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A matemática como prioridade

numa sociedade moderna

Ubiratan D’Ambrosio
Pós-doutor em Matemática – Brown University;
Professor na pós-graduação – PUC-SP.
ubi@pucsp.br, São Paulo [Brasil]

A matemática é o instrumento fundamental para explicar,


entender, lidar com fatos e fenômenos do mundo. Sua im-
portância justifica que se faça a análise de sua presença como
disciplina central nas grades curriculares de todas as séries do
ensino fundamental e médio, não só no Brasil, mas em todo o
mundo. Essa análise parte de uma teoria de conhecimento, de
uma reflexão sobre o conhecimento matemático e de sua con-
textualização. Matemática, como toda forma de conhecimento,
é resultado de um ambiente natural e cultural, isto é, mítico,
religioso, social, econômico, político. Sendo a educação a es-
tratégia desenvolvida pelas sociedades para possibilitar a cada
indivíduo atingir seu potencial criativo e estimular e facilitar a
ação comum com vistas a viver em sociedade, o grande desa-
fio é como formar matemáticos necessários ao progresso e, ao
mesmo tempo, educar toda a população para a vida criativa,
produtiva e integrada a um ideal de sociedade, sem arrogância,
sem intolerância e sem iniqüidade.

Palavras-chave: Conhecimento. Educação.


Educação matemática. Matemática. Sociedade.

Dialogia, São Paulo, v. 4, p. 31-44, 2005 Artigos

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1 Como proposta matemático é contextualizado e não está imune a
ideologias.
Estamos construindo o futuro. E, nesse cons-
truir, estamos permanentemente criando e recriando
conhecimento para nossa sobrevivência e transcen- 2 Sobre o futuro
dência, tendo a matemática e as ciências como parte
dessa criação e recriação. No entanto, o maravilho- O presente é perturbador, não há como negar.
so espetáculo dessa construção é acompanhado da Mas será um crescendo acelerado para o fim da
depredação de recursos naturais – essenciais para espécie? Acreditamos, como o grande pensador D. H.
a vida –, da extinção de espécies, da destruição de Lawrence (1885-1930), que nada impedirá a evolu-
bens materiais e de seres humanos matando outros ção da humanidade e do potencial humano, a partir
seres humanos. Nesse processo, a matemática e as de um quase-caos, em direção a um futuro magní-
ciências estão presentes nos instrumentos que levam fico, sem ganância, iniqüidade e arrogância.
a tudo isso. Por que essa preocupação com a huma-
As ciências têm como fundamentação a ma- nidade do futuro? Porque sentimo-nos todos
temática, cuja natureza procuraremos entender continuados no futuro. A comemoração do nasci-
neste artigo, impelidos por uma das questões filo- mento de filhos e netos é um ato de amor e implica
sóficas mais intrigantes: de que maneira e por que esperar que eles tenham filhos e netos, e que estes
o conhecimento matemático tem sido tão essencial também tenham filhos e netos e, assim, continu-
para o avanço das ciências? ando a espécie, estaremos transcendendo nossa
Num trabalho clássico, o eminente físico existência. Também o educador prepara gerações
Eugene Wigner diz: para o futuro. Nessa comemoração e prática profis-
sional está implícita a esperança de que eles serão
O milagre da conveniência da linguagem felizes,1 pois, de outra maneira, essas comemora-
matemática para a formulação das leis ções e ações profissionais seriam atos de falsidade
de física é um maravilhoso presente que e de desamor.2
nós “nem” entendemos nem merecemos. As idéias expostas neste trabalho são resultado
Nós deveríamos ser agradecidos por isso e da esperança de que poder, prepotência, ganância,
“esperar” que vá “permanecer” assim nas inveja, avareza, arrogância, violência, indiferença
pesquisas futuras. (WIGNER, 1960, p. 9, e outras tantas mazelas deixem de fazer parte da
tradução nossa). humanidade do futuro.
O futuro deve ser solidariamente construído
Neste trabalho, não abordaremos essa por todos. Mas não temos dúvidas de que só podere-
questão, limitando-nos a algumas considerações mos caminhar nessa direção se entendermos como
sobre a matemática, sobre a educação matemática os outros caminharam no passado. As teorias de
e sobre a teoria do conhecimento. Pretendemos, a hoje foram construídas ao longo da história; por
partir de uma visão multicultural do conhecimen- isso, vamos falar um pouco delas. Essa é a impor-
to, mostrar que o conhecimento especificamente tância da história.

