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INTRODUÇÃO
1 Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Inta (UNINTA) e Mestre em Sociologia pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: filipe.rodrigues@prof.ce.gov.br
2 João Evangelista Vieira Júnior Apresentar a graduação, a última titulação e a área de atuação do
orientador, além de seu e-mail.
3 Licenciado em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre em Educação pela UFC e
professor da Faculdade do Maciço de Baturité (FMB). E-mail:
Igreja” (2008), do também teólogo e pastor presbiteriano Augustus Nicodemus.
Todavia, como acabamos de ver, nem todos os livros publicados no Brasil utilizam o
termo “desigrejados” para tratar do assunto.
A primeira obra que se preocupou com a questão conceitual, sobre qual
seria o termo mais adequado para categorizar o fenômeno, foi o livro “Desigrejados:
teoria, história e contradições do niilismo eclesiástico” (2017), do teólogo e pastor da
igreja congregacional Idauro Campos, elogiado e prefaciado por Augustus Nicodemos.
Segundo Nicodemos, esta é a obra brasileira que analisou com maior profundidade
acadêmica o fenômeno do desigrejamento:
Todavia, ao longo dos dois primeiros capítulos de sua obra, onde procura
descrever as particularidades de cada um desses grupos, o autor não estabelece qualquer
tipo de relação entre eles, preferindo tratá-los separadamente, de forma “polarizada”,
tendo em vista que o grupo dos críticos “não possuem histórico de sofrimento, mas, sim,
questionam se a igreja, conforme a conhecemos, de fato expressa e revela no tempo e no
espaço o que Jesus Cristo planejou para a mesma.” (id., p. 31). Desta feita, analisaremos
a seguir as duas dimensões – objetiva/institucional e subjetiva/identitária – que
permitem uma compreensão mais detalhada do fenômeno dos desigrejados.
4Além da categoria “Evangélica não determinada” as outras duas principais categorias apresentadas pelo
Censo de 2010 são “Evangélicas de Missão” (igreja Luterana, Presbiteriana, Metodista, Batista,
Congregacional e Adventista) e “Evangélicas de origem pentecostal” (igreja Assembleia de Deus,
Evangelho Quadrangular, Universal do Reino de Deus, Deus é Amor, Nova Vida, dentre outras. Outro
detalhe importante é que este Censo não faz distinção entre as igrejas “pentecostais” e “neo-pentecostais”.
No artigo intitulado “Niilismo eclesiástico: uma análise do movimento dos
desigrejados”, Campos (2014) destaca as principais repercussões dos dados
apresentados pelo Censo de 2010. De acordo com ele, “uma série de reportagens, livros
e sites começou a circular, tentando entender o fenômeno”, dentre os quais, ele cita:
Segundo Romeiro (2005), os desigrejados acabam por criar outro mal – que
corriqueiramente se vê no dia-a-dia das igrejas evangélicas brasileiras – que o autor
denominou de “cristãos nômades”, e que vivem “pulando de igreja em igreja” e
preferem não estabelecer nenhuma forma de vínculo e/ou responsabilidade permanente
com nenhuma denominação. Segundo ele:
Ainda de acordo com este autor, o que mais gera decepção no meio
pentecostal é a questão “dons espirituais” e/ou as “experiências com o Espírito Santo".
Visto que “[...] quem não foi batizado com o Espírito Santo, não falou em línguas ou
não possui um dom de destaque” pode acabar sofrendo certa “discriminação em termos
de espiritualidade” (id., p. 69). Já no neopentecostalismo, a principal causa de decepção
ocorre em virtude da frustação de expectativas que foram geradas por promessas de
bênçãos e vitórias. Essas pessoas participaram de reuniões espirituais, fizeram todos os
rituais ordenados e ainda “contribuíram” financeiramente, segundo as exigências de
doação de dinheiro para a igreja, porém não conseguiram conquistar as bênçãos
prometidas. (id., ibd.)
