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Matheus Muraro
ANALISADOR DE DESFIBRILADORES E
CARDIOVERSORES
Passo Fundo
2017
Matheus Muraro
ANALISADOR DE DESFIBRILADORES E
CARDIOVERSORES
Passo Fundo
2017
Matheus Muraro
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Prof. Orientador Ms. Amauri Fagundes Balotin - UPF
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Adriano Toazza - UPF
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Passold - UPF
RESUMO
The present essay aims the study and development of a defibrillator and cardioverter
analyzer prototype. These medical assistance devices inflict major importance inside the
medical extent. This analyzer is an equipment capable of receiving an electric discharge and to
measure its concealed energy, under an uncertainty threshold, also measuring its synchronism
and loading time. The first module approaches a view on theoretical fundamentals, verifying
how the human body system works, how does a defibrillator work, the standards for it and the
minimum requirements for an analyzer. The electrical discharge is triggered by paddles on the
defibrillator and it must be absorbed by a non-inductive resistor, simulating the transthoracic
impedance, while the electrical potential will be turned down by a high impedance resistor
divider, decreasing the discharge from a scale of five thousands Volts to the range of the analog-
to-digital converter. The micro-controlled unity is responsible for processing the signal and to
pass along its data for the communication interface, which provides information for the user
from a touch screen color display. There is also an electrocardiogram simulated by the
microcontroller, which is provided to the cardioverter for the synchronism test.
Keywords: Defibrillator; Energy; Synchronism; Analyser; Test; Arm Cortex M4; QGVA;
LISTA DE FIGURAS
SA: Sinoatrial.
AV: Atrioventricular.
BPM: Batidas por minuto.
mV: mili Volts.
ECG: Eletrocardiograma.
RA: Braço direito.
LA: Braço esquerdo
LL: Perna esquerda.
FV: Fibrilação ventricular.
FA: Fibrilação atrial.
QRS: Complexo do eletrocardiograma.
TV: Taquicardia ventricular.
AC: Corrente alternada.
DC: Corrente direta.
V: Volts.
A: Ampéres.
J: Joules.
W: Watts.
S: Segundos.
m: mili (razão por mil).
u: micro (razão por um milhão).
k: kilo (multiplicado por mil).
Hz: Hertz.
uF: microFarads.
MDS: Senoide monofásica criticamente amortecida.
MTE: Exponencial monofásica truncada.
C: Capacitância elétrica.
L: Indutância elétrica.
NBR: Norma brasileira regulamentadora.
IEC: Comissão internacional de eletrotécnica.
ANSI: Instituto nacional americano de padronizações.
AAMI: Associação para o avanço da instrumentação médica.
DEA: Desfibrilador externo automático.
Fa: Frequência analófica.
Fs: Frequência de amostragem.
A/D: Conversor analógico para digital.
∆: erro de quantização.
b: Bits.
Wh: Watts hora.
P: Potência.
E: Energia.
ARM: Arquitetura de processador.
SPI: Periférico de interface serial.
EEPROM: Memória programável, apagável elétricamente, somente leitura.
Flash: Memória reprogramável desenvolvida pela Toshiba.
VGA: Padrão gráfico de computadores.
QGVA: Um quarto de VGA.
Pixel: Elemento de imagem.
touch screen: Teclado de toque.
MCU: Unidade microcontrolada.
PWM: Modulação por largura de pulso.
+: Positivo.
-: Negativo.
UTI: Unidade de tratamento intensivo.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2.6.3 Energia............................................................................................................................ 42
2.6.4 Integração numérica...................................................................................................... 42
3.1.7 Microcontrolador........................................................................................................... 56
3.2 FIRMWARE....................................................................................................................... 62
4.2 ELETROCARDIOGRAMA............................................................................................... 75
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 78
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79
1.1 OBJETIVO
1.2 JUSTIFICATIVA
.
No mercado brasileiro atual os analisadores mais utilizados são importados, havendo
poucos modelos nacionais desenvolvidos, além do custo de um analisador de desfibriladores
ser alto.
