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Revista de Cultura
Reitor
Amaro Henrique Pessoa Lins
Vice-Reitor
Gilson Edmar Gonçalves e Silva
Produção
Divisão de Apoio Institucional da Pró-Reitoria de Extensão
Miriam Vila Nova Maia
Estudos Universitários, revista de cultura da Universidade Federal de Pernambuco | v. 24/25 | n. 5/6
p. 1 - 78 | Dez 2004/2005
P. ~ anual
De jul. 1962 até ago. 1964 foi publicada sob título Estudos Universitários,
revista da Universidade do Recife.
Diretor: 1962 ~ ago. 1964, João Alfredo Gonçalves da Costa Lima.
Editor: Luís Costa Lima.
Diretores 1966: Murilo Humberto Barros Guimarães e Newton Sucupira.
Editor: César Leal.
Diretores 1997: George Browne Rego e Jarbas Maciel.
Editor: César Leal.
Design Gráfico
Bureau de Design da UFPE
Manuela Braga / Solange Coutinho
Coordenação Geral
Jowania Rosas
Editorial 05
Memória
Dimas Brasileiro Veras
e Djanyse Barros de Arruda Mendonça
Educação popular e reforma universitária:
Paulo Freire e a criação do Serviço de Extensão
Cultural da Universidade do Recife (1962-1964) 11
Entrevista
Luiz Costa Lima Um trabalho rico de possibilidades
Uma certa revista 23 39 Entrevista com JARBAS MACIEL.
Resenhas
Comunicação ou Extensão?
71 por Xavier Uytdenbroek
Golpe na Alma
75 por Marcius Cortez
Solange Coutinho
Pró-Reitora de Extensão da UFPE
1
Escrito por Paulo Freire e publicado no Brasil em 1971 pela editora Paz e Terra.
2
Escrito por Jomard Muniz de Brito e publicado em 1966 pela editora Civilização Brasileira e republicado este
ano pelo Atelier Editorial.
3
Escrito por Marcius Cortez e publicado em 2008 pela Pé de Chinelo Editorial.
Memória
Educação popular e reforma universitária:
Paulo Freire e a criação do Serviço de Extensão
Cultural da Universidade do Recife (1962-1964) 11
Dimas Brasileiro1
Estudos Universitários
Djanyse Mendonça2
1
Historiador e mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE.
Endereço eletrônico: dimasveras@hotmail.com
2
Assistente Social da UFPE e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da mesma universi-
dade. Endereço eletrônico: dbmendonca@uol.com.br
3
Expressão italiana utilizada por Leandro Konder em seu livro O Marxismo Na Batalha Das Idéias. 2ª ed. –
São Paulo: Expressão Popular, 2009.
4
Agostinho, S. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. 18ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
se fizeram indispensáveis: histo- rior, bem como no seu aspecto da do século XIX, estas se per-
ricidade e totalidade social, fren- social restrito e aristocrático, as petuaram por toda primeira me-
te à preocupação em considerar reivindicações ganharam grada- tade do século XX, alcançando
o movimento das determinações tivo apoio dos professores mais uma maior expressão política e
e mediações na conjuntura ide- preocupados com a construção social na cidade nos anos 1950.
opolítica de então. e desenvolvimento de espaços Não seria nenhum exagero afir-
especializados de pesquisa nas mar que durante muito tempo a
As informações que seguem unidades de ensino. No Brasil, Faculdade de Direito do Recife
conferem materialidade a esse a criação da Universidade de (FDR) funcionou como a Uni-
esforço. Recuperam o empenho São Paulo, da União Nacional versidade do Norte agrário do
do movimento estudantil (há dos Estudantes e do Estatuto país, onde, segundo as palavras
mais de meio século) na luta por das Universidades Brasileiras, de um distinto sociólogo brasi-
transformações histórico-socie- nos anos 1930, contribuiu para leiro, “cursava a FDR estudantes
tárias de larga envergadura, so- consolidação do debate da re- de todas as áreas: Literatura,
bretudo por uma universidade forma universitária. Os ares de Filosofia, Ciências Sociais e Be-
mais democrática e compro- mudança ganharam impulso las Artes. Havia até alguns que
metida socialmente. Atualiza o com a queda do Estado Novo faziam Direito”5. Isto dava uma
12 ‘espírito’ movente da primei- e se mantiveram em circulação particular efervescência ao Re-
ra geração do SEC cujas ações até o advento do Regime Militar cife, um jovial burburinho dos
Estudos Universitários
exalavam esperança nas coisas de 1964. A partir daí os militares estudantes que para a cidade
futuras. Certamente, uma con- passariam a conduzir em molde rumavam sedentos de vida e dos
cepção positivista poderia con- autoritário aspectos da reforma emblemas de distinção das es-
cluir que tal ‘espírito’ pertenceu do ensino superior exigida pela colas superiores. Foi na FDR (na
a um determinado tempo histó- sociedade civil em anos anterio- época já integrada à Universida-
rico, como se o tempo pudesse res. Como bem afirma e analisa de do Recife) e na nascente Uni-
apenas ser definido pelo que foi Paulo Rosas, as mudanças pro- versidade Rural de Pernambuco
e a história ser entendida como postas pelos militares estavam que em maio de 1961 estourou
sucessão linear de fatos. Ten- alicerçadas em medidas que vi- uma greve estudantil com re-
deria, também, a afirmar que savam garantir a manutenção percussões nunca antes vistas
a política não está associada do Estado ditatorial: no Brasil. Os estudantes insa-
à história, posto que a história
não seja movimento, mudan- “Proteção e fortalecimento do golpe; formação
ça, instabilidade, contingência. de um quadro de profissionais competentes e
Mas esta não é a linha teórico-
aliados ou ‘neutros’; desarticulação e criação de
metodológica que costura os
elementos sócio-históricos pes- obstáculos à rearticulação ou renovação do an-
quisados. Vamos a eles. tigo quadro de profissionais competentes, mas
que se opunha às práticas discricionárias da di-
A luta pela reforma universitária
tadura;” (1992: 61)
na América Latina teve suas pri-
meiras manifestações no inicio Apesar das reivindicações por tisfeitos com a precariedade das
do século XX. Inicialmente pau- reformas da tradicional Escola Instituições de Ensino Superior
tada na insatisfação estudantil de Ciências Sociais e Jurídicas de (IES) já haviam ensaiado várias
quanto aos instrumentos e mé- Olinda-Recife (atual Faculdade sedições estudantis na Escola
todos defasados do ensino supe- de Direito do Recife) serem ain- de Engenharia de Pernambuco,
5
Trecho de uma conversa sobre a Faculdade de Direito do Recife com Heraldo Souto Maior, professor e pesquisador da UFPE e ex-aluno da FDR.
com destaque para a greve de tos de voto aos analfabetos e política e social da realidade
1958, revolta que foi habilmen- aos militares de baixa patente; brasileira, seguindo uma linha
te contornada pela intervenção a reforma tributária, tornando macroanalítica e globalizante
do presidente Juscelino Kubits- a cobrança de impostos propor- de interpretação. Seus intelec-
chek (RAMALHO, 1994). Embo- cional à renda e bens do contri- tuais acreditavam estar redes-
ra o movimento de 1961 tenha buinte; a reforma agrária, de- cobrindo a realidade brasileira,
se iniciado por desavenças dos mocratizando a terra e seu uso, cuja problematização permitiria
estudantes com seus respecti- mas também combatendo a im- extrair as metas para o desen-
vos diretores6, ao ganhar adesão produtividade e o latifúndio; a volvimento nacional. Num en-
das demais escolas e faculdades reforma bancária, subordinan- saio publicado na “sinistra pas-
do país, a greve passou a repre- do os bancos privados ao Banco sagem de março ao 1º de abril”
sentar uma série de questões do Brasil e nacionalizando-os de 1964, Jomard Muniz de Brit-
e reivindicações nacionais por quando possível; e, finalmente, to, professor da UR que acom-
reformas das estruturas basila- a já citada reforma universi- panhou Paulo Freire em Brasília
res do Estado brasileiro. Sendo tária, modernizando o ensino, no Plano Nacional de Alfabeti-
importante ressaltar que a des- democratizando sua freqüência zação, analisa as contribuições
peito do movimento estudantil e investindo a educação supe- do Iseb aos movimentos sociais
estar envolvido no debate maior rior de uma orientação pedagó- dos anos 60: 13
das reformas de base, sua atu- gica popular O conteúdo pro-
Estudos Universitários
ação específica como categoria gramático das reformas de base “O que era ‘projetado’
política se voltava, sobretudo, estava embebido na ideologia
para a reforma universitária, a nacional-desenvolvimentista
pelos intelectuais do
qual previa o fim do regime de daqueles anos, programa polí- ISEB adquiria caráter
cátedra e da magistral persona tico este, que foi instituciona- pragmático e cunho de
do professor catedrático; a de- lizado com a criação em 1955
aplicabilidade através
dicação integral dos professores do Instituo Superior de Estudos
e técnicos da universidade; a Brasileiro, o Iseb. A Escola Su- dos ‘movimentos de
participação dos estudantes na perior de Guerra (ESG) – a Sor- cultura popular’. (...)
gestão universitária; e, princi- bonne brasileira, tal como era Enquanto o ISEB lança-
palmente, a defesa da educação conhecida - representava o viés
pública e ampliação dos recur- mais conservador e autoritário
va o problema da alie-
sos destinados a mesma. da ideologia nacional desenvol- nação cultural e pro-
vimentista. Foi na ESG que foi jetava uma ‘ideologia
As reformas de base representa- traçado o arcabouço da Dou-
para o desenvolvimen-
vam o piso comum, não de todo trina de Segurança Nacional,
coeso, de reivindicações dos se- projeto político totalitarista que to nacional, os MCPs
tores progressistas nacionais. O traçou as diretrizes do golpe de introduziam, de modo
viés reformista era tido como o 19648. Construídas a partir de concreto, o problema
caminho para a pré-revolução debates, conferências e reuni-
brasileira7 e desdobrava nas ões acadêmicas, as pesquisas
da democratização da
seguintes questões: a reforma realizadas pelo Iseb se voltavam cultura. Diálogo entre
eleitoral, estendendo os direi- prioritariamente para análise a cultura dos intelec-
6
No caso da FDR, a palestra com Célia Guevara (mãe de Che Guevara) terminou acentuando a tensão.
7
Tal como Celso Furtado esboçara, em 1962 num artigo com este mesmo nome no primeiro número da revista produzida pelo Serviço de Extensão Cultural da Universidade
do Recife: a Estudos Universitários. Vamireh Chacon escreveria neste mesmo periódico um artigo com o mesmo tema (Rumos da Renovação Brasileiro), tema este que se
faria sempre presente nos números subseqüentes da Estudos Universitários em artigos e estudos de Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Pierre Fuerter, Paulo Freire, Gadiel
Perruci, Nelson Nogueira Saldanha, Jarbas Maciel, Jomard Muniz, Aurenice Cardoso, Paulo Gaspar e Leandro Konder.
8
Sobre a Doutrina de Segurança Nacional consultar Diogo Cunha. Estado de Exceção, Igreja Católica e repressão: o assassinato do Padre Antonio Henrique Pereira da
Silva Neto. Recife: autor e Ed. Universitária da UFPE, 2008.
tuais e as atividades e cipal contribuição do movimen- se dispuseram a levar em con-
to do alunado às lutas sociais sideração as recomendações do
as realizações do povo. pelo desenvolvimento nacional. CFE.
