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Texto de Alain de Botton em "Como pensar mais sobre sexo” (Ed. Objetiva) –
trechos das pgs. 29-31 e 41-42. Tradução de Cristina Paixão Lopes. As notas ao
final são minhas.
Eles se deitam na cama e acariciam-se ainda mais [1]. Ele leva a mão para o
meio das pernas dela e faz uma delicada pressão, percebendo, com intensa
alegria, que ela está molhada. Ao mesmo tempo, ela o toca e fica satisfeita de
forma equivalente ao sentir a extrema rigidez do pênis.
Além disso, com nossa libido gasta, nossos entusiasmos anteriores podem
parecer inibidoramente estranhos e desconectados do nosso eu cotidiano e de
nossas preocupações triviais. Esforçamo-nos para ser sensíveis, mas um
momento antes – é isso mesmo? – estávamos desesperados para chicotear
nosso amante. Vivemos contentes num moderno mundo democrático, mas
agora mesmo passamos parte da noite dando asas ao nosso desejo de ser um
sádico nobre que aprisiona uma donzela numa masmorra medieval.
***
[1] Alain está usando como personagens um casal que está fazendo sexo pela
primeira vez, neste trecho ele fala especificamente sobre a excitação que
antecede o ato sexual em si.
[2] Em suma, não é possível fingir o genuíno interesse sexual, ao menos não
sem o auxílio de drogas e lubrificantes. Mesmo os atores pornô mais
profissionais necessitam de ajuda para manter o pênis ereto entre interrupções
de cena, enquanto as atrizes pornô provavelmente têm de caprichar nos
lubrificantes.
[3] Alain parece que pegou emprestada a ironia socrática, e a têm utilizado de
forma magistral...
[6] O amor que ainda não aprendeu a arder por si mesmo, quando depende de
um erotismo renovado, esbarra na rotina da vida conjugal. Ou, em outras
palavras: a intimidade é uma merda.
[8] Neste livro recente, primeiro com o selo de sua School of Life (“Escola da
Vida”), uma espécie de “universidade da filosofia do dia a dia”, Alain de Botton
me parece estar no auge da forma, mais irônico e original do que nunca – e
mais pensador, mais filósofo, mais sábio. Há essa altura, já devem ter percebido
que o próprio título do livro é uma provocação, uma provocação muito bem
vinda: precisamos realmente pensar mais sobre sexo, mas com a mente, com a
alma, não com o pênis ou a vagina, e muito menos com um Manual de
Preceitos nas mãos. Chico teria adorado.
***