O protótipo foi desenvolvido com o apoio da empresa Elomed e do Hospital São Vicente
de Paulo, atendendo a demanda do setor de eletrônica biomédica, que hoje é responsável pelas
duas unidades hospitalares da instituição.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para melhor compreensão do papel dos desfibriladores, este capítulo apresenta conceitos
fundamentais ao entendimento de como funciona o coração suas possíveis anomalias, bem
como o eletrocardiograma humano, os desfibriladores e as normas técnicas regulamentadoras
destes.
Existem dois tipos de células no nosso coração que estão relacionadas com o sistema
elétrico: As células condutoras, que carregam o sinal elétrico, e as células musculares que,
quando estimuladas por uma excitação elétrica, contraem-se.
Os estímulos elétricos são gerados no topo do coração, pelo nó sinoatrial (SA) – também
conhecido como marcapasso –, e correm através da rede de células condutoras em uma reação
em cadeia, onde a excitação de uma célula ativa a outra, estimulando-a, e assim o sinal é capaz
de passar pelo coração de uma maneira ordenada. (K. PAI; PHILIPPIDES, 2014)
Segue abaixo na Figura 3 o mapa do sistema elétrico do coração, demonstrando a rede
de células condutoras.
17
As cargas elétricas são repassadas célula por célula por uma via internodal, contraindo
primeiramente os dois átrios na parte superior do coração. O nó atrioventricular (AV) retarda e
emite novamente o sinal, que percorre pelos feixes de Hiss até chegar nos ventrículos pelas
redes de Purkinje, estimulando a contração deles cerca de 1/6 segundo após a contração dos
átrios, resultando em uma contração coordenada do sistema muscular do coração. Esse processo
é chamado de batimento cardíaco. Um coração humano normalmente opera entre 60 e 100
batidas por minuto (BPM), podendo se ajustar acima ou abaixo desse ritmo para satisfazer as
necessidades do corpo. (K. PAI; PHILIPPIDES, 2014)
Conforme pode ser observado abaixo na Figura 4, o potencial elétrico que estimula as
contrações do coração possui por volta de -85 milivolts (mV) a cerca de 20mV, o que significa
que o potencial intracelular passa por cerca de 105mV em cada batimento cardíaco.
Inicialmente o músculo ventricular está polarizado, logo após ele entra em um período de
recessão, visto como um platô, em que permanece despolarizado por cerca de 1/6 segundo,
retomando a atividade ao se repolarizar. (GUYTON; HALL, 2011)
18
Esse platô também é referenciado como sendo um período refratário, ou período seguro,
em que o impulso cardíaco normal não pode reexcitar a área já excitada do músculo cardíaco.
Outro ponto que deve ser destacado é que o coração é um órgão autossuficiente e possui
uma rede neural própria que controla a geração dos estímulos. Ele recebe excitações cerebrais
que o estimulam a bater mais rapidamente, ou mais vagarosamente, de acordo com as
necessidades do corpo, mas quem faz o controle e gera os estímulos é o próprio coração.
Quando uma onda de despolarização moveǦse em direção aos eletrodos dispostos sobre a
pele, registraǦse no ECG uma deflexão positiva (para cima). Da mesma forma, a medida que a
onda de repolarização é captada pelo eletrodo, o ECG registra uma deflexão negativa. O centro
desses intervalos é o ponto R (Figura 5). Quando não há ocorrência de atividade elétrica, a linha
do ECG permanece no valor zero. (RAMOS; SOUSA, 2007)
A onda P, mostrada abaixo na Figura 6, representa os potenciais elétricos gerados pelos
átrios ao se despolarizarem, antes de se contraírem. O nó sinoatrial (SA) localizado no átrio
direito é a origem do estímulo desta despolarização. (RAMOS; SOUSA, 2007), (JACOBSON,
2000)
A Lei de Einthoven afirma que a partir de qualquer par desse triângulo de derivações é
possível obter a terceira, levando-se em conta a polaridade de cada par. O cardioversor que
monitora o ECG, realiza a observação do par a partir dos eletrodos das pás de contato.
(GUYTON, 2006).
