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ESTRUTURAS
Introdução
Denomina-se fundação o elemento que faz a transição entre uma edifica-
ção e o solo, ou seja, é uma estrutura que transfere as cargas provenientes
de uma edificação para o solo em que ela está assentada. Dependendo de
como a carga é transmitida ao solo, as fundações podem ser classificadas
em superficiais ou profundas. Elas estão sujeitas a alterações de compor-
tamento e ocorrência de problemas, que vão desde a caracterização do
solo, durante a fase de análise e projeto, até a execução das estruturas e
também de eventos após a sua conclusão, incluindo a possível degra-
dação dos materiais que constituem esses elementos. A concepção e a
execução de fundações envolvem inúmeras atividades, que, em geral,
são desempenhadas por profissionais com formações distintas. Por isso,
é muito importante o conhecimento de todas as possibilidades de pro-
blemas ao longo da vida útil dessas estruturas, a fim de permitir ações
mais qualificadas de cada um dos profissionais.
Neste capítulo, você vai aprender a diferenciar os principais tipos de
fundações existentes e conhecerá as diferentes etapas de origem de
problemas em uma fundação e quais as falhas que costumam ocorrer.
Investigação do subsolo
Todas as edificações, seja durante a sua construção ou após a sua conclusão,
estão submetidas a deslocamentos verticais lentos — os recalques — até que
seja atingido o equilíbrio entre as cargas que chegam às fundações e o solo
sob o qual elas estão construídas. Quando as fundações são mal concebidas,
podem ocorrer recalques distintos entre os diversos apoios da edificação,
denominados de recalques diferenciais, podendo ocasionar a abertura de
trincas nas alvenarias e nas estruturas.
Os problemas em fundações podem ter origem, basicamente, na investigação
do subsolo, durante a análise e o projeto, na sua execução e em eventos após
a sua construção, englobando a degradação do solo. Problemas patológicos
em fundações de construções civis têm acontecido com frequência no mundo
todo. Na Figura 1, é possível verificar o desaprumo ocorrido em um famoso
monumento italiano, a Torre de Pisa. Construída há mais de 600 anos, quando
ainda não se realizavam estudos tão aprofundados do solo, a Torre de Pisa
começou a sofrer recalques ainda na sua construção, pois o tipo de fundação
escolhida não era apropriado para o solo do local.
Para saber mais sobre o ensaio SPT, leia a ABNT NBR 6484:2001, “Solo – Sondagens de
simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio”.
Os tipos de fundações
O solo é o meio de suporte dos carregamentos, e é de suma importância co-
nhecer o seu comportamento. Sua capacidade de carga e de deformabilidade
são variáveis e dependem dos seguintes fatores principais:
Fundações superficiais
As fundações superficiais são mais utilizadas em obras de pequeno porte (cargas
baixas), para solos rígidos e rochosos, e são assentadas em profundidades de até
duas vezes a sua menor dimensão em planta. Os principais tipos de fundação
superficial são apresentados a seguir e podem ser visualizados na Figura 2:
Fundações profundas
As fundações profundas são mais utilizadas em obras grandes ou para solos
mais instáveis, em que muita carga será depositada no terreno. Elas são as-
sentadas em profundidades maiores que duas vezes a sua menor dimensão em
planta. Os tipos de fundação superficial são apresentados a seguir e podem
ser visualizados na Figura 3:
Dependendo da forma como as estacas são assentadas no solo, elas podem se classificar
em estacas cravadas (ou de deslocamento) e estacas escavadas.
As estacas cravadas são introduzidas no terreno de forma que o solo não seja retirado,
que é o caso das estacas pré-moldadas de concreto, metálicas, de madeira e também as
do tipo Franki. As estacas escavadas são executadas in loco (no próprio local), mediante
a retirada prévia do solo por algum processo de perfuração, que é o caso das estacas
do tipo Strauss, hélice contínua e estaca-raiz.
As estacas cravadas possuem mobilização de resistência na ponta e de atrito lateral,
imediatamente após inseridas no solo. Desse modo, costumam suportar cargas maiores
que uma estaca escavada com as mesmas características. As estacas escavadas dependem
de um pequeno recalque para que o atrito e a resistência de ponta sejam mobilizados.
