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METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICO-CIENTIFICA1

Exercício para reconstrução do projeto de pesquisa científico-jurídica


Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

O objetivo desse exercício é proporcionar a oportunidade para discutir as


dificuldades e dúvidas na construção do objeto de pesquisa (base da elaboração
do projeto de pesquisa e redação da dissertação). Além disso, o exercício
pretende provocar os/as estudantes a avaliar os aspectos principais do pré-
projeto de pesquisa: o campo temático e a problemática, especificação do tópico
sobre o qual se definirá o problema da pesquisa e correspondente hipótese,
objetivos, estratégias metodológicas e o modelo teórico-conceitual.
A base do estudo será o resumo técnico apresentado no pré-projeto.
Responda com muita objetividade, clareza e concisão as questões que
apresento a seguir. No curso será solicitada a REFORMULAÇÃO do resumo
técnico do projeto de pesquisa a partir das respostas para todas as questões.

1. Sobre qual temática pretende desenvolver sua pesquisa? Em apenas um


parágrafo (no limite máximo de 100 palavras), delimite o tema sobre o qual
incidirá a problematização e que levará a especificação do tópico a ser tratado
na pesquisa. A problematização se realiza com a revisão de literatura. A partir
dela se define o tópico sobre o qual se formula a questão-chave.

2. Qual a questão-chave (problema) de sua proposta de pesquisa? Em relação


ao tópico especificado, enuncie clara e precisamente – sem divagações - um
único problema na forma de uma única sentença interrogativa direta
(acompanhada de interrogação), em tempo afirmativo.

3. Qual a resposta (hipótese) à questão-chave que, para ser sustentada e


demonstrada, norteará todas as ações de sua pesquisa? Enuncie essa resposta
na forma de uma única proposição afirmativa (sentença declarativa com único
verbo), cuja pretensão de verdade proposicional (validade objetiva), ou de

1 Disciplina 2PRI368 ofertada no Programa de Pós-Graduação em Direito Negocial - Mestrado.


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justeza normativa (validade normativa), ou de plausibilidade conceitual


(validade analítico-crítica), deverá, sob determinadas condições, ser
fundamentada e justificada argumentativamente na pesquisa. Não serão aceitas
formulações de juízo de valor ou de juízo meramente analítico-descritivo.

4. Qual o modelo analítico-conceitual em que se enquadrará a abordagem da


pesquisa e do qual será deduzido seu objeto? Enumere, de modo conciso, claro
e preciso, no mínimo 03 (três) e no máximo 6 (seis) autores reconhecidos e
respectivos aportes teóricos (na forma de conceitos ou categorias crítico-
hermenêuticas) relacionados ao campo jusfilosófico e/ou propriamente
filosófico-político do problema tratado na proposta de pesquisa. Importa que
haja coerência na elaboração da plataforma teórica (referencial paradigmático e
teoria) evitando uma base fragmentada e enciclopédica. Cabe lembrar que
quaisquer fontes legais, jurisprudenciais e correlatos não são considerados
fundamentos teóricos.

5. Quais estratégias metodológicas permitirão realizar a justificação da


hipótese na conclusão de sua pesquisa (dissertação)? Apresente-as de forma
objetiva, concisa, clara e precisa, sem divagações e rodeios retóricos.

***
Caros alunos e alunas,
Esse exercício não é tão simples ou fácil como pode aparentar.
I. Ao responder as três primeiras questões (tema-problema-hipótese), você já
terá nas mãos o objeto de pesquisa. Com ele você não irá se perder no caminho
da investigação científico-jurídica (e filosófica). Tendo um objeto de pesquisa
claramente delineado, por um lado, você não se perderá no caminho (odos) da
coleta dos dados, selecioná-los e interpretá-los. Por outro lado, não se perderá
no caminho (odos) da construção de sua arguição na defesa de sua proposição-
tese (esta virá na superação da hipótese, uma vez justificada pelos dados
levantados e alinhavados argumentativamente).
Vale ressaltar que objeto de pesquisa não se reduz ao tema ou assunto de uma
pesquisa. Essa é uma forma equivocada muito comum, mesmo em autores de
obras de metodologia. Ele se refere propriamente ao binômio problema-
hipótese, estabelecido sob o enquadramento de um modelo teórico-conceitual
em relação a um determinado tópico que se extrai de um determinado contexto
temático, submetido à problematização.
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A seguir, na figura 1 apresento – no âmbito da cientificidade jurídica - a


tridimensionalidade do objeto de pesquisa e respectivos domínios discursivos
que defendo em meus estudos na perspectiva da pragmática habermasiana.

Figura 1 - Tríplice dimensão do objeto da pesquisa científico-jurídica e seus respectivos domínios epistêmicos
segundo Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

Para a definição do objeto de pesquisa, o ponto crucial reside na enunciação


da hipótese em resposta à questão-chave formulada a partir da problematização
que incide sobre determinado tópico do campo temático. No plano da pesquisa
científica não basta levantar um problema se este não levar a uma hipótese. A
hipótese – deduzida da teoria esboçada no modelo analítico-conceitual -
apresenta-se como o elemento nuclear da pesquisa científica. A demonstração
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(ou justificação) da hipótese determina a orientação de todas as ações da


pesquisa.

Figura 2 - Tríplice diferenciação das hipóteses e respectivas pretensões de validade resgatáveis discursivamente na
pesquisa científico-jurídica segundo Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

Acima, na figura 2, apresento a diferenciação das hipóteses considerando os


diferentes domínios das questões levantadas na pesquisa: questões de ordem
teórica (de natureza ôntica), de ordem prática (de natureza deôntica) e de ordem
crítico-reconstrutiva (de natureza conceitual, teorética ou doutrinal).
Essa diferenciação das questões implica em diferentes enunciações
proposicionais das respectivas hipóteses: proposições descritivas, prescritivas e
analítico-conceituais.
A hipótese deverá ser enunciada na forma lógica de uma proposição afirmativa
simples (sentença declarativa, com um verbo apenas) ou de uma proposição
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condicional, as quais estabelecem a relação entre duas variáveis sob


determinadas condições. Na figura 3 destaco as características da hipótese.

