Você está na página 1de 60

WBA1193_V1.

FARMACOLOGIA
APLICADA
2

Claudia Stoeglehner Sahd

FARMACOLOGIA APLICADA
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de
informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.

Head de Platos Soluções Educacionais S.A


Silvia Rodrigues Cima Bizatto

Conselho Acadêmico
Alessandra Cristina Fahl
Ana Carolina Gulelmo Staut
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva

Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa

Revisor
Mariana Prado Bravo

Editorial
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Márcia Regina Silva
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Sahd, Claudia Stoeglehner
Farmacologia aplicada / Claudia Stoeglehner Sahd. –
S131f
São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022.
34 p.

ISBN 978-65-5356-335-3

1. Farmacologia aplicada. 2. Estética. 3. Estética e


cosmetologia. I. Título.
3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título.
CDD 615
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

FARMACOLOGIA APLICADA

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Princípios básicos da Farmacologia___________________________ 06

Farmacocinética e farmacologia dermatológica_______________ 19

Imunologia cutânea e cosmetotoxicidade_____________________ 32

Produtos, ingredientes e substâncias naturais ________________ 49


5

Apresentação da disciplina

Nossa jornada terá temas incríveis e que farão com que você veja
o processo da Farmacologia de outra forma. Para isso, teremos
como temas centrais dos nossos estudos a farmacologia geral,
conceitos fundamentais, farmacodinâmica, farmacocinética e vias de
administração. Além disso, veremos os mecanismos farmacocinéticos,
princípios da ação de fármacos, noções de farmacologia dermatológica,
imunologia cutânea, mediadores inflamatórios e cosmetotoxicidade.
Veremos, também, sobre produtos, ingredientes e substâncias naturais
frequentemente utilizados em estética.

Essas aulas foram preparadas para desenvolver o melhor para você,


para que se torne um profissional com ainda mais sucesso e seja capaz
de transformar a vida das pessoas por meio da Farmacologia.
6

Princípios básicos
da Farmacologia
Autoria: Claudia Stoeglehner Sahd
Leitura crítica: Mariana Prado Bravo

Objetivos
• Conhecer o histórico e o conceito sobre a
farmacologia geral.

• Entender sobre o conceito acerca da


farmacodinâmica.

• Compreender o conceito da farmacocinética e as


vias de administração dos fármacos.
7

1. Introdução

Variados medicamentos e cosméticos são desenvolvidos ao redor


do mundo todos os anos. Mas, antes de serem disponibilizados
ao consumidor final, no caso ao profissional e paciente, estes
devem passar por avaliações em seu custo-benefício, no intuito de
corroborar se de fato eles são um avanço terapêutico com relação
aos já disponíveis, trazendo uma justificativa plausível para possíveis
elevações nos custos para a comunidade. A base para um tratamento
farmacológico e cosmetológico bem-sucedido são as inovações
realizadas pela indústria farmacêutica, em que são benéficos os
procedimentos de aprovação e a avaliação do fármaco. Ressaltamos
a importância que o indivíduo ou consumidor final tem como alvo do
tratamento medicamentoso.

O estudo da Farmacologia se baseia na ação e efeitos que os


medicamentos desempenham no organismo. Como ramificação
desse estudo, temos a farmacocinética que tem como objetivo fazer a
avaliação de como o organismo atua na presença do fármaco, temos
ainda a farmacodinâmica, esta que busca compreender os efeitos
que o fármaco gera no organismo. Esse conhecimento é de grande
importância aos profissionais habilitados, pois permite optar por
condutas terapêuticas ideais, abrangendo as vias de administração,
assim como a dosagem, frequência e permanência do tratamento
pelo paciente.

2. História da Farmacologia

A Farmacologia é uma disciplina com uma rica história que, desde


seu surgimento durante alguns momentos bastante desafiadores,
exerceu um tremendo impacto como uma ciência vibrante com um
futuro excitante e promissor. Alguns argumentam que a Farmacologia
8

é a disciplina mais antiga das ciências da saúde, com medicamentos


derivados de plantas usadas desde os tempos pré-históricos.

Na China, o uso de várias fontes vegetais, como ervas e remédios à


base de plantas, remonta há cerca de 3.000 anos, sendo repassado
o conhecimento como se fosse uma história na medicina tradicional
chinesa, mostrando a quão interessante e extensa ainda continua
sendo a busca por conhecimento em produtos naturais que no futuro
podem se transformar em remédios.

De acordo com Rang (2020), o primeiro a ter ideias sobre as bases


teóricas da Farmacologia foi Claudius Galen (129-200 d.C.), que
acreditava que assim como a experiência, a teoria também contribuía
para um racional uso dos medicamentos, isto é, a teoria atua como
modo de interpretar a experiencia e suas observações com relação
aos medicamentos e ações.

O termo “Farmacologia” não foi usado de forma explicita até o


século XVII. O primeiro praticante a usar essa nomenclatura foi
Theophrastus Bombastus von Hohenheim (também conhecido como
Paracelsus), que buscou determinar os compostos ou ingredientes
ativos das primeiras preparações e ainda formulou o primeiro
conceito de funções dose-resposta, sugerindo que a dose determina
o potencial de valor terapêutico ou a toxicidade. Em 1564 foi escrita
a “Terceira Defesa Relativa à Descrição das Novas Prescrições”
em que Paracelsus perguntou: “O que há que não seja veneno,
todas as coisas são veneno e nada é sem veneno. Somente a dose
determina que uma coisa não é um veneno” (DEICHMANN et al.,1986).
Embora Paracelsus seja reconhecido por esta notável frase sobre a
importância da dose, nem sempre é reconhecido que ele também
descreveu o primeiro conceito da “especificidade da espécie” no
contexto do princípio geral de toxicologia. Deichmann et al. (1986)
também descreveu esse contexto da seguinte forma:
9

Por exemplo, a comida colocada na mesa: se comida por um homem,


torna-se a carne do homem; E se ingerido por um cão, converte-se em
carne de cão e no gato, em carne de gato. Com a medicina, é o mesmo,
seu destino depende da espécie ou do que você faz com ela. É possível
que algo bom causará danos, assim como é possível que algo prejudicial
possa se tornar benéfico. (DEICHMANN et al., 1986, p. 212)

Johann Jakob Wepfer (1620-1695) foi um dos pioneiros no


experimento com animais, ao confirmar as ações farmacológicas
e toxicológicas. Mas, a institucionalização da Farmacologia foi
alcançada com Rudolf Buchheim (1820-1879). Os primeiros
precedentes da Farmacologia se concretizaram em meados do
século XIX, com vários desenvolvimentos significativos na Alemanha
que incluíram a fundação do primeiro Instituto de Farmacologia do
mundo (“Pharmakologisches Institut”) estabelecido na Universidade
de Dorpat (agora Tartu) por Rudolf Buchheim em 1847. Buchheim
era professor de matérias como medicina, dietética e história do
medicamento. Durante vários anos, os laboratórios deste “instituto”
estiveram alojados no porão da casa de Buchheim. Em 1860 o
instituto, com foco em farmacologia experimental, foi transferido
para um grande edifício construído especificamente para incluir o
Instituto de Farmacologia. Segundo Trendelenburg (1998), esse foi um
estímulo, iniciado por Buchheim e desenvolvido por seus alunos, que
fizeram com que houvesse o surgimento da Farmacologia como uma
disciplina bem definida.

À época da fundação do primeiro Instituto de Farmacologia, a


contribuição que a Farmacologia tinha que fazer para a Medicina
era cada vez mais questionada. A Farmacologia foi retirada dos
exames médicos finais na maioria dos países alemães, e os médicos
eram aconselhados a esquecer o mais rápido possível o que
sabiam e poderiam se lembrar sobre as drogas, retirando, assim,
de suas palestras ou livros esse conhecimento. Para Meyer (1922),
o desenvolvimento da Farmacologia como uma disciplina científica
10

comparável à fisiologia ou patologia recebeu pouco ou nenhum


apoio da Medicina. Foi apenas gradualmente que está área ganhou
aceitação e uma base sólida na educação da escola de medicina e
pesquisa.

Rudolf Buchheim nasceu em uma época em que a apreciação


da ciência e seus métodos, assim como os pensamentos foram
crescendo, e alguns dos fundamentos da moderna medicina estavam
se estabelecendo. Estes incluíram o trabalho de Pasteur, que abriu
o caminho para a Microbiologia, e Darwin que desenvolveu a Teoria
da Evolução. Buchheim estava convencido de que a Farmacologia
deveria progredir além da abordagem da matéria médica e, por meio
de experimentação, explorar como as drogas causam seus efeitos,
independentemente de serem benéficos ou indesejáveis. Conforme
Trendelenburg (1998), Buchheim introduziu um princípio que teria
uma influência considerável sobre a disciplina de farmacologia – o
“Sistema Natural de Medicamentos” – que foi a formulação de um
sistema de classificação de drogas baseado na elucidação de seu
modo de ação.

Um dos primeiros alunos de Buchheim foi Oswald Schmiedeberg


(1838-1921), que foi fortemente influenciado pelo ensino de
Buchheim e com quem Schmiedeberg obteve seu grau de doutor
em Medicina. Schmiedeberg foi o grande responsável pela busca
e divulgação dos conceitos e métodos de Buchheim na pesquisa
farmacológica e na continuidade do movimento iniciado por este. A
profunda influência de Schmiedeberg na Farmacologia foi alcançada
por meio de sua excelência como pesquisador, como professor
apaixonado e dedicado, e também como escritor. Ele ainda auxiliou
a estabelecer a reputação da farmacologia alemã e criou a primeira
revista científica de Farmacologia (RANG, 2020). A disciplina de
Farmacologia fez muitos avanços significativos nos últimos cem anos
e, sem dúvida, continuará a fazê-lo no futuro.
11

3. Conceito de Farmacologia

De acordo com Katzung (2022), a definição de Farmacologia vem do


grego, em que pharmakos significa droga; e logos significa estudo,
portanto, seu conceito é dado sobre o ponto de vista de uma ciência
que procura estudar como os medicamentos, drogas, fármacos ou
substâncias que atuam ou interagem com os sistemas biológicos do
organismo, estudando suas propriedades e efeitos, e verificando a
capacidade que existe de promover alterações estruturais e funcionais.