22
Alguns dos tipos mais preocupantes de mau funcionamento cardíaco ocorrem não em
decorrência do músculo cardíaco anormal, mas como resultado de ritmo cardíaco anormal. Por
exemplo, algumas vezes o batimento dos átrios não é coordenado com o batimento dos
ventrículos; assim, os átrios já não funcionam como bombas para impulsionar o sangue aos
ventrículos. (GUYTON; HALL, 2011)
Neste item são apresentadas as três principais arritmias cardíacas e as suas patologias, a
fibrilação ventricular (FV), a fibrilação atrial (FA) e a taquicardia ventricular (TV). Junto a
esses tópicos, é evidenciado a utilização dos desfibriladores e cardioversores como terapia de
tratamento ou reversão da anomalia.
Figura 9 - Fibrilação ventricular. A) Início da fibrilação e divisão dos impulso. B) Propagação circular.
Assim, nunca ocorre numa contração coordenada de todo músculo ventricular, o que é
necessário para o bombeamento do coração. O órgão fica estagnado em uma contração parcial,
onde o bombeamento do sangue não acontece, ou acontece em quantidades desprezíveis.
(GUYTON; HALL, 2011)
A partir dessas condições e devido à falta de fluxo sanguíneo, após o início da FV ocorre
a inconsciência de 4 a 5 segundos, e então a morte de tecidos irrecuperáveis do corpo começa
a acontecer. Há vários fatores que influenciam no desencadeamento de uma FV, entre eles, o
choque elétrico de uma rede alternada. (GUYTON; HALL, 2011)
Para tratar a FV durante uma operação cirúrgica, as pás de desfibrilação são colocadas
diretamente sobre o órgão, sendo possível reverter o quadro aplicando um sinal de corrente
alternada (AC) 110V / 60Hz por 0,1s, ou aplicando um potencial de 1000 V em corrente direta
24
(DC) por cerca de ͳͲ݉ݏ. Já em condições normais, as pás são postas sobre a região torácica do
paciente - como mostrado na Figura 11 -, que é o procedimento mais comum, e no desfibrilador
é selecionado a quantidade de energia que se deseja aplicar no paciente. (GUYTON; HALL,
2011)
Comparando com a FV, que costuma ser letal se não tratada imediatamente, na fibrilação
atrial a pessoa pode viver meses ou até anos, embora com uma eficiência menor de
25
bombeamento do coração. A fibrilação atrial, assim como foi visto na FV, gera impulsos
fibrilatórios para todos os sentidos dos átrios – ilustrado na Figura 12.
2.4 DESFIBRILADORES
Em 1956, Paul Zoll, um cardiologista americano criou uma teoria para uma desfibrilação
externa, sem a necessidade de abrir o peito do paciente e aplicar o choque diretamente no
coração. Inicialmente Zoll disse que um choque elétrico acima de 750 volts diretamente no
peito de uma pessoa são suficientes para desfibrilar o coração. Com os estudos de Paul Zoll, foi
possível a criação do DEA (Desfibrilador Externo Automático). (PEREIRA, 2015)
O desfibrilador externo consiste em um dispositivo médico que possui duas pás (Ápice
e Esterno) com eletrodos de contato, conectadas por um cabo. O modelo manual (Figura 19)
pode ser encontrado em hospitais e unidades da área da saúde, geralmente permanecendo em
um carro de emergência, conforme mostrado na Figura 21, junto com fármacos e produtos para
possíveis emergências. Seu uso é restrito apenas para profissionais treinados. Já o modelo
automático (Figura 20) é utilizado em ambientes com elevada circulação de pessoas, como
shoppings e aeroporto, e ao ser ligado, ele repassa as instruções de uso para o usuário leigo, e
analisa automaticamente se há a necessidade ou não de aplicar uma descarga elétrica no
paciente.
A descarga via cardioversão elétrica é ativada pelo botão de sincronismo (Figura 24). Esse
módulo faz com que a descarga elétrica demore alguns segundos, pois é necessário esperar que
o dispositivo consiga se sincronizar com o ritmo cardíaco do paciente.
ଵ
ൌ ; כ (Equação 1)
ଶ
ୖ
ܧ ൌ כ ܽܧ (Equação 2)
ୖାୖௗ
Onde: Ef = Energia fornecida ao paciente (Joules), Ea = Energia armazenada (Joules), Rp = Resistência torácica
(Ohms), Rd = Resistência desfibrilador, Vp = tensão fornecida ao paciente (Volts), C = capacitância (Farads).
Figura 30 - Onda monofásica senoidal criticamente amortecida (MDS – Monophasic Damped Sinusoidal).