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Numa obra de fundamental importância, 3 A espécie humana
o padre Antônio Vieira (1608-1697) nos apre- e o conhecimento matemático
senta uma “história do futuro”. Ele inicia o livro
dizendo: Todos reconhecem que a matemática está
completamente integrada nos sistemas científi-
Nenhuma coisa se pode prometer à natu- co, tecnológico, industrial, militar, econômico
reza humana mais conforme a seu maior e político e que o progresso da matemática tem
apetite, nem mais superior a toda sua ca- sido sempre apoiado por esses sistemas, que estão
pacidade, que a notícia dos tempos e suces- globalizados e cujo controle repousa sobre o conhe-
sos futuros [...] O homem, filho do tempo, cimento matemático. Podemos, portanto, dizer que
reparte com o mesmo tempo ou o seu saber a matemática é um “conhecimento universal”.
ou a sua ignorância; do presente sabe Ora, as mazelas da humanidade que des-
pouco, do passado menos e do futuro nada tacamos acima constituem um “problema
[...] (VIEIRA, 1953, p. 1). universal”, por isso, é absolutamente natural que
se pergunte como esses universais se relacionam.
Quais as possibilidades de influenciar o futuro, Encontrar uma explicação do paralelismo entre a
particularmente para nós, educadores matemáticos? evolução da sociedade para o que é hoje e da ma-
Incursionar pelo futuro é responsabilida- temática como é atualmente é o único meio que
de de cada professor, pois só poderemos falar em temos para nos orientar nas especulações sobre
futuro se entrarmos nele hoje. A idéia de futuro se como será a matemática e, portanto, a educação
esvazia quando o esperamos para só então entrar matemática do futuro.3
nele, e desse modo estaríamos sempre vivendo no Isso nos leva à pergunta fundamental: o que
ontem. Nossa responsabilidade não é preparar o é o conhecimento matemático?
aluno para ontem e sim para amanhã. É difícil, Não podemos começar nossas reflexões pelo
mas nossa profissão é a mais difícil e a de maior fim. Organizamo-las com perguntas preliminares:
responsabilidade. Todos os dirigentes do amanhã o que é conhecimento? Igualmente, essa pergunta
são nossos alunos hoje. implica uma outra: o que é o homem? E uma ainda
O futuro sempre nos apresenta incertezas. preliminar: o que é vida? E, obviamente, somos
Na educação principalmente. Muitos professores levados a questões de origem.
perguntam qual o novo caminho, querem receitas, Embora essas reflexões tenham surgido de
programas, instruções. Quem melhor respondeu a uma hierarquização nas questões, o tratamento que
isso foi o poeta espanhol Antonio Machado (1912, dou a elas é holístico.4
on-line), quando escreveu “Caminante, no hay Vamos evitar uma discussão sobre origens
camino, se hace camino al andar”. Ao fazer esse e começar pelo fenômeno vida. A vida é a realiza-
caminho, o passado nos serve de apoio. Estudamos ção de três fatos: o indivíduo, o “outro/sociedade”
história para transcender o presente, para transcen- e a natureza (imediata, planetária e cósmica), com
der nossa existência. Procuramos saber o que foi e uma relação de essencialidade entre eles, represen-
isso nos ajuda a saber, o que será. tada no que chamo de “triângulo da vida”:

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indivíduo natureza indivíduo desses grupos busca, como em todos
os outros grupos de animais, “sobreviver”, isto é,
manter-se vivo e dar continuidade à espécie. Ao
mesmo tempo, as espécies homo procuram ir além
da própria existência, buscando explicações para o
antes de nascer e o depois de morrer, isto é, “trans-
cender” a própria existência.
outro / sociedade
A espécie humana, homo sapiens surgiu há
Ilustração 1: Triângulo da vida
Fonte: O autor. cerca de 40 mil anos; portanto, extremamente jovem
quando comparada aos hominídeos. No entanto,
Vida é a realização desse ciclo. Cada indivíduo assim como seus parentes mais próximos, a espécie
existe enquanto busca, com autonomia, sua sobre- humana busca, incessantemente, “sobrevivência” e
vivência. A interrupção de qualquer dessas conexões “transcendência”.
interrompe a vida do indivíduo. A essencialidade Com o aparecimento da espécie humana,
mútua se manifesta nas conexões que correspon- foram criadas intermediações entre os fatos
dem aos lados do triângulo da vida: básicos da vida, isto é, entre o indivíduo, o outro
e a natureza:
• Indivíduo-natureza: realidade para sobrevi-
vência do indivíduo; • Entre indivíduo e natureza: instrumentos e
• Indivíduo-outro/sociedade: para continuida- tecnologia;
de da espécie; • Entre indivíduo e outro/sociedade: comuni-
• Outro/sociedade-natureza: para sobrevivên- cação e emoções;
cia da espécie. • Entre outro/sociedade e natureza: produção
e trabalho.
Os mecanismos fisiológicos e ecológicos são a
resposta das várias espécies à resolução dessas rela- Essas intermediações exigem do homem o
ções presentes no triângulo da vida. Metaforicamente, aprendizado e o acúmulo [ticas] de habilidades
a vida é definida pelos vértices e pelos lados. Nenhum e criatividade para entender e explicar [matema]
dos seis elementos é dispensável. Nenhum existe sem os fatos e fenômenos, por meio de experiências
os outros. Talvez a natureza possa continuar sem resultantes do contato com seu ambiente [etno].
alguma espécie. Mas será a mesma?5 Essas ticas de matema, que são geradas em di-
Entre 5 e 6 milhões de anos atrás surgiram ferentes etnos, são organizadas intelectual e
algumas espécies diferenciadas, denominadas, em socialmente e acumuladas, memorizadas e di-
geral, hominídeos. O que os arqueólogos têm en- fundidas no próprio espaço e tempo, mas também
contrado são vestígios desses hominídeos na África entre ambientes remotos de espaço e tempo. Essas
Central, onde hoje é a Tanzânia. Essas espécies constituem “conhecimento”, em particular o
migraram e evoluíram para as espécies homo, re- matemático, sempre motivado por sobrevivência
conhecidas em muitas regiões do planeta. Cada e transcendência.

