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A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL NOS

LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA: EM


Revista do Programa de Pós-Graduação
em Geografia e do Departamento de
BUSCA DE UMA ANÁLISE DESCOLONIAL
Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018 La formación territorial de Brasil en los libros didácticos de
ISSN 2175-3709
geografía: en busca de una analisis decolonial

The brazilian territorial formation in geography textbooks: in pur-


suit of a decolonial analysis

RESUMO

Neste artigo buscamos verificar como a Colonialidade do Saber


atravessa a Geografia que se produz na Escola, especialmente
no que diz respeito à formação territorial do Brasil. Para tanto,
iniciamos apresentando uma breve reflexão teórica sobre o
pensamento descolonial e o currículo escolar; posteriormente,
discutimos as narrativas contidas em livros didáticos sobre o tema;
em seguida, traremos relatos de cinco professores de Geografia
do estado do Rio de Janeiro para compreendermos como lidam
com as abordagens contidas em materiais didáticos; concluímos
traçando desafios para construção de uma educação descolonial.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Colonialidade do Saber;
Livros Didáticos.

Victor Loback RESUMEN


Doutorando em Educação, com
bolsa CAPES, na Universidade
Federal Fluminense (UFF), onde En este artículo buscamos verificar como la Colonialidad del Saber
obteve título de mestre em Edu- cruza la Geografía que se produce en la escuela, especialmente
cação e licenciatura em Geografia. en lo que se refiere a la formación territorial de Brasil. Para esto,
Professor I da Secretaria de Esta- empezamos presentando una breve reflexión teórica sobre el
do de Educação do Rio de Janeiro
pensamiento decolonial e el currículo escolar; posteriormente,
(SEEDUC-RJ).
victorloback@gmail.com discutimos las narrativas de los libros didácticos sobre el tema;
en seguida, traemos relatos de cinco profesores de Geografía del
Amélia Cristina Alves Bezerra estado de Rio de Janeiro para compreender cómo se ocupan de este
Professora adjunta da Universi- material en relación al tema; concluímos proponendo desafios para
dade Federal Fluminense. Atua,
la construcción de una educación decolonial.
principalmente, com o Estágio
supervisionado e a Formação de Palabras-clave: Enseñansa de Geografía; Colonialidad del Saber;
Professores; Geografias Escolares; Libros Didácticos.
Cidade, suas diferentes linguagens
e processos formativos.
amelliacristina@uol.com.br
ABSTRACT
Artigo recebido em:
In this paper, we pursue to verify how Coloniality of Knowledge
02/07/2018
engenders the scholar Geography, mainly about Brazilian territorial
Artigo publicado em:
formation. For this, we start presenting a brief theoterical reflection
28/11/2018
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Victor Loback A formação territorial do Brasil nos livros didáticos de geografia: em busca de uma análise descolonial
Amélia Cristina Alves Bezerra Páginas 103 à 120
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about the decolonial thought and the scholar curriculum; then, we 1 - DUSSEL, E. Europa,
discuss narratives in textbooks about this theme; after we bring modernidade e eurocentrismo.
the report of five Geography teachers of public schools in Rio In: LANDER, E. (org.) A
de Janeiro to comprehend how they handle with the approaches colonialidade do saber:
contained in textbooks; we conclude setting challenges to construct eurocentrismo e ciências
sociais. Buenos Aires: Consejo
an decolonial teaching.
Latinoamericano de Ciencias
Keywords: Geography Teaching; Coloniality of Knowledge; Sociales – CLACSO, 2005.
Textbooks. 2 - Com a Razão, o homem
pode colocar-se no centro do
universo, espaço antes ocupado
INTRODUÇÃO por Deus. É a razão que o
conduz à dominação, vista
Colonialidade e Modernida- na economia ou cultura mun- como legítima. Os racionais
de são fenômenos que se imbri- dial, ofuscado, sobretudo, pelos seriam superiores e avançados
cam, duas faces de uma mesma árabes (idem). Deste modo, a em relação àqueles que ainda
moeda, portanto a compreensão colonização europeia é o marco mantinham suas crenças
do primeiro não pode prescin- inicial da Modernidade e todos divinas. A compreensão do
dir de um debate sobre o se- os demais eventos são desdo- mundo não passa mais pela
gundo. De acordo com Dussel bramentos de um século e meio sintonia com o cosmos, mas
(2005)¹, há dois conceitos de deste processo. São seus resul- agora é apreendido pela razão.
Modernidade. O mais difundi- tados, não pontos de partida.
do é eurocêntrico, provinciano Com a expansão colonial eu-
e regional. A modernidade se- ropeia à América, além de um
ria a passagem da imaturidade domínio físico, econômico e
à emancipação por meio da ra- político, foi empreendida uma
zão², proporcionando um marco colonização das formas de pen-
para o desenvolvimento do ser samento, visando à legitimação
humano. Ocorrido durante o sé- da dominação sobre os corpos
culo XVIII, este processo teria dos colonizados. Estas marcas
como base a Reforma Inglesa, perduram até hoje, mesmo após
o Iluminismo e a Revolução a retirada de dispositivos ofi-
Francesa. Nesta perspectiva, ciais de dominação, denuncian-
todos os eventos propulsores da do que, embora o colonialismo
Modernidade teriam ocorrido tenha tido um fim, seus apara-
dentro das fronteiras europeias tos se mantêm sob a forma de
e se desenvolveriam indepen- colonialidade.
dentemente dos demais eventos Por colonialismo, compre-
ocorridos pelo mundo. endemos a estrutura de domina-
Na outra perspectiva apon- ção/exploração política e eco-
tada por Dussel (2005), da qual nômica do trabalho e recursos
compartilhamos, vemos a Mo- naturais de uma determinada
dernidade como fruto de um população sobre outra de iden-
processo em que mundo moder- tidade diferente, cujas sedes
no, seu “jeito de ser”, com seus centrais se encontram em ou-
Estados, exércitos, economia tra jurisdição territorial (QUI-
e filosofia é interpretada como JANO, 2010). Por sua vez, as
o “centro” da história global. colonialidades do poder e do Revista do Programa de Pós-Graduação
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Não fora possível uma narrati- saber se engendraram dentro Geografia da UFES
va nesta escala anteriormente desta perspectiva colonialista Outubro-Dezembro, 2018
a 1492, antes do avanço sobre e se mostram mais duradouras 104
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a América, tendo em vista que que o padrão de poder que as


