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Eu vejo, eu gosto
Eu quero, eu consigo
7 Rings | Ariana Grande
Davi Filipo Sintori "Sin"
De jeito nenhum
Não vamos tolerar isso hoje
Fuck Authority | Pennywise
Davi Filipo Sintori "Sin"
Não vi mais Madah pelo restante do dia. Ela saiu com Enrico, eu fui
para o estúdio com Luca, mais para passar o tempo do que para ensaiar. À
noite, meu irmão foi para a faculdade e eu voltei para casa. Dormi cedo,
exausto. Estava com o sono atrasado por conta da viagem.
O dia seguinte era sábado. Apesar de ser inverno, o sol estava forte e
por isso vesti uma bermuda fui para a piscina, encontrando o meu pai e os
meus irmãos já por lá. Me perguntei onde estaria Madah, mas não questionei
ninguém a respeito.
Eu estava mexendo no celular quando percebi a sua presença, me
deixando em alerta. Levantei a cabeça e enxerguei a menina chegando ao
deck de madeira, com os olhos em mim, me analisando. Ela os desviou
rapidamente quando se deu conta de que a flagrei. Não contive um sorriso
presunçoso.
Com uma saída de praia leve cobrindo seu corpo magro, pude ver que
seu biquíni era preto, em um modelo comum. Seus cabelos claros estavam
presos em um rabo-de-cavalo alto, deixando exposto o seu pescoço esguio.
Suspirei fundo e quase pude sentir o seu perfume suave e delicioso que tive o
desprazer de conhecer na viagem.
A passos hesitantes, ela se aproximou do meu pai que tomava sol e se
sentou ao lado dele, em outra espreguiçadeira, sob os olhares atentos dos
meus irmãos. Enrico estava dentro da água e Luca sob o chuveiro, tomando
uma ducha. Nós três ficamos de olho nela, sem piscar. Madah não percebia
que não era bem-vinda?
— Madah? É você? — A voz de Domenico chamou a minha atenção.
Ele estava com o rosto de lado, apertando os olhos, cego por causa do sol.
— Sim. Cheguei.
— Pode passar protetor nas minhas costas? — pediu, me enervando.
Trinquei o maxilar, desconfortável por ser obrigado a testemunhar, mais uma
vez, a troca de toques e carícias entre eles. Porra...
— Posso. — Ela pegou o pote sobre a mesinha, lambuzou as mãos com
o creme e passou a espalhá-lo pelas costas dele, sem pressa.
Irritado, decidi tomar uma atitude, mas... Qual?
De repente, sorri com a ideia que se formou na minha cabeça. Ainda
com o celular em mãos, me aproximei deles e, disfarçadamente, bati uma
foto. Depois me sentei em uma espreguiçadeira e postei a foto nos meus
stories, com uma frase perfeita para causar o caos que eu queria. Olhei as
horas e me perguntei em quantos minutos o show começaria. Seria animal...
Nem meia hora depois, eu estava dentro da água com Luca quando
escutei o barulho de saltos enfurecidos batendo contra o piso do deck da
piscina. Bingo.
— Domenico Sintori! Eu te mato! — Bárbara apareceu como um
furacão, correndo o olhar de Domenico a Madah, ida e volta. Seus cabelos
loiros balançavam de um lado para o outro, ondulando no ritmo dos seus
passos irritados.
— Babi! Che cavolo... Me assustou. — Meu pai se sentou em um pulo,
confuso.
— Que palhaçada é essa de... Como diz a frase de Sin... "Sugar
Daddy em ação"?! — Ela balançou o celular no ar freneticamente, fora de si,
me fazendo rir. — Quem é essa garota?! — Apontou para a espreguiçadeira
ao lado de Domenico.
Madah estava sentada, com uma expressão perdida no rosto,
apreensiva, apertando as duas mãos juntas.
A casa caiu? Foda-se.
Não contive um sorriso ao observar o seu nervosismo.
— Babi... Vamos lá dentro conversar. Não é nada disso. Sin estava
brincando ao escrever aquilo... — Domenico tentou explicar, me fuzilando
com os olhos. Sonso.
Então se levantou, caminhando na direção da casa e Bárbara o seguiu,
pisando duro. Minutos depois, voltaram. Domenico estava vestido, de banho
tomado.
— Crianças. Resolvi levar Bárbara para passar o final de semana na
nossa casa de praia. Comportem-se. Até segunda. — E simplesmente se
virou, indo embora.
Bárbara agarrou o seu braço possessivamente, sorrindo para Madah
com uma aura vitoriosa. Desapareceram dentro da casa, nem ninguém falar
mais nada.
— Festinha! — Luca quebrou o silêncio, enganchando um braço no
meu pescoço. — Bora?
— Bora... — Saí da piscina, me enxugando.
Peguei o celular sobre a mesinha e digitei a mensagem: "Casa liberada.
Trazer bebida. Oito da noite. Sin."
— Já avisou o pessoal da escola? — Meu irmão mexeu no seu celular
depois de se enxugar. — Estou vendo aqui a mensagem no grupo da banda,
vou repassar para a turma da minha faculdade. Pediu para os Fontini
chegarem mais cedo?
— Pede você... Faz um vento. — Joguei a toalha úmida na sua cara,
mas ele foi ligeiro e pegou a peça no ar com a mão livre.
Era sempre assim. Toda vez que Domenico viajava, eu e Luca
organizávamos festinhas em casa, com a ajuda de Marco e Paolo, os filhos do
tio Giuliano. E, modéstia à parte, as nossas festas eram as melhores.
Não via a hora de encher a cara e pegar alguma garota. Qualquer
garota, para acalmar os meus hormônios descontrolados e voltar a pensar
racionalmente, mais tranquilo. Se por fora eu conseguia disfarçar, brincar e
manter o sorriso no rosto, a verdade era que por dentro eu estava
absurdamente incomodado com aquela nova presença na minha casa, com a
escuridão do passado e seus demônios ameaçando me engolir mais uma vez.
Madah estava fodendo com a minha sanidade. Precisava me manter
longe dela.
Cryin’ | Aerosmith
Madeleine Laurent "Madah"
Beijando Enrico, deslizei as minhas mãos pelo seu peito firme, sentindo
o seu coração disparado. Não contive um sorriso quando me arrastou para
mais perto pela cintura, aprofundando o beijo. Ele aprendia rápido...
— Madah... — Quebrou o beijo, desviando o olhar, tímido. — Toma
um banho comigo?
— O quê? Rico... Eu não vou perder a virgindade assim...
— Não vamos fazer sexo — respondeu, acariciando a minha bochecha
com o polegar. — Só pensei em um banho com benefícios... Para aquietar o
seu facho. Vem cá.
Me puxou pela mão e, um minuto depois, estávamos os dois nus
embaixo da água quente do chuveiro. Não resisti e disfarçadamente olhei para
o meio das suas pernas enquanto me ensaboava, vislumbrando o seu membro
relaxado.
Sem falar nada, Enrico me virou de costas e passou a ensaboar os meus
ombros. Fechei os olhos, imaginando outras mãos firmes me tocando. Meu
coração deu uma disparada gostosinha, agitado.
E, quando ele escorregou os dedos com sabão sobre os meus seios,
deixei escapar um gemido, ondulando os quadris. Segurei as suas mãos ali, as
apertando sobre os meus mamilos com intensidade. Enrico entendeu o recado
e continuou me tocando com firmeza, beijando a minha nuca.
— Tive uma ideia — falou, se afastando. — Pega. — Me entregou o
chuveirinho, aumentando a potência da água. — Divirta-se.
Eu sorri, direcionando o jato de água bem na minha intimidade.
— Ah... — gemi, me contorcendo.
Estava tão bom... E ficou ainda melhor quando ele me beijou pela
frente, percorrendo o meu maxilar com os lábios.
— É assim que você gosta? — perguntou com a boca no meu pescoço.
— Está bom?
— Sim, continua... — murmurei, de olhos fechados mais uma vez, com
o jato de água fazendo a minha vagina pulsar, mais e mais.
Ele me beijava e estimulava os meus seios sem parar, até que a pressão
lá embaixo foi aumentando, aumentando... E, quando pensei naqueles olhos
azuis me queimando, estremeci inteira, amolecendo as pernas com o
orgasmo. Enrico me segurou, evitando que eu caísse e me abraçou, alisando
as minhas costas. Percebi a sua respiração ofegante e, pressionando o meu
umbigo, senti a sua ereção.
— Você... — Dei risada, surpresa, fitando o seu membro rígido entre os
nossos corpos.
— Foi mal. Acho que foi demais te ver gozar... Você se entregou de um
jeito sublime, princesa. — Ele parecia genuinamente sem jeito. — Vamos
sair.
Eu não soube o que falar. Se deveria oferecer "ajuda", afinal, se tinha
uma coisa que aprendi a fazer era masturbar um homem...
— Quer que eu... — comecei, apontando para baixo, insegura.
— Não. Não — repetiu, incisivo, pegando uma das toalhas. — A ideia
era você gozar.
— E funcionou. — Sorri para ele, me enxugando com a outra toalha.
— Então vê se para de ficar tarada atrás do meu irmão caçula... — Ele
me deu um beijo na cabeça. — Nem que a gente faça isso todo dia. — Deu
risada, vestindo a cueca.
— Não seria uma má ideia... — comentei, rindo. Passei a me vestir
enquanto ele foi para o quarto, esfregando os cabelos molhados com a toalha.
Coloquei a calcinha, a blusa e, quando ia vestir os shorts, a porta do
quarto se abriu. Instintivamente, empurrei a porta do banheiro para a frente,
deixando apenas uma frestinha aberta.
— O pai telefonou para avisar que... — Sin parou de falar quando
reparou melhor no outro. Rico estava apenas de cueca, enxugando os cabelos,
com os olhos arregalados em pânico entregando que havia alguma coisa de
errado.
— Não sabe bater? — Enrico tentou disfarçar, posicionando-se na
frente do irmão, impedindo a sua passagem.
A atitude de o segurar lá fora causou o efeito contrário. Sin o empurrou
com tudo para o lado, entrando no quarto como um raio.
— Onde ela está?! — Apontou para as minhas sandálias no chão, ao
lado da cama, furioso.
Rico não falou nada e, cruzando os braços sobre o peito, o encarou em
silêncio.
— Porra! Vou acabar contigo, seu... — Sin explodiu. Puxou
rapidamente o cotovelo para trás, fazendo menção de dar um soco e eu o
interrompi com um grito, escancarando a porta do banheiro.
— Não! — Sustentei o seu olhar azul. — Não. Encosta. Nele.
Ele paralisou, descendo os olhos pelo meu corpo, incrédulo. Eu
continuava sem os shorts e com os cabelos molhados. Prendi o ar ao perceber
o seu olhar se quebrar.
Sin piscou devagar, balançando a cabeça para os lados e, em vez de
gritar ou brigar, simplesmente se virou, indo embora.
— Qual é o seu problema, Sin? — Enrico alcançou o irmão no
corredor. Permaneci no quarto, com o coração disparado, atenta à conversa a
poucos metros de mim.
— Na real, Rico? Não entendo... Não faz sentido... — A voz rouca fez
uma pausa para respirar fundo. — Você nunca pegou ninguém, e agora
resolve tomar a iniciativa justo com ela?!
— Na verdade, eu não tomei a iniciativa. Foi ela. Porém... Confesso
que me surpreendi positivamente. Ontem e hoje. Gostei da atitude dela.
"Eu também gostei da sua atitude, Rico... Você é um príncipe!", pensei,
esboçando um sorriso.
— E isso também não faz sentido... Por que ela quis você?
— Talvez, porque... Eu seja o único aqui que não a trata como lixo.
Você e o Luca perderam a noção! Se é que algum dia a tiveram...
— Rico, queria o quê? A menina é uma puta, oportunista, que...
Minha nossa... Na cabeça dele, eu era mesmo uma prostituta! Sin não
falava da boca para fora, para me provocar. Ele tinha certeza!
— Ah, cala a boca! — Rico o cortou. — Você só fala besteira... Ela
não é puta, não é nada disso. É só uma adolescente e... Não cabe a mim falar
sobre a vida dela.
— Caralho, já está assim, todo protetor? Madah deve ter dado a você
um belo chá de boceta.... — Sin riu com amargura. — Quantas vezes já
transaram?
— O quê? Nenhuma! — Enrico alterou a voz, na defensiva.
— E tomaram banho juntos? Como...? Você é mesmo viado?
— Rá. Você me chama de viado há anos, e agora resolveu me
perguntar?
Boa, Rico!
