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ESTUDO DE CASO SOBRE A ADMINISTRAÇÃO DO CRUZEIRO ESPORTE CLUBE:

Análise clube-empresa

Fernando Villela Granha – Graduando em Administração – UNIS/MG


e-mail: fernando.granha@alunos.unis.edu.br
Gustavo Andrade Abreu – Orientador – UNIS/MG
e-mail: gustavo.abreu@unis.edu.br

RESUMO

Este trabalho analisa a má administração da diretoria do Cruzeiro Esporte Clube nos


últimos anos. Tal abordagem se deve ao caos que a última gestão do clube deixou, a fim de
entender como surgiram todos esses problemas, acumulados em processos, dívidas e punições, e
extrair seus pontos negativos. Também se espera que tal estudo sirva como base para
entendimento sobre as ações para uma gestão de qualidade em clubes de futebol no Brasil. O
objetivo geral deste trabalho é analisar os últimos mandatos do núcleo de gestão do clube
envolvendo as práticas administrativas e que não tiveram sucesso, e os objetivos específicos
discutir os fatores que ocasionaram todos os problemas administrativos pela antiga gestão, e
apresentar soluções a curto e longo prazo. E também discutir as tomadas de decisões dos antigos
gestores, optando por montar um elenco caríssimo e competitivo, porém sem pensar na saúde
financeira clube. Este propósito será conseguido mediante pesquisa exploratória, fazendo um
levantamento de informações em artigos e notícias, além de uma entrevista com um conselheiro
vitalício do clube para obtenção de conhecimentos das práticas administrativas aplicadas pelo
clube Cruzeiro Esporte Clube, e também a posição de alguns autores sobre o assunto abordado,
através de pesquisa bibliográfica, documental e estudo de caso.

Palavras-chave: Administração. Gestão esportiva. Futebol.

VI SIMGETI – Grupo Educacional Unis – Varginha, 23 e 24 de novembro de 2020 –


ISSN: 2447-7303
1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade demonstrar como é importante, e até mesmo vital, o
conhecimento e aplicação de técnicas e modelos de gestão na administração de qualquer empresa
ou organização. O trabalho terá como foco a análise da administração do clube Cruzeiro Esporte
Clube, buscando responder ao problema de pesquisa: como a má gestão e decisões errôneas
podem comprometer um clube de futebol?
O clube de futebol Cruzeiro Esporte Clube foi fundado em 1921 por desportistas de uma
colônia italiana em Belo Horizonte, com o nome de Societá Sportiva Palestra, vindo a ser
rebatizado para seu nome atual em 1942. Reconhecido com um dos maiores clubes de futebol no
cenário nacional e internacional com um currículo de muitos títulos, o Cruzeiro é considerado o
melhor time da América do Sul no século XX, pela IFFHS (Federação Internacional de Histórias
e Estatísticas do Futebol). Uma das grandes conquistas foi a tríplice coroa em 2003 após vencer o
Campeonato Estadual, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro no mesmo ano.
Tal abordagem se faz necessária devido à hipótese de que durante a gestão ocorreram
desvios de dinheiro, acordos irregulares em compras de jogadores que não foram cumpridos e
deixaram o clube completamente endividado. Também é importante citar que essa má gestão não
permitiu ao clube investir nas categorias de base e obter recursos com a formação de jogadores.
O objetivo geral deste estudo é analisar o modelo de gestão do clube envolvendo as
práticas administrativas e que não tiveram sucesso, sendo os objetivos específicos discutir os
fatores que ocasionaram todos os problemas administrativos pela antiga gestão, e buscar soluções
a curto e longo prazo, além de discutir as tomadas de decisões dos antigos gestores, optando por
montar um elenco caríssimo e competitivo, porém sem pensar na saúde financeira.
Este propósito será conseguido mediante pesquisa exploratória, fazendo um levantamento
de informações em artigos e notícias para obtenção de conhecimentos das práticas

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administrativas aplicadas pelo Cruzeiro Esporte Clube, e também entrevista com um conselheiro
e membro do conselho gestor transitório do clube, a fim de obter uma melhor análise da situação.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Base teórica do trabalho, aqui é apresentado os conhecimentos teóricos sobre o tema, e


também a posição de alguns autores sobre o assunto abordado. Neste tópico são abordados
inicialmente conceitos fundamentais de administração e planejamento, bem como a análise da
gestão esportiva e financeira em organizações. O foco principal do projeto é estudar as
influências da má gestão do Cruzeiro, analisando as tomadas de decisões e os problemas
administrativos aplicados que levaram ao fracasso, se fazendo necessário um estudo a fim de
entender como surgiram todos esses problemas, acumulados em processos, dívidas e punições, e
extrair seus pontos negativos.

