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Os Cinco Pontos Do Calvinismo-1
Os Cinco Pontos Do Calvinismo-1
HERMAN HANKO
HOMER HOEKSEMA
GISE J. VAN BAREN
© 1976, de Reformed Free Publishing Association
Título do original: The Five Points of Calvinism
Edição publicada pela
Reformed Free Publishing Association (www.rfpa.org)
(Grandville, Michigan, EUA)
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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
EDITORA MONERGISMO
Caixa Postal 2416
Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Sítio: www.editoramonergismo.com.br
1a edição, 2013
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PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Mas nisto se enganam grandemente, porque não existiria eleição, se, por outro lado, não houvesse
reprovação. Diz-se que Deus separa aqueles que adota para que se salvem. Seria, pois, um
notável desvario afirmar que os outros alcançam por casualidade ou adquirem por sua indústria o
que a eleição dá a poucos. Assim, aqueles por que Deus passa ao eleger, reprova-os; e isto só pela
razão de que Ele os quer excluir da herança que predestinou para seus filhos. Não se pode tolerar
a obstinação dos que não permitem que se lhes ponha freio com a Palavra de Deus, tratando-se de
um juízo compreensível seu, que até os próprios anjos adoram.
Isso é calvinismo e fé reformada.
Em segundo lugar, o decreto de reprovação divina também é um decreto do
seu conselho soberano, eterno e imutável. De acordo com esse decreto, Deus
determinou revelar sua justiça, ira e seu ódio ao pecado, e dessa forma a
santidade do seu ser divino, nos vasos de ira preparados para a destruição e
castigo por toda a eternidade no inferno por causa dos pecados deles.
Esta é a verdade da reprovação.
II. Quais são as negações dessa verdade?
Não é nem um pouco estranho que a verdade da predestinação seja negada de
modo quase universal. A parte triste é sua negação também por quem levanta
a bandeira reformada e alega ser calvinista. Isso é engano.
Há muitas formas de negar a verdade.
Já discutimos a negação do arminianismo. Hoje é evidente que quem adota a
posição arminiana de fato não ensina a doutrina da predestinação. Ela foi
perdida. O arminianismo em especial não tem lugar para a predestinação.
Há outros que negam a verdade apenas silenciando a respeito dela. Talvez
essa seja mais comum que qualquer outra forma de negação nos círculos
reformados. As pessoas dizem crer nela. Mas a omitem de propósito em todas
as suas pregações, todos os ensinos e escritos. A ideia é, sem dúvida, sufocá-
la com o silêncio. Isso também equivale a negar a predestinação. A
justificação apresentada para esse silêncio é que as coisas ocultas pertencem a
Deus. Alega-se que a predestinação pertence às coisas ocultas de Deus, ao
passo que devemos enxergar apenas o conteúdo da revelação concedida a nós
e a nossos filhos. Embora os proponentes dessa alegação insistam crer nessa
doutrina da predestinação, eles se mantêm silentes a respeito dela porque
alegam que ao mencioná-la acabam interferindo nas coisas secretas que não
lhes dizem respeito. Mas tudo isso não é verdade. Ainda que Deus, de fato,
não tenha revelado de forma específica a identidade de cada um dos seus
eleitos, a verdade da eleição em si é encontrada em todas as páginas da
Escritura. Vire-se para na direção que desejar e, se ela não for declarada de
maneira explícita, ao menos se encontra inferida. E pelo fato de ser revelada
com tanta clareza, essa verdade deve constituir também a confissão do povo
de Deus.