— É ou não é?! — Sin quis saber, incisivo.
— Sinceramente? Não sei.
Silêncio.
— Ainda não acredito que tomaram banho juntos e não fizeram nada...
— Eu não disse que não fizemos nada. Disse que não transamos. E não,
não vou te dar os detalhes do que fizemos.
— Vocês deram altos amassos, não deram? Assim você me quebra,
Rico...
Silêncio mais uma vez.
— Sin, olha para você... Você tá gostando dela!
Prendi o ar, na expectativa.
— Nem fodendo... Gostar dela? Uma puta? Marmita do pai? — Riu,
esmagando o meu coração.
— Pirralho... — Enrico expirou fundo, impaciente. — Me fala... Por
que cismou com isso? Alguém por acaso te contou que ela era prostituta?
— Você não estava lá, Rico. Eu vi a verdade com os meus olhos. Vou
te contar como foi tudo, desde o começo. O pai foi fazer uma massagem, em
uma área VIP do hotel lá em Punta. As tabelas das massagistas incluíam
serviços extras e... Foda.
— E...? Continua — Enrico pediu.
— Antes mesmo de sumir em uma das salas, Domenico já procurava
por ela. Ele sabia o nome dela. Talvez algum amigo a tenha indicado, isso eu
já não sei... Só sei que depois ele apareceu com Madah desmaiada nos braços,
apenas de calcinha, sutiã e cinta-liga. Disse que a levaria para casa, comprou
presentes, depois ficou de chamego com ela na van, do hotel ao aeroporto... E
o resto você já sabe.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu nem sabia direito o porquê.
Me perguntava se, no lugar dele, eu também não teria chegado às mesmas
conclusões.
— Ok — Enrico respondeu, em um tom pensativo. — Ainda acho que
tem coisa mal contada nessa história. Conversa direito com o pai, Sin... E se
acalma. Não quero que tenha uma recaída. Não gosto de te ver surtar, porque
já me lembro daquela sua fase complicada.
Recaída? Recaída do quê?
— É foda. Desde que ela apareceu... Não consigo me controlar. Ela
dispara algum gatilho em mim, não sei...
— E se você... — Enrico falou baixinho e não pude escutar o final da
frase. Droga.
— Não adianta. Já tentei. Não sei mais o que fazer para me acalmar.
Até os pesadelos voltaram, sabia? É uma merda, Rico...
— E se voltasse para a terapia?
— Detesto aquela porra. E se eu usasse só um pouquinho? Para me
ajudar e...
— Não — Rico foi firme. — Não quero te ver usando de novo... Nem
um pouquinho.
— Por quê...?
— Porque você é o meu irmão caçula e eu me importo contigo, apesar
de tudo.
— Não sei o que fazer...
— Minha sugestão é... Conversa com o pai, conversa com ela.
Esclarece as coisas.
— Beleza.
O barulho de uma porta se batendo me fez concluir que Sin havia
entrado em seu quarto. Massageei as têmporas, com a cabeça girando com as
informações. Meu coração batia sem controle. Me deitei na cama e fechei os
olhos, respirando fundo algumas vezes.
— Madah? — Enrico reapareceu. — Está tudo bem?
— Está. — Me sentei no colchão. — O que aconteceu? — Não tive
coragem de confessar que havia escutado a conversa.
— Ah... Essa casa é só estresse, tá louco... — Ele sorriu, disfarçando, e
sentou-se do meu lado.
— Percebi...
— Posso te fazer uma pergunta? — Virou-se para mim, com os olhos
castanhos me analisando, cautelosamente. — Não precisa responder se não
quiser...
— Pode.
— Você era prostituta? Mentiu quando me falou que era virgem?
— São duas perguntas. — Dei uma risada baixa, mordendo o lábio
inferior. — Mas ok, você pode saber. Não. Eu não era prostituta e não menti.
Sou virgem. Continuo intacta lá embaixo. Mas... Fui obrigada a trabalhar
como massagista e... Não era só massagem. Os clientes podiam pagar a mais
por... Masturbação ou sexo oral.
— Cacete... Você fez alguma dessas coisas com o meu pai?
— Não. E, para ser justa, não fiz porque Domenico não quis. Porque, se
ele tivesse pagado pelos serviços naquela noite, eu teria feito. Eu não tinha
opção, Rico.
— Não devia ser nada fácil para você.
— No começo, era difícil demais... Até vomitava quando voltava para o
meu quarto. Só que depois eu meio que acostumei... Nunca senti prazer em
lidar com aqueles velhos, mas eu "desligava" a cabeça, sabe? Era como se eu
não estivesse ali, de verdade.
— É o que os atores pornôs fazem... Deve ser fogo. Nós vemos as
pessoas ali, fazendo as coisas legais que nos deixam com tesão e não temos
ideia do que se passa na cabeça delas. Alguns estão lá porque querem, mas
muitos não.
— Você assiste pornô? — perguntei, espantada.
— Lógico. Posso ser virgem, mas sou o maior punheteiro... — Ele riu,
bagunçando o cabelo daquele seu jeito tranquilo. — Já vi milhares de pornôs.
— Que tipo de pornô?
— Gay, hétero... Vejo de tudo. De onde acha que veio a ideia do
chuveirinho?
Capítulo 12
Try | Pink
Madeleine Laurent "Madah"
Para ser justo, Madah se arrumou bem rápido para uma garota. Eu me
via distraído com o celular no hall ao lado da porta quando ela apareceu,
aproximando-se de mim a passos hesitantes, sem me olhar diretamente. Com
o cabelo escovado de um jeito diferente e os olhos bem maquiados, estava
sexy para caralho. Usava um vestidinho tomara-que-caia preto que eu queria
poder arrancar com os dentes.
— Você está... — Perdi as palavras quando ela me olhou nos olhos.
Porra...
— O quê? Vai falar que estou igual a uma puta? — Cruzou os braços,
na defensiva.
— Não. Vou falar que... Isso que passou nos olhos... — Apontei sem
encostar nela. — Dá um efeito legal.
— Você está me elogiando?!
— Acho que sim. — Dei de ombros, enterrando as mãos nos bolsos,
mudando o peso de um pé para o outro.
— Obrigada.
— De nada.
Silêncio. Um, dois, três segundos.
Sem falar nada, como se não estivesse no comando dos meus pés, dei
dois passos na sua direção. Madah arregalou os olhos, sem se mover.
Ficamos com os corpos a poucos centímetros de distância e eu sentia que
ainda não era perto o bastante.
Seu perfume quente e adocicado me inebriava, agitando o meu
estômago. Foram longos segundos de um silêncio que fazia a minha pele
formigar, com os nossos olhares conectados deixando tudo ainda mais
surreal. E, quando ela soltou um suspiro, entreabrindo os lábios, todo o ar foi
sugado dos meus pulmões.
Hipnotizado, encostei dois dedos no seu rosto delicado, contornando o
seu maxilar lentamente, de um lado ao outro. Sua pele era macia e eu poderia
tocá-la para sempre. Madah fechou os olhos e não recuou, umedecendo os
lábios com a ponta da língua. Puta que pariu... Que tentação...
Minha mente gritava que eu precisava me afastar, mas o meu corpo
cheio de hormônios parecia não entender e...
— Vamos? — Enrico surgiu do nada, a poucos metros de nós,
quebrando imediatamente o clima. A magrela deu um pulo para trás,
assustada.
Melhor assim. Foi por pouco... Quase fiz merda.
— Vamos. Até que enfim, noiva. — Me virei para o meu irmão e o
encontrei com a cara de bunda de sempre, todo franguinho, com os bracinhos
expostos graças às mangas curtas da sua camiseta preta.
Mordi a boca ao passar pela porta, tentando me recompor.
No carro, liguei o som para o curto trajeto até a festa. De modo
aleatório, passou a tocar Guns N' Roses, "Sweet Child Of Mine".
— Gosto desta música... — Madah comentou baixinho. Ela estava
sentada do meu lado, no banco do passageiro. Me virei rapidamente na sua
direção e a vi sorrindo, ajeitando o cabelo daquele seu jeito leve que, ao
mesmo tempo, me tranquilizava e fodia com o meu juízo.
— É uma boa música — respondi a primeira coisa que me veio à
mente.
Chegamos em cinco minutos porque Leonardo morava no mesmo
bairro que a gente. Eu e Enrico descemos do carro e Madah ficou retocando a
maquiagem lá dentro, visivelmente insegura. Era natural que estivesse
nervosa... Seria a sua primeira festa com o pessoal da escola.
Eu poderia a escoltar para dentro da casa, facilitando as coisas, mas...
Não. Ela que inventou de vir, eu não tinha nada com isso.
Distância. Eu precisava me manter longe.
— Pega. — Entreguei o chaveiro ao meu irmão, decidindo entrar na
festa sem eles. — Você volta dirigindo.
Ele sorriu com a ideia, surpreso. Enrico era louco para dirigir a minha
Ruiva, porém eu nunca permitia porque morria de ciúmes. Só que hoje queria
tomar todas, por isso não tinha escolha. Ajeitei a jaqueta no corpo e, sem
olhar para trás, entrei sozinho na casa.
Capítulo 16
Assim que entramos, percebi que a festa ainda não tinha oficialmente
começado. No enorme salão, havia apenas nós três — eu, Sin e Rico —, o
anfitrião Leonardo e dois outros garotos de cabelos castanhos, sendo um
deles o babaca do Marco, mexendo em aparelhos de som em um palco
improvisado. Provavelmente eram todos da banda. Sin se uniu a eles e
começaram a passar o som. Eu e Enrico nos sentamos em um sofá na parede
oposta da sala, de frente para o palco.
— Rico... Quem são?
— Marco e Paolo. Os filhos do tio Giuliano. Os dois fazem parte da
banda, junto com os meus irmãos e com Leonardo — explicou. Senti um leve
tom de nervosismo na sua voz.
— Por acaso, algum deles é o seu crush? Percebi que você se
interessou em vir para a festa quando soube da banda...
— Talvez. — Ele sorriu, sem desviar o olhar do palco. — Mas
não precisa ter ciúmes, princesa. Você é a única garota para mim, tá? —
completou com a voz divertida e, passando um braço pelos meus ombros, me
beijou na cabeça.
Eu ia responder que sentia falta das nossas "brincadeiras", mas preferi
não falar nada. Nós ficamos apenas duas vezes, no sábado no meu quarto e
no domingo no dele, quando tomamos aquele banho com benefícios. Durante
a semana, Enrico continuou me tratando bem, porém fiquei com a impressão
de que não quis dar continuidade à amizade colorida por causa do irmão.
— E como chama a banda?
— Five Stars.
— Tá, os cinco se acham estrelas. Captei a mensagem. — Dei risada.
— Exatamente. Cinco narcisistas. Mas, hoje em dia, são quatro com
mais frequência do que cinco. Luca começou a estagiar, por estar terminando
a faculdade, com isso não participa tanto da banda.
— Entendi. E qual é a posição de cada um?
— Paolo no vocal, Sin no baixo, Marco na guitarra, Leonardo na
bateria. — Apontou um a um.
Olhei bem para os garotos ensaiando no palco, com a luz indireta lhes
dando um ar de estrelas do rock. Todos eram extremamente parecidos no
estilo, menos um.
Paolo não tinha tatuagens aparentes e era bem mais magro. Apenas
o piercing de argola no nariz e as unhas pintadas de preto denotavam alguma
rebeldia. Assim como o boné na cabeça, suas roupas eram comuns. E, o que
mais chamou a minha atenção, foi o sorriso bonito que lançou na nossa
direção quando nos notou no sofá.
— É ele, não é? — murmurei, cutucando o meu amigo com o cotovelo.
Não houve resposta.
— Fala de uma vez, Rico. Estou morrendo de curiosidade...
— Você não vai mesmo me deixar em paz? — Ele riu. — Tá bom, tá
bom... É ele. Paolo.
— Aprovado. Bem gatinho... Conta mais. Nunca rolou nada mesmo?
— Somente trocas de olhares, conversas... Nada demais. — Suspirou,
frustrado. Jogou a cabeça para trás, apoiando-a no encosto do sofá.
— A noite está só começando... — Baguncei os seus cabelos. —
Milagres podem acontecer.
— Aliás... Um milagre já aconteceu. — Ele riu, puxando um chaveiro
do bolso. Olhei para o objeto sem entender o que havia de especial nele. — É
a chave da Ruiva do Sin. Ele a deixou comigo, nem acredito... Vou dirigir
aquela máquina pela primeira vez na vida.
— Ele é muito chato com o carro? — Eu quis saber. Eu queria saber
mais sobre Sin, mas nunca via a oportunidade de perguntar.