Figura 3 - Características da Hipótese

Dada sua natureza proposicional, as diferentes hipóteses exigem diferentes


modos de justificação discursiva (ou demonstração), de acordo com as
diferentes pretensões de validade levantadas: pretensão de verdade
proposicional (validade objetiva - verificabilidade), ou de correção/justeza
normativa (validade normativa - adequabilidade), ou de plausibilidade
conceitual (validade analítico-crítica – consistência teorética).
Do ponto de vista lógico-pragmático, a tríplice dimensão do objeto de pesquisa
(e respectivos domínios discursivos) corresponde à diferenciação das pretensões
de validade pressupostas na enunciação proposicional das hipóteses.
Cada pretensão de validade – resgatável discursivamente
(argumentativamente) - incide justamente sobre a relação de variáveis (sob
determinadas condições) que se pretende justificar (demonstrar) nos limites do
modelo teórico-conceitual.
Em outras palavras, a demonstrabilidade (ou justificabilidade), como ideal
regulativo da cientificidade jurídica da pesquisa, recai sobre uma dessas
pretensões de validade levantadas na enunciação proposicional da hipótese.
Cabe ressaltar que a demonstrabilidade da hipótese se aplica, de modo análogo,
à pesquisa em filosofia (dada sua natureza crítico-reconstrutiva ou analítico-
conceitual), sem desconsiderar a distinção entre o conhecimento científico e
conhecimento filosófico.
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Figura 4 - Tríplice diferenciação lógico-pragmática dos problemas da pesquisa científico-jurídica e respectivas


hipóteses segundo Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

Como se pode observar, numa abordagem reconstrutiva das concepções


tridimensionais da cientificidade jurídica a partir da teoria do discurso de
Habermas, desenvolvo uma perspectiva pragmática da tridimensionalidade da
pesquisa científico-jurídica (figura 5 e 6, abaixo) , partindo de – de um lado – da
concepção do tríplice dimensionamento do objeto de pesquisa (figura 1) e - de
outro lado – da concepção do tríplice diferenciação da natureza proposicional
das hipóteses (proposições descritivas, prescritivas e analítico-conceituais) e
suas respectivas pretensões de validade (figura 2); ambas concepções
apresentam implicações metodológicas na compreensão da natureza do
problema na pesquisa científica. Neste sentido, na figura 4, destacam-se três
grupos de problemas ou questões.
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Figura 5 - A tridimensionalidade da pesquisa científico-jurídica


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Figura 6 - Tipologia da pesquisa científico-jurídica

Enfim, cabe ressaltar que tanto na formulação da questão-chave da pesquisa


(problema) quanto na enunciação proposicional da hipótese se estabelece a
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relação entre duas variáveis sob determinadas condições. Na perspectiva da


teoria habermasiana do discurso, é justamente a pretensão de verdade
proposicional (em referência à realidade objetiva), ou de pretensão de
correção/justeza normativa (em referência a um determinado contexto
normativo), ou de pretensão de plausibilidade conceitual (em referência à
fundamentação ou sustentação filosófica propriamente dita) sobre esta relação
proposicional, determinada na hipótese, que o pesquisador pretende
fundamentar e justificar (demonstrar) para submetê-la ao reconhecimento
intersubjetivo de seus pares (defesa) por meio de uma Banca.
A justificação argumentativa da pretensão de validade levantada sobre a
hipótese determina o objetivo geral do projeto de pesquisa. Por sua vez, as
variáveis de uma hipótese e as condições que determinam a relação entre elas
serão submetidas à análise nos limites do enquadramento teórico (modelo
analítico-conceitual), desde a coleta dos dados, seleção e interpretação. As
estratégicas analítico-descritivas, explicativas e interpretativas sobre as variáveis
e sobre as condições que determinam sua possibilidade estão contidas nos
objetivos específicos do projeto de pesquisa.
São estes dois movimentos interrelacionados (relativos ao objetivo geral e aos
objetivos específicos) que deverão demarcar as ações investigativas até
desenvolvimento lógico-argumentativo da defesa (demonstração ou
justificação) de sua proposição-tese na redação da Monografia.

***
II. No momento inicial, a construção do objeto de pesquisa se dá intuitivamente,
mas para que possa delineá-lo e defini-lo com precisão e clareza, será necessário
aprofundar a revisão bibliográfica ou revisão sistemática de literatura.
A revisão sistemática de literatura - dentro dos limites do campo temático -
tem duas funções interdependentes: primeira, a de aprofundar o conhecimento
sobre as diferentes interfaces desse campo, suas interconexões e suas relações
com o contexto prático, tendo por intuito identificar, delimitar e especificar o
tópico que será submetido à problematização; segunda, a de explicitar e se
apropriar, nas teorizações anteriores acerca desse tópico, as principais
categorias conceituais (aportes teórico-conceituais) que, uma vez alinhavadas
coerentemente, constituirão a plataforma teórica – mais especificamente, a
teoria - sobre a qual você realizará sua pesquisa (modelo analítico-conceitual da
pesquisa).
Cabe ressaltar que o objeto de pesquisa não se constrói no vazio teórico,
tampouco dissociado da prática. Em outras palavras, não se desenvolve
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pesquisa científica sem a mediação teórico-prática. As categorias conceituais


(analíticas e hermenêutico-críticas) são imprescindíveis desde a definição do
problema acerca do tópico até a definição dos critérios de análise, interpretação
e crítica dos dados coletados e selecionados para sustentar a resposta ao
problema (hipótese). Enfim, aqui temos a quarta questão, a do modelo
analítico-conceitual (modelo teórico conceitual ou base teórica) da pesquisa.
Cabe reiterar que documentos legais, jurisprudenciais e correlatos não
constituem fundamentos teóricos de uma pesquisa. São considerados tão
somente como fontes de levantamento de dados.