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Enfatizamos que a geração e a socialização que se desenvolveu no ambiente natural e social,
das técnicas de explicar, conhecer e entender, lidar isto é, profissional, dos médicos que praticam ci-
com o ambiente, que garantem a sobrevivência e rurgia no coração aberto.
a transcendência, são localizadas, contextualiza- Talvez um dos primeiros a reconhecer isso,
das no ambiente natural e social. Assim, podemos explicitamente, tenha sido frei Vicente do Salvador
definir: (1564?-1636?), no primeiro tratado sobre a História
do Brasil, publicado originalmente em 1627, em
• Conhecimento é o conjunto de modos, que se lê:
técnicas e estilos de fazer e de entender e
explicar, acumulados ao longo dos tempos Pois hei tratado neste capítulo do
e motivados por sobrevivência e transcen- contato matrimonial deste gentio, tra-
dência, num determinado contexto natural tarei também dos mais contratos, e não
e social. serei por isso prolixo ao leitor, porque
os livros que hão escrito os doutores de
Quando esse conjunto inclui quantificações,
Contractibus sem os poderem de todo
contagens, representações, medições, compara-
resolver, pelo muito que de novo inventa
ções, classificações e inferências, costuma-se falar
cada dia a cobiça humana, não tocam a
em “conhecimento matemático”.
este gentio; o qual só usa de uma simples
O conhecimento matemático mostrou-se,
comutação de uma coisa por outra, sem
ao longo da história da humanidade, muito con-
tratarem do excesso ou defeito do valor,
veniente, fundamental mesmo, para atingir as
e assim com um pintainho se hão por
metas de sobrevivência e de transcendência. Isso
pagos de uma galinha e jamais usam
é notado em todas as regiões do planeta, mas é
pesos e medidas, nem têm números por
óbvio que, nesse enfoque teórico, o conhecimen-
onde contem mais que até cinco, e, se
to matemático depende de um contexto natural e
a conta houver de passar daí, a fazem
cultural, mítico, religioso, social, econômico e po-
lítico, isto é, o desenvolvimento da matemática se pelos dedos das mãos e pés. O que lhes

dá, em ambientes diferentes, de maneira diferen- nasce de sua pouca cobiça; posto que

te. Assim é que temos uma matemática ocidental, com isso está serem mui apetitosos de

própria do ambiente cultural/natural, mítico, re- qualquer coisa que vêem, mas, tanto que
ligioso, social, econômico e político da bacia do a têm, tornam facilmente de graça ou
Mediterrâneo, e uma matemática chinesa, própria por pouco mais que nada. (SALVADOR,
do ambiente cultural/natural, mítico, religioso, 1965, p. 89-90).
social, econômico e político da região entre os rios
Huang e Yang-Tsé. E uma matemática amazônica, O mais correto é, portanto, falarmos de
própria do ambiente natural/cultural, mítico, reli- etnomatemática para deixar bem claro que
gioso, social, econômico e político, da Amazônia. estamos sempre falando em uma matemática
E ainda uma matemática de cirurgiões cardíacos, contextualizada.

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4 Matemática de ontem, Assim se definiu um estilo de conhecimento
de hoje e de amanhã científico e matemático que ainda hoje prevalece.
Esse estilo é ancorado em demonstrações pauta-
As primeiras manifestações do conheci- das por um padrão de rigor que assegura verdade.
mento matemático se reconhecem na medição de O domínio desse estilo orientou inclusive a criação
tempo e na representação do espaço. Stonehenge, matemática, tão bem expressa no formalismo
os Anasazi do Novo México e os vários calendários de David Hilbert (1862-1943), e que está presen-
são exemplos. Herman Weyl (1922, p. 1, tradução te nas 23 questões por ele propostas no Congresso
nossa) afirma: Internacional de Matemáticos de 1900.6 O momento
de glória desse estilo, no final daquele milênio, foi
Desde que a mente humana primeiro a demonstração do Teorema de Fermat, por Andrew
despertou da sonolência, e permitiu-se Wiles, em 1997.
livrar-se de rédeas, jamais parou de sentir
Hilbert com suas 23 questões mostrou ter uma
visão ampla do que se estava passando na comu-
a natureza profundamente misteriosa da
nidade matemática internacional no fim do século
consciência temporal, da progressão do
XIX. Foi possível a Hilbert apresentar um “estado da
mundo no tempo, – de tornar-se. Esse é
arte”. Será possível alguém fazer isso hoje?
um dos problemas metafísicos maiores
que a filosofia tem lutado para elucidar
e desembaraçar em todos os estágios da
5 Sobre a educação matemática
sua história. Os gregos fizeram do espaço
o tema de uma ciência de suprema sim-
Nossa reflexão sobre educação matemática
plicidade e certeza. Dela nasceu, na
está ligada ao que entendemos por ser professor.
mente da antigüidade clássica, a idéia de
O professor de Matemática é, antes de tudo,
ciência pura. Geometria tornou-se uma
um educador. Qual a diferença entre um professor
das expressões mais poderosas da sobe-
e um educador?
rania do intelecto que inspirou o pen-
Professor é aquele que professa ou ensina
samento daqueles tempos. Numa época uma ciência, uma religião, uma arte, uma técnica,
posterior, quando o despotismo intelec- uma disciplina. Educador é aquele que promove a
tual da Igreja que se manteve ao longo educação.
da Idade Média sucumbiu, e uma onda A missão do professor não é usar sua condi-
de ceticismo ameaçou varrer tudo que ção de professar ou ensinar uma disciplina para
havia parecido totalmente consolidado, fazer proselitismo, isto é, para converter à sua
aqueles que acreditavam em Verdade disciplina, mas, sim, usar sua disciplina como
pregaram-se à Geometria como que a instrumento para atingir os objetivos maiores da
um rochedo, e o maior ideal de cada educação. Em outros termos, subordinar sua disci-
cientista foi levar adiante sua ciência plina, ou seja, os conteúdos, aos objetivos maiores
more geométrico. da educação.