Diálogo e comunicação Atualizar a universidade com
verdadeiros: não uma a realidade brasileira se inse- Desde que Paulo Freire dispu-
ria num quadro maior de luta tara e perdera a Cátedra de Fi-
atitude paternalista ou política justamente porque as losofia e História da Educação,
assistencialista, sim- reformas não passavam apenas na Escola de Belas Artes, para
plesmente ‘doadora’ pela modernização das escolas Maria do Carmo Tavares de Mi-
de algo, conforme o e currículos. Nem mesmo se res- randa, o reitor João Alfredo da
tringia à ampliação da atividade UR já vinha planejando uma
Prof. Paulo Freire, em científica através da pesquisa, alocação que garantisse auto-
artigo para ‘Estudos como fariam os militares. O cer- nomia às pesquisas que aquele
Universitários’, nº 4.” ne das reivindicações estava no vinha desenvolvendo no âmbito
papel social da universidade e da Educação Popular. O reitor
(BRITTO, 1964: 102-
de sua possível democratização. chegou a propor que a Cátedra
103) Na Universidade do Recife, as fosse dividida em Filosofia da
14 pesquisas orientadas por Paulo Educação e História Educação,
Em ensaio mais recente sobre Freire sintetizaram no campo proposta que Freire recusou
Estudos Universitários
Estudos Universitários
dência do Desenvolvimento do seleção pública antipatrimo- junto ao povo, através dos
Nordeste: a Sudene. O Recife nialista, antipatriarcalista e meios de divulgação a seu
contou com a fortuna de abri- anticordial (idem: 66). A cres- alcance;
gar sua sede e seu ilustre dire- cente demanda científica im- b) Contribuir, por meio de pu-
tor: Celso Furtado. Francisco pulsionou a pesquisa social no blicações, cursos, palestras,
de Oliveira que foi seu assessor Estado, dinamizando as insti- informes de interesse cien-
direto rememora a presença do tuições voltadas para essas fina- tíficos e outras realizações
ilustre economista na cidade: lidades específicas e ampliando culturais para o desenvolvi-
mento da cultura e das men-
“Havia sido estudante no Recife vindo da Pa- talidades regionais;
raíba, e do Recife se foi para freqüentar a Fa- c) Realizar, na Universidade e
fora dela, cursos de extensão
culdade Nacional de Direito da Universidade e seminários visando, sobre-
do Brasil. Seguia os conselhos do pai de que no tudo, ao estudo da realidade
Recife nada de importante voltaria a acontecer. e cultura brasileira e dos pro-
Celso desmentiu essas previsões, pois o Recife blemas da região;
d) Procurar divulgar ampla-
da Sudene foi provavelmente o lugar central do mente os trabalhos e as re-
conflito de classes no Brasil do final dos 1950 e alizações da Universidade do
toda década de 1960;” (2008: 65) Recife, proporcionando um
maior conhecimento de sua
A presença da Sudene acentuou as oportunidades para técnicos natureza e de seus objetivos
de certa forma esta efervescên- e pesquisadores das ciências
9
A extensão universitária começou a ser experimentada na América Latina em 1918 na Argentina, Universidade de Córdoba, pautada na consolidação e integração da
cultura universitária com os problemas maiores do país e seus cidadãos. Apesar de nos anos 1930 o Estatuto da Universidade Brasileira fazer referência a extensão, esta,
sobretudo normativa e doutrinadora, apenas nos anos 1960 se teria um primeiro movimento tentando consolidar as atividades propriamente extensivas. Este primeiro e
curto ensaio foi fruto do amplo debate proposto pelos movimentos sociais em torno da educação popular e da educação de adultos, habilmente incorporado a universidade
pelo hoje tão esquecido reitor João Alfredo e posto sob a liderança de Paulo Freire e sua equipe.
10
Conferir no Boletim do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife, nº 1. Recife, mar/abr de 1962
Por estar diretamente subordi- afirma o Prof. Luiz Costa Lima da cidade participando do Tea-
nado à Reitoria, o SEC gozava (secretário executivo da revista), tro de Estudantes de Pernambu-
de uma autonomia de produção nos termos da apresentação da co e do Gráfico Amador. Não há
e expressão semelhante às Esco- primeira edição (julho a setem- registro público de seu envolvi-
las, às Faculdades, aos Institutos bro de 1962)11 mento com o Partido Comunis-
e às Cátedras universitárias, des-
pertado ciúmes e queixas que se “Os que orientarão Estudos Universitários pen-
alastraram da comunidade aca- sam diferente. Para eles, a cultura implica pre-
dêmica aos defensores de uma
viamente em um ato de coragem, em uma bus-
cultura brasileira mais conserva-
dora. Sem dúvidas, a altercação ca de aproximação com a realidade, sendo, em
ganha uma maior intensidade suma, a resultante da aceitação pelo homem dos
quando Gilberto Freyre passa a desafios que lhe endereça a existência carrega-
publicar nos jornais da cidade
da dos problemas próprios à área particular, em
críticas severas ao reitor João
Alfredo e aos jovens professores que lhe dado viver (...).
integrados no SEC. Para o dis-
16 tinto sociólogo, o reitor havia A uma concepção idealista, cômoda e confor-
permitido que “comunistas” ou
mista de cultura propõem uma concepção rea-
Estudos Universitários
“para-comunistas” tomassem a
Rádio Universidade, os proje- lista: a cultura como aventura de risco e não ex-
tos de alfabetização de jovens e pressão de isolamento, como a anti-fuga, como
adultos e o periódico de cultura nomeação de uma vida em que se está inserto.
da UR, a Estudos Universitários.
Isto os leva a saber que uma busca cultural só
Foi amalgamando extensão e
comunismo sob o mesmo signo alcança êxito ao haver conseguido potenciar a
que os militares e seus cúmpli- visualização do homem. Daí então defenderem,
ces tentaram despir a univer- praticamente, que só através de uma preocupa-
sidade de seu papel político e
ção ativa com a atualidade brasileira teremos
social.
condições de formular um pensamento adequa-
A criação da Revista Estudos damente brasileiro: pensamento de quem pas-
Universitários e da Rádio Univer- sando a saber visualizar sua circunstância passe
sidade foram iniciativas de Pau-
a saber transpô-la criadoramente.”12
lo Freire quando estava à frente
do SEC. Com caráter marcada- A Rádio Universidade era diri- ta. A irritação profunda do cria-
mente interdisciplinar, a revista gida por José Laurenio, antigo dor de “Casa Grande & Senzala”
surgiu como instrumento de membro do coletivo de artes se deu em parte devido à aber-
comunicação e extensão que se gráficas da cidade, conhecido tura dada para que o Movimen-
prestava a publicizar um enten- como o Gráfico Amador (TEI- to de Cultura Popular colocasse
dimento contra-hegemônico, XEIRA, 2007). Tendo trabalhado no ar um programa radiofônico
isto é, um ponto de vista não em anos anteriores na BBC de de Cultura Popular e alfabetiza-
idealista, cômodo e conformista Londres, Laurenio dedicou sua ção. Sobre esse canal de dialogo
da cultura brasileira. Conforme juventude a inovação cultural entre o SEC e o MCP escreveria
11
Fragmentos da apresentação escrita pelo Prof. Luiz Costa Lima, na primeira edição da Estudos Universitários. Revista de Cultura da Universidade do Recife. Julho-Setem-
bro 1962. Páginas 5 e 6, respectivamente.
12
Estudos Universitários: Revista de Cultura da Universidade do Recife. Volume 1,. Recife, Universidade do Recife, Imprensa Universitária, jul-set. 1962: 5-6.
um professore visitante, Pier- Como a experiência só nós tivemos muito tra-
re Furter, que integrava o SEC:
“No nível de educação de base,
tinha sucesso porque balho para estabelecer
o SEC sustenta, com o auxilio partia da tomada de um equilíbrio de forças
de uma rádio emissora, o mo- consciência que os al- que eu não permitirei
vimento de cultura popular que fabetizandos faziam da ver posto em risco por
procura penetrar na – terra de
ninguém – dos subúrbios do
sua situação de opri- quem quer que seja”
Recife” (Pierre Furter - Jornal midos, em uma socie- (...).
do Commércio, 18 de novembro dade onde eles eram
de 1962, 2º Caderno, capa). excluídos até do direi- “Foi preciso o golpe mi-
Numa roda de diálogo, orga-
to de votar, as classes litar para que a classe
nizada pelo Prof. Paulo Rosas dominantes logo per- dominante tirasse de
sobre o tema da passagem dos ceberam o risco (...) cena os que ameaça-
anos 50 para os 60 (principal- com milhões de recém- vam as “regras prees-
mente sobre os anos que ante-
cederam ao golpe de Estado de
alfabetizados, munidos tabelecidas” e orga-
de um título de eleitor, nizasse ela mesma as 17
1964), da qual participaram al-
e virando legalmente a condições em que a in-
Estudos Universitários
guns membros da primeira ge-
ração do SEC13, Almeri Bezerra14 mesa, ou seja, votando clusão dos analfabetos
relata
à esquerda! Pode? pudesse ser feita não
“Paulo (Freire) não apenas sem risco, mas,
era de briga, mas, em Não pode! foi o que me sobretudo com vanta-
quantas brigas se viu disse, afável e cortês, o gens. A manipulação
empurrado. Quando se Coronel Governador das massas analfabetas
engajou no Movimento do Ceará, a quem fui não precisava mais do
de Cultura Popular e de- candidamente explicar insuportável e oneroso
pois assumiu a Secreta- o que estava tentando cabresto. O controle dos
ria Executiva do Serviço fazer em Fortaleza: ex- meios de comunicação
de Extensão Universitá- plicar “o método Paulo de massa - rádio e te-
ria (SEC) que ele mes- Freire” a um grupo de levisão - em vertiginosa
mo criou, as ocasiões universitários que que- expansão, garantiria a
não faltaram porque foi riam iniciar uma cam- inclusão dos analfabe-
aí que começou a se es- panha de alfabetiza- tos com direito a voto,
boçar o que seria logo ção de adultos. “Não dentro da ordem esta-
mais a Campanha Na- pode! ” me disse o belecida”.
cional de Alfabetização Governador. E me ex-
de Adultos (...). plicou: “aqui no Ceará
13
O registro desse diálogo pode ser acessado na página do Centro Paulo Freire de Estudos e Pesquisas. Seção Abrindo os Arquivos.
14
Almeri Bezerra foi professor contemporâneo de Paulo Freire quando lecionava na Escola de Serviço Social de Pernambuco e, posteriormente, no Serviço de Extensão
Cultural/Universidade do Recife.
Os projetos de educação popu- tença. Desde o ano 1962 que produção, no entanto o bairris-
lar representavam a principal a atuação de Luiz Costa Lima, mo não era nenhuma novidade
preocupação de Freire enquanto secretário da revista, vinha in- na província. O próprio Celso
dirigia o SEC. Por educação po- comodando alguns defensores Furtado havia sido vítima algu-
pular se entendia a construção da pernambucanidade e dos mas vezes das hostilidade dos
coletiva de um exercício educa- nordestinados. O Diário de Per- intelectuais regionais como nar-
cional conscientizador que pos- nambuco da época traz alguns ra Francisco de Oliveira:
sibilitasse ao educando se deslo- destes embates entre Costa
car da consciência intransitiva Lima e os defensores da região Certa elite do Recife
para a transitiva ingênua, que, e de sua estética17. O diálogo que gravitava em tor-
trabalhada em novas etapas do com os concretistas paulistas e no do mestre de Api-
sistema educativo, poderia se de outros intelectuais de outras
tornar consciência crítica, re- regiões do país despertou a fú-
pucos, os literatos e
volucionária e transformadora ria dos regionalistas, principal- subs que abundavam
do educando e de sua realidade mente quando foi publicado na na província que tinha
(FREIRE, 2007)15. Os professores Estudos Universitários artigos fama de produzir gran-
e técnicos engajados na forma- de Décio Pignatari, Haroldo e
ção dos alfabetizadores no sis- Augusto de Campos. Nossos be-
des nomes da literatu-
18 ra brasileira (...) tentou
tema Paulo Freire de Educação letrados acreditavam que a Es-
desmoralizar Celso
Estudos Universitários
Estudos Universitários
problema, resultando no seu n a m b u c a n a m e n t e,
afastamento da secretaria da economicamente for- acompanhamos – an-
Estudos Universitários no fi- te que detém o poder. tes, durante e depois
nal do ano de 1963. O artigo Professores e intelec-
publicado por Gadiel Perruci
do golpe militar de
tuais verdadeiramente 1964 -, em artigos nos
alguns dias antes da demissão
do jovem secretário nos permi- antipopulares no senti- principais jornais da
te sentir o tom que permeou os do de que interpretam província do Recife, sua
embates em torno da revista de ou se voltam para uma
cultura da UR : 22 escrita furiosa contra
realidade falsificada e todo os inevitáveis ou
O público nordestino artificialmente pré-fa- (im)possíveis subversi-
e brasileiro não terá bricada
23
vos que rondavam pe-
o que recear dos ata- O cenário de disjuntivas revela- las Universidades em
ques e das pressões va o horizonte de tensão social torno e bem dentro do
que tendia a se ampliar. Insaci-
que porventura se lan- ável, Freyre passa a publicar se- Sistema Paulo Freire de
cem contra a revista, manalmente artigos “pedindo a Educação de Adultos.
