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Edja Trigueiro
Universidade Federal do Rio Grando do Norte, edja.trigueiro@gmail.com
Este trabalho busca compreender nexos entre forma construída e indícios de insegurança. Os bairros do
Cabanga e de Boa Viagem, no Recife, são apresentados em alusão às últimas grandes intervenções viárias
em 2016 com foco na Via Mangue. A investigação explora a incidência de transformações em
características do conjunto edilício em áreas que sofreram mudanças mais acentuadas na estrutura
espacial pela inserção da Via Mangue. A configuração do espaço foi comparada aos dados levantados
quanto a dispositivos de segurança acoplados aos edifícios (câmeras, cercas eletrificadas, outros). A
revisão bibliográfica revelou ideias dicotômicas entre permeabilidade e defensibilidade do espaço como
estratégia de promoção de segurança. Os resultados sugerem que as mudanças na estrutura espacial da
cidade coincidem com o recrudescimento no emprego de artifícios de distanciamento entre espaço privado
e público, seja através da própria arquitetura ou elementos acoplados a ela. O mercado imobiliário dá
sinais de que se beneficia do acréscimo em acessibilidade em novos empreendimentos mais fortificados
que os preexistentes. O incremento no potencial de movimento em algumas vias estudadas parece suscitar
uma desconfiança em relação ao espaço público, e, no geral, do afastamento dos princípios recomendados
em parte da literatura revisada como favoráveis à segurança e animação urbanas.
Palavras-chave. Insegurança, Forma, Movimento, Estrutura
1.Introdução
Este artigo investiga a presença de artefatos indicadores de sensação de insegurança,
relacionando-os a mudanças na forma urbana que alteraram a hierarquia de acessibilidade em
porções da malha viária. As áreas estudadas estão distribuídas em trechos dos bairros do Cabanga
e de Boa Viagem, no Recife, Pernambuco.
275
276
Tem-se como premissa que a arquitetura, impregnada de aspectos simbólicos, leva tempo até
revelar mudanças que correspondem a alterações culturais. A paranoia da segurança, do
enclausuramento e do escape à “desordem” do espaço público é cultivada pelo mercado
imobiliário e contribui para a consolidação de uma característica da nossa cultura urbana. Ainda
que estas decisões partam quase sempre do individual, o efeito é coletivo uma vez que hostiliza o
espaço público inibindo o uso da rua como locus do encontro randômico. Encontros promovidos,
dentre outros fatores, pelos padrões de movimento advindos da estrutura espacial da cidade, que
está em constante modificação.
Transformações na forma urbana fazem com que certos espaços da cidade tenham o potencial de
movimento alterado – para mais ou para menos – e esse movimento influenciem na relação formal
do edifício com a rua. Essa consequência recai no uso e na ocupação do solo, consequentemente
na interface entre espaço público e privado, na natureza e na quantidade de artifícios de segurança
agregados à caixa mural do edifício, como cercas eletrificadas, câmeras e grades. O que se
investiga aqui é a resposta arquitetural que os moradores dão às mudanças nos padrões de
movimento nos espaços públicos, destacando-se o que parecem ser indícios de insegurança e
desconfiança. A grande mudança na estrutura espacial avaliada nesta pesquisa é a construção da
Via Mangue, uma via expressa de 4,5km concebida para servir como uma alternativa de conexão
a Boa Viagem iniciando-se no bairro do Cabanga. De acordo com o projeto,
No sentido Centro/Boa Viagem, o corredor terá 4,5km de extensão. Já no sentido
contrário, serão 4,37km. Esta obra engloba ainda a construção de dois elevados por sobre
a Rua Antônio Falcão, em Boa Viagem; de oito pontes [...]; uma alça de ligação [...] uma
passagem semienterrada. [...] Com sua implantação, cria-se um cinturão para proteger o
manguezal do Rio Pina, melhora-se o tráfego nos bairros de Boa Viagem e do Pina [...].
