Metodologia Científica

A pesquisa científica:
Um trabalho acadêmico não pode ser meramente opinativo, ele precisa organizar o
conhecimento do aluno de forma a torná-lo científico. A imparcialidade é importante.
A racionalidade (comprovação) e a objetividade (permanência no tema) são pilares
dessa disciplina.
Para pensar metodologicamente, precisa-se responder às perguntas: “quem”, “o
que, “onde”, “quando” e “por que”.
O que é uma pesquisa científica: é um procedimento racional e sistemático que
busca encontrar respostas aos problemas propostos. A pesquisa é necessária
quando não há respostas para o problema, ou quando elas estão dispersas.
O que é necessário à pesquisa científica:
- qualidades pessoais do pesquisador: conhecer o assunto (ser na sua área),
curiosidade, integridade intelectual (não plagiar), atitude autocorretiva,
imaginação disciplinada, perseverança e paciência, confiança na experiência;
- identificador de recursos (humanos, materiais e financeiros);
- noção clara do tempo.
A diferença entre o projeto de pesquisa e a pesquisa em si é que o projeto é o
planejamento, a prévia. Nele você só apresenta uma proposta, não precisa haver
conclusões. Já na pesquisa você precisa dar uma resposta certa. O projeto estipula
os recursos e o cronograma. Os elementos do projeto são:
- introdução: apresentação do tema (o que), delimitação do tema (onde,
quando), formulação do problema;
- justificativa (por que);
- apresentação dos objetivos a serem atingidos ao final do trabalho (geral e
específicos).
- metodologia de pesquisa: técnicas e métodos;
- cronograma da pesquisa;
- definição de recursos para pesquisa;
- elementos que darão fundamento teórico à pesquisa.
 - ele precisa responder as perguntas: o que será feito? para que será feito?
onde será feito? com que será feito? quando será feito? por que será feito?
para quem será feito? Como será feito? quanto custará? quem fará?

A Introdução:
Tema, delimitação do tema e apresentação do problema de pesquisa. (tipo um funil
do mais amplo para o específico). Geralmente é um texto corrido, pela questão da
clareza.
Exemplo - Área: Direito Constitucional. Tema: Direitos Sociais - Direito à Educação.
(não faça nessa forma de tópico, pois não fica claro).
Não confunda tema com problema, do tema vai surgir o problema.
Qualquer tema pode ser alvo de um trabalho acadêmico, desde algo que te agrade.
Se possível, tente nunca buscar opiniões de professores (na escolha do tema). Além
disso, o tema não precisa ser algo tão conhecido. Sempre preste atenção na
relevância acadêmica do tema. É muito importante ter acesso a fontes confiáveis,
científicas. Não tem problema refazer uma pesquisa já existente, principalmente se
ela for antiga. Delimitação temporal e delimitação geográfica são necessárias para
evitar surpresas. Escreva partindo do pressuposto de que a pessoa não conhece o
assunto.

Introdução: definição do problema de pesquisa

É uma questão não resolvida, a qual você vai buscar uma resposta por meio da sua
pesquisa. Talvez seja a parte mais importante do seu projeto.
Pode estar relacionado a: lacuna epistemológica ou metodológica percebida.
Alguma dúvida quanto à sustentação de uma afirmação geralmente aceita.
Necessidade de pôr à prova uma suposição. Interesses práticos, à vontade de
compreender e explicar uma situação do cotidiano.
Trabalhos sem problema de pesquisa são descritivos e não são verdadeiramente
pesquisas científicas. Além disso, nunca coloque mais de um problema.
Sempre usar o porquê, como, onde e quando - funil, delimitação.
Verificar se o problema é realmente científico. Ele tem que ser feito obrigatoriamente
na forma de pergunta. O ideal é que a pergunta seja redigida de forma clara e
concisa (duas linhas no máximo). O problema deve ser definido de tal forma que a
solução seja possível, evitar totalmente a ambiguidade.
O problema precisa apresentar uma relação entre ideais, ou seja, ter uma relação de
causa e consequência entre os fatos apresentados. (Exemplo: A existência de
preconceitos dificulta a ressocialização dos ex-presidiários no Brasil?) Evitar
começar o problema de pesquisa com “por que”, pois pesquisas que começam
assim não têm cunho acadêmico.

