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METROSUL IV – IV Congresso Latino-Americano de Metrologia

”A METROLOGIA E A COMPETITIVIDADE NO MERCADO GLOBALIZADO”


09 a 12 de Novembro, 2004, Foz do Iguaçu, Parná – BRASIL
Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios

SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO E FERRAMENTAS


PARA AVALIAÇÃO DA INCERTEZA DE MEDIÇÃO

M.Sc. Wagner R. Landgraf1; M.Sc. Charles R. Stempniak1


1
AUTOMA Consultoria & Informática Ltda
Curitiba – Paraná – Brasil

Resumo: Muitos méritos são creditados ao Guia uma medição é sistematicamente tratado pelo Guia
para Expressão da Incerteza de Medição – GUM - Para Expressão da Incerteza de Medição [1], aceito
por sua aplicabilidade quase universal na expressão e conhecido internacionalmente como GUM. Esta
da incerteza de medição, mas ele também abordagem faz parte também dos requisitos de
apresenta limitações de aplicação, as quais podem muitos documentos da qualidade como a ISO/IEC
ser encontradas em seu próprio texto. Estas 17025[2], EURACHEM/CITAC [3], EA-4/02 [4],
restrições de aplicabilidade podem levar a erros dentre muitos outros.
numéricos no resultado da medição e são até
O resultado de uma medição deve fornecer uma
bastante comuns em diversas áreas de ensaios.
estimativa realista para uma determinada grandeza
Desde sua publicação em 1995, muito foi avançado
específica (mensurando), com um nível de confiança
no campo teórico e na prática dos conceitos
(probabilidade de abrangência [5]) conhecido. Este
envolvendo incerteza de medição e técnicas mais
resultado deve fornecer uma aproximação do valor
específicas para determinados tipos de problemas
verdadeiro da grandeza (média obtida em uma
têm sido desenvolvidas. Publicações internacionais
situação particular de medição) e deve incluir sua
têm apontado para uma nova edição do consagrado
incerteza de medição, que representa
guia, onde métodos alternativos serão também
quantitativamente a dúvida inerente à determinação
abordados. Um desses métodos baseia-se em
desta grandeza [1].
Simulação de Monte de Carlo (MCS), muito usado
em várias disciplinas, bem antes do GUM. O MCS Medir e expressar este resultado, corretamente,
está livre da maioria das limitações do GUM e pode constitui o objetivo principal de toda calibração ou
ser empregado alternativamente para validar o ensaio.
modelo de cálculo original, além de poder ser
A abordagem do GUM, compilada primeiramente no
utilizado no lugar do GUM, conforme ele mesmo
adianta. No entanto, métodos MCS requerem início dos anos 90, proporcionou uma padronização
intensivo processamento numérico, o qual somente na forma de tratar o resultado das medições em
todo o mundo. Porém, sua aplicação não é uma
é viável através de um software dedicado para este
tarefa simples. A interpretação do GUM e sua
tipo de aplicação. Este artigo discute as limitações
correta aplicação requerem preparo técnico
do GUM, vantagens no uso de MCS e um software
que pode lidar com essas duas abordagens, especializado. Além disso, a própria abordagem do