***
III. A partir do delineamento do objeto (tópico-problema-hipótese) será
determinado o propósito da pesquisa (objetivo geral). Para realizar esse
propósito será necessário estabelecer as estratégias metodológicas adequadas
para operacionalizar, de acordo com os objetivos específicos, a coleta, seleção e
análise dos dados, de modo a submetê-los a um tratamento hermenêutico-
crítico até a estruturação lógico-argumentativa da dissertação orientada para a
demonstração da hipótese levantada em relação ao problema fundante da
pesquisa. Eis a quinta questão, a das estratégias metodológicas para a
operacionalização da pesquisa. Convém destacar que, no âmbito jusfilosófico
ou propriamente filosófico, a pesquisa é essencialmente teórica.
Importa que você não se perca no caminho da construção de sua arguição na
defesa (demonstração) de sua proposição-tese. Só se chega à proposição-tese
na superação da hipótese, quando justificada, de modo rigoroso e consistente
(isto é, sob o enquadramento do modelo teórico-conceitual), pelos dados
suficientemente levantados e alinhavados argumentativamente na redação da
monografia.
Os dados, por si próprios, não possuem o condão de serem interpretados e
alinhavados na elaboração da Dissertação. Sem a mediação teórica na
orientação demonstrativa da pesquisa, os dados não “falam” por si. Isso vale
para as fontes da pesquisa teórica de natureza jusfilosófica ou filosófico-política.
De acordo com o propósito demonstrativo que orienta o desenvolvimento da
pesquisa (em relação ao objeto), todos os dados levantados estão relacionados
com as variáveis estabelecidas na questão-chave (problema) e da
correspondente hipótese. Os dados coletados são submetidos à análise e
interpretação nos estudos de natureza exploratória, analítico-descritiva e
explicativa para sustentar a relação dessas variáveis. Somente assim se atinge o
nível demonstrativo da pesquisa: a redação da dissertação.
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Em anexo, apresento a tipologia da pesquisa desenvolvida em ambientes


acadêmicos. Destaco os elementos de uma pesquisa jusfilosófica ou
propriamente filosófica.

***
IV. Uma última questão, que não foi formulada no exercício, refere-se à
justificação da pesquisa, conforme figura 6. Vamos discutir essa questão
durante a aula.

Figura 7 - Justificação da Pesquisa Científico-Jurídica segundo Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

Durante o desenvolvimento da disciplina, vocês poderão acessar as pastas e


materiais da Biblioteca Virtual de Metodologia da Pesquisa (conforme figura 7)
no seguinte link:
https://drive.google.com/drive/folders/1bfA6XXTSWcyd9ACTJ2CCALBcZYNWQffz?usp=shari
ng
Acesso para o Roteiro de estudos e reflexões (Instrumentum Laboris para
subsidiar o Curso de Metodologia da Pesquisa Científico-Jurídica).
https://docs.google.com/document/d/1QsU9O1TAXI08wDY75trpRYfKkmm7JCuu/edit?usp=s
haring&ouid=102423757276750114544&rtpof=true&sd=true
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Figura 8 - Pastas da Biblioteca Virtual da disciplina no Google Drive

⧫ Leituras OBRIGATÓRIAS [PASTA METODOLOGIA FILOSÓFICA BÁSICA]


⧫ FERRAZ Jr., Tercio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão,
dominação. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2003. Cap. 1 – A universalidade do
fenômeno jurídico. Cap. 2 – O Direito como objeto do conhecimento: perfil
histórico.
⧫ FERRAZ Jr., Tercio Sampaio. Direito, retórica e comunicação: subsídios para
uma pragmática do discurso jurídico. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. Cap. IV - O
discurso da Ciência do Direito. 1. Existe um discurso científico do Direito?
⧫ GENTIL, Hélio Salles. Convite à pesquisa em Filosofia e Ciências Humanas:
Orientações Básicas para a Formulação de um Projeto. Integração. São Paulo, v.
11, n. 41, p. 169-174, abr./mai./jun. 2005.
http://www.usjt.br/prppg/revista/integracao_41.php

⧫ GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002. Cap. 1 – Como encaminhar uma pesquisa? Cap. 2 - Como formular
um problema de pesquisa? Cap. 3 - Como construir hipóteses?
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⧫ LAVILLE, Christian. A construção do saber: manual de metodologia da


pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999. Parte II - Do problema à hipótese. Cap. 4 - Problema e
problemática; Cap. 5 - O percurso problema-pergunta - hipótese.
⧫ MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do Direito: conceito, objeto,
método. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. Cap. III - As ciências sociais; Cap.
IV - A ciência do Direito (Direito como ciência social).
⧫ RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 34. ed.
Petrópolis: Vozes, 2007. Cap. VI - O problema da pesquisa; Cap. VII - O enunciado
das hipóteses.
Além desse texto, recomendo a leitura de algumas reflexões que desenvolvo a
partir de meus estudos sobre a tridimensionalidade da pesquisa científico-
jurídica, no texto “Roteiro de estudos e reflexões” da disciplina de Metodologia.
✓ A compreensão filosófica da metodologia entre Téchne e Episteme (p. 10-
14)

✓ Metodologia: garantia de objetividade e validação da pesquisa científico-


jurídica e filosófica (p. 14-17)

✓ O objeto de pesquisa científica e filosófica: a necessidade de


reconceituação e suas implicações (p. 29-33)
O Roteiro pode ser acessado no link abaixo:
https://docs.google.com/document/d/15R8C9CkUG2WG78lpGTtnqocCIkQHQl6
z/edit?usp=sharing&ouid=102423757276750114544&rtpof=true&sd=true

Leituras COMPLEMENTARES opcionais

BARROS, José D’Assunção. A elaboração textual de hipóteses – uma contribuição


ao seu esclarecimento no ensino de metodologia. Revista Educação em
Questão, Natal, v. 33, n. 19, p. 305-328, set./dez. 2008.
https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/3938/3205

BOOTH, Wayne; COLOMB, Gregory; WILLIAMS, Joseph. A arte da pesquisa. 2.


ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. Cap. 3 - De tópicos a perguntas (45-61);
Cap. 4 - De perguntas a problemas. (pp. 63-83)
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. O que é a filosofia? 2. ed. São Paulo: Editora
34, 1993. A filosofia – por seu caráter autopoiético – se reconhece como criadora
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de conceitos. O conceito como criação propriamente filosófica é sempre uma


singularidade. O conceito pertence à filosofia e só a ele pertence. No entanto,
essa exclusividade não lhe dá nenhum privilégio, precedência ou prevalência
sobre outros saberes.
DESLANDES, Suely Ferreira. O projeto de pesquisa como exercício científico e
artesanato intelectual. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa
Social - Teoria, método e criatividade. 26. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. pp. 31-50.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Souza; DIAS Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a
pesquisa jurídica: teoria e prática. 3ª. ed. rev. atual. Belo Horizonte: Del Rey,
2010. Cap. 5 - O desenvolvimento da pesquisa, seus elementos e fases essenciais
(pp. 31-41).
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 221-222
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho
científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório,
publicação e trabalhos científicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1992. p. 106
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social - Teoria, método e
criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. Conceito de Metodologia da
Pesquisa pp. 16-21
SEVERINO, Antônio Joaquim. Como ler um texto de filosofia. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2009.