Portanto, a Farmacologia estuda as substâncias que proporcionam


interação com os sistemas vivos a partir de processos químicos, ligando-
se em especial a moléculas reguladoras e ativando ou inibindo os
processos corporais normais. Assim, passamos a observá-la como uma
ciência de substâncias empregadas para prevenir, diagnosticar e tratar
doenças (GOODMAN; GILMAN, 2018).

Os objetivos da Farmacologia são a profilaxia onde temos medicamentos


que poderão atuar para prevenção de patologias, por exemplo,
as vacinas; terapêutica, aqui o medicamento agirá para cura, por
exemplo, os antibióticos; paliativo, o intuito do medicamento nesse
caso é diminuir os sinais e sintomas da patologia, só que não promove
sua cura, por exemplo, os anti-hipertensivos; e a diagnóstica, onde
o medicamento vai ajudar no diagnóstico, esclarecendo os exames
radiográficos, por exemplo, os contrastes.

Mas, o que o conhecimento acerca da Farmacologia pode trazer de


benefícios para a estética? A Farmacologia dispõe de conhecimentos
de grande importância para o profissional da estética, já que
corresponde ao estudo dos mecanismos aos quais os agentes químicos
(medicamentos e cosméticos) impactam as funções dos sistemas
biológicos e como eles agem no decorrer do processo. Portanto, a
12

Farmacologia tem como característica envolver estudos de interação dos


compostos químicos com o organismo.

4. Definições na Farmacologia

Dentro da Farmacologia, temos algumas definições que são elucidativas


e proporcionam ao profissional um maior conhecimento sobre as
diferenças entre os compostos químicos empregados para uso.
Trataremos, a seguir, sobre cada um deles entendendo suas diferenças.

• Droga: substância química natural ou sintética que atua na


modificação da função dos organismos vivos, isto é, com efeito
farmacológico ou toxico.

• Fármaco: indica uma conhecida substância química (droga ou


medicamento) e de estrutura química já definida que possui
propriedades farmacológicas.

• Medicamento: pode conter um ou mais fármacos, quando usado


de maneira correta seguindo as indicações tem ação farmacologia
benéfica. Produto farmacológico, obtido ou elaborado com a
finalidade de profilaxia, cura, para diagnósticos ou paliativo.

• Remédio: todo meio citado acima que tem por finalidade


prevenção ou cura de patologias.

• Princípio ativo: substância existente na composição do


medicamento que atua como efeito terapêutico.

Existem duas classes dentro da Farmacologia que estudam as interações


entre o fármaco e o corpo, a farmacodinâmica onde se examinam as
ações do fármaco no organismo, assim como sua concentração; e a
farmacocinética, que evidencia as ações do corpo sobre o fármaco.
Observe na Figura 1 um esquema desses conceitos.
13

Figura 1 – Esquema das classes da farmacologia e suas funções

Fonte: elaborada pela autora.

Elucidaremos, agora, o conteúdo sobre essas duas classes da


Farmacologia.

5. Farmacodinâmica

A farmacodinâmica estuda os efeitos fisiológicos e bioquímicos dos


fármacos, assim como seus mecanismos de ação no organismo. Os
efeitos atribuídos à maioria dos fármacos acontecem pela interação
destes com componentes macromoleculares do organismo.

Quando se ouve falar no termo alvo ou receptor de um fármaco,


estamos descrevendo o complexo macromolecular ou a macromolécula
da célula que o fármaco fará sua interação de modo a desencadear
uma reação celular (pequena) ou sistêmica (de grande porte). Ao invés
de desencadear respostas novas, os fármacos geralmente modificam
a magnitude ou a taxa de uma reação celular e fisiológica intrínseca
(GOODMAN; GILMAN, 2018).

A entrada do fármaco na célula ocorre conforme receptores dos


fármacos, geralmente localizados nas superfícies das células, mas
14

também podem ser encontrados em compartimentos intracelulares


específicos, como o núcleo celular, ou em compartimentos
extracelulares, como no caso de fármacos com objetivo de agirem como
fatores de coagulação e mediadores inflamatórios. Para Katzung (2022),
existem, ainda, fármacos com interação sobre aceptores, por exemplo,
albumina sérica, compostos que não acarretam de forma direta alguma
reação fisiológica ou bioquímica, mas, que de algum modo, acabam
alterando a farmacocinética de ações do fármaco.

Nos últimos anos, muitos fármacos que têm sido aprovados são
denominados de agentes biológicos terapêuticos, inclusive anticorpos
monoclonais e enzimas que tem seu desenvolvimento por engenharia
genética (GOODMAN; GILMAN, 2018). Esses fármacos novos possuem
uma tecnologia mais inovadora, onde se obtém melhores resultados
no tratamento final, devido ao seu potencial de conseguir atingir com
grande precisão o local que possui alteração. Como exemplo para
melhor elucidação, já são utilizados microrganismo geneticamente
modificados que atuam dentro de tumores, que são injetados no
interior dos tumores que não podem ser retirados cirurgicamente. Lá
esses fármacos agem na degradação do tecidual tumoral e conseguem
resultados melhores do que os fármacos já estabelecidos no mercado.

Existem muitos meios do fármaco chegar ao sítio de ação, assim


como muitas maneiras de ocorrer o processo de mecanismo de
ação no organismo desencadeando o efeito final. Desse modo, a
farmacodinâmica sempre está respaldada em três pilares: local de ação;
mecanismo de ação; e efeitos.

6. Farmacocinética

O corpo humano possui uma limitação de acesso a moléculas estranhas;


devido a esse motivo para que se possa alcançar seu alvo (sítio de
15

ação) no interior do corpo e, assim, conseguir um efeito terapêutico,


a molécula do fármaco necessita passar por algumas barreiras de
restrição no caminho até chegar ao seu local de ação. Depois de feita a
administração, o fármaco necessita ser absorvido e, depois disseminado,
na maioria das vezes por meio de vasos dos sistemas circulatório e
linfático; mesmo atravessando a barreira das membranas, o fármaco
carece de resistência do metabolismo (principalmente hepático) e da
eliminação (devido à ação dos rins e do fígado, nas fezes). Os processos
da farmacocinética são conhecidos como ADME, que correspondem à
absorção, distribuição, metabolismo e eliminação, como visto na Figura
2. Para Rang (2020), a compreensão acerca dos processos existentes e
das inter-relações, assim como da aplicação dos princípios presentes
na farmacocinética acrescentam as chances de obtenção do sucesso no
tratamento e amortizam episódios de reações adversas aos fármacos.

Figura 2 – Correlações entre absorção, distribuição, ligação,


metabolismo e excreção de um fármaco e sua
concentração nos locais de ação

Fonte: acervo platos.

O ADME (absorção, distribuição, metabolismo e eliminação) do fármaco


acontece devido à passagem pelas muitas membranas celulares. Para
atravessar a membrana celular, os fármacos utilizam de mecanismos e
16

características físico-químicas; esses processos são importantes para o


desenvolvimento da correta disposição dos fármacos no organismo.

O fármaco possui algumas características que antecipam seu transporte


e a disponibilidade nos sítios de ação, dentre elas podemos citar:
o grau de ionização; o peso molecular; e a conformação estrutural;
a lipossolubilidade referente aos seus compostos ionizados e não
ionizados, que tem ligação com as proteínas séricas e teciduais. A
membrana plasmática é a barreira principal para passagem de um
fármaco, mas também temos as constituídas de uma camada única de
células, como exemplo do epitélio intestinal; e a com várias camadas de
células e suas proteínas extracelulares associadas, como exemplo a pele
(BRUTON; HILAL-DANDAN, 2019).

Portanto, pode-se dizer que na farmacocinética temos os seguintes


pontos principais, as vias de administração, a absorção, a distribuição, a
biotransformação, e finalizando com a eliminação.

7. Vias de administração

E para compreender melhor os contextos que envolvem os fármacos


e sua ação no organismo, precisamos conhecer quais são as vias pelas
quais os fármacos podem entrar em contato com o organismo e depois
iniciar seu processo de ação.

• Administração ou via oral: método mais utilizado e o mais


seguro também, e ainda é econômico. Mas, possui desvantagens
como a questão que envolve a absorção limitada de fármacos
específicos em função das características que possui, situações em
que ocorrem vômitos devido irritação da mucosa gastrointestinal,
irregularidades devido absorção ou propulsão por conta de
alimentos ou outros fármacos.
17

• Administração sublingual: absorção ocorre pela mucosa oral,


sendo importante para alguns fármacos em especial. O fármaco
administrado dessa forma é protegido do metabolismo rápido do
intestino e na primeira passagem pelo fígado.

• Injeção parenteral: possui vantagens inequívocas sobre a


administração oral, a biodisponibilidade acaba sendo mais rápida,
utilizada com muita frequência em emergências. As vias principais
de injeção parenteral são subcutânea, intravenosa e intramuscular.

• Absorção pulmonar: utilizada para fármacos gasosos voláteis


que necessitam ser absorvidos pelo epitélio pulmonar e mucosas
do trato respiratório. Por essa via, o acesso à circulação se torna
muito rápido.

• Aplicação tópica: pode ser feita em locais diferentes como as


mucosas (nasofaringe, orofaringe, colo, vagina, bexiga e uretra);
assim como pode ser aplicada nos olhos em casos de fármacos
oftálmicos de aplicação; e na pele por absorção transdérmica.
Nesses casos, a absorção dos fármacos depende da área de
superfície na qual são aplicados e de sua lipossolubilidade.

• Administração retal: em torno de 50% dos fármacos absorvidos


por essa via não passam pelo fígado e, por isso, o metabolismo de
primeira passagem é menor. Mas, essa absorção pode ser irregular
e incompleta, e acabar causando irritações a mucosa.