especificamente para aplicações em ensaios e GUM está sujeita a considerações de aplicabilidade
que podem trazer limitações em determinadas
calibrações.
situações e propiciar dúvidas de interpretação,
Palavras chave: Simulação de Monte Carlo, levando até a resultados de medição incorretos [6].
Incerteza de Medição, ISO GUM Como conseqüência, sérios problemas podem ser
causados por tais resultados incorretos, ao longo de
sua cadeia de aplicações (por exemplo, na
1. INTRODUÇÃO
especificação, no desempenho ou no controle de
Resultados de medições são informações qualidade de um produto dependente daquele
decorrentes dos trabalhos feitos nos laboratórios de resultado) e fatalmente levarão a problemas para o
calibração e ensaios. Também são necessários na emissor do resultado quando auditado.
maioria dos trabalhos de pesquisa e
Para evitar esses problemas, os envolvidos devem
desenvolvimento ou no controle de qualidade de
compreender a abordagem do GUM, para poder
processos e produtos na indústria. O resultado de
validar os cálculos e os resultados com ela obtidos.
Esse cuidado pode ser realizado através do uso de software especializada. Se o software puder ser
técnicas para determinar parâmetros da modelagem validado e dispuser de recursos específicos para
do sistema de medição, que possam indicar sua cuidar da abordagem do GUM e também da
correta modelagem e a confiabilidade de seus abordagem por MCS, ele pode então efetivar a
resultados. O uso de uma abordagem recomendada solução do problema apresentado, de forma eficaz.
para cálculo, alternativa ao GUM, pode determinar
indicadores que permitem validar a abordagem do
2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA
GUM e também pode ser mais adequada no lugar
DO ISO GUM
desse, quando a primeira abordagem for
comprovadamente menos confiável que a segunda. A determinação de um resultado de medição
Esta abordagem alternativa pode ser a de começa com a modelagem do próprio sistema de
Simulação de Monte Carlo (MCS), que está sendo medição. Este modelo deve relacionar a grandeza
muito empregada em ciências econômicas para de saída (resultado da medição) com as grandezas
análise de riscos, e também em muitas outras áreas, de entrada que são significativas. A modelagem
desde meados do século XX, com a era da deve formular um equacionamento matemático onde
computação. as estimativas das grandezas de influência são
representadas por variáveis (símbolos
Cox e Harris [6] indicam que esta técnica é útil para
matemáticos).
validar a abordagem do GUM e apontam para uma
nova versão deste consagrado guia, que A Figura 1 ilustra o procedimento para determinação
contemplará técnicas de MCS. do resultado de uma medição, segundo a
Contudo, a abordagem do guia e, mais ainda, a abordagem do GUM.
abordagem por MCS, requerem numerosos Na maioria dos casos o mensurando Y não é
cômputos matemáticos. Essa computação pode ser medido diretamente, mas é determinado a partir de
convenientemente realizada com a ajuda de N outras grandezas X1, X2, ..., XN, através de uma
algoritmos de computador, em uma ferramenta de

