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Gramática - Prof.

Zé Ferreira
Lista aula 13: Pronomes I: Conceitos Básicos

01. (Albert Einstein - Medicina)


1
Indique o referente textual a que o pronome aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2
destacado faz remissão: carrear: carregar.

“A situação grave, contornada com paliativos, ceifa


vidas, inclusive de crianças e jovens, impedidos de O pronome “te”, empregado no segundo verso da
receber aquilo que a Constituição lhes garante como última estrofe, refere-se a
direito cidadão: o acesso universal, integral, gratuito e
com equidade a serviços de saúde de qualidade.” a) “imaginação”.
b) “palavra”.
a) Jovens. c) “rosa”.
b) Crianças e jovens. d) “mundo”.
c) Crianças. e) “corpo”.
d) Paliativos e vidas.

03. (Uel 2019)


02. (Unifesp) Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos
Anjos, de Lima Barreto, e responda.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada. Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em
Pois que 1aprouve ao dia findar, pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que
aceito a noite. jorrava das portas da Catedral, cheia da honesta
pressa de quem vai trabalhar. A sua sensação era que
E com ela aceito que brote estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os
uma ordem outra de seres seus ódios e os seus amores; no subúrbio, tinha os
e coisas não figuradas. Thiago Teixeira de Assis thiago.tda004@gmail.com
seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria
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Braços cruzados. todo ele, e, em qualquer parte, era apontado; no
subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem
Vazio de quanto amávamos, Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo
mais vasto é o céu. Povoações de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era nada.
surgem do vácuo. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua
Habito alguma? fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-
se, e representava-se a si mesmo como esmagado por
E nem destaco minha pele aqueles “caras” todos, que nem o olhavam. [...]
da confluente escuridão. Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua
Um fim unânime concentra-se inferioridade de inteligência, de educação; a sua
e pousa no ar. Hesitando. rusticidade, diante daqueles rapazes a conversar sobre
cousas de que ele não entendia e a trocar pilhérias;
E aquele agressivo espírito em face da sofreguidão com que liam os placards dos
que o dia 2carreia consigo, jornais, tratando de assuntos cuja importância ele não
já não oprime. Assim a paz, avaliava, Cassi vexava-se de não suportar a leitura;
destroçada. comparando o desembaraço com que os fregueses
pediam bebidas variadas e esquisitas, lembrava-se que
Vai durar mil anos, ou nem mesmo o nome delas sabia pronunciar; olhando
extinguir-se na cor do galo? aquelas senhoras e moças que lhe pareciam rainhas e
Esta rosa é definitiva, princesas, tal e qual o bárbaro que viu, no Senado de
ainda que pobre. Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo aquele
conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de
Imaginação, falsa demente, hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no
já te desprezo. E tu, palavra. gastar, reduziam-lhe a personalidade de medíocre
No mundo, perene trânsito, suburbano, de vagabundo doméstico, a quase cousa
calamo-nos. alguma.
E sem alma, corpo, és suave.
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Garnier, 1990. p.
(Claro enigma, 2012.) 130-131.
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Lista aula 13: Pronomes I: Conceitos Básicos

Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o


qual não serviria mais unicamente à reprodução dos
Acerca dos recursos linguísticos sublinhados no texto, professores de Letras, podemos facilmente chegar a
assinale a alternativa correta. um acordo sobre o espírito que o deve conduzir: é
necessário incluir as obras no grande diálogo entre os
a) Ambos os termos “que” e “sua” fazem referência à homens, iniciado desde a noite dos tempos e do qual
personagem Cassi Jones. cada um de nós, por mais ínfimo que seja, ainda
b) O primeiro termo “ele” refere-se ao subúrbio; o participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
segundo “ele” refere-se a Cassi Jones. do espaço e do tempo, que se afirma o alcance
c) A palavra “seu” em destaque refere-se ao termo universal da literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós,
subsequente “valimento”. adultos, nos cabe transmitir às novas gerações essa
d) O pronome “o” faz referência ao local Campo de herança frágil, essas palavras que ajudam a viver
Sant’Ana. melhor.
e) O termo “lhe” faz referência a “aquelas senhoras e
moças”. (Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2 ed. Trad. Caio Meira. Rio
de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.)