Podemos perceber que dentro da farmacologia existe uma gama muito


grande de conhecimentos que precisam ser elucidados e aprofundados,
visto que é uma área de grande e total importância dentro da saúde
e da estética. Portanto, o conhecimento sobre a farmacodinâmica
e o entendimento sobre os efeitos biológico e fisiológicos dos
fármacos se mostra de grande valia, assim como seu mecanismo de
ação no organismo. Ainda é importante e necessário saber sobre a
farmacocinética e as vias de administração, assim como todo o processo
18

que acontece no organismo (absorção, distribuição, biotransformação e


eliminação) assim que ele entra em contato com o fármaco.

Referências
BRUTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
DEICHMANN, William B. et al. What is there that is not poison? A study of the Third
Defense by Paracelsus. Archives of Toxicology, v. 58, n. 4, p. 207-213, 1986.
GOODMAN, Louis S. GILMAN, Alfred. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman e Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018.
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Porto Alegre: AMGH,
2022.
MEYER, Hans H. Oswald Schmiedeberg. Naturwissenschaften, v. 10, n. 5, p. 105-
107, 1922.
RANG, H. P. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
TRENDELENBURG, U. Pharmacology in Germany. Trends Pharmacol Sci, v. 19, p.
196–198, 1998.
19

Farmacocinética e farmacologia
dermatológica
Autoria: Claudia Stoeglehner Sahd
Leitura crítica: Mariana Prado Bravo

Objetivos
• Conhecer os mecanismos farmacocinéticos
envolvidos, mecanismos de transporte e movimento
do fármaco no organismo.

• Entender sobre os princípios da ação de fármacos


no organismo.

• Compreender acerca de noções de farmacologia


dermatológica.
20

1. Introdução

Os estudo que norteiam a Farmacologia são divididos em duas


grandes áreas, a farmacodinâmica que estuda o efeito dos fármacos
no organismo, e a farmacocinética, que tem como objetivo avaliar o
organismo quando está na presença do fármaco. Vamos focar este
conteúdo na farmacocinética, buscando compreender como ocorrem os
processos de administração, absorção, biotransformação e a eliminação
dessas substâncias pelo organismo humano. Obter o conhecimento
e entender como acontece essa aplicação de conceitos irá possibilitar
escolher a dose, posologia e a via de administração que poderá ser usada
para o fármaco específico, proporcionando um uso racional e seguro.
Portanto, você conhecerá os mecanismos farmacocinéticos, os princípios
da ação de fármacos, além de ter noções de farmacologia dermatológica.

2. Mecanismos farmacocinéticos

O estudo sobre o movimento do fármaco por meio do organismo é


realizado pela farmacocinética, compreendendo as etapas de absorver,
distribuir, biotransformar e eliminar os fármacos do corpo, esses
processos têm influência no início, na duração e na extensão do efeito
que o fármaco terá dentro do organismo. E a partir do momento que
o profissional detém conhecimentos sobre essas propriedades ele se
torna apto a poder determinar a melhor dose, como deve ser a posologia
e a melhor via de administração do medicamento em questão, assim é
possível que se tenha um sucesso maior na aplicação terapêutica e um
menor risco de efeitos adversos.

2.1 Mecanismos de transporte

Os processos constituintes da farmacocinética como absorção,


distribuição, biotransformação e eliminação necessitam ocorrer
21

por meio da passagem do fármaco pelas membranas das células.


Sucintamente, os fármacos percorrem as membranas utilizando alguns
mecanismos como a difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo
e endocitose.

Vamos, agora, entender sobre esses mecanismos de transporte e


também visualizar como ocorrem na Figura 1.

Figura 1 – Mecanismos de transporte pelas membranas celulares

Fonte: Shutterstock.com.

• Difusão passiva: a maioria dos fármacos passa pelo processo de


absorção devido a esse mecanismo. Os fármacos lipossolúveis
passam pelas membranas lipídicas por meio de difusão, neste
caso, a força motora é o gradiente de concentração. Neste
processo, conforme Katzung (2022), o fármaco faz seu movimento
de regiões de concentração mais alta para regiões que possuem
concentração mais baixa até que se obtenha o equilíbrio.
22

• Difusão facilitada: alguns fármacos específicos adentram as


células por meio de proteínas transportadoras transmembranas
especializadas, agindo de forma a facilitar a passagem de grandes
moléculas. As proteínas transportadoras passam por alterações
em sua conformação, isso permite que ocorra a passagem dos
fármacos para o interior das células, executando a movimentação
destes de regiões de concentração alta para regiões de
concentração baixa. Todo esse processo não requer energia para
que seja realizada e, por isso, recebe o nome de difusão facilitada.
Mas, segundo Rang (2020), pode acontecer a saturação, e com
isso ocorrer a inibição dos compostos que pleiteiam o mesmo
transportador.

• Transporte ativo: a permeação dos fármacos por meio da


membrana também pode envolver transportadores proteicos
específicos que passam pela membrana celular. Sendo assim, isso
o torna saturável e dependente de energia – necessita de hidrólise
do trifosfato de adenosina. Esse transporte tem capacidade
de realizar o movimento dos fármacos contra um gradiente de
concentração, isto é, levando este de um local com concentração
baixa de fármaco para outro que possui maior concentração.
Como exemplo, podemos citar a bomba de sódio-potássio. Como
descreve Katzung (2022), esse transporte faz com que as células
possam manter em seu citoplasma as concentrações de várias
substâncias, independentemente da sua concentração ser distinta
do meio que a envolve. Assim, a célula pode eliminar substâncias
que estão em concentração muito inferior às do meio exterior e
captar substâncias com baixa concentração do meio exterior e
trazer para o seu interior.

• Endocitose: processo pelo qual ocorre o transporte de moléculas


do meio extracelular para o intracelular, por meio da invaginação
da membrana plasmática e concepção de vesículas endocíticas.
Após sua formação, essas vesículas são “engolfadas” até o interior
23

da célula. Este processo ocorre para moléculas de fármacos com


alto peso molecular.

2.2 Movimento do fármaco no organismo

Você já se perguntou quando tomou um fármaco ou administrou


a alguém, como o corpo reage e quais processos ocorrem? Vamos
conhecer o movimento dos fármacos no organismo, compreendendo
o passo a passo. Começaremos com a primeira etapa farmacocinética;
esta consiste no processo de absorção do fármaco. A absorção
corresponde à passagem do fármaco do seu local de administração até a
corrente sanguínea. As características da membrana celular, assim como
as propriedades físico-químicas do fármaco, exercem influência sobre
esse processo.

Mas, será que após a administração o fármaco chega inteiro ao seu


sítio de ação? Para que possamos responder a essa pergunta é preciso
entender sobre a biodisponibilidade. Esse processo caracteriza a
fração do fármaco que chegará até a corrente sanguínea de maneira
inalterada, após ocorrer sua administração. Na via intravenosa, a
administração do fármaco é direta na circulação sistêmica. Logo,
diz-se que a via intravenosa (IV) possui biodisponibilidade total (1
ou 100%). As demais vias de administração, com exceção da via IV,
possuem perdas do fármaco até que ocorra a chegada ao sangue,
por isso, a biodisponibilidade se torna inferior a 1 (ou 100%). Alguns
fatores exercem influência na biodisponibilidade do fármaco, sendo
estes a forma farmacêutica, solubilidade e o metabolismo de primeira
passagem.

A distribuição é mais uma etapa do processo da farmacocinética, esta


acontece após a absorção ou administração do fármaco pela via IV,
quando ocorre a passagem dele da corrente sanguínea até o líquido
intersticial e, depois para as células de cada tecido. Mas, assim como
24

todos os processos do organismo, esse também pode ser afetado por


alguns fatores, sendo fisiológicos como fluxo sanguíneo, débito cardíaco,
volume do tecido e permeabilidade capilar, e por características
físico-químicas do fármaco, como a afinidade por proteínas teciduais,
plasmáticas e a lipossolubilidade.

Primeiramente, os fármacos se disseminam para órgãos que possuem


maior irrigação sanguínea, por exemplo o fígado, os rins e os pulmões.
Já a disseminação, chegada e interação do fármaco com tecidos
que possuem menor irrigação como pele, tecido adiposo e músculo
esquelético se torna mais lenta.

Alguns tipos de fármacos se ligam às proteínas plasmáticas como


globulinas, glicoproteína ácida α-1 e albumina circulantes no sangue. As
proteínas agem como reservatórios e são capazes de adiar a distribuição
do fármaco. Entre os líquidos extra e intracelular, apenas a fração livre
do fármaco se encontra em equilíbrio. Assim, conforme a concentração
do fármaco livre diminui, em decorrência da liberação e eliminação
em distintos tecidos, o fármaco ligado se desprende da proteína. Esse
atributo também limita a biotransformação e a filtração do fármaco.

Posteriormente à introdução do fármaco no corpo humano, inicia-


se o processo de eliminação. A eliminação do fármaco no organismo
acontece por processos de biotransformação e excreção, e o
metabolismo do fármaco é o que consiste na biotransformação. Esse
processo ocorre para tornar moléculas lipofílicas em mais hidrofílicas.
Os fármacos que possuem maior lifofilicidade acabam por ter maior
dificuldade no processo de eliminação do organismo, sendo filtrados
pelo glomérulo renal, contudo, possuem uma absorção facilitada
pela circulação sistêmica em decorrência de sua afinidade com
membranas celulares. Para que ocorra sua eliminação necessitam ser
biotransformados em moléculas mais polares.
25

As reações de biotransformação possuem classificação em dois grupos:


reações de fase I e fase II. Reações de fase I são denominadas, também,
de reações não sintéticas ou catabólicas, constituídas de redução,
oxidação, ciclização ou desciclização e hidrólise. Grupos hidrofílicos, por
exemplo, -OH, -SH, -NH2 nessas reações, são embutidos ou liberados
na molécula do fármaco, tornando-o com mais polaridade. A maior
parte de reações da fase I sofrem catalização por enzimas da família
citocromo P450 (CYP). Os produtos podem ser excretados facilmente
quando são polares o suficiente, entretanto, muitos metabólitos
acabam por passar por uma reação consecutiva. Já as reações de fase
II recebem o nome de anabólicas, sintéticas ou de conjugação, sendo
constituídas por metilação, acetilação e conjugações. Os produtos de
fase I nessas reações são conjugados a moléculas endógenas, bastante
hidrofílicas. Comumente, o metabólito é conjugado a ácido sulfúrico,
ácido glicurônico, ácido acético ou a um aminoácido, como a glicina. As
reações derivam em moléculas excessivamente polares, comumente
inativas, eliminadas facilmente. As reações de biotransformação
ocorrem principalmente no fígado, mas com frequência menor, e essas
reações podem, também, ocorrer nos pulmões, trato gastrintestinal
(TGI), rins, cérebro e pele.