Entradas → Modelo Estimativas x Incertezas Graus de Probabilidade


Y=f(X) das grandezas padronizadas u de x liberdade ν de abrangência
de entrada X associados a x desejada

Coeficientes de
sensibilidade
c = ∂Y/∂x

Incerteza padrão
combinada uc(y)

Graus de liberdade
efetivos νeff

Modelo avaliado nas estimativas Fator de abrangência kp


das grandezas de entrada y=f(x)

Incerteza Expandida U(y)

Intervalo de
Saída → abrangência
y ± U(y)

Fig. 1. Determinação do resultado de uma medição usando a metodologia do GUM.


relação funcional f [1]: associados a cada uma das estimativas de
entrada xi.
Y = f( X1, X2,..., XN) (1)
g) Cálculo do fator de abrangência k
(tipicamente na faixa de 2 a 3) é obtido da
O GUM comenta na cláusula 4.1.2 que as distribuição t-Student, a partir dos graus de
grandezas de entrada podem elas mesmas, ser
liberdade efetivos νeff da incerteza
consideradas como mensurandos e depender de
combinada uc(y). Os quais são calculados
outras grandezas, incluindo correções para efeitos
pela fórmula de Welch-Satterthwaite a partir
sistemáticos, levando a relações funcionais muito
das incertezas padrão u(xi), da incerteza
complicadas, que não podem ser escritas
combinada uc(y), dos graus de liberdade
explicitamente. A relação f pode também ser
associados a cada uma das estimativas xi e
determinada analiticamente a partir de modelos
da probabilidade de abrangência p
teóricos ou experimentalmente (como através do
estipulada.
levantamento de curvas estatísticas, como as de
mínimos quadrados). Quando a relação não é h) Cálculo da incerteza expandida U e
explícita, pode ser resolvida através de um algoritmo expressão do intervalo de abrangência
computacional (métodos numéricos). determinado para o mensurando Y. A partir
da relação U=k.uc(y). O intervalo de
O GUM é mais específico para modelos explícitos,
abrangência compreende valores que
onde apenas uma estimativa de saída, de variáveis
podem, razoavelmente, ser atribuídos ao
reais, é formulada. Outros modelos são menos
mensurando entre y-U até y+U.
freqüentes, como os de múltiplas saídas
correlacionadas, de variáveis complexas ou de
funções implícitas, não sendo detalhados
Como esta abordagem baseia-se na lei de
exaustivamente pelo GUM. Cox e Harris [6] também
propagação de incertezas, ela requer algumas
indicam que uma versão futura do GUM pode
considerações de aplicabilidade, como descrito
contemplar todas essas categorias de modelos.
abaixo:
As seguintes etapas de cálculo devem ser seguidas
a) Linearidade do modelo – “Se a relação
até a expressão do resultado da medição:
funcional entre Y e suas grandezas de
a) Determinação das estimativas xi para as entrada é não-linear e se uma expressão de
grandezas de entrada Xi, a partir de análise primeira ordem da série de Taylor da
estatística de observações ou por outros relação não for uma aproximação aceitável,
meios; então a distribuição de probabilidade de Y
não pode ser obtida pela convolução das
b) Determinação dos coeficientes de
grandezas de entrada. Em tais casos, outros
sensibilidade de cada uma das
métodos numéricos ou analíticos são
contribuições xi, a partir das derivadas
requeridos”[1]. Ou seja, a lei de propagação
parciais do modelo em relação a cada uma
de incertezas, na qual se baseia o GUM,
de suas variáveis de entrada;
pode tornar-se inapropriada quando o
c) Determinação das incertezas padrão u(xi) mensurando não puder ser representado
associadas a cada estimativa xi. A partir das adequadamente por uma função linear
distribuições estatísticas das variáveis como:
aleatórias xi. Essa determinação pode ser
do Tipo A (através de métodos estatísticos) Y = c1X1 + x2X2 + ... + xNXN, (2)
ou do Tipo B (através de julgamento
científico); Onde ci é o coeficiente de sensibilidade
linear da variável Xi.
d) Determinação das covariâncias u(x1,x2), ou
dos fatores de correlação r(x1,x2), Modelos envolvendo polinômios de ordem
associados a todos os pares de estimativas superior a 1, funções logarítmicas,
que sejam correlacionadas; exponenciais e trigonométricas ou