até então o continente europeu conformaram.
não demonstrava centralidade Com a formação da América
Latina, o Capitalismo pôde en- palmente com os bandeirantes.
fim abarcar a totalidade do glo- Nestas narrativas, muitas vezes
Revista do Programa de Pós-Graduação bo – sempre eurocentrado – e, são suprimidos os papéis dos
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Geografia da UFES aos poucos, constituidor do pa- povos originários, o genocídio/
Outubro-Dezembro, 2018 drão de raça como classificação epistemicídio sofrido por eles e
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social, tal qual se dá até os dias o papel também dos negros es-
atuais. Nesse processo, baseado cravizados trazidos para o terri-
na indissociabilidade entre sa- tório brasileiro. Mais uma vez,
ber e poder, emerge uma forma a classificação de raças vigente
de conhecimento que sustenta num mundo com fortes traços
todo o aparato capitalista-mo- de colonialidade, de maneira
derno-colonial da época. O intencional, oculta o papel da-
conhecimento científico, como queles considerados inferiores.
braço importante da missão Tal epistemicídio, ou vio-
colonizadora, teve como em- lência epistêmica (CASTRO-
preendimento a homogeneiza- -GOMEZ, 2005a) desenrola-se
ção do mundo e a supressão de até os dias atuais e tem fortes
suas particularidades. Assim, influências na constituição dos
houve desperdício de experi- saberes escolares. A Escola,
ências, reduzindo-se a diversi- bem como o currículo, mesmo
dade epistemológica, cultural e sendo territórios de disputas,
política existente do mundo e a não escapam às regras do siste-
deslegitimação de outros tan- ma mundo moderno-colonial e
tos. Este epistemicídio (SAN- funcionam como instrumentos
TOS, 2010) só foi e é capaz de legitimadores da colonialidade
ser conquistado com apoio dos do poder e do saber. À maneira
aparatos militar, político e eco- de qualquer discurso, o currícu-
nômico do colonialismo e capi- lo não é produzido a partir de
talismo modernos. Apenas com um saber atópico e descorpori-
esses atos imperialistas impos- ficado, por sujeitos desinteres-
tos aos povos não-ocidentais e sados e neutros. Ao contrário,
não-cristãos foi possível erguer é construído por sujeitos geo-
a Ciência Moderna como por- -historicamente localizados que
tadora da verdade universal. trazem em seus corpos e mentes
Epistemicídio e genocídio sem- marcas de raça, gênero, classe e
pre andaram de mãos dadas, orientação sexual. Ao passo em
assim como Ciência Moderna e que grupos nem sequer figuram
colonialismo. no currículo, é possível fazer
Tendo a formação territorial uma relação entre eles e as co-
do Brasil se desenrolado a par- lonialidades do poder e do sa-
tir das expansões e, portanto, ber vigente em nossa sociedade
sendo parte constituinte do mo- capitalista moderno-colonial.
vimento colonial, há uma ten- Não por acaso, grupos subal-
dência à reprodução de narrati- ternizados serão os excluídos
vas que colocam portugueses e desta produção de discursos e
exploradores como os formado- valores, enquanto grupos do-
res do Brasil, bem como a ex- minantes o constituirão. Então,
pansão terrestre que se deu nos podemos afirmar que o currícu-
séculos subsequentes, princi- lo é orientado por dinâmicas da
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sociedade ao mesmo tempo em produziram mitos fundadores