Figura 3. Principais tipos de fundações profundas: estaca cravada (a1 e a2), estaca
moldada in loco (b) e tubulão (c).
Fonte: Adaptada de Associação Brasileira de Cimento Portland (2002).
Problemas em fundações
Partindo do pressuposto de que as fundações vão se movimentar, seja durante
a construção ou após a conclusão, é muito importante saber distinguir os pos-
síveis movimentos a que estão suscetíveis. Um elemento de fundação poderá
estar sujeito tanto a recalques absolutos, que são os deslocamentos verticais
descendentes, quanto a recalques diferenciais, que representam a diferença
entre recalques absolutos de quaisquer elementos de fundação.
O recalque diferencial causa distorções em uma estrutura e, conforme
a sua magnitude, pode provocar o aparecimento de fissuras na edificação,
a inversão da inclinação de uma tubulação de esgoto ou até o colapso da
superestrutura, pela geração de esforços não suportados por ela. Se todos os
elementos de fundação tiverem o mesmo recalque absoluto, não ocorrerão
fissuras; no entanto, não é possível prever se outros danos poderão ser cau-
sados, como o rompimento de canais de água e esgoto ou o desnível entre
a rua e a entrada da obra. Nesse contexto, surgiu o conceito de recalques
admissíveis.
Durante a fase de análise e projeto de uma fundação, faz-se a estimativa
dos recalques admissíveis, que são valores obtidos por meio de dados técni-
cos coletados de obras no passado e que servem apenas como recomendação,
devendo ser utilizados com cautela. Os valores limites recomendados não
indicam se os danos resultantes dos recalques são apenas visuais ou estéticos
(sem risco), se comprometem o uso da edificação ou se são estruturais e
oferecem risco aos usuários.
Como já mencionado, as manifestações patológicas mais comuns em
elementos estruturais, resultantes do movimento relativo entre as fundações,
são as fissuras. Geralmente inclinadas, podem ser confundidas com fissuras
geradas por deflexão de componentes estruturais, mas estas não costumam
ter aberturas tão grandes. A Figura 4 apresenta as configurações típicas de
fissuras causadas por recalques de fundações de pilar interno (A), pilar de
canto (B) e de extremidade de parede portante (C).
Falhas de projeto
Realizada a investigação do subsolo, o próximo passo é a determinação das
solicitações ou cargas de projeto, levando em conta o comportamento do
solo mediante carregamento (empuxo, atrito negativo, etc.) e como se dará a
transmissão de esforços entre o elemento de fundação e o solo. Verifica-se a
segurança com relação à ruptura e à deformação do solo, a qual pode ser feita
por meio de métodos numéricos, e faz-se o dimensionamento estrutural do
elemento de fundação, com a posterior elaboração de uma planta construtiva
para a etapa de execução no canteiro.
No que se refere à etapa de análise e projeto, as falhas que podem acontecer
com as fundações são relacionadas a (MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID,
2015):
Falhas de execução
Depois da investigação do subsolo, a execução é a etapa que apresenta a maior
ocorrência de falhas que geram problemas nas fundações. É muito importante
que, além de a construção ser feita por profissionais experientes e equipamentos
apropriados, sejam realizados a fiscalização da execução e o registro de todos os
dados pertinentes, para que se possa verificar a conformidade com as normas.
Para saber mais sobre quais são as especificações necessárias para o projeto e a exe-
cução das fundações, leia a ABNT NBR 6122:2010, “Projeto e execução de fundações”.
Leituras recomendadas
ALONSO, U. R. Previsão e controle das fundações: uma introdução ao controle da
qualidade em fundações. São Paulo: Edgard Blücher, 1991.
SILVA, D. A. Levantamento de problemas em fundações correntes no Estado do Rio Grande
do Sul. 1993. 127 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-Gradua-
ção em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1993.
SOUZA, V. C. M.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto.
São Paulo: Pini, 1998.
THOMAZ, E. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. São Paulo: Pini, 1989