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Pergunta-se: quais são esses objetivos maio- níveis fundamental e médio de todos os sistemas es-
res? A resposta é uma definição. colares. A pergunta que todos deveriam fazer é “por
Educação é a estratégia desenvolvida pelas quê?” Muitos fazem esta pergunta e respondem de
sociedades para: várias maneiras:

• Possibilitar a cada indivíduo atingir seu po- • Porque é importante para o dia-a-dia e sem
tencial criativo; ela não podemos viver no mundo moderno;
• Estimular e facilitar a ação comum, com • Porque ajuda a pensar melhor e desenvolve o
vistas a viver em sociedade. raciocínio;
• Porque está em tudo. É a matéria mais im-
Uma pergunta básica que se faz é: justifica- portante que rege a vida das pessoas.
se, então, transmitir conhecimentos disciplinares
(conteúdos) como parte da educação? Em particu- E assim por diante. A questão “por quê?”
lar, conteúdos matemáticos? deveria estar permanentemente presente na prática
A história nos diz que sim, desde que docente. Uma pesquisa sempre interessante, mesmo
contextualizados no espaço e tempo natural e cul- que tenha sido feita inúmeras vezes, é sentir a
tural, utilizando as metodologias disponíveis no opinião do professor, do profissional, do jovem, do
momento. indivíduo comum, sobre essa questão básica.7
Uma outra pergunta é: como? Em educação trabalhamos com o futuro, e
Essas duas questões dão origem aos estudos uma questão interessante para todos aqueles que
sobre currículo, sintetizadas em “por que ensinar, o estão fazendo educação matemática é elucidar e
que ensinar, como ensinar.” explicar, confirmando ou negando, afirmações
Insistimos no princípio básico, que é ancorar como essas destacadas acima, que são correntes na
a prática educativa nos objetivos maiores da educa- opinião popular.
ção, que são, essencialmente, responder aos anseios Será que matemática é tão importante no
do indivíduo e prepará-lo para a cidadania. O dia-a-dia e sem ela não podemos viver no mundo
grande desafio é, portanto, combinar o individual e moderno? Se assim for, como explicar tanto
o social. Não priorizar um em relação ao outro, mas fracasso e reprovação e o fato de a maioria da po-
tratá-los como dois aspectos, não excludentes e mu- pulação assumir que “não é boa em Matemática”,
tuamente essenciais, do comportamento humano. e, apesar disso, todos sobreviverem, alguns com
Talvez esse seja um dos temas mais fascinantes do muito sucesso?
estudo do homem, em geral de todas as espécies. Será que aquele que sabe matemática é
melhor de raciocínio? Se assim for, como explicar
que alguns eminentes matemáticos fazem tanta
6 Por que ensinar Matemática? bobagem na vida? E o fato de pessoas conside-
radas muito espertas e rápidas em raciocínio e
A Matemática comparece como disciplina decisões se declararem fracassadas nos estudos de
obrigatória e dominante em todos os currículos dos matemática?