2.1 Planejamento estratégico

Um primeiro aspecto a ser tratado é a respeito do planejamento estratégico do clube, pois


o fator mais importante para alcançar os objetivos de uma equipe deve ser feito através de um
planejamento. Chiavenato (1987) afirma que o planejamento estratégico refere-se à maneira pela
qual uma empresa pretende aplicar uma determinada estratégia para alcançar os objetivos
propostos. É geralmente um planejamento global em longo prazo.
No primeiro momento é importante definir o conceito, planejar refere-se ao ato de pensar
em um futuro almejado, elaborar um plano para que se chegue ao objetivo, e a palavra
“estratégica” significa que esse planejamento deve ser feito com inteligência. A partir daí, seguir
com a missão, visão, objetivos, metas e planos de ação que farão parte do planejamento
estratégico. Portanto, na prática pode-se dizer que no futebol o grande objetivo é ganhar as

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partidas disputadas, com a meta de fazer o gol e a missão de ganhar títulos e formar grandes
jogadores.
Nas organizações, segundo Oliveira (2007, p. 257), a função controle e avaliação num
processo de planejamento estratégico têm algumas finalidades, mencionadas a seguir:
• identificar problemas, falhas e erros que se transformam em desvios do planejado, com a
finalidade de corrigi-los e de evitar sua reincidência;
• fazer com que os resultados obtidos com a realização das operações estejam, tanto
quanto possível, próximos dos resultados esperados e possibilitem o alcance dos desafios e
consecução dos objetivos;
• verificar se as estratégias e políticas estão proporcionando os resultados esperados,
dentro das situações existentes e previstas;
• proporcionar informações gerenciais periódicas, para que seja rápida a intervenção no
desempenho do processo.
O planejamento estratégico deve ser feito de forma clara e estudada, se não tiver objetivos
e metas a ser alcançadas, dificilmente terá o retorno esperado, e nos clubes funciona da mesma
maneira, porém o retorno é usado para compra de novos jogadores, e investimentos, como nas
categorias de base ou melhorias no Centro de Treinamento e estádio próprio, afinal o clube é uma
associação sem fins lucrativos.
A trajetória ao longo da temporada passa a ser executada com mais eficiência se, no início
do ano foram traçados objetivos e conquistas que o clube quer atingir. Segundo Brunoro e Afif
(1997), durante o trabalho de planejamento, na obra intitulada “Futebol 100% profissional”, o
clube deve-se ater aos seguintes itens: Estudo da tabela e regulamento, e o estudo dos
adversários.
Estudar a tabela e o regulamento da competição é importante para ser feito um
planejamento da programação semanal (treinos, viagens, concentrações, folgas etc.) e seus
respectivos custos para melhor controle financeiro. Fundamental também não haver quaisquer
dúvidas a respeito do regulamento e não ocorrer imprevistos ao longo da competição.

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Quanto ao estudo dos adversários, as equipes adversárias devem ser tratadas como
concorrentes ao título, portanto fazer um levantamento dos pontos fortes e fracos do adversário é
muito importante.

2.2 Gestão Profissional nos clubes de futebol

Outro indicador a ser destacado e faz necessária uma melhor análise se trata da gestão
administrativa aplicada nos clubes de futebol. Para Sobral (2008) em Administração: Teoria e
prática no contexto brasileiro, “gestão é um processo que consiste na coordenação do trabalho
dos membros da organização e na alocação dos recursos organizacionais para alcançar os
objetivos de uma forma eficaz e eficiente”.
Assim como no Brasil e no mundo, o futebol apresenta um crescimento contínuo e valores
exorbitantes de receitas, patrocínios e salários de atletas, diante disso, pode-se dizer que sem uma
gestão profissional e de sucesso, o clube dificilmente alcançará suas glórias e conquistas. O
Brasil é conhecido mundialmente como o “país do futebol”, possui 5 (cinco) títulos de Copas do
Mundo, e diversos jogadores que encantam o mundo, porém se comparado nosso campeonato
nacional com os demais da Europa, é possível perceber uma clara vantagem técnica,
administrativa e financeira para os europeus, até mesmo comparado os clubes de menor
expressão.
Com o passar dos anos e através da globalização, o futebol profissional e toda a indústria
voltada para tal, passou a movimentar bilhões de dólares por ano em todo o mundo, com isso, a
administração clube-empresa passa a ser essencial. Na Europa podemos observar times como
PSG e Manchester City, cujos investidores árabes optam por investirem neste cenário por
aspectos ligados a cultura ou o marketing, visando, por exemplo, a Copa do Mundo de 2022. Já
no Brasil podemos perceber que esta cultura de profissionalização e investidores estrangeiros
milionários ainda está longe de acontecer, seja por questões políticas, CBF ou até mesmo por
tradição e patriotismo.

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De acordo com Mattar (2020):
“Quem conhece e acompanha mais de perto as questões relacionadas à gestão dos clubes
de futebol no Brasil sabe que há muito tempo o comando destas instituições é alvo de
questionamentos quanto à sua eficácia, transparência e responsabilidade financeira e
administrativa: a ausência da gestão “profissional””.