21
Oliveira ainda conta outro caso extremamente curioso sobre as provocações de Freyre e que vale a pena conferir: Gilberto Freyre, que foi o representante do Minis-
tério da Educação e Cultura no Conselho da Sudene durante a gestão Furtado, na mesma época da tentativa de destituí-lo alegou que não recebia havia meses o jeton
que se pagava aos conselheiros. Uma remuneração simbólica, pois os conselheiros tinham sua viagens e hospedagens pagas pelas instituições que representavam, e o
celebre intelectual morava no Recife. Sabe-se, aliás, que o mestre de Apipucos era um conhecido “mão de vaca”. Tendo-lhe sido mostrados os recibos com sua assina-
tura, Gilberto disse não a reconhecer. Se havia má-fé e intenção de desestabilizar Furtado, incluindo-o no rol dos que eram acusados de corrupção no governo Jango,
o renomado sociólogo não contava com o desassombro de Furtado. Em vez de procurar ajeitar-se com Gilberto, na tradição brasileira de compadrio, encomendou ao
Instituto de Criminalística da Polícia de São Paulo investigação sobre os recibos assinados, confrontando-o com outra assinatura de Gilberto Freyre que este reconhecia
como autêntica. O laudo foi taxativo: todas as assinaturas firmadas pela mesma mão. Apresentados os resultados a Freyre, este simplesmente se calou e nunca mais
voltou a falar no assunto. Furtado, elegantemente, arquivou o processo. (2008:75)
22
O mesmo Perruci que outrora elogiara o Freyre inovador das ciências sociais e humanas passava a criticar severamente o Freyre político e futuro ideólogo da ditadura
23
JC – 8 de novembro de 1963 – 2º caderno - capa
24
Mario Cesar Carvalho “Céu & inferno de Gilberto Freyre”, Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 12/03/2000; Fonte:http://www.cefetsp.br/edu/eso/patricia/freyreceuinferno.
html. Acesso em 18 de outubro de 2009. Ver também Túlio Velho Barreto “O político Freyre, um claro enigma”, Jornal do Commércio 18/07/2007;Fonte: http://www.fundaj.
gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=377&textCode=9063&date=currentDate; Acesso em 18 de outubro de 2009.
Seu apoio irrestrito, in- histórico, Gregório Bezerra, que nir os fragmentos mnemônicos
era seu companheiro de cela. que resistiram as investidas dos
flamado, incondicional militares e a toda produção de
ao golpe nos causava A grande maioria dos integran- esquecimento. As fogueiras da
talvez um misto quen- tes do SEC terminou no xadrez memória não pouparam nada,
te de raiva e repugnân- e muitos impelidos para o exí- nem mesmo os 12 quadros
lio. Da prisão nem mesmo es- pintados por Francisco Bren-
cia, para fazer uso de capou o jovem estudante de nand para ilustrar as situações
um advérbio tão seu – sociologia Marcius Cortez, que existenciais fundamentais na
talvez – e dois adjeti- com apenas 17 anos já integra- apreensão do conceito antro-
vos dos mais serenos e va o SEC (CORTEZ, 2008). Toda pológico de cultura (COELHO,
atividade de pesquisa produzida 2004: 222). Almeri Bezerra,
aliterativos em R, pela pelos membros do Serviço foi que na época era padre e havia
distância memorial que recolhida e destruída. Modo to- sido coordenador da Juventude
nos separa de tais ab- talitário e violento de produzir Universitária Católica do Recife,
surdos e brutais acon- esquecimento e dispersão. Con- acompanhou de perto o sofri-
tra o silêncio das fontes docu- mento de Paulo Freire. O jovem
tecimentos.” (BRITTO, mentais aniquiladas a memória padre fora escolhido por Freire
20 2002: 224 – grifos do tem sido uma importante aliada para vice-diretoria do SEC, as-
autor)
Estudos Universitários
Estudos Universitários
de Gilberto Freyre, O Simpósio Atentados poéticos. Recife: Ed.
sobre a problemática Universi- Encarar o passado foi bem isso Bagaço, 2002.
tária. Neste longo exercício de que a escrita deste texto fa-
avaliação escolar não se pode voreceu quase cinqüenta anos CESAR, Ana Maria. A faculdade
dizer que em nenhum momen- depois. Fica no ar o desejo de sitiada. Recife: CEPE, 2009.
to o SEC é mencionado, pois conhecer, de pesquisar a his-
este é lembrado como serviço tória da Extensão a partir de COELHO, Fernando Vasconce-
supérfluo e o seu financiamen- então. Saber como se deu seu los. Direita, volver: o golpe de
to mencionado como gastos ir- caminhar, considerando a tri- 1964 em Pernambuco. Recife:
responsáveis, desviando a “uni- lha muito estreita na qual teve Bagaço, 2004.
versidade de suas finalidades que andar por um tempo que
essenciais”. Em sua fala, Freyre se prolongou por várias décadas CORTEZ, Marcius. O Golpe na
convoca os catedráticos a resistir e que, além de deixar dolorosas Alma. São Paulo: Pé-de-chinelo
ao argumento da chamada “de- e profundas marcas, amesqui- Editorial, 2008.
mocratização dos diálogos”26. nhou importantes iniciativas.
A nova direção da UR deveria Levantar o que ficou (ou se re- CUNHA, Luiz Antônio. A Univer-
partir de questões estritamente cuperou) das idéias primeiras. sidade crítica: o ensino superior
regionais e “de uma orientação Conferir o quanto a “verdade da na república populista. 3ª ed.
que talvez possa ser acusada práxis cedeu lugar à estreiteza São Paulo: Ed. UNESP, 2007.
de elitista, isto é, de um tanto do pragma”29 ...
aristocraticamente valorizadora Estudos Universitários: Revis-
das elites, dentro dos sistemas ta de Cultura da Universidade
universitários”27. do Recife. Volume 1,2,3,4 e 5.
*** Recife, Universidade do Recife,
26
O Simpósio sobre a problemática Universitária, 1965: 122.
27
Idem: 138.
28
Sendo oportuno lembrar que Dimas Brasileiro, mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE, encontra-se dissertando sobre a Estudos Universitários.
Quiçá desta iniciativa decorra um livro.
29
Conferir em Konder (2009:83).
Imprensa Universitária, 1962-
1963.
Estudos Universitários
"cuando montar quisimos en pelo una quimera"
(Antonio Machado, "Una España joven")
Pedir-se a um homem comum da revista Estudos Universitá-
que pense e, publicamente, for- rios. Seu surgimento fazia par-
mule uma experiência pela qual te de um ambicioso projeto de
passou há 47 anos não é uma reforma universitária concebi-
iniciativa ordinária. Mas é bem do pelo Reitor da Universidade
isso que Dimas Veras solicita de Federal de Pernambuco (então
mim. mais modestamente chamada
de Federal do Recife), o médico
Há 47 anos, mais precisamen- e professor João Alfredo Gon-
te, apontando para os meses de çalves da Costa Lima – apesar
julho a setembro de 1962, era do sobrenome, não tínhamos
publicado o primeiro número nenhum parentesco. Por inicia-
1
Professor titular da PUC (RJ), integrado ao programa de História Social da Cultura.
Autor de mais de 15 livros sobre teoria da literatura, literatura comparada e literatura brasileira, dos quais o mais
recente se chama O Controle do imaginário e a afirmação do romance (Dom Quixote, As Relações Perigosas, Moll
Flanders, Tristram Shandy); três dos seus livros foram traduzidos para o inglês e um para o alemão.
Professor da University of Minnesota (1984 – 1986); visiting professor de várias universidades (Stanford, Johns
Hopkins, Montreal, Paris VIII, Pontificia Universidad de Chile (Santiago). Universidad Iberoamericana (Ciudad de
México) e pesquisador do Zentrum für literarische Forschung (Berlim)
Recebeu prêmio concedido ao investigador estrangeiro do ano de 1992 pela Alexander Von Humboldt-Stiftung
(Bonn) (Alexander Von Humboldt-Stiftung Preis für Geisteswissenschaft). Endereço eletrônico:
costalim@visualnet.com.br
tiva sua, eram criados o Serviço Universidade. Em sua compa- não de amargura. Mas não risco
de Extensão cultural (SEC), uma nhia, ajudando-os no que po- a frase que acabei de escrever
Rádio Universitária e a revista dia eu ficava, muitas vezes até pois recordo do que me dizia,
Estudos Universitários. A Rádio de madrugada, quando a revista em voz baixa, um amigo, em
e a revista seriam subordinadas estava para sair. De um deles, me uma das prisões em que, meses
ao SEC, confiado à direção de lembro com particular carinho, depois do golpe, nos encontra-
Paulo Freire; enquanto a Rádio “seo” Valdemar, encadernador mos,: “Lula, por sorte não ga-
era dirigida por José Laurênio de meus livros. Ser secretário e nhamos”. Atônito, se não indig-
de Melo, que já trazia a expe- pau-para-toda-obra não chega- nado, não precisei pedir-lhe que
riência de, durante anos, haver va a parecer trabalhoso. Eu era se explicasse. No mesmo tom de
sido o encarregado pela BBC de jovem, recém-tornado da Eu- voz, acrescentava: “Se tivésse-
Londres, para a seção brasilei- ropa, amigo e vizinho de Paulo mos ganho, não saberíamos o
ra; a mim cabia o posto de se- Freire, impaciente em contribuir quê fazer”.
cretário executivo da revista. A por um Brasil menos familista,
Estudos universitários contava menos patriarcal e autoritário. Dolorosamente, tantos anos
com um Conselho Universitário, passados, reitero o que ouvia,
formado por 12 catedráticos da Ao pensar nesses termos, dói a e, recorrendo a uma passagem
24 Universidade, e uma Comissão saudade dos tantos amigos que de uma espécie de declaração
de Redação, constituída por “a indesejada das gentes” já le- de princípios que, a partir de
Estudos Universitários
mais 3. Não exagero em dizer vou: Paulo, José Laurênio, Se- seu terceiro número, Estudos
que, salvo alguns que conhecia bastião, João Alexandre Barbo- Universitários incluía, procuro
desde antes, nunca um dos 15 sa, Gastão de Holanda, Orlando refletir sobre a cena: “Cultura
quebrou uma palha pela revis- da Costa Ferreira; com alguma é (…) inserção e não fuga, fru-
ta. De todos, guardo com ex- tristeza, embora sem saudade to não só da inteligência, mas
tremo afeto o nome de Rui da daqueles que o golpe de 1964 também da coragem individual”.