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A questão dos objetivos da educação matemá- França. Ele enuncia algumas tendências para a
tica é muito complexa e não pode ser feita sem uma matemática do próximo século. Sua percepção é
reflexão bem profunda sobre a natureza do conheci- que a matemática pura continuará na busca de
mento matemático (D’AMBROSIO, 1998). simetrias e regularidades na estrutura do mundo.
Pesquisar a opinião dos professores sobre “por Ocasionalmente, e isso é impossível prever,
que ensinar matemática” e “a natureza do conheci- algumas dessas simetrias e regularidades poderão
mento matemático” pode dar uma boa monografia ter aplicações práticas. Em outros termos, Gromov
de graduação e, com uma análise devidamente ela- vê grande importância em se manter a pesquisa em
borada, até dissertações e teses. matemática pura, mesmo que não se tenha qual-
Há dois objetivos concomitantes na educa- quer indicador de aplicabilidade. A história nos
ção matemática, coerentes com o objetivo maior da mostra que teorias aparentemente sem qualquer
educação, destacado acima: ligação com problemas reais se mostraram impor-
tantíssimas, particularmente no desenvolvimento
• Identificar talentos e estimular o desenvolvi- industrial. Esse pesquisador defende investimen-
mento de novos matemáticos; tos para manter ativa a pesquisa matemática, que
• Estimular o indivíduo a desenvolver sua cria- custa pouco; em contrapartida, cabe aos matemá-
tividade, em qualquer área, e prepará-lo para ticos popularizar e aplicar suas idéias. Além da
a cidadania e vida social. matemática pura, ou clássica, Gromov vê novas
e importantes direções, utilizando os avanços da
A prática educativa defronta-se com essa computação e da inteligência artificial. Também
dualidade de objetivos. A dificuldade foi explici- observa que a teoria das probabilidades é insufi-
tada pelo cientista John Perry, numa importante ciente, por exemplo, em formações mineralógicas.
reunião da British Association, em Glasgow: Ele diz que esses problemas, que vão da simetria à
teoria do caos, necessitam de um novo tipo de ma-
É imensamente importante que, ao adotar temática (wavelets, solitons). O mais interessante
um método de ensino elementar, ele não se refere a uma nova atitude acadêmica:
seja prejudicial para um jovem, entre mil,
que gosta de raciocínio abstrato; mas é [...] nós matemáticos muitas vezes temos
igualmente importante que os demais não pouca idéia sobre o que está se passando
sejam prejudicados. (PERRY, 1901, p. 11, em ciência e engenharia, enquanto os
tradução nossa). cientistas experimentais e engenheiros
muitas vezes n = a. Este perigoso desequi-
líbrio deve ser restaurado trazendo mais
7 A identificação de talentos ciências para a educação dos matemáti-
cos e expondo os futuros cientistas e enge-
Comentemos sobre a formação do ma- nheiros a matemática central. Isto requer
temático, pedindo o apoio de Mikhail Gromov, novos currículos e um grande esforço de
do Institut des Hautes Études Scientifiques, da parte dos matemáticos para trazer as téc-

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nicas e idéias matemáticas fundamentais matemáticos. É um curso difícil. Feynman,
principalmente aquelas desenvolvidas Leighton e Sands tratam, no prefácio, de suas ex-
nas últimas décadas a uma audiência periências em ensinar cursos tradicionais:
maior. Necessitamos para isso a criação de
uma nova geração de matemáticos profis- Os alunos ouviram muito sobre quão in-
sionais capazes de trafegar entre matemá- teressante e desafiadora é a Física – a
tica pura e ciência aplicada. A fertilização teoria da relatividade, mecânica quântica
cruzada de idéias é crucial para a saúde e outras idéias modernas. No fim de dois
tanto das ciências quanto da matemática anos [no curso tradicional, os estudan-
[...] (GROMOV, 1998, p. 846-847, tradu- tes ficavam] desencorajados, pois havia
ção nossa, grifo nosso). poucas idéias grandes, novas, modernas
apresentadas para eles. Eles eram obriga-
No ensino universitário e na preparação dos a estudar planos inclinados, eletrostá-
para carreiras científicas, as novas direções de de-
tica, e assim por diante, e depois de dois
senvolvimento da matemática são praticamente
anos estavam absolutamente emburrados
ignoradas pelos cientistas e os avanços da ciência
(FEYNMAN; LEIGHTON; SANDS, 1963, p.
igualmente ignorados pelos matemáticos.
3, tradução nossa).
Destacamos parte da citação, pois esse é o
ponto crucial. Quase todos os nossos currículos,
Claro, o curso de Feynman era difícil, os
em todos os graus de ensino, ignoram os avanços
resultados não eram dos melhores. Ele analisa
das últimas décadas. Com o argumento falso de
as possíveis razões e conseqüências. Mas a razão
que é necessária uma base clássica para se enten-
pela qual mencionamos essa experiência é o de-
der o que é novo, tem-se insistido numa pedagogia
senvolvimento de toda a matemática necessária
que chamamos “propedêutica”, na qual se está,
no próprio curso, sempre fazendo referência ao
permanentemente, preparando para estudos
seguintes. Seria importante desenvolver uma pe- porquê do surgimento de tal teoria. Uma mate-
dagogia em direção contrária, parecida com o que mática muito avançada vai sendo desenvolvida à
os pós-modernistas chamam de “desconstrução” medida que se faz necessária.
na análise literária, por meio da qual se deixa a Uma das grandes vantagens das olimpíadas
mente brincar com pressuposições e intertextua- matemáticas é ajudar na identificação de talentos
lidade. O termo “brincar” é muito usado para matemáticos. O “grande cuidado” é não atribuir
se referir à maneira mais praticada de adquirir aos que se destacam nas olimpíadas qualquer
domínio do computador. caráter de superioridade sobre os demais alunos.
Isso em matemática é possível. Um exemplo São bons em matemática, o que não quer dizer
muito intrigante é o curso de Física lecionado que sejam mais inteligentes que seus colegas, ou
por Richard P. Feynman, um dos mais destaca- que estejam mais bem capacitados para enfrentar
dos físicos do século XX. O seu curso básico para as inúmeras situações novas que se apresentam ao
calouros da universidade dispensa pré-requisitos indivíduo no seu dia-a-dia.

