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A Vida de Merlin

Geoffrey de Monmouth

Título Original:
Vita Merlini (1150)
Prophetiae Merlini (1130)
Tradução e edição: Artur Avelar
Traduzido do inglês

Imagem de capa criada por inteligência artificial usando os sistemas


Craiyon, Dalle-2, Swinr
Barbudânia
Índice
Sobre a Obra
A Vida de Merlin
As Profecias de Merlin
Sobre a Obra

Para falar da obra Vita Merlini (A Vida de Merlin), é obrigatório


mencionar o trabalho anterior de Geoffrey de Monmouth (~1095-155), De
Gestis Britonum (Sobre os Feitos dos Bretões), mais conhecido como
Historia regum Britanniae (A História dos Reis da Bretanha), publicado em
1136 e que é o mais próximo de um best seller medieval, tendo influenciado
lendas e a literatura mundial pelo próximo milênio. Com mais de duzentas
cópias ainda existentes, ele trouxe uma história com início, meio e fim
sobre a colonização da ilha britânica por refugiados da Guerra de Troia e
seus descendentes que governaram a Bretanha por séculos, culminando na
primeira aparição de Arthur como um rei lendário. Na obra, Merlin aparece
brevemente como um garoto profeta que auxilia os reis Vortigerno e, mais
tarde, Uther Pendragon, pai de Arthur.
Curiosamente, Monmouth publicou um manuscrito anterior a esse, sendo
ele Prophetiae Merlini (As Profecias de Merlin), sendo que seu objetivo
original era publicá-lo como parte de A História dos Reis da Bretanha.
Como ele mesmo explica, devido a uma curiosidade imensa pelas previsões
do mago, ele se viu obrigado a interromper seu trabalho e publicar essa obra
separadamente para saciar o desejo pelo passado e futuro da Bretanha.
Voltando então ao projeto anterior, Monmouth pôde terminá-lo e As
Profecias de Merlin entraram também como o Livro VII de De Gestis
Britonum.
Contrastando com A História dos Reis da Bretanha, A Vida de Merlin
possui somente sete manuscritos sobreviventes, sendo que somente um
deles está completo. É exatamente nesta cópia completa que há a menção a
Monmouth no fim do poema, o que ajudou a consolidar que ele foi o autor
da obra, fato que foi muito discutido no meio acadêmico, embora hoje seja
amplamente aceito.
Antes de se comentar sobre o último trabalho de Monmouth, é
importante conhecer um pouco de sua vida, sendo que fica claro como a
época em que o autor viveu influenciou seu trabalho futuro. Geoffrey de
Monmouth foi um clérigo galês que viveu em uma época conturbada da
Inglaterra, em que o país tinha recentemente passado por uma derrota
anglo-saxã nas mãos dos franco-normandos na Batalha de Hastings, em
1066, em que Guilherme, o Conquistador (1028-1087) venceu o Rei
Haroldo II (1022-1066) e assumiu o trono inglês. Infelizmente, sabe-se
muito pouco da vida de Geoffrey, somente que viveu parte de sua juventude
no priorado de Monmouth, mas que viveu o restante da vida fora de Gales.
Um episódio curioso é que, em 1152, foi ordenado bispo de São Asaph em
Lambeth, distrito de Londres, sendo que ele tinha sido ordenado padre
somente cerca de dez dias antes. Esse fato demonstra não só uma
indubitável indicação política, mas também como ele era visto como
alguém confiável na governança atual do país. É ainda possível que ele
nunca tenha visitado sua diocese devido às guerras que o rei da Inglaterra
travava com o rei galês.
O século XII ainda foi marcado por um período de guerra civil devido a
sucessão ao trono da Inglaterra. Após a morte do Rei Henrique I (1068-
1135), o monarca não deixou descendentes, tendo seu filho falecido em um
naufrágio em 1120. Essa época, chamada de A Anarquia, durou de 1138 a
1153, em que as figuras de Estevão de Blois (1096-1154), sobrinho do rei, e
Matilde da Inglaterra (1102-1167), ou Imperatriz Matilde, filha do rei,
travaram uma disputa sangrenta por poder. É natural que tais fatos
influenciassem as obras de Monmouth, não só porque ele vivenciou a
época, mas também por ser testemunha oficial do Tratado de Wallingford,
que pôs fim à guerra, deixando Estevão como rei e estabelecendo Henrique
Curtmantle, filho de Matilde, como seu sucessor.
Perto do fim desse período conturbado da história local, e anos depois de
publicar sua principal obra, Monmouth voltou à escrita e criou, por volta de
1150, A Vida de Merlin, uma sequência espiritual de seu trabalho anterior,
mas uma obra muito diferente, não só na narrativa, mas também na métrica
e formalidade. Enquanto em A História dos Reis da Bretanha, Monmouth
escreveu em forma de prosa, A Vida de Merlin foi escrita em versos
hexâmetros, uma medida literária usada em poemas da antiguidade, como
Ilíada, de Homero, e Eneida, de Virgílio. A escolha por esta métrica pode
ser atestada pelo conhecimento de Monmouth com a literatura antiga, visto
que ele cita não só autores como Homero em sua obra, como também
personagens de poetas romanos como Ovídio, Lucano e Juvenal.
A principal distinção foi focar menos na história e mais em passagens
filosóficas e descrições da natureza e dos corpos celestes, dado o limitado
conhecimento da época de como era o mundo e a vida dos animais.
Enquanto em Historia regum Britanniae a vida pessoal dos monarcas é
pouca explorada, sendo o foco suas batalhas e conquistas, em Vita Merlini o
tema central é o lado íntimo de Merlin, em que a dor pela morte dos irmãos
de Peredur o faz ser levado à loucura e como seus parentes e amigos tentam
trazê-lo à lucidez novamente.
Em A História dos Reis da Bretanha, Merlin surge como um jovem que
presta serviços proféticos para vários reis, com grande foco nas profecias
ditas a Vortigerno, e mais tarde auxiliando Uther Pendragon a dormir com
Igerna, esposa do Duque Gorlois da Cornualha, ao criar um encantamento
que dá a Uther a aparência de Gorlois. Depois desse trabalho, o personagem
de Merlin some, sendo somente brevemente mencionado no fim da obra ao
falar sobre uma profecia dita a Arthur sobre quando os bretões voltariam a
governar a Bretanha. A profecia é somente mencionada, não se sabendo seu
teor e, curiosamente, não é dito em nenhum lugar do livro que Merlin
sequer conheceu Arthur. Ao se chegar na linha do tempo de A Vida de
Merlin, fica claro que ela se inicia após a morte de Arthur e reinado de seu
sucessor, Constantino, com um Merlin já mais velho. Infelizmente, o tempo
entre as histórias não é explorado e somente levemente citado.
Seria seu desaparecimento da história uma indicação de que Monmouth
pretendia explorar o personagem em uma futura obra? Dado seu enorme
interesse pelos poderes proféticos do feiticeiro, esta é uma possibilidade a
se conjecturar.
Ao se estudar as referências do texto, é possível encontrar semelhanças
no personagem de Merlin com outros dois personagens. Um seria Myrddin
Wyltt, uma figura da mitologia galesa conhecida como um bardo e autor de
vários poemas, famoso por ficar louco após a Batalha de Arfderydd. Outro
personagem é chamado de Lailoken, um louco que vivia na Floresta de
Caledônia e que previu a morte do Rei Rhydderch. Sendo que este rei
morreu na Batalha de Arfderydd, alguns historiadores propõem que foi
Monmouth que uniu os dois personagens em sua própria versão de Merlin.
As referências de Myrddin são principalmente do poema galês
Afallennau (A Macieira), podendo-se citar também Cyfoesi Myrddin a
Gwenddydd a’i chwaer (A Conversa de Myrddin e sua irmã Gwenddydd),
Tmddiddan Myrddin a Thaliesin (Diálogo entre Myrddin e Taliesin), entre
outras obras do século IX e X.
Em relação a Lailoken, seus poemas são de datas desconhecidas, mais
conhecidos como Lailoken A e Lailoken B, e citam um louco vivendo na
Floresta de Caledônia que previu a morte do Rei Rhydderch Hael na
Batalha de Arfderydd. Outra obra que pode ser mencionada é Vita Sancti
Kentigerni (A Vida de São Kentigerno) do século XII, mas que cita fontes
perdidas do século X, que conta como Lailoken descobre sobre a traição da
rainha e esposa de Rhydderch ao notar uma folha em seu cabelo.
Ao juntar as várias referências que tinha ao seu dispor, Monmouth pôde
criar um personagem com um poder de divinação único, sendo capaz de
fazer previsões para os personagens das obras e, principalmente, para a
história da ilha britânica. As profecias que enchem as três obras são
supostamente trazidas por um espírito que utiliza Merlin como um canal de
comunicação para revelar os segredos, sendo elas ditas de forma enigmática
e com a característica de usar animais e astros como símbolos para reis e
guerreiros. Como a história de Merlin se passa por volta do século VI,
muitos dos saberes têm como tema acontecimentos dos reis lendários que
Monmouth contou em A História dos Reis da Bretanha, sendo previsões
que acontecem nos livros futuros.
Entretanto, a parte mais peculiar das profecias são aquelas que
referenciam temas da época do próprio Geoffrey de Monmouth. Como dito
anteriormente, os tempos em que o autor viveu foram uma época de várias
batalhas e agitação civil, sendo que as notícias viajavam lentamente e eram
passadas de boca a boca, sendo difícil saber sua veracidade. Além disso,
eventos que podem ter sido significantes na época, podem ter caído no
esquecimento e são hoje difíceis de sequer conjecturar suas referências.
Ainda assim, os augúrios tinham a perspectiva de serem úteis ao sugerir um
quadro de referência à política contemporânea. Embora tudo isso dificulte
tentar desvendar as profecias de Merlin, por outro lado dá uma aura mais
misteriosa e lírica aos dizeres do mago.
Esta obra traz A Vida de Merlin e As Profecias de Merlin com várias
notas para situar o leitor nas várias referências históricas, religiosas e
poéticas. Há ainda notas com tentativas de interpretação das profecias
retiradas de vários outros autores que se debruçaram para decifrar os
enigmas, mas assim como todos deixam claro, são apenas interpretações
baseadas na história medieval inglesa que nem sempre é confiável.
Independente disso, é inegável o valor místico dessas passagens que
encantaram gerações de acadêmicos e estudiosos medievais, muitos deles
que realmente acreditavam no que o mais famoso mago do mundo deixou
para as gerações seguintes.
A Vida de Merlin

Pretendo cantar um conto agradável


Sobre a loucura do profético bardo Merlin.
[1]
Robert, glória entre os bispos,
Que você guie minha pena,
Pois todos nós reconhecemos que a filosofia
Dotou-o com seu néctar divino
E o fez sábio em todos os assuntos
Para que se mostre o maior professor do mundo.
Conceda seu favor, portanto, ao meu esforço,
E que você se mostre um patrono mais próspero
Do que o homem que agora tão merecidamente sucedeu.
Sua moralidade obteve essa honra a você,
Assim como seu justo estilo de vida,
Suas origens familiares e sua capacidade para o cargo,
E tanto o clero como os leigos o apoiaram.
E tão feliz Lincoln está agora no sétimo céu.
Gostaria, de fato, de ser digno de compor um poema
Suficientemente bom para lhe fazer justiça.
Porém não sou tão digno, nem mesmo se Orfeu e Camerino
[2]
E Macer e Mário e Rabirio de vozes poderosas
Fossem todos cantar através de minhas palavras
Ou se as próprias Musas
[3]
Servissem como minhas acompanhantes.
No entanto, irmãs, já que estão acostumadas a cantar comigo,
Vamos agora recitar o poema diante de nós.
Golpeiem a cítara!

Com o passar dos anos, muitos reis vieram e se foram,


E Merlin ainda era conhecido em todo o mundo.
Ele era tanto um rei quanto um profeta,
Administrando as leis aos ferozes homens de Gales do Sul
E contando o futuro a seus chefes.
E assim aconteceu que surgiram conflitos
Entre alguns dos diferentes líderes do reino,
E eles roubaram as pessoas inocentes
Em todas as cidades daquela terra.
Peredur, o senhor dos galeses do norte,
Estava ocupado travando uma guerra contra Gwenddolau,
Que reinava sobre o reino da Escócia,
[4]
E o dia que haviam combinado para a batalha havia chegado.
Seus generais supervisionaram o campo de batalha
E seus soldados entraram na luta;
Homens de ambos os lados caíram naquele terrível massacre.
Merlin acompanhara Peredur àquela batalha,
[5]
Assim como Rodarco, o rei dos cumbrianos,
E ambos eram guerreiros temíveis.
Eles matavam quem estivesse em seu caminho
Com suas temidas espadas.
Os três irmãos de Peredur,
Que o seguiram até esta guerra,
Também estavam na turba,
Matando seus inimigos e rompendo as linhas de defesa.
No entanto, eles abriram caminho
Com tal vivacidade imprudente
Pelas espessas fileiras inimigas
Que foram rapidamente cortados e mortos.

Como você se afligiu com essa visão, Merlin!


Sua voz berrante levou este triste lamento
Por todos os batalhões:
“Que trágico destino poderia ter sido tão nocivo
Para me arrebatar companheiros tão queridos,
Que até agora eram temidos por tantos reis
E em tantas terras distantes?
Ai do destino duvidoso dos homens mortais,
Pois a morte está sempre próxima,
Pronta para atingi-los com sua picada repentina
E retirar à força a vida miserável de seus corpos.
Ai para estes jovens esplêndidos!
Quem serão agora meus companheiros de armas,
Ajudando-me a afastar os senhores que vêm para o mal?
Quem repelirá os exércitos inimigos que me atacam?
Mais ousados dos homens,
Foram suas próprias coragens que roubaram de vocês
Muitos doces anos de tenra juventude.
Um momento atrás, estavam correndo pelas linhas inimigas,
Mas agora estão caídos no chão,
Avermelhando o solo com seu sangue.”

Assim, com as lágrimas escorrendo pelo rosto,


Merlin chorou por seus companheiros em meio ao tumulto.
No entanto, aquela terrível batalha não cessou;
As linhas de homens colidiram umas contra as outras
E inimigo caiu sobre inimigo.
Sangue foi derramado a todo o redor,
E homens pereceram em ambos os lados.
Mas os bretões reuniram seus soldados
Mais uma vez em formação.
Agora juntos, eles correram
Em um ataque organizado contra os escoceses,
Cortando-os e infligindo muitos ferimentos.
Eles não pararam até que as tropas inimigas deram meia-volta
E recuaram por caminhos raramente trilhados.

Merlin então convocou seus companheiros restantes da batalha


E os fez enterrar os irmãos
Em uma capela finamente adornada.
Assim, chorando por eles,
Ele derramou lamentos constantes,
Espalhando poeira em seus cabelos
E rasgando suas roupas em pedaços.
Em seguida, ele se lançou sobre a terra
E rolou para frente e para trás.
Peredur começou a consolá-lo,
Assim como os outros nobres e chefes,
Mas Merlin não queria ser consolado
Ou ouvir suas palavras de conforto.
Por três dias inteiros ele sofreu dessa maneira,
E sua tristeza foi tão intensa
Que ele se recusou até mesmo a comer.
Finalmente, já tendo enchido o ar com tantos tristes gritos,
Uma nova fúria tomou conta dele,
E ele se esgueirou às escondidas,
Não querendo ser visto enquanto fugia para a floresta.
Ao entrar na mata, ficou muito feliz em permanecer escondido
Sob os freixos e observar as feras pastando nas florestas.
Às vezes ele as perseguia,
E outras vezes simplesmente passava direto por elas
E se alimentava de raízes, grama e ervas,
Frutas de árvores e amoras que jaziam nos arbustos.
Ele se tornou um homem selvagem dos bosques,
Um devoto da própria floresta.
Nem uma alma cruzou com Merlin naquele verão inteiro.
Alheio a seus companheiros e a si mesmo,
Ele se espreitou entre as árvores
E se escondeu como um animal selvagem.
No entanto, a aproximação do inverno
Levou todos os frutos das plantas,
Deixando-o sem nada para se alimentar.
Ele então soltou este pesaroso lamento:
“Ó Cristo, Deus do Céu,
O que devo fazer e onde devo morar?
Não posso ficar nestes lugares sem nada para comer.
Não vejo nem a grama da terra
Nem as nozes das árvores aqui.
Dezenove macieiras carregadas de maçãs já estiveram aqui.
Agora elas não estão mais de pé.
Quem as tirou de mim?
Para onde desapareceram tão inesperadamente?
Agora as vejo, agora não as vejo;
Os destinos agem tanto a meu favor
Quanto contra mim,
Pois fornecem as macieiras
E depois não me permitem vê-las.
Agora não tenho nem maçãs nem qualquer outra coisa.
A floresta está sem frutos nem folhas,
E eu lamento duplamente,
Porque agora não posso me cobrir de folhas
Ou comer qualquer fruto.
O inverno levou essas coisas embora,
Assim como o vento sul com suas chuvas.
Sempre que encontro nabos no fundo da terra,
Porcos famintos e javalis gulosos correm
E os arrebatam de mim enquanto eu os desenterro.
E você, meu querido amigo lobo,
Que tem percorrido
Os caminhos solitários da floresta junto comigo,
Agora mal consegue atravessar os próprios campos;
A áspera fome nos deixou ambos fracos.
Você mora nestas florestas há mais tempo que eu,
Mas a idade fez seus cabelos brancos antes dos meus,
E você também não tem nada para colocar na boca,
Nem sabe onde conseguir algo.
Estou espantado com isso, pois a floresta está repleta
De cabras selvagens e outras feras que pode pegar.
Talvez a odiosa velhice tenha arrebatado seu vigor
E lhe negado a capacidade de correr e caçar.
Você só tem uma coisa restante:
Encher as brisas com seus uivos
E esticar seus membros cansados no chão.”
Assim se queixou Merlin entre as moitas e as aveleiras.