(PREFEITURA DO RECIFE, 2011).
A Via Mangue visou ampliar o sistema viário do bairro de Boa Viagem e do Cabanga desde sua
concepção. Sua inauguração plena em 2016 alterou o perfil de alguns espaços do bairro como
ruas sem-saída que ganharam ligação com a nova Via, entre outras mudanças.
(2012) sobre o bairro de Manaíra, em João Pessoa e o de Greene e Greene (2003) sobre as ruas
de Santiago, Chile.
As diversas investigações abordaram diferentes aspectos da morfologia urbana das cidades que
têm reflexos na sensação de segurança e em características arquiteturais. Grande parte da
literatura tem, ainda, se concentrado na dicotomia entre permeabilidade (engajamento/ confiança)
e defensibilidade do espaço (evitamento/ desconfiança) como estratégia de prevenção ao crime a
partir das ideias de Jacobs (1961) e Newman (1972), que pavimentaram o caminho para
investigações subsequentes. O embate faz lembrar as categorias sociológicas “casa” e “rua” de
DaMatta (2000/1984), sinalizando que aquele que passa como conhecido ou aceitável, seria “da
casa”, em oposição aos desconhecidos, os “da rua”, sinônimo de perigo a evitar.
Hillier (2004), pioneiro na exploração de propriedades sintáticas da acessibilidade e da
visibilidade, chegou à conclusão de que os espaços mais visíveis e integrados – consequentemente
mais movimentados - são mais seguros no contexto de cidades inglesas, achado que requer
experimentação em questões de segurança e criminalidade em estudos mundo afora, sobretudo
considerando-se a importante contribuição de Hillier para este campo de estudo ao reiterar a
importância de se analisar a estrutura espacial e o lugar onde os crimes acontecem.
Ainda não há evidências de que seja possível homogeneizar características espaciais como mais
ou menos seguras quanto ao crime. Aparentemente nas cidades latino-americanas, como o Recife,
João Pessoa e Santiago, o movimento de pessoas não é capaz de arrefecer roubos/furtos,
diferentemente do que dizia Jacobs e Hillier. Parece que se chega a uma situação paradoxal porque
justamente naqueles lugares onde há uma lógica formal que subjaz uma maior variedade de usos,
copresença e, quase sempre, uma interface mais amistosa é onde há, também, mais delitos.
Sabendo-se que alterações na estrutura espacial da cidade levam a mudanças em padrões de
movimento e de quantidade de pessoas utilizando determinados espaços, e que tais fatores atuam
positiva ou negativamente nas ocorrência de ações criminais, acreditamos ser pertinente estar
atento a mudanças na relação entre os edifícios e a rua, e no surgimento de indícios de
(in)segurança, como contribuição à ampliação do conhecimento sobre relações espaço e
sociedade.
Figura 2 - Encontro da Via Mangue com o tecido urbano preexistente (ponto A na Figura 3).
Bairro de Boa Viagem ao fundo e Parque dos Manguezais abaixo (fonte: Portal da Copa/ME,
disponível em <bit.ly/2UZBoLA> Acesso em 12/03/2021).
4. Metodologia
A SE oferece meios para investigar relações entre espaço e sociedade, a partir da ideia fundante
de que os arranjos de cheios e vazios que estruturam os espaços em que vivemos, amoldam
padrões de movimento, encontro e esquivança que expressam e viabilizam a vida social. A
capacidade que tem a configuração espacial de gerar padrões de movimento, independentemente
de outros fatores, foi conceituada como “movimento natural” pelos criadores da metodologia
(HILLIER et al, 1993, p.29) que veem nisso uma precondição material importante para a geração
de relações sociais por criar um campo probabilístico de encontros interpessoais (HILLIER et al,
1989, p.16).