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8 O estímulo à criatividade ao aluno e ele formula os problemas identificados
e a preparação para a cidadania nessa situação (BIEMBENGUT; HEIN, 2000).
Como exemplo, uma modelagem aplicada a
A mesma estratégia, defendida por Feynman uma situação que pode ser apresentada em todos
e por Gromov na preparação de cientistas, também os níveis de escolaridade é mapear o trajeto de casa
se aplica ao ensino. Deve-se ter novo enfoque para a escola. Difícil pensar noutro exemplo tão
sobre o desenvolvimento dos programas e a reso- simples para trabalhar espaço e tempo, medidas
lução de problemas. e operações aritméticas, sobretudo com o uso de
Os programas devem ceder lugar aos proje- uma calculadora.
tos. O programa é rígido, linear e decidido fora do Mesmo em se tratando de tópicos da chamada
contexto no qual se está realizando a ação peda- matemática pura, esse enfoque tem muitas possi-
gógica. O projeto é contextualizado, levando em bilidades, como trabalhar o teorema de Fermat,
consideração interesses dos alunos e seu nível de co- um bom exemplo sob vários aspectos. Nos últimos
nhecimento. Além disso, o programa prioriza ações anos, nenhum resultado matemático se tornou tão
individuais e uma falsa classificação dos melhores popularizado quanto esse teorema. Foi matéria de
alunos, enquanto o projeto prioriza o trabalho primeira página dos principais jornais, mas poucos
cooperativo e em grupo, fundamentais ao desen- leitores sabem do que se tratou nessa matéria. O la-
volvimento de uma ética de respeito, solidariedade mentável é que este seja, talvez, um dos problemas
e cooperação. Sem essa ética, a humanidade não numéricos mais fáceis de serem formulados, e que
atingirá um estado de paz (OLIVEIRA, 2005). pode manter crianças fazendo matemática, como
Na resolução de problemas, o grande equívo- se brincassem, por algum tempo, sobretudo tendo
co educacional prende-se ao fato de se apresentar uma calculadora! Aliás, é dificil entender por que a
uma questão fechada, muitas vezes formulada em calculadora ainda não se incorporou integralmente
situação estranha ao educando, e para cuja re- às aulas de matemática.
solução ele deve recorrer ao universo fechado de O maior desafio é fazer da matemática parte
seus conhecimentos acumulados e memorizados, do mundo moderno. De outra maneira, ela poderá
relacionando-os somente em função da questão encontrar seu fim nos currículos escolares.
que lhe foi apresentada. Insistimos na crítica do conceito de haver um
O educando não cria no processo de resolver programa de Matemática, organizado como elenco
um problema; daí o crescente sucesso na utiliza- de conteúdos hierarquizados pelo desenvolvimento
ção de computadores para resolver problemas, da matemática ao longo da história e com justifica-
inclusive jogando xadrez. Mas o computador não tivas inteiramente propedêuticas. Ensina-se “isso”
cria, utiliza apenas memória e rapidez. A educa- porque é importante para entender “aquilo”, que
ção de um indivíduo deve desenvolver capacidade por sua vez se justifica, pois será importante para
criativa. estudar “outro aquilo”.
Uma alternativa à resolução de problemas Os objetivos de cada um dos itens do progra-
é a modelagem matemática que implica a formu- ma não são explicitados. Na verdade, não podem ser
lação de problemas. Uma situação se apresenta explicitados, porque sua justificativa é quase sempre