que este é orientador destas di- de como se deu a formação do
nâmicas, em um movimento de Brasil e, consequentemente,
retroalimentação. seu povo. Embora pareçam só-
A Geografia escolar, que se lidas e transcendentes, as bases
“origina” e se fortalece nos paí- destes mitos fundadores sofrem
ses envolvidos com a expansão transformações ao longo da his-
colonial, especialmente Alema- tória, alterando profundamente
nha e França e que se consolida o próprio sentido de ser brasi-
no Brasil, não foge ao discurso leiro, assim como a visão sobre
colonial. Com um olhar mais a nação. Nas palavras de Chauí
atento ao currículo consegui- (2000)
esse mito impõe um vínculo interno com
mos perceber que vários são os o passado como origem, isto é, com um
temas que reproduzem visões passado que não cessa nunca, que se
conserva perenemente presente e, por
coloniais, com especial desta- isso mesmo, não permite o trabalho da
que para a formação territorial diferença temporal e da compreensão
do presente enquanto tal. Nesse sentido,
do Brasil. A fim de compre- falamos em mito também na acepção
ender como esses discursos psicanalítica, ou seja, como impulso à re-
petição de algo imaginário, que cria um
compõem o currículo de Geo- bloqueio à percepção da realidade e im-
grafia e, portanto, o Ensino de pede lidar com ela. (CHAUÍ, 2000, p. 9)
Geografia, problematizaremos Para adequar-se aos novos
o currículo escolar desta dis- momentos históricos, sob influ-
ciplina, especialmente a abor- ência das ideologias em voga, o
dagem que é construída sobre mito fundador pode assumir no-
formação territorial do Brasil vas roupagens e repetir-se inde-
nos livros didáticos. Para tanto, finidamente. Neste movimento,
aliaremos a análise dos livros reorganiza os elementos de re-
didáticos e as práticas docen- presentação da realidade, tanto
tes. Compreendemos que essas em função de sua hierarquia in-
dimensões analisadas não dão terna (qual elemento será consi-
conta de apreender a totalidade derado o ponto de convergência
do processo de ensino-aprendi- dos demais) quanto da maxi-
zagem, especialmente do ensi- mização de seu sentido (novos
no da Geografia, contudo nos elementos acrescentados ao ori-
fornecerão pistas fundamentais ginário). Assim, embora o mito
para compreendermos a organi- fundador seja constantemente
zação do currículo, que tem ne- reciclado, mantém seu caráter
las elementos importantes. perene, como algo originário
e, como tal, que sempre existiu
para dar coesão à nação.
A formação territorial do O ensino de Geografia na Es-
Brasil nos livros didáticos de cola, mesmo tendo passado por
Geografia diversas mudanças, ainda guar-
Ao longo de nossa educa- da como uma das suas atribui-
ção, tanto na escola quanto em ções produzir no educando uma
espaços não-formais, temos identidade nacional, conferida
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contato com diversos discur- a partir da formação do territó- em Geografia e do Departamento de
sos sobre a formação territo- rio. Este processo não é neutro, Geografia da UFES
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rial brasileira. Esses discursos mas sim constituído a partir da
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escolha de determinados ele- sociabilidade não necessaria-
mentos, grupos e discursos em mente contínuas e sincrônicas”
Revista do Programa de Pós-Graduação detrimento de outros. Deste (MORAES, 2005, p. 54). Ao
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES modo, pensar o currículo esco- longo da geo-história brasilei-
Outubro-Dezembro, 2018 lar de Geografia se mostra fun- ra, a identidade nacional sofreu
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damental para desvendarmos distensões, assim como o terri-
quais são as bases nas quais se tório. Embora ambos sejam fru-
constrói tal sentimento de per- to de construções no imaginário
tencimento, afinal, a Geogra- coletivo, estes, assim como a
fia, como a disciplina escolar nação, não são imaginados no
designada historicamente para vazio, mas a partir da escolha
narrar os espaços, atua, junto de símbolos erguidos como na-
aos sujeitos e às suas represen- cionais (ANDERSON, 2008).
tações. O outro e seu lugar são Uma vez constituídos, passam
sempre os objetos da narrativa, à condição de naturalidade, até
nunca narradores. serem postos abaixo ou engol-
Percebemos claramente o fados por novos elementos de-
que Boaventura de Sousa San- finidores da nacionalidade.
tos (2007) classifica como “mo- Robert de Moraes defende
nocultura da naturalização das ainda que
a formação territorial articula uma dialé-
diferenças”. Os diversos povos tica entre a construção material e a cons-
que formam o território brasi- trução simbólica do espaço, que unifica
num mesmo movimento processos eco-
leiro têm suas diferenças classi- nômicos, políticos e culturais. O territó-
ficadas e hierarquizadas. Dessa rio material é referência para formas de
consciência e representação, cujos dis-
forma, de acordo com o discur- cursos retroagem no processo de produ-
so eurocêntrico hegemônico, a ção material do espaço, com o imaginá-
rio territorial comandando a apropriação
subalternização de indígenas e e exploração dos lugares. (MORAES,
negros ao longo da geo-histó- 2005, p. 59)
ria seria consequência de sua Essa perspectiva oferece ele-
“inferioridade natural” (idem), mentos para analisarmos como
e não sua causa, numa clara os livros didáticos de Geografia
inversão de sentidos. As dife- abordam a formação territorial
renças acabam por ser transfor- do Brasil. Na composição dos
madas em desigualdades e, por livros analisados – Projeto Ara-
fim, naturalizadas, como vere- ribá e Jornadas.Geo –, há ape-
mos exemplificadas nos livros nas um capítulo dedicado à for-
didáticos analisados. mação do território brasileiro.
A análise das narrativas Nos dois livros, este capítulo
construídas em torno da forma- se insere na primeira unidade,
ção territorial brasileira torna- denominada “O Território Bra-
-se imprescindível para melhor sileiro”. Inicialmente, desperta
compreender os processos que a atenção o número de páginas
nos constituíram enquanto na- utilizadas para explicar a for-
ção. Como bem assinala An- mação do território brasileiro.
tonio Carlos Robert de Mora- Nas duas edições são dedicadas
es, “a formação territorial é, somente quatro páginas para
do ponto de vista espacial, um explicar séculos da geo-histó-
processo cumulativo que arti- ria do território. Sabemos do
cula os resultados de formas de excesso de conteúdo que os
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livros precisam contemplar, ram mão de uma ilustração que


mas consideramos que conteú- representa a invasão portugue-
dos tão extensos e importantes, sa ao que hoje denominamos
com tantas disputas e conflitos, de Brasil (Figura 1). A imagem
povos e suas histórias, não pode- nos transmite a noção de um
riam estar reduzidos dessa forma. momento inaugural, tal qual é
Chamou-nos a atenção logo a própria apresentação do livro.
em princípio a imagem utiliza- Seria, o momento da imagem, a
da na apresentação do livro di- primeira página de nossa geo-
dático Jornadas.Geo. Tendo em -história, deixando para trás
vista o conteúdo esperado para todo um acúmulo de vivências,
o 7º ano do Ensino Fundamen- histórias e saberes de povos que
tal – o debate sobre o espaço aqui habitavam antes do perío-
brasileiro –, os autores lança- do colonial.

FIGURA 1 - Apresentação do Livro Jornadas.Geo – Jornadas.


Geo, 2012.

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em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
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Fonte: Apresentação do Livro Jornadas.Geo, 2012 sem página.
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Tal perspectiva posiciona os desperta para o mundo.
povos pré-coloniais brasileiros O Projeto Araribá, por sua
Revista do Programa de Pós-Graduação “do outro lado da linha”, como vez, opta por iniciar sua apre-
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES diz Santos (2010), ou seja, faz sentação com uma citação acer-
Outubro-Dezembro, 2018 com que desapareçam enquanto ca das mazelas sociais brasilei-
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realidade. O Outro é produzido ras (Figura 2). Segundo João
como inexistente sob qualquer Carlos Agostini, autor citado
forma de ser relevante ou com- pela obra, não podemos culpar
preensível. Ao mesmo modo do nossa herança colonial quando
seu povo, o Brasil só passaria a nos referirmos aos males da so-
ser construído com a chegada ciedade, por já haver passado
dos invasores coloniais euro- muitos séculos desde o fim do
peus. As histórias só existiriam período colonial. Apesar disso,
e poderiam ser contadas a partir reconhece que ainda mantemos
do contato com o europeu, como preconceitos e ideologias trazi-
um momento inaugural que lhes dos pelos colonizadores.

FIGURA 2 - Apresentação do Livro Projeto Araribá

Fonte: Apresentação do Livro Projeto Araribá, 2010, sem página.

