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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – UNESPAR

Campus de Apucarana
Centro de Ciências Humanas e da Educação Curso: Serviço Social 1º ano
Disciplina: Ciências Politica
Docente: Elson Alves de Lima

Atividade: FICHAMENTO Data: 24/02/2024

SILVA, Maria Fernanda da; BERTOLDO, Edna. "O Conceito de Política


Em Marx: análise de obras de 1843 a 1871. Universidade Federal do
Texto base:
Ceará (UFC). Fortaleza. Revista Eletrônica Arma da Crítica. Ano 3: No. 3,
dez. 2011, 135-156.

Acadêmico (a): FILIPE REIS ALMEIDA

Karl Marx, renomado filósofo e economista do século XIX, deixou um legado


teórico vasto e profundo, resultado de décadas dedicadas ao estudo da sociedade
de sua época. Em sua obra, não se limitou apenas a descrever o funcionamento
cruel do sistema capitalista, que subtrai do trabalhador o fruto de seu trabalho,
concentrando a riqueza nas mãos dos capitalistas. Marx também desenvolveu uma
complexa teoria política, na qual o Estado é visto como um instrumento
complementar ao capital na exploração da força de trabalho.
Neste artigo, o objetivo de Silva e Bertoldo é explorar mais detalhadamente as
ideias de Marx sobre política por meio de uma análise bibliográfica. Para isso, elas
investigaram algumas de suas obras-chave, abrangendo um período que vai de
1843 a 1871. Entre os textos selecionados estão "Para a Questão Judaica" (1843),
"Glosas Críticas Marginais ao Artigo 'O Rei da Prússia e a Reforma Social', de um
Prussiano" (1844), "Manifesto do Partido Comunista" (1848), "As Lutas de Classes
na França de 1848 a 1850" (1850), "O 18 Brumário de Luís Bonaparte" (1852) e "A
Guerra Civil em França" (1871). Por meio dessa investigação, buscaram
compreender como o conceito de política em Marx se desenvolve ao longo do
tempo, à medida que seu pensamento amadurece e responde aos contextos
históricos específicos em que cada obra foi produzida.
O artigo tem como referência as seguintes obras:
MARX, Karl. Para a Questão Judaica. Trad.: José Barata Moura. São Paulo:
Expressão Popular, 2009.
Glosas Críticas Marginais ao Artigo “O rei da Prússia e a
reforma social” de um prussiano. Trad.: Ivo Tonet. São Paulo: Expressão
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Popular, 2010.
ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São
Paulo: Cortez, 1998.
As lutas de classes na França de 1848 a 1850. In: Karl
Marx/Friedrich Engels: obras escolhidas. Vol.1 São Paulo: Alfa-Omega, [19- ].
O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. 4. Trad. Leandro
Konder e Renato Guimarães. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
A Guerra Civil em França. Trad. Eduardo Chitas. Edições
Avante: Lisboa, 1984.
Em 1843, Karl Marx, com apenas 25 anos, escreveu "Para a Questão
Judaica", uma obra publicada no ano seguinte nos Anais Franco-Alemães. Este
período marcou uma série de eventos significativos na vida de Marx: a Gazeta
Renana, onde ele trabalhava, foi fechada pelos censores do governo prussiano,
levando-o a recusar um convite do governo para se tornar redator no diário oficial e
optar por mudar-se para Paris. Lá, assumiu a direção dos Anais Franco-Alemães e
teve contato com sociedades secretas de socialistas e comunistas. Além disso, em
1843, Marx concluiu não apenas "Para a Questão Judaica", mas também a obra
"Crítica da Filosofia do Direito de Hegel", e celebrou seu casamento com Jenny von
Westphalen.