* A enunciação de uma hipótese, sobretudo as condições que determinam a


relação entre suas variáveis, nos remetem ao esquema de argumentação
proposto por Stephen Toulmin:
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D (no original G de grounds = razões)


J (no original W de warrant = garantia)
C (mesmo do original, de claim = pretensão)
B (mesmo do original, de backing = respaldo, suporte da justificativa, diferente
de J, B é uma garantia baseada em uma autoridade reconhecida, lei jurídica ou
lei científica). A meu ver, pode denominá-lo de background significando o
modelo teórico-conceitual da pesquisa.
Q (mesmo do original, de qualifiers = qualificadores modais)
R (mesmo do original, de rebuttals = condições de refutação)

As alegações (C) inseridas em argumentações práticas somente são procedentes


caso as razões (G) apresentadas sejam de um tipo apropriado e relevante; as
razões (G) devem estar conectadas às alegações (C) pelas confiáveis e aplicáveis
garantias (J), as quais, por sua vez, devem ser justificadas pelo apelo a um apoio
(B) confiável e relevante. Podem ser introduzidos qualificadores modais
(qualifiers) como ‘presumivelmente’, ‘segundo parece’ etc. Por outro lado, o
apoio fornecido a C pode sê-lo apenas em determinadas condições, isto é,
existem determinadas circunstâncias extraordinárias ou excepcionais que
podem solapar a força dos argumentos e as chamadas condições de refutação
(rebuttals)

Abaixo o modelo apresentado por Toulmin em seu livro


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Recomendo a leitura de ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica. São


Paulo: Landy Editora, 2001, p. 94. Capítulo I - 3.3. A teoria de Toulmin. p. 75 - 85.
Capítulo II - 5. A lógica do discurso (pp. 99-107.). O autor trata da aplicação do
esquema de Toulmin aos discursos práticos segundo Habermas.

Disponível na Biblioteca Virtual para download:


https://drive.google.com/file/d/1gMYTG9F0D5RkKEP93LsXYl8o9VpDrA9m/vie
w?usp=sharing
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ANEXO I
RESUMO TÉCNICO DA DISSERTAÇÃO [Em construção]
De antemão, sobre o resumo, convém esclarecer algumas diferenciações
importantes:
Em primeiro lugar, não se pode confundir o resumo simples de um artigo
científico destinado à publicação em algum periódico especializado com o
resumo técnico de uma proposta de pesquisa científica e de apresentação dos
resultados de uma pesquisa científica. Trata-se de um equívoco muito comum
concebê-lo como uma análise preliminar ou uma mera descrição abreviada da
temática a ser abordada na pesquisa proposta.
Na redação científica (especificamente para a dissertação de mestrado ou tese
de doutorado), o resumo técnico refere-se ao documento que apresenta os
resultados de um estudo para disseminação junto à comunidade científica e/ou
para a avaliação de uma Banca Examinadora. Esse documento apresenta tema
único e bem delimitado em sua extensão e tem por objetivo reunir, analisar e
interpretar informações ou dados levantados em um determinado campo de
conhecimento.
Em segundo lugar, o resumo técnico não pode ser reduzido a uma exposição
genérica e abreviada da introdução do texto científico (dissertação ou tese). Isso
se aplica também para o resumo do artigo científico para fins de publicação.
Esse, por sua vez, apresenta-se mais enxuto do que o resumo técnico de uma
dissertação ou tese destacando, de modo geral, o objeto e a metodologia,
atendo-se ao conteúdo.
Em terceiro lugar, para o resumo técnico de uma dissertação ou tese exige-se
que seu conteúdo seja de natureza demonstrativa. Portanto, deve fornecer os
elementos relativos ao objeto de pesquisa (tópico/problema/hipótese) e ao
propósito demonstrativo da investigação, as principais categorias conceituais
contidas na matriz analítico-conceitual (plataforma teórica) e todas as demais
informações necessárias para uma avaliação do texto apresentado.
O resumo técnico de uma dissertação ou tese deve responder às seguintes
questões: Qual o objeto de pesquisa (o problema e a respectiva enunciação
proposicional da hipótese)? Qual paradigma e aportes analítico-conceituais
constituem a plataforma teórica da pesquisa? Qual a modalidade da pesquisa e
procedimentos que sustentam o trabalho apresentado (pesquisa teórica,
pesquisa empírica, pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa
histórica, etc.)? Mediante quais procedimentos metodológicos e técnico-
operacionais foram utilizados para a consecução do objetivo geral do trabalho?
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Quais resultados alcançados que se apresentam significativos para o campo


epistemológico-jurídico relacionado ao Direito Negocial?
A elaboração do resumo técnico - tanto de uma proposta de pesquisa, quanto
de uma dissertação ou tese - compreende as seguintes diretivas:
1 - Dado seu caráter estritamente descritivo e informativo, o resumo técnico de
uma proposta de pesquisa, seja no âmbito científico em geral como também no
âmbito da cientificidade propriamente jurídica, não deve ser redigido como se
fosse uma peça introdutória de um texto qualquer. Trata-se de um equívoco
concebê-lo como uma análise preliminar ou uma mera abordagem abreviada da
temática de uma investigação.
2 - Exige-se que o resumo técnico contenha obrigatoriamente - de modo
claramente distinto, os seguintes elementos desenvolvidos na seguinte
sequência:
2.1. TÓPICO E PROBLEMÁTICA: apresentação clara, objetiva, precisa e concisa
da problemática da pesquisa, dentro de um determinado campo temático
delimitado (tópico), de modo a permitir a contextualização de um único
problema que deverá ser formulado com clareza e precisão em consonância com
a área epistemológica do Curso.
2.2. OBJETO DA PESQUISA: O PROBLEMA-CHAVE E A HIPÓTESE: (2.2.1)
formulação clara e precisa do único problema desencadeador da pesquisa e
(2.2.2) enunciação da correspondente e única hipótese norteadora da
investigação científico-jurídica, na forma lógica de uma proposição (sentença
declarativa ou condicional) cuja pretensão de verdade objetiva ou de justeza
normativa permitirá ser justificada ou demonstrada argumentativamente
tornando-a uma proposição-tese, na conclusão da pesquisa.
2.3. PROPÓSITO DEMONSTRATIVO DA PESQUISA: formulação do propósito da
investigação ou objetivo geral na forma exclusivamente demonstrativa incluindo
a proposição hipotética, isto é, na forma lógica "Demonstrar que P", sendo P a
hipótese.
2.4. MODELO ANALÍTICO-CONCEITUAL OU MATRIZ TEÓRICA: definição da
matriz analítico-conceitual da pesquisa, destacando o referencial paradigmático
e os principais aportes teóricos ou balizas conceituais estruturantes (e
respectivos autores reconhecidos nas fontes primárias do campo
epistemológico-jurídico da pesquisa) que, alinhavadas de modo coerente e
consistente, sustentam desenvolvimento dos estudos;
2.5. MODALIDADE DA PESQUISA E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS: definição,
de um lado, da perspectiva metodológica na abordagem do objeto de pesquisa
e na consecução do objetivo geral de acordo com o modelo teórico-conceitual
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(metodologia de abordagem); e de outro lado, coerente com a metodologia de