Há outros que negam a eleição abertamente. Isso não é verdade só entre os
modernistas; é verdade também nos círculos reformados. Como exemplo
disso segue uma citação retirada de The Reformed Journal [A revista
reformada], edição de janeiro de 1967:
O que dizer da reprovação ou rejeição da parte de Deus? A eleição não implica logicamente a
rejeição? […] A eleição não significa na verdade seleção? […] A eleição de Israel, embora
algumas vezes compreendida de modo incorreto pelo próprio povo, significa, em última
instância, seu chamado para servir a outras nações. Portanto, não decorre disso a exclusão das
outras nações para sempre, mas de Deus eleger Israel da sua forma para os outros. A eleição, no
sentido bíblico, implica serviço, mas ao que parece não envolve rejeição…
Há dois pontos principais do autor aqui. Em primeiro lugar, o autor ele diz
que a eleição não significa que Deus tenha determinado de forma eterna e
imutável, em Cristo, quem seria o povo destinado a viver com ele para
sempre no céu. Antes, a eleição significa apenas que Deus tomou a o povo de
Israel como nação e a separou para encarregá-la de levar o evangelho ao
mundo todo. De acordo com o artigo, esse é o significado do termo eleição.
Em segundo lugar, pelo fato de a nação de Israel ter sido escolhida para
constituir o veículo pelo qual Deus traz o evangelho ao mundo todo, não há
algo semelhante à reprovação ou rejeição, pois o mundo todo foi eleito em
Israel. E dessa forma, o autor afirma o que ele considera a verdade da
expiação universal e o amor universal de Deus.
Essa é uma negação franca da verdade da eleição e reprovação. Permanece
um mistério como isso pode aparecer sob o nome “reformado”.
Há outros que negam a verdade da predestinação levantando objeções contra
a doutrina. Essas objeções são tão velhas quanto a doutrina. As mesmas
objeções que ouvimos hoje já foram levantadas nos dias de Agostinho — de
fato, nos dias do apóstolo Paulo. Se as examinarmos, elas poderão ser
resumidas a duas principais:
Em primeiro lugar há série de objeções contra a doutrina contendo acusações
contra o próprio Deus. A objeção feita declara que a predestinação faz de
Deus um tirado, o autor do pecado, um ditador caprichoso que de forma
arbitrária escolhe alguns e rejeita os demais. Elas são similares às objeções
consideradas por Paulo considerou em Romanos 9.14, 19:
Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! [...] Tu, porém, me dirás:
De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?
Elas são objeções lançadas contra Deus e a justiça.
A outra classe de objeções trata da acusação de fatalismo. Dizem que a
verdade da predestinação é fatalista e similar à doutrina horrível dos
muçulmanos. Essas objeções objetivam acusar a verdade da predestinação de
tornar os homens pecadores descuidados e profanos. A doutrina desperta nos
homens a declaração: “Pequemos para que a graça abunde”. A doutrina força
os homens a dizerem: “Se sou eleito, vou para o céu sem importar o que eu
faça — mesmo que peque grandemente. Desfrutarei muito da vida, pois o
pecado não pode alterar minha eleição. Todavia, se eu não for eleito, não irei
para o céu, não importa quão corretamente conduza minha vida. Portanto, irei
para o inferno se for réprobo, mesmo que viva em santidade. Dessa forma,
devo aproveitar a vida o quanto puder, e pecar o máximo possível. Nada pode
alterar a determinação eterna de Deus”. Assim, dizem, que a doutrina da
predestinação destrói a responsabilidade e prestação de contas do homem, e
faz dele um pedaço de madeira e pedra.
Todas essas objeções são bem antigas.
O que responderemos?
Em primeiro lugar, de modo geral, há tempos essas questões são levantadas
pelo povo sincero de Deus. Eles não questionam para zombar da verdade;
antes o fazem pelo desejo do povo de Deus de entender a verdade com tanta
clareza quanto for capaz. Assim essas perguntas são perfeitamente legítimas.
Na maioria das vezes, entretanto, essas objeções são feitas por homens
perversos que odeiam a verdade. Elas são levantadas para caluniar a verdade,
tornar a doutrina odiosa à mente humana e tentar persuadir os homens a
descartar a doutrina. Quase sempre essas são objeções provenientes de
corações vis e não dos questionamentos humildes do povo de Deus.
É bom se lembrar disso, pois se a motivação for maligna, nada que a
Escritura afirme alterará essas objeções.
