociais,
relações de poder, passaram a ser reconhecidas como influentes no processo
saúde-doença (Laurell, 1989).
A revolução pasteuriana, em fins do século XIX, permitiu identificar fatores
etiológicos de certas doenças e com isso foi possível realizar uma “contabilida-
de da doença”, seus indicadores poderiam ser estudados por análises estatísti-
cas sobre a distribuição saúde-doença (cf. Scliar, 2007: 35).
“Caráter pioneiro nas estatísticas de saúde é atribuído a William Farr (1807-1883).
Médico, Farr tornou-se em 1839 diretor-geral do recém estabelecido General Regis-
ter Office da Inglaterra, e aí permaneceu por mais de 40 anos. Seus Annual Reports,
nos quais os números de mortalidade se combinavam com vívidos relatos, chamaram
a atenção para as desigualdades entre os distritos “sadios” e os “não-sadios” do país.
Em 1842, Edwin Chadwick (1800-1890) escreveu um relatório que depois se tornaria
famoso: As condições sanitárias da população trabalhadora da Grã-Bretanha. Chadwi- ck,
que não era médico nem sanitarista, mas advogado, impressionou o Parlamento, que
em 1848 promulgou lei (Public Health Act) criando uma Diretoria Geral de Saúde,
encarregada, principalmente, de propor medidas de saúde pública e
de recrutar médicos sanitaristas. Dessa forma teve início oficial o trabalho de saúde
pública na Grã-Bretanha.” (Scliar, 2007: 35)
“Health is a state of complete physical, mental and social well-being and not merely the
absence of disease or infirmity.
The enjoyment of the highest attainable standard of health is one of the fundamental
rights of every human being without distinction of race, religion, political belief, econo-
mic or social condition.
The health of all peoples is fundamental to the attainment of peace and security and is
dependent upon the fullest co-operation of individuals and States.
The achievement of any State in the promotion and protection of health is of value to
all.” (WHO, 2006)
Como se pode observar, esse conceito da OMS traz uma visão mais abran-
gente de saúde e não apenas a parca ideia de saúde como ausência de doença.
Considerando o contexto do pós-guerra, de países arrasados pelos confrontos
bélicos e pela polarização político-econômica entre capitalistas e socialistas,
encabeçados pelos EUA e Rússia respectivamente, esse conceito amplo de saú-
de também foi importante para ressaltar a ideia de saúde como um “direito a
uma vida plena, sem privações” (cf, Scliar, 2007: 37).
Em 1974, Marc Lalonde, então ministro da Saúde e do Bem-estar do Canadá,
enriqueceu a compreensão da saúde e os estudos em saúde pública ao refor-
mular o conceito de “campo da saúde” (cf. Scliar, 2007). Em seu texto, A new
perspective on the health of Canadians – a working document (Lalonde, 1981),
Lalonde reconhece que um estado de completo bem-estar poder ser difícil de
alcançar, contudo, muito pode ser feito de forma a aumentar a liberdade de
doenças e promover bem-estar suficiente para realização de atividades físicas,
metais e sociais. Baseando-se no sistema de saúde canadense, Lalonde consta-
ta a necessidade de estabelecer uma estrutura de análise e avaliação do campo
da saúde. Para isso, ponderou que o campo da saúde deveria ser estudado a par-
tir de quatro elementos principais: a) biologia humana; b) ambiente; c) estilo
de vida e d) organização dos cuidados de saúde.
A maior parte da carga das doenças - assim como as iniquidades em saúde, que exis-
tem em todos os países -, acontece por conta das condições em que as pessoas nas-
cem, vivem, trabalham e envelhecem. Chamamos esse conjunto de “determinantes so-
ciais da saúde”, um termo que resume os determinantes sociais, econômicos, políticos,
culturais e ambientais da saúde.
Nem todos os determinantes são igualmente importantes. Os mais importantes são
aqueles que geram estratificação social - os determinantes estruturais -, tais como a
distribuição de renda; o preconceito com base em fatores como o gênero, a etnia ou
deficiências; e estruturas políticas e de governança que alimentam - ao invés de reduzir
- iniquidades relativas ao poder econômico. Esses determinantes geram posicionamen-
tos socioeconômicos dentro de estruturas de poder, prestígio e acesso a recursos.
(OMS, 2011: 07)
A 8ª Conferência Nacional de Saúde e a
Constituição Federal de 1988
Art. 196. A saúde é direito e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 198. As ações e serviços públicos integram uma rede organizada e hierarquizada e
constituem um sistema único [...]
§ 1°. O sistema único de saúde será financiado [...] com recursos do orçamento da
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além
de outras fontes.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§ 1°. As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema
único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou con-
vênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos;
§ 2°. É vedada a destinação de recursos públicos para auxílio ou subvenções às insti-
tuições privadas com fins lucrativos.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
I. controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para
a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e outros insumos;
II. executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde
do trabalhador;
III. ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde; [...]
VIII. colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. (Bra-
sil, 2013: 33-34).