2.2.1 Gestão Financeira

Outro indicador a ser destacado e faz necessário uma melhor análise se trata da gestão
financeira, em especial nestes 2 (dois) últimos anos quando aconteceram práticas extremamente
antiprofissionais no Cruzeiro. Em uma empresa é necessário que todas as decisões passem antes
por uma análise financeira que demonstre sua viabilidade, para que se possa alcançar o objetivo
geral da organização (Maximiano 2009).
De acordo com Grafietti (2019), as 10 melhores práticas financeiras para os clubes de
futebol no Brasil são:
1. Orçamentos abertos
Antes de tudo, um clube precisa saber quanto pretende gastar. É importante desenvolver
orçamentos abertos aos associados e torcedores apresentando qual a estimativa de receitas, custos
e investimentos. Dessa forma, no início de cada ano todos sabem de antemão o que esperar de
cada clube, se há dinheiro disponível para contratações e investimentos ou se o time pretende
arrumar a casa.
2. Demonstrações financeiras trimestrais
As organizações são obrigadas a apresentar o orçamento a cada ano. No entanto, o ideal
seria que o acompanhamento fosse trimestral, como as empresas de capital aberto. Dessa forma,
todos podem acompanhar se os gastos e receitas estão de acordo com o orçamento apresentado no
início do ano.
3. Limites de gastos

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Cada novo presidente de clube quer fazer uma gestão vitoriosa. Por isso, acaba gastando
muito com contratações caras e pedem adiantamento de publicidade ou patrocínio ou
empréstimos aos bancos, diz Grafietti.
Os gastos com salários e contratações deveriam ser, no máximo, se igualar às receitas,
para garantir que o restante possa ser usado para quitar dívidas.

4. Remuneração por performance


Essa é uma das táticas mais polêmicas e complicadas entre as sugeridas pelo economista
do Itaú BBA. A ideia é ajustar os salários dos jogadores da mesma forma como no mundo
corporativo, ajustando pagamentos adicionais por performance que gere resultado financeiro,
como títulos e classificações. No entanto, isso só seria possível se todos os times seguissem a
mesma mudança. Se um time mantiver a prática atual de pagamento, os jogadores trocariam seus
times por esse. “Como os clubes não pensam em conjunto, não existem práticas comuns ao
mercado”, afirma o economista.
5. Cuidar da cultura corporativa do clube
Assim como em uma empresa, os clubes deveriam ter uma identidade, um jeito de jogar
específico. “Quando o Barcelona entra em campo, por exemplo, todos sabem como ele vai jogar
e o que esperar da partida. Todos os jogadores têm a mesma filosofia”, afirma ele.
Para alcançar essa unidade, o time precisa trabalhar nas categorias de base e profissional
de forma alinhada, ao utilizar os mesmos conceitos táticos.
6. Priorizar investimentos estruturais
Criar uma cultura corporativa só é possível se o time investir na categoria de base. Esse
ponto deveria ser mandatório, diz o Itaú BBA, pois formará o jogador que será à base do elenco.
O investimento também é muito mais barato do que a contratação de um jogador já “pronto”. Ao
formar o atleta desde o começo de sua carreira, o time pode desenvolver sua cultura esportiva. De
acordo com Grafietti, o São Paulo é um bom exemplo de investimentos na base.

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7. Plano Estratégico
A criação de uma cultura e o investimento de base culmina com a necessidade de pensar o
futuro da organização em longo prazo. No entanto, a troca de treinadores e de presidência em
poucos anos levam as organizações a pensarem apenas no curto prazo. “Quem se preparar para o
futuro provavelmente não estará no time para colher os frutos”, afirmou o especialista.
Para ele, o Flamengo é um exemplo de como um time conseguiu se planejar para o futuro
há alguns anos e, hoje, está colhendo esses frutos.
8. Proximidade com o bom cliente
Os times precisam se afastar do torcedor que a arranha a imagem do clube. De acordo
com Grafietti, a torcida organizada traz poucos benefícios financeiros ao clube, já que os
membros consomem marcas próprias de uniforme e têm descontos nos ingressos.
Do outro lado, o clube deveria focar em ações que atraem a torcida “comum”, que traz
mais receita e que irá garantir a sobrevivência do clube no longo prazo. Um bom exemplo é o
programa de sócio torcedor do Palmeiras, afirma.
9. Relação direta entre clube e atleta
O clube deve ser responsável pela formação do atleta, pela avaliação e pesquisa de
mercado para contratações. Além disso, deveria criar Comissões de Contratações para discutir
junto com a Comissão Técnica a real necessidade de uma contratação após avaliar o elenco atual
e as possibilidades da base.
Essas medidas deixariam o clube mais independente dos empresários dos jogadores, que
podem colocar obstáculos na relação entre time e atleta, empregador e empregado, diz o banco.
10. Conselhos de Administração
Os Conselheiros do time também merecem uma atenção especial. De acordo com
Grafietti, os clubes têm uma estrutura anacrônica com função meramente política que são os
Conselhos Deliberativos. A estrutura de Conselhos de Administração, que trabalham trazendo
sugestões e recomendações de ações do dia a dia, pode trazer uma visão arejada e sem vínculos
políticos.