04. (Enem 2020) Considerando que o pronome o, usado na sequência


Seu nome define seu destino. Será? que o deve conduzir, tem valor anafórico, isto é, faz
referência a um termo já enunciado no parágrafo,
“O nome próprio da pessoa marca a sua identifique esse termo.
identidade e a sua experiência social e, por isso, é um
dado essencial na sua vida”, diz Francisco Martins, a) Ensino literário.
professor do Instituto de Psicologia da Universidade de b) Professores de Letras.
Brasília e autor do livro Nome próprio (Editora UnB). c) Acordo.
“Mas não dá para dizer que ele conduz
Thiago a um
Teixeira de destino
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d) Espírito. 19877159775
específico. É você quem constrói a sua identidade. e) Grande diálogo.
Existe um processo de elaboração, em que você toma
posse do nome que lhe foi dado. Então, ele pesa, mas
não é decisivo”. De acordo com Martins, essa 06. (Fmj 2023)
apropriação do nome se dá em várias fases: na
infância, quando se desenvolve a identidade sexual; na Enquanto isso, novas ideias ventilavam os espíritos. A
adolescência, quando a pessoa começa a assinar o ciência revelara as leis naturais, cuja objetividade tinha
nome; no casamento, quando ela adiciona (ou não) o uma força de realidade que suplantava a perder de
sobrenome do marido ao seu. “O importante é a vista a fragilidade das concepções subjetivas, e a que
pessoa tomar posse do nome, e não ficar brigando cumpria dar supremacia. Começam as preocupações
com ele”. das letras a voltar-se para o mundo objetivo: não era o
recolhimento interno o que importava, mas a visão da
CHAMARY, J. V.; GIL, M. A. Knowledge, jul. 2010.
realidade, e não menos a natureza do que a
sociedade, aquela em seus aspectos aparentes, esta
Pronomes funcionam nos textos como elementos de em seus entrechoques e lutas.
coesão referencial, auxiliando a manutenção do tema
(João Pacheco. A literatura brasileira, vol. III, 1963.)
abordado. No trecho da reportagem, o vocábulo
“nome” é retomado pelo pronome destacado em
Os termos sublinhados no texto referem-se,
a) “Seu nome define seu destino”.
b) “É você quem constrói a sua identidade”. respectivamente, a
c) “Existe um processo de elaboração, em que você
a) “natureza” e “sociedade”.
toma posse do nome [...]”.
d) “[...] você toma posse do nome que lhe foi dado”. b) “objetividade” e “sociedade”.
e) “[...] não ficar brigando com ele”. c) “realidade” e “natureza”.
d) “objetividade” e “realidade”.
e) “ciência” e “realidade”.
05. (Unesp)
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outro cachimbo e fuma)


MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem.
Vosso nome?
O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?
MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte
07. (Unesp 2022) primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou
estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas
Leia o trecho do drama Macário, de Álvares de palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano.
Azevedo. Amo as mulheres e odeio o romantismo.
O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz.
MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó (apertam a mão)
de casa! MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de
UMA VOZ (de fora): Senhor! um poema, mais de um beijo que do soneto mais
MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar
aqui... sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente
A VOZ: O burro? insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar
MACÁRIO: A mala, burro! é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer
A VOZ: A mala com o burro? morrer de sono.
MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o O DESCONHECIDO: E a poesia?
burro na cerca. MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria
A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro? só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em
MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro. moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de
A VOZ: Um moço que parece estudante? taverna que não tenha esse vintém azinhavrado1.
MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala. Entendeis-me?
A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular
vá a pé? tornou- se vulgar
Thiago Teixeira de Assis thiago.tda004@gmail.com e comum. Antigamente faziam-na
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MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...
numa vassoura como tua mãe!
A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. (Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)
Quando madrugar iremos procurar.
OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. 1
Eu conheço o burro... azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor
MACÁRIO: E minha mala? verde que se forma na superfície dos objetos de cobre
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!... ou latão, resultante da corrosão destes quando
MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma expostos ao ar úmido).
cadeira no chão)
O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro? Retoma um termo mencionado anteriormente no texto
a palavra sublinhada em:
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...
O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que
o chamareis... a) “O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?”
MACÁRIO: Porém a raiva... b) “O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras
O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito que o chamareis…”
cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma c) “A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!…”
garrafa de vinho? d) “A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer
MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, que vá a pé?”
uma perda imensa, irreparável... era o meu e) “MACÁRIO: Esse mundo é monótono a fazer morrer
cachimbo... de sono.”
O DESCONHECIDO: Fumais?
MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, 08. (Unesp 2021)
a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem Leia o poema “Ausência”, de Carlos Drummond de
mulher – não me pergunteis se fumo! Andrade.
O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um
cachimbo primoroso. Por muito tempo achei que a ausência é falta.
[...] E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
MACÁRIO: E vós?
O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira Não há falta na ausência.
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A ausência é um estar em mim.