Tal premissa vai frontalmen- aparato colonial eurocêntrico que


te em desencontro à perspectiva insiste em se manter. Trata-se da
descolonial, pois não falamos de colonialidade impondo uma:
classificação racial/étnica da população
heranças que se amontoam para do mundo como pedra angular do referido
formar a atual sociedade brasilei- padrão de poder (capitalista) e opera em
cada um dos planos, meios e dimensões,
ra. Consideramos que, embora o materiais e subjetivos, da existência social
colonialismo tenha sido esgotado quotidiana e da escala societal. (QUIJANO,
2010, p. 84)
formalmente, fincou estruturas e
hierarquias que até hoje susten- Após a citação, a apresentação
tam nosso modelo de sociedade. do Projeto Araribá incentiva um
Não se trata simplesmente da discurso crítico, incentivando o
manutenção de preconceitos e questionamento e a formação de
ideologias, como nos apresenta o opiniões, a qual diz ser “o primei-
Projeto Araribá, mas de todo um ro passo para alcançar uma pos-
tura crítica e uma atuação cons-
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ciente sobre a realidade de nosso nários habitantes da América an-


país”. O livro ressalta a existência teriormente às invasões coloniais
das diferenças no Brasil, país que espanhola e portuguesa.
“produz muita riqueza”, mas que Em texto que se segue, abor-
“nem todos usufruem dessa ri- dando o Tratado de Tordesilhas,
queza, pois parte da população é o livro Jornadas.Geo trata ainda
privada das condições mínimas da “descoberta da América” pelos
de sobrevivência”. espanhóis, outro termo proble-
A edição, deste modo, trans- mático devido às mesmas razões
forma a consequência da desi- supracitadas. Seguindo o debate,
gualdade social em causa. Vemos, o livro imprime uma visão teleo-
assim, o que Boaventura de Sou- lógica da colonização portuguesa,
sa Santos chama de “monocultura ao afirmar que a expedição de Ca-
da naturalização das diferenças” bral tinha como objetivo “tomar
(SANTOS, 2007). Nela, hierar- posse das terras portuguesas na
quias raciais, étnicas, sexuais e América”. Deste modo, trata a co-
sociais são ocultadas e naturali- lonização como um destino e, de
zadas. A partir desta monocultu- modo mais profundo, como um
ra, tais diferenças não surgiriam direito legitimamente outorgado
como fruto de relações de poder aos portugueses, não como fruto
historicamente desiguais, mas de um violento processo históri-
como consequências de uma in- co.
ferioridade natural. Neste caso, O livro Jornadas.Geo, em tópi-
há uma clara inversão: de acor- co chamado “América Portugue-
do com o Projeto Araribá, parte sa e Brasil”, chega a afirmar que
o território brasileiro, na verdade, começou
da população não usufrui dessa a ser construído pelos colonizadores [...]
riqueza por não ter acesso a con- (que) ampliaram seus territórios e criaram,
na chamada América Portuguesa, as bases
dições mínimas de sobrevivência, culturais e administrativas do território que
quando, na verdade, ela não tem deu origem ao Brasil. (JORNADAS.GEO,
2012, p.28)
as condições mínimas de sobre-
vivência justamente por uma má Deste modo, o livro reafirma
distribuição de renda que a impe- como posição de destaque o papel
de de usufruir desta “muita rique- desempenhado pelos portugueses
za” que o Brasil produz. no processo de construção do ter-
O vocabulário utilizado pe- ritório.
las duas edições muitas vezes O Projeto Araribá aborda o
também apresenta questões que mesmo tema em tópico intitula-
precisam ser debatidas. O livro do “A chegada dos portugueses
Jornadas.Geo trata a formação à América” (2010, p.16). Mais
do território brasileiro a partir de uma vez se oculta o processo de
tópico que se intitula “A ocupa- violência ao qual os povos origi-
ção da América pelos europeus”. nários foram submetidos na me-
Caso compreendamos que não dida em que minimiza o processo
havia uma área vazia e desabitada de colonização classificando-o
pronta para ser tomada, percebe- como o eufemismo de “chegada”.
mos que denominar o processo de Vale ressaltar que não tratamos de
invasão territorial de “ocupação” um momento de turismo europeu Revista do Programa de Pós-Graduação
em Geografia e do Departamento de
se revela problemático. Tal clas- à América, mas de um momento Geografia da UFES

sificação invisibiliza povos origi- de invasão inaugural à coloniza- Outubro-Dezembro, 2018


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ção que se seguiu ao extermínio e Atentando-nos à dimensão
à escravização de milhões de su- da imagem, o livro Jornadas.
Revista do Programa de Pós-Graduação jeitos subalternizados a partir do Geo opta por utilizar o quadro
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES padrão racial imposto. “O desembarque de Cristóvão
Outubro-Dezembro, 2018 No que tange ao termo “des- Colombo no Novo Mundo”³, de
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cobrimento”, o Projeto Araribá Frederick Kemmelmeyer (Figu-
o utiliza entre aspas, embora não ra 3). Na imagem, percebemos a
haja outro termo para substituí-lo representação de europeus e po-
ao longo do texto, tampouco cri- vos originários no momento da
tica quanto ao seu uso, como ve- invasão de Cristóvão Colombo.
mos a seguir: Europeus são representados em
A imensa extensão territorial de nosso país
resultou de um longo processo de conquista
primeiro plano, em escala bem
de terras, iniciado pelos portugueses a partir maior, altivez e sinal de domina-
de 1500, quando os colonizadores aqui che-
garam – episódio que ficou conhecido como
ção. No mesmo cenário, percebe-
“descobrimento do Brasil”. (PROJETO mos povos originários represen-
ARARIBÁ, 2010, p. 16 – grifo dos autores)
tados fisicamente de maneira a
Além deste termo, também reforçar estereótipos, em segundo
é utilizada, por diversas vezes, a plano, escala menor e em posição
expressão “ocupação” para desig- de súplica e subalternização. Tal
nar a invasão colonial espanhola imagem reforça o estigma de su-
ou portuguesa. A tônica do livro perioridade europeia, ocultando a
é a de posicionar europeus como violência do momento da invasão
“conquistadores”, modo como os e o imaginário do conformismo
classifica explicitamente, excluin- acerca dos então habitantes do
do de todo o processo os diversos que viria a ser chamado de Amé-
povos indígenas. rica.
FIGURA3 - “O desembarque de Cristóvão Colombo no Novo
Mundo”