Em segundo lugar, devemos estar preparados para admitir o caráter muito
profundo dessa verdade Há de fato questões suscitadas pela mente que
seremos incapazes de responder. Calvino, por exemplo, nos faz lembrar vez
após vez que devemos nos limitar ao que a Escritura diz e não permitir que
perambulemos além dos caminhos pelos quais a Escritura nos leva. Onde a
Escritura nos diz para parar, devemos parar. E, se nesse ponto de parada,
ainda houver questões não respondidas, que assim seja; devemos nos curvar
com humildade diante da verdade da Palavra divina. Contudo, essa verdade é
algumas vezes usada para negar a verdade da predestinação de modo muito
sutil e para impedir de forma total a investigação dessa verdade. Assim, deve-
se enfatizar que, embora não possamos adentrar nos caminhos aos quais a
Escritura não nos leva, devemos seguir por onde a Escritura nos toma pela
mão e nos mostra a glória dessa obra divina. Quando a Escritura nos coloca
essa confissão nos lábios, ela deve de fato nos pertencer. Em terceiro lugar,
com respeito à primeira classe de objeções (acusar Deus de capricho e fazer
dele o autor do pecado), não podemos fazer melhor do que citar a resposta de
Paulo a objeções similares:
Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés:
Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me
aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar
Deus a sua misericórdia. Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para
mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Logo, tem ele
misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás: De que se
queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires
com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não
tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para
desonra? (Rm 9.14-21)
Essa é a resposta da Escritura, e deve ser também a nossa.
Por fim, com respeito às acusações de fatalismo, todo filho de Deus sabe em
seu íntimo que elas não são verdadeiras. A história das igrejas reformadas é o
testemunho abundante de sua falsidade. Acaso essa história não foi escrita
com o sangue dos mártires, que não amaram a própria vida até a morte, por
crerem e confessarem a verdade da eleição eterna? Não existe uma longa
galeria de heróis da fé que amaram essa verdade e a confessaram, e sua vida
testemunha o poder da graça divina no coração de cada um deles?
Há motivos para isso. A verdade da eleição não significa apenas que
Deus escolhe os que integrarão seu povo; e não significa apenas a
determinação divina de que eles viverão no céu. Significa também que
Deus garante o caminho de santidade para seu povo no meio do mundo.
O decreto de eleição é o fundamento de todas as bênçãos da salvação. A
eleição foi realizada no Calvário. E nesse lugar a totalidade da salvação
foi operada. Essa mesma salvação é aplicada ao coração dos membros do
povo eleito de Deus pela graça soberana. Esse é o ponto que nossos
Cânones estabelecem de modo contínuo. Esta eleição não é múltipla,
mas ela é uma e a mesma de todos os que são salvos tanto no Antigo
Testamento quanto no Novo Testamento. Pois a Escritura nos prega o
único bom propósito e conselho da vontade de Deus, pelo qual ele nos
escolheu desde a eternidade, tanto para a graça como para a glória, assim
também para a salvação e para o caminho da salvação, o qual preparou
para que andássemos nele (Ef 1.4,5; 2.10). (1.o Capítulo, Artigo 8;
ênfase adicionada. V. tb. 1.o Capítulo, Artigos 6 e 9 citados acima.)
A eleição é a fonte de uma quantidade inumerável de bênçãos que fluem para
o povo de Deus. Pelo poder da eleição eles caminham como povo de Deus
em meio ao mundo. Cristãos descuidados e profanos? Não! Eleitos,
redimidos no sangue da cruz e santificados pelo poder da graça soberana.
III. Qual é sua importância para a Igreja?
A importância dessa doutrina deve ser encontrada em primeiro lugar no
significado teológico. Ela é a verdade central de toda a Escritura. Embora seja
literalmente ensinada em centenas de passagens da Palavra de Deus, ela é
também a verdade fundamental sobre a qual se baseia a totalidade da
Escritura como revelação divina. Está presente em cada passagem,
pressuposta em toda parte, a verdade que integra o todo da revelação divina.