Um viajante notou o som desses lamentos


E desceu para onde ouviu a voz de Merlin na brisa.
Quando chegou àquele lugar, ele descobriu o orador lá.
Assim que Merlin o avistou, ele correu.
O viajante o seguiu,
Mas não conseguiu acompanhar o fugitivo,
Então retomou sua jornada
E voltou aos seus próprios assuntos,
Embora o encontro o tenha enchido de pena.
Por fim, esse viajante encontrou um homem na estrada
Que vinha do salão de Rodarco, o rei dos cumbrianos,
Que se casara com Ganieda
E estava muito feliz por ter uma esposa tão bela.
Esta Ganieda era a própria irmã de Merlin,
E ela lamentava o infortúnio de seu irmão
E enviara seus servos para os bosques e campos distantes
Para trazê-lo de volta.
Foi um desses servos que o viajante encontrou,
E eles se cumprimentaram e trocaram algumas palavras.
O criado de Ganieda perguntou se ele
Tinha visto Merlin nas florestas ou nos campos.
O viajante confessou ter visto o próprio homem
[6]
Em meio aos densos matagais da Floresta de Calidon,
Mas que, quando tentou sentar e conversar com ele,
O homem fugiu rapidamente entre os carvalhos.
Quando contou essas coisas,
O servo partiu e foi para a floresta.
Percorreu os vales mais profundos,
Atravessou as altas colinas
E procurou os lugares mais remotos
Em busca do homem.

Havia uma fonte no cume de uma certa colina,


Cercada por todos os lados
Por aveleiras e espessos arbustos.
Foi aqui que Merlin se estabeleceu,
E deste lugar ele vagava pela floresta,
Observando as corridas
E brincadeiras das feras da floresta.
O mensageiro rastejou silenciosamente
Até aquele lugar alto, procurando o homem.
Quando ele viu a fonte,
Lá estava Merlin sentado na grama ao seu lado
E fazendo um lamento com estas palavras:
“Ó Você que governa sobre todas as coisas!
Por que as estações,
Que já se distinguem por serem quatro em número,
São todas tão diferentes?
A primavera, seguindo sua própria lei,
Traz flores e folhas.
O verão entrega a colheita,
Enquanto o outono traz maçãs maduras.
O inverno gelado segue todos elas,
E as devora e as devasta
Enquanto carrega neves e chuvas.
O inverno afasta as outras estações,
Destruindo-as com suas tempestades.
Não permitirá que o solo produza suas muitas flores,
Nem o carvalho suas nozes,
Nem as macieiras seus frutos vermelho-escuros.
Ó, se não houvesse inverno ou geada!
Quisera eu que fosse primavera ou verão
E o cuco cantor tivesse voltado,
Ou então o rouxinol,
Que aplaca os corações tristes com seu canto gentil,
Ou a pomba,
Que mantém seus votos de castidade.
Eu gostaria que todos os outros pássaros
Também estivessem gorjeando harmoniosamente
Entre os galhos recém-folhados,
Proporcionando uma música deliciosa para mim
Enquanto o novo solo
Exala o perfume das flores frescas
Em meio à grama verde
E as fontes docemente borbulhantes
Escorrem ao lado da pomba sobre o galho,
Que derrama seus lamentos reconfortantes
E nos embala para dormir.”
O mensageiro ouviu o profeta e entremeou os lamentos de Merlin
Com acordes da cítara que trouxera,
Na esperança de seduzir e pacificar o louco.
Escolhendo notas e escalas ordenadas com os dedos,
Ele permaneceu escondido atrás de Merlin
E cantou em voz baixa:
“Ó, para os terríveis gemidos de aflição de Gwendolen!
Ó, para as miseráveis lágrimas de Gwendolen
Com seus olhos turvos!
Lamento a miserável e moribunda Gwendolen!
Não havia em toda a Gales mulher mais bela que ela,
Cuja beleza superava a das deusas
E as pétalas da oliveira
E as rosas em flor e os lírios do campo.
A glória da primavera brilhava em seu interior,
E o brilho das estrelas cintilava em seus olhos.
Seu lindo cabelo reluzia com o resplendor do ouro.
Mas tudo isso agora pereceu.
Toda a sua beleza se foi,
Sua aparência e seu rosto branco como a neve
E o esplendor de sua pele.
Ela não é o que era antes,
Tendo chorado demais.
Ela não sabe para onde seu senhor foi,
Ou se está vivo ou morto.
E assim ela definha miseravelmente,
Se debilitando em uma prolongada dor.
Ganieda é sua companheira de melancolia,
Sofrendo inconsolavelmente por seu irmão perdido.
Uma mulher chora pelo irmão e a outra pelo marido;
Ambas levam vidas de choro e luto.
Tal é a dor que as oprime a ambas,
A comida não as nutre, nem o sono as encontra
Enquanto vagam à noite sob o verde bosque.
Da mesma forma chorou Dido
Quando a frota de Eneias levantou âncora
[7]
E estava pronta para partir.
Assim também a infeliz Fílis chorou e lamentou
[8]
Quando Demofoonte não voltou na hora marcada.
E assim Briseis chorou
[9] [10]
Quando seu Aquiles foi embora. ,
Assim, irmã e esposa choram juntas
E constantemente queimam por dentro
Por causa de sua dor.”

Assim foi a triste canção do mensageiro.


Sua música acalmou os ouvidos do profeta,
E ele ficou mais calmo
E até começou a sentir prazer no canto.
O profeta finalmente levantou-se
E falou agradavelmente com o jovem,
Pedindo-lhe que arrancasse as notas com os dedos
E cantasse aquela melodia triste mais uma vez.
O mensageiro então moveu os dedos pelas cordas
E cantou novamente, conforme solicitado.
Sua música forçou a loucura de Merlin
A diminuir pouco a pouco,
Tão cativado ele estava pela doçura do instrumento.
Então a memória de Merlin começou a voltar,
E ele se lembrou do que costumava ser,
E ficou surpreso com sua loucura
E começou a odiá-la.
Ele voltou ao seu juízo perfeito
E voltou a si;
Mais uma vez são e agora movido pela pena,
Ele gemeu ao ouvir falar de sua irmã e esposa.
Tendo retornado ao seu juízo,
Ele pediu para ser levado à corte do Rei Rodarco.
O mensageiro obedeceu,
E logo eles deixaram a floresta para trás
E chegaram alegremente à cidade do rei.

A Rainha Ganieda regozijou-se


Por ter seu irmão de volta,
E sua esposa Gwendolen também ficou feliz
Com o retorno de seu marido.
Elas competiram em enchê-lo de beijos
E jogaram seus braços em volta de seu pescoço,
Tão fortemente comovidas
Por seu amor por esse homem.
O rei também o recebeu com a devida honra,
Assim como os nobres da cidade,
Que se aglomeravam alegremente
Ao redor da casa do rei.
Mas quando Merlin olhou para todas as pessoas
Que ali estavam reunidas,
Não conseguiu tolerá-las.
Sua loucura voltou,
E ele se encheu de fúria novamente.
Ele ansiava por voltar para a floresta
E tentou escapar silenciosamente.
Mas Rodarco o prendeu,
Colocou um guarda ao seu lado
E tentou aplacar a loucura de Merlin
Com a música da cítara.
Entristecido, Rodarco implorou a Merlin
Que exercitasse sua razão
E permanecesse lá em vez de retornar à floresta
Para viver como uma fera e habitar sob as árvores.
Merlin, ele insistia,
Poderia estar empunhando um cetro real
E governando seu feroz povo.
Então Rodarco prometeu dar-lhe muitos presentes,
E ordenou que trouxessem roupas,
Assim como falcões e cães e cavalos velozes
E ouro e pedras preciosas brilhantes
[11]
E cálices que tinham sido feitos por Wayland em Segontium.
Rodarco ofereceu cada uma dessas coisas ao profeta,
Exortando-o a permanecer com ele
E desistir da floresta.

O profeta recusou os presentes, alegando:


“Que os nobres que se incomodam
Com sua aparente pobreza
Recebam essas oferendas,
Pois nunca estão felizes com a moderação,
Mas arrebatam o máximo que podem.
Eu prefiro a vasta Floresta de Calidon
Com seus carvalhos e montanhas altas
Com prados verdes a seus pés.
Essas coisas são muito mais agradáveis a mim
Do que qualquer presente, Rei Rodarco;
Você pode ficar com essas coisas.
A Floresta de Calidon,
Tão abundante em nozes,
Me terá, e eu a escolho acima de tudo.”
Portanto, como o rei não podia reter o triste Merlin
Através da oferta de presentes,
Ele o amarrou com uma pesada corrente
Para que não pudesse escapar
Para a solitária floresta.
Quando o profeta sentiu os grilhões sobre ele
E percebeu que não estava livre
Para retornar à Floresta de Calidon,
Começou a ficar de mau humor
E ficou sombrio e silencioso.
Toda a alegria foi apagada de seu rosto
A ponto de não pronunciar uma palavra
Ou mesmo sorrir.

Enquanto isso, a rainha perambulava


Pela corte em busca do rei.
O rei a cumprimentou quando ela entrou,
Como era apropriado,
E ele a pegou pela mão e pediu que se sentasse.
Ele então a abraçou
E deu um beijo em seus lábios.
Virando o rosto para ela,
Ele notou uma pequena folha pendurada em seu cabelo,
Que ele pegou nos dedos e puxou.
Jogando-a no chão,
Ele brincou sobre isso com seu verdadeiro amor.
O profeta Merlin lançou seu olhar na direção deles
E começou a rir,
O que fez os homens que estavam ali
Olharem para ele,
Pois ele não tinha o hábito de rir.
O rei ficou maravilhado com isso
E perguntou ao louco o que de repente o fez rir.
Ele o suplicou a dizer oferecendo muitos presentes.
Mas Merlin ficou em silêncio
E se recusou a explicar sua risada.
Rodarco continuou tentando
Persuadir o profeta cada vez mais
Com súplicas e subornos até que finalmente Merlin disse:
“Um avarento adora um presente
E um homem ganancioso está sempre tentando obter um.
Os gananciosos mudariam de ideia sobre qualquer coisa,
Sendo tão corrompidos pelo pensamento de presentes.
Eles não estão satisfeitos com o que já têm,
Mas eu estou;
As nozes de Calidon e seus riachos brilhantes
Que fluem pelos prados perfumados
São tudo de que preciso.
Presentes não me seduzem.
Deixe o avarento levá-los,
Pois a menos que eu tenha a liberdade
De retornar aos vales verdes,
Não explicarei meu riso.”

Assim que Rodarco percebeu que não seria capaz


De atrair o profeta com presentes
Para explicar por que estava rindo,
Ele ordenou que suas correntes fossem retiradas
E deu-lhe permissão para retornar às solitárias florestas.
Ao soltá-lo,
Rodarco esperava que Merlin explicasse sua risada.
Regozijando-se por poder ir, Merlin então disse:
“Eis por que eu ri, Rodarco,
Você fez uma ação que é digna de louvor
E culpa ao mesmo tempo.
Quando tirou aquela folha
Que a rainha não percebeu
Que tinha em seus cabelos,
Você se comportou mais fielmente do que ela a você
Quando ela foi à mata para encontrar seu amante
E se deitar com ele.
Enquanto estava deitada lá,
Aquela folha que você removeu
Ficou presa em seu cabelo esparramado.”

Rodarco ficou muito sério ao ouvir tal ofensa,


E imediatamente se afastou dela
E amaldiçoou o dia em que se casou com ela.
Mas Ganieda não estava nem um pouco chateada,
E ela escondeu sua vergonha com uma risada
E falou com o marido desta forma:
“Por que, meu amor, está tão triste,
E por que está tão zangado comigo,
Que fui injustamente acusada?
Por que acredita nesse louco,
Que não possui razão
E confunde a verdade com a mentira?
O homem que acredita nesse tolo
É muito mais tolo!
Agora, então, se eu não estiver enganada,
Te provarei que ele é insano e não falou a verdade.”
Essa inteligente mulher
Então avistou um dos muitos meninos
Que estavam presentes na corte
E rapidamente pensou em um plano
Pelo qual poderia provar
Que seu irmão era mentiroso.
Ela fez o menino se apresentar
E pediu ao irmão que predissesse
Como o menino morreria.
Seu irmão respondeu:
“Ó, querida irmã,
Quando este menino se tornar um homem,
Ele perecerá caindo de uma alta rocha.”
Ela sorriu com suas palavras
E ordenou que o menino fosse embora
E tirasse as roupas que estava vestindo
E depois colocasse roupas diferentes
E cortasse seus longos cabelos.
Uma vez que fez essas coisas,
Ela ordenou que voltasse,
Parecendo completamente diferente.
O menino obedeceu,
Pois quando voltou, sua vestimenta
Estava completamente mudada.
Assim que a rainha o viu,
Ela perguntou ao irmão mais uma vez:
“Agora diga à sua amada irmã
Como será a morte deste outro menino.”
Merlin respondeu:
“Quando esse menino atingir a maioridade,
Ele deixará sua mente vagar
E se deparará com uma morte violenta em uma árvore.”
A rainha explicou mais tarde
O que Merlin havia dito ao marido:
“E pensar que esse falso profeta
Poderia ter feito você pensar
Que eu havia cometido tal crime!
Deve saber que absurdo ele acabou de declarar
A respeito desse menino para que realmente acredite
Que ele inventou essas coisas sobre mim
Para poder voltar para a floresta.
Eu nunca faria nada do tipo.
Manterei casto nosso leito conjugal
E permanecerei fiel
Enquanto houver fôlego em mim.
Provei que Merlin falou falsamente
Sobre a morte do menino,
E agora farei isso mais uma vez.
Assista e decida por si mesmo.”
Tendo dito isso, ela muito calmamente disse ao menino
Para sair e depois voltar vestido de menina.
O rapaz afastou-se e fez o que lhe foi ordenado,
Pois quando voltou estava vestido com roupas femininas
Como se fosse uma garota.
Ele ficou diante do profeta,
A quem a rainha então disse,
Em tom de brincadeira:
“Então, irmão, conte-me tudo
Sobre a morte desta donzela.”
“Donzela ou não donzela”, respondeu Merlin,
“Ela morrerá em um rio.”
O raciocínio de Merlin levou o Rei Rodarco a rir,
Pois ele havia afirmado que o mesmo garoto
Morreria de três maneiras diferentes.
O rei, portanto,
Concluiu que Merlin havia falado incorretamente
Sobre sua esposa, e não acreditou mais nele,
Mas lamentou o fato de ter confiado nele
A ponto de condenar sua amada.
Percebendo os pensamentos do rei,
A rainha o perdoou com beijos e abraços,
Deixando-o feliz mais uma vez.
Merlin, enquanto isso,
Decidiu voltar para a floresta,
E deixou sua morada e ordenou
Que os portões fossem abertos para ele.
Sua irmã, no entanto, tentou impedi-lo,
Implorando-lhe com lágrimas nos olhos
Que ficasse com ela por enquanto
E esquecesse sua loucura.
Mas Merlin estava determinado e,
Não querendo desistir de seus planos,
Continuou tentando forçar seu caminho para fora.
Ele lutou e gritou e se debateu
Até que seu tumulto
Forçou os servos a abrirem os portões.
Então, como não havia mais ninguém
Que pudesse detê-lo,
A rainha pediu a Gwendolen,
Que não estava presente nesses eventos,
Que tentasse pará-lo.
Ela veio e, de joelhos,
Implorou ao marido que ficasse;
Mas ele rejeitou suas súplicas e não permaneceu,
Nem sequer olhou para a mulher
Que ele uma vez contemplou com tanto amor.
Ela se afligiu e derramou muitas lágrimas
E arrancou os cabelos e arranhou o rosto com as unhas
E rolou no chão como se estivesse em agonia.
Diante disso, a rainha disse a Merlin:
“Aqui está sua Gwendolen,
Que está morrendo por você.
O que ela deve fazer?
Ela deve ser dada a outro homem
Ou deve viver como viúva?
Ou ela deve ir aonde quer que você vá?
Ela realmente iria com você
E moraria na selva
E nos bosques e nos prados verdes
Enquanto pudesse ter seu amor.”
O profeta respondeu assim às suas palavras:
“Irmã, não desejo uma vaca
Que borrifa água na ampla superfície de uma fonte
Como a urna da virgem no verão.
Tampouco devo alterar meus cuidados
Como Orfeu fez quando Eurídice colocou suas cestas
[12]
Nas mãos de meninos antes de nadar pelo rio Estige.
Livre de vocês duas,
Ficarei livre da mancha do amor.
Ela deve, portanto,
Ter uma oportunidade justa de se casar novamente,
E deixe-a ter qualquer homem
Que ela considere adequado.
Mas o homem que se casar com ela
Faria bem em não cruzar meu caminho
Ou chegar perto de mim.
Ele deve se manter afastado,
Pois se eu o encontrar,
Ele pode sentir minha reluzente lâmina.
No entanto, quando chegar o dia de suas solenes núpcias,
E as várias carnes estiverem sendo servidas para o banquete,
Estarei lá pessoalmente com generosos presentes
E dotarei Gwendolen profusamente
Quando ela se casar.”
Tendo falado, Merlin então se despediu de ambas
E foi para seus amados bosques
Sem ninguém para ficar em seu caminho.