3 - The Landing of Christopher


Columbus in the New
Fonte: Jornadas.Geo, 2012, p. 26
World. Tradução livre.
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Neste sentido, boa parte da mite a ideia de um processo


violência constitutiva do pro- colonial pacífico, como “desco-
cesso colonial e, portanto, for- berta” e “ocupação”, menciona
temente imbricada à formação a expulsão, escravização e ex-
territorial do Brasil é ocultada termínio ao se referir à apro-
ou menosprezada pelos livros priação de espaços “ocupados
analisados. Estes materiais di- pelos indígenas”. No entanto,
dáticos ocultam ou minimizam de modo contraditório, expres-
o extermínio de indígenas, as- sa esta análise no tópico que se
sim como a violência na en- intitula “América Portuguesa e
genharia da escravidão sofrida Brasil”. Assim, enquanto indí-
por negros africanos ou afro- genas apenas “ocupam” o es-
descendentes. A violência físi- paço, – sem produzi-lo, ao que
ca e simbólica, provocada por parece, apenas tendo-o como
bandeirantes e jesuítas, tam- palco –, os portugueses iniciam
pouco tem espaço relevante nas a construção do território, lhe
escassas páginas destes livros. têm posse e lhe dão nome pró-
Exemplo da ocultação desta prio: “América Portuguesa”.
O território brasileiro, na verdade, co-
violência pode ser encontrado meçou a ser construído pelos coloniza-
neste trecho do Projeto Araribá: dores, que se apropriaram dos espaços
Ao estudar como ocorreu a formação do ocupados pelos povos indígenas, expul-
território brasileiro, devemos lembrar sando-os, escravizando-os ou extermi-
que os colonizadores portugueses foram nando-os. Com o tempo, os portugueses
se apropriando das terras que hoje consti- ampliaram seus territórios e criaram, na
tuem o Brasil e conquistando a área onde chamada América Portuguesa, as bases
viviam cerca de 4 milhões de pessoas, culturais e administrativas do território
distribuídas entre mais de mil povos di- que deu origem ao Brasil. (JORNADAS.
ferentes: os indígenas. GEO, 2012, p. 28)
Estima-se que atualmente haja no territó-
rio brasileiro aproximadamente 817 mil
Nesta referência, é transmiti-
indígenas, divididos em 230 diferentes da a noção de que os indígenas
povos. (PROJETO ARARIBÁ, 2010, p.
16)
apenas habitavam um espaço,
O projeto Araribá chega a não havendo com ele qualquer
mencionar que durante a inva- relação de produção social,
são do território por europeus simbólica ou de pertencimen-
havia aproximadamente quatro to. Toda a cultura que, na con-
milhões de indígenas. Em se- cepção deste material didático,
guida, afirma que atualmente transformou o espaço habitado
há cerca de 817 mil indígenas. por indígenas em território, foi
Embora esteja subentendido implantada em movimento pos-
este déficit populacional, não terior, apenas após a coloniza-
há nada além do ponto final ção portuguesa.
para explicar este fato. O tópi- Ao longo das quatro páginas
co é encerrado e, sem qualquer dedicadas em ambos os livros
esclarecimento, parte-se para o para abordar especificamente
tópico seguinte para analisar os a formação do território brasi-
limites territoriais, sem men- leiro, notamos uma severa de-
ção ao genocídio e consequente sigualdade entre a abordagem
epistemicídio. dos povos constituintes deste
Já o livro Jornadas.Geo, em- processo. Não há, em nenhum Revista do Programa de Pós-Graduação

bora problemático ao se valer dos dois livros analisados, uma em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
de um vocabulário que trans- menção, sequer, à população Outubro-Dezembro, 2018
negra. Desta maneira, ocultam ISSN 2175-3709
112
todo o histórico dos negros formação territorial do Brasil
e suas influências para o que no século XIX. Percebemos
Revista do Programa de Pós-Graduação compreendemos hoje como ter- que as perspectivas expressadas
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES ritório brasileiro. Aos indíge- nos livros didáticos compreen-
Outubro-Dezembro, 2018 nas, no livro Jornadas.Geo, há dem a formação do território
ISSN 2175-3709
apenas uma menção ao longo brasileiro de modo a confundi-
de todo o capítulo. Este silen- -lo com o delineamento de sua
ciamento produz nos estudantes fronteira. Compreendemos a
que terão acesso a este material origem da formação territorial
um déficit de representação, do Brasil de modo mais profun-
afinal, os europeus têm maior do e anterior, além de contínuo
espaço nos capítulos analisa- até os dias atuais. Encaramos
dos, sendo considerados mais o território como um resultado
importantes para o processo de das múltiplas relações de poder
formação territorial brasileira. introjetadas no espaço. Deste
A ocultação das populações modo, não se findou com o úl-
negras e indígenas nestas pá- timo recorte de fronteira nacio-
ginas dos livros lhes coloca em nal.
posição passiva na construção
do território brasileiro, de me-
ros espectadores, abordagem Os livros didáticos sob o olhar
passível de questionamentos e dos professores
rejeições. Temos claro que a análise
Tal desigualdade de repre- dos livros didáticos, apesar de
sentação vem reforçar padrões nos apresentar uma importante
eurocêntricos de poder e saber, dimensão do currículo formal,
demonstrando como a colonia- não rebate imediatamente nas
lidade permanece forte nos li- práticas cotidianas em sala de
vros didáticos de Geografia. É aula. Para ampliar nossa análi-
possível inferir a partir da lei- se, a fim de buscar e construir
tura destas reduzidas páginas caminhos para melhor compre-
sobre formação territorial do ender o ensino de Geografia, re-
Brasil que todo o espaço nacio- alizamos entrevistas com cinco
nal foi construído não apenas a professores desta disciplina, to-
partir das invasões europeias, dos pertencentes da rede públi-
apagando todo a geo-história ca do Rio de Janeiro acerca de
anterior, como exclusivamen- suas visões sobre os livros di-
te por europeus. Estas premis- dáticos desta disciplina, como
sas, se não confrontadas, além lidam com eles em suas práti-
de destoarem da realidade, cas cotidianas e com as ques-
têm o potencial de produzir tões referentes às populações
no educando negro, indígena e na abordagem da formação ter-
de classes populares, o apaga- ritorial do Brasil4. O perfil dos
4 - As entrevistas aqui mento das suas ancestralidades, professores é diverso, tanto em
referenciadas foram colhidas prestando um desserviço ao re- idade quanto em formação, ten-
no momento de pesquisa conhecimento e no empodera- do-se graduados nas três prin-
para a dissertação de mento destes grupos. cipais instituições públicas do
mestrado X, no Programa Ambos os livros analisados estado do Rio de Janeiro.
de Pós-Graduação em
concluem seus capítulos sobre Por questões de confiden-
Educação da Universidade Y.
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Victor Loback A formação territorial do Brasil nos livros didáticos de geografia: em busca de uma análise descolonial
Amélia Cristina Alves Bezerra Páginas 103 à 120
Victor Loback A formação territorial do Brasil nos livros didáticos de geografia: em busca de uma análise descolonial
Amélia Cristina Alves Bezerra Páginas 103 à 120

