9ª aula

COERÊNCIA TEXTUAL: ELIMINANDO CONTRADIÇÕES

Responsável por constituir os sentidos do texto, a coerência não é apresentada

como meros traços dos textos, mas, sim, como o resultado de uma complexa rede de
fatores de ordem linguística, cognitiva e interacional. Assim, a simples justaposição de
situações em um texto pode não ativar operações que criam relações de coerência.
A coerência, portanto, faz com que o texto adquira sentido para os usuários da
língua, e este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global.
Então, para que haja coerência, é necessário também que haja a possibilidade de
estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos.

Qual seria a diferença estabelecida entre coesão e coerência textual?

A coerência se refere ao(s) sentido(s) de um texto. Já a coesão está relacionada

aos mecanismos gramaticais e lexicais responsáveis pela articulação entre os elementos
da estrutura linguística de um texto.

Retomando, a coerência não é mera qualidade ou propriedade do texto, mas se

constrói na interação entre o texto e seus usuários em cada situação concreta de
interação. Se eu disser:

Adoro pad thai. Fui à Tailândia!

Você entende o que eu quis dizer?

Pad thai é uma comida típica da Tailândia, que é feita com omelete, camarão,
talharim de arroz frito, amendoim, tamarindo e outros temperos. Assim, é possível
atribuir sentido à frase se o leitor souber que ela foi dita em um determinado contexto.
Por isso, pense sempre naqueles elementos da comunicação que estudamos no
início das aulas:
- o remetente da mensagem tem a mesma vivência que você?
- a mensagem carrega elementos subjetivos?
- você, como transmissor da mensagem, precisa detalhar algo implícito?
 A falta de coerência também torna difícil seguir a lógica das ideias apresentadas,
resultando em um texto fragmentado e confuso. Temos aqui um exemplo:

O cão correu pelo gramado. Comprei um livro novo na livraria. Ontem, assisti a um
filme interessante. Minha avó faz os melhores bolos. Os carros na rua estavam
engarrafados. Banana é uma fruta rica em potássio.

Níveis em que a coerência precisa ser observada

1. Coerência narrativa

Refere-se à consistência na narrativa, assegurando que a sequência de eventos e

a lógica das ações façam sentido.
• Exemplo:
"Maria acordou cedo, preparou o café da manhã e foi para o trabalho. No entanto, no
meio do caminho, lembrou-se de que era feriado e que não precisava trabalhar. Assim,
voltou para casa e aproveitou o dia de folga."

2. Coerência figurativa

Refere-se à consistência no uso de metáforas, comparações e imagens ao longo

do texto.
• Exemplo:
"Seu sorriso era como o sol, iluminando todo o ambiente e trazendo calor aos corações."
Nesse caso, a coerência figurativa está presente ao manter a comparação entre o
sorriso e o sol ao longo da descrição.

3. Coerência argumentativa

Refere-se à consistência na apresentação de argumentos e informações,

garantindo que as ideias se conectem de maneira lógica e persuasiva.
• Exemplo:
"A prática regular de exercícios físicos traz inúmeros benefícios à saúde. Além de
fortalecer o sistema cardiovascular, contribui para a manutenção do peso ideal e
melhora o estado emocional. Portanto, é essencial incorporar atividades físicas à rotina
diária."
Nesse exemplo, a coerência argumentativa é mantida ao apresentar argumentos
que se conectam e levam à conclusão de que a prática de exercícios é essencial para a
saúde.
Além disso, alguns autores, como Martino (2023, p.141), estabelecem que a
coerência pode ser analisada de várias maneiras, abrangendo diferentes aspectos:

Coerência Semântica:
Refere-se à relação entre os significados dos elementos em frases consecutivas
(coerência local, que se refere a partes do texto, a frases ou a sequências de frases dentro do
texto) ou entre os elementos do texto como um todo (coerência global). O respeito ou
desrespeito às relações de sentido entre os termos também está ligado à coerência
semântica.

Coerência Sintática:
Diz respeito aos meios sintáticos para expressar a coerência semântica, como o
uso de pronomes, conectivos entre outros. A coerência sintática é, assim, um aspecto da
coesão que auxilia no estabelecimento da coerência.

Coerência Estilística:
Refere-se ao uso de elementos linguísticos, como vocabulário, estruturas de
frase, entre outros, pertencentes ao mesmo estilo ou registro linguístico. Por exemplo, o
uso de gírias em contextos acadêmicos, especialmente orais, geralmente é precedido por
ressalvas, enquanto o uso de palavras consideradas "reprováveis" em conversas
"polidas" normalmente vem acompanhado de um "com o perdão da palavra".

Coerência Pragmática:
Enxerga o texto como uma sequência de atos de fala relacionados de maneira a
satisfazer as condições presentes em uma dada situação comunicativa para que a
sequência seja percebida como apropriada.

A coerência, portanto, confere textura ou textualidade à sequência linguística,

transformando-a em texto.
 Para saber mais, leia o capítulo 8 do livro:

MARTINO, Agnaldo. Português: gramática, interpretação de texto, redação oficial,

redação discursiva. (Coleção Esquematizado®). [Digite o Local da Editora]: Editora
Saraiva, 2023. E-book. ISBN 9786553628199. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553628199/. Acesso em: 31 jan.
2024.

Para produzir bons textos, o que mais preciso fazer?

Existem quatro regras fundamentais que um texto coerente deve apresentar:

- Repetição:
Diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do discurso. Um
texto coerente tem unidade, já que nele há a permanência de elementos constantes no
seu desenvolvimento.

- Progressão:
No plano da coerência, percebe-se a progressão pela soma das ideias novas às
que são já tratadas.

- Não-contradição:
Um texto precisa respeitar princípios lógicos elementares. Não pode afirmar A e
o contrário de A. Suas ocorrências não podem se contradizer, devem ser compatíveis
entre si e com o mundo a que se referem, já que o mundo textual tem que ser compatível
com o mundo que representa.

- Relação:
A relação em um texto refere-se à forma como seus conceitos se encadeiam,
como se organizam, que papeis exercem uns em relação aos outros. As relações entre os
fatos têm que estar presentes e ser pertinentes.

Para saber mais, leia o livro:

MENDES, Andréia A.; BIZELLO, Aline; BSTISTA, Leonardo M.; et al. Linguística
textual e ensino. [Digite o Local da Editora]: Grupo A, 2020. E-book. ISBN
9786581492670. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786581492670/. Acesso em: 30 jan.
2024.