quocientes são alguns exemplos de funções
e) Cálculo da estimativa y do mensurando Y, a
que apresentam não-linearidades.
partir da relação funcional f, utilizando como
grandezas de entrada Xi as estimativas xi; b) Normalidade da distribuição resultante – “A
avaliação da incerteza expandida dada aqui
f) Cálculo da incerteza padrão combinada
(...) é somente uma aproximação e tem suas
uc(y) associada à estimativa y, usando a lei
limitações. A distribuição de (y-Y)/uc(y) é
de propagação de incertezas, a partir das
dada pela distribuição t-Student somente se
incertezas padrão, dos fatores de correlação
a distribuição de Y é normal, se a estimativa
e dos coeficientes de sensibilidade
y e sua incerteza padrão combinada uc(y)
são independentes e se a distribuição de modelo. Castrup [7] discute algumas
2
2
uc (y) é uma distribuição χ ”. A normalidade distribuições comuns para incertezas de
de que depende esta abordagem é medição e cita algumas de suas principais
assegurada fundamentalmente pelo aplicações;
Teorema Central do Limite, para muitas
c) Documentar detalhadamente todo o roteiro
medições práticas, devido a: (1) a estimativa
de cálculo, descrevendo todas as
do mensurando ser obtida de um número
simplificações e considerações particulares
significativo de grandezas de entrada, cujas
que são realizadas através do julgamento
distribuições são em geral simétricas; (2) as
científico do metrologista;
incertezas padrão de entrada contribuírem
com quantidades comparáveis entre si; (3) a
aproximação linear do modelo ser, em geral,
Algumas etapas na determinação de resultados de
aceitável; e (4) a incerteza combinada ser
uma medição são mais propensas a erros,
relativamente pequena devido a seus graus
merecendo maior atenção. Alguns erros comuns
de liberdade efetivos possuírem uma
neste processo são:
magnitude, geralmente, maior que 10 [1].
a) Equacionamento da função matemática que
Modelos de medição com contribuições de
representa o mensurando omitindo
incerteza assimétricas, relações não-
contribuições de influência que são
lineares, incertezas não-normais dominantes
significativas;
(quando uma ou mais retangulares são
significativamente maiores que as demais, b) Grandezas de influência sendo
por exemplo) e forte dependência entre representadas por distribuições
variáveis de entrada (correlações inadequadas. Uma atitude conservadora
significativas), são situações que merecem muito comum é o uso indiscriminado de
cuidados matemáticos especiais na distribuições uniformes (retangulares) no
modelagem do resultado, quando lugar das distribuições mais realistas para
submetidos à abordagem do GUM. determinadas variáveis aleatórias de
influência;
3. PRINCIPAIS CUIDADOS NA MODELAGEM DO c) Emprego de dados obtidos de tabelas, sem
RESULTADO a respectiva informação de incerteza
associada a cada valor numérico transcrito;
O GUM enfatiza que a incerteza de medição deve
ser realista, ou seja, nem subestimada, nem d) Incorreta interpretação de dados obtidos dos
superestimada. E embora ele forneça um conjunto manuais dos fabricantes ou de certificados.
de técnicas para avaliar o resultado da medição e Por exemplo: existe confusão entre valores
suas incertezas, o senso crítico, o conhecimento e de limite de erro com valores de incerteza
experiência do profissional de metrologia são padrão, também causa confusão
fundamentais para a determinação do resultado especificações de resolução ou precisão
correto de uma medição. Algumas recomendações com incerteza de medição;
práticas podem ser destacadas, para orientar a
e) Negligência ou erro na avaliação dos
modelagem de calibrações ou ensaios:
coeficientes de sensibilidade do modelo;
a) Partir de um modelo conceitual do sistema
f) Desconhecimento e negligência sobre
de medição, que esteja bem documentado e
eventuais correlações existentes entre as
que seja reconhecidamente aplicável a um
variáveis de entrada, sendo consideradas,
dado processo de medição. É interessante
em geral, todas não correlacionadas;
partir de modelos que levem em conta o