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2.2.2 Lei Pelé e PROFUT

Em 1998 foi criada a Lei n° 9.615 de 24 de março de 1998, mais conhecida como Lei
Pelé, que tinha o objetivo de tornar obrigatória a transformação dos clubes associativos em
clubes-empresas, ou seja, sociedades que visam lucros. Os clubes se manifestaram contra a essa
exigência da lei, pois deixariam de contar com uma série de isenções e benefícios fiscais no caso
de alteração do modelo, e assim a lei teve seu contexto original alterado, tornando não mais
obrigatória, mas sim facultativa a adoção do modelo empresarial.
Em 2015 foi criado a Lei n° 13.155, de 4 de Agosto de 2015. A lei estabelece princípios e
práticas de responsabilidade fiscal e financeira e de gestão transparente e democrática para
entidades desportivas profissionais de futebol, e cria o PROFUT, Programa de Modernização da
Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro.
Nesse sentido, o art. 4° estabelece que as entidades desportivas profissionais de futebol,
para que se mantenham no PROFUT, cumpram certos requisitos, como:
I - a fixação do período do mandato de seu presidente ou dirigente máximo e demais cargos
eletivos em até quatro anos, permitida uma única recondução;
II - a comprovação da existência e autonomia do seu conselho fiscal; e.
III - a previsão, em seu estatuto ou contrato social, do afastamento imediato e inelegibilidade,
pelo período de, no mínimo, cinco anos, de dirigente ou administrador que praticar ato de gestão
irregular ou temerária.
Segundo o próprio site do Cruzeiro E C, o clube aderiu ao PROFUT no mesmo ano da
criação, 2015.

2.3 Marketing esportivo

De igual importância a ser abordado é a respeito do marketing esportivo aplicado nos clubes

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do Brasil. De acordo com Kotler e Keller (2006, p. 03), o marketing é definido como suprir
necessidades gerando lucro, ele envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas
e sociais.
Nosso país demorou a criar planos realmente organizados nesse segmento e agora tenta
igualar a eficiência de ações promovidas principalmente no futebol europeu. Atualmente os
clubes brasileiros enxergam o patrocínio como uma ferramenta de geração de visibilidade para as
marcas patrocinadoras, resultando no uniforme cheio de marcas, principalmente em clubes de
menor expressão onde a visibilidade é menor, além também do retorno financeiro.
Os clubes europeus trabalham muito bem o marketing através de parcerias que favorecem
os dois lados, clube e patrocinador, e ótima visibilidade pela torcida e grande retorno financeiro.
O Barcelona, por exemplo, conta com 17 marcas associadas ao clube e gera mais de 150 milhões
de euros por ano. O clube mantém uma parceria com a UNICEF que paga um valor para a
entidade, que tem espaço em seu uniforme e na TV3, televisão da Catalunha, impulsionando
projetos de globalização de sua marca, associação com empresas que vai muito além de espaços
publicitários em seus uniformes e projetos próprios com torcedores e empresas. Todas essas
estratégias favorecem o clube no cenário nacional, e reflete mundialmente, visto que passa a ser
visto com bons olhos ao redor do mundo, e por outros clubes que passam a inspirar nos métodos
aplicados.
No Brasil, alguns casos de sucesso em diferentes clubes foi a estratégia de contratar
jogadores famosos mundialmente, em fim de carreira e por valores mais acessíveis, casos como
do Petkovic e Seedorf. O jogador sérvio Petkovic, atuou no Vitória, Vasco, Fluminense, Atlético-
MG, Santos e Goiás, mas sua principal passagem foi pelo Flamengo. Outro jogador, e grande
contratação de sucesso foi o holandês Clarence Seedorf, multicampeão por Ajax, Real Madrid,
Milan e Inter de Milão, que chegou ao Botafogo em 2012.
Como dito anteriormente, as estratégias de marketing aplicadas pelos clubes brasileiros
não são as melhores, porém é possível dizer que o Cruzeiro investe muito bem neste setor,

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trazendo diferentes métodos e ações com empresas parceiras, às vezes acertando e às vezes
errando. Para Pontes (2018), ex-diretor de marketing do Cruzeiro, o clube sempre enxergou o
marketing como um investimento, e não como despesa.

“Uma série de iniciativas que se iniciou com a estratégia de montar um time forte. Para
levar o torcedor ao estádio precisa de ídolos e jogadores de renomes, nomes grandes que
atraem o torcedor. A estratégia de marketing também com uma precificação mais
acessível nos campeonatos de menor apelo, no caso o estadual, e uma série de iniciativas
foram de campo, como eventos na esplanada, o “Aquece Mineirão”, fogos, time de
vôlei, gols, shows, canhão de gás quando o time faz gol é sempre uma novidade a cada
jogo”

Sócio torcedor, interação clube-jogador, lojas com camisas e produtos personalizados,


redes sociais e até mesmo bar temático e marca de telefonia são algumas das estratégias
aplicadas. O programa sócio torcedor é a principal estratégia de marketing e também um grande
investimento por parte do Cruzeiro. Aqueles que optam por aderir ao programa pagam uma
mensalidade, que possui diferentes programas e benefícios. Descontos no ingresso e prioridade
de compra são o principal, além de acumular “Cruzeiros”, moeda virtual que o torcedor adquire
nas compra de ingressos e produtos oficiais, e podem ser trocados por um tour pelo estádio,
vestiário, Centro de Treinamento ou também camisas autografadas pelos jogadores.
Em 2017 o Cruzeiro inaugurou a Confraria Celeste em Belo Horizonte, bar temático com
decoração totalmente dedicada ao clube e exposições de camisas históricas, aproximam ainda
mais o torcedor. Além de ser um local para “happy hour”, almoço ou jantar, o reduto também
transmite partidas do Cruzeiro em grandes televisores. Outra ação de marketing foi a criação de
uma marca de telefonia própria, o Cruzeiro Celular, apresentado no ano passado e com planos
para todos os perfis de torcedores. É a primeira equipe do país a oferecer esse tipo de serviço e
passa a ser um fator maior de geração de renda, visto que 83% da população brasileira estão
conectadas no mundo on-line.

