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FORMAÇÃO revista técnico-profissional o electricista

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José V. C. Matias
Licenciado em Engenharia Electrotécnica (IST)
Professor do Ensino Secundário Técnico

eletrotecnia básica INSTALAÇÕES ELÉTRICAS DE BAIXA TENSÃO

Neste número, continuamos o estudo dos circuitos elétricos de uma


Instalação de Utilização: derivação simples, comutação de lustre
e de escada, telerruptor e automático de escada. É ainda feito um
cálculo da queda de tensão máxima admissível nos circuitos.
(continuação da edição anterior)

13› CIRCUITOS ELÉTRICOS NAS 13.1› Derivação simples (comando simples de uma lâmpada)
INSTALAÇÕES DE UTILIZAÇÃO Este circuito permite ligar e desligar uma lâmpada ou um conjunto de lâmpadas, simultane-
Na Instalação de Utilização existe um con- amente, com uma só ação de ligar-desligar. Para isso, necessita de apenas um comutador
junto de circuitos elétricos básicos que simples, ou interruptor, com duas posições: ligado (ON) e desligado (OFF). As instalações de
são usuais pois permitem desempenhar as Domótica fazem o mesmo, atualmente, socorrendo-se de novas tecnologias, com comando
funções requeridas pela generalidade dos de infra-vermelhos (I.R.), radio-frequência (R.F.) ou por módulos emissores ligados direta-
utilizadores, relativamente à iluminação mente à rede elétrica – assunto que abordaremos mais adiante.
doméstica. Esses circuitos elétricos são de- Este circuito básico – derivação simples – é representado esquematicamente de diferentes
rivação simples (comando simples de uma formas. Na Figura 14 representamos três dos esquemas elétricos geralmente utilizados na
lâmpada); comutação de lustre; comutação representação esquemática de circuitos elétricos em instalações de Baixa Tensão.
de escada; telerruptor; automático de esca-
da, entre outros.
Ao projetar-se e executar-se qualquer des- ESQUEMA TEÓRICO ESQUEMA MULTIFILAR ESQUEMA UNIFILAR
tes circuitos elétricos, deve ter-se em conta
um conjunto de regras regulamentares, no-
meadamente:
› Atender às Influências Externas, na esco-
lha do equipamento e canalizações;
› Os troços das canalizações devem ser,
sempre que possível, horizontais e verti-
cais;
› Todos os condutores de um circuito devem
fazer parte da mesma canalização; Figura 14 . Comando simples de uma lâmpada: a) Esquema teórico ou funcional; b) Esquema multifilar;
› Em regra, na mesma canalização, só deve c) Esquema unifilar.
haver condutores de um circuito;
› Os comutadores não devem ficar tapados O esquema teórico é a representação esquemática mais simples e que nos permite compre-
pelas portas; ender rapidamente como funciona o circuito.
› Todos os circuitos devem ter condutor de O esquema multifilar é a representação esquemática mais completa, utilizando todos os
proteção; condutores do circuito, todos os equipamentos utilizados, suas ligações e trajetos bem defi-
› As canalizações devem, sempre que pos- nidos. É a representação mais aproximada da realidade, permitindo a sua interpretação mais
sível, ter troços horizontais e troços verti- correta e execução mais fácil (Figura 14b).
cais; O esquema unifilar é uma representação esquemática dos diferentes componentes do cir-
› O raio de curvatura dos tubos é função do cuito, a um só fio, isto é, um só fio representa todos os fios do circuito, sem se perder a
diâmetro D do tubo e deve ser: compreensão geral do seu funcionamento. Nesta representação, com um só fio, os diferentes
R ) 6 D - para canalizações em tubo rígido; condutores (fase, neutro e condutor de proteção) são indicados no esquema, utilizando sím-
R ) 3 D – para canalizações em tubo fle- bolos que são pequenos traços, com formatos diferentes, inclinados sobre os fios condutores
xível ou anelado. (tal como se representa na Figura 14c).
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No Quadro 19 é apresentada uma lista dos símbolos mais utilizados em Instalações Elétricas 13.2› Comutação de lustre
de Baixa Tensão. A comutação de lustre é um interruptor
duplo, isto é, permite ligar ora um conjunto
de lâmpadas, ora o outro conjunto de lâm-
padas, ora ambos os conjuntos de lâmpadas
Símbolo Designação Símbolo Designação
simultaneamente. A fase deve, por isso, ser
ligada ao contacto central do comutador. O
Contador de energia Ponto de luz na parede
comutador é utilizado, por exemplo, para
Caixa de derivação ligar candeeiros ou lustres que têm várias
Fusível (esquema unififalr) lâmpadas, de forma a podermos acender
apenas parte delas quando o desejarmos
Conjunto de 3 fusíveis Tomada monofásica
(Figura 15).