maior número de grandezas de influência, g) Razão de proporcionalidade de incertezas
para depois simplificá-lo a partir de (TUR) insuficiente entre o mensurando e o
considerações particulares da medição. O padrão, revelando sistemas de medição
EURACHEM/CITAC [2] apresenta uma lista incompatíveis com a exatidão do
de grandezas de influência que podem estar mensurando;
presentes em muitos ensaios. Exemplos de
h) Excesso de arredondamentos em cálculos
aplicação do GUM [1], suplementos do EA-
intermediários e também no resultado final,
4/02 [4] e o trabalho de Link [10], trazem
que não é levado em conta na determinação
modelos de sistemas de medição,
do intervalo de abrangência do resultado;
explicando suas grandezas de influência e
considerações práticas;
b) Atribuir distribuições de probabilidade
realistas para as grandezas de influência do
c) Derivadas parciais de ordem superior – A
4. TÉCNICAS PARA VALIDAÇÃO DO MODELO derivação parcial de segunda ordem do
modelo matemático da medição, em relação
É comum a determinação de resultados de a cada uma de suas variáveis de entrada,
medições que apresentam incorreções e que às
conduz a uma avaliação quantitativa
vezes são detectadas somente em eventuais
individual de não linearidades do
auditorias, ou então que raramente são detectadas.
mensurando. Modelos lineares apresentam
Usuários de calibrações e ensaios, muitas vezes,
todos os coeficientes de segunda ordem
trocam de fornecedor devido a não-conformidades nulos. Coeficientes não nulos quantificam a
obtidas em processos que empregaram resultados influência de segunda ordem que as
incorretos, fornecidos em certificados de calibração.
respectivas variáveis de entrada introduzem
Mas de modo geral, os laboratórios não utilizam
na estimativa de saída.
meios eficientes para verificar os resultados das
medições, antes que as conseqüências do erro d) Análise de influências dominantes –
sejam notadas tardiamente. Multiplicando-se as incertezas padrão pelos
respectivos coeficientes de sensibilidade,
Entretanto, é possível sistematizar e mesmo obtém-se as contribuições de incerteza
automatizar o processo de determinação dos
padrão associadas a cada variável.
resultados de uma medição. Podem-se empregar
Tomando estas contribuições ao quadrado e
técnicas matemáticas e computacionais que
dividindo-se pela incerteza padrão
forneçam indicadores precisos sobre a validade dos
combinada ao quadrado, obtém-se um
resultados da medição. A seguir são descritas índice que revela o quanto cada variável
algumas técnicas úteis para isso: influencia na incerteza resultante.
a) Rastreabilidade dos cálculos – consiste no Ordenando estas contribuições segundo sua
registro sistemático de todos os cômputos magnitude e apresentando-as em um
realizados para a determinação do gráfico de barras, obtém-se um diagrama
mensurando. Para ser confiável, esse conhecido como gráfico de Pareto, que é útil
registro deve ser realizado para identificar influências dominantes. A
automaticamente, com base nas operações presença de contribuições não-normais
que o usuário realiza seqüencialmente (com distribuições retangulares, por
desde a formulação do modelo da medição exemplo) dominantes no modelo, indica que
até a expressão dos resultados. Este a distribuição resultante tem maior
registro permite que o metrologista possa probabilidade de ser não-normal, o que
conferir toda a extensa seqüência de tornaria a avaliação da incerteza expandida
cômputos que foram realizadas. Contudo e o intervalo de abrangência da estimativa
este registro deve ser montado de forma de saída mais propensas à erros, pela
organizada, para que o trabalho de abordagem do GUM.
verificação seja confortável (fácil e rápido) e
e) Determinação numérica da distribuição
livre de interpretações ambíguas; resultante – Aplicando-se o método de
b) Razão de proporcionalidade de incertezas – Simulação de Monte Carlo (MCS) para
TUR (Test Uncertainty Ratio) – é um determinar a distribuição do mensurando, a
indicador quantitativo que representa a partir das distribuições das variáveis de