Ao moldar e dar forma ao nosso mundo material, a arquitetura estrutura o sistema de
espaço em que vivemos e nos movemos. Ao fazer isso, tem relação direta – mais do que
meramente simbólica – com a vida social, porque fornece as precondições materiais para
os padrões de movimento, encontro e esquivança que são a realização material – e,
algumas vezes, a geradora – de relações sociais. (HILLIER E HANSON, 1984, p. ix)
Segundo Hillier et al, (1993), os usos do solo são posteriormente alocados na estrutura urbana
para tirar vantagem das oportunidades oferecidas pelos padrões de movimento natural gerado pela
conformação do sistema. Por sistema entende-se a interrelação entre as partes – no caso, as vias
– que formam o todo espacial – no caso, o recorte maior formado pelo Recife e bairros de cidades
vizinhas –, ou o modo como cada via se relaciona espacialmente com todas as demais dentro de
determinado recorte urbano.
Estas relações configuracionais podem ser representadas, quantificadas e analisadas pela SE,
cujas medidas auxiliam na compreensão de efeitos – potenciais e reais – do movimento natural.
Dentre estas, destacam-se, como medidas consagradas para aferir acessibilidade, os valores de
Integração e Escolha.
A distância topológica entre um espaço e todos os outros do sistema é mensurada pela Integração;
portanto, os espaços mais integrados tendem a coincidir com situações de centralidade
relativamente à estrutura espacial da cidade. O conjunto das linhas mais integradas de um sistema
é denominado núcleo integrador, assinalado pela cor vermelha nos mapas sintáticos que são
representados segundo a escala cromática tradicional da SE. Esses espaços são, portanto, mais
fáceis de serem acessados. A medida de Escolha mensura o quanto determinada linha é percorrida
nas rotas mais usadas para se atingir todos os possíveis pares de percurso origem-destino do
sistema. Quanto maior for o valor de Escolha de uma linha (ou segmento de linha), maior será
seu potencial de ser atravessada como caminho mais curto entre outras linhas (ou segmentos de
linha). A medida indica o potencial que as linhas têm de concentrar o movimento de
atravessamento pelo sistema, identificando espaços preferenciais de ligação – as vias arteriais,
por exemplo, da cidade. Seguindo uma tendência que vem se consolidando nas últimas décadas,
pelos resultados mais refinados que apresentam as medidas normalizadas para integração e
escolha (NAIN e NACH, respectivamente), optou-se por utilizá-las aqui. Além de levar em conta
280
.
281
Figura 3 - Esquema gráfico sobre Imagem de satélite do Google Earth. Fonte: Google Earth,
editado pelo autor
282
Figura 4 – (a) Alça viária sobre o Cabanga, 2020. - (c) Alça da Ponte Paulo Guerra que dá acesso a
Via Mangue. (c) Túnel Josué de Castro na saída da Via Mangue. Fonte: Jornal do Commercio (fotos
b e c). As demais são fotos do autor.
Para compreender como essas mudanças nas partes alteraram o todo do sistema foram
comparados 4 mapas de segmento: NAIN e NACH antes com NAIN e NACH depois da via
expressa inserida com as devidas alterações. Estão representados no sistema os principais
municípios da região metropolitana: Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes.
Comparando Figura 5 e Figura 6 percebe-se que mesmo com a inserção da Via Mangue não houve
deslocamento do núcleo integrador do sistema. A região rotulada como centro (ou cidade) pela
população está próxima mas não coincide com o núcleo integrador, ainda que permaneça
exercendo seu papel enquanto centralidade em termos de concentração de comércios e serviços.
Os bairros do Pina e de Boa Viagem despontam com níveis de integração medianos tanto antes
quanto depois da Via Mangue.
