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EDUARDO YAMANE
PABLO MENDOZA
São Paulo
2010
ÂNGELA GAUK
EDUARDO YAMANE
PABLO MENDOZA
São Paulo
2010
ÂNGELA GAUK
EDUARDO YAMANE
PABLO MENDENDOZA
Aprovado em:_____________________
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São Paulo
2010
RESUMO
AGRADECIMENTOS
Pablo:
Agradeço minha família: Mãe Maria Luiza e pelo seu apoio e carinho incondicional,
Meus irmãos Samuel, Gabriel e Ana Elisa, sem a alegria dessas pessoas tudo se tornaria mais
difícil.
Cibele pelo carinho, companheirismo e paciência, que me trazem a cada dia a serenidade necessária
para se seguir em frente, e pela inspiração.
Todos os colegas e amigos que compartilharam até aqui experiências musicais e de vida (Monana,
Jow, Rebeca, Nié, Boi, Alex, Teddy, Julio, Fred, Fabinho, Jé, Brutus, Zé Antônio, Digão,
Finazzi....).
Aos professores do curso que em muito contribuiram para minha formação profissional e pessoal,
em especial ao professor Guima que orientou esse trabalho com entusiasmo e imparcialidade.
Em em homenagem a meu pai Lucho que muito me ensinou sobre música e vida.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................8
2. MÚSICA ALÉM DA MÚSICA..............................................................9
3. ARTE SONORA E MOVIMENTO........................................................13
4. SOM, IMAGEM E POLIFONIA.............................................................15
5. PROGRAMA DO TRABALHO PRÁTICO......................................................16
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................18
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................19
Projetos de Produção Musical: Trabalho de Conclusão e Curso novembro/2010
1. INTRODUÇÃO
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Ao traçarmos uma linha do tempo a partir do início do século XX, notaremos mudanças
bruscas no campo da música, mudanças estas que não se restringem às combinações de elementos
musicais, nem à quebra de regras ditadas por conservatórios até então. Essas mudanças estão
também na maneira como essa arte se relaciona com o mundo à sua volta a partir do cenário criado
pelo contexto pós-guerra, determinante para a racionalização do pensamento. Talvez aí,entre
elementos musicais, tenhamos um ponto de partida para o surgimento de novas abordagens e
questionamentos estéticos.
Através de Prelúde à l’Apres-Midi d’um Faune, Claude Debussy expressou seu desejo de
quebrar regras, de criar um caminho próprio. No livro A música moderna, de Paul Griffiths (1998),
Prelúde é apontado como ponto inicial das mudanças que viriam a ocorrer desde então. O autor
justifica essa afirmação apontando na obra a quebra da ditadura dos modos maior e menor. Nessa
obra, o compositor coloca-os como mais uma opção entre outras, além de propor uma nova
abordagem de desenvolvimento do tema e colorido orquestral, os quais, por motivos de foco da
pesquisa, não nos cabe detalhar.
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Projetos de Produção Musical: Trabalho de Conclusão e Curso novembro/2010
Como nosso foco é a música para a dança a partir da modernidade, é essencial falarmos
sobre a Pétrouchka de Igor Stravinsky, obra que surgiu a partir de uma peculiar peça de piano onde
o próprio Stravinsky disse visualizar o boneco que surgiu posteriormente com a coreografia de
Michael Fokine, interpretado pelo bailarino Vaslav Nijinsky( que coreografou e interpretou Prelúde
à l’Apres-Midi d’um Faune). No trecho “A bailarina e o mouro” é nítida a sensação de ouvirmos
duas músicas de tons diferentes simultaneamente: o politonalismo, sonoridade que aparece bastante
no cenário atual da música pop devido às técnicas de sampleamento.
Entretanto, foi com a Sagração da Primavera que Stravinsky causou maior alarde. Alguns a
consideravam a destruição de tudo que a tradição musical representava até então enquanto outros a
elogiavam pelo mesmo motivo. Sagração apresentou um novo discurso musical: logo no início
temos a melodia em Lá menor e a Harmonia em Lá maior, além de uma densa massa sonora e o
ritmo como agente organizador, como é apontado no livro A Música da Moderninade de J. Jota de
Moraes (1983).