"Para a Questão Judaica" é uma resenha crítica escrita por Marx sobre dois
trabalhos de Bruno Bauer: "A Questão Judaica" e "A Capacidade dos Judeus e dos
Cristãos Hodiernos para se Tornarem Livres". Este texto marca um rompimento
teórico entre Marx e Bauer, embora não tenha encerrado a relação cordial entre os
dois.
Durante os anos de 1800 a 1850, Karl Marx e Bruno Bauer foram
confrontados com a situação de extrema pobreza na Alemanha, em contraste com o
desenvolvimento material e sociopolítico observado em países vizinhos como a
Inglaterra e a França. A Alemanha permanecia predominantemente rural e agrária,
com grande parte de seu território ainda sob o domínio do Antigo Regime. Embora a
ocupação napoleônica tenha impulsionado um movimento em direção à
modernização, esse progresso foi interrompido após a derrota de Napoleão e
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durante o reinado de Frederico Guilherme III, que promoveu uma política de


reversão da democratização alcançada.
Nesse período, a Alemanha estava organizada como uma Confederação
Germânica composta por 39 estados, que não formavam um Estado nacional
unificado, mas sim um conjunto de estados com diferentes estruturas políticas e
dominação da nobreza rural. Apesar desse cenário político fragmentado, a economia
alemã começou a mostrar alguns sinais de crescimento, especialmente com o
desenvolvimento de indústrias metalúrgicas, de bens de consumo e de transporte.
Esse progresso econômico resultou no aumento do proletariado urbano e na
redução do número de camponeses.
Como consequência, a ascensão da burguesia industrial gerou conflitos com
a nobreza feudal, à medida que ambas as classes disputavam poder e influência na
sociedade alemã em transformação. Este período foi marcado por uma série de
mudanças sociais, econômicas e políticas que moldariam o futuro da Alemanha e
influenciariam profundamente o pensamento de Marx e Bauer sobre a sociedade e a
política.
Nos anos de 1830-1840, a juventude intelectual alemã, profundamente
influenciada pelas ideias hegelianas, emergiu como uma força desafiadora contra a
estagnação da Alemanha. Liderados por Bruno Bauer, esses jovens adotaram uma
postura liberal audaciosa, buscando confrontar as estruturas sociais e políticas
tradicionais do país. Karl Marx, mais jovem que Bauer, aproximou-se dele durante
um curso na Universidade de Berlim, onde ambos participaram do Clube dos
Doutores. No entanto, Bauer enfrentou resistência dos conservadores hegelianos e
acabou sendo removido de sua posição na universidade. Apesar de sua ruptura com
a religião e sua postura radicalmente liberal, Bauer acabou afastando-se da política
devido a perseguições, concentrando-se em especulações teóricas. Após 1849, sua
influência declinou rapidamente, e ele acabou adotando uma postura profundamente
conservadora em seus últimos anos.
Neste período crucial de sua jornada intelectual, Karl Marx critica Bruno Bauer
enquanto faz uma transição do curso de Direito para o de Filosofia e se aproxima da
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esquerda hegeliana. Diante das perseguições políticas e da falta de perspectivas na


academia, Marx decide ingressar no jornalismo, assumindo a direção editorial da
Gazeta Renana. Nesse contexto, ele percebe que os conflitos políticos refletem
interesses econômico-sociais e que a neutralidade aparente do Estado é uma ilusão.
Além disso, Marx observa a vacilação e a covardia da burguesia liberal, que prefere
acordos e conchavos em vez de lutar consistentemente por seus ideais de
liberalismo. Essas constatações moldam sua visão crítica da sociedade e
influenciam seu pensamento posterior.
Marx constata a fragilidade do liberalismo e a inadequação da filosofia
hegeliana para lidar com os problemas históricos concretos. Ele é influenciado por
duas novas correntes intelectuais: Ludwig Feuerbach, que o conduz ao
materialismo, e Moses Hess, que desperta seu interesse pelo anticapitalismo.
Em outubro de 1843, Marx se casa e se estabelece em Paris, marcando um
momento crucial em sua trajetória intelectual. Ele estuda teoria política e começa a
criticar a filosofia de Hegel, especialmente sua teoria do Estado, assumindo-se como
comunista. Durante esse período, Marx escreve "Para a Questão Judaica", onde
expressa sua oposição ao liberalismo e se posiciona numa perspectiva democrática
radical, preparando-se para uma futura visão revolucionária ao rejeitar
completamente as ideias de Bauer.
Em "Para a Questão Judaica", Marx e Bauer discordam apenas em alguns
pontos. O livro aborda a situação dos judeus na Alemanha, ligada à condição
precária do povo alemão. Com o estabelecimento da Confederação Germânica, é
decretado o Estado cristão, negando aos judeus o direito a funções públicas que
antes possuíam. Nos anos 1840, a questão judaica ganha destaque, liderada por
Bauer, que argumenta que o caráter religioso do Estado impede a emancipação. Ele
questiona a reivindicação dos judeus, afirmando que, se não estão dispostos a
renunciar à sua identidade religiosa, não têm direito a exigir do Estado que o faça.
Bauer desqualifica a luta dos judeus pela emancipação, considerando o cristianismo
como uma religião universal e o judaísmo como uma religião particular, o que,
segundo ele, impossibilita a emancipação dos judeus.
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Bauer argumenta que a reivindicação dos judeus pela emancipação é