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Estes fatores mostram que o clube estuda o mercado e investe em diferentes ações para
promover o marketing do clube, inovando mais uma vez em busca de receitas.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Conforme salientamos na introdução, analisaremos os dados obtidos através de um estudo


de caso, usando como ferramenta a pesquisa exploratória. Tal pesquisa foi realizada virtualmente
devido aos problemas pandêmicos enfrentados atualmente, através de uma vídeo chamada e com
a presença do membro do conselho gestor (2020) e ex-presidente do conselho fiscal do Cruzeiro
entre 2009/14. Na ocasião foram feitas perguntas relacionadas ao planejamento estratégico para a
temporada, investimento nas categorias de base, marketing, gestão e administração do clube, e
ainda sobre a presidência. A partir dos resultados obtidos foi feita uma análise e apresentado os
resultados. Também foram feitas pesquisas exploratórias, levantando informações teóricas a
respeito do conceito administrativo, e através de artigos conhecimentos das práticas aplicadas
pelo Cruzeiro E C.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO

Este capítulo abordará a análise das decisões tomadas pelos diretores da antiga gestão do
clube que ocasionaram em diversas dívidas após acordos não cumpridos em compras de
jogadores, e também possíveis desvios irregulares de dinheiro. Também mostra as opiniões de
um conselheiro do clube.
Conversado com Anísio Ciscotto, ele começou a frequentar o Cruzeiro em 1990 a convite
do então presidente César Masci. Em 1993 se tornou conselheiro e logo em seguida foi elevado à
categoria de Conselheiro Nato (vitalício). Ao começar a frequentar o Cruzeiro, passou a auxiliar
o presidente na parte financeira do Clube. Àquela época a área e os processos financeiros eram
muito incipientes. Ele também ajudou o Cruzeiro negociando alguns jogadores através de

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obtenção de crédito bancário, coisa um tanto quanto inédita no meio dos clubes de futebol. Aliás,
Ronaldo, o Fenômeno, foi adquirido pelo Cruzeiro com uma operação financeira efetuada pela
Caixa Econômica Federal. Após alguns anos foi eleito membro do Conselho Fiscal onde atuou
por três mandatos (nove anos), chegando a ser Presidente de tal Conselho. Atualmente atua como
membro do Conselho Gestor Transitório desde dezembro de 2019, cujo mandato terminará no dia
31 de maio de 2020.
Sobre sua função, o Conselheiro é o representante dos associados do Clube, no caso do
Cruzeiro que é um clube social. As funções básicas de um conselheiro é a de votar as
deliberações apresentadas ao Conselho. Talvez a mais conhecida seja a aprovação de contas e
destituição de dirigentes.
Ciscotto também acredita que a área de marketing do Cruzeiro é uma das pioneiras entre
clubes de futebol no Brasil. Sempre trabalha na divulgação da marca e atua em parceria com a
área comercial. As últimas administrações do clube não deram a devida atenção ao potencial de
tais áreas e agora caberá ao novo presidente reestruturar e definir as estratégias.

4.1 Categorias de Base

Um dado que nos chama bastante atenção é a respeito das categorias de base do Cruzeiro.
No Brasil, os clubes tem a tradição de revelar jovens promessas, subindo para o time profissional
muitas vezes antes dos 18 anos, e quando o jogador amadurecer, estiver mais preparado e
começar a se destacar no cenário nacional, gigantes clubes do futebol europeu compram estes
jovens talentos com a esperança de um ótimo retorno, de muitas conquistas, e tornando-se
referência mundialmente. Destaque para clubes como Santos e Flamengo, líderes no Brasil
quando o assunto é a venda de jogadores da base.
No gráfico abaixo, podemos observar melhor uma pesquisa com os principais times do
Brasil que apresenta o número de vendas de jogadores da base na última década.

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Figura 1 - 10 brasileiros que mais movimentaram dinheiro com jogadores da base na última década

Posição Equipe Total em vendas Número de vendas


€ 223,3 milhões
1 Santos (R$ 1,04 bilhão) 15
€ 141,7 milhões
2 Flamengo (R$ 664,5 milhões) 9
€ 121,3 milhões
3 São Paulo (R$ 568,8 milhões) 15
€ 80,6 milhões
4 Grêmio (R$ 378 milhões) 11
€ 74,5 milhões
5 Fluminense (R$ 349,4 milhões) 12
€ 70,7 milhões
6 Athletico-PR (R$ 331,5 milhões) 14
€66,7 milhões
7 Internacional (R$ 312,8 milhões) 14
€ 58,1 milhões
8 Atlético-MG (R$ 272,4 milhões) 10
€ 50,7 milhões
9 Palmeiras (R$ 237,7 milhões) 8
€ 49 milhões
10 Cruzeiro (R$ 229,8 milhões) 17
Fonte: Esporte Interativo (2020)