— "Chato" é apelido. Ele é louco, obcecado... Nunca vi o pirralho
sentir tanto ciúmes de alguma coisa, como sente daquela SUV... —
respondeu, franzindo a testa em seguida, esquadrinhando o meu rosto. —
Pensando bem... Acho que a Ruiva foi rebaixada para o posto de segundo
lugar. O primeiro é todo seu, princesa.
Assenti, ciente de que Sin dava todos os sinais de que sentia ciúmes de
mim. Naquele exato instante, por exemplo, ensaiava com um olho na
partitura e o outro em mim, atento à minha interação com Enrico.
Antes de sair de casa, ele havia quase me elogiado e, não saberia dizer
se foi loucura da minha cabeça, mas fiquei com a impressão de que fosse me
beijar. Pelo jeito ele estava começando a mudar de atitude comigo. Ou não.
A realidade era triste e, ao mesmo tempo, simples. Em vez de tentar me
conquistar — o que teria sido a coisa mais fácil do mundo para ele —, o
babaca me destratava, não demonstrando interesse em me conhecer de
verdade, sem os seus pré-julgamentos ridículos. Difícil.
No final da tarde, fui com Enrico para a casa dos Fontini. Enquanto ele
estacionava a picape, passei a observar a construção com atenção. Parecida
com a de Domenico, era uma mansão de dois andares em um amplo terreno.
Maravilhosa.
— O estúdio fica ali... — Enrico apontou para uma porta metálica em
uma espécie de garagem fechada na lateral da casa. — Vamos até lá?
— Vamos. — Desci do carro, ajeitando os cabelos, ansiosa.
— Pela mensagem de Paolo, hoje o ensaio é com a formação completa
e com plateia. Um pessoal da escola... — O leve tremor na sua voz não me
passou despercebido. Rico estava uma pilha de nervos.
Pensei nos cinco garotos bonitos. Sin, Luca, Paolo, Marco e Leonardo.
Bonitos, não. Lindos. Mas o engraçado era que apenas um deles fazia meu
coração disparar...
Do nada, Enrico deu um longo suspiro e parou de andar, com o olhar
quase em pânico.
— Respira de novo. — Sorri para o meu amigo, me colocando atrás
dele e apertando os seus ombros, massageando-os. — Estou sentindo a sua
tensão. Relaxa.
— Estou tenso mesmo... Será que Paolo vai ficar feliz com a minha
chegada?
— É claro que vai! Ele te convidou, príncipe. Esqueceu? É simples. Se
não quisesse você aqui, não teria mandado a mensagem. Vamos logo.
Quando nos aproximamos do estúdio, comecei a ouvir o som dos
aparelhos musicais. Não era uma música, apenas uma bagunça sonora de
guitarra, bateria e sei lá mais o que. Meu estômago se agitou com a
expectativa de rever Sin.
A primeira coisa que enxerguei quando Enrico abriu a porta foram as
costas de dez ou doze adolescentes sentados no chão, de costas para mim,
assistindo ao ensaio enquanto os integrantes da Five Stars mexiam nos
instrumentos musicais.
Logo encontrei quem os meus olhos buscavam. Sin estava sentado no
fundo do palco, concentrado dedilhando o contrabaixo com os olhos presos
no celular apoiado na coxa. Sem camiseta, vestia calça jeans preta rasgada
nos joelhos e tênis quadriculados. Seus dedos tatuados se mexiam com
habilidade e, com a visão, as borboletas descontroladas no meu estômago
começaram a dar piruetas.
— Baba menos... — Enrico sussurrou, me cutucando com o cotovelo.
De repente, Paolo percebeu a nossa chegada e sorriu na nossa direção.
Um sorriso aberto, que alcançava os olhos. Pude imaginar o quanto Rico
ficou feliz com aquela reação... O olhar radiante do vocalista para a gente fez
com que algumas pessoas se virassem para trás, curiosas.
Naquele momento, reconheci os cabelos loiros de Lorena entre elas.
Droga. Insegura, me perguntei se Sin a havia chamado para o ensaio. Porque
a mim ele não chamou... Ao me ver, a infeliz ficou em pé em um pulo,
apontando o dedo na minha direção, com o olhar indignado.
— O que a desclassificada faz aqui? Quem convidou? Droga, Marco!
Você me chamou e eu vim porque pensei que a sua casa fosse mais bem
frequentada!
Todos paralisaram, observando a cena com espanto. Sin ergueu a
cabeça e parou de tocar o contrabaixo, olhando para mim com a expressão
intrigada, não entendendo o que eu fazia ali.
— EU CONVIDEI — Paolo respondeu no microfone, com o volume
bem alto, atraindo a atenção de todos. — Se é amiga do Enrico, é amiga
minha também. Bem-vindos, queridos.
Encaixou o microfone no apoio e desceu do palco, murmurando um:
"Controle-se, Lorena." Caminhou até nós com passos tranquilos e confiantes.
Enganchou um braço no meu pescoço e o outro no de Enrico, beijando a
minha bochecha e depois a dele. Sem tirar os braços de nós, nos puxou para
perto do palco, onde nos sentamos no chão, afastados das outras pessoas.
Meu coração batia sem controle e meus pensamentos giravam confusos. Só
sabia que havia simpatizado demais com o garoto.
— Obrigado por terem vindo, estou muito feliz... Fiquem à vontade, o
ensaio está terminando. Mais meia horinha e podemos partir para a cerveja.
— Pulou graciosamente de volta para o palco, mexendo em uma pilha de
sulfites sobre uma cadeira.
Enquanto folheava os papéis, passava a língua pelo lábio,
despreocupadamente. Reparei que Paolo era uma daquelas raras pessoas que
possuíam uma aura natural de simpatia e carisma que as destacava das
demais.
— Gostei do seu crush, Rico. Ele é carismático. Vocês têm a minha
benção. Podem se casar — sussurrei para o meu amigo, que caiu na risada,
balançando a cabeça.
— Posso saber qual é a piada? — Sin brotou do nada na nossa frente,
cruzando os braços, com um olhar questionador. Seu tronco tatuado sem
camiseta me desconcertava.
— Já volto. — Enrico fugiu mais rápido do que uma flecha. Quase dei
risada da sua "discrição" em me deixar a sós com o seu irmão, mais uma vez.
— Segredo — respondi, mordendo o lábio. Eu não podia mesmo falar a
verdade, ninguém mais sabia do lance entre Rico e Paolo. — Por que não
pergunta para o seu irmão?
Ele me analisou com os olhos semicerrados, com um brilho levemente
irritado. Ainda sentiria ciúmes de mim com Enrico? Quando pensei que Sin
não diria mais nada, ele se aproximou para sussurrar no meu ouvido com a
sua voz rouca, afundando uma mão nos meus cabelos, acariciando a minha
nuca.
— Porque não é nele que eu estou interessado.
Depois virou as costas e retornou para o palco. Meu coração parecia
uma bateria de escola de samba. Como em um passe de mágica, Enrico
voltou a se sentar do meu lado como se nada tivesse esse acontecido,
comentando algo sobre as novas caixas de som da banda. Um garoto que eu
conhecia de vista da escola, Bruno, se sentou do meu outro lado. Sabia que
ele era capitão do time de futebol.
— Madeleine, certo? Lembra de mim? Meu nome é Bruno. Nós
conversamos no seu primeiro dia de aula. — Com um sorriso nos lábios, me
encarou com os olhos de chocolate, passando a mão pelos cabelos castanhos.
— Lembro, sim — respondi, sorrindo. — Depois que eu quase caí ao
descer do carro.
— É verdade. Por pouco você não deu um show. — Sorriu formando
covinhas nas bochechas. Bonitinho.
Nós três conversamos e rimos sobre assuntos aleatórios durante o
restante do ensaio. Por conta do som alto dos instrumentos dos músicos, eu
tinha que me aproximar deles para ouvi-los. Ora para a direita, para Enrico,
ora para a esquerda, para Bruno.
Sin não tirava os olhos de nós, com a irritação crescente estampada no
seu rosto. O maxilar travado, os olhos intensos, a postura rígida.
Eu sinceramente não queria provocar o baixista e ainda assim a sua
raiva parecia crescer a cada minuto. Por um lado, fazia bem ao meu ego saber
que ele tinha ciúmes de mim. Por outro, achava o seu sentimento
absolutamente desnecessário.
Não seja cego, menino, é você que eu quero..., era a minha vontade de
falar.
Assim que Paolo deu por encerrado o ensaio, Sin largou o contrabaixo
de qualquer jeito e saiu do estúdio a passos furiosos, enfiando a camiseta pela
cabeça. Luca foi atrás dele com o olhar preocupado e eu fiquei os observando
à distância. Parada ao lado da porta de metal, apertava as unhas contra as
palmas das mãos, apreensiva.
O resto do povo começou a deixar o estúdio distraidamente, batendo
papo, sem perceber a cena que prendia a minha atenção. Até que Sin
encaixou um cigarro entre os lábios e subiu na sua SUV sem olhar para trás.
— Espera, caralho! — O irmão gritou ao lado do seu carro. — Não vai
fazer merda, porra!
Sin o ignorou, dando marcha a ré a toda velocidade, se afastando sem
parar. Depois Luca passou por mim correndo, entrando de volta no estúdio.
— Marco! Pega a chave do seu carro! Rápido!
— Luca? — Encostei nele, assustada. — O que está acontecendo?
— Sin... Ele vai fazer merda. — Sua respiração forte me deixava mais
nervosa.
Olhei ao redor, já não tinha quase ninguém ali. Vi apenas Marco e
Leonardo, que terminava de guardar os aparelhos musicais. Não encontrei
Enrico. Meu amigo havia desaparecido. Droga.
— Vou com vocês — falei para Luca e, em resposta, recebi um breve aceno
de cabeça. — Onde vamos? — perguntei assim que entramos no Camaro de
Marco. Fui ignorada.
Sentada sozinha no banco de trás, respirei fundo, tentando não brigar
com eles por não me falarem nada. Os dois pareciam bem estressados com a
situação e eu não queria piorar as coisas. Marco dirigia como um louco, e
Luca digitava sem parar no celular.
— Confirmado. Meu irmão está lá... Acelera! — Luca exclamou para o
outro, depois que viu algo no celular. Passou as mãos pelos cabelos
castanhos, aflito.
— Consigo chegar na casa em menos de cinco minutos. — Marco
respondeu, sem tirar os olhos do trânsito, aumentando a velocidade.
Logo depois paramos em frente a uma casa esquisita, escura. Segui os
meninos até a porta passando por um quintal mal cuidado, com flores secas e
entulhos.
Marco tocou a campainha. Um rapaz magro com roupas pretas abriu a
porta e, sem falar nada, deixou-nos entrar. Luca foi na frente, como se
conhecesse bem o caminho. Eu e Marco o seguimos de perto, em silêncio.
As paredes eram sujas, com a tinta descascada, com lascas levantadas.
O aspecto era tão feio que me dava calafrios. Descemos uma escada em
péssimo estado, com os degraus todos esburacados, faltando pedaços. Lá
embaixo deparei com o porão, um ambiente mal iluminado, com duas
lâmpadas velhas cobertas por uma nuvem de sujeira e fumaça de cigarro. Eu
estava tão nervosa que me sentia até enjoada...
Corri o olhar pelo local, atordoada pela música punk alta e pelo cheiro
forte e fétido que me embrulhava o estômago. Mesmo com os olhos
lacrimejando, consegui ver mais de dez jovens espalhados por sofás, pufes e
mesmo pelo tapete encardido do chão. Dois garotos passaram cambaleantes
por nós, com os olhos vidrados, pesados. Pareciam... Drogados?!
— Que lugar é esse?! — murmurei, quase em pânico, pousando a
minha mão no antebraço de Luca.
— O inferno... — respondeu, me puxando para a sua frente. — Fica
perto de mim.
Capítulo 24
Amazing | Aerosmith
Davi Filipo Sintori "Sin"
— Acorda. Está tudo bem. — Sua voz delicada e seus toques leves nas
costas me fizeram despertar. Percebi que estava todo suado, com o coração
disparado e o corpo trêmulo. Outra porra de pesadelo...
Me sentei na cama, colocando os pés no chão. Olhei ao redor,
reconheci o meu quarto. O relógio mostrava que eram duas e pouco da
madrugada. Baguncei os cabelos, suspirando fundo. Confuso, pelo canto do
olho, vi a magrela se arrastar para o meu lado, virei para vê-la melhor.
Mesmo com os cabelos bagunçados de sono, estava linda.