ܼ ൌ ටୀሺ݇ሻ ሺܺ ܥെ ܺܮሻଶ (Equação 3)
Esse tópico aborda alguns dos principais conceitos básicos de processamento de sinais,
sendo eles o teorema da amostragem, o conversor de sinal analógico para digital (A/D), a
energia contida nos sinais e a integração numérica.
41
௫ି
οൌ ଶ್
(Equação 7)
Onde, ο = Erro de quantização, Vmax = Tensão máxima do conversor, Vmin = Tensão mínima do
conversor, ʹ = Resolução do conversor.
42
2.6.3 Energia
A potência P(t) dissipada no resistor, devido à descarga elétrica V(t), normalizada por
Ω de resistência é dada pelas Equações 9 e 10.
ܲ ൌ ܸ ܫ כ (Equação 9)
ሺ௧ሻ మ ሺ௧ሻ
ܲሺݐሻ ൌ ܸሺݐሻ כቀ ோ
ቁൌ ோ
ൌ ܸ ଶ ሺݐሻ [ ௐ௧௧௦
ఆ
] (Equação 10)
A energia total E contida num sinal contínuo V(t), normalizada por Ω de resistência é
dada pela Equação 11:
ஶ
ܧൌ ିஶ ܸ ଶ ሺݐሻ݀ݐ [
௨௦
ఆ
] (Equação 11)
Assim como a energia EX de um sinal discreto amostrado n vezes, é dada pela Equação
12.
ܧ௫ ൌ σஶ ଶ
ିஶ ܸ ሺ݊ሻ (Equação 12)
A integração numérica é uma forma de se obter uma aproximação para a integral de uma
função dentro de um intervalo definido. Através de métodos numéricos é realizado uma
substituição da função por um polinômio que se aproxime razoavelmente no mesmo intervalo.
Assim, o problema fica resolvido pela integração de polinômios – o que é trivial de se fazer. As
43
duas principais formas de integração numérica são a regra dos trapézios e a regra de Simpson.
(BILOTI, 2017)
A ideia do método dos trapézios é aproximar a função F(x) em um polinômio de primeira
ordem (reta). A aproximação permite resolver aproximadamente a integral simplesmente
calculando a área de um trapézio (Figura 36).
3 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
3.1 HARDWARE
O hardware compreende toda a parte física do protótipo. O diagrama da Figura 38 faz uma
abordagem inicial do funcionamento do analisador.
Os eletrodos que recebem a descarga elétrica são muito importantes, pois fazem o
acoplamento do desfibrilador com o protótipo. Como os desfibriladores chegam a tensões
elevadas, na ordem de milhares de volts, é necessário que os eletrodos sejam compostos de ligas
resistentes ao arco elétrico.
Para este acoplamento foram utilizados eletrodos reaproveitados de desfibriladores
obsoletos, que foram fornecidos pelo hospital para o desenvolvimento do protótipo. Esses
eletrodos possuem todas as características físicas necessárias pois foram projetados para o
mesmo fim. Segue abaixo na Figura 39 a fotografia dos eletrodos utilizados.
De acordo com o que foi apontado no tópico de normas, o analisador deve suportar
energia de pico referente a 15% do valor máximo (360 J). Quando se seleciona a carga máxima,
o tempo de carregamento dos desfibriladores leva em média 5 segundos. Por segurança foi
considerado um tempo de 3 segundos. Segue na Equação 13 o cálculo da potência média
dissipada.
యలబ
ா
തതതത
ܲ݀ ൌ ൌ ሺభషబǡభఱሻ ൌ ͳͶͳǡʹܹ (Equação 13)
் ଷ௦
Onde, തതതത
ܲ݀ ൌ ² ±ǡ ܧൌ ǡ ܶ ൌ À
A atenuação do sinal do desfibrilador – que pode chegar a 5000 Volts – é realizada por
um divisor resistivo em paralelo ao resistor de carga R0 de 50 Ω. Esse divisor reduz o potencial
para uma escala que o microcontrolador consegue processar.
Por segurança, foi adotado como valor máximo de tensão 5500 Volts. Assim, o valor de
tensão dividido para cada um dos dez resistores (R2, R3, R4, R5, R9, R10, R11, R12, R13 e R19)
da série é de 550V. Para resistores de 3 Watts, a menor resistência é dada pela Equação 14.