E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma rica
braços, paisagem num dia de verão, em companhia de um
que rio e danço e invento exclamações alegres, poeta jovem, mas já famoso. O poeta admirava a
porque a ausência, essa ausência assimilada, beleza do cenário que nos rodeava, porém não se
ninguém a rouba mais de mim. alegrava com ela. Era incomodado pelo pensamento
de que toda aquela beleza estava condenada à
(Corpo, 2015.) extinção, pois desapareceria no inverno, e assim
Os três pronomes “a” do poema referem-se, também toda a beleza humana e tudo de belo e nobre
respectivamente, a que os homens criaram ou poderiam criar. Tudo o mais
que, de outro modo, ele teria amado e admirado, lhe
a) ausência, falta, ausência. parecia despojado de valor pela transitoriedade que
b) ausência, ausência, falta. era o destino de tudo.
c) falta, falta, ausência. Sabemos que tal preocupação com a fragilidade do
d) falta, ausência, ausência. que é belo e perfeito pode dar origem a duas
e) falta, ausência, falta. diferentes tendências na psique. Uma conduz ao
doloroso cansaço do mundo mostrado pelo jovem
09. (Unesp 2019) poeta; a outra, à rebelião contra o fato constatado.
Não, não é possível que todas essas maravilhas da
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano natureza e da arte, do nosso mundo de sentimentos e
Ramos, para responder à(s) questão(ões) a seguir.
do mundo lá fora, venham realmente a se desfazer.
Seria uma insensatez e uma blasfêmia acreditar nisso.
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa Essas coisas têm de poder subsistir de alguma forma,
do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma subtraídas às influências destruidoras.
limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns Ocorre que essa exigência de imortalidade é tão
são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros claramente um 19877159775
produto de nossos desejos que não
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matam-se. pode reivindicar valor de realidade. Também o que é
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, doloroso pode ser verdadeiro. Eu não pude me decidir
bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e a refutar a transitoriedade universal, nem obter uma
órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no exceção para o belo e o perfeito. Mas contestei a visão
fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve do poeta pessimista, de que a transitoriedade do belo
angina e a mulher enforcou-se. implica sua desvalorização.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, Pelo contrário, significa maior valorização! Valor de
proibi a aguardente. transitoriedade é valor de raridade no tempo. A
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não limitação da possibilidade da fruição aumenta a sua
preciso descrevê-la. As partes principais apareceram preciosidade. É incompreensível, afirmei, que a ideia
ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode da transitoriedade do belo deva perturbar a alegria
interessar aos arquitetos, homens que provavelmente que ele nos proporciona. Quanto à beleza da natureza,
não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito. ela sempre volta depois que é destruída pelo inverno,
Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei e esse retorno bem pode ser considerado eterno, em
móveis e diversos objetos que entrei a utilizar com relação ao nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a
receio, outros que ainda hoje não utilizo, porque não beleza do rosto e do corpo humanos no curso de
sei para que servem. nossa vida, mas essa brevidade lhes acrescenta mais
um encanto. Se existir uma flor que floresça apenas
uma noite, ela não nos parecerá menos formosa por
Os pronomes sublinhados referem-se, isso. Tampouco posso compreender por que a beleza e
respectivamente, a a perfeição de uma obra de arte ou de uma realização
intelectual deveriam ser depreciadas por sua limitação
a) “alavanca”, “um”, “viúva e órfãos”. no tempo. Talvez chegue o dia em que os quadros e