Os fármacos que sofrem absorção em órgãos do TGI, como intestino e


estômago, adentram a circulação portal (nesta circulação temos uma
veia que se interpõe entre uma ou mais redes capilares, sem que ocorra
a passagem por um órgão intermediário) antes de chegar à circulação
sistêmica. Esses fármacos estão sujeitos à biotransformação através
de enzimas metabolizadoras que se localizam na parede do intestino
e, especialmente, no fígado. Todo esse processo recebe o nome de
metabolismo de primeira passagem e concebe a biodisponibilidade
oral de forma reduzida, pois a quantidade de fármaco inalterado que
chega de fato à circulação sistêmica se torna reduzida. A parte final do
processo de farmacocinética recebe o nome de excreção, e corresponde
26

à saída do fármaco do corpo, podendo ocorrer por distintas vias, sendo


a principal a urinária.

Os processos de filtração glomerular, secreção tubular e reabsorção


estão envolvidos na excreção pelo sistema renal. Por esta via são
eliminados facilmente os fármacos hidrofílicos, que são filtrados pelo
glomérulo e continuam no túbulo renal, devido a não afinidade pelas
membranas celulares. Quando há alguma alteração na função renal, o
processo de excreção do fármaco é afetado. A insuficiência renal pode
ser um exemplo, pois limita a excreção de fármacos e outras substâncias
exógenas, acarretando o acúmulo destas no organismo. Outras
modalidades de excreção do fármaco do organismo acontecem pela
excreção biliar, renal e pulmonar, mas ainda temos outras vias como
lágrimas, leite materno, suor, fezes e saliva.

3. Princípios da ação de fármacos

Os fármacos são capazes de proporcionar ações específicas e


inespecíficas sobre o corpo. A maioria dos fármacos possuem efeitos
terapêuticos, adversos e tóxicos, que acontecem a partir da interação
com macromoléculas do organismo, denominadas de receptores.
Os complexos fármaco-receptor são formados pela interação do
fármaco com essas macromoléculas. Esses complexos originam
alterações fisiológicas e/ou bioquímicas nas células e tecidos causando
a modulação dos sistemas e, finalmente resultando nos efeitos
observados dos fármacos. Os fármacos que agem sobre receptores
específicos são qualificados como fármacos de ação específica. Em
contrapartida, os fármacos que desempenham seus efeitos sem que
ocorra a interação com receptores específicos são denominados
fármacos com ação inespecífica. A ação desempenhada por esses
fármacos deriva de suas propriedades físico-químicas e acontece devido
à função de seu acúmulo em regiões vitais da célula. Como exemplos de
27

fármacos com ação inespecífica temos alguns inseticidas, antifúngicos


tópicos e antissépticos.

Receptores farmacológicos dos fármacos de ação específica são


macromoléculas endógenas, como ácidos nucleicos, enzimas
e proteínas. A grande maioria desses receptores são proteínas
transdutoras de sinais, representadas por receptores acoplados à
proteína G; canais iônicos sensíveis a ligantes; receptores ligados a
enzimas e os receptores intracelulares. Por isso, uma grande parte dos
fármacos possui seu mecanismo de ação fundamentado na ativação
ou inativação de enzimas, na supressão da função gênica ou até na
interação com a membrana celular, ocasionando sua modificação ou
intervindo em seus sistemas de transporte. Compreenderemos agora
os principais tipos de receptores farmacológicos (WHALEN; FINKEL;
PANAVELIL, 2016), assim como pode ser visto na Figura 2.

Figura 2 – Mecanismos de sinalização transmembrana

Fonte: Whalen, Finkel e Panavelil (2016, p. 26).

• Canais iônicos sensíveis a ligantes: são poros, compostos por


proteínas e imersos na membrana plasmática, desempenham
papel fundamental na transdução de sinal por meio da passagem
seletiva de íons sinalizadores (K+, Na+, Ca2+ e Cl-). Esses
canais expõem uma região onde ocorre a ligação de moléculas
28

sinalizadoras (ligantes) e geralmente mostram dois estados


conformacionais, o aberto e o fechado. De forma geral, a interação
do ligante ao canal proporciona sua abertura, admitindo a
passagem do íon. Sendo esses receptores alvo para modulação
da neurotransmissão no sistema nervoso central, assim como a
transmissão elétrica nos músculos cardíaco e esquelético.

• Receptores acoplados à proteína G: são formados por proteínas


transmembrana que passam pela bicamada lipídica sete vezes.
Essas proteínas são ligadas à uma molécula transdutora de sinal,
denominada de proteína G, constituída de três subunidades: α,
β e γ. As proteínas G, por meio da subunidade α, fazem ligação
com os nucleotídeos da guanosina, como exemplo, o trifosfato
de guanosina (GTP). Uma mudança na conformação do receptor
transmembrana ocorre quando este está com um ligante,
acarretando a separação do complexo αGTP do complexo βγ. Cada
complexo desses interage com efetores celulares, produzindo
mensageiros e desencadeando uma cascata de sinalização. São
exemplos de efetores o monofosfato de adenosina cíclico (AMPc),
diacilglicerol (DAG), trifosfato-1,4,5-inositos (IP3), fosfolipase C e a
adenililciclase – estes dois últimos são exemplos de efetores, que
quando ativados produzem mensageiros.

• Receptores ligados à enzima: compõem uma proteína


transmembrana, que oferece domínio extracelular para interação
com ligante e domínio intracelular com atividade enzimática.
Muitos desses receptores exibem atividade tirosinocinase.
Esses receptores sofrem uma modificação conformacional, os
ativando quando há uma interação de ligantes com seu domínio
extracelular. Esses receptores ativos fosforilam resíduos de tirosina
de sua própria estrutura, e/ ou outras proteínas-alvo, suscitando
em uma cascata de sinalização intracelular.

• Receptores intracelulares: são totalmente intracelulares,


atuando de forma principal sobre a modulação de fatores de
29

transcrição nucleares. Os ligantes precisam se difundir pelas


membranas celulares, para que consigam interagir com os
receptores intracelulares. Assim, apresentam natureza lipofílica.
A concepção do complexo ligante-receptor induz à ativação do
receptor intracelular, ocorrendo o seu deslocamento até o núcleo
celular. Esse complexo interage com fatores de transcrição no
núcleo regulando a expressão gênica, acarretando sua ativação
ou inibição. Devido ao fato de modularem a transcrição do DNA
em RNA e a tradução do RNA em proteínas, sua resposta é longa,
sendo capaz de persistir por horas ou até dia.

4. Noções de farmacologia dermatológica

As patologias ou alterações cutâneas concebem oportunidades especiais


para o profissional da área. Mas, existe apenas a via de administração
tópica na farmacologia dermatológica? Não, a administração por via
tópica é a mais apropriada para situações em que há patologias ou
alterações de pele, mas, em alguns casos e quadros dermatológicos
específicos, é melhor a administração sistêmica.

A farmacocinética que norteia o uso de fármacos aplicados à pele


é idêntica aos envolvidos com outras vias de administração. Com
frequência dizem que a pele é uma estrutura simples de três camadas,
formando uma série complexa de barreiras à difusão. A base da análise
farmacocinética é constituída pela quantidade do fluxo de fármacos
e seus veículos que passam pelas barreiras da pele, e isso é de total
interesse do terapêutico dermatológico.

Dentre as principais variáveis que geram a resposta dos fármacos


aplicados na pele, temos:

1. Variação regional na penetração do fármaco: temos aqui como


exemplo face, saco escrotal, couro cabeludo e axila (locais do corpo
30

que possuem o estrato córneo mais fino, por isso são altamente
permeáveis), que possuem maior permeabilidade que o antebraço.
Devido a isso, pode existir necessidade de aplicar uma menor
quantidade de medicamento para que se consiga obter um efeito
equivalente.

2. Gradiente de concentração: quanto maior é o gradiente de


concentração, maior pode ser a massa de fármaco transferida por
unidade de tempo, precisamente como acontece no processo de
difusão por meio de outras barreiras. Desse modo, a resistência aos
corticosteroides tópicos pode, algumas vezes, ser sobrepujada com o
maior uso na concentração do fármaco.

3. Esquema de administração: devido às suas características físicas,


a pele atua como um reservatório para diversos fármacos. Como
resultado, a “meia-vida local” (tempo necessário para concentração
inicial do fármaco ser reduzida à metade) pode ser satisfatoriamente
longa para consentir que ocorra a aplicação uma vez ao dia nos casos
de fármacos com meia-vida sistêmica curta. Como exemplo, temos
quadros em que a aplicação de corticosteroides pode ser uma vez ao
dia, tornando-se tão eficiente quando se fazem diversas aplicações.

4. Veículo e oclusão: usar o veículo adequado eleva ao máximo a


probabilidade de o fármaco adentrar as camadas externas da pele.
Ademais, por meio de suas propriedades físicas (ação de ressecamento
ou hidratação), os veículos podem ter, eles próprios, efeitos
terapêuticos. A oclusão (aplicação de envoltório plástico para manter o
fármaco e seu veículo em contato direto com a pele) é extremamente
efetiva na maximização da eficácia.