Gwendolen e a rainha ficaram tristes no portão,


Comovidas pelas estranhas desventuras
De seu querido Merlin.
Elas ficaram surpresas que um homem tão louco
Soubesse de tantas coisas secretas
E especialmente que soubesse
Sobre o caso de amor de sua irmã.
Mas elas ainda achavam que ele estava errado
Sobre a morte do menino,
Pois ele havia previsto três mortes separadas
Quando deveria ter havido apenas uma.
Por isso, suas palavras pareceram vãs por muitos anos,
Até que aquele garoto cresceu,
Quando tudo que Merlin dissera
Ficou subitamente claro.
Pois um dia,
Enquanto o homem estava caçando com seus cães,
Ele avistou um cervo escondido entre algumas árvores.
Ele soltou seus cães,
Que, assim que avistaram o animal,
Correram por caminhos inexplorados
E encheram o ar com seus latidos.
Ele esporeou seu cavalo em perseguição
E guiou seus caçadores
Com muitos gritos de seu chifre ou garganta,
Incitando-os a se apressar.
Havia uma alta montanha naquele lugar,
Cercada por rochas e um riacho
Que corria ao longo da planície.
O cervo fugiu assim até chegar ao rio,
Onde procurou um lugar para se esconder,
Como fazem as criaturas de sua espécie.
O jovem seguiu em frente,
Por cima da montanha,
Em busca do animal entre as rochas que ali estavam.
Então aconteceu;
Em seu zelo pela perseguição,
Seu cavalo escorregou de uma das margens íngremes
E o homem caiu de um penhasco e caiu no rio.
Um de seus pés ficou preso em uma árvore na queda,
Enquanto o resto do corpo ficou submerso nas águas.
E assim ele caiu, e se afogou,
E ficou pendurado em uma árvore,
E esta morte tríplice provou que o profeta disse a verdade.
Enquanto isso, o próprio Merlin tinha ido para a floresta
E levado a vida de uma fera selvagem,
Alimentando-se dos musgos endurecidos pelo gelo,
Sempre exposto à neve e à chuva
E às terríveis rajadas de vento.
Isso o agradou muito mais
Do que fazer cumprir as leis
Ou governar súditos ferozes.
E conforme Merlin deixava passar os anos
Enquanto corria com os rebanhos silvestres,
Sua esposa Gwendolen,
Com o consentimento do marido,
Foi dada em casamento a outro homem.
Uma noite, quando a brilhante lua de chifres estava incandescente
E todas as estrelas cintilavam da abóbada dos céus,
O ar da noite estava muito mais claro do que o normal
Porque o vento frio e amargo do norte
Havia afugentado todas as nuvens,
Tornando os céus serenos
E secando a névoa com a aridez de seu hálito.
O profeta, de pé no alto de uma alta montanha,
Estava inspecionando os giros das estrelas,
E ele falou baixinho para si mesmo
Lá fora no ar da noite:
“O que este raio de Marte
Poderia significar em sua vermelhidão,
Exceto que o rei acabou de morrer
E que surgirá um novo?
É exatamente isso que vejo,
Pois Constantino pereceu e seu sobrinho Conano,
Auxiliado por uma má sorte
E pelo assassinato de seu tio,
[13]
Tomou a coroa e se tornou o rei.
E você, sublime Vênus, deslizando para lá
Ao longo de seu curso estabelecido através do Zodíaco
Com seu companheiro Sol,
O que há com esse feixe duplo brilhando em você
E cortando o próprio ar?
Essa separação não pressagia
A separação do meu amor?
Um feixe como esse de fato
Significa que o amor agora está dividido.
Gwendolen, talvez,
Tenha me abandonado porque estive fora,
E agora ela se apega a outro homem
E encontra alegria nos abraços de um novo marido.
Assim sou derrotado e outro homem a possui.
Meus direitos legais foram arrancados de mim
Enquanto permaneci aqui,
Pois um amante preguiçoso é muitas vezes
Suplantado por alguém
Que não é indolente e que está próximo.
Mas não estou com ciúmes.
Que ela se case agora enquanto
Os presságios são favoráveis,
E que ela arranje um novo marido
Com minha permissão.
Quando o sol da manhã nascer,
Irei e levarei o presente que a ela prometi quando parti.”
Ele terminou de falar
E começou a andar por todos os bosques e campos,
E juntou uma manada inteira de cervos,
Junto com corças e cabras, em um grupo ordenado.
Ele montou em um dos cervos,
E, quando amanheceu o dia seguinte,
Levou aquela manada à sua frente,
Apressando-se em direção ao lugar
Onde Gwendolen se casaria.
Ao chegar lá, fez os cervos ficarem
Pacientemente em fila
Do lado de fora dos portões enquanto gritava:
“Gwendolen, Gwendolen! Saia!
Seus presentes de casamento estão esperando por você!”
Gwendolen saiu imediatamente com um sorriso no rosto,
E ficou surpresa por Merlin estar montado em um cervo.
Admirou-se também que ele fosse capaz de fazer
Com que tantas bestas selvagens lhe obedecessem
E que pudesse reunir sozinho tantos animais
Com a mesma facilidade
Com que um pastor conduz seu rebanho ao pasto.

O noivo estava observando esta cena de uma alta janela,


Maravilhado com este cavaleiro em seu corcel,
E ele riu alto.
Mas Merlin, ao vê-lo,
Ficou furioso quando percebeu quem era.
Ele arrancou os chifres da cabeça do cervo que montava,
Girou-os e lançou-os em direção ao homem.
Eles esmagaram sua cabeça completamente,
Tirando sua vida
E fazendo com que seu espírito escapasse na brisa.
Então, com um movimento rápido de seus calcanhares,
Ele fez o cervo virar e fugir
E voltou para a floresta.
Ouvindo a comoção,
Os servos correram de todas as direções
E partiram atrás dele,
Perseguindo-o em grande velocidade pelo campo.
Merlin era tão rápido
Que teria conseguido voltar ileso para a floresta
Se um rio não estivesse em seu caminho;
Quando o cervo saltou sobre ele,
Merlin escorregou de suas costas
E caiu nas impetuosas correntes.
Os soldados o cercaram nas margens das águas
E o pegaram enquanto nadava.
Escoltando-o para casa,
Eles o apresentaram em grilhões à sua irmã.
O profeta ficou triste no cativeiro
E desejou voltar para a floresta mais uma vez.
Ele lutou para quebrar suas correntes
E se recusava a rir, comer ou beber.
Sua tristeza fez sua irmã infeliz também.
Por fim, Rodarco, percebendo que Merlin
Estava afastando toda a felicidade
E que não desejava
Participar de nenhuma das boas refeições
Que lhe eram servidas,
Teve pena dele e ordenou
Que o conduzissem para a cidade.
Lá ele poderia andar pelo mercado e ver as pessoas
E os muitos tipos de mercadorias
Que estavam sendo vendidas lá.
Ao sair do salão do rei,
Ele avistou junto aos portões
Um homem de aparência esfarrapada
Que servia de porteiro
E pedia aos transeuntes algum dinheiro
Para que suas roupas fossem remendadas.
Assim que viu aquele mendigo,
O profeta parou e caiu na gargalhada.
Então, enquanto caminhava um pouco mais,
Viu um jovem carregando sapatos novos
E comprando alguns remendos de couro para eles.
Ele riu alto mais uma vez
E se recusou a ir mais longe no mercado
Porque as pessoas que observava
Estavam olhando para ele.
Em vez disso, ele ansiava pela floresta,
Olhando para ela
E tentando direcionar seu caminho para lá,
Embora isso fosse proibido para ele.

Ao voltarem para casa, os servos relataram


Como Merlin chegou a rir duas vezes
E como tentou voltar à floresta.
Rodarco desejava saber imediatamente
O que ele queria dizer com essas risadas,
E então ordenou
Que as amarras de Merlin fossem afrouxadas
E concedeu-lhe permissão
Para retornar aos seus refúgios na floresta
Se ele apenas explicasse seu riso.
Muito contente com isso, o profeta respondeu:
“Aquele porteiro estava sentado
Do lado de fora dos portões,
Com vestimentas muito esfarrapadas,
E estava pedindo dinheiro
Para consertar suas roupas
Das pessoas que passavam
Como se fosse um mendigo.
O tempo todo, sem o conhecimento de ninguém,
Ele era um homem rico,
Pois há um tesouro de moedas
Enterrado logo abaixo dele.
Por isso eu ri.
Vá em frente e revire a terra abaixo dele
E descobrirá moedas
Que foram preservadas lá por muito tempo.
Depois disso,
Enquanto eu era levado para longe dos portões,
Vi um homem comprando sapatos
Junto com algumas tiras de couro para que,
Quando os sapatos se desgastassem e tivessem buracos,
Ele pudesse remendá-los
E deixá-los como novos.
Bem, eu ri aquela vez”, acrescentou Merlin,
“Porque aquele pobre coitado não aproveitará
Nem os sapatos nem os remendos,
Pois ele já se afogou na correnteza
E está flutuando em direção à praia.
Vá até lá e o encontrará.”
Desejando confirmar as palavras do profeta,
Rodarco ordenou a seus servos que se apressassem
Ao longo da margem do rio
Para que pudessem trazer-lhe notícias rápidas
Se encontrassem tal homem na praia.
Obedecendo às ordens de seu senhor,
Eles correram ao longo do rio
E de fato encontraram um homem afogado
Deitado em um pedaço de areia áspera.
Assim que o encontraram,
Voltaram para casa e relataram ao rei.
Mas o rei, enquanto isso,
Tinha mandado embora o porteiro,
Revirado a terra e descoberto o tesouro que ali estava.
Ele deu ao profeta elogios sinceros.

Depois que esses eventos ocorreram,


O profeta se preparou para voltar à floresta
Que lhe era tão familiar,
Pois detestava as pessoas da cidade.
A rainha ordenou-lhe que ficasse com ela
E adiasse seu retorno à sua amada floresta
Até que o gelo do inverno branco,
Que estava começando,
Passasse e o verão voltasse com os frutos tenros
Para viver enquanto o clima esquentava ao sol.
Determinado a partir apesar do tempo,
Ele recusou com estas palavras:
“Querida irmã, por que procura me deter?
O inverno com suas tempestades não me assusta,
Nem o frio vento norte
Quando ele se enfurece com seu sopro terrível
E agride os rebanhos de ovelhas
Com seu súbito granizo.
Nem o vento sul me incomoda
Com as águas impetuosas
Que caem de suas nuvens de chuva.
Por que não devo procurar os bosques solitários
E os prados verdes?
Contente com apenas o mínimo,
Serei capaz de suportar a geada.
Lá, sob as folhas das árvores,
Entre as flores perfumadas,
Me divertirei no verão.
No entanto, para que a comida não escasseie no inverno,
Construa-me uma casa na floresta
E envie servos para me atender
E preparar comida para mim
Quando a terra não produzir grãos ou frutos das árvores.
Antes de todos os outros edifícios,
Construa-me uma casa em um local remoto
Com setenta portas e setenta janelas
Através das quais eu possa observar
[14]
As estrelas de Febo e Vênus
E contemplar os astros deslizando pelos céus
Durante toda a noite;
Essas coisas me informarão
O que acontecerá com as pessoas do reino.
Deve haver também setenta escribas lá,
Instruídos o suficiente para escrever o que digo
E ansiosos para registrar minhas profecias
Em seus pergaminhos.
Você, minha querida irmã,
Deve ir lá com frequência também,
E poderá aliviar minha fome com comida e bebida.”
Isso ele disse,
E então correu de volta para a floresta.
Sua irmã obedeceu aos seus desejos
E construiu um grande salão
E os outros edifícios
E coisas que ele havia exigido.
Mas enquanto as maçãs permaneciam nos galhos
E Febo ainda subia pelo Zodíaco,
Merlin estava muito feliz em permanecer sob as árvores,
Vagando pelos bosques entre as suaves brisas.
Então o inverno chegou;
Os ventos eram amargos e carregados de gelo,
Arrebatando todas as frutas das árvores e prados.
Como as chuvas estavam próximas,
Merlin não tinha comida, e então ele foi,
Triste e faminto, para o salão.
A rainha também frequentava aquele lugar
E trazia comida e bebida de bom grado para o irmão.
Depois de se fartar dos vários alimentos,
Merlin levantou-se imediatamente e elogiou a irmã;
Então ele vagou pela residência,
Examinando as estrelas
E profetizando coisas que aconteceriam:
“Ó loucura dos bretões,
Cuja abundância de riquezas
Os faz sentir mais exaltados do que deveriam!
Eles não desejam usufruir dos frutos da paz
E, em vez disso,
São estimulados pela espora da fúria.
Eles estão envolvidos em guerras
Com seus próprios parentes e compatriotas,
E fazem com que as igrejas do Senhor caiam em decadência,
Levando os santos bispos ao exílio distante.
Os sobrinhos do Javali da Cornualha
Estão causando o caos,
Armando armadilhas uns para os outros
[15]
E matando entre si com suas malignas espadas.
Eles se recusam a esperar para obter o reino legalmente,
Mas tentam tomar a coroa.
O quarto rei que virá depois deles
Será ainda mais cruel e terrível.
Ele é quem o Lobo do Mar vencerá em batalha,
E ele fugirá em sua derrota através do rio Severn
Pelas terras dos bárbaros.
O Lobo do Mar então rodeará Kaer Ceri
Com um cerco e com pardais,
E ele derrubará seus muros e casas até seus alicerces.
Então ele caçará os gauleses em seu navio,
[16]
Mas sucumbirá à arma de um rei.
Rodarco morrerá, e depois disso
A discórdia dominará por muito tempo
Os escoceses e cumbrianos
Até que a própria Cúmbria
Seja atribuída a um dente em crescimento.
Os galeses farão a guerra primeiro aos gewissei
E depois ao povo da Cornualha,
E não haverá lei que os detenha.
Gales se alegrará com o derramamento de sangue.
Ó vocês que são sempre hostis a Deus,
Por que se alegram no derramamento de sangue?
Gales força os irmãos a lutar contra suas próprias famílias,
Condenando-os a uma morte perversa.
“Bandos de escoceses cruzarão o rio Humber e,
Deixando de lado todos os sentimentos de misericórdia,
Matarão qualquer homem que estiver em seu caminho.
Eles não farão isso impunemente, no entanto,
Pois seu líder será morto.
Ele terá o nome de um cavalo,
E é por isso que ele se mostrará tão feroz.
Seu herdeiro será repelido
E partirá de nossas terras.
Escoceses, guardem suas espadas,
Que desembainharam com muita pressa;
Sua força não será suficiente
Para lidar com nosso feroz povo.
[17]
A cidade de Alclud cairá,
E nenhum rei reinará lá por uma era,
Não até que o escocês seja subjugado na guerra.
[18]
Caer Loel, roubado de seu pastor,
Ficará vazia até que o cetro do Leão
Restaure seu cajado pastoral.
Segontium, com suas torres e palácios esplêndidos,
Ficará chorando em ruínas
Até que os galeses retornem às suas antigas terras.
[19]
Porchester verá suas muralhas em ruínas em seu próprio porto
Até que um homem rico com dentes de raposa a reconstrua.
[20]
O forte de Rutupi ficará espalhado na praia;
[21]
Um ruteni em um navio com crista irá restaurá-lo.
[22]
“O quinto a partir dele reparará as paredes de Menevia.
Por meio dele, a mortalha perdida durante anos
Daquela cidade também será restaurada.
[23]
Em seu seio, Sabrina, cairá a Cidade das Legiões,
E perderá seus habitantes por muito tempo.
O Urso dentro do Cordeiro os trará de volta quando ele chegar.
Exilando os cidadãos,
Os reis saxões controlarão as cidades,
O campo e as propriedades
Por um longo período de tempo.
Desse povo, três dragões vestirão a coroa três vezes.
[24]
Duzentos monges perecerão na cidade de Leyri,
E o saxão expulsará o governante da cidade
E destruirá suas muralhas.
[25]
O anglo que primeiro usar a coroa de Bruto
Restaurará a cidade que foi esvaziada pela matança.
Um povo cruel
Então proibirá a Santa Crisma em toda a terra,
E eles estabelecerão falsos ídolos nas casas de Deus.
Roma depois restaurará Deus por meio de um monge,
E um santo sacerdote abençoará as casas com água benta,
E as restaurará mais uma vez
E colocará pastores dentro delas.
Muitos deles continuarão
A preservar os mandamentos da Lei Divina
E gozarão legitimamente do Céu.
Outro povo ímpio cheio de veneno
Atacará então aquele lugar novamente,
E eles confundirão violentamente o certo e o errado.
Aquelas pessoas venderão seus filhos
E outros parentes além-mar,
Incorrendo na ira do Trovejante.
Quão terrível é um crime que homens,
A quem Deus concedeu o livre arbítrio,
Considerando-os dignos da honra do Céu,
Sejam vendidos como bois acorrentados!
Mesmo você, homem miserável,
Que uma vez se tornou traidor de seu senhor
Quando chegou ao trono,
Deve se render diante de Deus.
Os dinamarqueses em sua frota o dominarão e,
Tendo subjugado o povo,
Governarão por um breve tempo
Até que sofram uma derrota e se retirem.
Dois lhes darão as suas leis,
Mas a serpente, indiferente aos seus tratados,
Não os ferirá com a guirlanda de seu cetro,
Mas com o ferrão de sua cauda.
“Depois disso, os normandos navegarão sobre as ondas
Em seus navios de madeira,
Com os rostos voltados para a frente e para trás.
Em suas túnicas de ferro e portando espadas afiadas,
Eles atacarão gravemente os ingleses
E os esmagarão e desfrutarão do campo da vitória.
Muitos reinos eles subjugarão
E muitos povos estrangeiros governarão por um tempo,
[26]
Até que a Fúria, voando por toda parte,
Derrame seu veneno sobre eles.
Nessa época, toda paz,
Fé e honra não existirão mais,
E as pessoas lutarão em guerras
Por toda a sua terra natal.
Os homens trairão seus semelhantes,
E amigos não serão encontrados.
Os maridos desprezarão suas esposas
E se relacionarão com prostitutas,
Enquanto as esposas, desprezando seus maridos,
Se casarão com quem desejarem.
Também não restará honra para a Igreja,
E toda ordem terminará.
Os bispos pegarão em armas
E montarão acampamentos militares.
Construirão torres e fortificações em solo sagrado
E darão aos soldados o que pertence aos pobres.
Obcecados com as riquezas,
Eles correrão pelo caminho das coisas mundanas
[27]
E arrebatarão de Deus o que o santo ofício proíbe.
“Três usarão a coroa,
E depois deles surgirá o favor dos novos homens.
O quarto empunhará o cetro;
Uma piedade imprópria o prejudicará
Até que ele se vista como seu pai.
Só então, cingido com os dentes do javali,
Ele cruzará a sombra do homem de capacete.
Quatro serão ungidos,
Cada um buscando as coisas mais elevadas,
E dois terão sucesso,
Usando a coroa por sua vez,
Para provocar os gauleses a fazer guerra contra eles.
O sexto derrubará os irlandeses e suas muralhas.
Sábio e piedoso, ele restaurará o povo e as cidades.
[28]
“Todas essas coisas eu já cantei para Vortigerno
Ao explicar para ele o enigma dos dois dragões guerreiros
Quando nos sentamos juntos nas margens do lago drenado.
Agora, minha querida irmã,
Vá para casa ver o rei, que está morrendo,
[29]
E ordene a Taliesin que venha,
Pois desejo discutir muitas coisas com ele.
[30]
Ele acaba de voltar da Bretanha Menor,
[31]
Onde recolheu doces ensinamentos do sábio Gildas.”
Ganieda voltou para casa
E encontrou Taliesin recém-chegado,
O rei morto e os servos de luto.
Ela caiu em prantos,
Chorando no meio de seus amigos
E arrancando os cabelos.
Ela gritou:
“Chorem comigo, mulheres,
Chorem pela morte de Rodarco,
Um homem como este
Que esta época do mundo nunca viu.
Ele era um amante da paz,
Impondo as leis sobre um povo feroz
Para que a violência nunca fosse perpetrada contra ninguém.
Ele tratou os santos sacerdotes com o devido respeito
E garantiu que tanto os poderosos quanto os humildes
Fossem governados pela lei.
Ele era magnânimo, doando generosamente
E guardando quase nada para si mesmo.
Ele era tudo para todos os homens,
Fazendo o que era apropriado em determinada situação.
Ele era a flor dos cavaleiros,
Esplêndido entre os reis,
Um verdadeiro pilar do reino.
Ai de mim!
Você estava vivo, mas agora de repente
É alimento para vermes,
E seu corpo apodrece na urna.
Pode esta agora ser a sua cama,
Depois de dormir em finas sedas?
Pode ser verdade que sua bela carne e membros reais
Serão escondidos por uma fria pedra,
E que você não será nada além de ossos e cinzas?
De fato, é verdade.
Assim tem sido o miserável destino dos homens
Por todos os tempos;
Que eles nunca voltem ao seu estado anterior.
A glória deste mundo transitório é,
Portanto, inútil, pois vem e vai,
Enganando e prejudicando aqueles que exercem o poder.
A abelha umedece com seu mel
Aquilo que depois pica.
A glória deste mundo também acaricia
Enquanto se desvanece,
Enganando-nos e atingindo-nos com seu ingrato ferrão.
O que há de melhor neste mundo é muito breve,
E nada que o mundo oferece pode durar.
Tudo o que é útil passa como água corrente.
Que importa se a rosa é vermelha,
Se o lírio branco floresce,
Se um homem ou um cavalo
Ou qualquer outra coisa é gracioso?
Estes pertencem ao Criador do mundo,
Não ao próprio mundo.
Felizes são aqueles que nutrem um coração piedoso,
Que servem a Deus e renunciam ao mundo.
A eles Cristo, que governa eternamente
E que criou o mundo,
Concede honra para sempre.
Portanto, agora renunciarei a todos vocês:
Meus companheiros, altas muralhas, deuses domésticos,
Crianças doces e todas as outras coisas terrenas.
Habitarei na floresta com meu irmão e lá,
Vestida de preto, adorarei a Deus com um coração alegre.”
Essas coisas Ganieda disse,
E ela pagou todas as dívidas de seu marido
E inscreveu o seguinte verso em seu túmulo:
‘Rodarco, o Generoso;
Não havia ninguém no mundo mais generoso do que ele.
Um grande homem dorme nesta pequena urna.’