inconsistente, pois eles não estão dispostos a renunciar à sua identidade religiosa.
Ele desqualifica a luta dos judeus pela emancipação, defendendo que o cristianismo
é uma religião universal, enquanto o judaísmo é particular e, portanto, inapto para a
emancipação. Bauer propõe que tanto cristãos quanto judeus abdiquem da religião
em favor de um racionalismo iluminista. Por outro lado, Marx aborda a questão
judaica de forma política, criticando Bauer por não questionar o tipo de emancipação
em questão e destacando a necessidade de entender a natureza dessa
emancipação.
Marx argumenta que a emancipação política concedida pelo Estado secular
não implica necessariamente a emancipação do homem da religião. Para Marx,
embora os judeus e outros grupos possam ser politicamente emancipados, isso não
os obriga a renunciar à sua religião e cultura. No entanto, ele destaca que a
emancipação política, ao separar o domínio da religião do domínio estatal e movê-lo
para o âmbito privado da sociedade civil, contribui para a emancipação política geral.
Marx critica a ideia de que a emancipação política resolve automaticamente as
questões religiosas, argumentando que a liberdade política não é suficiente para
garantir a verdadeira emancipação humana. Ele observa que o Estado e a religião
são compatíveis, desempenhando papéis diferentes na vida das pessoas. Marx
descreve o Estado moderno como uma forma de repressão que aliena os interesses
individuais em favor dos interesses coletivos, contribuindo para uma vida dupla dos
cidadãos, dividida entre a esfera política e a sociedade civil. Ele ressalta que a
emancipação política, embora represente um avanço em relação à ordem feudal,
não é o mesmo que emancipação humana completa. A verdadeira emancipação
humana só pode ocorrer quando o indivíduo reconhece suas próprias forças como
forças sociais e integra sua vida individual à vida coletiva, eliminando a separação
entre a esfera política e a esfera social.
Marx, ao escrever "Para a Questão Judaica", ainda não havia realizado uma
análise profunda do capitalismo. No entanto, ele já identificava o fetichismo presente
na mercadoria dinheiro, que ele via como o núcleo do capitalismo, incompatível com
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ideais humanistas. Segundo Marx, a política não é neutra diante dos conflitos
econômico-sociais; o Estado toma partido na luta de classes, favorecendo uma parte
em detrimento da outra. A emancipação política, para Marx, contém contradições,
separando o cidadão genérico do homem privado e reprimindo os interesses
universais em favor dos interesses particulares dos cidadãos. Isso faz com que o
Estado pareça defender o universal, enquanto na verdade protege interesses
particulares.
Em 1844, Marx publicou as "Glosas críticas marginais ao artigo 'O rei da
Prússia e a reforma social'", onde defendia a supressão do Estado. Este texto, pouco
conhecido, coincide com o período em que Marx se envolveu com a Liga dos Justos
e iniciou sua amizade com Engels. Além disso, nesse ano, escreveu os Manuscritos
Econômico-filosóficos. A repercussão das "Glosas Críticas" resultou na expulsão de
Marx da França a pedido do governo prussiano em 1845, levando-o a mudar-se para
Bruxelas, onde começou sua colaboração com Engels em "A Sagrada Família" e
iniciou a redação de "A Ideologia Alemã" e "As Teses sobre Feuerbach".
Na conjuntura histórica abordada, a Alemanha estava politicamente e
socialmente atrasada, com um movimento burguês ainda fraco, porém em luta
contra o feudalismo. Ideias sobre democracia, Estado e atividade política eram
temas comuns nos debates entre intelectuais burgueses. Marx, neste período, focou
seus pensamentos na filosofia, indagando sobre o fundamento ontológico do homem
e concluindo que o trabalho é a base do ser social. Mais tarde, ele direcionou seus
estudos para a economia política.
No mês de junho daquele ano, ocorreu uma revolta de trabalhadores na
província alemã de Silésia, direcionada contra banqueiros e industriais devido às
más condições de trabalho em uma tecelagem. Os trabalhadores sentiram-se
excluídos da comunidade política, segundo Arnold Ruge. No entanto, Marx
argumenta que a verdadeira comunidade da qual o trabalhador está isolado é a vida
em si, incluindo aspectos físicos, espirituais e morais. A repressão violenta do rei da
Prússia a esse movimento marcou o primeiro grande protesto operário na Alemanha
e ganhou repercussão nacional e internacional.
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Ruge argumenta que a sociedade alemã não reconhece a necessidade