Costa Antunes, que havia sido fez com que, de um dia para Toda a ênfase se apoiava nos
meu professor de Penal, na Fa- o outro, mudassem de barco. nomes ‘inserção’ e ‘coragem in-
culdade de Direito do Recife, o A falta que aqueles provocam dividual’. Implicitamente, a de-
único que, como adiante rela- é acompanhada por incômoda claração entendia que inserção
tarei, me defenderia, na última pergunta: que teria sucedido se, era a nossa. Mas já sabíamos
reunião de que participei, na em lugar de derrotados, tivés- que havia outras, algumas que
sala do Reitor, em fins de 1963. semos vencido? Retrospectiva- também se consideravam de es-
Durante o tempo em que fui se- mente, se revejo a cara alegre querda, que seriam igualmente
cretário – de julho de 1962 até, e entusiasta daqueles que, com perseguidas e cuja história pas-
aproximadamente, novembro frequência, se reuniam para o sada as mostrava ligadas a uma
de 1963 – meus colaboradores café no SEC e o otimismo esfu- inserção exclusivista e esma-
eram os amigos que estavam ziante de Paulo, por outro lado, gadora das alternativas. O que
e/ou prestigiavam o SEC – Se- como se o próprio tempo hou- aqui digo não tem nenhuma
bastião Uchoa Leite, Marcius vesse se encarregado de dar- novidade para quem tenha al-
Cortez, Paulo Menezes, Gastão lhes um outro rosto ou, pelo guma experiência política. Mas
de Holanda, Orlando da Costa menos, até então o escondes- era isso precisamente que não
Ferreira, Jomard Muniz de Bri- sem, vejo marcas e rugas de um tínhamos. Supúnhamos – ou
to, Juracy Andrade, mais alguns espírito contrafeito. É por certo melhor, eu supunha – que a co-
que talvez hoje não gostassem estranho combinar a imagem ragem individual era o bastan-
de ter seus nomes aqui arrola- de uma vitória que não houve te. Como era possível que fosse
dos – e os velhos tipógrafos da com sinais de contrariedade, se tão ingênuo? Mas não tenho o
direito de criticar o jovem que sucedera e não só se publica- passagem capital, eu fazia uma
então era – embora intelectu- ra, entre o número anterior e o brincadeira que reconheço de
almente já tenha mandado meu presente. Aproveito a referên- extrema maldade. Se ainda se
voluntarismo pro lixo, nas horas cia para retomar o andamento tratasse de um astro do cinema,
de transe volto a me comportar rememorativo. Foi por conta era o que mais ou menos dizia,
como se a coragem individual dessa seção que a revista não ainda se explicava a manifesta-
fosse suficiente para dominar esperou pela chegada do golpe, ção de narcisismo etc etc. Até
situações adversas. sendo seu secretário demitido e parece que era eu próprio que
sua publicação provisoriamen- procurava um estopim. A verda-
Antes de continuar esse breve te suspensa entre novembro e de é que em poucos dias a ba-
relato rememorativo, gosta- dezembro de 1963. (Como o talha estava iniciada. Por maior
ria de chamar a atenção para número 5 cobria o trimestre de que fosse o apoio que sempre
o que, havendo sido publicado julho a setembro, haver a con- recebera da Reitoria, terá sido
naqueles cinco números, ultra- fusão estourado entre novem- dela que veio a ordem de o
passou os 47 anos e permanece bro e dezembro parece mostrar número 5 ser recolhido, a pá-
uma leitura digna, se não mes- que sua publicação saíra com gina que continha o comentá-
mo de qualidade. Destaco, no uns dois meses de atraso, pois rio expurgada e eu convocado
número de abertura, o poema o acidente que a seguir relato para comparecer a uma reunião 25
“Teoria do ócio”, de Sebastião sucedeu poucos dias depois de de emergência. (Foram muito
Estudos Universitários
Uchoa Leite, ali editado pela a revista estar em circulação). A poucos os números inteiros que
primeira vez e, no número 2, o razão do acidente não foi outra escaparam da censura. A pró-
ensaio “A Serpente e a lira” de senão a imprudência de quem pria cópia da coleção dos cin-
Orlando da Costa Ferreira. Com aqui escreve. Relato-o sintetica- co números que Dimas Veras
esse título valeryano, Orlando mente. teve a gentileza de me enviar
introduzia uma reflexão sobre não contém a folha censurada).
a menos metafórica das letras, Para quem conheça os artigos Das pessoas que participaram
a letra como unidade mínima que Gilberto Freire publicava, da reunião, lembro-me apenas
da tipografia, objeto de devo- alguns meses antes do golpe, do próprio Reitor, de Rui Antu-
ção de toda sua vida. No mes- no Diário de Pernambuco, não nes e da professora de filosofia
mo número 2, ainda ressalta o estranhará que eles tenham de- Maria do Carmo Miranda. Lem-
“Poésie et société” de um suíço, cididamente contribuído para bro-me de meu ex-mestre de
Pierre Furter, que esteve no Re- que o Recife letrado se dividisse Direito Penal, mesmo porque só
cife, depois por todo o país, du- entre os partidários do soció- nele encontrei apoio. Em troca,
rante alguns anos. Lamentavel- logo de Apipucos e os “comu- a professora Maria do Carmo
mente, os erros gráficos foram nistas” do SEC. Mesmo pessoas mostrava toda sua indignação
tantos que certas frases, para que eram amigas de Paulo Frei- de conservadora “enragée” con-
serem bem compreendidas, te- re e vieram a apoiá-lo quando tra o desrespeito ao mais ilus-
riam de ser restauradas. Destaco começou a ser perseguido pelos tre intelectual da terra. Diga-se
por fim a seção de “resenhas”, golpistas vitoriosos, então ain- de passagem: minha desastrada
introduzida a partir do número da se pronunciavam a favor de manifestação de coragem (de
4 (abril – junho, 1963). Já não Gilberto Freire. Pois bem, diante coragem ou simples bravata?)
sei por que a seção se chamava de um artigo seu em que acu- não teria tido a consequência
de resenhas, pois recordo que a sava os “comunistas” infiltrados que teve se eu tivesse ouvido a
intenção, desde seu início, era nos jornais de escolherem fo- recomendação sensata de Se-
fazer daquele espaço uma pa- tografias em que ele aparecia bastião: “olha bem, Luiz, isso
norâmica do que de importante “feio”, depois de transcrever a vai dar confusão”. Mas não o
ouvi. Por maior que fosse o em- É pena, mas, na verdade, com
penho de Rui Antunes e, posso a vida não aprendemos senão a
imaginar, a simpatia do Reitor, guardar um terreno maior para
minha demissão era inevitável. a defesa.
Estudos Universitários
Esboçamos uma leitura trans- Reler 1962 em 2009 é um risco,
versal entre gerações que prefe- talvez ameaçado por risos me-
riram dizer não aos que culti- lancólicos. Sem medo de cativar
vam o memorialismo enquanto o cosmopolitismo na província
transação de oportunidades. Ou entre teorias e práticas, múlti-
mais grave: trama de oportunis- plos letramentos e escrituras.
mos na fogueira de vaidades. Sem temer exercícios de cali-
Pelo vazio das novidades. Além grafia entre os links da internet.
e aquém da rima pobre de todas Que nos percam do desespero
as idades. Qual o lugar do con- as concreções contundentes de
temporâneo? Sebastião Uchoa Leite:
guração: rigor argumentativo, tos. A SUDENE intercalando vés do Prefácio de uma Tradu-
sedução escritural e dispositi- Universidades e Movimentos de ção. Texto de autoavaliação de
vos analíticos. 1962 em 2009. Cultura Popular. sua obra germinal da juventu-
O verde-oliva da capa sugerin- de à maturidade – Social Life
do uma exclamação do progra- Mas o texto seguinte, autoria in Brasil in the Middle of the
mador visual Anacleto Eloi que do Secretário-Executivo, Prof. 19th century – Gilberto Freyre
nos cedeu sua coleção. Sem es- Luiz Costa Lima, se posiciona veio demarcar sem fronteiras
quecer o único poema editado, em termos de um realismo crí- seu lugar na História Universal
Teoria do Ócio, por Sebastião tico ao contextualizar: “O Bra- da Cultura. Das culturas. Das
Uchoa Leite: sil de hoje se apresenta como instituições de pesquisa. Das
Fundações de meta-universida-
Para que serves senão finalidade inútil des. “É o que o autor hoje ve-
florescimento estético ou metafísico sem memória? rifica com maior alegria, ao ler
trabalho escrito em idade ainda
Com Apresentação do Reitor uma vasta estrutura em trans- tão verde: não o turva nenhum
João Alfredo Gonçalves da Cos- formação. (...) “a presença em cientificismo, embora só o pu-
ta Lima situando... “a vivência choque de duas mentalidades. desse, talvez, ter realizado quem
da Universidade como um dos Uma, ardilosa ou ingenuamen- juntasse à sensibilidade ao pas-
meios de formar o homem inte- te conservadora, outra crítica sado da sua própria gente for-
gralmente, permitindo-lhe sen- ou sentimentalmente aderida à mação rigorosamente científica
tir as perplexidades do comple- transformação nacional”. Com em universidades estrangeiras”.
xo do ser”. parágrafo adiante, decisiva-
mente empenhado: “A luta por O melhor hermeneuta de si
Tempos de esperança quando a uma cultura brasileira desalie- mesmo e de sua obra enciclo-
experiência de vida podia aglu- nada, autenticamente situada, pédica, Gilberto Freyre jamais
tinar no mesmo período ima- não pode deixar de conter fla- seria cúmplice de qualquer for-
ginário, enquanto sintoma em grantes contradições, notada- ma de esquecimento: “Ao mes-
mo tempo, certo modo como em 1964. A seu modo, acima e consciência mais clara da res-
que impressionista, de tentativa abaixo dos ideologismos? Ou ponsabilidade”.
de reconstituição do passado apenas dos idioletos?
mais íntimo e até mais sexual Celso Furtado, brasileiro de Essa pré-revolução brasileira
do brasileiro – modo tornado
possível pela atitude empática Existe, é certo, uma paixão inútil:
do autor com relação aos fatos Os ardentes amam a feiúra
e, principalmente, ao elemento mas outros só podem amar a crueldade.
humano, uns e outro evocados
mais com alguma saudade dos competência universitária in- enfrentava não apenas os sons
antepassados do que com siste- ternacional, além das literatu- dançantes da bossa nova, dos
mática repugnância pelo antigo ras e filosofemas, investe sua frevos e cirandas, mas sobre-
só por ser antigo – já está pre- criticidade em Reflexões Sobre tudo os impasses da ética na
sente no agora intitulado Vida A Pré-revolução Brasileira. política, do planejamento para
Social no Brasil nos meados do Então ficamos sabendo que o desenvolvimento em conjun-
século XIX”. “o desenvolvimento de que to, da educação como prática
tanto nos orgulhamos, ocor- da liberdade, da Universidade
Empatia. Gestaltismo. Inter- rido nos últimos decênios, em abrindo horizontes d’O Gráfico 29
penetrações. Tempo tríbio. Stº nada beneficiou três quartas Amador ao Movimento de Cul-
Estudos Universitários
Antônio de Apipucos no mapa partes da população do país”. tura Popular.
mundi: dos regionalismos ao Entre 1962 e nossa contempo-
além do apenas moderno. raneidade, o que fazer se “os Enquanto Claudio Souto funda-
menta e apresenta a viabilidade
Coração do ser pulsando em movimento, de Um Projeto de Lei Agrária
só em pensar permanece imóvel: para o Estado de Pernambuco
o espírito cria imobilidade. através de “princípios jurídicos
básicos”, em texto mais inquie-
A água não se recorda de si mesma, tador Vamireh Chacon expõe
reflete sem memória, não há tempo a radicalidade de suas indaga-
mas ato puro, eterno presente. ções:
Para melhor confirmar a onipre- grandes contratos de obras “Por que nunca se fa-
sença de Gilberto e seu legítimo públicas passaram a ser fonte lou tanto em ‘reformas de
reconhecimento pela Revista corrente da acumulação rápi- base’, no Brasil, e elas não
em questão, o estudo de Gadiel da de fortunas dentro e fora vêm? Esta pergunta com
Perruci – Uma Europa Nova – do Governo”? Enquanto Celso frequência morde o sub-
está impecável na perspectiva de afirma, continuamos indagan- consciente de muita gente,
superação de todos OS ISMOS, do por ele mesmo: “em outras ou mesmo explode em os-
do “cidadão de uma pátria cha- palavras: a nossa impotência tensivas impaciências. Por
mada Trópico”. Entre os ismos em face do impasse mundial que???”