Após uma breve análise do gráfico em questão, pode-se perceber que o Cruzeiro ocupa
apenas o décimo lugar, em um levantamento entre os 10 principais times do Brasil. Santos, time
referência no cenário nacional na revelação de jogadores, obteve maior lucro após sucesso nas
vendas de jogadores como Neymar, Rodrygo e Gabigol, outro clube com grande destaque nos
últimos anos foi o Flamengo, após vendas de Vinicius Jr, Lucas Paquetá e Reinier.
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Portanto, pode-se dizer que faz necessário um melhor investimento pela parte
administrativa do Cruzeiro, visto que o retorno comparado aos demais clubes é pouquíssimo, sem
nenhum grande nome revelado, e como principal venda Lucas Silva para o Real Madrid em 2015.
Em entrevista com Ciscotto, para ele os investimentos a respeito das categorias de base é
a solução para todos os problemas do clube. Uma boa gestão faz com que o clube seja abastecido
com bons jogadores e também produz novos ativos para futuras negociações. O Cruzeiro tem
tradição sim de revelar grandes jogadores. Todos os anos novos jogadores são lançados na equipe
principal e são muitos os nomes no cenário nacional que começaram na Toca da Raposa I. Basta
lembrar que o time de juniores de 2012 todos os jogadores foram profissionalizados. Ronaldo o
fenômeno, Dida, Maicon, Maxwell, Jonathan, Lucas Silva, Dudu, e tantos outros estão brilhando
nos gramados.
Ainda a respeito dos investimentos nas categorias de base, em 2018 o Cruzeiro teve um
cenário extremamente infeliz e amador, repassando 20% dos direitos econômicos do jogador
Estevão Willian A. de Oliveira Gonçalves, de apenas 11 anos, como forma de pagamento de uma
dívida de R$2.000.000,00 (dois milhões de reais) com um empresário. Tal prática aplicada pelo
clube é ilegal, negociar o trabalho de menores de idade é crime previsto pela Lei Pelé (1998) e no
Estatuto da criança e do adolescente. Segundo a Kroll, empresa em consultorias investigativas,
essas transações seriam uma forma de burlar a Lei Pelé, que veda a remuneração de atletas
menores de idade.

4.2 Dívidas e Tomadas de decisões

Outro aspecto merecedor de uma análise são os procedimentos adotados pelo clube em
2018, nos primeiros meses daquele ano foi elaborado um plano de gestão pela empresa Ernest &
Young, referência em consultoria empresarial. Porém, segundo o ex-CEO do Cruzeiro na época,
Vittorio Medioli, as medidas alertadas foram ignoradas e engavetadas. "Ele (relatório) mostrava

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que o Cruzeiro gastava demais em algumas coisas, não gastava onde deveria. Tudo
desequilibrado".
Analisando a gestão do Cruzeiro E C nos últimos anos, é possível perceber que não há
nenhum profissionalismo, controle e disciplina. A folha salarial é extremamente alta, existiam
cargos inflacionados, como do ex-treinador de goleiros, e sem falar no dos dirigentes do clube,
com a criação de várias diretorias remuneradas e cargos pra todo lado para seus companheiros.
Ainda, diversas despesas não relacionadas ao clube foram gastas no cartão corporativo e sem
muitas explicações. Diante disso, foi necessária a saída daqueles que ocasionaram todos os
problemas e dívidas que já chegam próximo à casa do bilhão, e então criar um conselho gestor
para iniciar o ano de reconstrução. Sendo assim, com uma nova gestão sendo aplicada e
enxugando inúmeros gastos.
Perguntado para Ciscotto sobre a última gestão administrativa e financeira do clube, o
mesmo diz que atualmente o Cruzeiro passa por um momento muito especial de sua centenária
vida. O papel fiscalizador do Conselho Deliberativo não foi bem observado e a administração
equivocada do clube nos últimos dois anos inverteram uma tradição de organização e bom
pagador que o clube tinha. O Cruzeiro sempre foi considerado exemplo entre os clubes de
futebol. Há décadas que pagava os salários e tributos em dia. As últimas duas administrações
multiplicaram as dívidas do clube.
No início do ano de 2019 o Cruzeiro cometeu outra irregularidade após vender o jogador
uruguaio Arrascaeta ao Flamengo, porém contabilizando a venda no balanço financeiro de 2018,
tal decisão errônea foi tomada pelo então presidente Wagner Pires de Sá. Com essa decisão o
clube corre o risco de ser excluído do PROFUT e perder todos os benefícios que obteve no
momento da adesão e ainda ter receitas bloqueadas e penhoradas pelo governo, como já vem
ocorrendo recentemente.
O mandato da antiga diretoria era até 31 de Maio deste ano, e próximo ao fim, no dia 19,
ocorreu outro ponto de destaque negativo. A FIFA puniu o Cruzeiro com a perda de 6 (seis)

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pontos na série B, antes mesmo do início do campeonato, pelo não pagamento do empréstimo do
volante Denílson ao Al Wahda, na temporada de 2016. O clube deveria realizar o pagamento de
850 mil (oitocentos e cinquenta mil) euros até o dia 18/05. O Cruzeiro tentou negociar o
pagamento através de um parcelamento como o clube dos emirados árabes, mas não obteve êxito
e agora o clube terá um novo prazo para realizar o pagamento da dívida com o Al Wahda, senão
cumprir o prazo, receberá uma nova punição da Fifa.

