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ALESSANDRA VITÓRIA VERONA

RESENHA:
NBR 12216/1992- PROJETO DE ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO
PÚBLICO

Extrema
2024
ALESSANDRA VITÓRIA VERONA

RESENHA:
NBR 12216/1992- PROJETO DE ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO
PÚBLICO

Resenha referente a NBR 12216/1992


apresentado como requisito
complementar para aprovação na
disciplina de Sistema de Abastecimento
de Água - SAA

Orientador: Prof. Pamella Duarte

Extrema
2024
A NBR 12216, emitida pela ABNT, define os requisitos para o
desenvolvimento de sistemas de tratamento de água destinados ao fornecimento
público. Sua primeira versão data de 1992, originada do projeto 02:009.30-
006/1987, conduzido pelo Comitê Brasileiro de Construção Civil e pela Comissão
de Estudo de Projeto de Sistema de Abastecimento de Água. Esta norma
substitui a NB-592/1977 e é complementada por outras regulamentações
pertinentes, como a NBR 12211/1992 - Estudo de concepção de sistemas
públicos de abastecimento de água, a NBR 12213/1992 - Projeto de captação
de água de superfície para abastecimento público e a NBR 12214/1992 – Projeto
de sistema de bombeamento de água para abastecimento público.

Seu propósito fundamental é garantir a qualidade do fornecimento de


água à população, assegurando, ao mesmo tempo, a eficiência, segurança e
sustentabilidade dos sistemas de tratamento. Ela orienta os profissionais
envolvidos na elaboração dos projetos, assim como os órgãos responsáveis pela
aprovação, fiscalização e regulação dos serviços de abastecimento hídrico. Além
disso, contribui para padronizar os critérios e procedimentos adotados em âmbito
nacional, facilitando a troca de experiências e o avanço tecnológico do setor.

Este conjunto de regulamentações é aplicável a uma ampla variedade de


sistemas de tratamento de água, incluindo diversas configurações
convencionais, simplificadas, compactas ou modulares, desde que destinadas
ao fornecimento de água potável para consumo público. No entanto, é importante
observar que não aborda os aspectos relacionados ao reuso de água para fins
não potáveis, os quais são tratados em outras normas específicas, como ABNT
NBR 16782:2019 - Conservação de água em edificações - Requisitos,
procedimentos e diretrizes, ABNT NBR 16783:2019 - Uso de fontes alternativas
de água não potável em edificações e ABNT NBR 15527:2019 - Água de chuva
- Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis.

Além disso, a norma estabelece os elementos, atividades, critérios e


parâmetros essenciais para o dimensionamento, operação e manutenção das
unidades de tratamento de água. Inclui processos como coagulação, floculação,
decantação, filtração, desinfecção, fluoretação, correção de pH, aeração,
armazenamento e distribuição. Define também os requisitos para a elaboração
dos documentos técnicos do projeto, como memoriais, plantas, cortes, detalhes,
especificações e estimativas de custos. Sua estrutura bem-organizada e
linguagem clara e direta facilitam a compreensão e aplicação dos conceitos e
diretrizes propostos, destacando os pontos cruciais e melhores práticas no
planejamento de uma estação de tratamento de água, considerando as
particularidades do corpo hídrico, demanda, área geográfica, clima, legislação e
recursos disponíveis. Além disso, contempla a flexibilidade e capacidade de
inovação para adaptação às necessidades e condições locais.

No entanto, a norma apresenta algumas deficiências e lacunas, que


podem ser corrigidas por meio de atualizações e revisões periódicas. Por
exemplo, não abrange certos processos e tecnologias de tratamento de água
que surgiram ou evoluíram nas últimas décadas, como:

