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Monólogo
Texto de:
JULIO CARRARA
Escrita em 1997
Julio Carrara O Anjo Maldito 1
PERSONAGEM:
ANJO MALDITO, um rapaz de 17 anos, que atende por esse apelido.
ÉPOCA: Atual
CENA 1
(O pano se abre lentamente. Uma forte contraluz vermelha sobe em resistência. Um
rapaz está na parte superior central do palco de costas para a plateia, completamente
nu. Lentamente começa a pegar suas roupas que estão espalhadas no chão e vai se
vestindo. Primeiro põe uma sunga preta, depois uma calça jeans toda esfarrapada e um
colete, deixando aparecer nitidamente seu físico. Depois de vestido, vira-se de frente
para o público e caminha para o centro do palco. Foco central sobe em resistência.
vemos em seu rosto uma expressão angustiada e irada ao mesmo tempo. É um
personagem extremamente bonito. Sua face é angelical e ao mesmo tempo demoníaca.)
ANJO MALDITO
(Apresenta-se.)
Meu nome é...
(Pega um maço de cigarros que está jogado em um canto qualquer. Acende um. Fuma.
Suas mãos estão trêmulas e ele está muito nervoso. Solta a fumaça, que se espalha
lentamente. Fica olhando para ela e parte de sua vida lhe vem à mente.)
Parece que foi ontem toda a desgraça que caiu sobre minha cabeça...
(Desesperado.)
sem se mexer enquanto um sangue negro que saía de sua cabeça jorrava e
escorria pelo chão.
(Põe a cabeça da mãe em seu colo. É a rainha branca. Olha para ela. Uma luz especial
sobe em resistência sobre o rapaz, que fala como um menino de doze anos.)
(Chacoalha-a.)
(Contorcendo-se.)
Mãe, sua morte vai ser vingada. Juro por tudo que é mais sagrado que
vou matar seu assassino. E não vou sossegar enquanto isso não acontecer, nem
que pra isso eu tenha que descer até às profundezas do inferno!
Nunca!!!!!!!!!
CENA 2
ANJO MALDITO
(Narrando.)
(O rapaz vira-se de costas e põe a capa e a máscara. Segura um chicote e inicia seu
show. Faz um “strip-tease”, colocando em prática todo o seu charme e sensualidade.
Bate com o chicote no chão e dança ao som de uma música de “strip-tease”. Acaricia o
corpo, deixando a plateia, enlouquecida. Passa a mão no pênis e movimenta os quadris
simulando o ato sexual. Os gritos da plateia ainda ecoam no seu ouvido.)
Julio Carrara O Anjo Maldito 6
...e naquela mesma noite, rolou a minha primeira trepada. Uma coroa
me deu uma boa grana pra foder com ela. Eu falei pra ela que ainda não
conhecia nenhuma mulher e ela me disse:
“Adoro meninos da sua idade, que ainda cheiram a leite. Vocês são os
melhores amantes do mundo. Vou te ensinar tudinho... de A até o Z.”
(Noutro tom.)
Me levou até o seu apê, me jogou na cama, arrancou toda a minha roupa
e bateu uma punheta pra mim. Puxava meu cabelo, me arranhava, gemia alto e
falava sacanagens no meu ouvido. Como uma leoa no cio, pediu que eu
enterrasse a pica o mais depressa possível nela. Fiz como ela pediu... A velha
tinha um apetite do caralho. Quando sentiu que eu ia gozar, tirou o cacete de
dentro dela, deu mais uma mamada, engoliu o meu leitinho e ficou brincando
com o meu pau. Depois dela, vieram outras, outras e mais outras... A grana era
alta. Eu tinha por obrigação satisfazer todo mundo...
(Muda o tom.)
(Deita-se no piso.)
(Pega o cavalo preto e põe em cima do seu corpo. Luz especial. O rapaz fica apavorado.)
O que é isso? Sai de cima de mim. Você só disse que queria conversar
comigo, seu sacana, filho da puta.
(Caminha com dificuldade, indo até o centro do palco. O homem faz com que ele fique
“de quatro”. O rapaz tenta resistir, mas o homem muito mais forte do que ele, baixa a
sunga do rapaz. este chora.)
(O rapaz estremece o corpo. O homem penetrou nele. este grita muito e vai
estremecendo à medida que o homem o enraba. A cena é tensa. Nesta cena deverá ser
utilizado efeito de luz: o “strobo” é o mais indicado para deixar a cena em câmera lenta.
A dor do rapaz é imensa. O homem chega ao ápice de seu prazer. O rapaz rola pelo
chão. está quase desmaiando. Black-out rápido.)
CENA 3
ANJO MALDITO
Depois deste dia, nunca mais fui o mesmo. Nunca mais consegui dormir
tranqüilo. Fechava os olhos e via aquela cena. Nunca mais consegui me olhar
direito no espelho. Acho que aquele anjinho que ainda existia em mim,
morreu, fazendo com que eu me transformasse definitivamente num demônio.
(Pega algumas pedras de crack e se droga. Entra em cena uma mulher, representada
pelo bispo branco. Anjo Maldito dirige-se para ela, com o olhar alucinado.)
Julio Carrara O Anjo Maldito 8
(Abraça a mulher.)
(Geme e se masturba. de repente, seus movimentos que eram suaves, passam a ser
fortes.)
Não é qualquer uma que tem o privilégio de estar nos meus braços,
sabia? Você tem um cheiro maravilhoso. Vou te dar prazer como nunca dei a
nenhuma outra mulher.
(Mais brutal.)
Vou fazer com que você sinta tudo o que eu senti naquela maldita
noite...
(Penetra violentamente na garota. Ele grita por ela e ao mesmo tempo por ele. Seus
movimentos são idênticos do homem que o estuprou. A cena se repete só que agora o
rapaz é o violador. Vai diminuindo seus movimentos até parar. Repete a mesma marca
do trecho de seu estupro. Black-out rápido.)
(Flashes do Anjo Maldito sendo assassinado por uma gangue. Ele pula na estrutura de
sustentação do teto e atravessa-o todo. Ao chegar à outra extremidade, fica pendurado
de cabeça para baixo, como um morcego. Depois de um tempo, salta do teto e cai no
inferno.)
(Seu pai, representado pelo rei preto, está frente a frente com ele.)
Cala a boca... Morrer é pouco pra você. Fique onde tá. Não se mexa...
Você vai morrer de qualquer jeito. Sua súplica é inútil... Mas eu vou dar um
tempinho para que você possa rezar um “Pai-Nosso”, se é que você sabe rezar,
né, seu bosta?...
(Tempo.)
Um... Pai Nosso, que estais no Céu... Dois... Santificado seja o Vosso
nome... Três... Venha a nós o Vosso Reino... A gente se encontra no inferno...
Seja feita a Vossa vontade.
(Atira.)
Xeque-mate.
(O rapaz ao ver o cadáver, começa a rir. Um riso macabro, que começa baixinho e vai
crescendo, crescendo, crescendo até chegar numa altura infernal. Em seguida esse riso
se transforma num choro de um bebê recém-nascido. O garoto está ajoelhado, de cabeça
baixa. Levanta a cabeça lentamente e ainda ajoelhado, estende as mãos para o céu; a
plenos pulmões.)
Eu tô livre!!!
(Uma suave luz azul dá lugar à luz vermelha. Uma forte neblina invade a cena. O
Anjo tem um sorriso angustiado, enquanto grossas lágrimas escorrem pela sua face. A
cena deve sugerir mistério e poesia. Black-out.)
FIM
Agosto/1997