Madah estava dormindo aqui comigo?! Que merda não conseguir me
lembrar direito das coisas...
Me esforcei para segurar as memórias que piscavam na minha mente
como flashes desordenados. Os fatos se embaralhavam sem nexo e foi difícil
organizá-los, mas depois de um tempo consegui alguma coisa.
O ensaio da banda no estúdio dos Fontini. Enrico surgindo com Madah.
Bruno se aproximando dela. A ida ao porão de Samuel. A picada. A
alucinação. O retorno para casa na Ruiva com Luca no volante. A magrela
mexendo na minha cabeça no seu colo. Fim.
Apertei os olhos, com as primeiras sensações ruins se esgueirando pelas
minhas entranhas, me entristecendo. Decepção comigo mesmo, vergonha,
raiva.
Sou mesmo a porra de um fraco...
— Preciso de um banho. — Me levantei rápido demais, quase caindo
para a frente com a tontura que me abateu. Madah rapidamente me segurou
pela cintura, se colocando em pé do meu lado.
— Vem, eu te levo, se apoia em mim...
Passei o braço em torno da sua cintura fininha e juntos caminhamos até
o banheiro.
— Você estava dormindo comigo? — arrisquei perguntar, sem
coragem de olhar para ela.
— "Dormindo", não. Como estava preocupada, eu... Fiquei de olho em
você.
— Obrigado. Desculpe pelo trabalho — murmurei, surpreso com a sua
resposta e entramos no banheiro.
— Você me ajudou no dia da festa. Eu te ajudei hoje. Não precisa
agradecer. Já passou o efeito da... Da droga? — quis saber, sem jeito. O
constrangimento pesou no meu peito. Como ela me enxergaria a partir de
agora? Como um "Zé droguinha" sem noção.
— Passou — afirmei e, ainda me segurando nela, com a mão livre, abri
o chuveiro. — Já estou normal.
Depois, enquanto a água esquentava, dei alguns passos cuidadosos até
me apoiar com as duas mãos espalmadas na bancada fria da pia. Hesitante,
tentei me desencostar, ficando em pé sem apoio e consegui, percebendo que a
tontura havia passado. Suspirei aliviado, percebendo que não havia mais
efeitos da heroína em mim. Sob o olhar atento dela, aproveitei para escovar
os dentes.
— Meu pai percebeu o estado em que cheguei? — perguntei,
enxugando a boca com a toalha de rosto.
— Não. No almoço, ele avisou que iria viajar por alguns dias —
respondeu, em pé junto da porta, com os braços cruzados sobre o peito. —
Você não sabia porque não almoçou com a gente.
— Ok. — Notei o vapor saindo do box. A água já havia esquentado. —
Quer tomar banho comigo? — arrisquei, puxando a camiseta pela cabeça.
Pelo seu olhar assustado, já soube que a resposta seria "não." Merda... O
gosto amargo da rejeição se impregnou na minha língua.
— Te espero no quarto. — Ela me deu as costas, prestes a sair do
banheiro.
— Foi mal. Esqueci que não sou o Enrico — ironizei, fazendo-a
paralisar sem se virar para mim. A tensão em seus ombros era visível de
longe.
Me preparei para o contra-ataque, sabendo que a magrela me daria
alguma resposta irritada, me esculachando, porém depois de dois ou três
segundos parada no mesmo lugar, ela simplesmente desapareceu do banheiro,
sem se virar para mim.
Foda-se.
Com a respiração forte, entrei embaixo do chuveiro e deixei a água
quente me lavar. Apoiei as mãos na parede de azulejos e fechei os olhos,
tentando me acalmar.
Por que não sabia lidar com a rejeição dela?
De repente, duas mãos pequenas percorreram delicadamente os meus
ombros molhados, arrepiando-me. Girei o corpo para encontrar Madah dentro
do box comigo, nua, com os seus olhos claros me queimando até a alma.
— Presta atenção, Davi Filipo. Não vou repetir. Esquece o Enrico,
esquece qualquer outro garoto. Eu só quero você. E o único motivo para não
estarmos juntos é a porcaria da sua atitude comigo. Por isso... Melhore.
— Eu... — Perdi a fala. A sensação dos seus dedos molhados indo dos
meus ombros ao pescoço, dos seus olhos intensos prendendo os meus, da
água quente descendo pelos nossos corpos. Era demais. — Eu... Não sei
como. Não sei nem o que falar.
Fui sincero, apoiando as minhas mãos na sua cintura fina, não querendo
falar mais para não correr o risco de estragar tudo. Ela me deixava nervoso
para cacete e por isso eu estragava as coisas quando abria a boca. Não
conseguia me controlar e, quando percebia, já tinha sido grosso e estúpido
mais uma vez.
— Então não fala nada e me beija — murmurou, com as mãos
alcançando a minha nuca, se levantando na ponta dos pés. Porra... Sem
hesitar por um segundo, colei os nossos lábios em um beijo desesperado.
Enquanto a minha língua invadia a sua boca, as minhas mãos
apertavam a sua cinturinha, puxando-a para mais perto. Por sua vez, Madah
descia e subia as mãos pelas minhas costas molhadas, me apertando e me
arranhando, acelerando os meus batimentos.
Sem quebrar o beijo, empurrei-a contra a parede úmida de vapor,
erguendo-a pela bunda para ajustar a altura dos nossos rostos. E, quando
movi os quadris para a frente, ela me envolveu com as pernas e gemeu
baixinho dentro da minha boca.
Com os nossos corpos se roçando assim, o tesão crescia de modo
surreal, me fazendo sorrir sem soltar a sua boca. Minha ereção se esfregava
por fora da sua boceta quente e seus bicos durinhos provocavam a pele do
meu peitoral. Precisei de um autocontrole do caralho para não me enterrar de
uma vez nela.
Madah rebolava em mim sem vergonha, fazendo o meu pau pulsar de
tão duro, escorregando por fora da sua boceta com a lubrificação misturada à
água do banho.
Até que perdi o fôlego, quase gozando quando uma corrente elétrica
percorreu com força a minha coluna. Com os batimentos descontrolados,
separei os nossos lábios para conseguir respirar.
— Magrela... Que beijo... — murmurei, ofegante, com as nossas testas
unidas. Desci o seu corpo miúdo de volta para o chão e subi as mãos para o
seu rosto, afastando as mechas molhadas que grudavam nas suas bochechas.
Ela sorriu com os olhos brilhantes, deslizando as mãos pelo meu peito até a
barriga. — Vamos sair daqui?
— Vamos.
Suas bochechas coradas a deixavam ainda mais linda. Fechei a água e
peguei a minha toalha ao lado do box, notando que Madah havia trazido a
dela. Nos enxugamos e fomos para o quarto. Eu não sabia se vestia alguma
coisa ou se continuava pelado. Será que queria continuar me beijando?
Minhas dúvidas desapareceram quando ela se deitou completamente
nua na minha cama, me chamando com o dedo indicador. Cacete!
Subi por cima dela e, sorrindo como um adolescente apaixonado, beijei
os seus lábios sem pressa, com o meu peso distribuído nos meus braços
apoiados firmes no colchão.
— Está se sentindo bem? — perguntou depois do beijo, acariciando a
minha nuca.
— Estou bem. Obrigado.
E, quando fiz menção de beijá-la mais uma vez, Madah me deu um
selinho e depois desviou o rosto, desvencilhando-se de mim para se levantar.
Eu estava prestes a questioná-la, quando a sua voz suave me surpreendeu:
— Quero fazer você se sentir ainda melhor. Deita e fica quietinho. —
Sorriu, fazendo o meu coração pular duas batidas.
— Tem certeza? — perguntei, quase em choque ao vê-la se ajoelhar no
colchão entre as minhas pernas. Madah somente ampliou o sorriso e, me
olhando nos olhos, levou uma das mãos ao meu pau, envolvendo-o com os
seus dedos finos e delicados, me punhetando lentamente.
— Você já fez isso alguma vez? — murmurei, todo arrepiado com o
seu toque.
— Já. Mas é a primeira vez que eu quero fazer.
Porra... Doeu. Entendi que ela se referiu aos clientes do hotel e senti
vontade de voltar lá e quebrar os dentes de cada um deles. Inspirei fundo,
apertando os olhos para não me distrair com os pensamentos perturbadores.
Quando os reabri, enxerguei Madah descendo o olhar para a sua mão que me
masturbava devagar, mordendo o lábio sem deixar de sorrir.
— Eu nunca tinha visto um assim... — comentou, subindo e descendo a
mão por toda a extensão, em uma movimentação perfeita.
— Assim como?
— Tatuado. Sério mesmo que as pessoas tatuam as partes íntimas...?!
— Ah... Outra hora te conto... Não posso conversar agora, se é que me
entende. — Dei risada, apertando os lençóis com as mãos. Um puta tesão se
espalhava por todo o meu corpo, me deixando inquieto, quase eufórico.
Mantendo o ritmo da punheta, a magrela se deitou do meu lado, sussurrando
no meu ouvido:
— Se deseja apertar alguma coisa enquanto te dou prazer, que seja o
meu corpo, e não os lençóis.
No mesmo instante, virei de frente para ela, ficando com o corpo de
lado na cama. Colei os nossos lábios e levei uma mão aos seus seios
empinadinhos. Enquanto a beijava, os meus dedos provocavam os seus bicos
durinhos, esfregando, esticando, torcendo, com a pressão certa, cuidadosa,
sem me afastar.
Quebrei o beijo, sem ar nos pulmões quando ela acelerou a velocidade,
bem perto do limite. Então distribuiu beijos leves pelo meu pescoço e,
subindo até a minha orelha, sussurrou:
— Goza para mim, amor... — E, assim, não aguentei mais, explodindo
em um orgasmo forte, melando toda a sua mão com os jatos quentes.
A magrela diminuiu o ritmo até saírem as últimas gotas e eu a abracei
apertado, não querendo largá-la nunca mais. Alisei as suas curvas e, ao descer
uma mão ao meio das suas pernas, Madah se contorceu com o meu toque,
com a boceta toda melada com a sua lubrificação. Lisa, quente, macia.
Cacete...
— Posso retribuir...? — perguntei, deslizando dois dedos entre os seus
lábios íntimos, arrastando para cima e para baixo. Eles estavam tão sensíveis
que pulsavam sob os meus toques, fazendo-a se mexer como se levasse
pequenos choques.
— Pode. Deve. — Apertou os olhos e mordeu o lábio, fazendo que sim
com a cabeça enfaticamente, várias vezes. Suprimi um riso diante da sua
resposta quase desesperada.
Em silêncio, passei a masturbá-la, sem a penetrar. Tive receio de a
machucar, agora que sabia da sua virgindade.
Madah gemia baixinho e se remexia com os meus toques, excitada para
caralho. Sem tirar os meus dedos dela, posicionei-a de barriga para cima e
firmei os seus quadris magrinhos com a minha mão livre, facilitando os
trabalhos.
— Abre os olhos — pedi e ela me atendeu, me fitando enquanto eu
acelerava a movimentação, com dois dedos alisando a entrada da sua boceta e
com o polegar estimulando o seu clítoris, cada vez mais rápido, em círculos
cada vez menores.
E, sem desviar o olhar de mim, enfiou as unhas no meu antebraço ao
gozar nos meus dedos, com os espasmos a deixando ofegante, sorrindo com
os lábios entreabertos. Linda.
Beijei a sua boca e me obriguei a me levantar. Rapidamente, fui ao
banheiro buscar uma toalha para a limpar. Vesti um roupão e retornei para o
quarto, encontrando-a quase dormindo, com os cabelos úmidos espalhados
pelo meu travesseiro. Me sentei do seu lado e, delicadamente, limpei as suas
mãos e a sua barriga ainda meladas da minha ejaculação.
— Obrigada, Davi Filipo — Madah murmurou, esboçando mais um
sorriso.
— Eu que agradeço, Madeleine. Por tudo.
Joguei a toalha na cadeira e me deitei na cama com ela, com a cabeça
apoiada em uma mão para a observar melhor. Ela era tão perfeita... Porra!
Tinha que ser minha. Só minha. E, com esta ideia na cabeça, lancei as duas
palavras que nunca havia falado a garota alguma, em toda a minha vida.
— Namora comigo?
Capítulo 26
Estive pensando
Por que não consigo tirar
Meus dedos de você, querido?