Esperava-se que por se tratar de uma via expressa o mapa de segmentos NACH destacasse a Via
Mangue pelo seu potencial de atravessamento do sistema, o que não aconteceu. Seu potencial é
menor que o de outras vias estruturantes. A coincidência de espaços com alto valor de NAIN e
NACH reforça o núcleo integrador. Tampouco os valores de NACH trazem a Boa Viagem e/ou
ao Pina destaque quanto ao potencial de atravessamento, permanecendo apenas com valores
intermediários (Figura 7 e Figura 8).
Na impossibilidade de perceber diferenças cromáticas que representariam mudanças nos padrões
de movimento do sistema, outro procedimento analítico foi adotado: confeccionar mapas de
segmentos que demonstrariam o percentual de mudanças nos índices sintáticos de NAIN e
NACH. Foram sobrepostos os mapas pré e pós Via Mangue que deram origem a um terceiro, que
chamamos de mapa de alterações sintáticas. Aparecem destacados nestes mapas em vermelho os
espaços que mais ganharam acessibilidade e em azul aqueles que mais perderam (Figura 9 e
Figura 10). No caso do NAIN (Figura 9), a Via Mangue incrementou o potencial de movimento
de dois conjuntos de espaços bem definidos logo no início de sua extensão: em trechos dos bairros
do Cabanga e do Pina. Já quanto ao NACH (Figura 10) um trecho de Boa Viagem destaca-se por
mudanças quanto aos índices sintáticos.
283
O Gráfico 1 mostra que o Cabanga (1) caracterizou-se como a região que reuniu a maior
quantidade de segmentos que aumentaram valores NAIN mas também a que mais diminuíram em
NACH. O Pina (2) destacou-se por reunir 40% dos segmentos que ganharam NACH em seu
território. Já Boa Viagem (3) desponta como a porção do sistema com mais espaços que ganharam
NACH, por volta de 50,6%. É justamente nestas redondezas que a Via Mangue possui mais
capilaridade com o tecido urbano. Em nenhum dos segmentos houve perda nos valores de
integração (NAIN).
[A] [B] [C]
incremento NAIN incremento NACH diminuição NACH
9,40%
16,20%
29,17
% 40%
70,83% 50,60%
26% 57,80%
Cabanga Pina Cabanga Pina Boa Viagem Cabanga Pina Boa Viagem
Gráfico 1 - Percentual de segmentos que sofreram alterações sintáticas em cada trecho. Fonte:
elaborado pelo autor
284
Figura 5 - Mapa de segmentos NAIN global antes da Via Mangue. Fonte: INCITI, Melo-Junior, 2020.
285
Figura 6 - Mapa de segmentos NAIN global depois da Via Mangue. Fonte: INCITI, Melo-Junior,
2020.
286
Figura 7 - Mapa de segmentos NACH global antes da Via Mangue. Fonte: INCITI, Melo-Junior,
2020.
287
Figura 8 - Mapa de segmentos NACH global depois da Via Mangue. Fonte: INCITI, Melo-Junior,
2020.
288
Figura 9 - Mapa de alteração sintática de NAIN global. Fonte: INCITI, Melo-Junior, 2020.
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Figura 10 - Mapa de alteração sintática de NACH global. Fonte: INCITI, Melo-Junior, 2020.
Adotando a premissa de que configuração do espaço, movimento e atratores estão associados
entre si e também com a sensação de segurança, como a região do Cabanga e de Boa Viagem
responderam morfologicamente a estas mudanças configuracionais trazidas pela Via Mangue?
Para responder a esta pergunta, informações adicionais sobre cada trecho foram inseridas numa
base SIG (Sistema de Informações Georreferenciadas) informações coletadas quanto a variedade
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As duas áreas de análise foram divididas em 34 perfis, 16 no Cabanga e 18 em Boa Viagem; cada
perfil corresponde a uma rua/ avenida ou a trechos. Essa divisão facilita a leitura uma vez que
certos fenômenos podem acontecer em alguns segmentos de quadra e em outros não.
A Figura 11 e a Figura 12 mostram a divisão das duas áreas de análise em perfis espaciais,
complementadas pelo Quadro 1 com o nome das
vias analisadas.