qualidade do sistema de medição, isto é, entrada, obtém-se a representação gráfica
quantas vezes o sistema de medição padrão aproximada da distribuição do mensurando
é melhor que o mensurando, em termos de e também dados de onde se podem extrair
incerteza. Esta razão é obtida diretamente estatísticas interessantes como a estimativa
pela divisão entre a incerteza padrão do da média, a incerteza padrão combinada e o
objeto da medição e a incerteza combinada intervalo de abrangência do mensurando.
dos padrões de medição. O numerador Quanto maior o número de simulações e
pode ser, por exemplo, o limite de erro ou a melhor o algoritmo computacional utilizado,
classe de exatidão especificada pelo maior exatidão se obtém das informações
fabricante do equipamento em teste, determinadas por este método. Como ele
devidamente convertidos na forma de um está livre das limitações e considerações de
desvio padrão. O uso do TUR é aplicabilidade apresentadas pela
recomendado por alguns documentos da abordagem aproximativa da lei de
qualidade como NBR 10012 [8], devendo propagação de incertezas, este método
ser geralmente maior que 2 ou 3. Maftoum pode ser usado para validar os resultados
[9] discute detalhadamente a aplicação do finais obtidos pelo GUM. A seção seguinte
TUR como indicador da qualidade em um descreve melhor a aplicação do MCS para
processo de medição; cálculo de incertezas.
5. O MÉTODO DE SIMULAÇÃO DE MONTE saída que vai de y-U até y+U da abordagem do
CARLO GUM.
As informações de entrada para aplicação do Quando correlações estão presentes entre
método da MCS são quase as mesmas usadas na distribuições de entrada (distribuições conjuntas),
abordagem do GUM, ou seja, parte-se de um utilizam-se transformações convenientes sobre os
modelo matemático descrevendo o mensurando a vetores de amostras aleatórias, para sintetizar os
partir das variáveis de entrada e de suas coeficientes de correlação estipulados (a partir de
informações estatísticas. A diferença fundamental é uma matriz de correlações, pode-se empregar a
que as informações estatísticas de entrada usadas transformada de Cholesky para obter amostras
no GUM são basicamente a média, desvio padrão e pseudo-aleatórias correlacionadas [12]).
graus de liberdade de cada distribuição de incerteza
A figura 2 ilustra a seqüência de operações
(Tipo A ou Tipo B), já na MCS as próprias funções
necessária para a aplicação do MCS.
densidade de probabilidade das distribuições de
entrada é que são utilizadas, fornecendo As considerações sobre distribuições assimétricas
informações mais completas sobre as distribuições para as variáveis de entrada, modelos não-lineares,
de entrada [11]. Na abordagem do GUM, as contribuições dominantes, correlações entre
distribuições de entrada são combinadas em termos variáveis de entrada, normalidade da estimativa de
de desvios padrão, produzindo uma incerteza saída e a aplicabilidade da fórmula de Welch-
combinada onde é esperado um formato gaussiano Satterthwaite são todas irrelevantes para a MCS.
de distribuição (ou t-Student quando os graus de Contudo, sua exatidão irá depender dos seguintes
liberdade efetivos forem finitos). Na MCS, o formato fatores:
da distribuição de saída será obtido da avaliação do
a) Número N de simulações realizadas, que
modelo matemático sobre amostras aleatórias das
deve ser, em geral, bastante grande para
variáveis de entrada, respeitando suas respectivas
promover resultados com pelo menos 2
distribuições estatísticas. O método avalia o modelo
N vezes, em cada avaliação (simulação) um valor algarismos significativos de precisão (50 mil
aleatório possível para o mensurando é obtido. A simulações é um número citado em algumas
partir das N amostras obtidas para o mensurando, referências como sendo adequado [11]);
calcula-se a média, desvio padrão e também os b) Qualidade do algoritmo, principalmente em
limites do intervalo de abrangência para o relação à qualidade dos geradores de
mensurando, o qual corresponderia ao intervalo de números pseudo-aleatórios empregado;