sem aspas não apenas imagis- tem como reverso uma maior
mos, impressionismos, mas so- margem de liberdade no que Entre os dois intelectuais parti-
bretudo capitalismos e comu- respeita à determinação dos cipantes, Claudio e Vamireh, tão
nismos. Tempos conturbados próprios objetivos. E como soe acesos por nossas contradições,
em 1962. Gilberto teve coragem acontecer, essa margem maior surge a figura que continua até
para suportar o civil-militarismo da liberdade traz consigo uma hoje paradigmática em busca de
nossa fundamental democrati- de todas as barras, cortes, exí- das privacidades. Para evitar o
zação: Paulo Freire. lios e autoexílios, sofrimentos e eterno retorno do apocalipse em
oportunismos. Nação Brasil. Na- 2012 nas telas e nos sem teto,
Tempos de criticidade ritmando ção Pernambuco, assim prefere por que NÃO rememorar mais
com amorosidade. Da Revista o discurso oficioso. Da nação um fragmento recortado do belo
que tentamos resenhar alguns sempiternamente cruel em suas e amargo poema-testamento de
textos – ESTUDOS Universitá- apartações e desigualdades. época do Sebastião Uchoa Lei-
rios, 1962 – Paulo Freire es- te?
creveu O Professor Universi- Interações, interpenetrações mais Talvez nos reste apostar na es-
tário Como Educador. Diálogo
e criticidade são suas palavras Assobiamos uma fuga de Bach
geradoras, tais como seriam, se- e sorrimos ante a lembrança do futuro
gundo a pedagoga-psicanalista
Dulce Campos, as situações-li-
porque sorrimos ante a idéia da morte.
mite da compreensão antropo- Bela é a fúria da máquina
lógica do Sistema Paulo Freire que intenta apanhar-nos em nosso destino.
de Educação de Adultos. ...
30
Impossível resenhar, como tal- do que perigosas entre política e perança dos micropoderes. O
Estudos Universitários
vez desejássemos, toda a plu- marketing. Jornalismo e Publici- resto é mar? Recife, outubro/
ralidade temática do número dade. Artes e Mercadorias. Du- novembro de 2009.
inaugural da Revista ESTUDOS alidades intransigentes. Globali-
Universitários da Universidade zação do politicamente correto.
do Recife, atual UFPE, lançado Anarquismos no liquidificador.
em 1962 e que agora ressurge Cosmopolitismo dos pobres e
ou se reinventa. Nossa percep- das classes médias carecendo dos
ção seletiva não foi capaz de fundos de incentivo governa-
encarar, reler e fruir do caráter mental. Paródias em nova tipo-
pluralista, polêmico e instau- logia das culturas chapa branca.
rador entre altas culturas e as Inventores auto-proclamados.
mediações interdependentes Mestres e diluidores embalados
no e do meio acadêmico para pelos orçamentos participativos.
o INTEIRO AMBIENTE, segun- Literaturas abaladas pela inter-
do expressão do pensador Fábio net. Fundamentalismos revisi-
Coelho, de nossas contradições tando seitas, dogmas, profecias.
transformadoras e sobretudo Depressionismos entre a física,
das múltiplas contra-dicções as populares religiosidades, as
de linguagem. Mas o NÃO da academias e a carnavália do Blo-
abertura desse texto, por uma co do Nada. A extensão audiovi-
imprecisa dialética da negati- sual da psicanálise esquecendo e
vidade, em nossos maneirismos recordando o mal estar das civi-
existentivos, continua sempre lizações e sifilizações. O mais ba-
atento, alerta e frágil, mas sem nal de nossa psicopatologia da
medo de temer a sorte... vida cotidiana continua sendo o
hibridismo perverso que devas-
Geração revisitada? 1962/2009 sa a coisa pública em benefício
As oligarquias culturais
e os palhaços da burguesia Marcius Cortez1 (escritor)
31
Estudos Universitários foi uma da publicação, gente que acen-
revista que não ficou botando dia velas para verdades extrema-
Estudos Universitários
banca. O objetivo dos seus edi- mente subjetivas e ingênuas.
tores era fazer uma boa revista
de cultura e nada mais do que Apesar disso, Estudos Universi-
isso. Sua fórmula consistia numa tários foi alvo de muitas críticas.
linha programática bastante de- Uma delas era que a redação fa-
finida e num projeto gráfico que lava demais em alfabetização e
primou por entendê-la como um educação de adultos. Na época,
todo. Do número um ao cinco – a Rádio Universidade do Recife,
1962/1963 - a diagramação da dirigida pelo poeta José Laure-
capa e o miolo se caracterizaram nio de Melo também entrou na
por uma unidade que lhe per- roda por conta do seu bordão
mite ser moderna após tantos publicitário: “Rádio Universida-
anos. Os cubos e as letras no es- de do Recife, a serviço da demo-
paço em branco da capa, varian- cratização da cultura”. Sem dú-
do de cor a cada edição, tem a vida, uma crítica preconceituosa
marca do bom design. Outro seu e equivocada porque o país se
grande mérito foi a diversidade encontrava mobilizado para er-
– tão em moda hoje em dia. Po- radicar o analfabetismo: viví-
rém, vamos deixar para depois o amos a euforia do PNA, Plano
porque dessa atualidade... À pri- Nacional de Alfabetização, obra
meira vista, numa passada pelos do Presidente João Goulart,
sumários das suas cinco edições, cujo objetivo era criar vinte mil
o leitor se impressionará com o círculos de cultura para atingir
espaço ocupado por ensaístas e dois milhões de brasileiros com
colaboradores que não tinham a implantação do método Paulo
nada a ver com a linha editorial Freire. No mais, à sua maneira, a
1
Endereço eletrônico: marciuscortez@hotmail.com
revista abria seu leque para eco- por se retirar de uma vivência e tinha percebido o mal que isso
nomia, pedagogia, arte, cinema, um tempo comunitário e, conse- faria à cultura brasileira.
atualidades (Angola, Cuba), fi- quentemente, de uma inserção
losofia (destaque para artigos em profundidade nesta vivência Foi a faca afiada do cozinheiro
sobre o Marxismo), antropo- e neste tempo comunitário. de almas que cunhou o termo
logia, história, ciências exatas, palhaços da burguesia.
medicina social, religião, crítica A verdade principal desse meu
de cultura, ciência política e é pequeno depoimento começa a Talvez por masoquismo, ou seja
bom lembrar que, de repente, aparecer. Fazer uma revista que lá porque, a nossa obsessão seja
no meio dos ensaios, estudos não seja alienada, em nosso país, gostar de pensar o mundo, jus-
e resenhas, aparecia um verso é impossível. Há duas pedras no to esse mundo que resiste ao
inteiro de algum poeta contem- caminho de qualquer publicação pensamento. Ou em outras pa-
porâneo (o primeiro número nos que pretenda ser independente lavras, somos movidos por nos-
trouxe “A Teoria do Ócio”, - já e corajosa: o clientelismo, tam- sas contradições. Possivelmente,
naquele tempo - , de Sebastião bém conhecido como brodagem, por conta de tudo isso, o cor-
Uchoa Leite). Muito bem, a essa e o monopólio. Nosso mercado dão dos insubmissos navegantes
altura, você deve estar se per- editorial, por exemplo, congrega cada dia aumenta mais, apesar
guntando “o que houve para distribuidores, livrarias, editoras da dureza que é fazer emergir
32 uma publicação assim não pas- privadas, editoras universitárias das profundezas a noite móvel
sar dos cinco números?” Ou in- e entidades institucionais como que nos habita.
Estudos Universitários
Estudos Universitários
militar de 1964, é relançada a Educação e em seu método de
revista Estudos Universitários, alfabetização de adultos. Mas
que era editada pelo Serviço de lembro que ela foi concebida
Extensão Cultural (SEC) da então como uma publicação destinada
Universidade do Recife, chefiado a abrir espaço para a divulgação
pelo professor Paulo Freire (hoje das ideias e trabalhos dos pro-
Pró-Reitoria de Extensão da fessores da universidade, algo
UFPE). Antes de algumas con- comum em instituições do gê-
siderações sobre o que fazíamos nero e que não tínhamos.
naquela época, nós integrantes
da equipe desse autêntico gran- Depois da anistia de 1979,
de homem que revolucionou a quando fui reintegrado à UFPE
educação brasileira, ao lado de (fui demitido em 1964 com base
Anísio Teixeira e Darcy Ribei- no primeiro, e na época único,
ro, registro meu agradecimento Ato Institucional) e ocupei, até a
pelo convite para que eu parti- aposentadoria, o cargo de coor-
cipe deste relançamento. denador da Assessoria de Comu-
nicação Social, procurei saber
Não tenho mais nenhum exem- por que se havia abandonado a
plar da revista. A sede do SEC revista Estudos Universitários. A
foi saqueada pelos “revolucio- informação que consegui é de
nários”, desaparecendo precio- que sua publicação fora con-
sa incipiente biblioteca, obras fiada ao professor e poeta César
de arte e caros equipamentos Leal, que não se interessara pela
que eram utilizados na aplica- sua retomada.
1
O autor tem formação em filosofia e teologia e é jornalista. Endereço eletrônico: juracy.andrade@gmail.com
Concentrei-me, então, com a alheias aos legítimos interesses sassinatos de inconformados,
decisiva colaboração das colegas nacionais. Por toda parte bro- demissões arbitrárias, cassações
Teresinha Nunes (que ainda não tavam publicações, movimen- de parlamentares comprometi-
era deputada) e Luzanira Rego tos culturais, sociais, políticos dos com o povo.
(precocemente falecida), em me- dedicados ao objetivo de levar
lhorar a imagem da universida- o nosso país a ser dono de si Os autointitulados “revolucioná-
de, intensamente bombardeada mesmo, do seu destino, das suas rios” acharam que isso não bas-
na época devido a desentendi- riquezas. Talvez fosse cedo de- tava para conter o comunismo
mento entre o reitor Geraldo La- mais para se conseguir obter tal e então veio o golpe dentro do
fayette e Gilberto Freyre. Desen- objetivo, o que em parte está se golpe, com o Ato Institucional
tendimento que repercutia em conseguindo hoje (falta muito), nº 5: mais repressão, mais cassa-
abundantes matérias negativas tanto tempo depois. ções, tortura de presos políticos,
no Diário de Pernambuco, mui- desaparecimentos, um enorme
to ligado ao segundo. A pro- No Nordeste, que ganhara a atraso que só agora, tantos anos
pósito, com toda a veneração possibilidade de se reintegrar à após a redemocratização, come-
devida ao mestre de Apipucos, Federação com a Sudene origi- ça ser lentamente recuperado. A
lembro que foi ele, devido a de- nal de Celso Furtado, e sobretu- retomada de Estudos Univer-
34 sentendimento com outro reitor, do no Recife, as iniciativas pela sitários certamente contribuirá
João Alfredo da Costa Lima, que contemporaneidade do progres- nesse sentido.