universal de reforma social devido ao seu atraso político, alegando que o país não
compreende a relação entre a miséria parcial e questões mais amplas que afetam
toda a sociedade. Marx critica essa visão, apontando que a política não deve ser o
único princípio de compreensão dos fenômenos sociais. Ele destaca que a ciência
social burguesa e o pensamento político muitas vezes não conseguem identificar as
causas fundamentais dos problemas sociais, pois negligenciam a interconexão entre
economia e política. Marx contrasta a postura alemã com países politicamente mais
avançados, como a Inglaterra e a França, argumentando que mesmo nesses lugares
há falhas em identificar questões sociais de forma abrangente. Ele sugere que o
intelecto político, ao se limitar aos confines da política, torna-se incapaz de
compreender plenamente os males sociais, pois está intrinsecamente ligado à
estrutura e aos interesses do Estado.
Marx ressalta que a insurgência dos trabalhadores silesianos evidencia uma
dualidade entre os elementos políticos e sociais na Alemanha, argumentando que a
disposição do proletariado reflete diretamente a condição social do país como um
todo. Ele apresenta uma análise crítica do Estado em quatro proposições inter-
relacionadas. Primeiramente, aponta que o Estado e a sociedade civil mantêm uma
relação de dependência ontológica, onde a opressão e a escravidão da sociedade
civil constituem a base natural na qual o Estado moderno se sustenta. Em segundo
lugar, Marx enfatiza que o Estado serve aos interesses das classes dominantes,
destacando que sua existência está intrinsecamente ligada à manutenção da vida
privada e, portanto, não tem a capacidade de erradicar as injustiças sociais.
Além disso, ele argumenta que o Estado não possui o poder de eliminar os
males sociais, pois está enraizado em contradições fundamentais entre sua função e
suas limitações. Por fim, Marx sustenta a necessidade de abolir o Estado como parte
do processo revolucionário para alcançar o socialismo. Ele explica que a revolução
política é crucial para a destruição das estruturas existentes e a dissolução das
relações de poder, porém, uma vez que o socialismo começa sua atividade
organizacional e define seus próprios objetivos, ele transcende a esfera política e se
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concentra em sua própria realização interna, desvinculando-se de seu aspecto


político anterior. Essa transição indica a evolução do movimento socialista além das
categorias políticas convencionais, rumo a uma ordem social mais igualitária e
autossustentável.
Em "Glosas Críticas", Marx introduz a distinção entre revolução política e
revolução social, enfatizando que a primeira reflete a busca das classes por
mudanças no aparato estatal, enquanto a segunda representa a luta do indivíduo
contra sua alienação e separação da comunidade humana. Ele argumenta que uma
sociedade comunista só pode surgir com a abolição do Estado, pois este é a raiz
dos males sociais, uma compreensão que ultrapassa as limitações do pensamento
político convencional.
Marx critica a visão limitada do intelecto político, que está enraizada na esfera
política e incapaz de reconhecer o papel central do Estado na perpetuação das
injustiças sociais. Ele associa essa limitação ao estado de impotência tanto do
pensamento político alemão quanto da burguesia alemã, destacando que a política é
essencialmente uma luta de classes pelo poder. No entanto, ele defende que os
proletários devem usar a luta política como meio de conquistar o poder, mas devem
transcender essa esfera assim que a essência social de seu movimento se tornar
evidente.
Em 1848, Marx e Engels são expulsos de Bruxelas e se estabelecem em
Colônia, na Alemanha, onde lançam o jornal Nova Gazeta Renana. Ao mesmo
tempo, em Londres, é publicada a primeira edição do Manifesto Comunista. Esse
período marca uma revisão dos referenciais políticos e ideológicos da Liga dos
Justos, à qual Marx e Engels se juntam.
A primeira metade do século XIX é caracterizada pela ascensão do
capitalismo, que redefine as relações sociais e de classes. A sociedade civil e o
Estado são moldados de acordo com os interesses da burguesia, consolidando uma
ordem social dominada pelo movimento do capital. A transformação da Liga dos
Justos na Liga dos Comunistas, em 1847, reflete a necessidade de um programa de
ação diante da questão operária emergente.
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Marx e Engels são encarregados de redigir o programa da Liga dos