b) “pedra”, “um”, “meninos”. estátuas que hoje admiramos se reduzam a pó, ou que
c) “pedra”, “alavanca”, “viúva e órfãos”. nos suceda uma raça de homens que não mais
d) “alavanca”, “pedra”, “viúva e órfãos”. entenda as obras de nossos poetas e pensadores, ou
e) “alavanca”, “pedra”, “meninos”. que sobrevenha uma era geológica em que os seres
vivos deixem de existir sobre a Terra; mas se o valor
de tudo quanto é belo e perfeito é determinado
10. (Unesp 2019) somente por seu significado para a nossa vida
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emocional, não precisa sobreviver a ela, e portanto resolve conquistá-la. Os defeitos ficam guardadinhos
independe da duração absoluta. nos primeiros dias e só então, com a convivência, vão
saindo do esconderijo e revelando-se no dia a dia.
(Introdução ao narcisismo, 2010. Adaptado.) Você então descobre que ele não é apenas gentil e
doce, mas também um tremendo casca-grossa quando
Identifique os referentes dos pronomes sublinhados no trata os próprios funcionários. E ela não é apenas
primeiro e no quarto parágrafos. segura e determinada, mas uma chorona que passa 20
dias por mês com TPM. E que ele ronca, e que ela diz
______________________________________ palavrão demais, e que ele é supersticioso por
______________________________________ bobagens, e que ela enjoa na estrada, e que ele não
11. (Unesp 2018) gosta de criança, e que ela não gosta de cachorro, e
agora? Agora, convoquem o amor para resolver essa
Era a vez da terapêutica. Simão Bacamarte, ativo e encrenca.
sagaz em descobrir enfermos, excedeu-se ainda na
diligência e penetração com que principiou a tratá-los. MEDEIROS, M. Revista O Globo, n. 790, 12 jun. 2011 (adaptado).
Neste ponto todos os cronistas estão de pleno acordo:
o ilustre alienista fez curas pasmosas, que excitaram a
mais viva admiração em Itaguaí. Há elementos de coesão textual que retomam
Com efeito, era difícil imaginar mais racional sistema informações no texto e outros que as antecipam. Nos
terapêutico. Estando os loucos divididos por classes, trechos, o elemento de coesão sublinhado que
segundo a perfeição moral que em cada um deles antecipa uma informação do texto é
excedia às outras, Simão Bacamarte cuidou em atacar
de frente a qualidade predominante. Suponhamos um a) “Gostar daquilo que é gostável é fácil [...]”.
modesto. Ele aplicava a medicação que pudesse b) “[...] tudo isso a gente tem em estoque [...]”.
incutir-lhe o sentimento oposto; e não ia logo às doses c) “[...] na hora em que conhece uma pessoa [...]”.
máximas, — graduava-as, Thiago
conforme o estado, a idade, d) “[...] resolve conquistá-la.”
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o temperamento, a posição social do enfermo. Às e) “[...] para resolver essa encrenca.”
vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira,
uma bengala, para restituir a razão ao alienado; em
outros casos a moléstia era mais rebelde; recorria 13. (Unesp)
então aos anéis de brilhantes, às distinções
honoríficas, etc. Houve um doente, poeta, que resistiu É uma visão medonha uma caveira?
a tudo. Simão Bacamarte começava a desesperar da Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.
cura, quando teve ideia de mandar correr matraca, Foi a cabeça ardente de um poeta,
para o fim de o apregoar como um rival de Garção 2 e Outrora à sombra dos cabelos loiros.
de Píndaro 3. Quando o reflexo do viver fogoso
— Foi um santo remédio, contava a mãe do infeliz a Ali dentro animava o pensamento,
uma comadre; foi um santo remédio. Esta fronte era bela. Aqui nas faces
Formosa palidez cobria o rosto;
(O alienista, 2014.) Nessas órbitas — ocas, denegridas! —
Cite os referentes dos pronomes sublinhados no Como era puro seu olhar sombrio!
primeiro e no segundo parágrafos.
Agora tudo é cinza. Resta apenas
______________________________________ A caveira que a alma em si guardava,
______________________________________ Como a concha no mar encerra a pérola,
Como a caçoula a mirra incandescente.

Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;


12. (Enem) Por que repugnas levantá-la agora?
Apesar de Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
Quanta vida ali dentro fermentava,
Não lembro quem disse que a gente gosta de uma Como a seiva nos ramos do arvoredo!
pessoa não por causa de, mas apesar de. Gostar E a sede em fogo das ideias vivas
daquilo que é gostável é fácil: gentileza, bom humor, Onde está? onde foi? Essa alma errante
inteligência, simpatia, tudo isso a gente tem em Que um dia no viver passou cantando,
estoque na hora em que conhece uma pessoa e Como canta na treva um vagabundo,
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Perdeu-se acaso no sombrio vento, Capitu sorria; eu via o primeiro filho brincando no
Como noturna lâmpada apagou-se? chão...
E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava (Dom Casmurro, 2016.)
Morreu para animar futuras vidas? 1
fiar: acreditar, confiar.
Sorris? eu sou um louco. As utopias,
Os sonhos da ciência nada valem.
A vida é um escárnio sem sentido, Identifique o referente de cada um dos pronomes
Comédia infame que ensanguenta o lodo. sublinhados no primeiro parágrafo do texto.
Há talvez um segredo que ela esconde;
Mas esse a morte o sabe e o não revela. ______________________________________
Os túmulos são mudos como o vácuo. ______________________________________
Desde a primeira dor sobre um cadáver, ______________________________________
Quando a primeira mãe entre soluços 15. (Unesp 2021)
Do filho morto os membros apertava
Ao ofegante seio, o peito humano Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que
integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa.
Caiu tremendo interrogando o túmulo...
E a terra sepulcral não respondia.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de
(Poesias completas, 1962.) impesquisada origem e ainda sem definição que lhe
apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só,
que vem do bom português. Para a prática, tome-se
“Mas esse a morte o sabe e o não revela.” hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante
imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante,
Nas duas orações que constituem este verso, os importuno agudo, falto de respeito para com a opinião
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termos em destaque apresentam o mesmo referente, alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra
a saber: inventada, e, como adiante se verá, embirrando o
hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele
a) vácuo. por se negar nominalmente a própria existência.
b) escárnio. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento
c) lodo. hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo
d) cadáver. contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a
e) segredo. inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se
refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um
não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar
14. (Fcmscsp 2021) vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua
Leia o capítulo XLV do romance Dom Casmurro, de tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar
Machado de Assis. que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor
prudência relegar o progresso no passado. [...]
Abane a cabeça, leitor; faça todos os gestos Já outro, contudo, respeitável, é o caso –
de incredulidade. Chegue a deitar fora este livro, se o enfim – de “hipotrélico”, motivo e base desta fábula
tédio já o não obrigou a isso antes; tudo é possível. diversa, e que vem do bom português. O bom
Mas, se o não fez antes e só agora, fio1 que torne a português, homem-de-bem e muitíssimo inteligente,
pegar do livro e que o abra na mesma página, sem mas que, quando ou quando, neologizava, segundo
crer por isso na veracidade do autor. Todavia, não há suas necessidades íntimas.
nada mais exato. Foi assim mesmo que Capitu falou, Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum
com tais palavras e maneiras. Falou do primeiro filho, sicrano, terceiro, ausente:
como se fosse a primeira boneca. – E ele é muito hiputrélico...
Quanto ao meu espanto, se também foi Ao que, o indesejável maçante, não se
grande, veio de mistura com uma sensação esquisita. contendo, emitiu o veto:
Percorreu-me um fluido. Aquela ameaça de um – Olhe, meu amigo, essa palavra não existe.
primeiro filho, o primeiro filho de Capitu, o casamento Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto
dela com outro, portanto, a separação absoluta, a perplexo:
perda, a aniquilação, tudo isso produzia um tal efeito, – Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?
que não achei palavra nem gesto; fiquei estúpido. – É. Mas não existe.
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Aí, o bom português, ainda meio enfigadado,


1
mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de
outro, peremptório: Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam
– O senhor também é hiputrélico... com esperteza os verdadeiros “homens nobres”.
E ficou havendo.

(Tutameia, 1979.) No soneto, o pronome “o” refere-se a

a) “mundo”.
b) “terreiro”.
c) “conselheiro”.
d) “olheiro”.
e) “vizinho”.

Retoma um termo mencionado anteriormente no texto


a palavra sublinhada em: 17. (Unifesp 2022)

a) “Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto?
emitiu o veto:” (6º parágrafo) O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da
b) “– O senhor também é hiputrélico...” (12º guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como
parágrafo) tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-
c) “Para a prática, tome-se hipotrélico querendo lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e
dizer:” (1º parágrafo) explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me
d) “– Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer?” (9º aflige, é o enjoo do mar”. Viúva minha, o que tu
parágrafo) queres realmente,
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e) “Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa –
perplexo:” (8º parágrafo) porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e
oito anos –, o mar é agitado, o navio joga muito;
precisas de um preparado para matar esse mal cruel e
16.(Unesp 2023) indefinível. Não te contentas com o remédio de
Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada,
Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já
cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636- provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas
1696) outro; mas queres menos um companheiro que uma
companhia.
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha; (Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro, No trecho, os termos sublinhados referem-se,


Que a vida do vizinho e da vizinha respectivamente,
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro. a) a Sêneca e a Nero.
b) a Nero e ao capitão da guarda de Nero.
Muitos mulatos desavergonhados, c) ao capitão da guarda de Nero e a Sêneca.
Trazidos sob os pés os homens nobres¹, d) a Nero e a Sêneca.
Posta nas palmas toda a picardia, e) a Sêneca e ao capitão da guarda de Nero.