Estudos Universitários
Estudos Universitários
comprometidos sempre com as a sociedade passa, necessaria-
peculiaridades sociais e econô- mente, por um periódico assim,
micas da gente de Pernambuco com a possibilidade de abordar
e especialmente voltados para as temas que interessem de perto o
particularidades culturais do Es- poder público e cheguem à so-
tado. Uma instituição acadêmica ciedade organizada. As grandes
do porte da UFPE, precisa mes- questões de Pernambuco, so-
mo dispor de um veiculo assim, bretudo as atuais, aquelas liga-
capaz de servir ao pensamento das ao petróleo, à refinaria e ao
dos professores e dos pesquisa- estaleiro, reconhecem a discus-
dores da Casa. Pensamento que são e o debate desses assuntos
não deve se restringir às publi- de forma ampla, notadamente
cações de natureza estritamente com a inserção dos docentes da
científica, nas quais as normas academia, no caso em particular,
para publicação exigem uma dos pesquisadores que são pro-
metodologia própria, as quais fessores da Universidade Federal
são, por vezes, limitantes. De de Pernambuco, sem desprezar
mais a mais, entende-se que as as demais, em pé de igualdade
ciências e as vertentes da cultu- com a instituição primeira. Há
ra e das artes se relacionam com uma nova perspectiva no Estado,
facilidade, permitindo ao inves- especialmente no Recife, o declí-
tigador ou ao ensaísta a produ- nio da violência urbana; declínio
ção de textos que sejam plurais, que resulta de um esforço con-
multidisciplinares e transdisci- junto das lideranças de governo,
plinares. Nisso Gilberto Freyre mas que é fruto do planejamento
1
Professor da Universidade Federal de Pernambuco/UFPE e membro do Conselho Estadual de Cultura. Endereço
eletrônico: pereira@elogica.com.br
e da execução de um programa muito da arte para ser escrito e natural nos distantes rincões;
criado por um doutor da UFPE. discutido; para ser lido, princi- natural e até importante, por-
Um tema de grande atualidade, palmente. que na crença do povo – a Igreja
o qual não poderá dispensar o contribuiu para isso – os meni-
concurso de outros interessados Paulo Freire, que inspira este nú- nos falecidos viravam anjinhos
nesse esforço que vai dando cer- mero da Revista Estudos Univer- protetores da família nos céus.
to e poderá servir de mote para sitários, a quem conheci pesso- Mas Freire não fez, somente,
um dos números futuros. almente numa das vezes em que essa mudança no palavreado das
esteve na Universidade Federal cartilhas, tendo trabalhado espe-
Há certos assuntos, como a eco- de Pernambuco, foi um pionei- cialmente no sentido de libertar
logia e o meio ambiente, o sane- ro, um antecipador social. Por o homem do jugo em que vivia,
amento, a formação técnica dos isso, pelo pioneirismo e pela an- sob os grilhões da ignorância e
jovens para o mercado de traba- tecipação de suas iniciativas, pa- do analfabetismo. Por essa razão
lho em expansão e a temática receu tão ameaçador para o re- promoveu a inclusão social da
de agora, a do analfabetismo, gime ditatorial. É assim, quando pessoa; da pessoa simples, hu-
enfocando Paulo Freire, espe- o homem pensa, mesmo sendo milde.
cialmente. Não é exagero incluir um cidadão simples, com toda
36 assuntos que contemplem o es- certeza cria asas e torna-se ca- Quando Paulo Freire visitou a
pírito, tais como a prosa e a po- paz de exercer a cidadania. Tem Universidade numa das vezes em
Estudos Universitários
esia. Pernambuco é o celeiro das condições de falar e de ser ou- que esteve em Pernambuco, o
letras, porque foi aqui que se es- vido, mas sobretudo tem como cerimonial concedeu a palavra a
creveu o primeiro livro brasileiro: fazer a escolha certa na hora do um prefeito analfabeto. Ele su-
a Prosopopeia. Bento Teixeira foi sufrágio nas urnas. E isso pode biu ao palco e disse: “Não tenho
quem redigiu este poema épico; mudar e muda todo o contexto inveja de ninguém! Só tenho in-
uma peça em termos de criação tradicional do eleitor de cabres- veja de quem sabe ler!”. Na ver-
literária. Mas, foi por cá, de igual to, do antigo coronel do interior, dade, aquele político estava se
forma, que a medicina prospe- que mandava e desmandava, que queixando ali, em nome de todos
rou, quando se publicou o resul- indicava o candidato e até, como os que vivem à margem da so-
tado das pesquisas de Guilherme sucedia às vezes, deixava de re- ciedade, porque não sabem ler e
Piso e Georg Marckgraf, médicos velar o nome sufragado, justi- por isso mesmo não se integram
e naturalistas da expedição de ficando que o voto era secreto. à vida comunitária e social. Sen-
Nassau. Ou foi por cá, também, Isso desaparece no momento em do assim, Paulo Freire, que não
que veio à luz os livros de Mou- que o matuto ou o homem nas- admitia fosse o homem frustrado
rão, Rosa e Pimenta. Esses te- cido no esturricado dos agrestes em seus direitos mínimos, talvez
mas, sobretudo históricos, bem aprende a ler e passa a se incluir tenha sido o introdutor do per-
que poderiam ser incluídos no no seio social. tencimento entre as populações
elenco de assuntos selecionados periféricas, marginais. E talvez
para o porvir das coisas. O grande educador acabou com tenha sido o mesmo educador o
a velha frase das cartilhas de ou- introdutor, também, do empo-
É esse intercâmbio, em tudo sa- trora: “A vovó viu a uva!”. Ora, a deramento social. O responsável
lutar, pode contemplar, também, vovó da gente nordestina nun- pelo poder que pode ter e tem o
as diversas manifestações cul- ca viu uma uva sequer, antes se cidadão comum no exercício de
turais e artísticas, promovendo habituou a ver o sofrimento da seus direitos e deveres.
estudos que sejam definitivos fome, da desnutrição e da diar-
no tocante às origens dessas réia. Da mortalidade infantil, so-
expressões da cultura local. Há bretudo, tomada como um fato
Entrevista
39
Um trabalho rico
Estudos Universitários
de possibilidades 1
1
Entrevista realizada com o Professor Jarbas Maciel em 27 de novembro de 2009, por Miriam Vila Nova Maia,
Dimas Brasileiro e Djanyse Mendonça. Endereço eletrônico de Miriam Vila Nova: miriamufpe@hotmail.com
2
Endereço eletrônico do Prof. Jarbas Maciel: jmrecife@terra.com.br
preza, responde: “o de ter sido aluno do maestro Guerra Peixe,
um dos maiores compositores de vanguarda do Brasil, um dos
mais importantes compositores dodecafonistas e um dos maiores
folcloristas do país!”.
Sobre a fundamentação O objetivo foi chamar a atenção de Paulo e da equipe que nós
teórica do sistema Paulo estávamos lidando com uma coisa muito maior do que simples-
Freire publicada em 1963 mente um método. Não era só um método de entrar na sala de
aula e alfabetizar. Toda a motivação da alfabetização é calcada
na revista Estudos Uni-
em uma visão de mundo que está muito bem explicitada no cha-
versitários. mado de Paulo. Então, a primeira intenção foi essa. Alertar que
nós estávamos lidando com uma coisa bem maior. Em segundo
lugar, a riqueza das ideias de Paulo, as ideias originais de Paulo,
era tanta que me despertou um desejo de trazer para o método
uma tecnologia lingüística que permitisse um trabalho que nunca
tinha sido tentado no país. E que no frigir dos ovos nos faria
realizar um grande, esse não era o ideal de Paulo, mas isso era
uma grande advertência que ele não se cansava de fazer, é que a
40 educação tem que ser permanente, não tem sentido você educar
crianças ou só alfabetizar adultos e quando acabou, pronto, está
acabado e “tchau”. A educação é um processo permanente. Então
Estudos Universitários
O impacto do golpe na Foi uma tragédia. Cada pessoa tem uma maneira de reagir a um
produção cultural e golpe desse. Eu estava muito entusiasmado com esse trabalho, e
intelectual quando essa coisa ocorreu foi um choque. É como eu digo, foi
uma tragédia. É como se você tivesse levado um tiro na espinha.
Você fica paralisado. E cada um tem sua maneira de reagir. Não
se abalou, ah meu Deus, eu não gosto nem de falar nisso. (...)
O Recife ficou pequeno, foi difícil viver aqui. O Jomard, Jomard
Muniz de Britto, sempre foi um intelectual de luz própria, ele
tinha seus próprios projetos, e está aí, até hoje ele está por aí. Eu
simplesmente parei tudo. Parei tudo realmente. E os contatos que
nós tínhamos na Paraíba, eles estavam empenhadíssimos nesses
objetos vocabulários. Por que se você alfabetizar e deixar, acabou.
Infelizmente é uma resposta muito trágica essa minha, não é?
Elaboração do projeto e Foi extraordinário. Quando eu voltei dos Estados Unidos, eu esta-
criação da TV universitária va mais ou menos desempregado. E fui convidado pelo pessoal da
TV Tupi para fazer um curso com o bambambam da tv brasileira.
(...) Eu saí da televisão. Mas meu primeiro trabalho aqui no Brasil
foi na televisão. Eu retornei em 1960. No final de 1960. Então lá
na televisão, eu conheci um sonoplasta, chamado Hugo Martins,
que foi importantíssimo na TV Universitária. Aí quando Edimir
Régis, teve que criar a TV e o rádio, ele veio me buscar para que
ajudasse a fazer a rádio. Eu disse: “ih rapaz.. Você fazer uma
rádio é complicado, por causa da qualidade”. Então ele falava,
“vamos fazer”. Ele era preocupado com a continuidade. E tem tão
pouca gente preocupada com a continuidade das coisas. (...) “Aí
ta certo”, eu disse, “vamos fazer a rádio”. Aí ele tinha um material
de música que queria levar ao ar. O Hugo adorava. Ele colocava
na pastinha os discos. E o povo adorava. Um belo dia quando eu
estou fazendo o programa, de noite, o Edimir Régis vem e joga
uma pastinha em cima de minha mesa. “O que é isso?” pergun-
tei. “É o orçamento para nós fazermos uma TV universitária”.
E disse “Edimir, essa ideia é muito boa, mas tire o cavalinho da
chuva porque isso é muito caro.” “Não, mas a gente consegue 41
o dinheiro”, afirmei “Mas a universidade não tem dinheiro para
isso”. Respondeu “mas a gente consegue e é você que vai fazer o
Estudos Universitários
projeto”. Isso foi em 1966, 1967... Dizia “Tem que ser logo, não
pode dormir no ponto”. E eu chamei o Hugo e nós fizemos o
projeto. E quando estava pronto nós fomos levar para o professor
Murilo, o reitor. E ele quase chora. Pegamos ele de surpresa. Eu
disse “Essa é a menina dos olhos do seu reitorado”. Ele pegou na
hora. A tal ponto que na hora de fazer a concorrência para ver
se era a Toshiba, a Sony, ele fazia pessoalmente as concorrências
(risos). E saiu a TV Universitária. Por uma ideia de Edimir Régis.
Ela está passando por uma reestruturação. E isso é bom. Agora é
um problema, porque a TV Universitária é problema de fazer.
O Movimento Armorial Fui chamado (por Ariano Suassuna) para colocar música nas
peças dele. Aí a gente fez um concerto com a orquestra de cordas
da sinfônica na Faculdade de Filosofia de Pernambuco, a FAFIPE,
ali na Nunes Machado, aí quando acabou o concerto eu peguei
o instrumento, fechei na maleta e ia saindo então o Ariano disse,
“senta aqui, senta aqui, rapaz vamos fazer o movimento”. E eu
falei, “está certo, vamos fazer”. Aí fizemos. O Movimento Armo-
rial tem um embasamento filosófico muito sólido sobre a forma
de uma proposta estética genial. Mas institucionalmente não se
encontrou. Você entra na casa de Ariano, é um santuário, um
santuário de cultura. Gilberto Freire, hoje se fala muito pouco de
Gilberto e foi uma das maiores inteligências do Brasil.