Comunistas, resultando no Manifesto Comunista, impresso em fevereiro de 1848.
Este documento surge em meio à onda de revoluções que varreu a Europa,
evidenciando a divisão de classes entre proprietários e proletários. As lutas de 1848
revelam o antagonismo entre capital e trabalho, marcando a consciência social da
era industrial emergente e a ruptura com a ordem feudal.
A redação do Manifesto Comunista evidencia a necessidade de o proletariado
assumir a tradição teórico-cultural progressista em sua busca por uma sociedade
livre e emancipada. A filiação de Marx e Engels ao movimento operário promoveu
uma profunda transformação em seus rumos históricos, marcada pela elaboração
teórica da perspectiva de classe necessária para fundamentar o projeto comunista
revolucionário. Essa característica, central no Manifesto, demarca a radicalidade
revolucionária da inspiração marx-engelsiana em contraste com propostas de cunho
reformista.
O desenvolvimento da ordem burguesa e da economia capitalista até meados
do século XIX criou condições para que a classe operária alcançasse protagonismo
político, porém, tal efetividade só poderia ser concretizada mediante uma atividade
orientada e embasada em uma correta compreensão da sociedade e de si mesma.
Nesse contexto, o Manifesto emerge como um instrumento teórico crucial para dar
substância ao plano político-prático da luta dos operários e para sua auto-percepção
enquanto classe para si. Nele, estão entrelaçados três elementos fundamentais: a
perspectiva de classe, a análise teórica e a proposta política embasada nesta
análise.
Ao escreverem o Manifesto, Marx e Engels já compreendiam a importância
das ações do sujeito social na história, reconhecendo que uma ação política eficaz
não poderia derivar apenas da vontade do sujeito nem da sua passividade diante do
movimento social. Essa compreensão implica ultrapassar as antíteses do
voluntarismo e do fatalismo, destacando a necessidade de uma atuação política
informada e engajada, baseada em uma análise sólida das condições sociais e
históricas.
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No Manifesto Comunista, Marx e Engels destacam o espetacular


desenvolvimento da burguesia após a superação do regime feudal, observando que,
com o declínio da monarquia absoluta, a classe burguesa não só conquistou a
supremacia política, mas também estabeleceu seu domínio econômico. Eles
enfatizam a centralização política e a concentração dos meios de produção e da
propriedade como elementos fundamentais desse processo, unindo províncias
independentes em uma nação sob o interesse nacional da classe burguesa.
Além disso, no Manifesto, Marx e Engels abordam a tendência do capitalismo
para a união dos proletários como uma classe política, não mais como trabalhadores
individuais, o que os leva à luta contra a burguesia. Eles afirmam que todas as lutas
de classes são, essencialmente, lutas políticas. Nesse contexto, os autores preveem
que o proletariado, ao alcançar o domínio político, irá centralizar os meios de
produção nas mãos do Estado, controlado pela classe trabalhadora organizada,
visando aumentar rapidamente as forças produtivas.
No Manifesto Comunista, Marx e Engels enfatizam que o domínio político do
proletariado será distinto do domínio exercido pela burguesia, pois será uma
expressão autônoma da grande maioria da população em benefício da própria
maioria. Eles preveem que a revolução proletária resultará na ascensão do
proletariado como classe dominante, conquistando a democracia por meio de uma
luta revolucionária. À medida que o tempo avança, as diferenças de classe
desaparecerão, dando lugar a uma sociedade onde os indivíduos se associarão
livremente, e o poder público perderá seu caráter político, entendido como o
instrumento de uma classe para oprimir outra.
No entendimento de Marx e Engels, a burguesia, ao derrubar o regime feudal,
adquire o controle político, tornando o Estado moderno um órgão para gerir os
interesses dos proprietários burgueses. Dessa forma, a centralização dos meios de
produção e da propriedade pela burguesia resulta na centralização do poder político
em suas mãos. Esse processo revela uma relação intrínseca entre a concentração
econômica e o controle político, com o Estado atuando como um instrumento para a
manutenção dos interesses da classe dominante.
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Marx e Engels reiteram a importância da luta política para o proletariado na