A consolidação do SUS se deu ao longo da década de 90. A lei 8.142/90 es-
tabeleceu a criação de conselhos de saúde em cada esfera do governo, como
órgãos colegiados deliberativos compostos por “representantes do governo,
prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários” (Brasil, 1990) com
capacidade de avaliar e fiscalizar serviços e recursos em saúde. A lei 8.142/90
também definiu as transferências de recursos financeiros, dispensando a ne-
cessidade de convênios (cf. Paulus Jr; Cordoni Jr, 2006: 17).
Não obstante os incentivos do poder público, passadas algumas décadas,
o SUS ainda enfrenta desafios semelhantes aos da época de seu surgimento.
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), em documen-
to publicado em 2006 (Brasil, 2006), o SUS precisa superar grandes desafios:
• Desafio da universalização;
• Desafio do financiamento;
• Desafio do modelo institucional;
• Desafio do modelo de atenção à saúde;
• Desafio da gestão do trabalho no SUS; e
• Desafio da participação social (Brasil, 2006: 19).
O SUS apresenta números impressionantes: quase seis mil hospitais e mais de sessen-
ta mil ambulatórios contratados, mais de dois bilhões de procedimentos ambulatoriais
por ano, mais de onze milhões de internações hospitalares por ano, aproximadamente dez
milhões de procedimentos de quimioterapia e radioterapia por ano, mais de duzen- tas mil
cirurgias cardíacas por ano e mais de 150 mil vacinas por ano. O SUS pratica
programas que são referência internacional, mesmo considerando países desenvolvi-
dos, como o Sistema Nacional de Imunizações, o Programa de Controle de HIV/AIDS
e o Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos que tem a maior produção mundial
de transplantes realizados em sistemas públicos de saúde no mundo, 24 mil em 2012.
O programa brasileiro de atenção primária à saúde tem sido considerado, por sua ex-
tensão e cobertura, um paradigma a ser seguido por outros países. (Mendes, 2013: 28)
LUZ, MT. Contribuição do conceito de racionalidade médica para o campo da saúde: estudoscomparativos de sistemas
médicos e práticas terapêuticas. In: LUZ, MT e BARROS, NF (orgs.).
Racionalidades médicas e práticas integrativas em saúde: estudos teóricos e empíricos. Rio de Janeiro:CEPESC/IMS-
UERJ/ABRASCO, 2012. p. 15-24MENDES, 25 anos do Sistema Único de Saúde: resultados e desafios. Estudos
Avançados, 27(28): 27-34, 2013.
MERHY, EE; QUEIROZ, MS. Saúde pública, rede básica e o sistema de saúde brasileiro. Cad.Saúde Pública, Rio de
Janeiro, 9(2): 177-184, 1993.
MINAYO, MCS. Ciências Sociais em Saúde no Brasil: vida longa e recente relevância. Saúde emDebate, Rio de Janeiro,
24(55): 44-53, maio/ago, 2000.
MIWA, MJ. Com o poder nas mãos – um estudo sobre johrei e reiki. Tese de doutorado da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto – USP, Ribeirão Preto-SP, 2012.
MONTAL, A. O xamanismo. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
NUNES, ED. Sobre a sociologia da saúde – origens e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2007. OMS – Organização
Mundial de Saúde. Diminuindo diferenças: a prática das políticas sobre determinantes sociais da saúde – documento de
discussão. Rio de Janeiro, 2011.
PAIM, JS. A Constituição Cidadã e os 25 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Cad. SaúdePública, Rio de
Janeiro, 29(10): 1927:1953, 2013.
PAIM, JS. A reforma sanitária brasileira e o Cebes. Rio de Janeiro: CEBES, 2012. PESSOTI, I. A
loucura e as épocas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994, p.13-120.
PIMENTA, AL. O SUS e a municipalização à luz da experiência concreta. Saúde soc., São Paulo, 2(1): 25-40, 1993.
RILLO, AG. The greek origino f caduceum: Æsculapius. Colombia Médica, 39(4): 389-393, 2008. SCLIAR, M. História
do conceito de saúde. Physis: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1): 29- 41, 2007.
SEGRE, M; FERRAZ, FC. O conceito de saúde. Rev. Saúde Pública, 31(5): 538-42, 1997. SONTAG, S. A
doença como metáfora. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
THOMPSON, EP. “Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial”. In: Costumes emcomum. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
VELHO, G. Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
VICENTINO, C; DORIGO, G. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997.
WHO – World Health Organization. Constitution fo World Health Organization – basics documents, Forty-fifth edition,
Supplement, October, 2006. http://www.who.int/governance/eb/who_constitution_ en.pdf (acessado: 03/05/2015)