Exemplo final - monografia:

- Objetivo: debate doutrinário de ideias;
- Tema: Direitos Sociais - Direito à Educação;
- Delimitação do tema: Serão analisadas doutrinas publicadas por autores
brasileiros entre os anos de 2010 e 2014;
- Definição do problema: A eventual suspensão da gratuidade do ensino
superior trará benefícios à sociedade do Distrito Federal?
Lembrando que é necessário fazer uma boa contextualização do tema antes de se
chegar ao problema.

Justificativa e Objetivos
A justificativa é a resposta que o autor do trabalho dá à seguinte indagação do leitor:
em que o estudo é importante? Em outras palavras, nesta seção do trabalho o
autor justifica seu estudo, apontando-lhe contribuições de ordem prática ou ao
estado da arte na área pesquisada. É um texto aberto, livre, não existem regras fixas
como na introdução.
Na justificativa apresentam-se as razões da pesquisa, o estágio atual da
problemática envolvida e o interesse pessoal em sua investigação.
Frases como “pretende-se mostrar” ou “o projeto visa” ou ainda “o resultado final
será..” estão erradas e não podem estar na justificativa. Pois essas frases
identificam o objetivo ou apresentam a conclusão.
A justifica deve ter 3 motivos, no mínimo. É possível informar na justificava:
- o modo como se deu a escolha do objeto da pesquisa;
 - como surgiu o problema para o qual se busca solução;
- a relação do problema estudado com o contexto;
- os motivos que justificam a pesquisa;
- as possíveis contribuições do resultado da pesquisa para o conhecimento
humano.
- a viabilidade da execução da pesquisa;
- a originalidade da pesquisa.
Na Justificativa não deve haver citações. A não ser que seja um dado ou estatística.
Deixe muito claro na Justificativa as motivações do seu trabalho de modo a
evidenciar a relevância, a originalidade e o caráter oportuno da pesquisa sobre a
temática envolvida.
Lembrar que a justificativa é uma das pouquíssimas partes do trabalho nas quais o
aluno pode colocar “questões pessoais”.

Existem objetivos gerais e específicos:

- Objetivo geral: responde à pergunta que foi apresentada como problema de
pesquisa ao final da Introdução. Por tal motivo, deve haver um único objetivo
geral para o trabalho acadêmico.
- Objetivos específicos: correspondem ao que será debatido em cada capítulo
do trabalho acadêmico. Portanto, deve haver tantos objetivos específicos
quantos forem os capítulos estruturados pelo aluno em seu Sumário
provisório.
Nesse momento é necessário ter um sumário provisório.
Diferentemente da Introdução e da Justificativa, os objetivos se apresentam na
forma de tópicos.
O objetivo geral relaciona-se diretamente com o problema. Esclarece e direciona o
foco central da pesquisa de maneira ampla. Busca-se definir uma meta para o
trabalho como um todo. Normalmente é redigido em uma frase, utilizando o verbo
no infinitivo (identificar, descrever, avaliar, diagnosticar).
O objetivo geral “responde” o problema de pesquisa.
Devem ser evitados verbos que apresentam ideia de processo, como acompanhar,
estudar, promover etc.
Nos objetivos, tanto no geral como nos específicos, deve ser usado apenas um
verbo.
No caso dos objetivos específicos, cada verbo é uma ação (= um capítulo do
trabalho acadêmico).