Vale ressaltar como as mudanças musicais apontaram para mudanças no movimento. Para
coreografar Sagração da Primavera, Nijinsky recorreu ao método do músico-educador suíço Emilie
Jaques Dalcroze. Segundo ele, todo ritmo pode ser representado por uma livre criação motora, se
afastando dos métodos até então tradicionais de coreografia.
Compositor também considerado moderno, o espanhol Manuel de Falla criou os balés El
Amor Brujo e Sombrero de Três Picos com forte sotaque flamenco. Como é comum nesse estilo, o
sapateado dos bailarinos torna-se elemento musical, apontando interação entre os movimentos e a
música. Segundo J. Jota Moraes (1983), Falla é considerado moderno pela exploração de harmonias
tensas oriundas de sua cultura local e por apontar uma nova noção de distância física entre o ouvinte
e o objeto sonoro em Sombrero.
Os balés comentados acima foram apresentados pela companhia do russo Serguey
Diaghilev. Este empresário da arte apresentou seus espetáculos mais famosos fora de sua terra natal,
pois nem o governo czarista nem o governo comunista aceitavam sua abertura à cultura estrangeira.
Diaghilev apostava na dança como ponto de encontro de outras formas de arte, unindo em
espetáculos artistas de vanguarda de diversas áreas. Curioso encontro ocorreu no ballet Parade que
teve cenário de Pablo Picasso (que também cenografou Sombrero de De Falla) e música de Erik
Satie. Nesse espetáculo, Satie incorporou à orquestra um revólver e uma máquina de escrever. Satie
foi um compositor que teve importância não só no campo da música em si, mas por questionar
como ela se relacionava com o mundo à sua volta. A utilização de objetos “não-musicais” junto à
orquestra sugere idéias de que os sons vindos do ambiente também devem fazer parte da construção
musical. Essa idéia foi chamada de Música de Mobília. Em um relato do próprio Satie apresentado
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no livro de J. Jota Moraes (1983), ele diz que a Música de Mobília é a música que se apresenta
quando ela não tem nada a fazer, uma música que gera conforto, como luz e calor, ou seja, que faça
parte do ambiente. Através dessa idéia, Satie questionou a sacralização da música de concerto e
apresentou questões levadas adiante por compositores posteriores (como John Cage) como a
barreira entre sons musicais e ruídos e a divisão entre músico e espectador, ou seja, ele utilizou sons
gerados casualmente por espectadores para completar a obra, conceitos que estão além de questões
puramente musicais. Vale frisar que questionamento e insatisfação parecem ser praticamente uma
constante quando discutimos compositores que apontam sua obra para caminhos até então
desconhecidos.
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Um marco da fusão entre arte sonora, dança e música foi a obra Thatter Peace No.1, de John
Cage, com o coreógrafo Merce Cunninghan, o artista plástico Robert Rauchenberg e o pianista Davi
Tudor. A apresentação se moldava conforme o espaço físico, com caráter único, não se repetindo da
mesma maneira.
Voltando ao campo da música em si, é pertinente comentar sobre a busca da aleatoriedade.
Pierre Boulez, que defendeu o serialismo integral, método que direciona ao máximo as regras de
composição (o que não significa que não seja uma busca por novas sonoridades) em sua obra
Structures, buscou posteriormente na música aleatória maneiras de ”fixar o infinito”, intenção
também na obra de Gyorgy Ligeti Atmosphères. Encontramos aí uma busca de arte em tempo real,
uma busca por uma maior interação entre compositor, instrumentistas e o momento da execução da
obra, pois nas partituras não se tinha registros de melodias ou notas.
Através desses exemplos podemos ter uma idéia de como, em maior ou menor grau,
compositores abriram mão de bulas, de manuais de construção musical para se aventurar no novo,
no inexplorado (e muitos casos, criando novas fórmulas). A aleatoriedade, incerteza, probabilidade,
palavras talvez não muito amigáveis no universo musical até o início do século XX, começaram a
fazer parte das obras e são fundamentais no campo da arte sonora, bem como a interação. A
sincronia também é fundamental quando estamos falando da interdisciplinaridade entre som e
imagem, e quando buscamos a imersão resultante desse diálogo.
