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LYGIA FAGUNDES

TELLES
LYGIA FAGUNDES TELLES

Nasceu no dia 19 de abril de 1923 na capital


paulista.

Em 1939, terminou os estudos secundários.

Cursou Educação Física e Direito na USP.

Formou-se em 1945.
Goffredo da Silva Telles Jr.
Professor de Direito
Paulo Emílio Salles Gomes
Internacional Privado
(Professor universitário,
Em 1954, nasceu seu único crítico de cinema, romancista
filho Goffredo da Silva Telles e fundador da cinemateca
Neto brasileira)
Lygia aprimorou sua técnica de composição
em narrativas curtas – conto, mostrando uma
nítida preocupação psicológica em suas
histórias.

Conto:
Narrativa curta
Concentra unidade de ação, tempo e lugar.
Desfecho inesperado, mas coerente com a intriga.
Cabe bem ao homem contemporâneo.
Lygia, em suas narrativas:

• Expõe as fraquezas humanas.


• Explora os estados de angústias de suas
personagens, especialmente a solidão.
• Usa muito a primeira pessoa, o que aproxima o
leitor desses seres desajustados ou excluídos
socialmente.
Exemplo: Conto A confissão de Leontina

Em forma de relato, o conto mostra uma mulher


que mata para defender sua integridade física
e moral.
O enredo mostra a miséria da vida da
personagem, provocada por homens, a
começar pelo primo a quem ela ajudou nos
estudos, mas ele tem vergonha dela. Depois
surgem outros assim. Até que um homem
tenta violentá-la e ela o mata para defender,
mas acaba julgada pela sociedade, pois é
pobre e dançarina de aluguel.
“Já contei esta história tantas vezes e
ninguém quis me acreditar. Vou agora
contar tudo especialmente pra senhora que
se não pode ajudar pelo menos não fica me
atormentando como fazem os outros. É que
eu não sou mesmo essa uma que toda
gente diz. (...)
Seu Armando que é o pianista lá do salão
de danças já me aconselhou a não perder a
calma e esperar com confiança que a
justiça pode tardar mas um dia vem.
Respondi então que confiança podia ter
nessa justiça que vem dos homens
se nunca nenhum homem foi justo
pra mim. Nenhum. (...)”
“(...) Fui ficando ofendida porque eu não era
não senhora aquelas coisas que ele dizia. E
depois não tinha nada que puxar o nome da
minha mãe que era uma mulher que só
parou de trabalhar para deitar a cabeça no
chão e morrer. Isso não estava certo porque
nela que estava morta ninguém tinha que
bulir. Ninguém.
Foi o que eu disse. E inda que não merecia
tanta xingação porque trabalhava das dez
às quatro num salão de danças. E se ia com
este e com aquele era por amor
mesmo. Era por amor.”
Lygia caracterizou psicologicamente a
ingenuidade dessa personagem, seu sofrimento e
sua desesperança. O drama pelo qual ela passa,
após cometer o crime, torna-se mais intenso,
mais amargo, fazendo dela uma vítima das
circunstâncias.

É o perfil da mulher humilde que, mesmo tendo


conhecido o submundo urbano, não perdeu a
inocência.
Desencontro amoroso

O tema da relação amorosa entre o homem


e a mulher destaca-se em sua narrativa.

Relação afetiva e confronto com os valores


sociais misturam-se.
Ex. conto Venha ver o pôr do sol.
Trata-se de um convite feito à mulher amada
(Raquel) pelo ex-namorado (Ricardo) para ver o
pôr do sol no cemitério abandonado da cidade.
Isso é parte de um plano armado pelo jovem
ciumento. Sua vingança é perversa: quer
aprisioná-la em um jazigo abandonado.

Desfecho trágico, não só pela surpresa, mas


porque há contraste entre o tom leve do início e a
crueldade do final.
“– É imenso, hem? E tão miserável, nunca
vi um cemitério mais miserável, é deprimente –
exclamou ela, atirando a ponta do cigarro na
direção de um anjinho de cabeça decepada –
Vamos embora, Ricardo, chega.
– Ah, Raquel, olha um pouco para esta
tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi
que eu li, a beleza não está nem na luz da
manhã nem na sombra da noite, está no
crepúsculo, nesse meio-tom, nessa
ambiguidade. Estou lhe dando um crepúsculo
numa bandeja e você se queixa.”
“– Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos,
imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco. Detesto esse
tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que
dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais
estúpida!
– Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta,
tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando
devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
(...) Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou
um sorriso.
– Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora
preciso ir mesmo, vamos, abra...
Ele já não sorria, estava sério, os olhos diminuídos,
em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em
leque.
– Boa noite, Raquel. (...)”
CORAÇÕES SOLITÁRIOS

O espaço urbano foi matéria-prima para a


investigação da realidade.

A linguagem reflete a origem social da


personagem e sua visão de mundo.
Ex.: Conto Pomba enamorada

A obsessão amorosa da cabeleireira (Pomba enamorada)


pelo motorista de ônibus Antenor é o enredo do conto
Pomba enamorada ou Uma história de amor.

Linguagem chula, com palavrões de Antenor contrasta


ironicamente com o excesso de sentimentalismo piegas e
ao desespero de amor da mulher.

Mostra a ilusão movida por horóscopos, novenas


milagrosas, santos, livros de correspondência
amorosa e erótica, despachos, simpatias, filmes,
novelas, cartomancia.
“(...) Antes, falou bem dentro do seu ouvido que
não o perseguisse mais porque não estava
aguentando, agradecia a camisa, o chaveirinho, os
ovos de Páscoa e a caixa de lenços mas não queria
namorar com ela porque estava namorando com
outra, me tire da cabeça pelo amor de Deus, PELO
AMOR DE DEUS! Na próxima esquina, ela desceu
do ônibus, tomou condução no outro lado da rua, foi
até a Igreja dos Enforcados, acendeu mais treze
velas e quando chegou em casa pegou o Santo
Antônio de gesso, tirou o filhinho dele, escondeu-o
na gaveta da cômoda e avisou que enquanto
Antenor não a procurasse, não o
soltava nem lhe devolvia o menino.”
Obras: Contos

1938 1944 1949 1970

Separação
dos pais
Obras: Contos

1977 1978 1980 1995


Obras: Romance

1954 1963
Obras: Romance

1973 1989
Em parceria com Paulo
Emílio, fez uma adaptação
para o cinema do romance
de Machado de Assis, Dom
Casmurro, para o cineasta
Paulo César Sarraceni,
adaptação que adotaria a
alcunha da personagem
principal:
“Capitu”.
É membro da:

Academia Paulista de Letras,


desde 1982;

Academia Brasileira de Letras,


desde 1985;

e da Academia das Ciências de Lisboa,


desde 1987.
https://www.youtube.com/watch?v=UGyYf9LAroc

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