Enquanto isso, Taliesin tinha vindo visitar o profeta Merlin,


Que o mandara chamar
Para saber o que era o vento e o que eram as tempestades,
Pois ambos os tipos de tempo vinham em sua direção
E as nuvens se aproximavam.
Taliesin propôs esta explicação,
[32], [33]
Seguindo a sugestão de sua amiga Minerva:
[34]
“O Criador do mundo trouxe os quatro elementos ex nihilo
Para serem a primeira causa das coisas,
Bem como fornecer o material
Para todos os outros corpos
Quando unidos em proporções harmoniosas;
Primeiro o próprio Céu,
Que ele adornou com estrelas
E que se estende acima de nós
E envolve tudo o mais
Como uma casca envolve uma noz.
Então ele criou o Ar,
Que é útil para fazer sons,
E no qual o Dia e a Noite manifestam as estrelas.
Ele também criou o Mar,
Que circunda todas as terras
Em uma série de quatro círculos;
Com suas poderosas marés,
O Mar também atinge o Ar para criar os ventos,
Que são considerados em número de quatro.
Ele então estabeleceu a Terra,
Que tem seu próprio poder e não é facilmente movida.
Ela é dividida em cinco seções,
A parte central é inabitável devido ao calor,
E as duas regiões externas são evitadas por causa do frio.
Ele permitiu que as duas regiões restantes
Desfrutassem de um clima moderado;
Homens habitam nessas regiões,
Assim como bandos de pássaros
E manadas de animais selvagens.
Deus então acrescentou nuvens ao céu
A fim de fornecer chuvas ocasionais
Por cujas garoas suaves os frutos das árvores
E do solo poderiam crescer.
Com a ajuda do sol, as nuvens,
De acordo com alguma lei misteriosa,
São reabastecidas como tonéis em um rio.
Então, subindo pelo ar,
Impelidas pelos ventos,
Despejam as águas que recolheram.
Daí vem a chuva e a neve
E as pedras redondas de granizo,
Que caem quando um vento frio e úmido
Penetra em uma nuvem
No momento em que ela estava
Prestes a deixar cair a chuva.
Cada um dos ventos assume uma natureza própria,
Semelhante à da região onde surge.
“Acima do firmamento em que fixou as estrelas,
Deus estabeleceu o Céu Etéreo,
Designando-o como lar para as legiões de anjos,
A quem a contemplação digna
E a extraordinária doçura de Deus
Refrescam para todo o sempre.
Este lugar Ele adornou com estrelas
E com o sol radiante
E estabeleceu as leis pelas quais cada estrela
Se move apenas ao longo do seu particular caminho
Através dos céus para o qual foi designada.
Abaixo disso Ele fixou o Céu Aéreo,
Que é resplandecente com o corpo da lua
E que está cheio de multidões de espíritos
Que se compadecem de nós
Ou então se regozijam conosco
Quando as coisas vão bem.
Seu costume é levar as orações dos homens pelo ar
E perguntar a Deus
Se essas orações podem ser atendidas;
Eles voltam trazendo a vontade de Deus,
Seja por palavra ou em sonho,
Ou por algum outro sinal
Pelo qual os homens possam ser iluminados.
“As regiões sublunares
Estão repletas de demônios horríveis
Que são hábeis em enganar
E que procuram nos iludir e nos tentar.
Eles muitas vezes assumem uma forma corpórea
Feita de ar e aparecem para nós,
E muitas coisas acontecem como consequência.
Eles podem até ter relações sexuais
Com mulheres e engravidá-las,
Gerando filhos de maneira profana.
Deus criou assim os céus para serem povoados
Com essa tríplice ordem de espíritos,
Para que cada ordem tenha seu lugar
E o próprio mundo possa ser renovado
A partir dessa sempre nova semente de coisas.
“Deus também dividiu o Mar em várias seções
Para que ele pudesse reproduzir
As formas das coisas fora de si para sempre.
Uma região do Mar ferve e outra região congela,
Enquanto a terceira parte
Recebe uma temperatura moderada das outras duas
E assim atende às nossas necessidades.
A região do Mar que ferve
Corre em torno de um grande golfo
E de um povo perverso;
À medida que suas diversas correntes retornam,
Elas separam o orbe da Terra do Inferno;
Ao fazê-lo, o Mar aumenta seu próprio calor
Nos fogos infernais.
Aqueles que põem de lado Deus
E transgredem a lei vão para aquele lugar.
Sua vontade distorcida os leva aonde querem,
E eles prosseguem,
Ansiosos por corromper o que lhes foi proibido.
O severo juiz está ali de pé,
Pesando sua balança equilibrada
E distribuindo a todos seus méritos e merecimentos.
A segunda área do Mar, que congela,
Envolve estreitas praias de areia,
Que primeiro produzem
A partir do vapor próximo
Quando se misturam com os raios de Vênus.
Os árabes afirmam que esta estrela
Também dá à luz joias cintilantes
Quando passa por Peixes
E suas águas olham para trás através das chamas.
Essas pedras preciosas
Beneficiam aqueles que as carregam,
Curando muitas pessoas e mantendo sua saúde.
O Criador também distinguiu os vários tipos de joias
Para que possamos discernir por sua forma e cor
Que tipo de poderes elas possuem.
A terceira região do Mar
É aquela que circunda as terras em que vivemos,
E por sua proximidade conosco
Nos serve de muitas maneiras benéficas.
Ela alimenta os peixes e produz sal em abundância
E carrega consigo os navios
Que transportam todo o nosso comércio
De um lado para o outro,
De modo que até o pobre pode ficar rico de repente.
O mar também torna a terra próxima a ele fértil,
E fornece alimento para as aves,
Que, dizem, surgiram do mar assim como os peixes;
Embora sejam como os peixes nesse respeito,
Pois são governados por uma regra
Muito diferente da Natureza.
O mar é, de fato, dominado mais pelos pássaros
Do que pelos peixes,
Pois eles voam facilmente para cima
Através do espaço vazio até as regiões altas acima.
“A umidade do mar, no entanto,
Afeta os peixes e os mantém sob as ondas,
E não os deixa viver
Quando expostos à luz seca do dia.
O Criador também dividiu os peixes
Em uma variedade de espécies,
Dando características distintas a cada uma
Para que fossem para sempre maravilhosas
E saudáveis para os doentes.
De fato, dizem que a tainha
Atenua o calor do desejo,
Mas também cega os olhos
De quem a come com muita frequência.
O timolo, cujo nome deriva do tomilho,
Tem um odor que passa para outros peixes
Que o comem com muita frequência,
Até que todos os peixes do rio cheiram como ele.
Contrariando todas as leis da Natureza,
Dizem que todas as moreias são do sexo feminino,
Mas que copulam e reproduzem
E multiplicam sua prole
A partir da semente de outras espécies.
As cobras costumam vir ao longo da costa
Fazendo sons de assobio doces
Que atraem as moreias,
E elas se acasalam com elas
De acordo com seu costume.
Também é de se admirar que a rêmora,
[35]
Que tem apenas meio pé de comprimento,
Se apegue tão firmemente a um navio
Que é como se estivesse encalhado;
Ela detém assim o navio
E não permite que ele seja lançado ao mar,
E seu poder deve ser temido com razão.
Há um certo peixe que eles chamam de peixe-espada
Porque ataca com seu focinho afiado.
As pessoas muitas vezes temem se aproximar,
Mesmo em uma embarcação,
Quando um peixe-espada está nadando nas proximidades,
Pois, se capturado, ele rapidamente faz um buraco no navio,
Corta-o em pedaços
E depois o afunda em um redemoinho repentino.
Os navios também temem o peixe-serra
Por causa de sua crista,
Pois ele os perfura por baixo e os corta em pedaços,
Jogando as partes na água,
Onde deve ser temido
Como se fosse de fato uma espada.
O dragão do mar,
Que os homens alegam ter veneno sob suas asas,
Também deve ser temido
Por aqueles que o capturam,
Pois quando ferroa também fere com seu veneno.
A arraia, dizem eles,
Tem um modo de ataque bem diferente.
Se alguém tocar uma arraia viva,
Seus braços e pés e outros membros
Ficarão imediatamente dormentes
E serão despojados de seus poderes
Como se estivessem mortos,
Tão nociva é a aura de seu corpo.
“Deus concedeu o mar a esses
E muitos outros tipos de peixes,
Mas também o adornou com muitas ilhas a florescer.
Os homens habitam nestes locais,
Que são famosas pela fertilidade
Que a terra produz de seu solo.
É dito que a principal
E maior dessas ilhas é a Bretanha,
Que produz todo tipo de coisa em abundância.
De fato, produz colheitas todos os anos
Que rendem a nobre dádiva da fragrância
Para o prazer humano.
Há também florestas,
Campos fragrantes de mel,
Altas montanhas, amplos prados floridos,
Nascentes e rios, peixes e gado,
Animais selvagens, árvores frutíferas,
Pedras preciosas, metais raros
E tudo o que a natureza abundante pode fornecer.
Além disso, possui nascentes
Que podem curar os enfermos
Com suas águas quentes
E proporcionar banhos deliciosos.
Esses banhos mandam as pessoas para casa
Rapidamente curadas de suas doenças.
[36]
O Rei Bladud estabeleceu esses banhos
Quando empunhava o cetro do reino,
Dando-lhes o nome de sua esposa Alaron.
São úteis a tantos doentes
Pelas suas propriedades medicinais,
Mas sobretudo às mulheres,
Como muitas vezes as águas provaram.
“Não muito longe da Bretanha
[37]
Fica a ilha de Thanet,
Que é abundante em muitas coisas,
Mas que não tem cobras venenosas;
Se o solo de Thanet é misturado com vinho,
É um remédio para veneno.
O mar também separa as Órcades
Da Bretanha continental.
Essas trinta e três ilhas repousam juntas no oceano.
Vinte delas não são usadas para cultivo,
Mas as restantes são cultivadas.
[38]
A ilha de Thule é chamada de ‘Thule Longínqua’
Porque o sol de verão faz seu solstício lá,
Mas depois volta seus raios
Para o outro lado e não avança;
O sol, em vez disso, tira o dia,
De modo que o ar da noite naquele lugar
É sempre perturbado por sombras
E o mar congela com o frio terrível,
Impedindo assim o cruzamento de navios.
Diz-se que a ilha mais impressionante
Além da nossa é a Irlanda,
Com sua encantadora fertilidade.
É bastante grande e tem poucas abelhas ou pássaros
E não permite que as serpentes se reproduzam nela.
Por isso, se o solo ou uma pedra
São trazidos da Irlanda,
Repelem cobras e abelhas.

“A Ilha de Gades está localizada


[39]
Perto das Colunas de Hércules.
Uma árvore cresce ali
Com seiva pingando de sua casca;
Pedras preciosas são produzidas
Quando pedaços de vidro
São esfregados com esta goma.
Dizem que a ilha abriga um dragão guardião,
Que, é dito, mantém vigília
Sob os galhos das árvores
Que carregam as Maçãs Douradas.
Mulheres com corpos de cabras moram nas Ilhas Gorgades,
E dizem que elas são capazes
[40]
De correr mais rápido que as lebres.
Diz-se que as ilhas de Argyre e Chryse
Abundam em ouro e prata
[41]
Tanto quanto Corinto abunda em pedras comuns.
A Ilha de Ceilão floresce graciosamente
[42]
Devido a seu solo fértil.
Ela produz colheitas duas vezes em um único ano;
Tem dois verões e duas primaveras,
E duas vezes por ano são colhidas uvas e outras frutas,
E também é muito agradável
Por causa de suas pedras preciosas cintilantes.
A Ilha de Tiles, que goza de eterna primavera,
[43]
Produz flores e frutos que florescem o ano inteiro.
“A Ilha das Maçãs,
[44]
Que também é chamada de Ilha Afortunada,
Deriva seu nome do fato
De que ela produz tudo para si mesma;
Não há necessidade de agricultores lavrarem os campos
E não há agricultura
Além do que a própria natureza fornece.
Ela produz grãos e uvas em abundância,
E macieiras crescem
Em meio aos prados aparados em suas florestas.
Em vez de mera grama,
O solo produz uma abundância
De todos os tipos de coisas.
Os habitantes vivem cem anos ou mais.
Nove irmãs governam aquele lugar,
Administrando um código de leis muito agradável
Sobre as pessoas que chegam até elas de nossas terras.
A principal dessas irmãs
É a mais culta na arte da cura,
E ela supera todas em beleza.
[45]
Seu nome é Morgen,
E ela aprendeu as propriedades úteis
De todas as várias ervas
Para curar os corpos dos doentes.
Ela também possui a grande habilidade
De poder transformar sua aparência
E navegar pelo ar com novas penas,
[46]
Assim como Dédalo fez.
Ela pode estar em Brest
Ou Chartres ou Pavia sempre que desejar.
E ela também pode deslizar
Em seus litorais à vontade.
Dizem que ela ensinou matemática para suas irmãs,
Cujos nomes são Moronoe, Mazoe, Gliten,
Glitonea, Gliton, Tyronoe e Thiten,
[47]
Que é mais conhecida por sua cítara.
Nós levamos Arthur ferido para a Ilha das Maçãs
Depois da batalha de Camblan,
Guiado por Barintho,
Que conhece todos os mares
E todas as estrelas do céu.
Com Barintho no leme,
Chegamos lá com o príncipe,
Onde Morgen nos deu uma honrosa acolhida.
Ela deitou o rei
Em uma cama dourada em seus aposentos,
Onde ela inspecionou seu honroso ferimento
Com suas próprias mãos.
Ela olhou para ele por um longo tempo
E finalmente disse que ele poderia voltar à saúde
Se ficasse lá com ela por um longo tempo
E colhesse os benefícios
De seu conhecimento de cura.
Nós alegremente entregamos o rei aos seus cuidados
E navegamos de volta
[48]
Com os primeiros ventos favoráveis.”
Então Merlin respondeu:
“Meu caro amigo,
Como o reino sofreu
Desde que a paz foi quebrada!
O que já foi não existe mais,
Pois os nobres,
Por uma reviravolta maligna do destino,
Voltaram-se uns contra os outros
E perturbaram as coisas
A ponto de os tesouros deixarem o reino
E toda a bondade fugir.
Os cidadãos desesperados
Logo abandonarão suas muralhas.
O povo saxão, feroz na guerra,
Os alcançarão e mais uma vez
Nos vencerão cruelmente
E destruirão nossas cidades
E profanarão a lei de Deus e Suas igrejas.
De fato, por causa de nossos crimes,
Deus enviará essa devastação sobre nós
Para corrigir os tolos.”
Merlin ainda não havia terminado de falar
Quando Taliesin declarou:
“Então agora é necessário que o povo
Mande chamar seu líder
Para retornar em um rápido navio,
Se ele já estiver curado,
Para que possa expulsar os inimigos
Como costumava fazer
E restituir ao povo a paz que outrora desfrutou.”
“Não”, respondeu Merlin,
“O povo saxão não partirá dessa forma,
Agora que enfiou suas garras em nossas terras.
A princípio eles subjugarão o reino,
O povo e as cidades,
E governarão a terra pela força por muitos anos.
Três entre nós, no entanto,
Resistirão corajosamente e matarão muitos deles,
E finalmente os vencerão no final.
Mas seus esforços não durarão,
Pois é a intenção do Supremo Juiz
Que os bretões em sua fraqueza
Percam o reino por muitas eras,
Até que Conan venha da Bretanha Menor em sua carruagem
[49]
E Cadualadro, o honrado líder dos galeses,
Una os galeses, escoceses, córnicos e armoricanos
Em um pacto firme,
Devolvendo a coroa perdida ao seu povo.
Então, com seus inimigos repelidos
E a Era de Bruto restaurada,
Eles governarão suas cidades de acordo com as leis sagradas.
Os reis começarão mais uma vez a conquistar povos distantes
E subjugar seus reinos em poderosas guerras.”