Figura 12 - Divisão das ruas de Boa Viagem em Perfis Espaciais. Traçado da Via
Mangue em tracejado. Fonte: elaborado pelo autor.
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Quadro 1 – Descrição das vias analisadas e do perfil espacial correspondente. Elaborado pelo autor.
Número do
Via correspondente
Perfil Espacial
1 Rua Capitão Temudo
3 Rua Bituri
CABANGA
8 R. Pe. Carlos de Barros Barreto
9 R. Iobi
11 R. Jequitibá
12 R. Gutiúba
13 R. Bujari
14 R. Jitó
16 R. Camutanga
18 R. Francisco da Cunha
24 R. Antônio de Sá Leitão
BOA VIAGEM
25 R. Ministro Nelson Hungria (n. 402 – n.26)
28 R. Antônio Falcão
29 R. Maria Carolina
34 R. Mamanguape
293
Tabela 1 - Classificação quanto ao uso e ocupação do solo. Fonte: elaborado pelo autor
USO GERAL USO ESPECÍFICO
Unifamiliar
Multifamiliar
Multifamiliar misto
Hotelaria e Hospedagem
Varejista
COMÉRCIO Atacadista
Alimentação
Técnico / Financeiro
Privado
Saúde
SERVIÇO
Público
Clubes e agremiações
Cinema / Teatro
Educacional
INSTITUCIONAL
Religioso
INDUSTRIAL Indústria
Dentre os métodos apontados pela literatura para aferir o grau de diversidade do uso do solo, o
índice de Simpson (Jost, 2006) foi o escolhido para esta pesquisa. Neste caso o valor varia entre
0 e 1, sendo zero a mais baixa diversidade (quando o espaço contém apenas 1 uso do solo) e 1 a
mais alta (uma grande quantidade de uso do solo proporcionalmente distribuídas entre as várias
categorias).
294
Caracterização da interface
O que se chama de interface aqui é o elemento, construído ou não, que separa espaço público do
domínio privado. O que se está buscando é encontrar vestígios que respondam ou não à “estética
da segurança” apontada por Caldeira (2011), e/ou ainda a fuga da “desordem social” atrelada
aquilo que é público (BAUMAN, 2008).
A interface de cada lote foi georreferenciada e caracterizada de acordo com seus atributos físicos
e o principal critério de balizamento foi a permeabilidade física e visual, variando entre aberta,
transparente, cambiante, parcialmente fechada e fechada.
6. Resultados e discussão
A escolha de subdividir esta análise em perfis espaciais facilitou a identificação de espaços
específicos onde ocorreram mudanças mais significativas. As informações levantadas foram
inseridas numa matriz de dados com os valores correspondentes a cada um dos 34 segmentos.
As variáveis qualitativas, como diversidade de uso do solo e caracterização da interface foram
transformadas em valores numéricos (diversidade: 0 menos diverso, 1 mais diverso; interface: 1
fechada e 5 aberta).
A ideia não é criar um “índice” que reifique o conjunto de características levantadas, mas sim
conseguir enxergar se as transformações nos espaços apontam para mudanças positivas ou
negativas sob o ponto de vista dos indícios de insegurança e como isso se relaciona com a estrutura
espacial. O Quadro 2 apresenta diferença entre as variáveis, mostrando em quais segmentos as
transformações foram mais significativas e se as variações foram positivas ou negativas. Devido
a algumas serem muito pequenas (como a diversidade), algumas séries foram multiplicadas por
um mesmo fator para que pudessem operar numa escala numérica próxima e assim aparecerem
num gráfico de linha comparativo. Como a multiplicação é feita pelo mesmo valor, mantém-se a
proporção e sem comprometer o resultado. O Gráfico 2 e o Gráfico 3 foram gerados a partir dos
dados do Quadro 2 para inferir a influência de cada variável no conjunto avaliado.