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Projetos de Produção Musical: Trabalho de Conclusão e Curso novembro/2010
Nosso trabalho pretende, além de se utilizar de música composta, usar o movimento como
agente criador. Buscamos no repertório de arte sonora conceituação e informações necessários para
nos familiarizarmos com esse tipo de produção.
Arte sonora é o termo usado para nomear um tipo de obra que se fundamentou a partir da
década de 1970, a qual mescla sons com outras linguagens, como artes visuais e arquitetura. Esse
tipo de obra se utiliza do som como ligação e fundamento da obra, tendo como ponto de partida a
possibilidade de gravação sonora.
Trabalhos de artistas como Rudolf Pfeninguer, que criava sons através de desenhos feitos
em uma película e Norman Mclaren, que criou a animação sonora – figuras que codificavam sons,
foram precursores da Arte Sonora
Também importante, mais pelo discurso do que por sonoridades foi o Futurismo de Luigi
Russolo, que apontava os ruídos urbanos como inspiração para criação musical.
Fatores fundamentais quando se trata desse assunto são interdisciplinaridade –som e a
linguagem visual sempre dialogando – e Interação que propõe a interferência do ouvinte mediada
pela tecnologia. Outro fator presente é a imersão, resultante dos outros dois, visto que a
interdisciplinaridade e a interação tendem a transformar o espectador em participante. Temos como
exemplo Éden, do artista John MacCornac, em que é criado um ambiente evolutivo artificial que,
para “sobreviver”, o participante precisa ouvir e reproduzir sons.
Nesse repertório encontramos presentes questões levantadas por compositores modernos,
como nas obras de Robin Minard. Segundo Lílian Campesato (2007), há semelhanças desse artista
com Ligeti, pelas composições timbrísticas, e com John Cage, pelas relações estabelecidas entre o
som e o silêncio. Em seu trabalho com música eletroacústica, no qual busca uma sonoridade
funcional para espaços públicos e abandona a proteção das salas de concertos, notamos uma
semelhança com a idéia de música de mobília de Satie .
A instalação de Minard, Silent Music, consiste em 400 alto-falantes piezo-elétricos em
formato semelhante ao de plantas. São utilizados sons agudos constituídos com o intuito de se
misturarem com sons do ambiente.
É interessante no contexto da arte sonora a utilização do espaço físico em que a obra está
inserida em favor de sua configuração. Também é sugerido um convite a participação do
espectador. Esses dois fatores dialogam com a dessacralização da obra de arte e a desmistificação
do autor como criador absoluto, pensamentos que também são defendidos nas obras de Satie e
Cage.
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Como esse trabalho pretende buscar propostas para tradução de música em movimento, é
essencial falarmos sobre performance art. Essa forma de expressão tem como fundamentos básicos
tempo, espaço, corpo do performer e relacionamento entre performer e público. Temos como
exemplo o grupo Fluxus, que buscava em suas apresentações uma criação coletiva e no tempo
presente, também defendendo o gesto como agente criador, influenciados pelo artista plástico
Jackson Pollock. Temos aí o diálogo entre som, imagem e movimento, a preocupação de expressar
um momento, e a contestação do academicismo e a dessacralização do espaço e do fazer artístico.
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Tanto na arte sonora quanto na música para dança, a obra tem em seu significado elementos
de contexto extra-musical, e nos dois casos, o movimento é o motor da obra que se desenrola no
eixo tempo.
Notamos em balés de Stravinky e Satie, uma busca por novas sonoridades ainda não
presentes nos manuais de composição até então. No campo da Arte Sonora raramente temos o som
tentando se expressar como música da maneira convencional, talvez porque música ou som, quando
em diálogo com linguagens visuais, ganham novos significados, contrapondo e/ou reforçando
elementos narrativos, ou apontando informações não apresentadas pelos elementos visuais.