Taliesin então disse:


“Ninguém que vive agora estará vivo para ver esses dias.
E não acredito que alguém tenha visto
Tantas guerras entre compatriotas como você.”
“Não, de fato”, respondeu Merlin,
“Pois vivi muito tempo e vi muitas guerras,
Tanto entre nós quanto contra povos bárbaros
Que derrubam toda a ordem.
O crime mais hediondo de que me lembro
Foi quando Constante foi traído
E seus irmãos mais novos,
[50]
Uther e Ambrósio, fugiram pelo mar.
O reino, sem líder,
Foi imediatamente mergulhado na guerra.
Então Vortigerno, o cônsul de Gewissei,
Liderou seus exércitos contra as outras tribos
Para ser o líder de todas elas,
E massacrou selvagemente os camponeses inocentes.
Ele tomou a coroa inesperadamente,
Tendo executado muitos da nobreza,
E subjugou todo o reino ao seu poder.
Mas aqueles que haviam sido aliados
Dos irmãos despossuídos se sentiram traídos
E começaram a colocar todas as cidades
Desse príncipe malfadado em chamas,
Despojando seu reino com seus exércitos cruéis.
Eles não permitiriam que ele governasse em paz.
Incapaz de subjugar essas pessoas rebeldes,
Vortigerno decidiu convidar homens do exterior
Para ajudá-lo a lutar contra seus inimigos nesta guerra.
Quase imediatamente, bandos de guerreiros chegaram
De diversas partes do mundo,
E todos foram recebidos com honra.
A força comandada pelo povo saxão,
Que havia chegado em seus navios de proa de chifre,
Ficou a seu serviço então.
Eles eram liderados por dois irmãos ousados,
Hengist e Horsa, que mais tarde infligiram
Grande dano ao povo e às cidades
Com sua perversa traição.
Tendo servido o rei fielmente por um tempo,
Eles foram capazes de influenciá-lo,
Pois viram que o povo estava distraído
Por uma disputa civil e facilmente venceram Vortigerno.
Eles então voltaram suas armas ferozes contra os bretões.
Eles quebraram sua fé e, em uma trama astuta,
Mataram os príncipes britânicos,
Que estavam sentados junto a eles
Para redigir um novo tratado de paz.
O próprio Vortigerno, eles afugentaram para longe
Pelos cumes nevados das montanhas.
Estas são as coisas que eu disse a ele
Que aconteceriam com o reino.
Os saxões então começaram a perambular
Ateando fogo às propriedades
E procuraram subjugar todo o reino para si mesmos.
“Mas quando Vortimer percebeu
Em que apuros o reino estava
E o fato de seu pai ter sido exilado do salão de Bruto,
Ele mesmo tomou a coroa
Com o consentimento do povo.
Então ele atacou a tribo cruel
Que estava destruindo os bretões
E, depois de muitas batalhas,
Forçou-os a recuar para Thanet,
Onde a frota que os trouxe aqui estava esperando.
O guerreiro Horsa e muitos outros caíram enquanto fugiam,
Mortos por nossos homens.
O Rei Vortimer os perseguiu até Thanet
E os sitiou por terra e por mar.
Mas ele não prevaleceu,
Pois os saxões subitamente tomaram seus navios
E romperam o bloqueio com grande força,
Correndo de volta para sua própria terra.
Tendo triunfado sobre seus inimigos
Em muitas batalhas vitoriosas,
Vortimer tornou-se um governante
Muito respeitado em todo o mundo,
E governou com justa medida.
[51]
A irmã de Hengist, Rowena,
No entanto, ficou furiosa com seu sucesso.
Marcada pela falsidade,
Ela se tornou uma madrasta malvada
Por conta de seu irmão;
Ela misturou veneno para Vortimer
E deu a ele para beber, matando-o.
Ela enviou mensageiros através do mar
Para que seu irmão voltasse com homens suficientes
Para poder conquistar o povo guerreiro da Bretanha.
Assim ele fez, chegando com um exército tão grande
Que foi capaz de saquear até ficar satisfeito,
E ele queimou todas as propriedades até às cinzas.