Estou sozinho
Não sei se consigo encarar a noite
Estou em lágrimas e o choro é por sua causa
Angel | Aerosmith
Madeleine Laurent "Madah"
T.N.T. | AC/DC
Madeleine Laurent "Madah"
Era com o coração batendo forte que eu via Sin se enxugar com raiva,
possesso. Os movimentos bruscos e o maxilar travado não deixavam dúvidas
de que estava furioso. Abracei o meu próprio corpo, nervosa. Aquilo não iria
acabar bem...
— Sai da piscina, Luca! — gritou para o irmão, jogando a toalha usada
na espreguiçadeira. — Vamos até os Fontini! Já!
— Por quê? O que está rolando? — ele subiu os degraus da escadinha
da piscina, com o olhar confuso indo de mim ao meu namorado, ida e volta.
— Alguém pode me explicar?
Como Sin não abriu a boca, ocupado recolhendo as coisas da mesa —
celular, correntinha de prata e óculos de sol —, restou a mim a função de
resumir a situação tensa.
— Seu irmão acha que Bárbara tem um caso com Marco. Quer ir até lá
tirar a história a limpo — expliquei, guardando o chapéu e o protetor na
bolsa.
— Por que você acha isso, cara? — perguntou correndo atrás do irmão
que já saía do deck, a passos apressados.
— No caminho eu explico tudo, Luquinha. Vamos nos trocar. Saímos
em cinco minutos.
— Caralho, Sin... Marco botando chifres no nosso pai?! Que otário...
— "Otário" é pouco... Se for isso mesmo, Marco tá fodido — rosnou,
passando a mão pelo cabelo platinado.
Arregalei os olhos ao presenciar os dois conversando daquele jeito,
descontrolados. Terminei de recolher os meus pertences e entrei na casa.
Tomei um copo de água na cozinha, agoniada. Como iria impedir que
fizessem alguma besteira? Sozinha?!
Precisava de ajuda. Precisava de Enrico!
Subi rapidamente a escada e, sem demora, coloquei um vestidinho por
cima do biquíni que não precisei tirar por não ter me molhado. Depois, corri
até a porta do meu amigo, dando duas batidas na madeira. Respirei fundo e
girei a maçaneta devagar, espiando pela fresta. Estava na cama, ainda
dormindo, sem camiseta.
— Enrico? — Entrei no quarto, falando baixo. — Acorda. Você precisa
vir com a gente... — Andei em direção à janela para a abrir.
— O quê? — Esfregou o rosto, desorientado. — Onde? Por quê?
— Seus irmãos... — comecei, afastando a cortina, deixando o sol entrar
no quarto. — Tenho medo de que façam alguma besteira. Você é o mais
sensato, o mais controlado e...
— Cacete, princesa... Fecha isso aí — resmungou, cobrindo o rosto
com o travesseiro.
— Enrico Lorenzo! Presta atenção. — Puxei o travesseiro de cima do
seu rosto. — Seus irmãos vão brigar feio com Marco. Levanta! Me ajuda,
poxa!
— Ok, ok. Estou levantando... — Suspirou e sentou-se na cama. — Só
me explica o porquê da briga. O que Marco aprontou?
— Talvez ele esteja de rolo com Bárbara... — Peguei uma camiseta
branca na sua cômoda, jogando-a na sua direção. — Veste isso.
— Marco e Bárbara?! — Enfiou a camiseta pela cabeça. — Sacanagem
com o meu pai...
— Também acho sacanagem, Rico... Mas não é para tanto, né?! Seus
irmãos estavam falando de um jeito que parecia que queriam matar o garoto.
Você precisa me ajudar a enfiar algum juízo na cabeça deles.
Ele balançou a cabeça, entrando no banheiro. Segundos depois escutei
passos no corredor e corri para ver quem era. Sin estava todo vestido,
andando apressadamente, já com a chave do carro na mão.
— Espera! — gritei quando ele chegava na escada — Vamos com
vocês!
— Então venham logo — murmurou sem parar de andar.
— Anda, Rico! — Apressei o meu amigo, que passou a calçar o All
Star azul em pé, equilibrando-se. — Olha, já peguei o seu celular... — Retirei
o aparelho do carregador, mostrando-o a ele.
— Pode guardar na sua bolsa — falou, ajeitando os cabelos castanhos
com as mãos.
— Pronto para talvez rever Paolo? — perguntei, para que ele se
preparasse psicologicamente para um possível reencontro. — Tem uma boa
chance de o vermos lá...
— Ah, a festinha “alma livre” deve ter rolado até de madrugada. —
Deu de ombros, seguindo pelo corredor do meu lado, desanimado. — Paolo
deve estar dormindo...
— É verdade — murmurei, sem saber bem o que dizer.
— Melhor assim. Prefiro não me encontrar com ele tão cedo —
comentou em um tom melancólico e fiquei com vontade de guardá-lo em um
potinho.
Logo que descemos a escada e saímos da casa, encontramos Luca do
lado de fora. De repente, escutei a aproximação do motor da SUV, com os
pneus ruidosamente espalhando as pedrinhas do chão.
Sin parou o carro na nossa frente, destrancando as portas. Me sentei ao
lado dele, Luca e Rico no banco de trás. Dois irmãos nitidamente estressados
e o outro ainda sonado, bocejando. Eu não tive coragem de quebrar o silêncio
e apertei as mãos, me sentindo inquieta. Seria um trajeto de poucos minutos.
Assim que nos aproximamos dos portões da mansão de Giuliano, o
segurança já os abriu para a nossa passagem, sem interfonar. Certamente,
identificou a SUV de Sin. De repente, o meu namorado deu um murro no
volante, me fazendo pular de susto no banco. O que foi que ele viu...?!
— O carro dela... — Enrico murmurou, apontando para um esportivo
vermelho estacionado em uma das vagas de visitantes, em frente à casa.
Droga.
— Presente do nosso pai para a namorada dedicada. — Luca riu com
sarcasmo. — Filha da puta...
Sin estacionou bem atrás do carro dela, prendendo-o. Provavelmente
queria evitar uma possível tentativa de fuga de Bárbara. Descemos da Ruiva,
com o meu namorado liderando o caminho. Estranhei que não se dirigiu à
porta da frente. Em vez disso, seguiu pela lateral da mansão, rápido.
— O que vai fazer? — perguntei, tocando no seu braço, tentando
acompanhar os seus passos.
— Surpreendê-los na piscina — murmurou, sem olhar para mim. —
Estou tão puto, magrela... Porra!
— Amor, calma — pedi, tentando segurar o seu cotovelo. — A briga
não é sua. Não faça besteira... Por favor. Você está me deixando aflita.
Ele olhou para mim por um instante e, parando de andar, me deu a mão.
Os seus irmãos passaram na nossa frente e...
— Caralho... — Luca murmurou, fincando os pés no chão, com os
olhos presos em alguma cena mais adiante. Enrico paralisou ao seu lado,
levando as mãos à cabeça, desorientado.
Sin me arrastou até eles e, enfim, enxerguei o que os outros dois já
tinham visto.
A poucos metros de nós, estavam Marco, Paolo e Bárbara dentro da
jacuzzi, se pegando de uma forma bem louca, que a princípio eu nem entendi
de quem era cada braço que se movimentava dentro da água borbulhante,
com o vapor se espalhando ao redor. Apenas pude discernir que Marco
beijava a garota na boca e Paolo lambia os ombros dela, em um ritmo lento e
despreocupado.
O cheiro de maconha no ar era palpável. As peças de roupas jogadas no
chão deixavam claro que os três estavam nus. E, entretidos entre si, sequer
notaram a nossa chegada.
— Seus filhos da puta! — Sin gritou, indo na direção deles. Chegou
bem perto da jacuzzi, com o celular na mão. — Che cavolo, Bárbara! Sua
máscara acaba de cair, vagabunda! — Passou a tirar fotos ou a filmar, não sei
bem qual das duas opções, enquanto os três permaneciam na água, surpresos,
sem falar nada.
Observei o "trisal" com mais cuidado. Marco estava pálido, Bárbara
exibia as bochechas vermelhas e Paolo coçava a cabeça, perdido.
— Como vocês dois tiveram coragem?! — Luca se juntou ao irmão, ao
lado da jacuzzi, acusando os amigos com a voz alterada. — O meu pai
sempre os tratou como família! É assim que retribuem?!
— Foi mal... — Marco murmurou, esfregando os olhos. — Eu...
— Pessoal! — Paolo o cortou, erguendo as mãos, chamando a atenção
para si. — Relax! Não é nada demais! Fetiche com irmãos, quantas mulheres
não têm? Muitas... E eu adoro! — Deu risada, nitidamente drogado.
Sin e Luca passaram a discutir furiosamente com ele, mas não pude
escutá-los porque Enrico tocou no meu ombro com a mão gelada, atraindo o
meu foco. Ergui a cabeça para olhar para o seu rosto, percebendo que não
estava nada bem. Seus olhos brilhavam e, cheios de água, deixavam claro que
a qualquer momento começaria a chorar.
Suspirei fundo, arrasada, com o remorso me corroendo. Eu que pedi
que ele viesse e, com aquele flagra, o meu amigo iria ficar ainda mais na
fossa.
— Vamos para lá, Rico — falei baixinho, segurando a sua mão que
estava pousada no meu ombro. Enrico apertou os meus dedos, tenso,
tremendo. Meu coração se doeu por ele. Demos as costas para os outros, nos
afastando, até que...
— Ali! Olha ali! — Paolo gritou alto e nos viramos para vê-lo. — Ali
já temos mais um casal! — Apontou para mim e para Enrico, de mãos dadas.
Gelei da cabeça aos pés, sentindo os olhos azuis do meu namorando se
fixando em mim. — Se organizarmos direitinho, todo mundo transa! Duas
garotas com cinco garotos, por mim tá ótimo!
— Vai se foder! — Sin gritou para ele antes de se virar, vindo até mim
apressadamente, com o olhar ferido. — Porra, magrela! Por que vocês dois
estão de mãos dadas nas minhas costas?! Que putaria é essa?!
Paralisei, com o coração na garganta. Como lhe explicar, sem contar do
lance entre Enrico e Paolo...? Instintivamente, soltei a mão do meu amigo e
olhei para o rosto dele, pedindo por ajuda em silêncio. Seus olhos castanhos
estavam ilegíveis.
Estragar a minha amizade, ou arriscar o meu namoro?! Que dilema!
— Não olha para ele! Olha para mim! Eu que sou o seu namorado! Que
merda... Eu me entreguei para você! Eu me abri, cacete, como nunca tinha
feito! E não mereço uma maldita resposta? Não acredito... Nasci para ser
corno, como o meu pai!
— Calma... Não é nada disso... Eu... — As palavras me fugiram. Eu
simplesmente não sabia o que falar.
Luca olhava para a gente, sem entender nada, enquanto os outros três lá
atrás saíam da jacuzzi discretamente, enrolando-se em toalhas, prestando
atenção no show do meu namorado. Marco e Bárbara pareciam aliviados com
a mudança do centro das atenções.
— Pirralho... Calma... Posso explicar... — Enrico assumiu a situação,
dando um passo na direção do irmão, apoiando as duas mãos nos seus
ombros. Prendi o fôlego em expectativa.
— Explica logo, caralho! — Sin rosnou e, travando o maxilar, remexeu
os ombros, se soltando das mãos de Rico. Apertei as unhas contra as palmas
das mãos enquanto o meu amigo respirava fundo, tomando coragem.
— Ok. Vou abrir o jogo... Madah tentava me consolar porque estou na
merda. — Enrico baixou o rosto, derrotado. — Porque estou apaixonado.
Pelo Paolo.
Capítulo 40
Eu não sabia se virava um soco na cara irritante do meu irmão por ter
me feito sofrer por ciúmes à toa, ou se dava risada feliz por me sentir aliviado
com a sua confissão.
Enrico apaixonado por Paolo?! Que merda... Não consegui nem
elaborar uma resposta. O resto do povo permaneceu mudo, por segundos que
pareceram a porra de uma eternidade.
— Apaixonado?! Por mim?! — Paolo quebrou o silêncio e todos os
olhos se voltaram para ele. O franguinho estava sentado do lado de fora da
jacuzzi, com uma toalha enrolada na cintura. Um vinco de confusão se
formou entre as suas sobrancelhas.
Senti vontade de socar a sua cara lesada até que passasse todo o efeito
da maconha que fumou. Ele já falou tanta bosta por estar drogado que me
deixou de saco cheio.
Enrico não abriu a boca, nem mais ninguém, por isso Paolo voltou a
falar, se levantando.
— Cacete, Rico... Apaixonado?! Mesmo?! — repetiu, caminhando na
nossa direção, com os olhos fixos no meu irmão. — A gente ficou o quê?