4.2.1 Relatório da KROLL

O Cruzeiro E C em seus últimos anos teve uma gestão extremamente amadora,


comandada pelo presidente Wagner Pires de Sá e Itair Machado, vice-presidente de futebol do
clube. Os diretores do clube em seus anos de comando acobertaram as péssimas ações como
pagamentos suspeitos envolvendo familiares, amigos e despesas pessoais de ex-dirigentes do
clube, que com a consequente suspeita de desvios de dinheiro, os problemas se tornaram caso de
polícia. De acordo com Ciscotto, a administração passada usou o clube para enriquecimento
próprio em detrimento do Clube.
Diante disso, a nova gestão do clube optou por contratar uma empresa multinacional em
consultoria de riscos e investigações corporativas, e demonstrar as transações irregulares
envolvendo o Cruzeiro entre os anos de 2017 e 2019. O relatório apresentado consta que as
apurações envolveram a análise de 795 documentos, 1116 operações financeiras, 803
comunicações eletrônicas e o mapeamento de 645 pessoas que tinham relações com ex-diretores,
empresários e ex-jogadores do clube. No relatório apresentado, foram listados 12 pontos
principais do processo de apuração:

1. O Cruzeiro assinou contratos de intermediação de atletas sem que a participação desses


intermediários nas negociações fosse cadastrada na CBF, o que é vedado pelo

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Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol. Esses contratos
originaram 13 comissões, que somam R$13.270.715,00.

2. O Cruzeiro ofereceu direitos econômicos de jogadores em garantia de pagamento de


dívida em, ao menos, dois contratos, o que é proibido pelo Regulamento Nacional de
Registro e Transferência de Atletas de Futebol da CBF e pelo documento equivalente da
FIFA. Entre os jogadores relacionados em um dos contratos estava um atleta amador, a
época com 9 anos de idade. O Regulamento Nacional de Registro e Transferência de
Atletas de Futebol proíbe qualquer transação envolvendo direitos econômicos de menores
até que o atleta complete 16 anos.

3. Apesar de a Lei Pelé e o Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de


Futebol da CBF vedar a remuneração dos atletas menores amadores, familiares de, ao
menos, dois jogadores de base do Cruzeiro recebiam pagamentos mensais por meio de
empresas de consultoria abertas próximas a data de assinatura dos contratos com os
atletas.

4. Um intermediador recebeu comissão de R$500 mil pela negociação do um atleta menor


amador com o Cruzeiro, o que é vedado pelo Regulamento Nacional de Intermediários da
CBF.

5. Um terceiro contrato foi identificado em que o Cruzeiro forneceu a um intermediador


10% dos direitos econômicos futuros de um menor amador, caso este viesse a se tornar
profissional e posteriormente ser transferido do clube.

6. O Cruzeiro pagou R$7.072.000 em comissões para intermediários de jogadores que já


atuavam no Cruzeiro, por terem negociado aumento salarial para estes atletas. Além disso,

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o contrato de um intermediador previa recebimento de bonificação todas as vezes que o
atleta que ele representava atingisse metas de performance. Essas comissões, apesar de
não serem regulares, podem ser consideradas inusuais e prejudiciais ao Cruzeiro.

7. As despesas do Cruzeiro aumentaram em 50% no período entre 2018 e 2019 com relação
ao biênio anterior, passando de R$770.097.107 para R$1.180.676.437 Os salários, que
compõem 20% das despesas do clube, também tiveram um aumento de 50%, saltando de
R$156.581.352 para R$234.380.814.

8. Entre as despesas analisadas, despesas pessoais e não condizentes com as atividades


performadas pelo Cruzeiro, no valor de R$80.777,18, foram pagas com cartões de crédito
corporativos emitidos em nome de quatro dirigentes, durante o período em análise. Os
estabelecimentos incluíram lojas de eletrônicos, lojas de roupas, clínicas de saúde,
bebidas alcoólicas, resorts de luxo e casas noturnas de entretenimento adulto.

9. Foram realizados, durante o período em análise, pagamentos de notas de débito de


dirigentes no valor de R$1.548.608, sem qualquer descrição da natureza desses gastos nos
registros contábeis. A Kroll requisitou ao Cruzeiro comprovantes que justificassem suas
despesas, mas não os recebeu até a conclusão dos trabalhos de investigação.

10. O Cruzeiro pagou um total de R$8.521.311,80 a empresas vinculadas a dirigentes e/ou


seus familiares durante o período em análise. As empresas favorecidas eram em sua
maioria prestadoras de serviços de consultoria e tinham contratos com o clube que
abarcavam os serviços performados pelos dirigentes em seus cargos. Entre os pagamentos
identificados, há empresas em nome das esposas de dirigentes, comissões e pagamentos
de rescisão não previstos em contrato, bonificação de dirigentes por desempenho do time
e recebimentos em duplicidade por parte de dirigentes.