Com todo conhecimento adquirido se percebe o quanto o profissional


precisa obter entendimento sobre os mecanismos farmacocinéticos,
a ação dos fármacos, assim como ter noções de farmacologia
dermatológica. Podemos verificar, assim, que o profissional que conhece
31

esses recursos voltados aos processos de distribuição do fármaco no


organismo, os transportes que levam o fármaco a célula e as noções
que se deve ter de farmacologia na dermatologia, poderá construir um
melhor atendimento ao paciente, e uma melhor indicação de cosméticos
em seu paciente.

Referências
BRUTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman.13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
GOODMAN, Louis S. GILMAN, Alfred. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman e Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018.
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Porto Alegre: AMGH,
2022.
RANG, H. P. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PAVANELIL, T. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.
32

Imunologia cutânea e
cosmetotoxicidade
Autoria: Claudia Stoeglehner Sahd
Leitura crítica: Mariana Prado Bravo

Objetivos
• Compreender como funciona a imunologia cutânea.

• Conhecer os mediadores inflamatórios presentes no


organismo.

• Entender o que é a cosmetotoxicidade e como está


ocorre no organismo.
33

1. Introdução

Estamos inseridos em um mundo com grande potencial de hostilidade


ao nosso redor, onde existe uma gama de agentes infecciosos
(microrganismos) que aproveitam de alguma alteração do nosso
organismo para se tornarem potencialmente patogênicos, o que
resulta em desordens patológicas. Como forma de obter proteção
contra esses agentes oportunistas, o organismo a milhões de anos
desenvolveu mecanismos dotados de grande efetividade para
combater esses patógenos e fornecer proteção. Esses mecanismos de
defesa do organismo possibilitam um estabelecimento do estado da
imunidade contra as infecções e a atuação deste mecanismo permite o
conhecimento sobre a imunologia.

Ainda pouco elucidados, alguns fatores constitucionais do organismo


podem tornar uma espécie inatamente suscetível e já a outra com
resistência a específicos tipos de infecção. Por isso, alguns sistemas
antimicrobianos do organismo são denominados de inatos, isto é,
acabam não sendo afetados quando em contato prévio com o patógeno
e agem imediatamente quando encontram elementos que podem
considerar como indesejáveis pelo sistema imune.

Com base nesse prévio esclarecimento, podemos observar a


importância que o sistema imunológico representa para o organismo,
por isso, veremos como funciona a imunologia cutânea, quais são os
mediadores inflamatórios e por fim conhecerá a cosmetotoxicidade.

2. Imunologia cutânea

A imunologia realmente é uma área complexa e com muitos detalhes,


além de minuciosa e que necessita de muita atenção. Por isso, para
34

compreender melhor como ocorre a imunologia na pele, pense nas


várias camadas.

A epiderme é a camada mais superficial da pele, de origem ectodérmica,


e tem em sua constituição o epitélio estratificado pavimentoso
queratinizado. As células da epiderme passam por um processo de
renovação constante, por terem uma atividade mitótica contínua. Sua
função principal é a síntese de queratina (proteína fibrosa maleável,
incumbida de proporcionar a impermeabilidade cutânea), as células
encarregadas para função de produzir queratina são denominadas de
queratinócitos.

Queratinócitos em diferentes estágios de diferenciação constituirão a


epiderme com suas diferentes camadas de células, observam-se cinco
camadas:

• Camada basal ou germinativa.

• Camada espinhosa ou malpighiana.

• Camada granulosa.

• Camada lúcida.

• Camada córnea.

A derme, de origem mesodérmica, é o tecido conjuntivo de apoio para


a epiderme, fornece proteção tanto para esta quanto para os anexos
cutâneos e os plexos vasculares e neurais. A epiderme e a derme se
combinam de maneira curva e interpenetrante, ou seja, a epiderme
penetra na derme pelo cone interpapilar (crista epidérmica), e a derme
penetra na epiderme pela papila dérmica. Dividida em três camadas,
com pouco divisas definidas entre elas: a derme papilar; a perianexial; e
a reticular.
35

Hipoderme (subcutâneo) ou panículo adiposo é a camada mais profunda


da pele com espessura variável e é composto por tecido adiposo.
Pode servir como reserva de nutrientes, participar da regulação da
temperatura, atuar como isolante, participar na proteção de organismos
contra danos mecânicos e promover o movimento da pele em relação à
estrutura subjacente.

Figura 1 – Camadas da pele

Fonte: Shutterstock.com.

Agora que relembramos as camadas da pele vamos entender melhor


como funciona a relação da pele com a imunologia. Pensando em todo
esse conteúdo, responda: qual a importância da pele para a resposta
imunológica do organismo?

A pele e as mucosas externas do corpo são a primeira linha de defesa


do organismo. E caso ocorra a perda da integridade dessa linha de
defesa, as células formalmente designadas como sistema imune são
observadas.

A maneira mais fácil de evitar uma infecção é impedindo que os


microrganismos consigam acesso ao corpo. Quando a pele integra,
ela se torna impermeável a agentes infecciosos (vírus, bactérias,
36

fungos, parasitas); mas, no momento que ocorre algum tipo de lesão,


por exemplo, nos casos de um procedimento de cirurgia plástica, um
procedimento utilizando agulhas para limpeza de pele, a infecção se
torna uma intercorrência significativa. A maioria das bactérias não
sobrevive por muito tempo na pele devido os efeitos inibitórios diretos
do ácido láctico, ácidos graxos do suor, secreções sebáceas e do pH
baixo que eles produzem. Em alguns casos, esses agentes patogênicos
conseguem ultrapassar a barreira da pele, e é neste momento que o
sistema imunológico entra em ação.

No momento que o microrganismo adentra o tecido, o sistema imune


inato (aquele sistema que já nascemos com ele) entra em ação. No
sistema imunológico inato, temos o envolvimento de duas principais
estratégias defensivas que tem como papel lidar com uma possível
infecção: a primeira é o efeito de destruição de fatores solúveis,
conhecido como enzimas bactericidas. Já o segundo é a fagocitose, que
pode ser representada como um processo de digestão celular.

A maioria das células do sistema imune (com exceção das células


dendríticas foliculares) tem sua formação a partir de células-tronco
hematopoéticas pluripotentes na medula óssea, em que a grande
maioria faz seu amadurecimento dentro da medula óssea antes de
ser liberada na circulação sanguínea e entrar subsequentemente nos
tecidos.

Por todo o corpo estão distribuídas as células da resposta inata, como


os mastócitos no tecido conjuntivo e nas mucosas, os macrófagos
teciduais residentes, os neutrófilos recrutados para o local de infecção,
as células NK (natural killer) em vários locais, entre várias outras. Já em
relação aos linfócitos da resposta adaptativa ou adquirida (resposta
imunológica gerada ao longo da vida do indivíduo, por exemplo
exposição a vírus como gripes ou mesmo a vacinação), as células B se
tornam completamente maduras na medula óssea, já os precursores
das células T precisam migrar da medula óssea para o timo, onde
37

alcançam sua maturidade plena. Em vista disso, a medula óssea e o


timo recebem a designação de tecidos linfoides primários – região onde
se produz linfócitos maduros, qualquer região do organismo fora dos
tecidos linfoides primários recebe o nome de periferia, assim a iniciação
das respostas imunes adaptativas pelos linfócitos ocorre em áreas
especializadas da periferia – já os tecidos linfoides secundários são
linfonodos, baço e MALT (Tecido Imune Associado às Mucosas).

A diferença entre o sistema imune e outros sistemas do organismo


está na quantidade de células envolvidas na resposta imune que se
caracterizam pela alta motilidade que possuem. Para percorrer o
organismo de forma rápida e chegar até seu destino para deter o agente
agressor, elas usam os vasos sanguíneos e linfáticos entrando e saindo
do tecido linfoide para alcançar os locais de infecção. Para se obter uma
resposta imune adquirida de forma efetiva, é preciso que uma complexa
série de eventos celulares ocorra.

Com base nessa informação trazida, cabe aqui a pergunta: Como


uma célula pode ser considerada pertencente ao sistema imune? Os
leucócitos são células sanguíneas denominadas popularmente como
glóbulos brancos, mas, vale destacar a importância de estar ciente do
fato de que a circulação sanguínea opera, na maior parte do tempo,
como uma rede que distribui essas células, para executarem suas
funções especialmente nos tecidos linfoides e em outros tecidos do
corpo.

Talvez os eritrócitos (hemácias) não sejam considerados habitualmente


como parte do sistema imune, ainda que apresentem receptores de
complemento, que conferem a eles um papel importante na eliminação
de imunocomplexos da circulação. De maneira análoga, as células
endoteliais não são normalmente classificadas como sendo células do
sistema imune, mesmo desempenhando papel no alerta dos leucócitos
sobre a existência de uma infecção na região. Aqui, podemos observar
que no corpo não há divisão de sistemas corporais em compartimentos
38

da maneira rígida como por vezes procuramos identificá-los, portanto,


existe uma migração de determinados sistemas para regiões diferentes
conforme se é necessário em determinado momento. Habitualmente,
os patógenos se encontram à primeira vista na superfície do corpo,
sendo na pele ou mucosas, visto que essas superfícies possuem uma
diversidade de barreiras contra infecções.

A superfície cutânea externa é composta por queratinócitos, que


compõem uma barreira física resistente contra microrganismos.
Ademais, os queratinócitos expressam vários tipos de receptores
(proteínas presentes na membrana da célula e são responsáveis por
reconhecer o que está no meio extracelular) que reconhecem padrões.
Depois de detectar um patógeno, esses receptores fazem a estimulação
dos queratinócitos para que este produza compostos microbicidas,
como β-defensinas, assim como diversas citocinas (são moléculas
que participam da comunicação celular desempenhando um papel
na regulação do sistema imunológico, acelerando, assim, o processo
inflamatório e potencializando a cicatrização – compreendendo as
quimiocinas, família de moléculas com funções quimiotáxicas). Em
estado normal, no caso de não conter inflamação, a epiderme possui
células de Langerhans residentes e células T (Figura 2). As células de
Langerhans são capazes de promover respostas Th17 contra patógenos
extracelulares e podem regular, também, o incremento de tolerância
contra antígenos não patogênicos.
39

Figura 2 – Sistema imune cutâneo

Fonte: Delves et al. (2018, p. 161).