construção de uma sociedade comunista igualitária. Eles destacam a diferença entre
a tomada do poder político pela burguesia e pelo proletariado, enfatizando que este
último se organizará em um movimento representando os interesses da maioria em
contraposição aos da minoria burguesa. Enquanto o poder político nas mãos da
burguesia é visto como uma forma de tirania sobre a massa proletária, o poder
exercido pelo proletariado é concebido como uma busca pela emancipação e pela
igualdade. Essa distinção ressalta que o poder político, nas mãos da burguesia, é
opressivo e parcial, nunca universal.
Na obra "As lutas de classe na França de 1848 a 1850", Marx analisa
retrospectivamente os eventos revolucionários desse período à luz de sua
concepção materialista, destacando a relação entre os acontecimentos políticos e
suas causas econômicas. Exilado em Londres durante a revolução, Marx percebe
que a crise comercial mundial de 1847 desencadeou as revoluções de 1848,
enquanto o crescimento econômico subsequente ajudou a conter os movimentos
revolucionários, culminando no Golpe de Estado de Luis Bonaparte em 1851.
Após a breve vitória do proletariado em 1848, as massas ainda não tinham
uma compreensão clara do caminho a seguir para a emancipação. Além disso, a
economia ainda não estava madura o suficiente para permitir o fim da produção
capitalista. A burguesia se aliava aos governos e se opunha aos proletários,
saudando os soldados que reprimiam os levantes populares. Engels destaca a
importância da cooperação das massas na transformação da sociedade, ressaltando
a necessidade de um trabalho persistente para que compreendam as razões e os
objetivos de suas lutas.
Na obra, Marx critica as fraudes dentro do Estado francês durante a
Monarquia de Julho, onde frações da burguesia banqueira desviavam grandes
quantias de dinheiro em benefício próprio. Após a derrota da revolução, a Monarquia
de Julho foi substituída por um governo provisório composto por representantes da
burguesia republicana. Os proletários pressionaram por uma república e sufrágio
universal, o que foi concedido em fevereiro. No entanto, Marx argumenta que a
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República não garantiu a emancipação revolucionária do proletariado, pois


demonstrou a completa dominação política da burguesia, adaptando-se às
condições da sociedade burguesa em vez de transformá-la.
A República, em sua tentativa de resolver o déficit e proteger os interesses
capitalistas, impôs novos encargos fiscais aos camponeses, gerando um profundo
descontentamento entre eles e o proletariado, que viam a República como uma
entidade que se beneficiava à custa de suas dificuldades. As promessas de
emancipação feitas ao proletariado acabaram se tornando um peso insustentável
para a República, que precisava se livrar dessa pressão. Para isso, ela recorreu à
estratégia de dividir os próprios proletários, utilizando os escoria proletáriada, como
a Guarda Nacional e as Oficinas Nacionais, como uma espécie de força repressora.
No entanto, as Oficinas Nacionais acabaram se voltando contra a burguesia, o que
despertou um intenso ódio deste setor social em relação aos operários. Marx, ao
analisar esses eventos, compreendeu que a verdadeira natureza da República
proclamada era a de uma reafirmação da ordem burguesa, evidenciando que o
Estado estava fundamentalmente comprometido em perpetuar a dominação do
capital e a subjugação do trabalho. Diante dessa realidade, os operários,
impulsionados pelas circunstâncias e pela consciência de que qualquer melhoria
dentro dessa estrutura seria ilusória, foram compelidos à luta contra a burguesia,
tornando-se conscientes de que a República burguesa era incapaz de atender às
suas demandas e interesses.
Em 25 de junho, ocorre a Revolução liderada pela burguesia republicana,
que, ao ascender ao poder, reprime os operários e toma medidas em benefício
próprio, visando sempre a proteção da propriedade. No entanto, tais ações não
favorecem os pequenos burgueses endividados, que se veem sob pressão de seus
credores. Surge, então, uma clara oposição ao republicanismo burguês. Os
camponeses, que enxergavam na República um cobrador de impostos, se revoltam
em 10 de dezembro de 1848, buscando derrubar a República dos ricos e reinstalar
Napoleão como imperador. Com o apoio dos proletários e da pequena burguesia,
interessados na volta de Napoleão, e com a preferência do exército por ele em
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detrimento da Guarda Móvel, a escolha de Napoleão se torna um voto contra a