Hipóteses e Variáveis
Uma hipótese é uma frase que contém uma relação entre variáveis. Elas precisam
ter uma relação de causa e consequência.
Assim, uma hipótese é um enunciado geral de relações entre variáveis (fatos,
fenômenos), que:
- é formulado como solução provisória para determinado problema (pois você
ainda não tem a resposta para o seu problema);
- apresenta caráter explicativo (A aconteceu por conta de B) ou preditivo;
- é compatível com o conhecimento científico em geral;
- possui consistência lógica;
- é passível de verificação empírica (nada pode ser inventado do nada).
Há várias maneiras de formular hipóteses, mas a mais comum é “se x, então y”, ou
seja, se houver o x, o y acontecerá também. A correlação pode ser feita entre
apenas duas variáveis ou entre mais de duas variáveis.
A hipótese é apresentada de maneira afirmativa.
As hipóteses, em geral, apresentam as seguintes características:
- Consistência lógica: a hipótese não pode possuir contradições em seu
enunciado;
- Verificabilidade: a hipótese deve ser passível de ser submetida à
comprovação, seja diretamente (hipótese empírica), seja em suas
consequências (hipóteses teóricas);
- Simplicidade: não rebuscar demais o enunciado da hipótese com o uso de
palavras desnecessárias;
- Relevância: ter aptidão para explicação dos fatos;
- Especificidade: não deve ser expressa de forma geral;
- Plausíveis;
- Profundas;
- Originais.
Uma variável pode ser considerada uma classificação ou medida; um conceito,
constructo ou conceito operacional que contém ou apresenta valores; aspecto,
propriedade ou fator, discernível em um objeto de estudo e passível de mensuração.
Toda variável é composto dos seguintes itens:
- nome;
- algum tipo de definição verbal;
- sistema classificatório ou conjunto de categorias;
- processo que permita a ordenação.
Diferenças entre variáveis qualitativas e quantitativas:
- qualitativas: números;
- qualitativas: conceitos (constitucional ou não constitucional).

