Você está na página 1de 5

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Ciências Sociais


Departamento de História

Trabalho sobre o filme As Vinhas da Ira, de John Ford

Nicolau Gayotto da Conceição & Pedro Azeredo Penellas Pereira


RA00208482 & RA00230790
MBA 8
Cultura e Imperialismo na Metade do Século XX
Professor Dr. Antonio Pedro
As vinhas da ira, tanto o livro quanto o filme, são claramente uma crítica ao American
dream, no entanto, ao analisar as duas versões, encontraremos passagens que podem ser
consideradas típicas da crença no modelo americano. Procure identificar pelo menos
uma dessas passagens e justifique-a.

Ao assistir o filme As Vinhas da Ira de John Ford, é possível notar algumas passagens
típicas do modelo americano. Dentre elas, podemos observar a noção de propriedade e da
concepção de família tradicional, bem como a ideia de um retorno
Logo no início do filme, quando Tom Road, interpretado por Henry Fonda, e o
reverendo, interpretado por John Carradine encontram Muley, intepretado por John Qualen,
sozinho nos terrenos abandonados, este último conta a maneira como as famílias foram
expropriadas de suas terras. Ao contar a história, sobretudo de sua família, Muley reforça o
fato de que todos viviam nas terras há 50 anos, onde todos nasceram, trabalham e iriam
morrer lá, dando uma ideia de conquista e propriedade de uma terra, a ideia da private
property tão comum no American Dream e no American Way of Life. Por isso a indagação de
Muley ao ser ameaçado de expropriação: “Get off my own land?”. A chegada dos tratores, ou
os Cats, significa a destruição do sonho de todas as famílias de trabalharem e morrerem em
suas próprias terras. Em defesa do American Dream, Muley pega a sua arma ao lado de sua
família, pedindo, a todo custo, que o trator se afaste de sua propriedade. Mesmo assim, o
trator destrói a casa, assim como o valor da família, sobretudo quando John Ford filma os
rastros da máquina por cima da sombra da família, tendo esse ideal de propriedade e família
unida ao redor dela destruído.
Mescla-se a essa passagem a concepção da família tradicional. Durante todo o filme o
núcleo familiar é a grande constante que alastra a trama; ela representa o único lastro que
restou dos valores anteriores às desapropriações de terras. Consequentemente, o apego à
família é a esperança que as terras possam retornar. Não existe propriedade sem a família, e
vice-versa. Essa relação pode ser observada no início do filme quando, antes de sermos
formalmente apresentados ao núcleo familiar, o jovem Tom Joad está em busca de sua
família, que até aquele momento não tinha características físicas explicadas, mas são
exclusivamente simbolizados através da memória de uma propriedade.
Outra figura importante para reiterar essa ocorrência é Ma Joad, interpretado por Jane
Darwell, a mãe de Tom. É nela que talvez estejam representadas a máxima desses valores
familiares: todo o filme se constrói de forma a edificar a família como centro norteador da
narrativa, e é ela a sustentação que não permite que esse núcleo se esvai e desapareça. Mesmo
com inúmeras dificuldades aos constantes obstáculos, a família não desiste e segue firme no
combate às adversidades, se constituindo como representativa da integridade dos valores
tradicionais em face à crise. Ma Joad é a paladina desses princípios, mesmo com a morte dos
avós ela não se abala, e mais do que isso, não permite que a família se desorganize. Ela é
aquela que ampara a todos nos momentos difíceis, sem necessitar que alguém retribua.
Portanto, retrata um trato característico daquilo que a figura da mulher deveria ser no modo
de vida americano.
Uma cena ainda parece se mostrar fora de compasso com tudo aquilo que foi
defendido até aqui: ao final do filme Tom Joad abandona o núcleo familiar para lutar por um
país melhor, que os governantes não poderiam dar. Mesmo com a insistência de Ma Joad para
permanência do filho, ele vai embora. Ma Joad chega a dizer: “Estamos desmoronando. Já
não somos uma família. (...) Não vá, fique para ajudar”; o que contradiz tudo aqui que
havíamos exposto até aqui. Para esse excerto temos duas interpretações do viés de Ford: a
primeira confronta a predisposição de Henry Fonda como protagonista do filme. O
personagem que se sobressairia a ele, seria, justamente, Ma Joad. Tom introduz o primeiro
ato do filme, mas Ma Joad não só finaliza a obra como um todo, como é o vínculo essencial
para que todo o enredo avance. Dessa lógica, poderia se questionar que a fuga de Tom
associaria com sua desarmonia com o próprio núcleo familiar: como um preso procurado e
alterado por valores revolucionários, a tendência seria a sua expulsão do elo familiar,
sobressaindo a figura final de Ma Joad: a mãe, dona de casa, que nunca abandona seus
familiares. A outra interpretação confronta a própria luta de Tom. O filho mais velho da
família resolve fugir depois de um sentir uma sensação, uma vontade de defesa das pessoas
inocentes, nas palavras dele: “Onde tiver uma luta para pessoas famintas comerem, eu estarei
lá”. Inicialmente essa concepção aparenta um viés revolucionário, mas pela própria
construção do filme poderia se questionar um idealismo mítico de um passado americano,
escondido nessas pretensões. Tom Joad nunca se demonstrou contra a propriedade, pelo
contrário, reiterou sua indignação com a desapropriação que a família recebeu. Tom não
questiona o passado da família, mas o presente, aquilo que ele se tornou. Por trás desse
idealismo de Tom poderia haver menos um desejo por uma transformação total, mas sim um
retorno a uma época áurea onde todos viviam felizes, não um discurso revolucionário, a
antítese do capitalismo predatório vigente, mas um elogio ao passado. Reitera essa
perspectiva o tempo que ele passou na cadeia: Tom não presenciou a transição do passado
grandioso para o presente tenebroso. Para ele, o início e o fim estão completamente
desassociados. A situação presente não é consequência de um processo que teve início no
passado, mas a um ponto fora da curva: algum momento na construção desse passado alguns
indivíduos corrompidos alteraram os rumos dourados para a degradação. Quem são esses
indivíduos? Os policiais, donos de bancos, governantes que não sabem quem está por trás de
tudo isso, mas estão se aproveitando dos resultados. A fuga de Tom estaria mais ligada a um
retorno idealista de um passado, e por isso seria justificada. O que ele busca não é a
transformação do sistema vigente, mas o retorno a uma época na qual a propriedade e os
valores familiares eram respeitados.
Referências bibliográficas
-AS VINHAS da ira. Direção de John Ford. Los Angeles: 20th Century Fox, 1940.1 DVD.
2hrs9min.

Você também pode gostar