República burguesa. Em 20 de dezembro, Luis Napoleão é proclamado presidente,
mas sua popularidade logo se esvai diante dos camponeses, especialmente após a
proposta de seu ministério, em 27 de dezembro, de manter o imposto sobre o sal.
Para recuperar a simpatia dos camponeses e derrubar o ministério, a Constituinte
reduz em um terço o imposto sobre o sal.
Com a ascensão de Napoleão, a luta pelo poder entre a Constituinte e o
Ministério se intensifica, levando à destruição da Constituinte e à substituição pela
Assembleia Legislativa em 28 de maio. O Partido da Ordem, representando a classe
burguesa, consegue maioria na Assembleia Legislativa após confrontos com o
Partido Vermelho (operários e pequenos burgueses) e Os Amigos da Constituição
(republicanos burgueses). Com a formação da Assembleia Nacional legislativa, Marx
observa que se completa a consolidação da República constitucional, que
representa a dominação conjunta das duas principais facções monárquicas da
burguesia francesa, os legitimistas e os orleanistas, unidos no partido da ordem.
Marx destaca que essa República é essencialmente voltada para os interesses
burgueses, perpetuando a relação de dominação do capital sobre o trabalho.
Em "O 18 Brumário", escrito entre dezembro de 1851 e março de 1852, Marx
analisa os eventos que levaram ao golpe de Estado liderado por Luís Napoleão na
França. Com base em sua profunda compreensão da história francesa, Marx explora
os desdobramentos políticos e sociais desse período tumultuado. Ele destaca a
dialética como uma teoria fundamental para entender esses eventos, destacando a
luta de classes e suas diferentes manifestações. Marx argumenta que foi essa luta
que permitiu que uma figura medíocre como Luís Napoleão desempenhasse um
papel de destaque, demonstrando como as circunstâncias históricas moldam os
eventos políticos.
Na obra O 18 Brumário, Marx desafia a concepção convencional do Estado
como representante da vontade geral, destacando sua ligação intrínseca com os
interesses das classes dominantes. Ele descreve o poder executivo como uma
imensa máquina burocrática e militar que serve aos interesses da classe dominante,
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surgindo historicamente com o declínio do sistema feudal. Marx ressalta o papel do


Estado em sustentar os privilégios das elites e sufocar a sociedade através de uma
vasta estrutura de funcionários e tropas regulares.
Além disso, Marx delineia as complexas interações entre economia e política,
evidenciando as relações entre o modo de produção, as relações de produção e a
ideologia. Ele argumenta que o Estado não é apenas uma instituição política neutra,
mas um instrumento de dominação de classe que reflete e perpetua as relações de
poder existentes na sociedade.
No decorrer do período analisado por Marx, que se estende de Fevereiro de
1848 a Dezembro de 1851 na França, uma complexa trama política se desenrola,
envolvendo diferentes estratos sociais, como a burguesia, a pequena burguesia, os
proletários e os camponeses. A burguesia, tanto a grande quanto a pequena, busca
incessantemente consolidar seu domínio político e econômico, muitas vezes em
detrimento dos interesses populares. A ascensão de Bonaparte ao poder, em meio a
um golpe de Estado, marca o desfecho desse período, evidenciando a fragilidade
das instituições republicanas diante dos interesses da classe dominante. Dentro
desse contexto, o Estado é amplamente cooptado pelos interesses comerciais e
financeiros da burguesia, com a corrupção e o suborno se tornando práticas
generalizadas, enquanto a população sofre com medidas econômicas injustas e a
perda de direitos políticos. Na obra, Marx apresenta duas teses fundamentais:
primeiro, ele argumenta que o Estado não representa uma vontade universal, mas
sim os interesses particulares da burguesia. Em segundo lugar, ele sustenta que,
para cumprir sua função última de manter o domínio da classe dominante, o Estado
depende da corrupção e do suborno como parte integrante de seu funcionamento.
Enquanto o Estado busca manter a ilusão de representar os interesses do povo,
internamente, suas instituições e aparatos burocráticos se tornam mecanismos de
enriquecimento ilícito para a classe dirigente.
Na obra "A Guerra Civil em França", Marx detalha os acontecimentos que
culminaram na proclamação da Comuna de Paris em 26 de março de 1871, um
evento significativo na luta de classes entre a burguesia e o proletariado. Ele
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – UNESPAR
Campus de Apucarana
Centro de Ciências Humanas e da Educação Curso: Serviço Social 1º ano
Disciplina: Ciências Politica
Docente: Elson Alves de Lima