abordagem, dos procedimentos de pesquisa a serem empregados na coleta,
seleção, análise e interpretação dos dados (metodologia de procedimentos).
2.6. RESULTADOS ESPERADOS: apresentação dos resultados teórico-práticos
mais significativos que se esperam com a conclusão da pesquisa no contexto
epistemológico-jurídico do Direito Negocial com repercussão no âmbito da
prática social mais ampla.
3. A rigorosa coerência do resumo técnico constrói-se com base e em torno do
objeto de pesquisa. Ao contrário do que comumente se apresenta, o
delineamento de uma problemática (compreendida como delimitação
temática), por si só, não define o objeto de uma pesquisa científica. O que define
o objeto de uma pesquisa científica, fundamental para desencadear e nortear as
atividades investigativas, é – indissociavelmente, em um mesmo movimento
dialético - a determinação clara e precisa de um problema (contexto da
descoberta) associado à intuição de sua respectiva hipótese a ser demonstrada
(contexto da justificação). É fundamental compreender a centralidade da
hipótese que desencadeia o desenvolvimento da pesquisa científica. A
intencionalidade demonstrativa de uma hipótese determina a configuração do
objeto de pesquisa científica e orienta suas atividades até a redação discursivo-
argumentativa de seus resultados.
4. A problematização constitui apenas um ponto de partida provocador de uma
pesquisa científica. A definição de um problema, por si só e sem que esteja
associado a uma hipótese, não permite que a investigação científica seja
desenvolvida e concluída de modo rigoroso, coerente e coeso no sentido da
produção de conhecimento.
5. A formulação do único problema-chave, na forma lógica de uma sentença
interrogativa, deve distinguir sua prevalência em relação às demais questões
correlatas que gravitam na órbita da problemática que envolve o tópico
delimitado. Deve evitar desdobramentos e inflexões que impliquem em
ambiguidades.
6. A enunciação da única resposta provisória ao problema-chave deve ser feita
na forma lógica de uma única proposição afirmativa (sentença declarativa ou
condicional) cuja pretensão de verdade objetiva ou de justeza normativa – que
incide sobre a relação de suas variáveis “x” e “y” sob determinadas condições
“n” - permitirá ser justificada ou demonstrada, sob a mediação crítico-
hermenêutica do modelo teórico-conceitual definido na pesquisa. Aplica-se o
mesmo princípio de unicidade exigida na formulação do problema-chave: para
um único problema-chave, formula-se uma única hipótese.
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7. O princípio de unicidade, que permeia todo o desenvolvimento da pesquisa


científica, está implicado na natureza monográfica da redação da dissertação ou
da tese. Em outros termos, considerando o princípio de unicidade, exige-se a
formulação de um único problema e, consequentemente, a enunciação de uma
única hipótese sobre uma plataforma teórica una. A unicidade que caracteriza o
binômio problema-hipótese – determinante para a configuração do único objeto
de pesquisa – destaca sua indissociabilidade. Em torno desse binômio todos os
elementos da proposta de pesquisa são articulados de modo coerente e coeso.
Em outras palavras: a coerência e a coesão na articulação dos elementos do
resumo técnico se realizam quando esse princípio de unicidade é obedecido
rigorosamente.
8. Como foi observado acima, a hipótese constitui o elemento fundamental no
direcionamento demonstrativo da pesquisa, pois determina a constituição do
objeto de pesquisa em uma determinada plataforma teórica. Com efeito, a
construção do objeto de pesquisa não se dá no vazio teórico. É justamente
nesta plataforma, sob determinado referencial paradigmático, que a
sustentação logico-argumentativa da hipótese é realizada de modo rigoroso e
consistente. O propósito da pesquisa deve evidenciar a hipótese a ser
demonstrada sobre uma base teórica.
9. Um outro aspecto importante na delimitação temática de um projeto de
pesquisa (sobre a qual se dá o delineamento da problemática) consiste na
justificação da pertinência objetiva da proposta no âmbito da pós-graduação
stricto sensu, isto é, a questão crucial colocada é a seguinte: qual sua relevância
para o Mestrado (ou Doutorado) em Direito Negocial? Qual a relevância
epistemológico-jurídica (ou filosófico-jurídica) para o conhecimento teórico-
prático em Direito Negocial? Isso deve ser indicado também nas expectativas em
relação aos resultados ou conclusões da pesquisa.
10. Não se pode perder de vista que a finalidade do resumo técnico é a de
evidenciar o objeto de pesquisa. Para tanto, primeiro, é preciso determinar clara
e objetivamente, o problema-foco no contexto de uma problemática delineada
na delimitação temática. Segundo, a partir do problema é preciso enunciar a
hipótese, de modo claro e preciso, na forma proposicional, isto é, na forma de
uma sentença declarativa, cuja pretensão de veracidade ou de correção
normativa exige que seja justificada ou demonstrada argumentativamente sob
o enquadramento de uma matriz analítico-conceitual.
11. A definição de uma matriz analítico-conceitual - isto é, a plataforma teórica
sob determinado paradigma epistemológico - é crucial para que sejam
estabelecidos, de um lado, os critérios de seleção e interpretação dos dados
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coletados, e de outro, na redação dissertativa, as bases da teoria concebida para