E isso decorre do fato de a Escritura ser a revelação do Deus que salva. Deus
é soberano. Toda a glória pertence só a ele. Essa verdade desperta no coração
a contemplação do Deus adorável dos céus e da terra e nos faz prostrar em
adoração diante dele.
Sustentando essa verdade, portanto, toda a Escritura é uma bela unidade. São
desnecessárias distinções abstratas. Não é preciso seguir uma teologia de via
dupla. Ela é um conjunto maravilhoso. Deus é soberano na escolha do povo.
E por ser soberano, ele redime na cruz a quem escolhe. Ele, o soberano,
deposita seu amor sobre seu povo e odeia os ímpios todos os dias. Como
soberano, ele mostra favor por meio da cruz aos que lhe pertencem; mas
derrama sua ira sobre os praticantes da iniquidade. Portanto, também sua
graça nunca é comum. Ela é sempre particular — concedida por meio da cruz
aos objetos de sua escolha. E é de caráter irresistível porque os escolhidos por
ele sem dúvida serão conduzidos à salvação e bem-aventurança final.
A escolha, portanto, ocorre entre um ponto de vista ou o outro. Podemos
negar a verdade, mas então devemos também fazer de Deus um ser
impotente, formado de acordo com nossos pensamentos, dependente da
vontade instável do homem, reagindo depois de o homem fazer escolhas e
tomar decisões, alterando seu plano de acordo com os caprichos humanos,
totalmente dependente do ato final do homem. Ou fazemos nossa escolha a
favor da verdade da Escritura e sustentamos a verdade do grande e soberano
Deus dos céus e da terra, o único a quem pertence todo o louvor e toda a
glória para sempre.
Dessa forma, a doutrina da eleição, em segundo lugar, proporciona ao povo
de Deus consolo indizível. Somos apenas pecadores que aumentam dia após
dia o peso da própria culpa. Se a salvação fosse deixada a nosso critério,
seríamos lançados no mar tempestuoso da dúvida. Somos incapazes de
merecer algo da parte de Deus. Mas a eleição, a eleição soberana, é a rocha
inamovível sobre a qual permanecemos; e ali, estamos a salvo de todos os
danos. O eleito jamais perecerá: “Entretanto, o firme fundamento de Deus
permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais:
Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor”
(2Tm 2.19). Deus preservará a obra da graça no coração dos seus até o final.
Não podemos fazer algo melhor que encerrar o debate nos valendo das
palavras de Paulo para terminar seu argumento a respeito desta verdade. Elas
são encontradas em Romanos 11.33-36:
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a
mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe
venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a
glória eternamente. Amém.
Cristo é o sumo sacerdote do seu povo. E seu povo é constituído pelas
pessoas dadas a ele pelo Pai antes da fundação do mundo. Esses são os
eleitos, escolhidos e ordenados para a vida eterna como resultado da graça
livre e soberana. E seu sacrifício para expiar pecados, foi realizado, não por
todos os homens sem exceção, mas apenas pelos quais a quem o Pai
soberanamente ordenou para a vida eterna, e escolheu em Cristo.
[…]
A doutrina da expiação limitada está em harmonia com toda a Palavra de
Deus. A quem ele conheceu de antemão, e predestinou para a conformidade à
imagem do seu Filho, para que este fosse o primogênito entre muitos irmãos,
também é quem ele chamou, justificou e glorificou (Rm 8.29,30). Mas, sem
dúvida, isso implica que foi também por todos eles que Cristo se ofereceu na
cruz, pois seu chamado, justificação e glorificação descansam na expiação.
Rev. Herman Hoeksema
Capítulo 3: Expiação limitada
Prof. Homer C. Hoeksema
Hoje, quando se ouve a expressão “expiação limitada”, de imediato
vem à mente o debate e, até certo ponto, a controvérsia na comunidade
reformada exatamente acerca deste tópico. E, caso você espere que neste
capítulo eu tenha algo a dizer sobre as questões relacionadas com o que, de
modo geral, veio a ser denominado o “caso Dekker”, eis minha declaração.
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