Quadro 2 - Diferença entre os valores que indicam a variabilidade das varáveis. Elaborado pelo autor.
CONSTITUIÇÕES
EQUIPAMENTOS
DIVERSIDADE
INTERFACE
DISTÂNCIA
PERFIL
ENTRE
/ LOTE
NACH
QTDE
NAIN
1 0,7347 -0,2300 0,1143 0,0571 0,0077 -1,2917
2 0,2249 0,1000 0,3824 0,0294 0,9405 0,1210
3 0,5554 -0,2100 0,1698 -0,2642 0,0077 -0,0143
4 0 -0,98 0,1071 -0,3214 0,0072 0,0008
5 1,1834 0,3600 -0,0769 -0,0769 0,0073 -0,1266
6 0,4688 -0,26 0,1250 -0,25 0,0087 0,0550
7 0 0 0 1,0000 0,0091 -0,0014
CABANGA
A ideia de animação urbana é favorecida, segundo a literatura, através de interfaces mais abertas
e permeáveis, mais constituições assim como pela maior variedade de usos. O levantamento
mostrou que a diversidade em Boa Viagem é consideravelmente mais alta que no Cabanga, o que
representa uma distribuição mais equilibrada entre os usos do solo. Diversidade esta que,
entretanto, vem caindo – indicado pelos valores negativos do Quadro 2 e Gráfico 3 - conforme
os novos edifícios vêm sendo inaugurados. Os resultados apontam que o Cabanga tem se tornado
mais diverso mas aqui vale fazer uma ponderação. O índice de Simpson representa a distribuição
equilibrada entre uma série de categorias. O índice considera também aqueles nocivos à animação
urbana: vazios, depósitos, imóveis sem uso e estacionamentos. O levantamento mostrou
indicadores de uma evasão habitacional da região em favor destes usos, o que caracteriza esse
aumento de diversidade como um “falso positivo”.
As quadras e lotes consideravelmente menores do Cabanga lhe conferem uma maior possibilidade
de vigilância social ancorado por uma interface mais aberta e/ou transparente e pelo menor
número de constituições por metro. O mesmo pode ser dito quanto a quantidade média de
equipamentos de segurança acoplados a cada caixa mural. Boa Viagem utiliza bem mais desses
recursos que o Cabanga ainda que esse venha recrudescendo especialmente onde os valores de
acessibilidade aumentaram.
O incremento na acessibilidade parece operar como um vetor de desconfiança no Cabanga (ver
Gráfico 2) visto que o aumento no potencial de movimento acompanha o crescimento no uso de
aparatos em maior grau que noutras ruas do bairro (perfis espaciais 2 e 14). A tendência de
recrudescimento dos instrumentos de segurança fica explícita no Gráfico 2 em todo o Cabanga
mas é ainda mais acentuada onde a acessibilidade foi privilegiada. Em Boa Viagem a
acessibilidade parece fazer pouco efeito frente às transformações na interface, alguns perfis se
abriram e outros se fecharam.
299
Cabanga
1,5
0,5
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
-0,5
-1
-1,5
-2
DIVERSIDADE (1 - D) CONSTITUTIVIDADE
QTDE EQUIPAMENTOS / LOTE INTERFACE
DIFERENÇA NAIN DIFERENÇA NACH
Gráfico 2 - Gráfico de linhas que indica a variabilidade entre as variáveis analisadas no Cabanga.
Elaborado pelo autor.
Boa Viagem
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
-1
-2
-3
DIVERSIDADE (1 - D) CONSTITUTIVIDADE
QTDE EQUIPAMENTOS / LOTE INTERFACE
DIFERENÇA NAIN DIFERENÇA NACH
Gráfico 3 - Gráfico de linhas que indica a variabilidade entre as variáveis analisadas em Boa Viagem.
Elaborado pelo autor.
300
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