మ ହହమ
ܴൌ ൌ ൌ ͳͲͲǡͺ݇ߗ (Equação 14)
ଷ
Para diminuir as perdas de precisão da amostra de tensão, deve-se trabalhar com uma
folga, evitando o aquecimento e a fadiga dos resistores. Foi escolhido resistores de 150 KΩ /
3W, onde a potência instantânea dissipada sobre eles é de 2,02 Watts (Equação 15).
మ ହହమ
ܲൌ ൌ ൌ ʹǡͲʹܹܽݏݐݐ (Equação 15)
ோ ଵହ
Para melhorar a segurança do dispositivo que opera com tensões altas foi adicionado
um varistor de 1000V entre R5 e R9, e entre R18 e R20 no atenuador do eletrocardiograma.
Assim, caso aconteça uma falha, o varistor irá entrar em curto protegendo o circuito eletrônico
de tensões elevadas.
O resistor R6 é muito importante, pois é sobre ele que é dividido a tensão de amostra. A
faixa de tensão do AD é 0 a 3,3 Volts. Para medir tensão negativa e positiva se divide a amplitude
para േ1,65 Volts. Para trabalhar com uma folga e evitar saturar o AD, foi adotado amplitude
máxima de േ1,5 V.
49
ଵǡହ ହହכோ
ൌ ; R6=51,14 ߗ (Equação 16)
଼ ோାଵכଵହ
ఱఱబబכೃల
ܲோ ൌ ೃలశభబכభఱబ಼
ோ
ൌ ͵ǡܹ݉ (Equação 17)
Na escala comercial, foi escolhido o resistor de 51ߗ / ¼ Watt / 1%. Assim, a potência
está em concordância com o que foi calculado pela Equação 17.
O sinal de ECG gerado pelo microcontrolador é responsável por simular o coração o
paciente, afim de medir o tempo de sincronismo dos cardioversores. Após passar pelo conversor
DA e pelos filtros, o eletrocardiograma possui amplitude de 3V, e esse sinal deve ser atenuado
para a escala de 1݉ ݒpara não saturar a leitura do monitor do cardioversor. Segue na Equação
18 o cálculo dos resistores do divisor de ECG (R14, R15, R16, R17, R18, R20, R21, R22, R23
e R24).
ହ
ͳܸ݉ ൌ ͵ܸ כ ; RDIV=15 kߗ (Equação 18)
ହାଵכோௗ௩
ହହమ
ܲோௗ௩ ؆ ଵହ
ൌ ʹͲǡͳܹܽݏݐݐ (Equação 19)
Se a tensão dissipada sobre o resistor fosse contínua, seria necessário utilizar resistores
de 20 Watts, conforme calculado pela Equação 19. Porém como a descarga do desfibrilador
leva apenas milésimos de segundos e não há necessidade de gerar ECG durante o choque, são
adotados então resistores de 15 kߗ / 5 Watts.
Já para R1, é adotado um valor pelo menos cem vezes menor do que o divisor resistivo,
conforme a Equação 20, para que não influencie na atenuação.
ଵכଵହ
ܴͳ ൏ ; ܴͳ ൏ ͳǡͷ;ܭ Adotado R1=490 ߗ (Equação 20)
ଵ
ఱఱబబכరవబ
ܲோଵ ൌ రవబశభబכభఱ಼
ସଽ
ൌ ͵ǡͷܹ݉ 490ߗ / ¼ W (Equação 21)
A partir das curvas dos diferentes tipos de onda estudados nos tópicos anteriores, se
verificam frequências transitórias de até 4 kHz, sendo assim a frequência mínima de
amostragem (Equação 22) é de 8 kHz.
Nas normas técnicas vistas anteriormente, o analisador deve possuir uma incerteza
máxima de ±5%. O conversor AD representa apenas uma parcela das perdas, portanto a sua
resolução não pode impactar muito nesse grau de incerteza. A resolução mínima aceitável para
um conversor AD com níveis de 0 a 3,3 Volts é de 8 bits (Equação 24), com um erro de
quantização máximo de 1,29%. Conversores AD de 6 bits (Equação 23) ou menos estão
descartados, uma vez que o erro de quantização excede a incerteza máxima prevista nas normas.