“Enquanto esses eventos se desenrolavam,


Uther e Ambrósio estavam na Bretanha Menor com o Rei Budicio.
Eles já estavam treinados em espadas
E provados na guerra,
E agora se aliaram a soldados
De muitas terras diferentes
Para que pudessem resgatar sua terra natal
E expulsar as pessoas
Que agora devastavam seu patrimônio.
Portanto, eles colocaram seus navios no vento e no mar
E logo desembarcaram para proteger seus compatriotas.
Eles perseguiram Vortigerno
Por todo o reino de Gales
Até que ele se refugiou em uma torre;
Eles queimaram a fortificação, e ele com ela.
Em seguida, voltaram suas espadas para os anglos,
Derrotando-os em muitas batalhas,
Embora às vezes fossem derrotados por sua vez.
Com grande esforço,
Nossos homens finalmente atacaram os anglos
Em combate corpo a corpo e os feriram gravemente.
Eles mataram Hengist e,
Pela vontade de Cristo, foram vitoriosos.
“Após esses eventos terminarem,
O reino e a coroa real foram dados a Ambrósio
Pela vontade do clero e da população em geral,
E ele provou ser um governante justo em todos os assuntos.
No entanto, depois de quatro anos,
Ele foi traído por seu médico
E morreu bebendo veneno.
Seu irmão mais novo Uther o sucedeu,
Mas ele se mostrou incapaz de manter a paz,
Pois os traiçoeiros saxões
Voltaram novamente e destruíram tudo,
Como era o hábito de seu exército.
Uther os enfrentou em batalhas ferozes
E os levou de volta pelo oceano
Em seus navios a remos.
Com esse conflito concluído,
Uther logo restaurou a paz e gerou um filho
Que nos próximos anos foi um homem tão notável
Que ninguém poderia igualá-lo em virtude.
Seu nome era Arthur,
E ele manteve o reino por muitos anos
Após a morte de seu pai Uther.
Isso ele conseguiu apenas
Através de grandes dores e trabalhos
E matando muitos homens em batalha.
Pois enquanto Uther estava doente,
Aquele povo infiel veio novamente da Ânglia,
E subjugou todas as suas terras
E regiões ao norte do Humber com suas espadas.
Arthur era apenas um garoto então,
E não foi capaz de repeli-los devido a sua idade.
Ele, portanto, seguiu o conselho do clero e dos leigos
E pediu ajuda a Hoel, rei da Armórica,
Enviando uma frota rápida para solicitar sua ajuda.
Afinal, eles estavam unidos pelo amor e pelo sangue comum,
E sentiam-se obrigados a auxiliar um ao outro
Em caso de necessidade.
Hoel convocou homens ferozes de todos os lados
E trouxe soldados até nós aos milhares.
Aliando suas forças com as de Arthur,
Ele afastou os inimigos
Com ataques frequentes e matança amarga.
Com a ajuda de Hoel,
Arthur estava confiante e seguro em suas forças
Quando se moveu contra o inimigo,
A quem finalmente derrotou
E forçou a se retirar da Bretanha.
Então, aplicando a moderação da lei,
Arthur restaurou a ordem em seu reino.
Não muito tempo depois disso,
Ele travou guerras ferozes contra os escoceses e irlandeses,
Subjugando-os e também suas terras
Com os exércitos que liderou.
Em seguida, ele subjugou os nórdicos distantes através do mar,
Bem como os dinamarqueses,
Atacando-os com sua temida frota.
Ele conquistou o povo da Gália
Depois de matar seu líder Frollo,
A quem os romanos haviam confiado seu poder.
Os próprios romanos, que buscavam guerrear contra seus reinos,
Arthur também lutou e derrotou,
Matando o procurador Lúcio Hibério, colega do Imperador Leão,
Que viera por ordem do Senado
Para expulsar Arthur do território da Gália.
“Enquanto isso, Modred,
Aquele regente desleal e tolo,
Começou a subjugar a Bretanha para si mesmo
E se envolveu em um caso ilícito com a esposa do rei.
É dito que o rei, desejando atacar seus inimigos,
Confiou a rainha e o reino a ele.
No entanto, quando as notícias de tais males
Chegaram aos seus ouvidos,
Ele deixou de lado a guerra
E voltou para a Bretanha,
Desembarcando com uma força de milhares.
Arthur então lutou com seu sobrinho
E o forçou a recuar através do mar.
Lá aquele traidor reuniu os saxões
E começou outra guerra contra seu senhor.
Modred caiu em batalha, no entanto,
Traído pelo mesmo povo cruel
Em quem ele havia confiado em seus empreendimentos.
Ó, quão grande foi a matança dos homens
E a dor das mães cujos filhos caíram naquela luta!
Após a batalha, o rei, que foi mortalmente ferido,
Abandonou seu reino e atravessou as ondas com você,
Como mencionou anteriormente,
Chegando ao salão das ninfas.
Em seguida, os dois filhos de Modred,
Cada um desejando controlar o reino,
Começaram a travar guerra um contra o outro e,
Posteriormente, mataram muitos de seus parentes próximos.
Então o sobrinho do Rei Arthur, o Duque Constantino,
Se levantou contra eles
E devastou cruelmente as pessoas e as cidades.
Quando ele levou ambos os irmãos a uma morte terrível,
Ele tomou a coroa do reino e governou o povo.
Mas essa paz não durou, porque seu parente Conano
Começou uma guerra feroz contra ele e destruiu tudo,
Matando o rei e arrebatando para si as terras
Que ele agora governa sem estabilidade ou razão.”
Enquanto Merlin dizia essas coisas,
Os servos entraram correndo
E anunciaram que uma nova fonte
Havia surgido ao pé das montanhas
E jorrava águas limpas
Que agora se espalhavam por todo o vale
E salpicavam os prados enquanto ondulavam.
Tanto Merlin quanto Taliesin se levantaram imediatamente
Para ver esta nova fonte.
Depois de inspecioná-la, Merlin sentou-se na grama
E elogiou o local e o riacho,
E ficou maravilhado com a forma como ela brotou da terra.
Ele logo ficou com sede
E inclinou a cabeça no rio, bebendo à vontade,
E a água passou por seu estômago e órgãos internos.
A umidade daquela corrente o percorreu
E seus humores se estabilizaram dentro de seu corpo.
Imediatamente ele recuperou sua mente e se reconheceu.
Sua loucura desapareceu,
E os sentimentos que por tanto tempo
Estavam adormecidos dentro dele retornaram.
Ele se tornou tão são e completo como sempre fora,
Sua razão agora restaurada.
Então, exaltando a Deus,
Ele ergueu o rosto para os céus
E pronunciou estas palavras de santo louvor:
“Ó Rei, por meio de quem existe o girar dos céus estrelados,
Por meio de quem o oceano e a terra
Com suas belas ervas florescem e alimentam seus próprios
E, em sua profusa fertilidade,
Oferecem ajuda constante à raça humana!
Ó Rei através do qual meu sentido retornou
E a divagação de minha mente cessou!
Eu estava fora de mim,
E conhecia os feitos das pessoas do passado
E previa o futuro como se eu fosse um espírito.
Compreendi os segredos da natureza
E os voos dos pássaros
E as andanças das estrelas
E o deslizar dos peixes,
Mas as leis inabaláveis dessas coisas
Também me assombraram,
Negando-me a paz que é natural à mente humana.
Agora voltei a mim mesmo.
E agora pareço estar emocionado com o mesmo poder
Com que minha alma costumava animar meu corpo.
Portanto, exaltado Pai, devo agora te obedecer,
Proferindo louvores nobres do meu digno peito.
Contente para sempre, farei oferendas alegres para Você.
Ao me dar esta nova fonte da terra verde,
Sua mão generosa me ajudou em duas vezes,
Pois possuo a água de que precisava
E também curei minha mente bebendo dela.
Mas de onde, meu caro Taliesin, vem esse poder?
Como uma nova fonte irrompe dessa maneira,
E como isso me torna quem eu era novamente,
Quando era até agora bastante insano?”
Taliesin respondeu:
“O maravilhoso Criador de todas as coisas
Distinguiu as águas correntes em diferentes tipos,
Dando a cada uma o seu próprio poder especial
[52]
Para oferecer ajuda constante aos doentes.
Existem nascentes, rios e lagos no mundo;
Com seu poder eles frequentemente curam muitas pessoas.
Em Roma corre o rápido Tibre,
Cujas águas salubres curam feridas
Através de suas propriedades medicinais comprovadas.
Há também uma fonte na Itália chamada Fonte de Cícero.
Ela cura todo tipo de doença dos olhos.
É dito que os etíopes têm um lago
Que faz um rosto limpo brilhar
Como se fosse lavado com óleo.
A África possui uma nascente
Que as pessoas chamam de Zema.
Suas virtudes dão ao bebedor uma voz lindamente sonora.
O lago Dictonus, na Itália,
Dá aversão ao vinho,
Enquanto as pessoas que bebem a água
Da nascente em Chios ficam preguiçosas.
Dizem que a terra da Beócia tem duas fontes.
Uma delas faz com que os bebedores esqueçam as coisas,
Enquanto a outra restaura sua memória.
A Beócia também contém um lago,
Tão nocivo por causa de sua terrível pestilência,
Que induz a um excesso de agressividade e desejo sexual.
A Fonte de Cízico, por outro lado,
Extingue o amor e o desejo erótico.
Na terra da Campânia corre um riacho cujas águas,
Dizem, tornam férteis as pessoas estéreis
E também curam os homens da insanidade.
A terra da Etiópia tem uma fonte de águas vermelhas,
Quem bebe dela vai para casa enlouquecido.
A Fonte de Leinus sempre evita abortos.
Existem duas fontes na Sicília,
Uma das quais torna as garotas estéreis,
Enquanto a outra as torna férteis
De acordo com sua bondosa propriedade.
Existem dois rios de grande poder na Tessália.
A ovelha que beber de uma ficará preta,
Enquanto a outra a tornará branca.
Beber de ambas produz lã manchada.
Diz-se que o lago Clitumnus na Úmbria
Produz grandes bois de tempos em tempos;
Os cascos dos cavalos se endurecerão
Assim que pisarem nas areias dos pântanos de Reatine.
Corpos nunca podem afundar
No Lago de Asfalto da Judeia
Enquanto a vida permanecer neles.
Por outro lado, há um lago chamada Syden na Índia,
Onde nada pode flutuar, mas apenas afunda até o fundo.
Há um lago chamado Aloe no qual nada pode afundar,
Mas até pedaços de chumbo flutuam.
Depois, há a Fonte de Marsídia, onde as pedras podem flutuar.
O rio Estige flui de uma rocha e mata quem bebe dele.
A terra da Acaia é testemunha desses assassinatos.
É dito que a lei incomum que rege a Fonte Idumeana
Faz com que ela mude de cor quatro vezes
Ao longo de um período de tempo.
Primeiro fica turvo, depois fica verde;
Então sua ordem muda e fica vermelha,
Até que finalmente se transforma
Em água límpida em um lindo riacho.
Diz-se que cada uma dessas cores
Dura três meses ao longo do ano.
Da mesma forma, as águas do Lago Trogodytis
Fluem amargas três vezes ao dia
E depois doces três vezes com um sabor agradável.
As tochas, dizem eles, são acesas na Fonte de Épiro,
E elas se reacendem se forem apagadas.
Dizem que a nascente de Garamantes
É tão fria durante o dia e tão quente à noite
Que não se pode chegar perto dela
Por causa do frio e do calor.
Há em outros lugares águas tão quentes que são perigosas,
E se tornam tão quentes
Porque fluem através de alume ou enxofre,
Ambos possuindo a virtude do fogo, que é útil para a cura.
“Deus dotou a água corrente com esses e outros poderes,
A fim de fornecer remédios úteis para os enfermos
E tornar conhecido o quanto o Criador preside as coisas
À medida que estão acontecendo por meio Dele.
Julgo que estas águas são medicinais no mais alto grau,
E acredito que podem conferir cura rápida.
Até agora, suas correntes fluíram
Através de cavernas subterrâneas escuras
Como as muitas outras que dizem correrem por lá também,
Prontas para nascerem a qualquer momento.
Talvez sua súbita erupção se deva a algum tipo de obstáculo,
A queda de uma pedra ou o assentamento do solo.
Suponho que alguma corrente subterrânea,
Voltando para a superfície, finalmente atravessou a terra aqui
E nos deu esta nova fonte.
Você pode ver muitos riachos desse tipo
Que nascem e depois voltam para o subsolo para suas cavernas.”
Enquanto discutiam esses assuntos,
Começou a se espalhar a notícia
De que essa nova fonte havia surgido na Floresta de Calidon
E que um homem que havia bebido dela
Havia sido curado de uma loucura
Que o afligia há muito tempo,
Pois ele morava nas florestas e vivia como uma fera.
Logo todos os senhores e chefes estavam chegando
Para visitar o local e parabenizar o profeta
Que havia sido curado pela fonte.
Depois de relatar a Merlin sobre o estado de suas terras,
Os nobres pediram que ele retomasse seu cetro
E levasse uma vida normal entre seu povo.
Merlin respondeu:
“Jovens, minha idade me impede.
Estou caindo na velhice
E meus membros estão tão fracos agora
Que mal consigo andar pelos campos.
Eu vivi muito tempo, e isso basta,
Alegrando-me nos dias felizes
Em que uma abundância de grandes riquezas
Sorriam sem limites para mim.
No bosque está um carvalho ainda vigoroso em sua força,
Mas a velhice, que tudo devora,
O assalta até o ponto em que não resta mais seiva
E está apodrecendo por dentro.
Eu mesmo testemunhei esta árvore crescer;
De fato, vi cair a noz da qual ela brotou,
Enquanto um pica-pau estava sobre ela
E observava o galho.
Aqui eu a vi crescer como deveria,
E anotei tudo sobre ela.
Eu tinha uma profunda reverência por ela no prado
E memorizei o local exato onde estava.
Então, eu vivi por muito tempo, de fato.
Minha velhice me pesa e me recuso a governar novamente.
Habitando aqui sob os galhos verdes,
Tenho mais prazer nas riquezas de Calidon
Do que nas joias da Índia
Ou no ouro que se diz estar nas margens do rio Tejo,
Mais do que nos campos de trigo da Sicília
Ou nas doces uvas de Methys,
E mais do que em torres altas
Ou cidades cercadas de muralhas
Ou roupas perfumadas com perfumes raros.
Nada me agrada o suficiente
Para me afastar da minha Floresta de Calidon,
Que considero eternamente adorável.
Ficarei aqui enquanto viver,
Satisfeito apenas com maçãs e ervas,
E purificarei minha carne com jejuns santos
Para que eu seja digno o suficiente de gozar a vida eterna.”
Enquanto ele dizia essas coisas,
Os nobres avistaram longas fileiras de pássaros grous no céu,
Voando em círculos e formando letras distintas no ar.
A revoada parecia bem organizada
Lá em cima no céu claro.
Olhando para eles,
Os nobres pediram a Merlin que explicasse
Por que estavam voando em tal formação.
Merlin logo respondeu:
“O Criador do Mundo dotou todas as coisas
[53]
De acordo com sua natureza particular.
Isso eu aprendi vivendo tantos dias na selva.
É da natureza dos grous que,
Se houver muitos deles voando no alto,
Muitas vezes os vemos assumir
Uma ou outra formação em seu voo.
Um dos grous irá chamá-los e avisá-los
Para manter essa formação enquanto voam
Para que não quebrem suas fileiras
E saiam de sua ordem normal.
E se aquele pássaro ficar rouco, outro tomará seu lugar.
Eles também colocam uma vigília durante a noite,
E a sentinela agarra uma pequena pedra em suas garras
Quando deseja despertar os outros;
Quando os grous veem alguém,
Explodem com um súbito grasnar.
Suas penas ficam pretas à medida que envelhecem.
A águia, por outro lado,
Cujo nome deriva da acuidade de sua visão,
Diz-se que tem uma visão tão poderosa
Que pode contemplar o sol sem vacilar.
As águias deixam seus filhotes expostos ao sol
Para saber se há algum fraco entre eles,
Verificando se o filhote evita os raios de luz.
Elas voam alto
Como o topo de uma montanha acima da água
E ainda são capazes de discernir suas presas
Muito abaixo das ondas.
Então elas mergulham no ar
E pegam os peixes que nadam,
Como a natureza exige.
O abutre, tendo deixado de lado
O interesse pela relação sexual,
Muitas vezes concebe e dá à luz sem um companheiro,
Por mais estranho que seja dizer tal coisa.
Voando como a águia, o abutre,
Com suas narinas alargadas,
Pode sentir o cheiro de um cadáver do outro lado da água.
Ele não tem nenhum desgosto em voar,
Embora lentamente, até cadáveres
Para se empanturrar de sua presa desejada.
O abutre permanece vivo e robusto por cem anos.
Com sua voz rouca, a cegonha é o prenúncio da primavera.
É famosa por nutrir seus filhotes
Com tanta devoção que arranca suas próprias penas
E deixa o peito exposto.
As pessoas dizem que a cegonha
Evita as tempestades de inverno
E se dirige para as costas da Ásia,
Seguindo o corvo.
Quando envelhece, seus próprios filhotes a alimentam
Porque os alimentou nos dias em que lhes devia tal cuidado.
A ave mais querida pelos marinheiros,
O cisne, supera todas as outras aves
Com a doçura de seu canto quando está morrendo.
[54]
Diz-se que na terra de Hiperbórea
É possível atrair um cisne com a música
De uma lira tocada bem alto na praia.
O avestruz abandona seus próprios ovos,
Enterrando-os na areia para que possa cuidar deles
Quando a mãe se esquecer de cuidá-los.
Assim, esses pássaros entram no mundo
Chocados não por sua mãe, mas pela luz do sol.
A garça, temendo a chuva e as tempestades,
Voa à frente das nuvens para evitar esses perigos.
É por isso que os marinheiros dizem
Que a garça pressagia tempestades repentinas
Sempre que avistam uma no ar.
A fênix sempre será única por seu dom divino.
Ela nasce com corpo renovado na terra dos árabes e,
Quando envelhece, vai para um lugar quente do calor do sol.
Ali reúne um enorme monte de especiarias
E constrói uma pira funerária.
Acendendo este montículo
Com o rápido bater de suas asas,
Ela então se põe sobre ele e se sacrifica.
As cinzas de seu corpo
Dão origem a um novo pássaro
E, por essa lei,
A fênix renasce repetidamente para sempre.
O cinamolgo busca canela
Quando deseja formar um ninho,
[55]
Construindo sua casa em um carvalho alto.
Por esta razão, os homens estão acostumados
A afastá-lo com flechas
E depois levar o estoque de especiarias para vender.
O martim-pescador é uma ave
Que frequenta os pântanos de água salgada,
E constrói seus ninhos no inverno.
Quando está em repouso,
Os mares ficam calmos por sete dias,
Os ventos diminuem
E as tempestades se acalmam e retrocedem,
Trazendo paz e tranquilidade.
Depois, há o papagaio,
Que deve falar em linguagem humana
Como se fosse seu chamado inato,
Desde que ninguém esteja olhando para ele.
[56]
Mistura ave e chere com palavras de brincadeira.
O pelicano habitualmente mata seus filhotes
E depois chora por três dias, louco de dor.
Ele rasga sua carne com seu próprio bico
E, cortando as veias,
Derrama seu próprio sangue,
Que depois borrifa sobre os filhotes
E os devolve à vida.
Sempre que os pássaros albatroz explodem
Em uma voz lamentosa ou grito repentino,
Diz-se que pressagia a morte de reis
Ou grande perigo para o reino.
E quando avistam alguém,
Sabem imediatamente se é grego ou bárbaro,
Pois se aproximam de um grego alegremente,
Com o bater de asas e carícias.
Com os bárbaros, no entanto,
Eles circulam hostilmente e os tratam como inimigos,
Aproximando-se com um som terrível.
Os manon, dizem, fazem um longo voo
A cada cinco anos para o túmulo de Mêmnon,
Lamentando aquele príncipe
[57]
Que foi morto na Guerra de Troia.
A esplêndida hercínia possui uma pena maravilhosa
Que brilha na noite escura como uma lâmpada acesa,
E ilumina o caminho de um viajante
[58]
Se ele a erguer diante de si.
Quando o pica-pau faz seu ninho,
Ele arranca pregos e cunhas da árvore
Que ninguém mais consegue tirar.
A área circundante ecoa com seu martelar.”
Quando Merlin terminou de falar,
Um certo louco os encontrou,
Ou talvez o destino o tivesse levado até lá.
Ele encheu a floresta e o ar com um barulho terrível,
E ele espumava pela boca como um javali
E ameaçou atacá-los.
O homem foi capturado rapidamente
E o forçaram a sentar-se com eles
Para que os levasse a rir alegremente com sua fala.
Quando o profeta Merlin
Olhou para o homem com mais atenção,
Ele reconheceu quem era,
E um gemido surgiu do fundo de seu peito.
Ele disse: “Não era assim que ele parecia
Quando nossa juventude estava em plena floração.
Ele era um belo e poderoso cavaleiro em sua época,
Um nobre descendente de sangue real.
Ele estava entre os muitos
Que tive comigo quando eu era rico,
E eu me considerava afortunado
Por ter tantos bons companheiros,
E sortudo era mesmo.
E assim aconteceu uma vez
Que estávamos caçando nas montanhas de Arwystli
Quando encontramos um carvalho
Cujos galhos se estendiam no ar.
Uma fonte corria ali,
Cercada por um gramado verde,
E suas águas pareciam próprias para beber.
Como estávamos todos com sede,
Sentamos lá e bebemos avidamente do límpido riacho.
Então avistamos algumas maçãs perfumadas
Sobre a grama tenra do nosso lado do riacho.
O homem que as viu pela primeira vez
As pegou e me deu, rindo desse presente incomum.
Em seguida, distribuí as maçãs entre meus companheiros,
Embora não tenha guardado uma para mim
Porque não havia o suficiente para todos.
Os outros com quem dividi as maçãs
Riram e me chamaram de generoso,
E com grande apetite as engoliram
E reclamaram que não havia mais.
Então, imediatamente, uma loucura miserável
Se apoderou deste homem e dos outros.
Eles rapidamente perderam toda a razão
E começaram a morder
E rasgar uns aos outros como cães,
Espumando pela boca e rolando insanamente no chão.
Eles finalmente fugiram como lobos,
Enchendo as brisas vazias com seus uivos miseráveis.
“Acredito que essas maçãs não eram destinadas a eles,
Mas a mim, pois depois soube
Que havia uma mulher que morava naquelas partes
Que uma vez se apaixonou por mim.
Ela havia por muitos anos satisfeito seu desejo por mim,
Mas depois que eu a rejeitei
E me recusei a dormir com ela,
Ela foi tomada por um desejo raivoso de me ferir.
Quando não descobriu outra maneira
De se aproximar de mim,
Ela deixou esses presentes cobertos de veneno
Naquela fonte onde sabia que eu voltaria;
Ela esperava me prejudicar com esse truque
Se eu comesse daquelas maçãs na grama.
No entanto, a sorte me salvou delas,
Como acabei de explicar.
Mas agora deixe-me pedir-lhes para que este homem
Beba as águas saudáveis desta nova fonte para que,
Se ela for capaz de recuperar sua sanidade,
Ele possa voltar a si.
Juntos, trabalharemos nesses prados
Em nome do Senhor pelo resto de nossas vidas.”
Os nobres fizeram o que ele disse e o homem,
Que chegara ali enlouquecido,
Bebeu a água e voltou a si.
Após sua recuperação,
Ele reconheceu seus amigos imediatamente.
Então Merlin disse:
“Você deve agora adentrar
Fielmente ao serviço de Deus,
Que o restaurou ao ser que você só agora vê,
Que por tantos anos viveu como uma besta na selva,
Rondando sem nenhum sentimento de vergonha.
Mas agora que recuperou seus sentidos,
Não deixe para trás os pomares e os prados verdes
Que frequentou quando louco.
Em vez disso, fique aqui comigo para que,
A serviço do Senhor,
Possa se esforçar para restaurar aqueles dias
Que sua terrível loucura arrebatou de si.
E compartilharemos todas as coisas em comum
Enquanto ambos vivermos.”
Maeldin, pois esse era o nome do homem, respondeu assim:
“Venerável pai, como eu poderia me recusar a fazer isso?
Ficarei feliz em morar aqui na floresta com você
E adorar a Deus de todo o meu coração,
Enquanto meus espíritos,
Por cuja restauração agradeço seu cuidado,
Ainda guiam meus trêmulos membros.”
“Eu também desprezarei as coisas mundanas”, disse Taliesin,
“E seremos três todos juntos.
Já vivi o suficiente na vaidade,
E chegou a hora de me devolver a mim mesmo
Sob sua orientação, Merlin.
Mas vocês, meus senhores,
Saiam agora e defendam suas cidades.
Não seria certo perturbarem nossa tranquilidade
Com seus falatórios.
Vocês parabenizaram meu amigo o suficiente.”
Os nobres então foram embora.
Restaram apenas os três homens,
E com a irmã do profeta, Ganieda, eram quatro.
Ela finalmente começou a viver uma vida casta
Após a morte do rei.
Embora tivesse governado todas as pessoas
De acordo com as leis,
Agora não encontrava vida mais doce
Do que viver na floresta com seu irmão.
Às vezes, o espírito a comovia tanto
Que até ela proferia profecias sobre o futuro do reino.
E assim aconteceu que certo dia,
Quando estava de pé no salão de seu irmão
Vendo as janelas brilharem ao sol,
Ela falou estas palavras duvidosas de seu peito:
“Eu vejo a cidade de Oxford cheia de homens de elmos
E os homens santos e bispos santos
Acorrentados por recomendação de um jovem.
O Pastor da alta torre será admirado,
E será desnecessariamente forçado a destrancá-la,
[59]
Para seu próprio prejuízo.
Vejo Lincoln cercada por um exército feroz,
E vejo dois homens encurralados lá,
Um dos quais escapará e retornará aos muros
Com um povo bestial e seu líder.
Ele conquistará aquele exército cruel
Assim que capturar seu comandante.
Que crime é que as estrelas,
Sem usar a força ou fazer guerra,
[60]
Capturem o sol, abaixo do qual deveriam afundar!
“Vejo duas luas no céu perto de Winchester
E dois leões se comportando com ferocidade excessiva,
E um homem está olhando para dois homens,
E outro homem está fazendo o mesmo,
E eles estão se preparando para a batalha
E se enfrentando de perto.
Os outros se levantam e atacam amargamente o quarto,
Mas nenhum deles pode prevalecer;
O quarto se mantém firme e manobra seu escudo
E contra-ataca com suas armas
E, vitorioso, vence rapidamente seus três inimigos.
Dois deles ele lidera pelos reinos congelados do norte;
Ele perdoa o terceiro, que implorou por misericórdia.
As estrelas, portanto, recuam por todas as partes do campo.
O javali armoricano,
Sob a proteção de um carvalho antigo,
Sequestra a lua,
[61]
Agitando suas espadas atrás de suas costas.
“Duas estrelas vejo lutando uma batalha
Contra feras sob a colina de Urian,
Onde os deirans e os gewissei se encontraram
[62]
Durante o reinado do grande Rei Coel.
Ó, como os homens pingam de suor
E o chão pinga de sangue
Quando as feridas são infligidas a povos estrangeiros!
Uma estrela cai junto com outra estrela na escuridão
E esconde seu brilho da luz renovada.
“Ai! Surgirá uma fome tão terrível
Que se apoderará das barrigas das pessoas
E drenará o vigor de seus membros.
Ela começa com os galeses
E depois se espalha por todos os cantos do reino,
Obrigando o povo miserável a atravessar o mar.
Os bezerros que estão acostumados
A viver do leite das vacas escocesas,
Que estão morrendo desta praga perversa, devem fugir.
Fujam, normandos, e impeçam seus exércitos devassos
De carregar suas armas através de nossa pátria.
Não há mais nada que valha a pena alimentar sua ganância,
Pois vocês devoraram tudo o que a Mãe Natureza
Há muito produziu aqui em sua maravilhosa fertilidade.
Cristo, ajuda o seu povo!
Segure os leões.
Restaure das guerras a tranquilidade e a liberdade do reino.”
Ganieda não ficou em silêncio mesmo aqui,
E seus companheiros ficaram maravilhados com ela.
Seu irmão Merlin foi até ela imediatamente
E a parabenizou com estas palavras amistosas:
“Irmã, o espírito, tendo silenciado minha língua
E fechado meu livro,
Deseja que você preveja o futuro agora?
Este trabalho agora é dado a você.
Alegre-se com isso
E fale tudo com verdadeira devoção.
Você tem minha bênção.”
Acabei agora com a minha música.
Portanto, bretões, deem a coroa de louros
A Geoffrey de Monmouth.
Ele é realmente seu,
Pois cantou sobre suas batalhas e sobre seus líderes,
E escreveu um livro
Que agora se chama Sobre os Feitos dos Bretões
E é famoso em todo o mundo.
[63]
As Profecias de Merlin