Modelo Funções densidade de Número M de extrações Probabilidade


Entradas → Y=f(X) probabilidade g(X) aleatórias para a simulação de abrangência
de Monte Carlo desejada p

M amostras x1,...,xM
de x a partir de g(x)

M avaliações da estimativa de saída


y=(y1,...,yM)={ f(x1),..., f(xM) }

M avaliações ordenadas
da estimativa de saída
y1,...,yM

Intervalo de
Saída → abrangência
[y(1-p)M/2, y(1+p)M/2]

Fig. 2. Determinação do resultado de uma medição usando a metodologia da MCS.


Comparando-se quantitativamente os intervalos de Utilizando software dedicado às áreas de ensaio e
abrangência obtidos com o GUM e com a MCS, calibração, pode-se identificar facilmente os
pode-se determinar, de forma objetiva, se a primeira seguintes benefícios para os laboratórios:
abordagem é válida para o sistema de medição. Se
a) Aumento na produtividade, devido à
os resultados são compatíveis, pode-se confiar nos
automação dos processos técnicos, e de
resultados obtidos conforme metodologia do guia.
gestão (quando a ferramenta de software for
Em caso contrário, pode-se refinar o tratamento
abrangente);
matemático usando recomendações do próprio
GUM, mas também é permitido utilizar diretamente b) Aumento na confiabilidade dos resultados,
os resultados obtidos do método MCS, conforme o facilitando auditorias e o credenciamento de
próprio GUM alude em G.1.5. ensaios ou do próprio laboratório, pela
aplicação automática das técnicas descritas
aqui e por empregar metodologias já
6. USO DE SOFTWARE COMO FERRAMENTA
validadas para determinação dos resultados
PARA A DETERMINAÇÃO DOS RESULTADOS
de medição;
DE MEDIÇÃO
c) Aumento da competitividade do laboratório,
A utilização de software em metrologia é justificada
pela redução de custos, aumento da
não somente para assegurar a qualidade dos
flexibilidade para trabalhar com métodos de
resultados da medição, mas também porque a
medição variados, redução das incertezas
determinação desses resultados é uma tarefa que
de medição, facilidades gerenciais para
requer muitos cômputos, em geral, bastante
tomada de decisão, dentre outros inúmeros
complicados para serem realizados manualmente.
aspectos positivos que podem ser
O uso de software em metrologia vem sendo cada alcançados, quando a ferramenta de
vez mais recomendado e tratado diretamente pelas software for abrangente e especializada.
normas pertinentes a ensaios e calibrações. Muitos
trabalhos do NPL (National Physicalish Laboratory,
no Reindo Unido) têm sido voltados para esse
assunto, destacando o programa SSfM (Software
Support for Metrology).

Fig. 3. Orçamento de incertezas usando a metodologia do GUM, incluindo teste de conformidade, gráfico de
.
Pareto das contribuições de influência e análise do TUR no Autolab
O uso de planilhas eletrônicas, como Ms-Excel, é ferramentas apresentadas aqui. Atualmente, mais
bastante comum por ser o meio mais fácil e barato de cem usuários no Brasil calculam resultados de
para lidar com a matemática por trás das medições, medições usando o AUTOLAB, em inúmeras áreas
já que essas são ferramentas generalistas e da metrologia, confirmando a validade das técnicas
flexíveis, o bastante para serem programadas pelos aqui descritas.
próprios usuários. No entanto, essas ferramentas
A figuras 3 e 4 apresentam resultados obtidos neste
não são feitas especificamente para tratar de
software. Na figura 4 se pode constatar a não-
ensaios ou calibrações. O uso de software
linearidade no mensurando, fazendo a distribuição
especializado para metrologia incluindo métodos de
(em vermelho) ficar assimétrica em relação à média.
medição validados, traz inúmeras vantagens sobre
A distribuição determinada pelo MCS mostra-se não
as planilhas construídas a mão, destacando as
muito próxima da t-Student do GUM (em azul).
ferramentas de modelagem, automação e avaliação
de incertezas, que tornam a prática da metrologia
acessível e confiável, não somente para os 7. CONCLUSÕES
especialistas.
Em diversos casos práticos identificou-se
Como resultado das pesquisas dos autores, deficiências no processo de validação dos
concebeu-se um software dedicado para tratar da resultados pelos laboratórios. Erros de cálculo foram
modelagem, automação e validação de sistemas de detectados quando os usuários compararam os
medição, intitulado AUTOLAB, o qual contempla em novos resultados (obtidos com o AUTOLAB) com
sua versão 3, todas as técnicas apresentadas neste aqueles que vinham obtendo em análises manuais,
artigo e módulos integrados para gestão de software “caseiro” ou em planilhas eletrônicas.
laboratórios. Uma versão de baixo custo estará
disponível para fins educacionais e científicos. Vários casos de êxito no credenciamento de
laboratórios foram também obtidos, graças à adoção
A validação deste software pode ser realizada de técnicas de cálculo já validadas, como as
diretamente pelos próprios usuários, através das descritas aqui.