cialidade e para resguardar a mente é relacionada à desatu-


imagem dos docentes, foram alização dos conteúdos, como
ocultados os seus nomes. Op- diz a Professora B: “eu acho
tamos por atribuir-lhes as letras o livro de Geografia um pou-
A, B, C, D e E, que têm caráter co ingrato, porque eles nunca
puramente abstrato, sem qual- estão atualizados, por conta da
quer relação com seus nomes área mesmo”. Em geral, foi
verdadeiros. Não se constituiu destacado o caráter da Geogra-
nosso objetivo traçar um per- fia como uma ciência em cons-
fil estatístico sobre o ensino tante transformação. Segundo
de Geografia do estado do Rio eles, a desatualização dos tex-
de Janeiro, mas dialogar com tos dos autores pode ser sanada
os docentes e acrescentar ao por textos jornalísticos comple-
debate elementos levantados e mentares, apresentados ao fim
suas relações com este mate- de cada unidade. É possível no-
rial pedagógico que, em nossa tar o tom em alusão a uma ciên-
opinião, é a maior expressão do cia jornalística, ou uma ciência
currículo formal. Inicialmente, do presente.
ao serem indagados sobre a vi- Percebe-se a necessidade
são geral dos livros didáticos de de ampliar as fontes de inves-
Geografia, todos os cinco entre- tigação nas aulas de Geografia.
vistados apontaram somente fa- Neste sentido, consideramos
lhas, ausências e inadequações fundamental enriquecer a abor-
no que se refere à apresentação dagem com fontes diversas,
dos conteúdos. Percebemos constituindo-se necessário para
a predominância de palavras uma ecologia de saberes (SAN-
negativas, como “truncado”, TOS, 2007), ou seja, retirar da
“maçante”, “raso”, “vácuo” ciência seu posto de saber he-
e “limitador”. Os professores gemônico, tornando-a um dos
apontaram a necessidade de saberes disponíveis postos em
correlacionar os livros didáti- diálogo, juntamente com os
cos com outros materiais, como saberes populares, indígenas,
mapas e textos jornalísticos. camponeses e, entre outros,
Nas palavras da Professora A: também o jornalístico.
“no geral, eles (os livros didá- Entretanto, a fonte jornalís-
ticos de Geografia) são mais li- tica não pode ser a única a dia-
mitadores, mostram o básico do logar com a realidade atual nos
básico e a questão é que quando livros didáticos. Temos claro
você se pauta só neles você fica que a Geografia não é uma ci-
no assunto raso”. Desse modo, ência (apenas) do presente, por-
todos os professores entrevista- tanto é fundamental que debata
dos afirmam não se limitarem questões contemporâneas, mas
ao livro didático, o qual consi- não com foco único em uma
deram insatisfatório, e sempre visão imediatista da realidade,
que podem enriquecem suas sem buscar análises geo-histó-
práticas cotidianas com mate- ricas mais profundas. Relegar
riais diversificados. aos textos jornalísticos o debate Revista do Programa de Pós-Graduação
em Geografia e do Departamento de
Essa falta de profundidade que tange às questões contem- Geografia da UFES
dos livros didáticos eventual- porâneas significa abdicar da Outubro-Dezembro, 2018
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ISSN 2175-3709
abordagem espacial que cabe definida como deficiente. Al-
aos geógrafos. gumas coleções, de acordo com
Revista do Programa de Pós-Graduação Em outro depoimento, a os entrevistados, só apresentam
em Geografia e do Departamento de Professora A apontou a desva- textos, sem associação a mapas
Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
lorização da capacidade cog- ou figuras, o que, na visão dos
ISSN 2175-3709 nitiva dos estudantes e os co- professores, também contribui-
nhecimentos por eles trazidos, ria para afastar os alunos. Des-
ao narrar o processo de escolha te modo, valorizam quando as
dos livros didáticos em uma das coleções conseguem apresen-
escolas em que leciona: tar um bom aporte iconográfi-
Os professores falavam: “os alunos de
Ensino Médio aqui da escola têm um
co, além de gráficos e tabelas.
nível muito baixo, tem que escolher um Sempre que os entrevistados
livro bem fácil.” (...) Se você pegar um
livro de baixa qualidade, é ruim, porque
tratam do que há de positivo
aquele aluno que não gosta muito de es- no material, nota-se um tom de
tudar vai ficar naquilo ali. (Professora A)
recomendação, ou seja, o que
A partir deste depoimento, os livros didáticos deveriam
notamos como ainda é recor- trazer, contudo geralmente dei-
rente o movimento de alguns xam a desejar.
professores de deslegitimar o Evidentemente, as imagens
conhecimento dos estudantes atraem a atenção dos estudan-
em detrimento de um saber es- tes, que, automaticamente, fa-
colar formal. Assim, não ape- zem a associação entre elas e o
nas o que ele sabe é subjugado, conteúdo apresentado, sobretu-
mas também o próprio sujeito, do nesse momento histórico em
considerado alguém com “nível que imagem ocupa uma centra-
muito baixo” por não dialogar lidade nas relações sociais. No
da maneira esperada com co- entanto, quando os professores
nhecimentos instituídos. Esta abordam o tema das imagens,
avaliação denota um forte tra- em sua maioria o fazem sem-
ço da colonialidade do saber, pre de modo a vê-lo como mera
chamado por Santos (2007) de ilustração, sem qualquer valor
monocultura do saber, a noção em si. Ao contrário dos textos,
de que o único conhecimento geralmente não há um qualifi-
legítimo e rigoroso é o cientí- cativo crítico para as imagens,
fico ocidental. Tal monocultura demonstrando como elas pre-
reduz a experiência, ao passo cisam ser. As imagens, como é
que deslegitima conhecimentos possível inferir a partir das en-
construídos fora dos muros aca- trevistas, precisam apenas estar.
dêmicos e escolares. Para além Contrária a esta perspectiva
deste fato, é negado ao aluno o está a Professora C, ao comen-
acesso a outros meios de infor- tar sua prática:
mação, enclausurando-o em sua Eu uso (as imagens) principalmente para
a gente conseguir problematizar. Por
realidade imediata. Nesta visão, exemplo, se eu for falar de formação do
caberia aos estudantes um livro território brasileiro e o livro colocar a ca-
ravela, e depois colocar o índio. E colo-
mais raso e fácil, já que estes car o índio com aquele negócio na boca
não são considerados capazes atravessado, com um cocar, todo pintado
de vermelho. E colocar um escravizado
de compreenderem textos mais na senzala, triste. É um recurso imagético
extensos e rebuscados. perfeito para você desconstruir a ideia de
Brasil. O livro quer que você acredite de
A ilustração dos livros di- fato que eram aquelas pessoas que auxi-
dáticos foi consensualmente liaram, contribuíram na formação do ter-
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ritório brasileiro. Elas não contribuíram, Indagado como lida com os es-