Já na derme subjacente podemos encontrar macrófagos, células


dendríticas, células T, mastócitos e células NK (natural killer). Existe uma
migração contínua de leucócitos dos vasos sanguíneos até a derme, as
células T encaminhadas para migrar até a pele suprarregulam muitas
moléculas de adesão, contendo o antígeno leucocitário cutâneo (CLA),
CD43 e CD44, essas três moléculas se ligam à E-selectina no endotélio
dos vasos sanguíneos da pele. Ainda nesse processo, temos a ligação de
LFA-1 e de Mac-1 a ICAM-1 e a ligação de VLA-4 à VCAM-1, assim como a
ligação de CCR4 na célula T ao CCL17 no endotélio dos vasos sanguíneos
(Figura 3).
40

Figura 3 – Interação de leucócitos na pele

Fonte: adaptada de Delves et al. (2018, p. 162).

As células T tem a capacidade de voltar à circulação a partir da


drenagem dos vasos linfáticos e linfonodos. Caso um patógeno
desencadeie uma reação inflamatória cutânea, outras células do sistema
imune (neutrófilos, monócitos e eosinófilos) irão aparecer de forma
rápida até o local. Em situações como portadores de eczema tópico,
observa-se um aumento substancial no número de leucócitos na pele.

Visto o sistema imune cutâneo, vamos compreender melhor sobre os


mediadores inflamatórios dentro da resposta imunológica.

3. Processo de desencadeamento de
mediadores inflamatórios

Como podemos perceber, quando um paciente passa por uma cirurgia


plástica, ou por um procedimento de microagulhamento, carboxiterapia,
eletrolifting, ou qualquer injuria que agrida o extrato cutâneo, o
organismo irá reagir desencadeando a resposta imunológica imediata.
41

No exato momento da injuria, temos a lesão do tecido cutâneo, na


presença de algum patógeno (bactérias, vírus, fungos, protozoários ou
parasitas) existe o processo denominado de infecção, onde o tecido está
contaminado por um agente externo ao organismo. É neste ponto que o
organismo irá reagir, ativando seu sistema de defesa, entrando em ação
o sistema imunológico e desencadeando o processo inflamatório.

O termo inflamação é empregado para se referir a eventos que


acompanham uma resposta imune e exibem características diversas,
abrangendo edema local, eritema (decorrente da dilatação capilar), dor
e calor. Essas características compõem o efeito coletivo da liberação de
citocinas, quimiocinas e aminas vasoativas dos macrófagos e mastócitos
em resposta ao encontro com o patógeno ou agente agressor. Os
subprodutos da ativação do complemento contribuem também para
que ocorra a resposta inflamatória, propiciando a quimiotaxia dos
neutrófilos, assim como a ativação dos mastócitos (Figura 4).

Figura 4 – Reação inflamatória aguda

Fonte: adaptada de Delves et al. (2018, p. 19).


42

Todos esses mediadores inflamatórios auxiliam no recrutamento


dos neutrófilos e das proteínas plasmáticas até a região da infecção,
estimulando a vasodilatação dos vasos sanguíneos próximos do local
infectado e agindo como fatores quimiotáticos para os neutrófilos do
sangue circulante. As células e os líquido adicionais que se acumulam
no local da infecção – favorecem o edema observado -, o aumento
da hiperemia cutânea na região e a hipersensibilidade associada
compõem a reação inflamatória clássica.

As citocinas, quimiocinas e fatores vasoativos (como a histamina), são


liberados por macrófagos e mastócitos ativos, sendo fundamentais
na deflagração do recrutamento dos neutrófilos da circulação
sanguínea para a região com infecção, processo esse denominado
extravasamento. Os neutrófilos possuem um grande número no
organismo e são competentes na fagocitose. Seu recrutamento
para uma região com processo inflamatório compõe uma etapa
fundamental na imunidade inata. Para melhor compreensão desse
processo, em condições normais, os neutrófilos estão circulando
na corrente sanguínea e não fazem aderência às paredes dos vasos
sanguíneos, devido ao rápido fluxo do sangue no interior dos vasos.
Para que possam se retirar da corrente sanguínea, os neutrófilos
necessitam aderir levemente e rolar ao longo da parede do vaso, até
que se consiga ganhar um apoio firme que os permita parar, dando
origem ao processo de se espremer entre o endotélio. As citocinas que
são secretadas pelos macrófagos ativados, em particular a TNFα (fator
de necrose tumoral-alfa) e IL-1β (interleucina 1 – beta), exercem papel
importante nesse aspecto, devido a estas aumentarem a aderência das
células endoteliais que fazem o revestimento dos capilares sanguíneos
mais próximos ao local infectado, suscitando na exposição de P e
E-selectinas nessas células. As selectinas presentes no endotélio
ativado consentem que os neutrófilos comecem o processo de parada,
iniciando o processo de rolamento ao longo da parede endotelial
43

através de interações de ligação com ligantes de carboidratos


existentes na superfície dos neutrófilos.

Um processo semelhante também é utilizado para recrutar monócitos


da circulação sanguínea, de modo a reforçar seus correspondentes
macrófagos nos tecidos, porém, essa onda de recrutamento
habitualmente ocorre 6 a 8 h após o pico de extravasamento dos
neutrófilos e sob a influência de uma quimiocina diferente, a proteína
quimiotática 1 de monócitos (MCP-1). Com efeito, uma das razões
do recrutamento de monócitos adicionais (que se diferenciam em
macrófagos quando entram nos tecidos) consiste em ajudar a remover
todos os neutrófilos cansados da batalha, muitos dos quais estarão
repletos de microrganismos, bem como de outros resíduos dos tecidos
e irão iniciar o processo de cicatrização de ferida.

3.1 Mediadores inflamatórios

Os mediadores inflamatórios auxiliam no recrutamento dos neutrófilos


e das proteínas plasmáticas até a região da infecção, estimulando
a vasodilatação dos vasos sanguíneos próximos do local infectado
e agindo como fatores quimiotáticos para os neutrófilos do sangue
circulante.

• Aminas vasoativas.

A histamina e a serotonina são as duas principais aminas vasoativas,


atuando na vasodilatação e sendo os primeiros mediadores liberados
durante a inflamação. A histamina se localiza nos mastócitos e nos
basófilos nos grânulos intracelulares, liberada durante reações
inflamatórias ou alérgicas. A serotonina (5-hidroxitriptamina) está
presente nas plaquetas e em certas células neuroendócrinas, sendo
um mediador vasoativo com ações similares às da histamina.
44

• Metabólitos do ácido araquidônico (eicosanoides).

São mediadores lipídicos que agem como sinais intra ou extracelulares,


afetando processos biológicos, como inflamação e hemostasia. O ácido
araquidônico livre é metabolizado separadamente por diversas vias,
abrangendo o ácido graxo-ciclo-oxigenase (COX), que contém duas
isoformas principais, COX1 e COX2, que alteram o ácido araquidônico
em prostaglandinas e tromboxanos.

• Fator de ativação plaquetária.

O fator de ativação plaquetária (PAF) é um mediador inflamatório


fosfolipídico potente que eleva a adesão celular ativando as células
endoteliais a partir de efeito direto ou mesmo pela formação de
radicais tóxicos de oxigênio ou metabólitos do ácido araquidônico.
Este é liberado por leucócitos PMN, macrófagos, plaquetas e células
endoteliais, e está associado com efeitos tóxicos do TNF-α e do IL-1 e às
citocinas que fazem interação com o PAF, induzindo a uma elevação na
liberação de mediadores no choque séptico.

• Espécies reativas de oxigênio (EROs) e óxido nítrico (NO).

A inflamação culmina em um aumento na produção de EROs, que


gera um processo de disfunção endotelial. A característica principal da
disfunção endotelial é o prejuízo causado na vasodilatação dependente
do endotélio, que resulta em um desequilíbrio entre a síntese de NO e a
produção de EROs. Na parede vascular intacta, o NO é sintetizado pela
eNOS, sendo um potente vasodilatador, mas no vaso sanguíneo, com
o processo de aterosclerose, duas isoformas da NOS colaboram para a
produção de NO, a neuronal (nNOS) e a induzível (iNOS), estimulada por
citocinas pró-inflamatórias.

• Citocinas e quimiocinas.

Citocinas são proteínas que modulam funções de outros grupos


celulares, conhecidas por serem envolvidas nas respostas imune
45

celulares, mas que possuem efeitos adicionais com papel importante em


ambas as inflamações, tanto aguda, quanto crônica. As duas principais
citocinas são TNF (fator de necrose tumoral) e IL-1 (interleucina 1) que
medeiam a inflamação, gerando efeitos no endotélio, leucócitos e
fibroblastos fazendo, assim, a indução de reações sistêmicas de fase
aguda. Já as quimiocinas são uma família de pequenas proteínas (8-10
kD) atuantes como quimioatraentes para tipos específicos de leucócitos,
apresentando como principais funções a estimulação do recrutamento
dos leucócitos na inflamação e o controle da migração normal das células
pelos tecidos.

4. Cosmetotoxicidade

Antes de falar sobre o cosmético e sua possível toxicidade, é preciso


primeiramente entender o que é a toxicologia. Toxicologia é uma ciência
que se prontifica em estudar os efeitos nocivos resultantes da interação
de substâncias químicas com o organismo–enquanto toxicidade é quando
um fármaco, substância ou cosmético exerce o potencial de gerar danos
às estruturas biológicas do organismo.