ଷǡଷ
οሺܾ݅ݏݐሻ ൌ ൎ ͷǡͳΨ. (Equação 23)
ଶల
ଷǡଷ
οሺͺܾ݅ݏݐሻ ൌ ଶఴ ൎ ͳǡʹͻΨ (Eq. 16) (Equação 24)
ଷǡଷ
οሺͳʹܾ݅ݏݐሻ ൌ ଶభమ ൎ ͲǡͲͺΨ (Eq. 17) (Equação 25)
A placa de processamento do sinal gerado pela descarga elétrica é composta por três
módulos principais: a fonte de alimentação isolada, o circuito de tensão para referência e o
processamento. Esses três módulos são alimentados por um banco de baterias microcontrolado,
como segue abaixo na Figura 43.
51
A topologia de conversor DA utilizado foi a escada de resistores R-2R com buffer, que
é um modelo de fácil implementação. Como o eletrocardiograma não precisa de muita precisão,
essa topologia se demonstrou suficiente. Os resistores foram adotados como 1k1 e 2k2, valores
cuja impedância não é tão alta a ponto de gerar problemas de ruído, e nem tão baixa a ponto de
sobrecarregar as portas do microcontrolador – que suporta correntes de 2mA até 8mA. Segue
na Equação 26 o cálculo de corrente da porta PE1 do microcontrolador, que é a que possui
menor impedância na escada de resistores.
ଷǡଷ
ͳ݁ܫൌ ൌ Ͳǡͷ݉( ܣEq. 26)
ଶଶାଶଶ
O próximo passo foi realizar a instrumentação do sinal, pra que possa ser disposto sobre
a carga. Segue na Figura 48.
55
O sinal de ECG analógico passa por um filtro passa-baixas de primeira ordem, com
frequência de corte próxima de 60 Hz. Esse filtro tira as componentes de altas frequências
indesejadas, a partir do qual pode se observar um sinal limpo do eletrocardiograma. O sinal
também é atenuado 8 vezes para passar pelo amplificador de isolação HCPL7800, sendo após
entregue para o módulo de atenuação.
Para alimentar o amplificador de isolação do eletrocardiograma, foi montado uma
segunda fonte isolada, conforme Figura 49.
3.1.7 Microcontrolador
Neste protótipo foi escolhido o uso do módulo EK-TM4C123GXL (Figura 50), que foi
estudado na grade curricular do curso. Esta placa de desenvolvimento é produzida pela Texas
Instruments, baseado na arquitetura ARM Cortex M4F. Este módulo possui clock de até 80
MHz, conversores AD com resolução de 12 bits, temporizadores de até 64 bits, 2 KB de memória
EEPROM, 256 KB de memória Flash, e dezenas de pinos de uso geral. Sua tensão de trabalho
é de 3,3 Volts, já possuindo um regulador interno com entrada de 5V.
Este módulo é programado e controlado a partir de uma comunicação via interface SPI.
Ele também possui um painel resistivo de controle por toque (touch screen) de 4 fios, além de
possuir um modelo padrão de pinos compatíveis com as de placas de desenvolvimento
produzidas pelo mesmo fabricante.
3.1.9 Bateria
Consumo do protótipo
450
440
Corrente (mA)
430
420
410
400
390
0 20 40 60 80 100
Tempo (minutos)
A média dos registros de consumo de corrente elétrica do protótipo foi cerca de 430mA,
sendo assim, estipulando um uso contínuo máximo de 15 horas e uma eficiência de 70%, foi
calculado a carga elétrica da bateria a partir da Equação 27.
ସଷכଵହ
ܣǤ ݄ ൌ ൌ ͻʹͳͶ݄݉ܣ (Equação 27)
Ψ
Para este protótipo foi escolhido o uso de um banco de baterias microcontrolado, com saída
regulada de 5V e carga elétrica de 10.000 mAh. Esse modelo de baterias tem a vantagem da
facilidade de uso, pois possui um sistema de controle de carga integrado, e pode ser carregada
simplesmente conectando um carregador universal USB. Segue abaixo na Figura 53 o modelo
utilizado.