a demonstração da hipótese. Uma vez justificada, o caráter provisório da
proposição-hipótese é superado na forma de uma proposição-tese. Esse
movimento de superação (da hipótese para tese) – mediado pela matriz
analítico-conceitual - constitui o direcionamento da pesquisa.
12. O resumo técnico deve ser redigido na língua vernácula, com linguagem
clara e inteligível, de modo sucinto, preciso e objetivo. Obrigatoriamente, redige-
se em parágrafo único, espaçamento entrelinhas simples, alinhamento
justificado, sem recuo na primeira linha, na terceira pessoa do singular, com o
verbo na voz ativa, no presente do indicativo, desenvolvendo sequências de
frases curtas justapostas e coerentemente coordenadas (sequências
paratáticas). Sua coerência se pode verificar no conjunto dos elos lógico-
sintáticos implicados na coordenação e justaposição dos enunciados. O resumo
técnico não deve ser redigido como um amontoado de sentenças desconexas ou
como enumeração de tópicos no formato de esquema. Deve conter o número
mínimo de 200 e no máximo 400 palavras.
13. É vedado na redação do resumo técnico:
(a) o uso de citações (diretas ou indiretas) e referências bibliográficas.
(b) o uso de floreios discursivo-retóricos entremeado de circunlóquios,
comentários periféricos e generalidades.
(c) o uso exagerado de adjetivos, conjunções, advérbios, neologismos e de
explicações secundárias ou desnecessárias.
(d) o uso indiscriminado de estrangeirismos.
(e) o uso de abreviaturas, siglas (p. ex. ABNT, PPGDN) e acrônimos (p. ex. ONU,
PROPPG). Excepcionalmente, quando necessários, estes podem ser citados,
desde que, na primeira ocorrência no texto, entre parênteses sejam precedidos
de sua expressão por extenso, mesmo que sejam reconhecidos.
(f) o uso de juízos ou adjetivações de teor valorativo, sobretudo na formulação
do problema, da hipótese e no propósito da pesquisa.
(g) o uso de jargões ou gírias de oralidade
(h) o uso de expressões do tipo "O presente trabalho trata [...]".
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ANEXO II – OUTROS ELEMENTOS DO PROJETO DE PESQUISA


PALAVRAS-CHAVE
1. A norma técnica da ABNT NBR 6028:2003 define palavra-chave como a
expressão representativa do conteúdo do documento, escolhida,
preferentemente, em vocabulário controlado. As palavras-chaves consistem em
termos simples ou compostos que identificam com precisão as categorias
conceituais estruturantes mais significativas do conteúdo do projeto de
pesquisa.
2. Devem ser indicadas palavras-chave relacionadas ao objeto da investigação
no âmbito epistemológico-jurídico do Direito Negocial. As palavras-chave
podem estar presentes no título e no texto do resumo técnico. Recomenda-se
que o termo “Direito Negocial” seja destacado em último lugar como o mais
abrangente.
3. Devem ser evitadas expressões que apresentem uma denotação muito ampla
ou demasiadamente genéricas. Recomenda-se o uso de palavras-chave que
indiquem as categorias conceituais que balizam a elaboração do projeto de
pesquisa e que se tornarão elementos estruturantes do desenvolvimento da
pesquisa e da futura redação da Dissertação ou Tese.
4. Não é necessário colocar as palavras-chave em ordem alfabética, mas
recomenda-se colocá-las em ordem de prioridade em relação ao tratamento do
objeto de pesquisa, iniciando pela mais específica.
4. As palavras-chave devem ser redigidas com a primeira letra em maiúscula e
separadas entre si por ponto. Apresentar no mínimo três (03) e no máximo cinco
(05) termos.

REVISÃO DE LITERATURA (ESTADO DA ARTE)

A revisão de literatura consiste em um levantamento bibliográfico exaustivo


sobre as diferentes interconexões e interfaces que envolvem o tópico definido a
partir de um campo temático e sua problemática, destacando as diferentes
abordagens de autores reconhecidos, as teorias, os problemas levantados, as
perspectivas de análise, avanços e lacunas. Tem por finalidade:
1. Compreender a complexidade do tópico delimitado no campo temático,
identificando nele as interfaces práticas e suas interconexões no panorama
atual;
2. Apresentar o estágio atual da discussão (estado da arte) a partir da revisão de
literatura realizada para apreender e situar a problemática que envolve o tópico
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delimitado na pesquisa em sintonia com a área de concentração (Direito


Negocial). Consiste no mapeamento de toda produção científica (fontes
primárias – produção original) concernente ao objeto da pesquisa de modo a
apontar e avaliar o conhecimento teórico acumulado, destacando as mais
relevantes abordagens investigativas realizadas nos últimos anos e identificando
os respectivos modelos teóricos e metodológicos.

OBJETO DE PESQUISA

O objeto de pesquisa compreende o problema-chave sobre o tópico escolhido


do campo temático e a correspondente hipótese enunciada
proposicionalmente.
Cabe reiterar que no binômio problema-hipótese configura-se o objeto de
pesquisa: aqui se atinge o núcleo do projeto de pesquisa. O problema-chave,
tomado por si só, caracteriza-se apenas por ser o elemento desencadeador da
pesquisa. O elemento que permite nortear as atividades de investigação
corresponde à resposta provisória e possível (verificável ou justificável) ao
problema-chave: a hipótese.
A condição sine qua non para que essa investigação seja desenvolvida
validamente é a verificabilidade e demonstrabilidade da hipótese sob o
enquadramento do modelo analítico-conceitual.
1. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA-CHAVE capaz de ser verificado por meio de um
conjunto determinado de dados a serem coletados, selecionados e
interpretados pela pesquisa proposta.
1.1. “Formular o problema não se limita a identificá-lo; é preciso defini-lo,
circunscrever seus limites, isolar e compreender seus fatores peculiares, ou seja,
indicar as variáveis que sobre ele intervêm e as possíveis relações entre elas”.
(ANDRADE, 2006, p. 142). *
1.2. Devidamente identificada sua pertinência com o campo do Direito Negocial,
o problema-chave deve ser expresso na forma lógica de uma única sentença
interrogativa.
1.3. Convém distinguir a prevalência do problema-chave da pesquisa – em
relação ao qual se enunciará a hipótese norteadora da pesquisa - das demais
questões que gravitam em torno dele.
1.4. A validade científico-jurídica do problema-chave implica que ele possa ser
submetido a uma investigação sistemática, de maneira adequada ao modelo
analítico-conceitual estabelecido (referência paradigmática e plataforma
teórica).
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1.5. A formulação do problema-chave deve apresentar uma relação de variáveis