Retornando mais uma vez para a obra de Campos (2017), analisaremos
agora o “grupo dos críticos” da igreja. Campos trabalha especificamente com este no
capítulo intitulado “os críticos do modus operandi e da institucionalização da Igreja”.
Neste terceiro capítulo, o autor avalia a influência de obras de escritores estrangeiros e
nacionais sobre o público evangélico. Devido às limitações deste artigo, apresentaremos
apenas algumas de suas ponderações. Os principais pontos das queixas feitas pelos
“críticos”, destacados por Campos, recaem sobre a construção de templos, a liderança
dos pastores e a pregação dos sermões. Segundo ele:
O ponto central que nos interessa sobre a visão de mundo moderna, como
dissemos anteriormente, é sua concepção de identidade pessoal. Neste ponto, o autor
afirma que “o ideal moderno defende a autonomia do eu, o sujeito autodeterminante que
existe fora de qualquer tradição ou comunidade.” (id., ibid.). Provavelmente, a
expressão que melhor sintetiza essa ideia é a máxima agostiniana, que ficou mais
conhecida por meio da filosofia cartesiana: Cogito ergo sum (Penso, logo existo). Com
este princípio:
O teólogo Augustus Nicodemus, por sua vez, no livro “O que estão fazendo
com a igreja: ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro” – elaborado a
CONCLUSÃO
Cientes das limitações deste texto, queremos concluir este artigo tecendo
algumas considerações críticas sobre a análise do fenômeno dos desigrejados na obra de
Campos (2017) e apresentar alguns apontamentos para que se busque alternativas para
fundamentar para a identidade cristã no mundo pós-moderno em que vivemos.
Primeiramente, corroborando com Campos (2017), podemos afirmar que: o
“desigrejamento”, realmente, não é um fenômeno novo nem tampouco fruto de nossa
era pós-moderna, assim como a institucionalização da igreja também não deve ser vista
como única causa ou mesmo como fator decisivo deste processo de desigrejamento.
Porém, contra sua tese central, podemos afirmar que o “desigrejamento” não
é apenas um fenômeno sem originalidade, que já ocorreu e continua se repetindo ao
longo da história da igreja cristã; nem tampouco é mais um mero reflexo da crise de
valores da “vida líquida” da sociedade pós-moderna. O “desigrejamento” é um sinal ou
sintoma que representa a dimensão objetiva de um problema mais grave, de natureza
subjetiva, que diz respeito a crise de identidade que acomete praticamente todas da
Igreja Cristãs; e a maior parte do “movimento histórico dos desigrejados” antes de ser
um afastamento da “igreja verdadeira”, foi uma reação ao processo de
institucionalização da igreja — que, por sua vez, produziu novas identidades materiais
(como templos, tradições, doutrinas, denominações etc.) em lugar da identidade
espiritual (da Igreja como Noiva do Cordeiro, Corpo de Cristo, Família de Abraão etc.)
— e uma tentativa de retornar/resgatar às origens e aos princípios e fundamentos da
“Ekklesia” do Novo Testamento.
Assim, destacamos que o fenômeno do desigrejamento, é um fenômeno
bidimensional: objetivamente, é estatisticamente observável a partir de pesquisas
empíricas (como as realizadas pelo senso do IBGE) e diz respeito a crise institucional
que assola todas as denominações cristãs (assim como, praticamente, todas as
instituições nas sociedades pós-modernas); subjetivamente, não é apenas um mero
reflexo de um problema doutrinal, trata-se da ausência ou má formação de uma
identidade cristã/evangélica bem definida e consolidada em Cristo, como na “Ekklesia”
neotestamentária, principal modelo e exemplo de vida cristã a ser seguido e imitado por
todos que se consideram discípulos de Jesus.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROMEIRO, Paulo Rodrigues. Decepcionados com a Graça. 1. ed. São Paulo: Editora
Mundo Cristão, 2005.