Quando ocorre o uso do fármaco ou cosmético, pode acontecer


no organismo diferentes efeitos, e estes podem ser desejáveis ou
indesejáveis. O efeito desejável é aquele benéfico onde a substância
faz sua ação, está relacionado ao papel terapêutico onde mudanças
fisiológicas no organismo humano são observadas de forma positiva.
Porém, existem efeitos indesejáveis, que causam pequenas queixas
e incômodos ao paciente; em alguns casos, pode acontecer desses
inconvenientes serem mais graves e prejudiciais ao organismo. Esses
efeitos são denominados de efeitos adversos, tóxicos ou nocivos. Os
xenobióticos são conhecidos como substâncias consideradas estranhas
pelo organismo reconhecidas pelos mecanismos imunológicos.
46

Existem algumas diferenças entre as intoxicações, como a aguda,


subcrônica e crônica.

• Na intoxicação aguda, os sintomas aparecem após curto período


com relação à exposição ao agente tóxico. Manifestando-se de
forma leve, moderada ou grave, isso irá depender da quantidade de
substância absorvida e da sensibilidade do organismo.

• A intoxicação subcrônica vai indicar a exposição moderada


ou pequena a substâncias alta ou com média toxicidade e as
consequências se mostram de modo mais lento.

• A intoxicação crônica surge meses ou até anos, após a exposição a


substâncias tóxicas, causando danos considerados irreversíveis à
saúde do indivíduo.

4.1 Vias de intoxicação por cosméticos

A via dérmica é considerada a mais comum para que ocorra intoxicações


por agentes cosméticos. A absorção varia conforme a composição da
formulação, o tempo de exposição ao agente, a solubilidade, o grau de
ionização, as dimensões das moléculas, caso aconteça hidrólise no pH da
epiderme, o nível de hidratação que apresenta a camada córnea, umidade
do ambiente, temperatura corporal e ambiental e exposição solar.

As dermatites são implicações da intoxicação por via dérmica, mas


também temos:

• Fotoalergia: ocorre a indução de resposta alérgica cutânea com


similaridade à mediada por radiação UV.

• Fototoxicidade: potencial que o material possui causa indução de


resposta irritante cutânea mediada pela irradiação UV.
47

• Teratologia: comum em produtos de uso interno, onde a toxicidade


é potencial para o feto.

As vias aéreas são outro lugar em potencial para toxicidade cosmética.


As vias áreas possuem seu revestimento de mucosas com alta irrigação
sanguínea, desse modo o potencial de absorção se torna elevado.
Produtos cosméticos como gases, neblinas, fumaças e poeiras, podem
culminar em intoxicação.

Mesmo que não seja a unanimidade, os cosméticos são considerados


produtos seguros quando seu uso se faz de modo correto e seguindo as
recomendações do fabricante. As reações adversas acontecem devido ao
uso de forma incorreta ou a acidentes.

Muitos ingredientes nas últimas décadas, foram retirados da composição


de cosméticos ao redor do mundo, como compostos de halogenados
e mercúrio, hexaclorofeno (conservante), ingredientes geradores de
nitrosaminas e propelentes de clorofluorcarbono.

Para que se tenha garantias de segurança com relação ao uso de


cosméticos são necessários comprovações que envolvem testes com
ensaios toxicológicos específicos.

Agora que você dispõe de todo o conhecimento aqui trazido, podemos


constatar que o profissional necessita saber dos princípios que envolvem
a imunologia cutânea, assim como os mediadores inflamatórios
envolvidos no processo de reconhecimento de agente nocivos ao
organismo, e assim, torna-se mais fácil compreender o que acontece ao
organismo quando o mesmo passar por processos de cosmetotoxicidade.

Referências
BRUTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman.13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
48

DELVES, P. T. et al. Roitt fundamentos de imunologia. 13. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2018.
GOODMAN, Louis S. GILMAN, Alfred. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman e Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2018.
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia Básica e Clínica. 15. ed. Porto Alegre: AMGH,
2022.
KLAASSEN, C. D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em toxicologia de Casarett e
Doull. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
RANG, H. P. Farmacologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
WHALEN, K.; FINKEL, R.; PAVANELIL, T. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2016.
49

Produtos, ingredientes e
substâncias naturais
Autoria: Claudia Stoeglehner Sahd
Leitura crítica: Mariana Prado Bravo

Objetivos
• Compreender os produtos cosméticos e suas
diferenças.

• Conhecer os ingredientes cosméticos naturais.

• Entender as substâncias cosméticas naturais.


50

1. Introdução

O consumidor de hoje está mais preocupado com seu bem-estar, saúde e


principalmente com a preservação do meio ambiente e, para isso, ele busca
meios e formas de consumir produtos e serviços seguros e sustentáveis.
A sustentabilidade e os recursos naturais nunca estiveram tão em alta
como agora, tendo um enfoque em todos os meios de comunicação e
se disseminando cada vez mais entre a população. Por isso, a indústria
farmacêutica cosmética vem a cada dia buscando meios de propor novas
formulações que tenham princípios baseados nos produtos ecologicamente
corretos, buscando respeitar o meio ambiente e preservar o ecossistema.

Assim, o crescimento exponencial do mercado cosmético orgânico, vegano


e natural tem crescido muito nos últimos anos devido a esse crescente
interesse da população em buscar valores mais conscientes que preservem
o meio ambiente e respeitem o ecossistema do planeta, causando menos
danos à natureza e aos animais e minimizando impactos danosos a saúde
do planeta e dos seres humanos.

Portanto, os profissionais também precisam estar a par desse mercado


em forte ascensão para caminhar junto à indústria farmacêutica
cosmética e seus pacientes que vão exigir os produtos mais modernos
e que ofereçam os melhores resultados, causando o menor impacto
possível ao paciente e aos seres que nele habitam. Assim, é importante
estar atento à modernidade e às novas formulações que estão sendo
lançadas diariamente nesse mercado que se movimenta constante e
initerruptamente.

2. Produtos cosméticos

Rotineiramente, as pessoas fazem o uso de produtos cosméticos,


mas nem se dão conta que estas substâncias possuem propriedades
51

químicas especificas em sua composição e que estas podem ter variadas


origens. A maior parte da população é convencida pelo marketing
farmacêutico dos cosméticos das grandes marcas sobre ingredientes
que podem fazer possíveis “milagres” e que na verdade nem sempre
são tão potentes ou tão novos no mercado, isso acontece por indicação
de profissionais sem a devida informação ou por pessoas leigas que
acabam utilizando os produtos de maneira imprópria.

Portanto, antes que se adquira um produto de prateleira, sendo


você profissional ou consumidor final, é necessário obtenção de
conhecimentos sobre a composição da formulação cosmética por meio
da leitura crítica do rótulo da embalagem, visualizando e identificando
os principais ativos e matérias-primas que estão presentes dentro da
formulação cosmética.

Para que se consiga diferenciar na formulação química cosmética, os


ativos cosméticos presentes, é preciso compreender primeiramente o
que são os cosméticos e quais as principais funções eles desempenham.
Ainda, cabe ressaltar de forma clara o que os ativos representam para
as formulações e as funções específicas que desempenham, ainda mais
quando se sabe que para fins comerciais essa explicação exerce grande
papel para hora da venda.

Segundo a Anvisa (BRASIL, 2015), para que ocorra a comercialização


de produtos cosméticos por empresas é preciso que estas passem
pela vigilância sanitária e que atendam os critérios exigidos pelas leis
e regulamentações específicas que são estabelecidas pelos órgãos
responsáveis. Esses critérios estabelecidos preconizam a minimização
de eventuais riscos que podem ser associados ao uso do produto
cosméticos e caberá à indústria farmacêutica fabricante do produto a
responsabilidade de cumprir essas exigências com segurança por meio
do registro ou notificação dos seus produtos cosméticos na Anvisa.
52

Somente os produtos considerados de grau 2 que constam no Anexo


VIII da RDC no 07/2015 necessitam de registro na Anvisa, sendo estes
bronzeadores, protetores solares, produtos infantis, repelentes de
insetos, alisantes de cabelo, gel antisséptico para as mãos. Mas, por que
esses produtos precisam desse registro na Anvisa? Devido à indicação
específica que esses produtos possuem, pois lhe cabem comprovações
de eficácia e/ou segurança, assim como cuidados e informações, modo
de uso e restrições.

E como podemos definir o grau 1, qual a diferença entre eles? Os


produtos de grau 1 são cosméticos, de higiene pessoal e perfumes que
a formulação cumpre a definição seguida no item I–Anexo I–RDC no
07/2015, onde estes possuem propriedades básicas ou elementares,
sem que necessite de comprovação inicial e não há exigência de
detalhes sobre o modo de uso e restrições com base nas características
intrínsecas do produto.

Agora que conhecemos sobre os produtos cosméticos, fica mais


simples de entender que estes possuem diferentes formas de origem
e constituições. Muitos produtos cosméticos têm em sua constituição
substâncias naturais ou sintéticas, com uso externo em diferentes
partes do corpo humano, como as unhas, os cabelos, a pele, os lábios,
os órgãos genitais externos, as mucosas da cavidade oral, os dentes, e
possuem o objetivo principal ou mesmo exclusivo cuidá-los, perfumá-
los, limpá-los, fazer a alteração da sua aparência e ainda atuar na
correção de odores corporais, mantendo com estado de integridade
(BRASIL, 2015).

Os cosméticos são constituídos por uma variedade de componentes


que também se apresentam em formas diversas, o que determinou
a necessidade de se agrupar as matérias primas em classes,
considerando-se as possibilidades de composição. Com a evolução no
desenvolvimento de cosméticos, novas matérias-primas são exploradas
pela indústria cosmética com intuito de melhorar e potencializar os
53

produtos cosméticos. Nessa criteriosa busca, alguns fatores se tornam


mais significantes, como os com menor toxicidade, irritabilidade, custo,
estabilidade, entre outros.