Paulo Freire Olhe, o que eu posso te dizer, ele era um homem bom, é a pri-
meira ideia que me vem e era profundamente culto. Ele era de
uma inteligência brilhante. Paulo quando começava a falar, sei lá,
ele tinha uma técnica, ele colocava o auditório na palma da mão.
Impressionante. Ele gerava uma empatia, ele levava a platéia aon-
de ele queria. Eu nunca me certifiquei disso, mas eu soube que
Paulo, antes de fazer concurso para universidade, Paulo cantava
serestas. Aqui em Casa Forte. Não é qualquer pessoa que tem essa
sensibilidade, esse poder de comunicação, só podia resultar em
uma coisa excelente.
César Leal e a retomada O César às voltas com a revista, e eu a todo o momento dizia a
da Estudos Universitários ele, “César, esquece isso. Faz a tua poesia”. E ele de fato estava
em 1966 fazendo o “Triunfo das Águas”, que é uma poesia massuda, tipo
epopéia. Poemas grandes. E naquela ocasião já estava ganhando
projeção internacional. Eu fiquei muito calejado. Eu me tornei
uma pessoa muito descrente. É como se você casasse, tivesse
filhos e colocasse-os nos melhores colégios da cidade. E depois
você vai e tira eles do colégio e diz, acabou. Não se toca mais
nesse assunto. Isso não existe.
42
Estudos Universitários
Estudos
Musicologia: Oportunidade
para a Universidade Brasileira1 45
Jarbas Maciel2
Estudos Universitários
Música, analisada de um ponto de vista estritamente filosófi-
co – o que equivale a dizer que a generalização de seus con-
ceitos fundamentais foi levada a seus limites extremos – surge
como uma manifestação cultural cujas raízes são duplas. Uma
ramificação afunda-se nos domínios, da atividade estética, ou
seja, nos domínios da Arte propriamente dita. A outra rami-
ficação está orientada em direção aos domínios da atividade
científica. Música: arte e ciência.
Estudos Universitários
sobre o folclore de todos os povos do mundo e com os chamados
levantamentos musicográficos (gamas e escalas regionais) das mais
variadas regiões do globo, uma contribuição preciosíssima para a
Etnologia. Ainda, é possível que a pesquisa musicológica chegue a
evidenciar, com um respeitável apoio científico particular e filosó-
fico (estético), a pretendida união de todas as artes.
Estudos Universitários
tornando-se um valor estético de indubitável validade. E a melodia
adquire maior expressão exatamente naqueles momentos quando
a harmonia (acordes) cria determinadas condições”. A que se deve,
fundamentalmente, semelhante vitalidade? Ao povo, sem dúvida
alguma. Mas, tudo isso ele faz sem saber! Exatamente por isso é,
musicalmente, alienado. Os próprios músicos e demais profissio-
nais – professores, instrutores, arranjadores, compositores, etc. – se
acham, via de regra, neste estado de inconsciência diante das cor-
rentes musicais históricas que os carregam a todos, quer queiram
ou não, quer disso tenham conhecimento ou não.
Estudos Universitários
timento da Etnologia, ao complexo antropológico que o sustenta,
bebendo diretamente na fonte. Sua obra tem razão de ser, tem
futuro, tem significação e, o que é mais importante, encontra sua
plenitude no outro pólo da criação estética, isto é, no povo, nos
ouvintes, nos auditórios. Daí o tremendo poder da onda naciona-
lista musical que invadiu a Europa a partir de seus dois focos mais
poderosos – a França e a Rússia – e fazendo com que os músicos
de países subdesenvolvidos se voltassem criticamente para suas
verdadeiras raízes culturais, no seio da massa popular. De fato, na-
cionalismo, como atitude de fora para dentro, de cima para baixo,
sem raízes concretas no seio do povo, dos destinos históricos desse
povo, nacionalismo como simples maneira de buscar originalida-
de e exacerbar ainda mais um individualismo doentio inimigo do
que pertence, de direito, a todos, como é a música, como são as
danças, os folguedos e demais manifestações típicas do homem
em sociedade, pois bem, tal “nacionalismo” nada mais poderá re-
presentar do que ridículo amadorismo saudosista, condenado ao
esquecimento.
Estudos Universitários
plusieurs pays sous-développes dans le monde. Cela arrive appa-
remment moyennant l’évolution de la musique populaire et folklo-
rique. C’est le cas, par exemple, de la musique soi-disant “bossa
nova” aujourd’hui au Brésil. “Bossa nova” est considérée comme
un signe très défini de vitalité dans la création musicale au Brésil.
Cette vitalité jaillit spontanément du peuple, aliénée ou non, mais
elle est un défi pour les systèmes pédagogiques, Il y a longtemps
établis et jusqu’à nos jours maintenus, ici et dans la plupart des
universités latino-américaines. Des systèmes qui semblent être en
grande partie étrangers aux nouveaux problèmes et situations nés,
naturellement de notre développement. Ici apparait précisément
une des opportunités et des responsabilités les plus urgentes de
l’Université au Brésil, lutter pour que la musique érudite brésilienne
ne soit pas en retard ou isolée des activités artistiques populaires.
Pour beaucoup de pays sous-développés, avec une grande influen-
ce culturale africaine, ce défi n’est seulement un problème qui se
présente évident à qui est engagé dans la bataille du développe-
ment et du progrès de sa nation, mais il est aussi une répercussion
de la crise musicale du monde occidental au siècle présent. Ayant
une immense vitalité et une source pratiquement intarissable de
matériel et d’idées nouvelles, dans un folklore vivant et dans un
art populaire dynamique, la musique de ces pays ne peut pas ac-
cepter ou faire sienne cette crise. Elle est dorénavant forcée, pour
ainsi dire, à se “désaliéner”, c’est à dire, à se faire authentique èt à
quitter l’imitation. Cela ne peut être fait sans l’Université, qui doit
mettre la musicologie dans ses “curricula” et prendre à sa charge
la tâche de centraliser et de coordonner tous les efforts dans ce
but, ce sera quelque chose, en effet, d’une très grande opportunité
pour le Brésil, se jours-ci.
ABSTRACT
Estudos Universitários
Resumo
1. O que preconiza
o Plano Nacional de
Extensão?
De acordo com o Plano Nacional de Extensão 1999-2001 (SESU/
MEC: 1999, p. 1), a extensão se caracteriza como processo edu-
cativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa
de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre
universidade e sociedade. Pela extensão a universidade encontra a
sociedade e vê na oportunidade a elaboração/reelaboração/cons-
trução do conhecimento através da prática. Sendo que o retorno à
Universidade será a ampliação do nível do conhecimento anterior.
De acordo com o Plano Nacional de Extensão, a extensão é “prá-
tica acadêmica que interliga a Universidade nas suas atividades de
ensino e pesquisa com as demandas da população, que possibi-
lita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez
56 mais, junto à sociedade, como espaço privilegiado de produção
do conhecimento significativo para a superação das desigualdades
sociais existentes”.
Estudos Universitários
Estudos Universitários
Um aspecto central nesses debates sobre as finalidades da exten-
são sempre foi a tentativa de superar o caráter assistencialista de
suas práticas. Durante década e até os dias atuais o “social” da uni-
versidade, esteve reduzido ao assistencial, a oferta de prestação de
serviços de saúde e educação. Como o intuito de melhor preparar
os seus estudantes e atender as demandas da comunidade local, a
extensão incumbiu-se de trazer para a universidade atividades que
seriam de órgãos sociais públicos sem a devida contextualização
educativa e científica marcadamente de visão extrínseca e com-
pensatória de cidadania.
58
Estudos Universitários
2. Transformação
social ou Emancipa-
ção? A universidade
desafiada.
O processo de transformação social, no entendimento de Karl Marx
(2001), está estreitamente relacionado com as contradições e com
as lutas de classes que se desenvolvem na própria base material
da sociedade. Trata-se de uma concepção que contempla uma
relação dialética entre infra-estrutura e superestrutura, entre ser
e consciência, enfim, uma relação onde o homem é considerado
como sujeito ativo no processo; um sujeito que, dentro de certas
circunstâncias, influi na transformação social. Assim, pode-se dizer
que, para Marx, a transformação social ocorre numa determinada
consciência, fruto das contradições que se manifestam na base
material da sociedade que leve aos homens conservar ou modificar
a realidade social.
Estudos Universitários
de uma pessoa” (Weber, 1983 a, p. 340); dons considerados como
sobrenaturais, não acessíveis a todos (Weber, 1983 a, p. 223). É por
meio do carisma que o indivíduo – na qualidade de profeta, líder
partidário, herói, etc. – produz idéias inovadoras, dando origem
e evolução das ideologias particulares. Como ponto de análise o
autor analisa que a transformação social do feudalismo para o
capitalismo pode ser explicado pela postura racional disseminada
pela ética protestante que se proliferava junto a outros condi-
cionantes. O capitalismo apoiado nas idéias da ética protestante
de desenvolvimento dos interesses materiais, penetrou nos grupos
sociais predispostos a assumir a nova conduta, o novo ethos da
racionalidade prática.
vivência. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos que sejam
seu alcance e suas possibilidades (ADORNO, 2000, p. 116-117).
Como a barbárie se apresenta ao homem não pela obviedade, mas
por meio de um conjunto de imposições, compromissos e valores
impostos, é preciso para combatê-la por meio da educação em
compreender seus fatores psicológicos. A desbarbarização implica
em ensinar aos jovens a respeitarem o outro, o diferente, a viverem
uma educação mais humana, sem competição. Depreende-se que
a educação para a emancipação precisa ser inserida não apenas no
pensamento, mas na prática educacional. Neste sentido, a esco-
la deve funcionar como um local privilegiado de reflexão contra
atitudes preconceituosas, discriminatórias e opressivas. Contudo,
estamos diante do mundo capitalista que conclama uma educação
que estimula a competição. O que pode ser feito?
Estudos Universitários
Nesse sentido, a emancipação humana no pensamento de Freire é
um vivenciar cotidiano, não um projeto a ser concretizado somen-
te num futuro longínquo, inclusive para ser construído e vivido
por outros. Portanto, as práticas emancipatórias da humanidade
se efetivarão ao mesmo tempo no cotidiano e na história. Ocorre
em casa, nas relações entre pais, mães, filhos, filhas, na escola, nas
relações de trabalho, espaços fundamentais que possibilitam aos
seres humanos o exercício do processo de emancipação.
4. Emancipação e
práticas de extensão:
em busca de novas
manifestações.
Diante dessas contribuições sobre a emancipação, resta a Universi-
dade, em especial, o campo da Extensão, a construção de uma prá- 63
tica que possibilite aos estudantes e os sujeitos sociais a vivência
da autonomia, a participação na tomada de decisões e a produção
Estudos Universitários
de um trabalho coletivo, numa atitude ousada de enfrentamento
da hegemonia das forças de regulação (Santos, 2003). O desa-
fio que se apresenta é compreender e desvelar as relações sociais
presentes no âmbito local e formar sujeitos aptos à disputa pela
hegemonia com as classes dominantes.
64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Estudos Universitários
Introdução 65
Estudos Universitários
Uma Cátedra pode ser compreendida como um espaço criado
e dinamizado com a finalidade de construção e socialização
do conhecimento e, ao mesmo tempo, se constituir em uma
homenagem. A Cátedra é uma distinção; um reconhecimento
público, coletivo e institucional a alguém que prestou relevante
contribuição social e que se espera, através dela e com ela, que
seja disseminada idéias e práticas que contribuam para a pre-
servação da memória ativa.
PAULO FREIRE VIDA E PAULO REGLUS NEVES FREIRE, pedagogo, recifense, cidadão do
OBRA: razão de ser da mundo.
Estudos Universitários
pelo sujeito.