Duas, três vezes? Tudo bem que naquela primeira vez na SUV do Sin foi
intenso para caralho, mas... Você me pegou de surpresa, cara! Pensei que
fosse apenas um lance aleatório e...
O quê?! Na minha Ruiva?! Puta que pariu...
Antes que eu pudesse esboçar a reação que queria, Madah me puxou
para perto de si, agarrando a minha mão, firme.
— Amor... Vamos embora daqui? Esquece a Ruiva agora. Seu irmão
não quer ficar. — Ela apontou com a cabeça para Enrico que se afastava,
quase correndo, deixando Paolo para trás, falando sozinho. Logo depois Luca
passou por mim como uma flecha, indo atrás do nosso irmão.
— Vamos, magrela. E me desculpe por desconfiar de você. —
Entrelacei os nossos dedos, ficando uma última vez de frente para os Fontini,
com Bárbara atrás deles. Queria poder matá-los. — O que vocês fizeram... —
falei, apontando o dedo para os três. — Não tem perdão. Não apareçam mais
na casa do meu pai. Vocês apunhalaram Domenico pelas costas, caras...
Espero que o sexo com ela tenha sido fenomenal, para valer mais do que tudo
o que vocês estragaram. A nossa amizade... A nossa banda... A nossa
parceria. Acabou.
— Espera, velho... — Marco deu alguns passos hesitantes na minha
direção. — Não faz isso... Eu e o meu irmão pisamos na bola, eu sei, mas
escuta... Você sabe que a nossa parceria é mais forte do que toda essa
confusão. Esfria a cabeça, depois a gente conversa.
— Não tenho mais nada para conversar com você. E muito menos com
o seu irmão. — Passei o braço pelas costas da magrela e, apertando a sua
cintura para que a minha mão parasse de tremer, virei para ir embora.
A caminho de casa o clima de tensão pesava dentro do carro, quase
estalando. Ninguém falava nada com ninguém. Mordi a língua para não tocar
no assunto da pegação de Enrico e Paolo na minha Ruiva. Pensar naquilo
estava me dando nos nervos... Foi a cereja do bolo de toda a merda, que
começou com o flagra dos três na jacuzzi, fazendo o meu pai de otário.
Eu me sentia por um fio. Inspira, expira, inspira, expira.
Não posso surtar.
Dirigindo, olhei para Enrico pelo espelho retrovisor e enxerguei-o
mordendo o lábio, inquieto. Ao seu lado, Luca observava a paisagem pela
janela, pensativo.
Já Madah acariciava a minha coxa delicadamente, em um gesto
apaziguador. Ela me acalmava tanto... Respirei fundo mais uma vez,
satisfeito por estar conseguindo manter o controle.
— Querem passar em algum lugar? Almoçar fora, sei lá? — sugeri ao
parar em um sinal vermelho, tentando amenizar o clima.
— Não. São mais de onze horas. Preciso ir direto para casa me trocar.
Depois do almoço, tenho que estar na empresa — Luca respondeu, olhando
para o celular, sério.
— O pai chega que horas mesmo? — perguntei, pensando no estresse
que seria falar com Domenico sobre Bárbara. Caso ele duvidasse da gente,
pretendia mostrar as imagens do flagra que tinha no meu celular.
— Só no final do dia — Luca murmurou, com os olhos baixos,
digitando alguma mensagem.
— Ok. — Balancei a cabeça. — A gente conversa com ele em casa,
antes de você ir para a faculdade. Combinado, Luquinha?
— Combinado. Uma garota a mais para a longa lista de ex de
Domenico. Que a próxima "madrasta" seja melhor.
Dei risada. Em silêncio, pensei que Bárbara só não foi a pior de todas
porque ninguém ganharia daquela desgraçada da Rita. A filha da puta que me
perturbava até hoje, nos meus pesadelos.
E sim, eu te amo
Mal posso acreditar que toda noite
Você está ao meu lado
O jogo foi suspenso assim que o meu irmão tombou no meio da quadra,
com o baque da sua queda me fazendo estremecer. Cacete... Com os seus
olhos fechados e a bochecha prensada de encontro ao chão, a visão era muito
impactante.
Fiquei sem reação por uns dois ou três segundos, então vi a princesa
correndo desesperada pelos degraus da arquibancada até lá embaixo, porém
os guardas não a deixaram passar da grade de proteção.
Poucos metros mais adiante, os jogadores carregavam Sin para o banco
de reservas. Com o corpo mole e os braços caídos, meu irmão parecia um
boneco de pano.
— Vamos descer, Paolo, rápido. — Me levantei, chamando pelo garoto
que continuava ali comigo, assustado. Meu pai e o guarda-costas já tinham
ido embora por causa de uma emergência de trabalho.
Segundos depois, eu e Paolo alcançamos Madah, que agarrava com
força as grades com as suas mãos magrinhas, como se dependesse delas para
não afundar.
— Rico! O que ele tem?! — Ela se virou para mim com os olhos
arregalados.
— Não sei. Vamos tentar descobrir. — Coloquei a mão no seu ombro e
puxei-a para caminharmos juntos. Paolo veio logo atrás em silêncio.
Demos a volta, ficando mais perto de onde estava o meu irmão, com
uma equipe médica o examinando. Havia dois socorristas agachados,
aparentemente checando os seus sinais vitais. Sin permanecia deitado no
banco de madeira, desacordado. Eu me controlava para não demonstrar o
quanto me sentia aflito.
Bruno nos viu chegando e apontou na nossa direção. Seus cabelos
escuros, suados e desgrenhados, mostravam bem como estava nervoso.
— Aquele ali é o irmão dele! Pode acompanhá-lo na ambulância!
Os socorristas viraram as cabeças para nós e um deles se levantou,
trazendo uma prancheta nas mãos.
— Eu quero ir com ele! — Madah passou na minha frente, afoita,
porém o homem a barrou com certa impaciência no olhar.
— Pode parar. Você é da família? Documento. — Estendeu a mão na
direção dela.
— Sou a namorada dele!
— Não é da família. Com licença. — Olhou para um terceiro socorrista
que se aproximava empurrando uma maca de metal.
Observei sem piscar a transferência do meu irmão do banco para a
maca, onde o prenderam com cintas de segurança nas pernas, quadris, tórax e
ombros. Sem perder tempo, um dos socorristas empurrou a maca na direção
da ambulância. O veículo estava a poucos metros de distância, com as portas
de trás abertas e uma rampa de metal a postos, estirada.
— Moço, espera! — Madah gritou, aproximando-se dele. — O que ele
tem? Por que desmaiou?
— Overdose — respondeu sem tirar os olhos da maca que empurrava
rampa acima, transportando o meu irmão caçula.
Senti o baque no peito. De novo, não. Cacete... Sin parecia tão bem, tão
feliz! Não teria porque se drogar hoje. Ou teria? Meus pensamentos confusos
foram interrompidos quando notei a garota do meu lado chorando
compulsivamente, descontrolada.
— Princesa, calma. Respira — falei, abraçando-a. — Eu vou com ele
na ambulância. Me encontra no hospital, Paolo te leva no meu carro. Vai dar
tudo certo.
Entreguei a chave da picape a eles e Paolo a guardou no bolso.
Bagunçou o cabelo com o olhar perdido, aborrecido, provavelmente se
xingando por ter vindo até aqui comigo.
— Acorda, Paolo. Cuida dela para mim.
— Como você sabe? Que vai dar tudo certo? — Madah perguntou
baixinho, tentando enxugar as lágrimas.
— Porque não é a primeira vez que ele apaga por causa de drogas. O
pirralho vai ficar bem, te prometo — afirmei, dando um beijo na sua testa.
Em seguida, subi na ambulância, sem coragem de olhar diretamente
para o meu irmão a centímetros de mim. O espaço era apertado, por isso
meus joelhos batiam na sua maca, com o metal frio roçando na minha calça.
— Minha nossa... — Madah soluçou do lado de fora da ambulância e
me virei para ela, que estava em pé a poucos metros de mim. Vi suas pernas
fraquejarem. Só não se espatifou no chão porque Paolo a sustentou, passando
um braço em volta da sua cintura.
— Uma última coisa — falei, antes de fecharem as portas. — Não vou
poder usar o celular na aqui ambulância. A caminho do hospital, ligue o viva-
voz do meu carro e avisem a todos. Meu pai, Luca, Marco. Ok?
— Pode deixar. — Paolo assentiu. — Vamos para qual hospital? Quero
colocar no aplicativo o endereço. Não sei andar nesta cidade.
— Para onde vão levá-lo? — perguntei ao motorista da ambulância.
— Para o Hospital Geral de Guarulhos — o homem respondeu e Paolo
acenou com a cabeça, em concordância.
A caminho do hospital, eu olhava para o meu irmão desacordado, com
uma máscara de oxigênio cobrindo parte do seu rosto. Enquanto ouvia a
sirene do lado de fora e os apitos intermitentes dos aparelhos do lado de
dentro, eu passava as mãos pela cabeça com a culpa me corroendo, me
consumindo.
Sin tinha razão? Eu era mesmo um irmão de merda? Até então ninguém
da família havia levado muito a sério as suas reclamações, aos treze anos,
quando falava que a desgraçada da Rita tinha fodido com a sua vida.
A princípio, pensamos que fosse exagero dele o ódio, o desprezo, a
aversão que sentia por ela, a "nova namorada do papai", que isso teria a ver
com a nossa mãe, ou que estava desequilibrado por conta do vício em
heroína.
Depois, quando nos contou sobre o sexo, o choque maior foi porque ela
era a namorada do nosso pai. Ninguém cogitou em abuso. Afinal, qual era o
problema...? Iniciar a vida sexual com uma mulher bonitona como ela não
poderia ter sido tão ruim. Era o sonho de muitos adolescentes. Por que Sin
teria achado repugnante? Além disso, um garoto não poderia ser vítima de
abuso sexual praticado por uma mulher, certo?
Errado.
Demorei, mas finalmente percebi o quanto havia me enganado. Foi um
verdadeiro trauma para ele! E o pior foi que não se tratou de um fato
isolado... A merda durou dos seus onze aos treze anos.
Como pude ser tão cego? Juntando as peças, sabia que o meu irmão
ainda sofria com os problemas decorrentes do trauma. Os surtos, os
pesadelos, a insegurança, a desconfiança, as drogas...
Só que pensava que ele tinha parado de se drogar. Pelo jeito me
enganei.
Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente. Teria sido mais
atencioso com ele. Mais protetor. O caçula sempre foi o mais animado e
cheio de energia de nós três. Eu deveria ter percebido que tinha alguma coisa
de errado com ele quando começou a ficar quieto, sem concentração e...
Cacete!
Senti as lágrimas quentes descendo pelas minhas bochechas. Sem parar
de olhar para o seu rosto desacordado, por um instante imaginei que abriria
os olhos para me xingar de viadinho como sempre, me zoando. Sin pegava no
meu pé, mas não fazia diferença. Era o meu irmão caçula e não me via sem
ele. Nunca.
De sonhadores a inimigos
Você tá indo, vai me deixar aqui, perdido
Você já contou pros seus amigos de nós?
Eu continuo vivo
Mereço estar, é a questão?
E, se for, quem a responde?
Eu estava vulnerável
Fui um tolo por deixar
Você derrubar minhas barreiras
DIAS DEPOIS
Estava à mesa com a minha família, terminando o almoço de domingo.
Eu não via Paolo desde que o deixei em casa ao voltarmos do hospital de
Guarulhos. Ele não me procurou mais e nem eu fui atrás dele.
Era uma merda, sentia a sua falta para cacete, porém não tinha coragem
de tomar a iniciativa. Ele estava certo... Eu não passava de um covarde idiota.
Cheguei a lhe digitar umas dez mensagens, só que depois as apaguei,
uma por uma. Amarelei na hora H, como sempre. Sofria imaginando que ele
já tinha voltado à ativa, com as festinhas regadas a sexo e orgias. Pelo menos
um de nós sabia se divertir...
Perdi a fome antes do final de refeição e deixei a mesa, me
acomodando no sofá com uma almofada macia atrás da cabeça, me
afundando em um poço de autopiedade.
— O que foi, hein? Que cara de bunda é essa? Continua brigado com
Paolo? — Sin se jogou do meu lado enquanto a princesa continuava sentada à
mesa, para variar repetindo a sobremesa.
— "Brigado", não. Nós não estamos mais juntos — respondi. Falar em
voz alta doía ainda mais.
— Bem que eu percebi... — Meu irmão balançou a cabeça, pensativo.