que, sob determinadas condições, permita uma resposta hipotética passível de
ser verificada, sob adequados procedimentos investigativos. Portanto, devem
ser evitadas formulações que impliquem em respostas indemonstráveis, que não
sejam passíveis de verificação e de refutação ou que sejam de natureza
tautológica.
1.6. O problema-chave deve ser formulado em relação a um determinado tópico
selecionado a partir do campo temático delimitado. Essa delimitação somente
ocorre quando a temática da investigação é submetida ao processo de
problematização viabilizada pela revisão de literatura. Portanto, a formulação do
problema-chave da pesquisa deve ser contextualizada devidamente, de modo
claro e preciso.
1.7. Devem ser evitadas questões que envolvam alta conotação valorativa ou
que impliquem considerações opinativas e subjetivas.
1.8. Devem ser evitadas questões muito amplas, evasivas ou genéricas que não
estabeleçam a relação de duas categorias analíticas ou conceituais (variáveis).
Também devem ser evitadas questões que envolvam inúmeras variáveis que
impedem a formulação de uma hipótese capaz de ser submetida à verificação.
1.9. Devem ser evitadas questões dissociadas do modelo analítico-conceitual da
pesquisa que, na tentativa de respondê-las, acabam por implicar na reprodução
de teorias já existentes.
(*) ANDRADE, Maria Margarida. Introdução à metodologia do trabalho
científico. 7ª. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
2. ENUNCIAÇÃO PROPOSICIONAL DA HIPÓTESE em relação ao problema-chave,
cuja demonstração deve determinar o propósito da investigação e seu
direcionamento.
2.1.O proponente deve responder às seguintes questões: em relação ao
problema-chave, qual a resposta prévia e provisória (hipótese) pretende
demonstrar em seu projeto de pesquisa? Sob quais condições se pode
determinar a verificabilidade dessa hipótese?
2.2. Essa hipótese deve ser enunciada na forma lógica de uma única proposição
afirmativa (sentença declarativa com um único verbo ou, se necessário, uma
proposição composta condicional do tipo “Se x, então y”) cuja pretensão de
verdade objetiva ou de justeza normativa deverá ser demonstrada ou justificada
pela investigação sob o enquadramento do modelo analítico-conceitual.
2.3. A enunciação proposicional da hipótese deve estabelecer a relação entre
duas variáveis (“x” e “y”) relacionadas ao fenômeno jurídico a ser investigado
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sob determinadas condições (A, B, C ... N). A pretensão de verdade objetiva ou


de justeza normativa a ser demonstrada pela pesquisa recai justamente sobre
esta relação proposicional.
2.4. Esclarecer sob quais condições, nos limites da plataforma teórica, torna-se
possível estabelecer e verificar a relação entre as variáveis da hipótese.
Apropriando-se do modelo hipotético-dedutivo de Karl Popper como garantia de
validação de uma investigação em oposição ao modelo indutivo-
confirmacionista, essa hipótese - além de sua possibilidade – deve ser passível
de ser submetida metodicamente à testagem (e à refutação) mediante
procedimentos adequados ao objeto de pesquisa.
2.5. Vale ressaltar que a demonstrabilidade da hipótese – conceito ressignificado
no âmbito científico-jurídico (ou filosófico-jurídico) – constitui um dos principais
elementos que conferem rigor e objetividade à pesquisa. Ela se expressa na
natureza demonstrativa do objetivo geral do projeto de pesquisa, uma vez que
toda investigação deverá se orientar para evidenciar e sustentar a relação entre
as variáveis da hipótese em razão das condições verificáveis que determinam sua
possibilidade e que deverão ser comprovadas. Portanto, torna-se crucial, na
avaliação do projeto de pesquisa, que seja observada a rigorosa coerência entre
a formulação da hipótese e o objetivo geral

OBJETIVO GERAL

1. O objetivo geral deve expressar a hipótese norteadora da investigação.


Distingue-se dos objetivos específicos por sua natureza demonstrativa. Remete
ao último nível de pesquisa (a demonstrativa) enquanto os objetivos específicos
remetem a outros níveis anteriores de pesquisa (exploratória, analítico-
descritiva e explicativa).
2. A forma lógica do objetivo geral é "demonstrar que P" sendo P a proposição
hipotética enunciada em relação ao problema-chave da pesquisa.
3. O objetivo geral deve ser formulado, de modo claro, objetivo e preciso, em
enunciado único iniciado com o verbo infinitivo de caráter estritamente
demonstrativo. Não pode haver desdobramentos em dois ou mais enunciados.
Portanto, formular um único objetivo geral.
4. Usar exclusivamente verbo de natureza demonstrativa: demonstrar, justificar,
sustentar, defender etc. Vedado expressamente o uso de verbos que
impliquem em intentos de natureza exploratória, analítico-descritiva e
explicativo-compreensiva. Jamais usar verbos demonstrativos que dissimulem
tais intentos. Por exemplo, jamais usar verbos como “analisar”, “estudar”,
“descrever”, “comparar”, “determinar”, etc.
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5. Expressamente vedada a formulação de natureza valorativa, opinativa e outro


que se apresente inverificável e indemonstrável.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Enquanto o objetivo geral remete à proposição hipotética - norteadora da