Fig. 4. Análise de incertezas por Simulação de Monte Carlo no Autolab


Esses fatos reforçam a importância de utilizar meios [8] ISO/ABNT NBR 10012-1 - Requisitos de garantia da
confiáveis para assegurar os resultados de qualidade para equipamentos de medição - Parte 1:
medições. Sistema de comprovação metrológica para
equipamento de medição - ABNT, 11-1993, Rio de
Com o aumento da tecnologia, e das exigências Janeiro, RJ.
impostas pelos sistemas de gestão da qualidade, [9] CONGRESSO SUL-AMERICANO DE METROLOGIA-
torna-se cada vez mais importante dispor de METROSUL, 2, 1999, Foz do Iguaçu. Anais.. Foz do
ferramentas para modelar e validar resultados de Iguaçu: PARANÁ METROLOGIA, 1999.
medição de forma eficiente e confiável, por isso o
uso de software especializado para ensaios e [10] LINK, Walter. Tópicos Avançados da Metrologia
Mecânica - Confiabilidade Metrológica e Suas
calibrações é hoje assunto fundamental para a
Aplicações. Rio de Janeiro: INMETRO, 2000.
competitividade das organizações envolvidas com
Metrologia. [11] COX, M. G.; DAINTON, M. P.; HARRIS, P. M.
Software Specifications for Uncertainty Calculation
and Associated Statistical Analysis. UK, 2002.
REFERÊNCIAS Disponível em:
http://www.npl.co.uk/ssfm/download/documents/cmsc
[1] BIPM, IEC, IFCC, ISSO, IUPAC, OIML. Guia para a 10_01.pdf
Expressão da Incerteza de Medição. 2.ed. Rio de
Janeiro: SERIFA, 1998. [12] IMAN, R.L., CONOVER, W.J. A distribution-free
approach to inducing rank correlation among input
[2] ISO/DIS 17025, General Requirements for the variables. Communications in Statistics, Vol. 11, No.
Competence of testing and Calibration Laboratories. 3, p. 311-334, 1982.
[3] EURACHEM/CITAC. Primeira Edição Brasileira do
Guia EURACHEM/CITAC. Determinando a Incerteza
na Medição Analítica. SBM, CNPq, SENAI, QMOL. Autor: M.Sc. Wagner Rafael Landgraf, Diretor
Trad. CNPq. 2 ed, Rio de Janeiro. 2002.
Comercial da AUTOMA Consultoria & Informática
[4] INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, Ltda, R. Eng° Roberto Fischer, 208 - CEP
NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL 81250.025, Parque de Software, Cidade Industrial de
(INMETRO). Expressão da Incerteza de Medição na
Calibração. Versão Brasileira do Documento de Curitiba, Paraná, Brasil, Fone: (41) 337-1033, E-
Referência EA-4/02. Rio de Janeiro, 1999. mail: wagner@automa.com.br
[5] INMETRO. Vocabulário Internacional de Termos
Fundamentais e Gerais de Metrologia - VIM. Versão Autor: M.Sc. Charles Roberto Stempniak, Diretor
brasileira do "Vocabulary of Basic and General Terms Técnico da AUTOMA Consultoria & Informática
in Met rology". Rio de Janeiro: INMETRO, 1995. Ltda, R. Eng° Roberto Fischer, 208 - CEP
[6] COX, M. G.; HARRIS, P. M. GUM Supplements. 81250.025, Parque de Software, Cidade Industrial de
Disponível em: Curitiba, Paraná, Brasil, Fone: (41) 337-1033, E-
http://www.npl.co.uk/ssfm/download/documents/ciegu mail: charles@automa.com.br
m_paper.pdf
[7] Castrup, H. A critique os Uniform Distribution.
Disponível
em:http://www.isgmax.com/Articles_Papers/Uniform%
20Distribution%20Usage.pdf

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