Exemplo Final:
- problema de pesquisa: quais itens presentes no conceito de nação na
Rússia surgidos a partir do século XVI influenciam o comportamento político
contemporâneo dos russo?
- hipóteses:
- o comportamento político na Rússia atual é condicionado diretamente pela
ideia de patrimonialismo, o qual, por sua vez, é um dos componentes
fundamentais do conceito de nação da maneira que o mesmo se desenvolveu
na Rússia;
- a Igreja Ortodoxa, considerada como um dos pilares da nação russa,
historicamente incentivou a submissão da população ao czares, o que levou,
até os dias de hoje, a população a ver o líder político supremo como uma
pessoa que nunca erra e que, portanto, tem direito de se utilizar do poder
político da maneira que acreditar ser a melhor para a população.
Variáveis:
- comportamento político na Rússia atual: como esta variável pretende-se
analisar qual a visão política dos russos na atualidade - se os mesmos votam
de acordo com padrões democráticos ou de acordo com padrões ditatoriais.
- patrimonialismo;
- conceito de nação da maneiro que o mesmo se desenvolveu na Rússia;
- Igreja Ortodoxa.
Métodos de Pesquisa:
Método científico: base de qualquer pesquisa acadêmica.
- Não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
O método será responsável por dar ordem e sequência à pesquisa como um todo,
ou seja, é uma forma de organização do raciocínio em sua pesquisa.
Método: conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança
e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -
traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
pesquisador.
O método de pesquisa se subdivide em dois tipos:
- Métodos de abordagem: caracterizam-se por uma abordagem mais ampla,
em nível de abstração mais elevado. Aplica-se ao entendimento geral do
trabalho - vinculado ao objetivo geral.
- Métodos de procedimento: etapas mais concretas da investigação, com
finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos e
menos abstratos. Aplicam-se às etapas mais específicas do trabalho -
vinculados aos objetivos específicos.
Existem quatro principais métodos de abordagem: o indutivo, o dedutivo, o
hipotético-dedutivo e o dialético.
- Método indutivo: processo mental por meio do qual, partindo de dados
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou
universal (usa-se 10% de pessoas de uma faculdade, por exemplo). O
objetivo dos argumentos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais
amplo do que o das premissas nas quais se basearam. O método indutivo
nos leva a pensar em casos específicos que, por meio da generalização,
falam de casos não observados.
- Método dedutivo: se baseia no contrário da indução, de casos gerais,
tiram-se casos específicos. O método dedutivo é um método lógico que
pressupõem que existam verdades gerais já afirmadas e que sirvam de base
(premissas) para se chegar por meio dele a conhecimentos novos. (usa-se
 todas as pessoas de uma faculdade, menos uma única pessoa e se deduz
que ele pensa como os outros).
- Método hipotético-dedutivo: é mais utilizado. Consiste na construção de
conjecturas (hipóteses) que devem ser submetidas a testes, os mais diversos
possíveis, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas para
solucionar o problema, resistindo, portanto, às tentativas de refutação e
falseamento.
- Método dialético: utiliza-se o método dialético principalmente em trabalhos
que buscam analisar doutrinas. Exemplo: comparação entre os conceitos de
justiça entre Hans Kelsen e Hannah Arendt. O método dialético pode ser
utilizado com qualquer tipo de trabalho acadêmico, desde que, no mesmo, o
objetivo central seja a comparação de ideias.
Em relação aos métodos de procedimento, os principais são os seguintes: método
histórico, método comparativo, método estatístico, método tipológico, método
estruturalista e método monográfico.
- Método histórico: é aquele no qual a abordagem do que ocorre hoje é feita
por meio de levantamento de dados sobre como aquilo ocorreu no passado e
de que maneira o que ocorreu no passado influencia o que ocorre nos dias de
hoje.
- Método comparativo: comparação de leis, estatísticas…;
- Método estatístico: utilização de estatísticas; (pode-se ser aliado ao método
comparativo)
- Método tipológico: se caracteriza pelo fato de o pesquisador criar um “tipo
ideal” sobre o tema que está estudando. O tipo ideal não existe na realidade,
mas serve como ponto de comparação e análise da própria realidade; (criado
por Weber)
- Método estruturalista: tem por princípio o estudo das relações entre os
elementos que compõem determinada estrutura. É diferente do método
tipológico pois o modelo criado tem relação direta com a estrutura realmente
existente na realidade; (parecido com o tipológico, mas parte de algo real)
- Método monográfico: se caracteriza pelo fato de o pesquisador utilizar
doutrinas em seu trabalho, apresentando pontos de vista contrários e/ou
contraditórios ao longo do seu texto para, ao final, chegar a um
posicionamento a respeito dos mesmos.
Técnicas de Pesquisa:
Técnica: forma concreta de se obter informações que darão sustentação à sua
argumentação.
Existem basicamente quatro técnicas de pesquisa:
- Observação: utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade. A observação ajuda o aluno a identificar e a obter provas a respeito
de objetivos sobre os quais o indivíduo não têm consciência, mas que
orientam seu comportamento;
- Entrevista: é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de determinado assunto mediante uma
conversação de natureza profissional. Tem característica subjetiva, ou seja,
as perguntas geralmente são abertas. Normalmente entrevistam-se poucas
pessoas (trabalho qualitativo). Existem três tipos de entrevistas:
- padronizada ou estruturada: lista de perguntas pré-existentes;
- despadronizadas ou não estruturada: você cria novas perguntas durante;
- painel: entrevista a mesma pessoa em momentos diferentes.
- Questionário: constitui uma série ordenada de perguntas que devem ser
respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Tem
características objetivas, ou seja, as perguntas geralmente são fechadas.
Normalmente faz-se um questionário com várias pessoas (trabalho
quantitativo);
- Pesquisa bibliográfica: corresponde, de maneira genérica,a toda a
bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias,
teses, etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações, filmes e tv. Não
deve ser feito de forma resumida, deve ser feito na forma de resenha.
Recomenda-se apenas a utilização de livros, artigos acadêmicos e trabalhos
acadêmicos na fundamentação teórica. Fontes tais como notícias (jornais,
revistas) ou blogs não são consideradas como fontes confiáveis, a menos que
seja um dado estatístico. Opiniões nunca devem estar presentes. Condições
para que o leitor compreenda bem qualquer texto: delimitação da unidade de
leitura: fazer a leitura da obra por etapas, evitando longos intervalos entre
uma leitura e outra. Análise textual: estudo do vocabulário e verificação dos
conceitos, ideias e métodos expostos. Análise interpretativa: posição própria a
respeito das ideias do texto. Problematização: que questões o texto levanta.