Quando Vortigerno, rei dos bretões, sentou-se na margem do lago


drenado, os dois dragões surgiram, um branco e um vermelho. Ao se
aproximarem, travaram uma terrível batalha, cuspindo fogo. O dragão
branco começou a levar vantagem e empurrou o vermelho para a beira do
lago. Mas ele se irritou por ser empurrado para trás e atacou o branco,
forçando-o a recuar. Enquanto os dragões lutavam dessa maneira, o rei
ordenou a Ambrósio Merlin que lhe contasse o significado dessa batalha.
[64]
Ele começou a chorar e foi inspirado a profetizar assim:
“Coitado do dragão vermelho, seu fim está próximo. Suas cavernas serão
tomadas pelo dragão branco, que simboliza os saxões que você convocou.
O vermelho representa o povo da Bretanha, a quem o branco oprimirá. Suas
montanhas serão niveladas com os vales e os rios fluirão com sangue. O
hábito religioso será destruído e as igrejas ficarão em ruínas. Por fim, os
oprimidos se levantarão e resistirão à fúria dos estrangeiros. O javali da
Cornualha prestará sua ajuda e pisoteará o pescoço dos estrangeiros sob
[65]
seus pés. As ilhas do oceano cairão sob seu domínio e ele ocupará as
clareiras da Gália. A casa de Roma tremerá diante de sua ira, e seu fim será
desconhecido. Ele será celebrado na boca das nações e suas ações
alimentarão aqueles que as contarem. Seus seis sucessores empunharão o
[66]
cetro, mas depois deles surgirá o verme germânico. Será levantado por
um lobo do mar, que será acompanhado pelas florestas da África. A religião
será destruída novamente e os arcebispados serão deslocados. A honra de
Londres adornará Canterbury e o sétimo pastor de Eboracum habitará no
[67]
reino de Armórica. São Davi usará o manto de Caerleon, e o pregador
[68]
da Irlanda ficará em silêncio por causa de um bebê crescendo no útero.
Uma chuva de sangue cairá e os homens sofrerão uma terrível fome. Com
isso, o dragão vermelho lamentará, mas recuperará sua força assim que o
trabalho de parto terminar. Então o infortúnio do branco será acelerado e os
edifícios em seus jardins serão destruídos. Sete portadores do cetro serão
mortos, e um deles se tornará um santo. As barrigas das mães secarão e os
bebês serão abortados. As pessoas sofrerão muito para que os nativos sejam
restaurados. Àquele que conseguir isso será construída uma estátua de
bronze e por muitos anos guardará os portões de Londres em um corcel de
[69]
bronze. Então o dragão vermelho retornará aos seus velhos hábitos e se
esforçará para se destruir. Sobre ele virá a retribuição do Trovejante, pois
cada campo desapontará seus cultivadores. A peste ferirá o povo e esvaziará
todas as regiões. Os sobreviventes deixarão seu solo nativo e plantarão em
campos estrangeiros. Um rei abençoado preparará uma frota e será contado
entre os santos no palácio como o décimo segundo. Haverá dolorosa
desolação no reino e os campos para a colheita se reverterão em clareiras
raquíticas. O dragão branco se levantará novamente e convocará a filha da
Germânia. Nossos jardins serão preenchidos novamente com sementes
estrangeiras e o dragão vermelho definhará na beira do lago. Então o verme
[70]
germânico será coroado e o príncipe de bronze enterrado.
Um limite foi estabelecido para o dragão branco para além do qual ele
não poderá voar; por cento e cinquenta anos suportará perseguição e
[71]
submissão, mas por trezentos estará em ocupação. Então o vento norte
se levantará contra ele e soprará as flores que a brisa ocidental nutriu.
Haverá decorações douradas nos templos e as lâminas das espadas não
deixarão de estar ocupadas. O dragão germânico terá dificuldade em manter
a posse de suas cavernas, pois a vingança será visitada por sua traição.
Então ele prosperará por um curto período de tempo, mas o dízimo da
[72]
Nêustria o prejudicará. Um povo virá vestido de túnicas de ferro para se
vingar de sua maldade. Eles devolverão os antigos habitantes às suas
habitações, e a ruína dos estrangeiros será bem visível. A semente do
dragão branco desaparecerá de nossos jardins e os remanescentes de sua
geração serão dizimados. Eles suportarão o jugo da escravidão sem fim e
ferirão sua mãe com enxadas e arados. Dois dragões terão sucesso, um dos
quais será sufocado pela flecha da inveja, enquanto o outro retornará sob a
[73]
sombra de um nome. Eles serão sucedidos pelo leão da justiça, cujo
[74]
rugido fará tremer as torres da Gália e os dragões da ilha. No seu
tempo, o ouro será extraído do lírio e da urtiga, e a prata escorrerá dos
cascos do gado que muge. Homens com cabelos cacheados usarão lãs de
vários tons, e suas roupas externas trairão seu eu interior. As patas dos cães
[75]
ladradores serão cortadas. Os animais selvagens desfrutarão de paz. Os
homens sofrerão punição. A forma para negociação será cortada; a metade
será circular. A ganância dos pássaros terá fim, e os dentes dos lobos
perderão o fio. Os filhotes do leão se tornarão peixes do mar, e sua águia se
[76]
aninhará no monte Arávio. A Venedócia ficará vermelha com o sangue
[77] [78]
de uma mãe, e a casa de Corineu matará seis irmãos. A ilha ficará
encharcada de lágrimas noturnas, e assim todos os homens serão
provocados a todas as coisas.
Seus descendentes tentarão voar além dos céus, mas o favor dado aos
novos homens será maior. O possuidor será prejudicado pela bondade do
descrente até que se vista como seu pai. Cingido assim com os dentes do
javali, ele se erguerá acima dos picos das montanhas e da sombra do
homem de elmo. A Albânia ficará irritada e, convocando seus vizinhos,
passará seu tempo em derramamento de sangue. Sobre suas mandíbulas será
colocado um freio, feito na baía da Bretanha Menor. A águia do tratado
quebrado dourará as rédeas e se alegrará em um terceiro ninho. Os filhotes
do governante acordarão, deixarão as florestas e caçarão dentro dos muros
da cidade. Eles farão grande execução entre aqueles que se opõem a eles e
cortarão as línguas dos touros. Carregarão com correntes os pescoços de
quem ruge e renovarão os tempos de seus avós. Então o polegar será
embebido em óleo do primeiro ao quarto, do quarto ao terceiro e do terceiro
ao segundo. O sexto rei derrubará as muralhas da cidade da Irlanda e
transformará suas florestas em uma planície. Ele reduzirá várias partes a
uma e será coroado com a cabeça do leão. Seu início será enfraquecido por
desejos incertos, mas seu fim ascenderá aos céus. Pois ele reconstruirá as
casas dos santos em todas as suas terras e nomeará pastores onde forem
necessários.
Ele vestirá duas cidades em duas mortalhas e dará presentes virginais às
donzelas puras. Por isso ele ganhará o favor do Trovejante e será numerado
entre os bem-aventurados. Dele surgirá uma luz, que perfurará tudo e
ameaçará destruir seu próprio povo. Por causa disso, a Nêustria perderá
[79]
ambas as ilhas e será despojada de sua antiga honra. Então os nativos
retornarão à ilha; pois haverá luta entre os estrangeiros. Um velho de branco
em um cavalo branco como a neve desviará o rio Periron e com uma vara
branca medirá um moinho em sua margem. Cadualadro convocará Conan e
[80]
fará da Albânia sua aliada. Em seguida, os estrangeiros serão
massacrados, os rios correrão com sangue, e as colinas da Bretanha
irromperão e serão coroadas com a tiara de Bruto. Gales se encherá de
alegria e os carvalhos da Cornualha florescerão. A ilha será chamada pelo
nome de Bruto e o termo estrangeiro desaparecerá. De Conan virá um javali
guerreiro, que afiará suas presas nas florestas da Gália. Ele quebrará todas
as árvores mais altas, mas dará proteção às menores. Os árabes e africanos
tremerão diante dele, pois sua investida o levará até a Espanha. Ele será
[81]
sucedido pelo bode do campo de Vênus, com chifres dourados e barba
prateada, que soprará de suas narinas uma nuvem que cobrirá toda a
superfície da ilha. Haverá paz em seu tempo e o solo rico aumentará suas
colheitas. As mulheres se moverão como cobras e cada passo será cheio de
orgulho. O campo de Vênus será renovado e as flechas do Cupido não
[82]
deixarão de ferir. A nascente do rio Amnis se transformará em sangue,
e dois reis lutarão pela leoa de Stafford. Todo o solo será rançoso, e a
humanidade não cessará de fornicar. Três gerações testemunharão tudo isso
até que os reis enterrados na cidade de Londres sejam revelados. A fome e a
peste retornarão e os nativos lamentarão por suas cidades vazias. O javali
do comércio chegará e chamará os rebanhos dispersos de volta ao seu pasto
perdido. Seu peito será alimento para o necessitado e sua língua bebida para
o sedento. De sua boca sairão rios para umedecer as gargantas ressecadas
dos homens. Então uma árvore crescerá acima da torre de Londres, cujos
três ramos irão sombrear a superfície de toda a ilha com suas folhas
espalhadas. O vento norte virá como seu inimigo e sua explosão cruel
arrancará o terceiro galho. Os dois restantes tomarão seu lugar até que um
sufoque o outro com sua folhagem abundante. Em seguida, substituirá os
dois primeiros e alimentará pássaros de terras estrangeiras. Será prejudicial
para as aves nativas, pois não poderão voar livremente com medo de sua
sombra. Será sucedido pelo asno da maldade, rápido contra os fabricantes
de ouro, mas lento contra os lobos predadores. Em seu tempo, os carvalhos
queimarão nas florestas e as nozes crescerão nos galhos das tílias. O
estuário do Severn fluirá por sete canais e o rio Usk ferverá por sete meses.
O calor matará seus peixes e as cobras tomarão seu lugar. As fontes de Bath
[83]
esfriarão e suas águas curativas trarão a morte. Londres lamentará a
morte de vinte mil, e o Tâmisa se transformará em sangue. Os portadores de
capuzes serão desafiados a se casar, e suas queixas serão ouvidas nas
montanhas dos Alpes.
Três fontes aparecerão na cidade de Winchester, e seus riachos cortarão a
ilha em três. Quem beber do primeiro viverá uma vida mais longa, livre de
doenças. Quem beber do segundo morrerá de uma sede que não pode ser
saciada, e uma palidez medonha aparecerá em seu rosto. Quem beber do
terceiro terá morte súbita e ninguém poderá enterrar seu corpo. Para escapar
dessa ameaça, tentarão escondê-la sob várias coisas. O que quer que seja
colocado sobre eles assumirá uma forma diferente. Se a terra for colocada
sobre a fonte, ela se tornará pedras, pedras se tornarão água, madeira se
tornará cinzas e cinzas se tornarão água. Em resposta, uma garota será
enviada da cidade da floresta grisalha para trazer remédios. Depois de tentar
todas as suas artes, ela secará as fontes mortais apenas com sua respiração.
Então, depois de se refrescar com a água curativa, ela levará na mão direita
a Floresta de Calidon e na esquerda os topos das muralhas de Londres.
Onde quer que vá, ela deixará rastros de enxofre, que queimarão com uma
chama dupla. Sua fumaça despertará os flamengos e fornecerá alimento
para as criaturas das profundezas. Ela ficará encharcada de lamentáveis
lágrimas e encherá a ilha com um choro terrível. Ela será morta por um
veado com dez chifres, quatro dos quais usarão coroas de ouro, enquanto os
seis restantes se tornarão chifres de búfalos e agitarão as três ilhas da
Bretanha com seu som terrível. A floresta de Dean despertará e gritará com
voz humana: “Venha, Gales, fique com a Cornualha ao seu lado e diga a
Winchester: ‘A terra a engolirá; mova o assento de seu pastor para o local
onde os navios desembarcam e deixe os membros restantes seguirem a
cabeça; está próximo o dia em que seus cidadãos perecerão por causa de
seus pecados de traição; a brancura da lã e as muitas cores que ela foi
tingida lhe fizeram mal; ai do povo traiçoeiro por cuja razão uma famosa
cidade cairá’.” Os navios se alegrarão com este grande incremento e dois se
tornarão um. A cidade será reconstruída por um ouriço carregado de maçãs
perfumadas, para as quais os pássaros migrarão de várias florestas. Surgirá
um enorme palácio, fortificado com seiscentas torres. Londres ficará cheia
de inveja e triplicará seus muros. O Tâmisa formará um fosso ao redor da
cidade e a fama dessa façanha penetrará além dos Alpes. O ouriço
esconderá suas maçãs lá e construirá caminhos sob a terra. Nesse momento
as pedras falarão e o mar por onde se navega para a Gália se tornará um
estreito riacho. Os homens chamarão de costa a costa e a superfície da ilha
aumentará. Os segredos das profundezas serão revelados e a Gália tremerá
de medo. Em seguida, uma garça emergirá da floresta de Calaterium e
circulará a ilha por dois anos. À noite, convocará os pássaros do ar com seu
grito e reunirá todas as suas espécies. Eles cairão sobre as colheitas dos
homens e comerão todos os grãos de milho. O povo será afligido pela fome
e depois por uma praga mortal. Quando esta calamidade terminar, o pássaro
maldito visitará o vale de Galabes e o elevará a uma alta montanha. No
cume, a garça plantará um carvalho e montará seu ninho em seus galhos.
No ninho colocará três ovos, dos quais eclodirão uma raposa, um lobo e um
urso. A raposa devorará sua mãe e usará a cabeça de um jumento. Nesta
forma não natural, assustará seus irmãos e os expulsará para a Nêustria.
Eles agitarão um javali com grandes presas contra ela e navegarão de volta
com uma frota para lutar contra a raposa. Na batalha, a raposa fingirá a
morte e moverá o javali à piedade. Ele se aproximará do corpo da raposa e,
de pé sobre ela, soprará em seus olhos e rosto. Mas a raposa, consciente de
sua velha astúcia, morderá o pé esquerdo do javali e o arrancará de seu
corpo. Então, saltando, ele morderá sua orelha direita e cauda e se
esconderá nas cavernas das montanhas. O javali enganado exigirá que o
lobo e o urso restaurem seus membros perdidos. Tramando juntos, eles
prometerão dois pés e orelhas e um rabo para substituir os membros do
javali. O javali consentirá e aguardará sua restituição. Enquanto isso, a
raposa descerá das montanhas, se transformará em lobo e, depois de se
aproximar astutamente como se fosse falar com o javali, comerá tudo o que
resta dele. Em seguida, ela se disfarçará de javali desmembrado e aguardará
seus irmãos. Quando eles chegarem, rapidamente também os morderá até a
morte e será coroada com uma cabeça de leão. A seu tempo nascerá uma
cobra que ameaçará os homens de morte. Ela se enrolará em Londres e
devorará todos os que passarem. Um boi da montanha colocará a cabeça do
lobo e polirá seus dentes na forja do Severn. Ele se aliará aos rebanhos da
Albânia e de Gales, que beberão o Tâmisa até secar. Um burro convocará
uma cabra de barba desgrenhada e emprestará sua forma. O boi da
montanha ficará zangado, convocará o lobo e o ferirá como um touro com
chifres. Após este ato selvagem, ele comerá sua carne e ossos, mas será
queimado no alto do Urian. As faíscas de sua pira funerária se
transformarão em cisnes, que nadarão em terra firme como se estivessem
em um rio. Eles comerão peixe após peixe e devorarão homem após
homem. Na velhice, eles se tornarão lanças no fundo do mar e colocarão
armadilhas lá. Eles afundarão navios e acumularão muita prata. O Tâmisa
inundará novamente, convocando os rios e estourando suas margens. Ele
esconderá cidades vizinhas e derrubará montanhas em seu caminho. Terá
como aliada a fonte de Galabes, cheia de perversas traições. Dela surgirá
discórdia, que provocará os venedoti a lutarem entre si. As árvores das
florestas se reunirão para lutar contra as pedras de Gewissei. Um corvo
voará com pássaros para devorar os cadáveres dos mortos. Uma coruja
construirá seu ninho nas paredes de Gloucester e um asno nascerá nele. A
cobra de Malvern irá nutrir o asno e inspirá-lo a muitos atos de trapaça. Ele
assumirá a coroa, subirá no alto e aterrorizará os habitantes da terra com
seus urros. A seu tempo, as montanhas do Pacau serão abaladas e as regiões
despojadas de suas florestas. Pois um verme cuspidor de fogo virá e o calor
que ele emite queimará as árvores. Dele sairão sete leões, desfigurados com
cabeças de bodes. Pelo mau cheiro de suas narinas, eles corromperão as
mulheres e transformarão as esposas em prostitutas. Os pais não
reconhecerão seus próprios filhos, porque eles se moverão como animais.
Um gigante malvado chegará e aterrorizará a todos com seus olhos
brilhantes. O dragão de Worcester se levantará e tentará expulsá-lo. Quando
eles lutarem, o dragão será derrotado, dominado pela maldade do vencedor.
Ele montará no dragão e, tirando suas vestes, cavalgará nu sobre ele. O
dragão levará o gigante nu aos céus e o golpeará com sua cauda.
Recuperando sua força, o gigante esmagará suas mandíbulas com sua
espada. Finalmente, o dragão morrerá do veneno localizado sob sua própria
cauda. Depois virá o javali de Totnes, que esmagará o povo com seu terrível
despotismo. Gloucester enviará um leão, que fará vários ataques ao javali
furioso. O leão o pisoteará sob seus pés e o assustará com sua boca aberta.
Por fim, o leão brigará com o reino e montará nas costas dos nobres. Um
touro intervirá na briga e atingirá o leão com o pé direito. Ele conduzirá o
leão pelos atalhos do reino, mas quebrará seus chifres nas muralhas de
Exeter. A raposa de Caerdubalum vingará o leão e com seus dentes
devorará o touro inteiro. A serpente de Lincoln cercará a raposa e com
assobios terríveis sinalizará sua presença a vários dragões. Então os dragões
lutarão e despedaçarão uns aos outros. O dragão alado vencerá aquele sem
asas e prenderá suas garras em suas bochechas venenosas. Dois mais se
juntarão à batalha e cada um matará o outro. Os mortos serão sucedidos por
uma quinta pessoa. Ele esmagará o resto por vários estratagemas. Ele subirá
nas costas de um dragão com sua espada e cortará sua cabeça de seu corpo.
Tirando suas roupas, ele montará outro e agarrará sua cauda com as mãos
direita e esquerda. Uma vez nu, ele o dominará, porém, quando vestido, não
conseguirá nada. Ele torturará o resto por trás e os levará ao redor do reino.
Um leão rugindo chegará, aterrorizante em sua terrível ferocidade. Ele
reduzirá quinze partes a uma e tomará o povo para si. Um gigante brilhará
com brancura radiante e gerará um povo branco. O luxo corromperá os
príncipes e seus súditos se tornarão bestas. Um leão farto de sangue humano
se levantará contra eles. Um manejador da foice o substituirá no milho,
mas, enquanto ele trabalha com sua mente, ele será vencido pelo leão.
Ambos serão acalmados pelo cocheiro de Eboracum, que expulsará seu
mestre e montará na carruagem que ele conduz. Desembainhando sua
espada, ele ameaçará o leste e encherá de sangue os rastros de suas rodas.
Então ele se tornará um peixe no mar, e será chamado de volta por uma
serpente sibilante, com a qual se acasalará. Seus descendentes serão três
touros brilhantes, que comerão seus pastos e se tornarão árvores. O mais
velho levará um flagelo de víboras e dará as costas ao segundo. Este tentará
agarrar seu chicote, mas será castigado pelo terceiro. Todos eles virarão
seus rostos um para o outro até lançarem o cálice de veneno. Eles serão
sucedidos por um fazendeiro da Albânia, atrás do qual surgirá uma cobra. O
agricultor se dedicará a arar a terra para que as regiões fiquem brancas de
milho. A cobra trabalhará para espalhar seu veneno e impedir que as plantas
venham para a colheita. As pessoas morrerão neste desastre fatal e os muros
das cidades ficarão vazios. Um remédio será encontrado na cidade de
Cláudio, que enviará a filha do portador do chicote. Ela carregará uma
bandeja de remédios e a ilha será restaurada rapidamente. Então dois
carregarão o cetro em sucessão, servidos por um dragão com chifres. Outro
virá em ferro e montará a serpente voadora. Expondo seu corpo, ele se
sentará de costas e agarrará sua cauda com a mão direita. Seu clamor
agitará os mares, o que inspirará medo pela segunda vez. O segundo se
aliará a um leão, mas eles brigarão e lutarão. Ambos sofrerão contratempos
na mão do outro, mas a fera selvagem prevalecerá. Alguém intervirá com
tambor e alaúde e acalmará a ira do leão. Assim as nações do reino estarão
em paz e trarão o leão para a bandeja. Tomando seu assento, ele se dedicará
às provisões, mas estenderá as palmas das mãos para a Albânia. As
províncias do norte ficarão tristes com isso e as entradas dos templos
desbloqueadas. Um lobo carregando um estandarte conduzirá suas
companhias e enrolará seu rabo pela Cornualha. Ele será combatido por um
cavaleiro em uma carruagem, que transformará o povo da Cornualha em um
javali. O javali devastará regiões, mas esconderá sua cabeça nas
profundezas do Severn. Um homem abraçará um leão no vinho, e o brilho
do ouro cegará os olhos de quem o contemplar. A prata brilhará ao redor e
atormentará várias prensas de vinho.
Quando o vinho tiver sido servido, os mortais confusos com a bebida
negligenciarão os céus e olharão para o chão. Os planetas desviarão o olhar
dos homens e alterarão seus caminhos habituais. Por causa de sua ira, as
colheitas murcharão e a chuva não cairá do céu. As raízes mudarão de lugar
com galhos, e as pessoas ficarão maravilhadas com a visão estranha. O
brilho do sol será ofuscado pelo âmbar de Mercúrio, para horror dos
observadores. Stilbon mudará seu escudo e o capacete de Marte convocará
[84]
Vênus. O capacete de Marte lançará uma sombra e a raiva de Mercúrio
não terá limites. Órion desembainhará sua espada, e um sol aguado
[85]
perturbará as nuvens. Júpiter se desviará de seu curso permitido e
Vênus abandonará seus caminhos estabelecidos. O despeito da estrela de
Saturno choverá e massacrará os mortais com uma foice curva. As doze
casas do Zodíaco que abriga as estrelas chorarão ao ver seus viajantes
enlouquecerem dessa maneira. Os Gêmeos renunciarão aos abraços
habituais e chamarão Aquário para a primavera. As balanças de Libra
ficarão tortas até que Áries as apoie com seus chifres curvos. Relâmpagos
brilharão da cauda de Escorpião e Câncer brigará com o sol. Virgem
montará nas costas de Sagitário e contaminará suas flores virginais. A
carruagem da lua vai atrapalhar o Zodíaco e as Plêiades irromperão em
[86]
lágrimas. Jano não cumprirá seus deveres, mas fechará sua porta e se
[87]
esconderá no recinto de Ariadne. No clarão de seu raio, os mares se
erguerão e o pó dos mortos há muito tempo renascerá. Os ventos lutarão
com uma rajada terrível e as estrelas os ouvirão uivar.”
Confira todos os lançamentos da Barbudânia:
Amleth
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O Anel do Nibelungo – A Ópera