elas formaram. (Professora C)
tereótipos que disse reconhecer
Percebemos nesta fala o uso
nos livros didáticos, afirma:
do conteúdo do livro didáti- Para ser sincero eu nunca parei para lidar.
co servindo na prática docente Você está falando, eu estou tentando bus-
car eu ter trabalhado de uma forma dife-
como contraponto ao que se renciada. Não, nunca busquei. Nunca se-
quer trabalhar. A professora uti- gui dessa forma. Até porque eu trabalho,
por exemplo, em uma comunidade que é
liza o material para denunciar a bem complicada. Ali é muito difícil. Eu
colonialidade impregnada nos não procuro estabelecer isso como obje-
to de estudo. Não sei se é erro meu, não
livros didáticos e tensioná-la, sei se é porque você já está com vinte e
não reproduzí-la. Assim, per- poucos anos (de profissão) e você vai na
dinâmica do negócio. (Professor D)
cebemos que o conteúdo im-
Este posicionamento, em-
presso nos livros didáticos não
bora busque justificativas que
determina as práticas, mas pode
dificultam o trabalho docente
também servir para sua des-
(o professor referia-se à vio-
construção, mesmo que o obje-
lência), não cumpre o papel de
tivo na sua confecção não tenha
um ensino voltado à antimar-
sido esse.
ginalização de grupos, povos
Apesar desta ressalva feita
ou culturas, à medida em que
pela Professora C, é possível
simplesmente reproduz o saber
notar o poderoso papel que as
expressado nos livros didáti-
imagens desempenham não
cos, sem tensionamento, ainda
apenas no imaginário dos es-
que reconheça a existência de
tudantes, como esperado, mas
estereótipos. Desta forma, não
também dos educadores. De
apenas os povos que participa-
acordo com o tom da maioria
ram da formação territorial do
das entrevistas, elas têm o cará-
Brasil são marginalizados do
ter de ilustrar o conteúdo, como
ensino, como os próprios estu-
se não fossem, as próprias,
dantes o são. Ao não terem os
parte integrante do conteúdo.
saberes dos seus povos, histo-
Apenas uma professora entre-
ricamente subalternizados, re-
vistada mencionou a análise à
conhecidos em sala de aula a
qualidade das imagens e o que
partir da negação dos estigmas
elas trazem. Os outros quatro
expressados nos livros didáti-
entrevistados apontaram, sim-
cos, promove-se a marginaliza-
plesmente, a existência ou não
ção dele mesmo. Além de uma
do material.
educação que negue a geo-his-
Os professores entrevista-
toricidade a negros e indígenas,
dos, de maneira unânime, afir-
seus efetivos desempenhos na
maram identificar estereótipos
construção do território bra-
e preconceitos na abordagem
sileiro, nega-se a própria va-
dos povos, lhes foi indagado a
lorização destas identidades,
maneira como lidam com o pro-
por conseguinte a valorização
blema em sala de aula. As es-
destes estudantes em sala de
tratégias utilizadas são as mais
aula. Não cabe apenas rechaçar
diversas. Quatro afirmaram ten-
ou denunciar, mas anunciar os
tar combater ou desconstruir,
papeis determinantes de outros Revista do Programa de Pós-Graduação
contudo, em direção contrária em Geografia e do Departamento de
povos silenciados para a forma-
às demais entrevistadas, temos Geografia da UFES
ção territorial do Brasil. Outubro-Dezembro, 2018
o depoimento do Professor D.
116
ISSN 2175-3709
Já a Professora E adota outra como demonstramos no pre-
estratégia: sente trabalho. Denunciar este
Eu lido desconstruindo. Eu faço muitas
Revista do Programa de Pós-Graduação perguntas que às vezes eles ficam pen-
padrão de poder eurocêntrico é
em Geografia e do Departamento de sando. Mas é assim mesmo? Você acha condição indispensável para o
Geografia da UFES que todo mundo é igual? (...) Quando eles
Outubro-Dezembro, 2018 são cruéis uns com os outros, quando um
anúncio de uma Geografia que
ISSN 2175-3709 chama o outro de paraíba, eu paro a aula. rompa com velhos estereótipos
“-Ah, você é da paraíba?” –“Não, profes-
sora, eu sou do Pará.” “Ah, do Pará! Mas
e com o silenciamento de povos
vocês sabem onde fica o Pará?” Aí muda que, ainda hoje, não sentam à
tudo. (Professora E)
mesa para a construção do nos-
Aproximando-se de uma so ensino formal.
perspectiva descolonial e visan- Uma Educação transforma-
do à desconstrução de estereóti- dora precisa reconhecer nosso
pos, a Professora C afirma: condicionamento por forças
O que eu tenho tentado fazer muito é jus-
tamente a mudança do eixo narrativo. Por moderno-coloniais da socieda-
exemplo: quando eu comecei a trabalhar
cartografia, a gente começou pela África.
de, mas negar a clausura das
(...) E quando a gente começa a proble- determinações. É possível um
matizar, a gente consegue identificar os
conflitos. (Professora C)
trabalho nas brechas, mais au-
Percebemos, a partir do des- tônomo e democrático, que
taque a estas três falas, como tensione e auxilie a desalojar
materiais didáticos semelhan- conceitos coloniais. Contudo,
tes podem suscitar práticas as brechas do ensino não se
distintas. Assim, embora seja abrem, mas são abertas, com
possível afirmar que os livros muito esforço por educadores
didáticos podem condicionar e educandos. Para cumprimen-
as atividades escolares, o papel to de tal fim, é fundamental re-
dos educadores é crucial para pensar o ensino acadêmico de
a Educação, afinal, somos nós, Geografia e em que medida ele
juntamente com os educandos, nos auxilia a tensionar as colo-
os realizadores deste currículo, nialidades do poder e do saber
havendo escolhas à reprodução vigentes.
ou tensionamento da coloniali- De acordo com os professo-
dade do poder e do saber. res entrevistados no presente
trabalho, há uma grave ausência
de abordagens que desconstru-
Buscando caminhos para a am estereótipos e preconceitos
conclusão acerca dos povos que formaram
Temos claro que uma abor- o território brasileiro nas disci-
dagem plenamente descolonial plinas acadêmicas cursadas por
encontrará grande dificuldade eles. Neste sentido, a tentativa
de tornar-se exequível, uma vez de uma prática docente descolo-
que nos conformamos intelec- nial na escola, ou simplesmente
tual e subjetivamente em bases que visa tensionar estereóti-
coloniais, inclusive no processo pos, dificulta-se sensivelmente
de formação dos professores. se construída a partir de uma
Apesar disso, é possível ten- Geografia acadêmica com ba-
sionar esta assimetria de poder ses coloniais ou sem tais pro-
que está impregnada no currí- blematizações. Maiores ainda
culo formal, nos livros didáti- são seus obstáculos quando se
cos e no ensino de Geografia, apoiam em livros que, da mes-
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ma maneira, abordam povos de escola, em forte diálogo com o