Essa complexa relação, a polifonia áudio-visual resultante desse diálogo, é apontada no livro
Sigkhronos, de Ney Carrasco(2003) da seguinte maneira: ele sugere uma grade de instrumentos de
orquestra onde os elementos sonoros e visuais caminhem juntos no eixo-tempo, ambos seguindo por
uma sucessão de eventos. Nesse caso o som não se resolve por si só. Esse fato talvez motive
compositores a se utilizarem de sonoridades consideradas ruidosas ou com pouco conteúdo musical
por si só. Contudo, estas sonoridades ganham sentido junto à imagem, por isso a utilização de
termos como contraponto estão presentes tanto no universo musical quanto na áudio-visual de
maneira semelhante.
A arte sonora dá um passo adiante quando sugere que o espectador participe da composição
sonora trazendo para junto dessa polifonia a interação. A narrativa se apresenta conforme o
espectador/participante interage com a obra, ou seja, é o espectador quem dita o tempo da narrativa
na medida que percebe a obra.
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Projetos de Produção Musical: Trabalho de Conclusão e Curso novembro/2010
Parte1:
Apresentação da humanidade através de movimentos e sonoridades que revelem
tanto o caráter positivo quanto negativo de ser humano;
Movimentos e sonoridades que revelem aspectos como benevolência, egoísmo,
vaidade, amor;
Parte2:
Apresentação da Máquina. Sonoridades mais secas repetitivas e marcadas para
representar características da personagem máquina.
Parte 3
Conflito entre Máquina e Humanidade.
As sonoridades se apresentarão de maneira conflituosa, gerando incômodo e aflição.
Parte 4:
A máquina a favor da humanização.
O ser humano deve usar a máquina a serviço do todo. O ser humano deve dominar a
máquina como deve dominar a si mesmo.
Quando entramos em contato com a bailarina ela enxergou na compoisição, um ciclo que se
ralaciona com a existência humana.
Parte1
Parte 2
Parte 3
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Projetos de Produção Musical: Trabalho de Conclusão e Curso novembro/2010
Parte 4
Levando em conta as duas leituras, pode-se concluir que enxergamos a máquina como uma
extensão do ser humano, que o domínio da máquina está diretamente relacionado com o domínio da
própria mente, do auto- controle.
É de grande importância que deixemos a interpretação a cargo de cada um, pois a criação artística
permite a experiência e interpretação individual.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Anseios surgidos na modernidade, sejam eles busca por novos timbres, novas combinações
harmônicas, novas fórmulas, perspectivas ou questionamentos permaneceram também dentro do
universo da arte sonora. Essa, por sua vez, tem em seu fundamento a imersão e interatividade. É
também presente em suas questões a busca do movimento como agente criador.
No caso de um espetáculo de dança, através de tecnogia, como o reactvision, é possível
expressar um reflexo sonoro dos movimentos em tempo real. Esse software possibilita, através de
uma câmera e figuras em movimento, interferências sonoras da maneira que o programador
especifique.
Em momento algum buscamos a tecnologia como foco do trabalho, mas como mediadora de
idéias desenvolvidas por mentes humanas, por anseios criativos.
No âmbito da arte sonora encontramos às vezes posturas radicais quanto ao fazer artístico e a
negação de um compositor musical que conceba uma obra fechada. Não nos cabe tomar partido,
mas sim buscarmos um intercâmbio entre música, dança, arte sonora, elementos visuais e narrativos
que possibilitem a criação de um trabalho rico e coerente.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS:
CAMPESATO, Lílian. Arte Sonora: Uma Metamorfose das Musas. Dissertação de Mestrado. São
Paulo, Universidade de São Paulo, 2007.
CARRASCO, Ney. SKYGKHRONOS. A formação da poética musical do cinema. São Paulo: Via
Lettera: FAPESP, 2003.
GRIFFITHS, Paul. A música moderna: uma história concisa e ilustrada de Debussy a Boulez. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
MORAES, J. Jota de. Música da Modernidade: origens da música do nosso tempo. São Paulo:
Brasiliense S.A., 1983.
SITES:
http://reactivision.sourceforge.net/
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