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A História dos Reis da Bretanha
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As Histórias de Ragnar Lodbrok


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As Ilustrações de Arthur Rackham para a Ópera O Anel do Nibelungo


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Lohengrin – A Ópera
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Memórias de Garibaldi
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A Morte de Arthur – Volume 1


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O Mundo é Quadrado e outros contos fantásticos


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Óperas Arthurianas de Richard Wagner


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Tristão e Isolda - A Ópera


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Sir Gawain e o Cavaleiro Verde
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[1]
A dedicatória é para o Bispo Robert de Chesney (?-1166), que foi bispo
de Lincoln de 1148 até sua morte.
[2]
Orfeu foi um músico, poeta e profeta lendário na religião grega antiga.
Camerino, Macer, Mário e Rabirio foram poetas romanos que são citados
pelo poeta também romano Ovídio (43 A.C.-18 D.C.) em sua obra
Epistulae ex Ponto (Cartas Pônticas)
[3]
Na mitologia grega, as Musas eram entidades a quem eram atribuídas a
capacidade de inspirar a criação artística ou científica.
[4]
A batalha pode ser identificada como a Batalha de Arfderydd,
mencionada na obra Annales Cambriae (Anais de Gales), em que o rei
bretão Gwenddolau ap Ceidio (?-573) lutou contra outros reis, entre eles
Rhydderch Hael.
[5]
A Cúmbria é atualmente um condado no norte da Inglaterra, na divisa
com a Escócia. O local nunca chegou a ser um reino independente.
[6]
Provável referência à Floresta de Caledônia, que se situa na Escócia.
[7]
Referência a Dido, rainha lendária de Cártago que se apaixona pelo
troiano Eneias na obra Eneida (19 A.C.), do poeta Virgílio (70-19 A.C.). A
cena referida ocorre após Eneias abandonar Dido, que comete suicídio.
[8]
Na mitologia grega, Demofoonte foi um rei lendário de Atenas que se
casou com Fílis, princesa da Trácia. Um dia após o casamento, Demofoonte
decide voltar a sua terra, prometendo buscar sua esposa; ela o espera na
praia todos os dias até a morte.
[9]
Briseis foi uma troiana que foi raptada por Aquiles na Guerra de Troia,
como mencionado na Ilíada (séc. VIII A.C.) de Homero. A cena se refere a
morte de Aquiles na guerra.
[10]
Todos os três exemplos são retirados da obra Heroides (Heroidas, ou
Cartas das Heroínas), de Ovídio (43 A.C.-18 D.C.).
[11]
Wayland, também conhecido como Völund, é um ferreiro lendário da
mitologia germânica; sua história é contada no poema Völundarkviða (A
Balada de Völund) do Edda em Verso (séc. XIII). Segontium foi um forte
romano que se situava no norte de Gales.
[12]
Não há relatos desse caso na mitologia de Orfeu e Orídice.
[13]
Referência ao Rei Constantino, sucessor do Rei Arthur. A história é
contada na obra A História dos Reis da Bretanha.
[14]
Febo era utilizado como um nome poético para o Sol pelos romanos,
sendo às vezes também um equivalente ao deus grego Apolo, divindade da
luz e do Sol.
[15]
O Javali da Cornualha é como Merlin se refere ao Rei Arthur, sendo
que os sobrinhos citados são a família de Constantino, sucessor de Arthur.
A história é contada na obra A História dos Reis da Bretanha.
[16]
Referência às batalhas de Gormundo, rei dos africanos, contra o Rei
Karético, último sucessor de Arthur. A história é contada na obra A História
dos Reis da Bretanha e de forma mais enigmática em As Profecias de
Merlin, sendo que Gormundo é o Lobo do Mar.
[17]
Alclud é hoje conhecida como Dumbarton, na Escócia.
[18]
Caer Loel é hoje conhecida como Carlisle, no noroeste da Inglaterra.
[19]
Kaerperis é hoje conhecida como Porchester, no sul da Inglaterra.
[20]
Rutupi foi um forte romano localizado hoje em Richborough, sudeste
da Inglaterra.
[21]
Os ruteni foram uma tribo gaulesa que vivia em uma região atualmente
no sul da França.
[22]
Menevia é uma cidade no oeste de Gales conhecida hoje como St
Davids.
[23]
Sabrina é o nome em britônico do rio Severn. A Cidade das Legiões
era o nome em galês para a cidade hoje chamada de Caerleon. Monmouth
erra ao citar o rio Severn, pois é o rio Usk que cruza a cidade.
[24]
Leyri é hoje conhecida como Leicester, na região central da Inglaterra.
[25]
Bruto é o lendário primeiro rei da Bretanha, sendo ele um refugiado
troiano após a Guerra de Troia.
[26]
Na mitologia romana, as Fúrias eram entidades que personificavam a
vingança.
[27]
Esses atos são uma provável referência à época da história inglesa
chamada de A Anarquia, que durou de 1135-1153, em que houve guerras
civis após o falecimento do Rei Henrique I (1068-1135) em busca do trono
real. Nessa época, havia relatos de clérigos que comandavam exércitos e
viviam em fortes.
[28]
Vortigerno foi um rei lendário da Bretanha, sendo que Merlin
referencia as profecias ditas a ele na obra A História dos Reis da Bretanha e
na obra As Profecias de Merlin.
[29]
Taliesin foi um poeta e bardo galês do século VI, autor de Llyfr
Taliesin (O Livro de Taliesin), um compilado de quase sessenta poemas que
contam histórias e sagas de heróis bretões e sobre a ilha.
[30]
A Bretanha Menor, também chamada de Armórica, foi um reino
localizado hoje na França
[31]
Gildas (~500-570) foi um monge bretão que escreveu a obra De
Excidio et Conquestu Britanniae (Sobre a Ruína e Conquista da Bretanha)
composta de três sermões que contam sobre a situação da ilha britânica sob
o domínio romano e posterior invasão dos anglos e saxões. Esta obra foi
uma das referências principais de Monmouth para a escrita de A História
dos Reis da Bretanha.
[32]
Na mitologia romana, Minerva era a deusa da sabedoria e justiça.
[33]
A maior parte dos dizeres de Taliesin foram retirados da obra
Etymologiae (As Etimologias), uma enciclopédia com vários saberes
antigos compilados por Isidoro de Sevilha (560-636), um historiador e
acadêmico do mundo antigo.
[34]
Termo em latim para ‘do nada’, da doutrina teísta Creatio ex nihilo, em
que a matéria foi criada do nada por um ser divino.
[35]
Cerca de 15 centímetros.
[36]
Bladud foi um rei lendário da Bretanha, como contado na obra A
História dos Reis da Bretanha.
[37]
Thanet é hoje uma península no distrito de Kent, entretanto foi uma
ilha até cerca de 1000 anos atrás, sendo que sedimentos se depositaram em
seu canal até se juntar a ilha da Bretanha.
[38]
Thule é uma ilha na literatura romana e grega como a terra mais ao
norte possível. Ao longo do tempo, ela foi identificada com uma das
Órcades, a Islândia, Groenlândia, entre outros.
[39]
Gades é hoje chamada de Cádis, localizada no sul da Espanha. As
Colunas de Hércules são os promontórios que ficam no estreito de
Gibraltar, sendo um deles no continente europeu e outro no continente
africano.
[40]
As Gorgades são ilhas lendárias localizadas perto da África, elas foram
identificadas como as Ilhas Canárias e Cabo Verde
[41]
Argyre e Chryse são ilhas lendárias supostamente localizadas no
Oceano Índico. Corinto é uma cidade da região do Peloponeso que se situa
na Grécia.
[42]
Ceilão é uma ilha localizada no atual Sri Lanka.
[43]
É desconhecida qual seria esta ilha. Tiles é um nome alternativo para a
Ilha de Thule, porém sua descrição não é similar com a dada anteriormente.
[44]
As descrições seguintes demonstram que se trata da lendária Ilha de
Avalon. Monmouth provavelmente associou o nome de Avalon com afal,
maçã em galês.
[45]
Morgen é mais conhecida como Morgana Le Fey, das lendas
Arthurianas. O primeiro texto em que ela é associada a Arthur ocorre na
atual obra.
[46]
Dédalo é um personagem da mitologia grega que é pai de Ícaro, que
voou perto demais do sol e morreu após a cera das asas construídas pelo pai
derreterem.
[47]
Monmouth cita que a ilha é governada por nove irmãs, mas só nomeia
oito delas.
[48]
Este é um dos poucos textos que conta o destino de Arthur ao chegar
na Ilha de Avalon. Embora A Vida de Merlin não tenha se tornado um texto
famoso na Idade Média, essas descrições podem ter influenciado na lenda
de que Arthur um dia voltaria para governar a ilha britânica.
[49]
Conan Meriadoc foi um rei lendário da Armórica, ou Bretanha Menor.
Cadualadro (?-682) foi um rei galês real, considerado o último rei bretão.
[50]
Os fatos narrados recapitulam os acontecimentos dos livros VI a XI na
obra A História dos Reis da Bretanha.
[51]
Em A História dos Reis da Bretanha, Rowena é filha de Hengist.
[52]
Novamente, os ensinamentos de Taliesin foram retirados da obra
Etymologiae (As Etimologias), de Isidoro de Sevilha, e também da obra De
natura rerum (Da Natureza das Coisas) de Beda (673-735) de 703.
[53]
Os ensinamentos de Merlin sobre aves também são retirados da obra
Etymologiae (As Etimologias), de Isidoro de Sevilha.
[54]
Na mitologia grega, Hiperbórea era uma terra mítica ao norte,
eternamente ensolarada.
[55]
O cinamolgo é uma ave lendária que utilizava a canela para fazer seu
ninho, aparecendo em vários bestiários medievais junto a fênix.
[56]
Ave é a saudação utilizada em Ave Maria, e chere é do francês chère,
de querido.
[57]
Na mitologia grega, Mêmnon lutou contra Aquiles na Guerra de Troia,
sendo morto por ele. Após sua morte, os deuses transformaram os soldados
que o enterraram em pássaros para cuidar de seu túmulo.
[58]
A hercínia é também um pássaro lendário encontrado em bestiários
medievais.
[59]
Esta profecia já foi interpretada como a captura dos bispos Roger de
Salisbury e Alexander de Lincoln em 1139 pelo Rei Estevão durante o
período de A Anarquia.
[60]
A profecia parece indicar o cerco do Rei Estevão à cidade de Lincoln
em 1141, sendo que um dos inimigos do rei, Randolph de Chester, escapou
e voltou com soldados galeses para libertar a cidade e tentar capturar
Estevão.
[61]
Esta profecia foi interpretada como um vago relato do cerco a
Winchester em 1141, em que as tropas do Rei Estevão e da Imperatriz
Matilde se encontraram, sendo que ela escapou de ser capturada pela ajuda
de Geoffroi Botrel, um nobre da Armórica.
[62]
Esta profecia pode se tratar da batalha de 1150 entre Owain ap
Gruffudd, rei de Gwynedd, e Madog ap Maredudd, príncipe de Powys; a
batalha ocorreu em Coleshill, no condado galês de Flintshire. A vitória de
Owain contra Madog interrompeu a expansão normanda pelo norte de
Gales, o que tornaria impossível uma viagem a São Asaph, diocese em que
Monmouth era bispo, o que explicaria o interesse do autor em mencionar tal
batalha na obra. Coel é um rei lendário que aparece na obra A História dos
Reis da Bretanha.
[63]
A obra As Profecias de Merlin foi publicada em 1130, seis anos antes
de A História dos Reis da Bretanha, porém não houve um cuidado para que
pudesse ser lida sem conhecer o contexto do início do texto. Na outra obra,
o Rei Vortigerno pretende construir uma torre em um monte, mas ela é
sempre engolida pela terra. Ao consultar seus magos, eles dizem que o
sangue de um menino sem pai deveria ser jogado na terra. Este garoto é
descoberto sendo Merlin, um jovem cuja mãe foi engravidada por um
demônio. Merlin enfrenta os outros magos e diz que o problema na verdade
é que há um lago no interior do monte que suga as fundações da torre. Ao
drená-lo, ele encontra dois dragões adormecidos.
[64]
As profecias de Merlin foram discutidas por vários estudiosos ao longo
do tempo e possuíram várias interpretações relacionadas à história britânica.
Alguns dos fatos mais claros serão mencionados nas notas.
[65]
O javali da Cornualha é identificado como o Rei Arthur.
[66]
As profecias contradizem A História dos Reis da Bretanha, em que
somente cinco sucessores de Arthur viram reis.
[67]
Eboracum é hoje conhecido como York.
[68]
São Davi (?-589) é o padroeiro de Gales, tendo presidido o Sínodo de
Caerleon em 569 em que condenou o pelagismo.
[69]
A profecia da estátua de bronze se refere ao Rei Cadwallo penúltimo
rei lendário bretão.
[70]
O reinado de Cadualadro, filho de Cadwallo, é marcado pela peste e
desastres naturais, com o destino da ilha e do povo bretão sendo contado em
detalhes claros.
[71]
Embora os números sejam de difícil interpretação, é possível que a
profecia simplesmente fale sobre como o domínio anglo-saxão sobre a ilha
terá fim um dia, o que combina com o domínio franco-normando após a
Batalha de Hastings, em 1066, fato que ocorreu cerca de trinta anos antes
do nascimento de Monmouth.
[72]
A Nêustria foi um território do Reino Franco que surgiu a partir da
Gália.
[73]
Possível referência ao Rei Guilherme II (1056-1100) e seu irmão
Roberto II da Normandia. Guilherme II morreu por um ferimento de uma
flecha em uma caçada; houve suspeitas de que sua morte foi um
assassinato. Seu sucessor deveria ter sido seu irmão, mas ele estava em uma
Cruzada, sendo que seu irmão mais novo, Henrique I, tomou a coroa para
si.
[74]
Manuscritos do século XII diziam que havia a concordância de que o
leão da justiça seria o Rei Henrique I.
[75]
O Rei Henrique I criou uma lei em que uma das patas de cães que
viviam perto de florestas deveria ser cortada, de forma que eles não
poderiam ser usados em caças, protegendo os animais do rei, sendo que
somente nobres podiam caçar.
[76]
A referência dos filhotes do leão se tornarem peixes era vista como
uma referência ao filho legítimo de Henrique I, Guilherme Adelino, que se
afogou no naufrágio de um navio aos 17 anos.
[77]
A Venedócia foi um reino que surgiu na Bretanha pós-domínio romano
situado na região da Gália. A profecia possivelmente se refere a história de
Cadwallon, príncipe do reino galês de Gwynedd (1097-1132), que matou
seus três tios e mais tarde foi morto por dois de seus primos.
[78]
A profecia possivelmente se refere ao episódio de que Frewin, xerife
da Cornualha, mandou matar seis irmãos em 1130 normandos por terem
assassinado um outro homem da Cornualha. Esses atos recentes são os
últimos fatos que Monmouth tinha registro, sendo que as demais profecias
de Merlin não têm correspondentes históricos.
[79]
Sendo a Nêustria parte da Normandia, é possível que a profecia diga
sob um possível fim do reinado franco-normando na Inglaterra, assim como
chegou ao fim o reinado bretão e o saxão.
[80]
A lenda de que o Rei Cadualadro se juntará a Conan Meriadoc para
salvar os bretões existia desde o manuscrito galês do século X, Armes
Prydein (A Profecia da Bretanha).
[81]
Na mitologia romana, Vênus é a deusa do amor e desejo.
[82]
Na mitologia romana, Cupido é um deus do amor, filho de Vênus e
Marte, deus da guerra. Suas flechas tinham o poder de apaixonar uma
pessoa atingida por elas.
[83]
As Termas Romanas de Bath é uma construção romana ao redor de
águas termais que data do século I, localizado na cidade de Bath, no
sudoeste da Inglaterra.
[84]
Stilbon era um nome grego para o planeta Mercúrio.
[85]
Menção à Constelação de Órion, que foi baseada na lenda grega do
gigante e caçador Órion, que trabalhava para Artemísia, deusa da caça.
[86]
As Plêiades são um grupo de sete estrelas na Constelação de Touro,
que foi baseada na mitologia grega das Plêiades, as sete irmãs, filhas do titã
Atlas e da ninfa do mar Pleione.
[87]
Jano, como mencionado anteriormente é o deus das transições, como
no calendário. Na mitologia grega, Ariadne é uma princesa de Creta
associada a labirintos por seu envolvimento com Teseu e o Minotauro. A
referência de ambas as figuras mitológicas pode ser uma alusão de que os
anos não passariam como antigamente.

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