— Ontem, no ensaio, ele estava insuportável. Mal-humorado a porra do
tempo inteiro... Até jogou o microfone no chão quando Marco sugeriu que a
gente tocasse "I don't care". É a música de vocês ou o quê?
Meus batimentos falharam com a lembrança de quando a ouvimos
juntos, no banco de trás do carro. Sua voz rouca surgiu com tudo na minha
mente: "Nem acredito que hoje você me deu abertura. Até que enfim... Tenho
tesão por você desde os doze anos, cara..."
— É... A gente se pegou pela primeira vez com esta música tocando no
rádio... — confirmei com um sorriso fraco nos lábios.
— A primeira vez?! Então foi na minha Ruiva, não foi, seu
arrombado?! — Me deu um soco fraco no braço, rindo.
— Ah não, de novo o papo da Ruiva, não! — Soltei uma risada,
massageando o meu braço no local do soco, dolorido.
— Brincadeira. Já superei... Rico. Falando sério agora. Paolo tá na
merda, tanto ou mais do que você. Manda uma mensagem para o filho da
puta.
— Não sei... — Retirei o celular do bolso, indeciso. — Até queria...
Mas acho que não consigo.
— Dá essa porra aqui... — Sin puxou o telefone da minha mão,
destravando a tela e acessando o WhatsApp em um piscar de olhos.
— Como você sabe a minha senha?! — Franzi a testa e Sin não falou
nada, segurando o riso. Depois, passou a digitar rapidamente, concentrado. —
Ei... O que você está escrevendo aí, pirralho? Quero ler antes de enviar e...
— Ops! Já foi! — Gargalhou, jogando o aparelho no meu colo, se
levantando. — Não precisa me agradecer.
Com o coração na garganta, peguei o celular com medo de ler o que ele
tinha escrito. Quase me engasguei com a saliva ao encontrar a mensagem:
E: Paolo. Tudo bem? Vou ser direto. Sou um imbecil. Estou na merda
sem você, gato. Me encontra hoje às 20:00 na Rainbow?
Cacete, Sin... Não podia ter sido mais sutil?! E ainda o chamou para a
porra de uma balada LGBT?! Fiquei sem reação por algum tempo e, quando
pensei em deletar a mensagem, Paolo deu sinal de vida.
P: “Gato”?! Enrico, você bebeu? Mas... Se estiver falando sério, eu
vou.
E: Na verdade, foi o idiota do Sin que escreveu a mensagem... Porém
eu quero te ver. Muito.
P: Eu também quero. Nos encontramos lá? Vou direto de um ensaio do
Teatro, talvez eu me atrase dez ou quinze minutos. Ok?
E: Ok. Combinado.
Eu não conseguia segurar o sorriso que esticava os meus lábios,
fazendo com que Sin começasse a rir lá do outro lado da sala.
— Encontro marcado, Ricão?! Boa balada!
Seu olhar fazia as minhas bochechas se esquentarem. Eu o fuzilei com
os olhos, mas depois dei de ombros e gesticulei um "positivo" com o polegar.
Pelo menos iria me encontrar com Paolo e torcia para que conseguíssemos
nos acertar. Ao ver o meu gesto, Sin "respondeu" puxando os cotovelos na
direção do corpo com os punhos cerrados e, fazendo menção ao ato sexual,
passou a rir sem parar. Crianção de tudo!
O caçula estava mais animado do que o normal, chegando a ser quase
irritante a sua felicidade. Isso porque naquela manhã a Polícia obteve as
imagens das câmeras de segurança do vestiário, lá da quadra de Guarulhos,
conseguindo flagrar Eduardo colocando um pó na garrafa de isotônico. Ou
seja, o advogado de Domenico já poderia fazer a notícia-crime para que um
inquérito policial fosse aberto contra o nerd. Eduardo se ferrou.
Meu pai lançou a bomba e por segundos ficamos mudos, sem reação.
Madah era a filha caçula do tio Giuliano.
— Preciso ficar sozinho. — Pálido, Marco se levantou e, enterrando os
dedos nos cabelos curtos, se foi.
— Pai... — Sin se virou para Domenico. — Que merda, hein? Madah
me disse que o pai dela queria que a mãe abortasse e... Como o tio Giuliano
pôde? E você, sempre soube?
— Ela te contou sobre o aborto? Che cavolo... Não, filho, eu não sabia.
Porém, quando Madeleine passou a morar com a gente, comecei a reparar em
certos detalhes. Giuliano me telefonou mais de uma vez, interessado em saber
sobre ela, fazendo perguntas demais. Além disso, a menina tem o mesmo
sorriso dele. Você sabe, sou amigo de Giuliano desde a época de escola.
Enfim, eu o pressionei e ele me confessou ter tido um caso com Heloise na
época em que ela trabalhava na empresa.
— Caralho... — Meu irmão esfregou os olhos, perturbado. — Mas e a
porra do lance do aborto? Ele confessou também?
— Sim. Giuliano disse que entrou em pânico com a gravidez de
Heloise porque a esposa estava em uma fase muito delicada de saúde e, se
descobrisse, seria terrível... Mas ele se arrepende e está com boas intenções,
disposto a consertar o erro com Madeleine. Está ansioso para conhecê-la.
— Não sei se acredito nessas boas intenções — Sin rebateu com o olhar
duro. — Não confio na aproximação dele, é um risco para a minha namorada.
Ele queria que a mãe dela abortasse, cacete...
— Filho... Os problemas de adultos são diferentes. Não é incomum que
os pais, digo, o pai ou a mãe, entrem em pânico diante de uma gravidez não
planejada, cogitem em aborto e... — Domenico se interrompeu, alisando a
barba grisalha. — E, depois do nascimento da criança, tornem-se ótimos pais.
Fique tranquilo. Ele não faria mal a ela ou a qualquer pessoa.
Eu não tinha como discordar do meu pai. Embora tio Giuliano tivesse
falado para a mãe de Madah abortar, não poderia compactuar com a ideia de
Sin, de que ele ainda seria um risco a ela.
— Concordo com o pai, Sin. Tio Giuliano não faria mal a ela. —
Opinei, repetindo as palavras de Domenico, procurando acalmar o meu
irmão.
Ficamos todos em silêncio, perdidos em pensamentos. Até que o
médico apareceu e nos levantamos para falar com ele.
— Novidades?! — perguntei, com a ansiedade me consumindo.
— Vim lhes contar que está tudo certo. A transfusão está em
andamento. Retiramos duas bolsas da doadora que agora está descansando.
Por causa do baixo peso tivemos que ser cautelosos.
— Mas ela está bem?! — Sin quis saber, apreensivo. Previsível que se
preocupasse, a princesa era o seu ponto fraco.
— Está. — O médico assentiu com a cabeça. — Só precisa descansar
um pouco. Com licença. Retorno quando tiver mais notícias.
Voltamos a nos sentar assim que ele se afastou, todos mais aliviados.
— Meninos... Agora que sei que os dois estão bem posso ir embora. —
Domenico se levantou, mexendo no celular. — Tenho uma reunião com
empresários do Japão daqui a pouco. Wilson está vindo me buscar. Vocês
estão de carro, certo?
— Estamos. Tudo bem. Vai lá, pai — respondi e ele acenou, se
afastando. Esfreguei os olhos, cansado, ainda com a culpa me apertando o
peito.
— Rico... Acha que devo ir atrás do Marco?
— Melhor não. Dá um tempo... Marco disse que queria ficar sozinho. É
uma novidade e tanto para a cabeça dele.
— Filha do tio Giuliano... — Sin murmurou, balançando a cabeça. —
Eu não fazia ideia. E você?
— Para falar a verdade, eu já desconfiava. O fato de Domenico ter ido
buscá-la... E, depois, falar para não deixar Marco se aproximar dela... Fui
juntando as peças. Não foi tão difícil assim suspeitar de que fosse filha do tio
Giuliano.
— Porra... Eu me esqueço de que você é o mais inteligente de todos.
Anos e anos com a cara enfiada nos livros te serviram para alguma coisa.
Continua virgem, porém um virgem inteligente.
— Cala a boca, vai... — Empurrei o seu ombro, rindo do seu
comentário desnecessário.
— Sabia que, quando ela começou a me contar a história, eu pensei que
a magrela fosse filha do nosso pai? Me desesperei por um segundo, com
medo de ter praticado incesto. Sou imbecil para caralho!
— Às vezes... — respondi. — Às vezes para caralho, às vezes só um
pouco. Mas definitivamente um imbecil. — Dei risada e ele me deu um tapa
na nuca.
Apesar do clima tenso, eu estava gostando de conversar com o meu
irmão. Sin nunca tinha me falado tantas coisas na vida como nestes últimos
dias.
— Rico, como você acha que Paolo e Marco vão lidar com a novidade?
Bem ou mal?
— Paolo não gosta muito dela, você sabe... Mas vai ter que gostar.
Gostar e ser grato. A princesa literalmente deu o sangue para ele. Já Marco
talvez seja mais difícil, por ser muito ligado à mãe. Deve estar aborrecido por
ter descoberto que o tio Giuliano teve uma filha com uma amante.
— O tio Giuliano é foda... — Sin suspirou, jogando a cabeça para trás.
— Igualzinho ao nosso pai. Será que é tão difícil assim? Se manter fiel em
um relacionamento longo?
— Não sei. Acho que para algumas pessoas deve ser mais difícil... Sei
lá. Você sabe que não tenho experiência em relacionamentos.
— Mas o que você pensa a respeito? Hipoteticamente?
— Penso que... Deve ser normal se sentir tentado. Os nossos hormônios
trabalham assim. Por exemplo... Eu gosto de verdade do Paolo, mas isso não
impede que eu ache outras pessoas interessantes. — Logo pensei em João,
mas pisquei os olhos para afastar a lembrança dos nossos beijos. — A
diferença está nas escolhas que fazemos diante das tentações. Se eu estivesse
em um relacionamento com ele, eu não o trairia. Eu jamais o magoaria de
propósito. A minha escolha seria respeitá-lo, sempre.
Sin me olhou com admiração e, para minha completa surpresa,
enganchou um braço por trás do meu pescoço e, com a outra mão, bagunçou
os meus cabelos, sorrindo.
— Caralho, Rico! Você é tão... — Deu risada enquanto eu tentava me
soltar dele, sentindo o seu braço me esmagar, apertando. — Maduro. Sábio.
Sei lá que porra... Sou teu fã. E concordo contigo, cara. Eu não quero trair a
magrela, nunca. Só de pensar em quanto isso a machucaria... Eu amo aquela
garota.
— Me solta! — Me levantei e passei a arrumar o meu cabelo
bagunçado. — Você é pentelho demais, cara, como ela te aguenta?!
— Fazer o que, sou irresistível... — Sorriu de lado, colocando a mão
por trás da própria nuca, convencido.
— Agora, falando sério... Nunca pensei que te veria assim com uma
garota. Evoluiu demais... Gosto disso. Você está crescendo, pirralho.
Mais de onze horas da manhã, eu estava tomando café com meu pai na
cozinha de casa. A magrela ainda não havia acordado. Fomos dormir depois
das três da madrugada e ela estava exausta por conta dos acontecimentos, em
especial por ter doado sangue. Luca eu não sabia onde estava e Enrico
continuava no Pronto-Socorro com Paolo.
— Pai... Hoje o advogado ficou de ir à Delegacia fazer a notícia-crime
contra Eduardo, certo?
— Certo. A essa hora... — Sentado à minha frente, Domenico olhou
para o relógio de pulso. — Já deve ter feito. Daqui a pouco posso telefonar
para ele.
— Ok. Esse advogado é bom mesmo? — perguntei, preparando o
terreno para a minha próxima pergunta.
— É, sim. Dr. Saulo trabalha em parceria com um investigador
particular e os dois são muito eficientes. Em um dia, conseguiram as imagens
que foram mostradas à Polícia, de Eduardo colocando a droga na sua bebida.
Um excelente trabalho. Por quê?
— Então... Queria que você pedisse a ele que investigasse mais uma
coisa para mim. — Respirei fundo antes de mencionar o nome da filha da
puta. — Estou achando que não tive filho nenhum com a maluca da Rita. Ele
poderia ir atrás disso?
— Como assim? — Domenico me encarou, com o garfo com uma
porção de ovos mexidos paralisado a meio caminho da boca. — Eu vi os
resultados do teste de gravidez e de DNA.
— Pensa, pai... Ela pode ter engravidado, sim... Porém eu e Madah
achamos que abortou. Você nunca viu a barriga de gravidez ou a criança
depois de nascida, certo?
— Eu que nunca quis ver o menino! Eu! Che cavolo... — Largou o
talher na mesa, nervoso.