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exclusivamente propedêutica. Como conseqüência, “desinteressante”, também é “inútil”. Não poderia
objetivos sociais não são reconhecidos. Sem serem ser de outro modo, pois é “obsoleto”.
capazes de justificar essa afirmação, todos dizem, O baixo rendimento escolar em Matemática
muito vagamente, “porque matemática é impor- é natural. O problema não está nos alunos e muito
tante no mundo moderno”. O jovem vê muitas menos nos professores, e sim na matemática
coisas que parecem ter – e de fato têm– conteúdo escolar. Lento e desinteressante, inútil e obsoleto
matemático, tais como calculadoras, computado- são adjetivos que caracterizam o ensino atual da
res, videogames, tabelas, gráficos, estatísticas etc., matemática.
mas essas coisas jamais são mencionadas nas aulas A obsolescência está intimamente ligada à
de Matemática. O estudante percebe também que, natureza do conhecimento atual. Os instrumentos
mesmo para as profissões mais simples – como materiais e intelectuais que temos para entender e
trabalhar num supermercado –, necessita-se uma explicar a realidade, sobretudo no que se refere a
habilidade matemática muito diferente de resolver, tempo e espaço, são extremamente mais poderosos
com lápis e papel, algumas continhas ou problemas hoje do que para os fundadores do pensamento cien-
simples. É preciso “escanear”, reconhecer sons que tífico e matemático que prevalece. Em que momento,
informam sobre a operação, tomar decisões, traba- num curso de matemática, se avalia se é possível
lhar com códigos de barras, digitar, imprimir. Essa instalar determinado programa no computador,
é a matemática do comércio de hoje. que tem um disco rígido de 3,5 gigabytes? O que é
a medida bit? Ou o que é dizer que Andrômeda está
a 2 milhões de anos-luz da Terra? Essas medidas e
9 Considerações finais dimensões é que povoam o imaginário matemático
do jovem; dizer que para aprender isso é necessário,
Resta-nos fazer alguns comentários irre- primeiro, dominar a aritmética de dezenas, cente-
verentes. Quando o jovem comenta com adultos nas e milhares é contestável.
e profissionais suas dificuldades em matemática, Mas é claro que somente essa matemática,
ouve comentários do tipo “eu sempre tive dificulda- que faz parte do dia-a-dia dos jovens, não é suficien-
des com matemática, nunca aprendi essas coisas”. te. A matemática tem sido, ao longo da história, a
Mas esses adultos e profissionais têm muito sucesso espinha dorsal do pensamento ocidental, responsá-
na vida. E sempre o adulto acrescenta: “isso é muito vel pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
importante”. Se o jovem mais ousado perguntar: É, portanto, importante incursionar pela matemáti-
“em que isso que você não aprendeu e não sabe tem ca clássica, não por ser útil – porque não é –, mas
feito falta para você?”, vai ter respostas evasivas. E se pelo fato de ela ser parte do patrimônio cultural do
fosse ainda mais ousado, a ponto de propor que suas ocidente. Por exemplo, comentando com os alunos
provas e exames fossem dados aos adultos, inclusive – em todos os níveis – a razão pela qual Andrew
a seus professores de outras matérias, veria que a Wiles saiu na primeira página dos principais jornais
quase totalidade seria reprovada. E sabe disso. e ganhou alguns milhões de dólares em prêmios,
A conclusão é que aquilo que lhes é dado e por ter demonstrado um teorema. Que teorema era
cobrado na escola, que os alunos já acham lento e esse? De Fermat? Quem foi Fermat? Será que o que

Dialogia, São Paulo, v. 4, p. 31-44, 2005 Artigos

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Wiles demonstrou é mesmo difícil? Não há por que nheiro, a gente já começa a fazer cálcu-
o professor não mostrar coisas tão simples como 32 los matemáticos. Quando a gente olha o
+ 42 = 52 e 42 + 52 ≠ 62 e dar como exercício en- relógio, por exemplo, a gente já estabelece
contrar outras ternas de números para as quais vale a quantidade de minutos que a gente tem
a igualdade. E por que não perguntar o que ocorre para, se acordou mais cedo, se acordou
com expoente 3, e daí chegar à importância do feito mais tarde, saber exatamente a hora em
de Wiles? que vai chegar à cozinha, que vai tomar
Uma outra estratégia comum na matemática, o café da manhã, a hora que vai chegar
de todos os tempos e em todas as culturas, tem sido o carro que vai nos levar ao seminário,
representar o mundo real. A aritmética e a geome- para chegar às oito. Quer dizer, ao desper-
tria são elaborações sobre representações. As ações tar os primeiros movimentos, lá dentro do
mais fundamentais para o dia-a-dia dependem de quarto, são movimentos matematicizados.
avaliações. Quanto tempo leva para ir lá? E para Para mim essa deveria ser uma das preo-
fazer isso? De quanto espaço eu necessito para deter- cupações, a de mostrar a naturalidade do
minada tarefa? As decisões geralmente são tomadas exercício matemático. (FREIRE, 1997, p.
a partir de representações e avaliações e são basea- 6, tradução nossa).
das em modelos.
Modelagem é uma prática de fundamental Essa maneira matemática de estar no mundo
importância em matemática e no dia-a-dia. Por é o grande objetivo da educação matemática. E pode
exemplo, modelar o trajeto da casa à escola pode ser ser praticada hoje, com a matemática de hoje, na
feito em todas as séries, com modelos de diferentes escola de hoje. Não é obsoleta nem desinteressante e
graus de precisão e de detalhes. Paulo Freire disse, tampouco inútil.
numa entrevista em Sevilha, Espanha:

A vida que vira existência se matematiza. Mathematics as a priority


Para mim, e eu volto agora a esse ponto, eu in a modern society
acho que uma preocupação fundamental,
Mathematics is the fundamental instrument
não apenas dos matemáticos mas de todos to explain, understand, dealing with facts and
nós, sobretudo dos educadores, a quem phenomenons in the world. Its importance justify
cabe certas decifrações do mundo, eu acho the development of an analysis of its presence as
que uma das grandes preocupações deveria a main discipline in the curricular grades of all
ser essa: a de propor aos jovens, estudantes, degree levels of the fundamental and the medium
alunos homens do campo, que antes e ao
teaching, not only in Brazil, but all around the
world. This analysis starts from a knowledge
mesmo tempo que descobrem que 4 por 4
theory, from a reflection about the mathematical
são 16, descobrem também que há uma
knowledge and from its contextualization.
forma matemática de estar no mundo. Eu Mathematics, as all the others knowledge forms, is
dizia outro dia aos alunos que quando a the result of a natural and cultural environment,
gente desperta, já caminhando para o ba- that is to say, mythic, religious, social, economical