Caixa de derivação Tomada monofásica com terra

Interruptor com indicação 13.3› Comutação de escada (ou de


do número de polos Tomada para telecomunicações
quarto)
A comutação de escada consiste em ligar
Disjuntor Telefone de rede
uma lâmpada numa extremidade da esca-
Disjuntor com Tomada trifásica
da e apagá-la na outra e vice-versa ou ligar
proteção diferencial
numa extremidade de uma sala e apagar
Interruptor com Quadro elétrico na outra extremidade. O esquema utilizado
proteção diferencial
é semelhante ao da comutação de quar-
Seccionador fusível Elétrodo de terra to ou de um corredor. Estes comutadores
confundem-se, exteriormente, com os in-
Botão de pressão normal Campaínha terruptores; interiormente são, no entanto,
diferentes porque possuem três terminais
Interruptor simples Transformador necessários às ligações, conforme se verifi-
ca na Figura 16.
Interruptor com sinalização Ponto de luz para
lâmpadas fluorescentes

Comutador de lustre Ligador de massa 13.4› Circuito de iluminação coman-


dado por telerruptor
Comutador de escada Sirene O telerruptor é um aparelho de comando
que permite ligar e desligar um dado cir-
Ponto de luz no teto Besouro cuito elétrico, pressionando o mesmo bo-
tão sucessivamente, isto é: prime-se uma
Quadro 19 . Simbologia de Instalações Elétricas. vez, o circuito liga; prime-se novamente, o
circuito desliga; e assim, sucessivamente. O
telerruptor é constituído por uma engrena-
gem, em que a sua bobina varia entre dois
estados que são o de alimentada e de desa-
ESQUEMA TEÓRICO ESQUEMA MULTIFILAR ESQUEMA UNIFILAR
limentada, sucessivamente, por cada pres-
são do mesmo botão ou de outro botão em
paralelo.
O telerruptor veio substituir com muita van-
tagem a ‘comutação de escada, com inver-
são’, poupando material e permitindo ligar
e desligar do mesmo local. É utilizado nos
corredores, nas escadas, no hall dos prédios,
e outros (Figura 17).

Figura 15 . Comutação de lustre: a) Esquema teórico; b) Esquema multifilar; c) Esquema unifilar.


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deixa de ser consumida. Numa derivação


ESQUEMA TEÓRICO ESQUEMA MULTIFILAR ESQUEMA UNIFILAR
simples, numa comutação de lustre ou de
escada ou num telerruptor as lâmpadas po-
dem ficar acesas, inadvertidamente; com o
automático de escada, não ficam acesas. O
automático de escada é, por isso, utilizado
nas escadas dos prédios, nas garagens, em
corredores, entre outros.
Veremos, mais adiante, que utilizando sen-
sores, o automático de escada é dispensa-
do e os circuitos de iluminação só estarão
Figura 16 . Comutação de escada: a) Esquema teórico; b) Esquema multifilar; c) Esquema unifilar.
ligados durante o tempo necessário e su-
ficiente, isto é, enquanto houver pessoas
presentes no local. Recordamos novamen-
ESQUEMA TEÓRICO ESQUEMA MULTIFILAR te que o comando destes circuitos básicos
de iluminação é feito atualmente, no âmbi-
to da Domótica, utilizando comandos por
infra-vermelhos (IR) e por radio-frequência
(RF), de uma forma mais cómoda, embo-
ra mais onerosa. Mais tarde, abordaremos
este tema.