destaca a resistência dos trabalhadores contra as tentativas do governo de


desarmá-los e contra a participação na guerra Franco-prussiana, que era vista como
uma iniciativa prejudicial aos interesses dos operários. A Comuna de Paris é descrita
por Marx como uma forma política revolucionária e expansiva, representando o
governo da classe trabalhadora em oposição à classe proprietária.
No âmago da Comuna, houve uma divisão entre os blanquistas, que
lideraram as ações políticas, e os membros da Associação Internacional dos
Trabalhadores - proudhonianos, que se encarregaram das questões econômicas.
Contrariando as expectativas desses grupos, a Comuna fundamentou suas ações na
organização da indústria em associações operárias e na criação de uma federação
nacional composta pela livre associação de todas as comunas. Essa abordagem
refletia a necessidade de romper com a estrutura estatal burguesa para exercer o
poder dos trabalhadores.
Engels contribui para a compreensão da natureza do Estado, destacando
como os órgãos estatais, originalmente concebidos para servir aos interesses
comuns da sociedade, se tornaram instrumentos de dominação da classe dominante
sobre as demais. Ele exemplifica que, tanto na monarquia hereditária quanto na
república democrática, o poder estatal se transformou em um mecanismo para
preservar os interesses particulares da classe dominante, em detrimento das
massas populares. Assim, a Comuna de Paris representou uma tentativa de
reorganização política e social que desafiou diretamente essa estrutura de poder
estabelecida.
Marx, em "A Guerra Civil em França", destaca a solidariedade entre os
operários de diferentes países, que se unem contra as iniciativas beligerantes entre
a França e a Prússia, entendendo que tais guerras servem aos interesses das
classes dominantes e visam enfraquecer o movimento proletário. A ascensão da
Comuna de Paris em 18 de março é descrita como uma resposta dos trabalhadores
aos abusos do poder governante, mas Marx ressalta que a classe operária não pode
simplesmente assumir o aparato estatal existente para seus próprios fins.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – UNESPAR
Campus de Apucarana
Centro de Ciências Humanas e da Educação Curso: Serviço Social 1º ano
Disciplina: Ciências Politica
Docente: Elson Alves de Lima

Para Marx, o Estado moderno, com sua estrutura centralizada e poderosas


instituições como o exército permanente e a burocracia, foi forjado durante a
monarquia absoluta para servir aos interesses emergentes da classe média contra o
feudalismo. No entanto, à medida que o capitalismo se desenvolveu, o Estado
assumiu um caráter cada vez mais opressivo, tornando-se uma máquina de
dominação a serviço do capital sobre o trabalho. Após cada revolução progressiva, o
poder estatal repressivo se tornou mais proeminente.
Engels complementa essa visão, argumentando que o Estado, ao se tornar
uma entidade separada da sociedade e dedicada aos interesses da burguesia,
deixou de representar os interesses comuns para se tornar uma força de opressão
de uma classe sobre a outra. Portanto, Marx enfatiza que os proletários, ao tomarem
o poder político, devem reorganizar os órgãos estatais de acordo com seus
interesses, transformando o Estado em um instrumento a serviço da classe
trabalhadora e preparando o caminho para a abolição das classes e, eventualmente,
do próprio Estado.

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