As matérias-primas são consideradas ativas ou inativas, e podem ter


sua origem de forma natural, sintética e semissintética. No primeiro
grupo, encontram-se substâncias animais, minerais e vegetais, como
extratos botânicos, óleos (vegetais e animais), silício, magnésio, ceras,
titânio, entre outros. As sintéticas são obtidas por síntese química, como
alguns conservantes, polímeros sintéticos, filtros solares, silicones e
ésteres. Já as semissintéticas são produzidas por processos químicos a
partir de matérias-primas de origem natural, como os derivados vegetais
que se situam na classe dos emulsionantes, antioxidantes, emolientes,
espessantes, entre outros (Figura 1).

Figura 1 – Classificação das matérias-primas

Fonte: elaborada pela autora.

Como podemos chamar os produtos cosméticos de origem vegetal?


Orgânico, natural ou sustentável? O que podemos considerar como
um produto natural? E o que é um orgânico? Isso varia conforme as
normas de gênero no país em que este é fabricado e de acordo com
as leis sanitárias por ali impostas. No Brasil, existe a Lei nº 10.831/2033
54

que é regulada pelo Decreto nº 6.323/2007, onde há regulamentação


das cadeias produtivas e a comercialização dos orgânicos, mas não dos
naturais.

Na verdade, este decreto mencionado se refere à uma produção agrícola


e não a cosméticos. Para isso, é preciso seguir a legislação da ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas para caracterizar o
orgânico ou natural é preciso que se tenha uma certificadora.

As certificadoras que podem ser utilizadas para validação desses


cosméticos são a IBD e a Ecocert. As duas concordam em vários itens
quando compararam os produtos que vão ser validados, por exemplo,
em relação à origem, obtenção e purificação da matéria-prima, mas,
discordam em relação à composição da formulação e na forma de
classificação final.

Vamos, então, entender a diferença entre esses cosméticos:

• Cosmético natural – contém 5% no mínimo de matérias-primas


orgânicas certificadas (100% natural).

• Cosmético orgânico – contém 95% de matérias-primas orgânicas


certificadas (100%), os 5% restante é de água, outras matérias-
primas naturais certificadas ou matérias-primas naturais não
certificadas.

• Cosmético sustentável – possui embalagem biodegradável e/ou


reciclável, e contém matérias-primas que não causam danos ao
meio ambiente.

3. Ingredientes naturais

Consideramos como matérias-primas naturais as que possuem


na formulação ao menos 5% de matérias-primas orgânicas com
55

certificação, os outros 95% que restam são de matérias-primas naturais


com não certificação ou substâncias permitidas para serem inseridas em
formulações naturais.

Esses ingredientes podem vir tanto de derivados de origem mineral,


marinha, vegetal e animal. Porém, é preciso que fique claro que para
obtenção desses ingredientes vegetais na produção ou coleta extrativa
não se deve causar nenhum tipo de degradação do meio ambiente,
não podendo causar desequilíbrio dos ecossistemas e os ingredientes
vegetais não podem em hipótese alguma estar pertencente a espécies
ameaçadas de extinção.

Vale lembrar que um ingrediente vegetal da formulação se torna


proibido dependendo do solvente extrator que for escolhido, isto é, o
extrato vegetal (processo que se utiliza um solvente extrator) somente
é considerado 100% matéria-prima orgânica quando se utiliza a planta
seca para o uso – outras fontes de obtenção não são consideradas
como “puras”. Os solventes clorados e/ou derivados do petróleo são
considerados de uso proibido em cosméticos orgânicos, pois causam
danos ao meio ambiente.

Já ingredientes minerais estão autorizados, mas somente em seu


uso intrínseco, isto é, inseparáveis a suas funções de origem e que a
extração não acarrete degradação e/ou poluição do meio ambiente.

Veja quais são os processos envolvidos na formulação de ingredientes


naturais:

• Processos físicos permitidos: tratamentos físicos que não surtem


efeito químico nas estruturas moleculares das substâncias e não
geram subprodutos tóxicos. Temos como exemplos: processos de
decantação; centrifugação; pressão; extração com solventes de
origem natural (glicerina, água e etanol); e destilação por arraste
de vapor de água.
56

• Processos químicos permitidos: tratamentos químicos que fazem


alterações de estruturas moleculares das substâncias a partir
de reações químicas, contudo não geram subprodutos tóxicos,
temos como exemplos: processos de hidrogenação, esterificação e
hidrólise.

• Processos químicos proibidos: tratamentos químicos que alteram


as estruturas moleculares das substâncias por meio de reações
químicas, resultando em geração de subprodutos tóxicos. Os
ingredientes marinhos para critério de aceitação se enquadram
na mesma categoria do vegetal. Os ingredientes de origem animal
permitidos são aqueles que não estão em extinção como os
suínos, bovinos ou ovelhas. Ingredientes provenientes de derivado
do petróleo são considerados proibidos para uso.

A Ecocert é uma empresa que tem como objetivo fazer uma análise
de todos os ingredientes que fazem parte da composição do produto,
fazendo um controle bem rígido com relação as informações técnicas
que são repassadas e, no caso de produtos orgânicos, é exido que
seja feita uma apresentação de certificação de conformidade orgânica
juntamente à uma ficha de segurança. No caso de se ter um ingrediente
de origem natural e este não ser certificado como orgânico é preciso que
se tenha um questionário do fabricante e nele deve constar uma série
de informações, por exemplo o solvente que foi usado para extração dos
processos químicos e físicos usados, que são encaminhadas juntamente
com a ficha técnica dos ingredientes.

Os produtos naturais não possuem um controle tão rígido como os


orgânicos. Em relação ao informe no rótulo do produto, este deve
seguir rigorosas legislações e normativa, porém, no Brasil ainda
não há uma exigência concreta sobre isso, desse modo, as próprias
certificadoras acabam por criar suas normas e requisitos mínimos para
esses determinados produtos. E claro, esses requisitos variam de uma
certificadora para outra.
57

4. Substâncias naturais

As matérias-primas ou substâncias vegetais são mais íntegras devido ao


seu baixo processo de síntese química, contribuindo, assim, para uma
maior possibilidade de atividades benéficas devido às propriedades
intrínsecas se comparada às substâncias sintéticas, e às substâncias
naturais possuírem uma maior compatibilidade cutânea e serem bem
mais aceitas pelo organismo.

As substâncias naturais utilizadas nos cosméticos que tanto ajudam nos


tratamentos estéticos são os óleos de origem vegetal, que facilmente
permeiam na pele de forma mais efetiva em detrimento dos óleos de
origem mineral. E ainda possuem propriedades intrínsecas, devido
à riqueza de nutrientes que são benéficos ao extrato cutâneo, como
vitaminas A, B, C e E, e sais minerais (selênio, alumínio, zinco, magnésio,
entre outros). Em contrapartida, se pensarmos no uso de óleos de
origem mineral, esses não penetram com facilidade na pele íntegra,
apresentando uma sensação táctil de matéria-prima densa e difícil
espalhabilidade.

Os ácidos graxos presentes nos óleos vegetais, também encontrados


na pele humana, participam dos processos de manutenção do manto
hidrolipídico e da flexibilidade da pele. Portanto, correspondem a uma
excelente base biocompatível, ou seja, possuem excelente afinidade
natural com o tecido humano.

Os produtos cosméticos faciais com ativos naturais que possuem ação


antienvelhecimento apresentam eficácias comprovadas em função dos
benefícios de suas matérias-primas ricas em ácidos graxos essenciais
orgânicos, vitaminas A, C e E. E, por esse fato, apresentam uma maior
compatibilidade com a pele, e isso agrega resultados mais efetivos e
com menores efeitos colaterais.
58

E até mesmo os protetores solares de origem natural podem ter maior


eficiência por serem livres de filtros químicos, Paba e benzofenonas,
que relatados na literatura se mostram com alto potencial alergênico.
Os protetores solares naturais possuem em sua formulação substâncias
como óxido de zinco e dióxido de titânio micronizado e antioxidantes
naturais como óleo de semente de uva e chá verde.

Não podemos esquecer dos produtos cosméticos naturais capilares,


visto que a maioria dos cosméticos capilares apresenta grande
irritabilidade e chances de apresentar alergia, para isso, substituir o
lauril éter sulfato de sódio por derivados de origem natural, como
milho ou cana-de-açúcar, que irão realizar a mesma função de higiene e
formação de espuma só que de modo mais suave, além de serem livres
de sal e silicone, e possibilitando aos cabelos ficarem menos ressecados
e densos.

Outro exemplo é a tintura, em que podemos usar a henna da espécie


vegetal Lawsonia inermis com a função de fazer o tingimento dos
cabelos com tons acastanhados a avermelhados. Entretanto, quando
são inseridas substâncias na formulação como sais de ferro, alumínio
e cromo ocorre o surgimento de reações colaterais no couro cabeludo
tornando este um produto não natural

É possível vislumbrar com o conteúdo exposto o quanto os cosméticos


de origem natural podem ser compensatórios e de grande valia ao
profissional, que pode atuar de forma a preservar os recursos naturais
do planeta e ainda auxiliar o paciente a ter menos efeitos adversos e
tóxicos com o uso de substâncias sintéticas. Lembrando ainda, o quanto
as pessoas estão buscando por tratamento que envolvam cosméticos
de origem natural e que tenham o menor risco de agressão ao meio
ambiente e a saúde no geral.
59

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução
da Diretoria Colegiada RDC n. 07, de 10 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre os
requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes e dá outras providências. Brasília: ANVISA, 2015.
BRUTON, L. L.; HILAL-DANDAN, R. As bases farmacológicas da terapêutica de
Goodman & Gilman.13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019.
DELVES, P. T. et al. Roitt fundamentos de imunologia. 13. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2018.
PEREIRA, M. F. L. Cosmetologia. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2013.
SOUZA, G. B. Formulário farmacêutico magistral. 2. ed. São Paulo: MedFarma,
2017.
VANZIN, Sara B. Entendendo cosmecêuticos: diagnósticos e tratamentos. 2. ed.
São Paulo: Santos, 2015.
60

BONS ESTUDOS!

Você também pode gostar