• Membranas filtrantes: são estruturas porosas que funcionam como


obstáculos para reter partículas, microrganismos, sais e outras
substâncias indesejadas presentes na água. Elas operam através
de uma combinação de pressão e sucção, permitindo que a água
passe pelos poros da membrana enquanto as impurezas são
retidas. Existem diversos tipos de membranas filtrantes, variando
conforme o tamanho dos poros e o material utilizado. Por exemplo,
a microfiltração é empregada para reter partículas sólidas,
bactérias e protozoários; a ultrafiltração é utilizada para reter vírus,
coloides e macromoléculas orgânicas; a nanofiltração é aplicada
para reter sais divalentes, pesticidas e corantes; e a osmose
reversa é empregada para reter sais monovalentes, metais
pesados e contaminantes orgânicos. Essas membranas podem
ser empregadas em diversas etapas do tratamento de água, como
dessalinização, abrandamento, purificação e reuso. Elas oferecem
diversas vantagens, como alta eficiência, baixo consumo de
energia, menor geração de resíduos e melhor qualidade da água
tratada.
• Ozonização: é uma técnica de purificação de água que emprega o
ozônio, um gás composto por três átomos de oxigênio, para
eliminar impurezas, microrganismos, cor, turbidez e odor da água.
O ozônio é produzido por um dispositivo conhecido como
ozonizador, o qual captura o ar do entorno e o submete a uma
descarga elétrica, fragmentando as moléculas de oxigênio e
originando o ozônio. Esse ozônio é então introduzido na água,
onde interage com as substâncias contaminantes, oxidando-as e
eliminando-as. Além disso, a ozonização eleva o nível de oxigênio
dissolvido na água, melhorando sua qualidade e potabilidade. Este
método se destaca por sua eficácia, rapidez e eco-
sustentabilidade, uma vez que não deixa resíduos químicos na
água ou no ambiente.
• Carvão ativado: é uma substância porosa, age como um filtro,
retendo as impurezas da água em sua estrutura, o que aprimora
sua qualidade e aparência. É empregado para eliminar
substâncias responsáveis por coloração, odor, sabor ou toxicidade
na água, tais como cloro, óleos, pesticidas, metais pesados e
compostos orgânicos. O carvão ativado é uma opção eficiente,
econômica e amigável ao meio ambiente para a purificação da
água, pois não gera resíduos químicos nem altera sua
composição. No entanto, sua eficácia diminui ao longo do tempo,
já que seus poros se saturam e perdem a capacidade de retenção.
Por isso, é necessário substituir o carvão periodicamente ou
submetê-lo a processos de regeneração, como tratamentos
térmicos ou químicos.
• Radiação ultravioleta: representa um método de desinfecção de
água que emprega luz UV para neutralizar microrganismos, como
bactérias, vírus e protozoários. A luz UV danifica o material
genético desses microrganismos, impedindo sua reprodução e
erradicação. A quantidade de UV requerida para a desinfecção
varia conforme a qualidade da água, a carga microbiana e os
regulamentos vigentes. O tratamento de água por meio de UV
oferece diversas vantagens, tais como alta eficácia na eliminação
de microrganismos, inclusive os mais resistentes, baixo consumo
de energia e longa vida útil das lâmpadas. Além disso, não
modifica as propriedades químicas, sabor ou odor da água, não
produz resíduos químicos ou subprodutos tóxicos e é
ecologicamente benéfico e seguro. Este método pode ser
integrado a outras técnicas de tratamento, como filtração, osmose
reversa, carvão ativado, entre outros.

Além disso, não especifica os parâmetros de qualidade da água tratada e os


procedimentos de ensaio, os quais devem ser consultados em outras normas ou
legislações. Também não indica quais legislações ou normas devem ser
consideradas para esse fim. Adicionalmente, não trata dos aspectos
socioambientais e econômicos pertinentes ao projeto de uma estação de
tratamento de água, como participação comunitária, educação ambiental, gestão
de resíduos, eficiência energética, análise de viabilidade, entre outros.

Desta forma, a NBR 12216 desempenha um papel crucial e de suma


importância no âmbito do saneamento básico, ao estabelecer as diretrizes para
o desenvolvimento de projetos de estações de tratamento de água destinadas
ao abastecimento público, com o objetivo primordial de salvaguardar a qualidade
da água e preservar a saúde da comunidade. Contudo, é imperativo que esta
norma seja regularmente atualizada e revisada, de modo a incorporar os
progressos e as exigências do setor, assim como considerar os aspectos
socioambientais e econômicos relevantes.
Caso Real

Durante anos, a cidade de Jaboticabal, em São Paulo, enfrentou uma


grave escassez de água, afetando vários bairros com interrupções no
abastecimento. Em um vídeo de 2021, o presidente do SAAEJ - Serviço
Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal, expõe as dificuldades enfrentadas
pela população, atribuindo-as à falta de investimentos em infraestrutura e
abertura de poços profundos nos anos anteriores, juntamente com problemas na
recém-inaugurada ETA, construída em 2020. Ele destaca que os investimentos
realizados foram insuficientes e não consideraram a necessidade de futuras
expansões, violando as normas estabelecidas pela NBR 12.216 para
dimensionamento de projetos de ETA.

Para contornar a situação, foi utilizada uma manta plástica para elevar o
nível do Córrego Rico. No entanto, a ETA recém-inaugurada não suporta o
aumento da vazão do rio, tratando apenas 700 m³/h, enquanto tem capacidade
para captar 1000 m³/h. Além disso, a limpeza dos filtros demanda grande
quantidade de água, perdida durante o processo, e a pressão elevada na ETA
gera bolhas de ar, aumentando a sujeira na água ao invés de decantá-la, levando
à necessidade frequente de interrupções no abastecimento para limpeza dos
filtros, além do risco de danificar os mesmos.

Os poços profundos utilizados para captação estão secos devido à falta


de chuvas, captando apenas 120 m³/h em comparação aos 200 m³/h habituais.
O SAAEJ implementou duas medidas para resolver o problema: a setorização
dos bairros, devido à falta de planejamento que resultou em interligações
inadequadas, e a perfuração de novos poços profundos. No entanto, mesmo em
2024, o SAAEJ continua enfrentando desafios para normalizar o abastecimento
de água na cidade.

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