Estudos Universitários
“Se aquele que faz extensão não for capaz de crer no povo, nos traba-
lhadores, nos camponeses, de comungar com eles, será no seu trabalho,
no melhor dos casos, um técnico frio. Provavelmente, um tecnicista; ou
mesmo um bom reformista. Nunca, porém, um educador das e para as
transformações radicais”. (P Freire: Ext/Com: 42)
Esta pequena mas significante camponeses, como recipientes
obra de Paulo Freire analisa passivos, o conhecimento e
o problema da comunicação os métodos necessários a um
entre técnicos agrícolas e cam- programa de reforma agrária.
poneses envolvidos no processo Ao contrário de comunicação,
de implantação da reforma projetos de extensão falham
agrária no Chile em 1965- exatamente porque tratam as
67. Portanto, a preocupação pessoas como meros objetos e
principal do educador brasileiro por se recusarem a revelar-lhes
refere-se ao papel do agrô- o verdadeiro significado das
nomo como educador. O livro relações homem-mundo.
trata de uma investigação se-
mântica sobre as duas palavras Quando em 1960, Paulo Freire
do seu título as quais oferecem criou o Serviço de Extensão
diferentes opções pedagógi- Cultural (SEC) da Universidade
cas. Extensão é descrita como do Recife, que seria nossa futu-
uma forma de estender aos ra UFPE, ele se deparou com o
1
Livro do educador Paulo Freire, publicado em 1969 sob o título Extensión ou Comunicación? pelo Instituto de
Capactación e Investigación em Reforma Agrária, em Santiago de Chile.
2
Professor belgo-brasileiro da UFPE e educador popular, no Brasil há 40 anos. Endereço eletrônico:
uytdenbroek@superig.com.br
termo extensão “numa relação Denuncia P Freire:
neses? Como dialogar com os
significativa com transmissão, camponeses sobre uma técnica
entrega, doação, messianismo, “tempo perdido, sim,
que não conhecem? Como dia-
mecanicismo, invasão cultural, do ponto de vista hu-
logar sobre assuntos técnicos?
manipulação, etc. (idem: 29)
mano, é o tempo em
“Todos estes termos, diz Freire, envolviam que os homens e as
ações que, transformando o homem e a mulher mulheres são ‘reifica-
em quase “coisa”, o negavam como um ser dos’. Tempo perdido
de transformação do mundo. Além de negar é o tempo que se usa
a formação e a constituição do conhecimento em bla-bla-blá, ou
autêntico. Além de negar a ação e a reflexão em verbalismo, ou
verdadeiras àqueles que são objetos de tais em palavreado, como
ações”. (idem: 13) também é perdido o
A extensão nesse sentido tinha Impõe-se atender à lógica do tempo do puro ativis-
um caráter de invasão cultural: mercado e não perder tempo mo, pois que ambos
72 “o invasor (o extensionista) em escuta e atenção aos atores
atua, os invadidos (a população sociais. não são tempos da
atendida) têm a ilusão de que verdadeira práxis3.”
Estudos Universitários
Estudos Universitários
mento serão transformados em posição diante das instituições
ser.” (idem: 64) interesse de posse ou em poder existentes. Ali, se plasmam
social. novas subjetividades. É o ponto
“O conhecimento de partida para a construção de
- Ou vamos servir aos seres novos saberes e novas práticas,
exige uma presença humanos e aí a pesquisa- tanto no campo dos serviços
curiosa do sujeito em extensão deverá se reconhecer públicos, como da comunida-
mais em sua fragilidade e em de acadêmica e dos próprios
face do mundo. Requer sua provisoriedade, sempre movimentos sociais.
sua ação transforma- aberta ao diálogo. Caberá aos
dora sobre a realida- experts institucionais, aos pes- Ai se pode desabafar, brigar
quisadores populares recusar consigo mesmo, gritar sua in-
de....Conhecer é tarefa certezas irremovíveis e estabe- dignação, ensaiar uma releitura
de sujeitos, não de ob- lecer diálogos de fertilidade e original do mundo, ressignifi-
complexidade crescentes entre car a sociedade a partir do seu
jetos. E, é como sujeito todos e as diferentes formas e pensamento, enfim eu diria,
e somente enquanto alternativas de compreensão do trilhar caminhos de aprendiza-
sujeito, que o homem que existe: saberes diferentes gem para poder se empoderar
mas fundamentais. da sua própria dignidade quase
e a mulher podem sempre silenciada.
realmente conhecer.” Processa-se então uma arti-
(idem: 16) culação da EXTENSÃO como “Assim aprendemos a
estratégia de construção de um
Educadores e educandos, dou- compromisso institucional de pensar o tempo, a pen-
tores e povo só produzem um cooperação e de sustentação sar a técnica, a pensar
do processo de mudança.
conhecimento válido quando a
curiosidade de ambas as partes “Ninguém educa ninguém.
o conhecimento en-
é estimulada para a construção Ninguém se educa sozinho. quanto se conhece, de
do bem comum. Todos educadores e educandos pensar o que das coi-
sas, o para que, o como, “Esta é a razão pela qual, para nós, já dizia P
o em favor de que, de Freire ...em 1969, a ‘educação como prática da
quem..” (Pedagogia da liberdade’ não é a transferência ou a transmis-
Indignação: 46) são do saber nem da cultura; não é a extensão
de conhecimentos técnicos; não é o ato de depo-
sitar informes ou fatos nos educandos; não é a
A Extensão popular é um com-
promisso político, um compro-
‘perpetuação dos valores de uma cultura dada’;
misso com as classes populares, não é o ‘esforço de adaptação do educando a
com a luta por condições de seu meio’. ...mas é sobretudo e antes de tudo,
vida melhores para todos, pela
cidadania e pelo controle social uma situação verdadeiramente gnosiológica.
e um modo de participação Aquela em que o ato cognoscente não termi-
dos professores, profissionais
técnico administrativos, estu-
na no objeto cognoscível, visto que se comunica
dantes e atores da sociedade a outros sujeitos, igualmente cognoscentes ”.
civil neste trabalho político. (Com/Extensão:53).
74 Ela busca trabalhar pedagogi-
camente o homem e os grupos espaço privilegiado de
Acreditamos que optar por esse
Estudos Universitários
Golpe na
de Extensão Cultural (SEC/UR) popular e a cultura brasileira
da antiga Universidade do Re- ocupam um ponto central no
cife (atual UFPE) é lutar contra texto de Cortez, mostrando os
a produção do esquecimento anos em que o jovem Freire
Estudos Universitários
Outubro de 2009 tária de educação. Paulo Freire
Neste livro a atuação de Paulo aparece como orientador deste
Freire e de seus jovens cola- círculo de cultura hetorodoxo
boradores é relatada em toda no qual caminhavam docen-
sua simplicidade e coragem ao tes e discentes; esquerdistas e
enfrentar e defender o papel direitistas; jesuítas de batinas
social da universidade no Brasil e leigos de botinas. O Golpe
dos anos 1960. Leitura que na Alma aparece tecido com o
aquece as mãos com o calor claro calor democrático daque-
daquela geração que ousava les anos: do primeiro círculo de
desafiar todos os moinhos da cultura no Poço da Panela, ao
alta cultura brasileira. Por Programa Nacional de Alfabeti-
outro lado não deixa de ser zação e seus círculos de cultura
uma experiência de gelar a es- nas cidades satélite de Brasília.
pinha frente à frieza das elites
conservadoras e seu gradual Em Marcius a utopia da revolu-
desarranjo da democracia na ção educacional de uma gera-
mão de seus algozes. Para estes ção se transforma em deleite
a extensão universitária era de quem rememora ao folhear
vista como serviços supérflu- as páginas. O pessimismo de já
os, agência de analfabetos, ou saber o final da história se trans-
antro de comunistas. Expres- forma em esperança de recom-
sões contraditórias cunhadas por esta a partir do presente.
por importantes intelectuais Tudo vira imaginação, trans-
da cidade em sua sanha contra gressão a partir do que poderia
emergência da extensão uni- ter sido. O sabor da textura-
versitária na UR. geradora de Cortez se assemelha
1
Livro do escritor Marcius Cortez, publicado pela Pé de Chinelo Editorial, São Paulo: 2008.
2
Historiador e mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE. Endereço eletrônico:
dimasveras@hotmail.com
à palavra geradora do Sistema de antigos membros do SEC/
Educacional que descreve, UR: Almeri Bezerra, Arthur Car-
deleite da imagem e da fala que valho, Jomard Muniz, Juracy
em certo momento Paulo Freire Andrade, Luiz Costa Lima e
opôs as cartilhas sectárias. Roberto Cavalcanti. Sem dú-
vidas um dos momentos mais
O Golpe na Alma é uma altos do livro é quando finda-
pequenina caixa preta de dos os anos de ditadura militar,
surpresas de onde emergem o já adulto Marcius encontra
crônicas sobre as coisas miú- o antigo presidente do Diretó-
das que povoam o cotidiano rio Central dos Estudantes da
da juventude brasileira nas Universidade do Recife: Mar-
vésperas da ditadura militar cos Maciel. O resultado desse
no Brasil. Cortez não deixa de encontro não poderia deixar
fora a alegria dos momentos de ser hilário. Não se trata
festivos, descrevendo as festas apenas de um livro de memó-
que normalmente aconteciam rias para alguns iniciados, seu
na casa do crítico Luiz Costa manuseio parece atrativo para
Lima, editor da Estudos Univer- pesquisadores sobre a eferves-
76 sitários naqueles anos. Tertúlias cência vivida nos anos 1960,
regadas a ritmo de cuba-libre, mas também é receita podero-
bossa nova e muita paquera. A sa para leituras silenciosas ou
Estudos Universitários
Estudos Universitários
Texto-tirombaço: bem no peito da maior tendência
nacional – o fácil simplesmente.
“do modernismo à bossa nova” de Jomard Muniz
de Brito, reeditado em 2009, destrincha a
reinvenção do país, também chamada de modernismo.
Nós avançamos ou vor-tâ-mo pra trás? O cheiro do
ralo impera na cur-tu-ra nacioná? Ou os senhores das
comunicações/distribuições/editorações e os juízes
fisiológicos enrabaram a contra-maré? Na paisagem,
vigora o cala-te boca para os que não são bocas-de-siri
enquanto os conyventes queimam gasolina azul.
Diante do nosso nariz, deserto global – uma grande
Sibéria que brota das geleiras dos quase dois milhões
de analfabetos paulistas.(São Paulo é fogo!)
1
Resenha do livro “Do Modernismo à Bossa Nova” de Jomard Muniz de Brito, republicado em 2009 pelo Atelier
Editorial
2
Esta resenha foi escrita por Marcius Cortez, durante a VII Bienal Internacional do Livro, Recife, PE. Endereço
eletrônico: marciuscortez@hotmail.com
Ler e reler esse livro te reorienta, meu rapaz, minha moça.
Homem brasileiro, cultura nacional, realidade brasileira
- os aspectos que isso tinha ontem, as ilações que isso
tem hoje. Eterno retorno de outrem. Brasil, brasas,
brasilírico.
Historicidade com inversão térmica. No horizonte do
barquinho e do céu anil, as galáxias haroldianas
confirmam que é a noite banal (ou seria a arte
enlatada) o que nos assola.
92% dos brasileiros nunca foram num museu. 78%
nunca assistiram a um espetáculo de dança. Só 13%
vão ao cinema, uma vez por ano. E solamente 17%
compram livros.
Leituras em abismo. Em cena, coitados, os palhaços
da burguesia negam que são os palhaços da
burguesia.
78
Today, a nossa grande e única fonte de cultura é o
Estudos Universitários
Formato
21 x 30 cm
Tipografia
Libre Sans Serif SSi
Libre Serif SSi
Frutiger 57Cn
Papel
Miolo: reciclato 90 - gm/2
Lâmina: reciclato 120 - gm/2
Capa: triplex 250 - gm/2