investigação - cuja pretensão de verdade objetiva ou justeza normativa se
pretende demonstrar, os objetivos específicos remetem às ações investigativas
que serão desenvolvidas a fim de que se possa sustentar a consecução do
objetivo geral. Os objetivos específicos concorrem – de modo articulado - para
que a investigação alcance sua finalidade demonstrativa. Consiste em grave
equívoco compreendê-los como meros desdobramentos do objetivo geral.
2.Os objetivos específicos não podem ser confundidos com procedimentos
metodológicos ou com técnicas de coleta, de análise e interpretação de dados.
São os objetivos específicos que determinam a escolha e a aplicabilidade de tais
procedimentos, estratégias e técnicas.
3. Os objetivos específicos devem ser enunciados tendo no início verbos
adequados, no infinitivo. Sua formulação deve expressar os três níveis de
pesquisa (1º exploratório, 2º analítico-descritivo e 3º explicativo-compreensivo)
exatamente nesta ordem:
3.1. Objetivos específicos de finalidade EXPLORATÓRIA (verbos: reconhecer,
verificar, conhecer, identificar, levantar, comparar etc.). A pesquisa exploratória
visa a descoberta e a elucidação de elementos conceituais no âmbito dos
discursos científico-jurídicos (ou propriamente filosófico-jurídicos).
3.2. Objetivos específicos de finalidade ANALÍTICO-DESCRITIVA (verbos:
caracterizar, descrever, traçar, determinar etc.). A pesquisa analítico-descritiva
visa identificar, registrar, descrever e analisar elementos conceituais no âmbito
dos discursos científico-jurídicos (ou propriamente filosófico-jurídicos).
3.3. Objetivos específicos de finalidade EXPLICATIVO-COMPREENSIVA (verbos:
compreender, interpretar, entender, definir, explanar, explicitar, esclarecer
etc.). A pesquisa explicativo-compreensiva visa apreender interpretativamente
a abrangência dos elementos conceituais no âmbito dos discursos científico-
jurídicos (ou propriamente filosófico-jurídicos).
4. O 4º nível da pesquisa - o demonstrativo - refere-se exclusivamente ao
objetivo geral.
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5. Expressamente vedada a formulação de objetivos específicos de natureza


valorativa, opinativa e outros que se apresentem inadequados para a
operacionalização das finalidades investigativas supramencionadas.
6. Recomenda-se formular exatamente três objetivos específicos, cada qual
elaborado em enunciado único de acordo com os três níveis de pesquisa
supramencionados. Deve conter o número máximo de 200 palavras.

MODELO ANALÍTICO-CONCEITUAL

1. O modelo analítico-conceitual – calcado em determinado referencial


paradigmático - deve ser construído a partir de determinados aportes
epistemológicos e/ou científico-jurídicos e, se necessário, de outros compatíveis
(em caso de pesquisa que envolva uma interlocução interdisciplinar).
2. O modelo analítico-conceitual determina a mediação crítico-hermenêutica
entre os dados coletados pela pesquisa e a investigação sobre o objeto de
pesquisa (problema-hipótese) atendendo seu intento demonstrativo (a da
demonstração da proposição-tese).
3. Essa plataforma teórica, elaborada sob um determinado paradigma, constitui-
se de um conjunto logicamente articulado de princípios, categorias e conceitos
que sustenta e fundamenta o desenvolvimento da pesquisa. Deve se caracterizar
pela consistência, coerência e compatibilidade em relação ao objeto de
pesquisa.
4. Com base na revisão de literatura (pesquisas e doutrinas relacionadas, estudos
precedentes, produção teórica e outros), o proponente deve apresentar, de
modo coerentemente articulado, os aportes teóricos pertinentes indicando os
respectivos autores de importância reconhecida como fontes primárias - e,
quando for o caso, dada a especificidade do objeto da investigação, de outras
áreas correlacionadas com as quais se pretende estabelecer uma interlocução.
Em relação a esses aportes devem ser indicadas as principais categorias
estruturantes (conceituais) que permitirão balizar a pesquisa, desde a coleta,
seleção, a análise e a interpretação dos dados até a demonstração discursivo-
argumentativa da tese.
5. Para evitar uma abordagem “enciclopédica” imprópria (enumeração excessiva
de autores e fragmentação da base teórico-conceitual) deverão ser
apresentados, no máximo 5 (cinco) autores de reconhecida relevância no âmbito
científico-jurídico (ou filosófico-jurídico).
6. Vale ressaltar que as fontes legislativas, jurisprudenciais, regulatórias e outras
correlatas constituem exclusivamente base de dados para pesquisa, dentre
outras bases. Não são fontes para elaboração da plataforma teórica. Diferente
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das fontes doutrinárias do Direito (propriamente científico-jurídicas), tais fontes


não podem ser consideradas adequadamente para construção de um modelo
analítico-conceitual.
9.7. O texto deste item deve conter o número mínimo de 200 e no máximo 400
palavras.

METODOLOGIA

Por metodologia, por um lado, entende-se os pressupostos na abordagem do


objeto de pesquisa inscritos no modelo analítico-conceitual da pesquisa
(metodologia de abordagem) e, por outro lado, compreende a descrição dos
meios, instrumentos e técnicas necessários para a operacionalização da
investigação, desde a coleta, seleção, análise e interpretação dos dados
(metodologia de procedimentos) para se chegar ao objetivo geral proposto até
a estruturação argumentativa da dissertação ou tese. Exige-se:
1. Determinar a modalidade da pesquisa (teórico-jurídica, prático-jurídica e
crítico-reconstrutiva) e estabelecer as estratégias a serem adotadas em sua
operacionalização.
2. Descrever os procedimentos que serão adotados de acordo com os níveis de
operacionalização da pesquisa (exploratória, analítico-descritiva e explicativo-
compreensiva) relativos ao cumprimento dos objetivos específicos. Cabe
ressaltar que o nível demonstrativo da pesquisa remete exclusivamente à
consecução do objetivo geral.
3. Descrever as técnicas para levantar as informações necessárias ao
desenvolvimento do projeto e as fontes primárias desses dados: instrumentos e
critérios de coleta, seleção, análise e interpretação dos dados e/ou informações
compatíveis com o modelo teórico-conceitual.
4. No caso da pesquisa de natureza empírica, informar e descrever os
instrumentos e suas finalidades: entrevistas, questionários, testes,
levantamento estatístico, observação para levantamento dos dados empíricos
etc. Indicar as estratégias de investigação e fontes de coleta de dados: estudo de
caso, pesquisa de campo, sondagem, pesquisa-ação, pesquisa participante,
pesquisa ex-post facto etc.
5. No caso da pesquisa de natureza teórica, definir e especificar as estratégias de
pesquisa na coleta de dados: bibliográfica e/ou documental. Informar e
descrever os critérios de coleta, seleção, análise e interpretação dos dados
coletados. Indicar as fontes.
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