14› QUEDAS DE TENSÃO ADMISSÍVEIS


A escolha da secção dos condutores a uti-
lizar nos circuitos elétricos, seja de habita-
Figura 17 . Comando de iluminação por telerruptor. a) Esquema teórico; b) Esquema multifilar. ção ou não, está condicionada pela queda
de tensão que se verificar nos condutores.
Isto é, depois de verificarmos que a inten-
13.5› Circuito de iluminação com automático de escada sidade admissível pela secção S é maior do
O automático de escada permite que as lâmpadas respetivas se apaguem, automaticamen- que a corrente de serviço, temos também
te, ao fim de algum tempo, isto é, temporizadamente. A temporização é definida por nós. Esta de verificar se a corrente que percorre o
temporização é feita de diversas formas, nomeadamente: através de um sistema pneumáti- condutor provoca uma queda de tensão
co, uma bilâmina (térmica), um mecanismo de relojoaria, e outros. O automático de escada dentro dos limites permitidos pela regula-
vem substituir, geralmente com vantagem, a comutação de escada e a comutação de escada mentação elétrica. As RTIEBT definem que
com inversão, economizando em material utilizado, mas fundamentalmente na energia que as quedas de tensão máximas admissí-
veis numa I.U., para circuitos de iluminação
e para circuitos de outros usos (tomadas,
climatização ambiente, máquinas de lavar,
ESQUEMA TEÓRICO ESQUEMA MULTIFILAR entre outros), são:
› Circuitos de iluminação: 3%;
› Outros usos: 5%.

Com efeito, em circuitos elétricos com gran-


de extensão de fio condutor, pode dar-se o
caso de a queda de tensão na extremidade
mais a jusante do fio ser superior a 3%,
em circuitos de iluminação, ou superior a
5%, em circuitos de outros usos. Por essa
razão, sempre que tivermos dúvidas, deve-
mos confirmar, fazendo um cálculo simples.
Figura 17 . Automático de escada: a) Esquema teórico; b) Esquema multifilar. Vejamos como!
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A queda de tensão num circuito monofásico, em voltes ou em percentagem, é calculada No Exemplo 2, a queda de tensão ultrapas-
pelas expressões: sa o valor máximo de 3% exigido para cir-
cuitos de iluminação, pelo que teríamos de
  aumentar a secção para 2,5 mm2, ou então
reduzir o número de pontos de utilização
neste circuito.
Exemplo 1 – Supondo um circuito de iluminação, em cobre, com condutores de secção Para circuitos de outros usos, como to-
S = 1,5 mm2, com a extensão máxima L = 15 m, percorridos pela corrente máxima de 10 A madas, climatização ambiente, máquinas
(cos = 1) e considerando, por hipótese, que a carga estava toda concentrada na extremida- de lavar ou secar, entre outros, os cálculos
de a jusante (para facilitar os cálculos), teríamos: seriam semelhantes, agora com a secção
mínima de 2,5 mm2 e uma queda de tensão
máxima de 5%. O fator de potência (cos )
  será igual a 1 para circuitos de iluminação e
aproximadamente 0,8 para os circuitos das
 máquinas de lavar e de secar dos circuitos
(respeita as RTIEBT, pois 6U% < 3%) independentes.

Exemplo 2 – Se o circuito anterior tivesse uma extensão de 35 metros, teríamos:

 

(continua na próxima edição)
(não respeita as RTIEBT, pois 6U% > 3%)
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