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11. O Cruzeiro pagou R$6.068.078,33 a empresas vinculadas a 52 conselheiros, apesar de o
Estatuto Social do clube vedar esse tipo de relação. A Kroll analisou em detalhe
pagamentos a 12 conselheiros, que receberam acima de R$ 100 mil e perfazem 83% de
todo o valor pago a esta categoria. Os pagamentos analisados referem-se contratos de
mútuos, serviços de consultoria, advocacia e compras em estabelecimentos. A Kroll
ressalta que parte destes pagamentos pode estar relacionada a atividades comerciais
regulares, mas não recebeu os dados suportes para confirmar essa hipótese.

12. Foram pagos R$2.139.653,74 a empresas de consultoria jurídica, tributária e de


engenharia com descritivo genérico de atividades e sem comprovação de serviços
prestados. Além disso, foram pagos R$591.250 em comissão por negociação de contratos
com patrocinadores do Cruzeiro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou conhecimentos teóricos sobre a administração e modelos


de gestão, e também a posição de autores sobre o assunto abordado. Também foram apresentados
fatos e decisões que foram tomadas pela antiga diretoria, de forma amadora, que resultaram em
diversas dívidas com a CBF, FIFA, e entre diversos clubes.
No tópico anterior foram apresentados pontos relevantes sobre o estudo feito pela empresa
Kroll, no qual é demonstrado uma análise dos dados contábeis e documentos corporativos entre
os anos de 2017 e 2019. Após tal análise, foi possível perceber algumas das irregularidades
cometidas pela antiga diretoria, e com isso responder aos objetivos e hipóteses apresentadas na
introdução, visto que ocorreram acordos e pagamentos irregulares, como o caso que teve grande
destaque em matéria nacional do jogador Estevão Willian, além de diversas despesas extras dos
dirigentes que foram pagas do cartão corporativo do clube.
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Para solucionar todos os problemas deixados, o Cruzeiro já começou a tomar algumas
decisões importantes. A curto prazo, ocorreu a renúncia total por parte da antiga diretoria
envolvida, como do presidente Wagner Pires de Sá, e o vice-presidente de futebol do clube Itair
Machado. Então, em Maio deste ano ocorreram as eleições para presidente do clube com Sérgio
Santos Rodrigues eleito. O atual presidente já vem fazendo um ótimo trabalho no clube, quitando
algumas das dívidas com clubes e também com a FIFA, além de negociar o pagamento de outras
diversas com vencimento posterior, em busca de soluções para dividas com vencimento em longo
prazo.
Outras ações de sucesso pelo atual presidente foram à criação do portal da transparência e
a operação FIFA. O portal da transparência tem o intuito de mostrar aos torcedores o número
exato de sócios torcedores de cada categoria, já a operação FIFA é uma iniciativa que permite aos
cruzeirenses contribuírem com qualquer valor para ajudar a instituição a quitar as pendências
geradas na entidade esportiva internacional.
Retomando a pergunta inicial, foi comprovado que uma má gestão e decisões errôneas
podem sim comprometer um clube de futebol, tanto fatores internos, como externos. Neste estudo
percebemos que as ações tomadas nos últimos anos pela antiga diretoria do Cruzeiro deixaram o
clube completamente endividado, e resultou também no primeiro rebaixamento da história do
time.
Este estudo demanda um maior aprofundamento sobre o balanço financeiro do clube, pois
ainda existem centenas de documentos e transações financeiras importantes, no próprio site do
Cruzeiro é possível baixar o balanço patrimonial e as demonstrações financeiras dos últimos
anos. Referente ao relatório da empresa Kroll foi apresentado apenas uma pequena porcentagem
do que foi analisado, ainda há diversos outros problemas e documentos sigilosos que não foram
expostos a público, visto que este relatório foi entregue ao Ministério Público para análise.

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CASE STUDY ON THE ADMINISTRATION OF CRUZEIRO ESPORTE CLUBE
Club-company analysis.

ABSTRACT

This paper analyzes the poor management of the Cruzeiro Esporte Clube board in recent
years. Such approach is due to the chaos that the last club management left in order to
understand how all these problems, accumulated in lawsuits, debts and punishments, arose and
to extract their negative points. It is also expected that such study will serve as a basis for
understanding the actions for quality management in football clubs in Brazil. The general
objective of this work is to analyze the last mandates of the club management nucleus involving
administrative practices that have not been successful, and the specific objectives to discuss the
factors that caused all administrative problems by the old management, and to present solutions
in the short and long term. And also to discuss the decision-making of the old managers, opting
to assemble an expensive and competitive cast, but without thinking about the financial health of
the club. This purpose will be achieved through exploratory research, making a survey of
information in articles and news, in addition to an interview with a lifetime club advisor to obtain
knowledge of the administrative practices applied by the Cruzeiro Esporte Clube club, and also
the position of authors on the subject addressed, through bibliographic, documentary research
and case study.

Key words: Business administration. Sports management. Soccer.

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