Dialogia, São Paulo, v. 4, p. 31-44, 2005

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and political. Being education the strategy 7 Esse foi o tema de seção intitulada “Por que
ensinar Matemática?” que coordenamos na terceira
developed by societies in order to make possible to
edição do Congresso Internacional de Educação
each individual to reach his creative potential and Matemática, realizada em Karlsruhe, Alemanha,
stimulate and facilitate the common action aiming em 1976. O trabalho intitulado “Metas y objectivos
to live in society, the great challenge is to form generales de la educación matemática” foi
mathematicians that are necessary for progress publicado como capítulo de número 9 de Nuevas
tendencias en la enseñanza de la matemática IV
and, at the same time, educating all the population
(D’AMBROSIO, 1979).
to the creative, productive and integrating life for
an ideal of society, without arrogance, intolerance
and iniquity. Referências
Key words: Education. Knowledge. Mathematical
BIEMBENGUT, M. S.; HEIN, N. Modelagem
education. Mathematics. Society.
matemática no ensino. 1. ed. São Paulo: Contexto,
2000.

D’AMBROSIO, U. Metas y objectivos generales de


Notas la educación matemática. In: UNESCO. Nuevas
tendencias en la enseñanza de la matemática IV.
1 Muitos afirmam que a humanidade feliz, sem as 1. ed. Paris: ICMI/Unesco, 1979. cap. 9, p. 205-226.
mazelas apontadas, é utopia. Não acreditamos. Mas
______. Qual a posição da matemática nos currículos
que seja utopia. É possível o ser humano sem utopias?
do futuro? In: ENCONTRO PAULISTA DE EDUCAÇÃO
2 Isso é bem ilustrado pela decisão de algumas tribos
MATEMÁTICA, 5., 1998, São José do Rio Preto.
indígenas de não mais procriar, de praticar uma
Conferência inaugural. São José do Rio Preto: Epem,
forma de suicídio tribal. Esse também é um ato de
1998.
amor, como o foi o evento de Masada, na Judéia, no
século I. DUMONT, L. Homo hierarchicus. Le système des castes
3 Essa foi a grande motivação para se fazer uma seção et ses implications. 1. ed. Paris: Gallimard, 1966.
do Zentralblatt für Didaktik der Mathematik
FEYNMAN, R. P.; LEIGHTON, R. B; SANDS, M. The
(ZDM), dedicada especialmente ao tema
Feynman lectures on physics. 1. ed. Massachusetts:
“Matemática, ética e paz.”
Addison-Wesley, 1963.
4 “Hierarquia nada mais é no sistema que a forma
consciente de referência das partes ao todo [...]” FREIRE, P. Remembering Paulo Freire. For the
(DUMONT, 1966, p. 91). Learning of Mathematics, Edmonton, v. 17, n. 3, p.5-6,
5 O gorila Mestre Ismael tem, na parede do seu 1997.
escritório, um quadro com a pergunta: “Com o fim
GROMOV, M. Possible trends in mathematics in the
da humanidade haverá esperança para o gorila?” E
coming decades. Notices of the AMS, Providence, v. 45,
no reverso a pergunta: “Com o fim do gorila haverá
n. 7, p. 846-847, 1998.
esperança para a humanidade?” (QUINN, 1998, p.
273). MACHADO, A. Caminante, son tus huellas. Provérbios y
6 David Hilbert é considerado um dos maiores cantares, Madrid, v. 29, 1912. Disponível em: <http://
matemáticos da história. Contribuiu em praticamente www.poesia-inter.net/amach164.htm>. Acesso em: 4
todas as áreas da matemática pura e aplicada. jul. 2005.

Dialogia, São Paulo, v. 4, p. 31-44, 2005 Artigos

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OLIVEIRA, P. R. de. Currículos de matemática: SALVADOR, V. do. História do Brasil 1500-1627.
do programa ao projeto. 2005. Tese (Doutorado em Edição especial. São Paulo: Melhoramentos, 1965.
Educação Matemática)-Faculdade de Educação, VIEIRA, A. Obras escolhidas. 1. ed. Lisboa: Sá da Costa,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. 1953. v. 8.

PERRY, J. Discussion on the teaching of matematics. In: WEYL, H. Space, time & matter. 1. ed. New York: Dover,
1922.
______. A British association meeting at Glasgow,
1901. 1. ed. London: Macmillan, 1901. WIGNER, E. The unreasonable effectiveness of
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QUINN, D. Ismael. Um romance sobre a condição in Pure and Applied Mathematics, Hoboken, v. 13, n.
humana. 1. ed. São Paulo: Fundação Peirópolis, 1998. 1, p. 1-14, 1960.

recebido em: 4 jul. 2005 / aprovado em: 11 out. 2005

Para referenciar este texto:


D’AMBROSIO, U. A matemática como prioridade
numa sociedade moderna. Dialogia, São Paulo, v. 4,
p. 31-44, 2005.

Dialogia, São Paulo, v. 4, p. 31-44, 2005

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