Estupendas usuras nos mercados,


Todos os que não furtam muito pobres: 18.(Unesp 2020)
E eis aqui a cidade da Bahia. Leia o ensaio de Eduardo Giannetti a seguir.

(Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.) A maçã da consciência de si. – O labrador dourado
saltando com a criança na grama; o balé acrobático do
Gramática - Prof. Zé Ferreira
Lista aula 13: Pronomes I: Conceitos Básicos

sagui; a liberdade alada da arara-azul cortando o céu ______________________________________


sem nuvens – quem nunca sentiu inveja dos animais ______________________________________
que não sabem para que vivem nem sabem que não o
sabem? Inveja dos seres que não sentem
continuamente a falta do que não existe; que não se
exaurem e gemem sobre a sua condição; que não se 20. (Unifesp)
deitam insones e choram pelos seus desacertos; que
não se perdem nos labirintos da culpa e do desejo; O silêncio é a matéria significante por excelência, um
que não castigam seus corpos nem negam os seus continuum significante. O real da comunicação é o
desejos; que não matam os seus semelhantes movidos silêncio. E como o nosso objeto de reflexão é o
por miragens; que não se deixam enlouquecer pela discurso, chegamos a uma outra afirmação que sucede
mania de possuir coisas? O ônus da vida consciente de a essa: o silêncio é o real do discurso.
si desperta no animal humano a nostalgia do simples O homem está “condenado” a significar. Com ou sem
existir: o desejo intermitente de retornar a uma palavras, diante do mundo, há uma injunção à
condição anterior à conquista da consciência. – A “interpretação”: tudo tem de fazer sentido (qualquer
empresa, contudo, padece de uma contradição fatal. A que ele seja). O homem está irremediavelmente
intenção de se livrar da autoconsciência visando a constituído pela sua relação com o simbólico.
completa imersão no fluxo espontâneo e irrefletido da Numa certa perspectiva, a dominante nos estudos dos
vida pressupõe uma aguda consciência de si por parte signos, se produz uma sobreposição entre linguagem
de quem a alimenta. Ela é como o fruto tardio (verbal e não-verbal) e significação.
sonhando em retornar à semente da qual veio ao Disso decorreu um recobrimento dessas duas noções,
galho. [...] O desejo de saltar para aquém do cárcere resultando uma redução pela qual qualquer matéria
do pensar se pode compreender – e até cultivar – em significante fala, isto é, é remetida à linguagem
certa medida, mas o lado de fora não há. A (sobretudo verbal) para que lhe seja atribuído sentido.
consciência é irreparável; dela, como do tempo, Nessa mesma direção, coloca-se o “império do verbal”
ninguém torna atrás ou seThiago
desfaz.Teixeira
Desmorder a maçã
de Assis em nossas formas
thiago.tda004@gmail.com sociais: traduz-se o silêncio em
19877159775
não existe como opção. palavras. Vê-se assim o silêncio como linguagem e
perde-se sua especificidade, enquanto matéria
(Trópicos utópicos, 2016.) significante distinta da linguagem.

(Eni Orlandi. As formas do silêncio, 1997.)


Quais são os referentes dos três pronomes sublinhados
no ensaio?
Na oração do 4º parágrafo – [...] para que lhe seja
______________________________________ atribuído sentido. –, o pronome “lhe” substitui a
______________________________________ expressão

a) um recobrimento.
19. (Unicamp 2019) b) uma redução.
Atrás dos olhos das meninas sérias c) linguagem e significação.
d) qualquer matéria significante.
Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão, por e) o silêncio.
injunções muito mais sérias,
lustrar pecados que jamais repousam? RESPOSTAS DAS QUESTÕES DISPONÍVEL NO
BANCO DE QUESTÕES DO RESPECTIVO
O texto acima encontra-se no livro A teus pés, de Ana TÓPICO/SUBTÓPICO
Cristina Cesar. Leia-o atentamente e responda às
questões.

Indique a quem se referem, no texto, a segunda


pessoa do plural (“vos”) e a terceira pessoa do plural
(“elas”).

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