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UFPR, Dpto Filosofia, 1º semestre/2024

Disciplina: Tópicos especiais em Filosofia Contemporânea II: Filosofia e Gênero


Código: HF1506
Docente: Polyana Tidre, Cassiana Stephan
Discente: Enrico Martinho
Entrega até quinta, via Moodle
Trazer impresso para a aula

Estudos dirigidos

Atividade 1
Federici, Calibã e a bruxa

Influências e críticas: Marx/marxismo, Foucault, feminismos


Introdução (p. 23-38)

1. Cite alguns fenômenos associados à gênese do capitalismo que, segundo Federici,


retornam a cada nova fase da globalização capitalista (p. 24 e segs.).

R: Os fenômenos citados por Federici, e que se associam à gênese do capitalismo são


principalmente: a expropriação dos trabalhadores de suas terras; políticas de
encarceramento de trabalhadores, que levam a pauperização e criminalização dos
mesmos; perseguição aos trabalhadores migrantes, ocasionando em movimentos
mundiais de dispersão e exploração; e, o fenômeno de maior importância para
Federeci, a constante intensificação da violência contra as mulheres nesses fenômenos.

2. Quais os três principais marcos conceituais que servem como ponto de referência
à análise proposta por Federici (p. 25 e segs.)?

R: Os três marcos conceituais são: o feminista, o foucaultiano e o marxista. Para


Federici, em Marx, há uma ausência do papel feminino na produção do acúmulo
primitivo do capital. Portanto, há uma diferenciação com Marx, que está, justamente,
em pensar a construção desse acúmulo a partir, principalmente, da exploração do
trabalho da mulher, ao contrário de Marx, que pensa a partir de proletariados. O
feminismo, por outro lado, pensa, a partir do papel da mulher na produção capitalista, os
efeitos de marginalização, violência e exploração das mulheres causados por esse
processo que oculta o papel da mulher. O trabalho feminista, portanto, busca a
libertação e reconsideração da relação da mulher na história capitalista. Por fim, o
marco foucaultiano sobre o corpo, tem, no pensamento de Federici, uma elaboração a
partir de um corpo discursivo, que omiti, portanto, as raízes e fontes do
desenvolvimento desses corpos.

3. Qual é a questão considerada por Federici como a mais importante abordada no livro?
Qual a razão? (p. 29 e segs.)

R: A explicação a uma execução em massa de bruxas que coincide com o surgimento do


capitalismo. Para Federici, não há investigações por trás desse processo, apenas
especulações. Essa é o problema que Federici pretende investigar em Calibã e a bruxa,
a partir da ligação da formação do capitalismo e da caça às bruxas.
4. Por que razão, para Federici, é necessário ao feminismo “transcender a dicotomia
entre gênero e classe” (p. 30-31)? Ou, no mesmo sentido, por que é necessário à teoria
feminista tratar a questão do gênero a partir da análise do processo de desenvolvimento
do capitalismo?

R: Pois não há como pensar o gênero feminino separado de uma classe, quando, essa
feminilidade, foi constituída como uma função de trabalho formadora do capitalismo.
Portanto, separar gênero e classe, acarreta na mentira de separar a produção capitalista
da exploração dos corpos femininos.

5. Por que razão, para Federici, “o capitalismo, enquanto sistema econômico-social, está
necessariamente ligado ao racismo e ao sexismo” (p. 37)?

R: Por motivos já mencionados, a exploração, marginalização e criminalização dos


corpos daqueles explorados no acúmulo primitivo do capital (processo repetido em
todas as fases do capitalismo), são majoritariamente de “mulheres, sujeitos coloniais,
descendentes de escravos africanos, imigrantes deslocados pela globalização”, esse
acúmulo não seria possível sem esses agentes, logo, nem o capitalismo.

Servidão e movimentos contestatários


Cap. 1: Introdução (p. 44-46), 1 (p. 47-53), 2 (p. 54-59), 3 (p. 60-65), 4 (p. 66-79), 5
(p. 80-82), 6 (p. 83-88), 7 (p. 89-95), 8 (p. 96-102)

6. Explique o significado da seguinte afirmação de Federici: “O capitalismo foi a


contrarrevolução que destruiu as possibilidade que haviam emergido da luta antifeudal”
(p. 44).

R: O capitalismo nasce como resposta ao movimento antifeudal (luta que contava com a
participação de mulheres por uma ordem mais igualitárias). A frase mostra que não há,
portanto, uma “evolução” do feudalismo ao capitalismo, mas uma resposta do
patriarcado (como explicado por Federici como os principais agentes dessa resposta) ao
antifeudalismo.

7. Como Federici caracteriza a posição das mulheres na comunidade servil medieval (p.
50-53)?

R: Tirando a relação entre senhores e servos, em que as mulheres eram ainda


submetidas as autoridades de seus maridos e pais, e que esses, a autoridade dos
senhores, causando, assim, um controle total das mulheres, pelos senhores. Mas, no que
dizia respeito a distribuição do trabalho, Federici mostra que, a separação do trabalho
não era isolada entre indivíduos, portanto, as tarefas separadas para as mulheres eram
executadas em uma coletividade, e assim, gerando um poder das mulheres no
enfretamento aos homens, havendo, portanto, uma rede de proteção das mulheres por
mulheres.

8. Como Federici caracteriza os movimentos heréticos? Por que a autora os entende


como movimentos contestatários?

R: Os movimentos heréticos, que surgiram como reações à ortodoxia religiosa e às


instituições eclesiásticas, propôs alternativas socias contrarias à igreja, movimentos
esses representando formas de resistência cultural e social, como os cátaros, valdenses e
beguinos. O movimento questionava não apenas as hierarquias religiosas, mas também
as relações de classe e gênero, valorizando a igualdade e a propriedade comum.
Intimamente ligados a lutas econômicas, surgiam em áreas onde camponeses
enfrentavam expropriação de terras e exploração feudal, desafiando estruturas de poder
econômico e social e defendendo alternativas à dominação institucionalizada, conforme
argumenta Federici.

9. Em que medida, nos séculos XIV e XV, com acontecimentos como a Grande Fome e
a Peste Negra, as relações de poder modificam-se a favor dos trabalhadores?

R: O colapso demográfico gerado por essas crises fez com que as hierarquias sociais
colapsassem junto, devido à mortalidade generalizada. Com a diminuição da oferta de
trabalhadores, os camponeses tornaram-se escassos e seu custo aumentou
significativamente, fortalecendo sua determinação em romper os laços feudais. A
escassez de mão de obra também modificou as relações de poder em favor das classes
baixas, permitindo que os camponeses se mudassem livremente em busca de terras para
cultivar. As ameaças dos senhores feudais perderam eficácia, levando a uma
intensificação das greves e à recusa coletiva de pagar aluguéis e realizar serviços. Isso
resultou em confrontos diretos, como a Revolta Camponesa de 1381 na Inglaterra e
revoltas em outras partes da Europa, onde os trabalhadores buscavam não apenas
melhores condições de vida, mas também o fim do poder dos senhores. A escassez de
mão de obra também levou a uma valorização dos trabalhadores, que passaram a exigir
salários mais altos, benefícios extras e a imitar os costumes dos homens livres,
desafiando assim as normas sociais estabelecidas.

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