3.1.10 Prototipagem
A borracha utilizada para isolação dielétrica e térmica na base da placa foi cedida pela
empresa ELOMED para o desenvolvimento do protótipo, e é utilizada geralmente na isolação
dos transformadores de alta potência. Segue abaixo na Figura 56 a isolação realizada.
Afim de diminuir o espaço físico do protótipo, foi realizado uma integração entre a placa
de processamento, a placa de eletrocardiograma, o microcontrolador e o display de interface
gráfica – conforme é mostrado na Figura 58.
3.2 FIRMWARE
O firmware do projeto é responsável pelo processamento dos dados. Este deve ser capaz
de simular um sinal de eletrocardiograma humano, calcular a energia do sinal recebido pela
descarga do desfibrilador, medir o tempo de sincronismo e de carregamento, e realizar o
controle da interface gráfica.
A programação é feita em linguagem C, e parte do código de firmware é realizado com
funções do microcontrolador TM4C123GXL.
Conforme o diagrama da Figura 59, ao inicializar o protótipo o firmware executa
primeiro a configuração dos parâmetros iniciais. Na sequência é mostrado a tela de início na
interface gráfica e carregado um laço de auto calibração do AD, aguardando instrução do
usuário. Durante essa calibração automática são recolhidas leituras de ruído ambiente pelo
conversor AD e é calculado um coeficiente de autocorreção para o ruído presente no local em
que estão sendo realizados os testes. Isso permite que protótipo realize medições muito mais
precisas.
O usuário tem um leque de opções, onde ele pode selecionar o módulo que ele deseja
executar, sende eles: medir energia, medir tempo de carga, medir tempo de sincronismo, gerar
o eletrocardiograma, e informações.
63
64
Como foi mostrado no capítulo do hardware, o sinal da descarga elétrica gerado pelo
desfibrilador é processado e entregue ao microcontrolador saindo de uma escala de 5000V para
1,5V de amplitude, e o ponto médio do AD está no offset de 1,65V. Isso implica que uma leitura
de 0,15V representa uma tensão de descarga de -5500V no desfibrilador, e uma leitura de 3,15V
representa uma tensão de descarga de +5500V.
A partir dessa escala de referência, quando a função de medir energia está ativada é
realizado o cálculo da energia contida no sinal, em Joules (Watts por segundo). Esse cálculo é
71
feito a partir da integração numérica dos pontos medidos, conforme segue nas equações 28 e
29.
௨௦
Para o sinal no tempo, ܧሺݐሻ ൌ ܸ ଶ ݀ݐ ቀ ቁ (Equação 28)
ఆ
௨௦
Para um sinal discreto, ܧሺ݅ሻ ൌ σୀ ܸሺ݅ሻଶ ቀ ቁ (Equação 98)
ఆ
Onde n é o número de amostras, E= Energia, V= Tensão elétrica, t = tempo.
A energia E(i) para uma taxa de amostragem de 20 kHz e carga de 50ߗ é mostrada
abaixo na equação 30.
σమబೖ మ
సబ ሺ ሻ
ܧሺ݅ሻ ൌ ሺݏ݈݁ݑܬሻ (Equação 30)
ହఆ
ே ସ ு௭
ܨ ൌ ൌ ቀ ቁ . (Equação 31)
௧ ଵ௦ ெ
ܨ௦ ൌ ܨ ܯܲܤ כ௨௦௨ ሺݖܪሻ (Equação 32)
4 RESULTADOS EXPERIMENTAIS
4.2 ELETROCARDIOGRAMA
O sinal de ECG foi testado pela captação de sinal pelos cardioversores, realizando os
testes em modelos novos e antigos. A seguir a Figura 77, Figura 78 e Figura 79 apresentam
fotografias do sinal monitorado pelos cardioversores HeartStart XL, CardioMax e CodeMaster.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
LATHI, B. P.; 2007 “Sinais e sistemas lineares”. 2. ed. Minas Gerais. 2007.
GUYTON, Arthur. C.; HALL, John. E; 2011 “Tratado de fisiologia médica. ” 12. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier. 2011.
GUYTON, Arthur C.; HALL, John E; 2006. “Tratado de fisiologia médica. ” 11. ed. Rio de
Janeiro: 2006.
GUYTON, Arthur C.; HALL, John E; 2002. “Tratado de fisiologia médica. ” 10. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan. 2002.
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