— E facilitou para caralho a vida dela! Me escuta... Como eu ia
dizendo, você nunca viu a criança. E, naquela época que ela engravidou de
mim, eu estava viciado em heroína. Quais eram as chances de o feto ser
saudável ou pelo menos viável?! Além disso, você não estava lá no hospital
de Guarulhos, comigo e com Madah, quando pedimos a Rita que mostrasse
uma foto da criança. A cara dela, pai... Entregou o jogo! Aposto que não
existe filho algum.
Ele ficou em silêncio por algum tempo e eu quase podia ouvir as
engrenagens do seu cérebro girando sem parar, com um vinco entre as
sobrancelhas se acentuando mais e mais.
— Se a vagabunda me enganou por todos esses anos... — Domenico
rosnou, com o rosto vermelho de raiva.
— É o que quero descobrir, com urgência, isso está me torturando.
Pai... Está comigo nessa? Posso pedir para o advogado ir atrás dela?
— Sim. — Balançou a cabeça afirmativamente, me dando um puta
alívio. — Hoje mesmo conversarei com o Dr. Saulo.
— Obrigado. — Assenti, satisfeito, e me levantei para deixar a cozinha.
Paralisei quando uma terceira pessoa irrompeu no ambiente. Com o
semblante fechado, ajeitou a camisa social branca dobrada na altura dos
cotovelos e depois cruzou os braços sobre o peito, firme. Com os cabelos
claros penteados para trás e os olhos azuis faiscando, exalava mau humor.
— Bom dia. Domenico, Davi. — Giuliano nos encarou com seriedade.
— Precisamos conversar.
Fodeu.
Ele já sabia sobre mim e Madah? Foi a primeira pergunta que brotou na
minha cabeça. Prendi o ar, observando atento o desenrolar da cena, tenso.
— Amico mio! — Domenico exclamou com alegria, levantando-se para
cumprimentá-lo. — Não sabia que já havia chegado a São Paulo.
— Cheguei hoje cedo e fui direto ao Pronto-Socorro ver o meu filho.
Que, inclusive, já deve estar em transferência daquela espelunca para um
hospital particular de primeira linha. Agora, o motivo que me trouxe
aqui... Cazzo... Na verdade, os motivos, porque são dois... — Ergueu os dedos
da mão direita, numerando as falas. — São... Um, por que todo mundo já
sabe que a menina é minha filha, se te pedi discrição até que fosse feito o
DNA? Marco está puto comigo! E, dois, Paolo e Enrico estão juntos?!
— Quanto a saberem que Madeleine é sua filha, assumo a
responsabilidade. Mais cedo ou mais tarde todos descobririam, de uma forma
ou de outra — Domenico explicou, sério. — A questão do sangue despertou a
curiosidade dos meninos. Sabe... Paolo tem um sangue raro, herdado de você,
e precisava com urgência de doação. O médico colheu amostras, ela era a
única compatível. Ou seja... — Deu de ombros, abrindo os braços, daquele
seu jeito expansivo.
— Madeleine é Falso O?! — Giuliano suspirou fundo, sentando-se em
uma banqueta. — Como eu e Paolo? Pouquíssimas pessoas têm este sangue
no mundo. Ela certamente é minha filha.
— É. E ela salvou a vida dele ao fazer a doação — comentei com um
sorriso, orgulhoso da minha namorada.
— Entendi. Bem, para falar a verdade, no fundo, eu sempre soube que
ela seria minha filha. Eu engravidei Heloise muitos anos atrás, em uma época
que bate com a idade da menina.
— E por que nunca a ajudou? — perguntei, tentando conter uma
pontada de irritação. — Não apoiou a mulher durante a gravidez e...
— Filho, calma... — Domenico apertou o meu antebraço. — As coisas
não são tão simples assim...
— Tive os meus motivos — respondeu Giuliano, com o olhar duro. —
Sei que não agi corretamente, porém já está feito. Ela terá o meu nome assim
que confirmarmos a filiação com o DNA. Antes tarde do que nunca.
— É isso aí, amico mio. — Domenico foi até ele, sorrindo. Parecia
querer melhorar o clima entre nós. — Você vai adorar conhecê-la! É uma
menina muito doce e educada. Daqui a pouco deve acordar.
— Estou ansioso para isso. E o lance entre Enrico e Paolo, hein? Me
pegaram de surpresa.
— Parece que eles se gostam — comentou Domenico, com uma
expressão tranquila no rosto. — Eu não fiquei surpreso, para ser sincero.
Sempre soube no meu íntimo que Enrico é gay.
Giuliano sorriu e aproveitei o momento descontraído para lhe revelar
sobre mim e a magrela.
— Eu também, sogro. Sabe, eu...
— Espera, espera! — Balançou a mão em negativa, apertando os olhos.
— Você também é gay, Davi? "Sogro"? Não vai me falar que está com
Marco, que...
— Não! — Gargalhei. — Falei "eu também" porque eu também sempre
soube que Enrico é gay. Eu sou hétero. Macho para caralho. Marco é apenas
um bom amigo.
— Ah... Jura? É que me lembrei de umas "brincadeiras" suas com
Paolo, no passado.
— Que brincadeiras? — Domenico quis saber, erguendo uma
sobrancelha. Cacete...
— Aquelas merdas não passaram de descobertas de adolescentes.
Porra, Giuliano, não me fode... Sou hétero, sim. — Fechei o rosto, mal-
humorado. Como ele sabia da "mão amiga" que Paolo me dava?
— Certo. — Mordeu o lábio, desconfiado. — Então por que o "sogro"?
— Porque estou namorando a sua filha. Que é uma garota. Afinal,
como já falei, sou hétero.
— A minha menina?! De dezesseis anos?! Não me diga que vocês dois
já... — Me queimou com os olhos e eu fiz que sim com a cabeça. — Cazzo,
Domenico! Fico algumas semanas fora e... Como deixou o seu filho pegar a
minha filha?!
— Ué... O seu filho está pegando o meu e estou bem tranquilo quanto a
isso. Deixa os jovens. Relaxa, Giuliano.
— "Relaxa"?! É surreal! Você é sogro de dois filhos meus, eu sou
sogro de dois filhos seus. — Ele passou as mãos pelos cabelos claros,
desorientado. — Preciso de algum tempo para processar as novidades.
A minha tensão havia desaparecido. Agora que todas as cartas já
estavam na mesa, voltei a respirar, sem o peso do mundo nas costas. Até
queria rir da cara de perdido do meu sogro. Coitado...
— Poderia ser pior... — provoquei, sorrindo de lado. — Pensa... Luca e
Marco poderiam namorar, assim em vez de sogros duas vezes, vocês
seriam três vezes, com direito a pedir música no Fantástico.
— Sin, chega. Não complica... — Meu pai me repreendeu, porém vi
que segurava o riso. — Giuliano, vá para sua casa, tome um banho, descanse.
Fez uma longa viagem.
— Vou embora, sim. Mas antes chame a minha filha, por favor. Vou
levá-la comigo para casa. Para a casa dela.
Capítulo 56
Quando eu envelhecer
Estarei lá ao seu lado
Para te lembrar como ainda te amo
Amor da minha vida
DIAS DEPOIS
Era hoje que me mudaria para a casa de Giuliano. A casa do meu pai,
onde passaria a viver, com ele e com os meus irmãos.
Sentada no banco do passageiro da Ruiva, estacionada em uma das
vagas para visitantes da mansão Fontini, eu sentia a apreensão me corroendo.
Ainda sem coragem de descer do carro, agarrei a mão do meu namorado,
percebendo que estava tão fria quanto a minha.
Com a mão livre Sin mexeu no som, colocando a "nossa" música
— “Patience”, do Guns N’ Roses — e jogou a cabeça para trás, suspirando.
A minha mudança de casa não iria ser fácil. Nem para mim, nem para ele.
A gente não tinha falado nada no curto trajeto da casa dele até ali. Seu
olhar fixo à frente e seu maxilar travado refletiam a sua insatisfação. Pelo
menos não tentou me convencer a mudar de ideia.
Nós dois sabíamos que aquilo era o certo e, portanto, teríamos que nos
resignar.
Era apenas uma questão de tempo... Logo a gente se acostumaria com a
nova realidade. O nosso namoro iria prosseguir, cada um morando na sua
casa, como a esmagadora maioria dos casais normais da nossa idade.
Com a voz de Axl Rose quebrando o silêncio e nos lembrando de que
era preciso ter paciência, fechei os olhos para me acalmar, relembrando os
últimos acontecimentos.
Às vezes fico tão tenso, mas não posso acelerar o tempo
(Sometimes I get so tense, but I can't speed up the time)
Disse "mulher vá devagar e as coisas vão ficar bem"
(Said "woman take it slow and things will be just fine")
Você e eu vamos usar um pouco de paciência
(You and I'll just use a little patience)
UM MÊS DEPOIS
UM MÊS DEPOIS
FIM
Epílogo
Depois da linda cerimônia, Sin me puxou pela mão para dentro da casa.
— Onde vamos, marido? — Sorri, gostando de pronunciar a nova
palavra que deixava uma sensação diferente na língua, fazendo-a formigar.
— Você já vai descobrir, magrela. — Abriu um dos seus sorrisos de
lado, com um ar misterioso. Seus cabelos castanhos penteados para trás com
gel lhe davam um aspecto mais sério. Mais sedutor.
— Não acredito! — Dei risada, percebendo as suas intenções conforme
ele empurrava a porta do seu antigo quarto com uma mão, me puxando pela
cintura com a outra.
— Lembra que foi aqui a nossa primeira vez...? — perguntou, me
fazendo prender ao ar ao notar a decoração romântica, com flores e velas ao
redor da cama arrumada com lençóis cobertos por pétalas.
— Teria como esquecer...? — Corri os olhos por tudo, encantada, com
um friozinho na barriga me consumindo, me excitando.
— Quero que também seja aqui a nossa primeira vez como marido e
mulher — comentou, retirando o paletó daquele seu jeito confiante, com
agilidade. — Gostou?
— É demais... Você é demais, amor.
Sin mordeu a boca, convencido, continuando a se despir. Fiz o mesmo,
retirando o meu vestido delicado com cuidado. Em silêncio, ele se
aproximou, me puxando pela cintura, com os olhos presos aos meus.
Desceu as mãos, enganchando os polegares nas laterais da minha
calcinha, escorregando-a para baixo sem desviar o olhar, fazendo todas as
borboletas pularem no meu estômago, sem controle.
— Posso degustar a noiva? — Deu risada, beijando o meu pescoço,
com as mãos apertando a minha cintura. — Eu te amo, magrela.
— Pode. Eu te amo, Davi Filipo.
Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus e meus pais, por tudo. Ao meu
marido e nossos dois filhos, pela paciência e compreensão. Foram
incontáveis horas longe deles para que eu pudesse me dedicar ao livro, que
surgiu como um simples hobby e, depois, tomou outras formas.
Em especial, agradeço aos meus leitores do Wattpad. Todos que se
irritaram com Sin, que torceram para que Madah ficasse com Enrico, que
choraram quando descobriram sobre o passado do nosso bad boy, que
xingaram Paolo "alma livre", que imploraram pela morte de Rita. Graças a
vocês, leitores que se tornaram amigos, me apoiando e me incentivando
desde a primeira publicação online, SIN se tornou um sonho possível.
Meninas do grupo “Pecados da Pauline”, vocês têm todo o meu
coração! Incentivadoras, apoiadoras, amadas, me deram o gás que faltava nos
dias mais nublados. Em ordem alfabética, as mais ativas: Ana Beatriz, Ana
Carolina, Ana Luiza, Ana Paula, Cristiane, Elisandra, Franciele, Isis,
Ketellen, Lara, Letícia V., Leticia X., Maria, Monique, Raissa, Rebeca,
Sabrina, Tatiane, Thiffany. As duas leitoras-autoras queridas que mais me
ajudaram: Bruna e Vanessa. E, finalmente, as duas maravilhosas que mais
torceram, me presenteando com marketing, divulgações e afins, essenciais
para que eu desse o próximo passo: Luana e Rafaela.
Por fim, agradeço à Editora The Books, que acreditou em mim e na
minha história.
Escrever SIN foi uma experiência intensa e inesquecível. Me sinto
extremamente honrada em poder entregá-lo a vocês. Com carinho,
Pauline G.
[1]
A sigla “BV” se refere a “boca virgem”, ou seja, uma pessoa que nunca beijou na boca.
[2]
N/A. Adam e Johnny são personagens do meu livro “Pecados e Confissões” e aparecem
aqui para um rápido “crossover”.