modo a reforçar estereótipos e primeiro aspecto. Para isto, há
preconceitos. que se ter um olhar sensível ao
Visando romper com uma Outro, não apenas olhá-lo como
prática docente e um ensino fixado em um atributo, mas en-
de Geografia com padrões co- xergá-lo em sua complexidade.
loniais, precisamos repensar - Produzir um cotidiano
nossas bases teóricas e práticas. descolonial: recusando a pers-
Para atingir este objetivo, al- pectiva explicitada do currí-
guns percursos precisam sofrer culo turístico (SANTOMÉ,
câmbios significativos. Não 1995), os saberes subalterni-
buscamos realizar uma prescri- zados precisam compor o dia
ção de práticas, afinal, o ensino a dia da escola. Um currículo
se dá em espaços-tempos di- antimarginalização precisa ser
versos, consequentemente com realizado cotidianamente, em
sujeitos diversos, entretanto todas as atividades educativas,
consideramos necessário deba- privilegiando as culturas histo-
ter alguns aspectos que contri- ricamente silenciadas. O saber
buam com o tensionamento da é historicamente subalternizado
colonialidade: a partir da subalternização de
- Deslocar o atual eixo nar- quem os detêm. Um ensino des-
rativo: promover o que Santos colonial deve recusar qualquer
(2007) chama de ecologia de preconceito, de raça, gênero,
saberes. Os múltiplos conhe- classe ou orientação sexual e
cimentos, de múltiplos povos promover a valorização da di-
nesta perspectiva não devem ferença cotidianamente.
ser encarados como acessórios - Reconhecer múltiplas geo-
em vias de complementar um graficidades: é necessário que
saber científico acadêmico mo- seja reconhecida a dimensão da
derno, mas saberes com mesmo violência e da subalternização,
valor e status de igualdade. Não mas, sobretudo, que se reconhe-
se trata de admitir a existência ça sua contraface de resistência.
de outros conhecimentos, mas A Geografia da dominação não
de incorporá-los enquanto di- pode ocultar a Geografia da Li-
mensão e compreensão do real. bertação como a praticada por
- Recusar a educação ban- africanos e afrodescendentes
cária: negar que a Educação em quilombos, sem-terra e sem-
seja feita apenas do educador -teto em suas ocupações rurais
para o sujeito a ser educado, em e urbanas. Há que se valorizar
uma perspectiva que a encara a possibilidade de subverter a
como um resgate. O conheci- norma, reconhecendo múltiplas
mento não é algo que o aluno (re)construções.
recebe (FREIRE, 2005), mas - Reconhecer múltiplas tem-
o que constrói coletivamente, poralidades: recusar a tempo-
com seus semelhantes, mas so- ralidade linear que hierarquiza
bretudo com os diferentes. Des- povos e espaços a partir de uma
Revista do Programa de Pós-Graduação
ta forma, os saberes dos edu- hierarquia eurocêntrica repre- em Geografia e do Departamento de
candos compõem o aporte de sentante do fim desta linha. Geografia da UFES
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conhecimentos que circulam na Nesta perspectiva, há a contem-
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poraneidade, não apenas a si- mais naturalizadas, como ava-
multaneidade. O saber geográ- liações e reprovações. Como
Revista do Programa de Pós-Graduação fico, assim, necessita deixar de importante arena de luta, esta
em Geografia e do Departamento de ser uma ciência do presente e instituição precisa ser conquis-
Geografia da UFES
Outubro-Dezembro, 2018
buscar compreender seus fenô- tada e transformada, sem pres-
ISSN 2175-3709 menos a partir de análises geo- cindir de um debate social am-
-históricas. Não há contração plo.
de um tempo ou dilatação de Desenvolvidas nossas con-
outros. É reconhecendo o pas- siderações, admitimos que o
sado em toda a sua complexi- ensino de Geografia e seus
dade que se compreende o pre- materiais didáticos tal qual es-
sente e pode ser anunciado um tão postos mais auxiliam na
novo futuro. Desta forma, o en- reprodução de um pensamento
sino de Geografia pode cumprir eurocêntrico moderno-colonial
seu papel de saber estratégico, do que no seu tensionamento.
de conhecimento que compre- Entretanto, negando a sua ine-
ende e é capaz de proporcionar xorabilidade, percebemos que
a transformação do espaço. há possibilidades de resistência
- Reconhecer a escola como e diversas alternativas que po-
espaço de luta: a escola não dem ser vislumbradas a partir
apenas abriga forças moder- de reformulações teórico-práti-
no-coloniais, mas em certa cas. Podemos auxiliar a desalo-
medida as reproduz. Enquanto jar este padrão de poder e saber
constructo social, esta escola colocados e promover coletiva-
que está posta precisa ser cons- mente, como ensinam os resis-
tantemente questionada desde tentes zapatistas, “um mundo
as suas práticas autoritárias de onde caibam muitos mundos”.
políticas governamentais até às

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