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Copyright © Pauline G, 2020

Editora Chefe: Waldinéia Oliveira Gomes


Revisão: Simone Souza
Capa: Larissa Chagas
Diagramação: Grazi Fontes (@grazifontes.artesgraficas)

Todos os direitos reservados o Grupo Editorial The Books. É proibida a reprodução de


parte ou totalidade da obra sem a autorização prévia da editora. Todos os personagens desta
obra são fictícios e qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência. Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
ISBN: 978-65-86868-66-1 1. Literatura Brasileira. 2. Ficção. 3. Romance
Site: www.thebookseditora.com
Sinopse
Nota da Autora / Aviso de Gatilhos
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Epílogo
Bônus I
Bônus 2
Agradecimentos
Sinopse
O bad boy Davi Filipo Sintori sempre consegue tudo o que quer.
Baixista da banda Five Stars, não há garota que resista a seu sorriso de lado e
seu corpo coberto de tatuagens.
Sin é o filho caçula de Domenico, um magnata viúvo bon vivant. O
garoto não lida bem com o desfile de madrastas, seguindo a regra de nunca as
tocar. Até o pai levar para casa Madah, uma garota de programa jovem
demais. Só que nem tudo é o que parece...
Um bad boy popular que luta para sustentar sua fachada de força e
indiferença, escondendo medos e traumas do passado que ainda o
assombram. Uma garota resiliente com uma trajetória marcada por mentiras,
perdas e experiências degradantes.
Alternando os pontos de vista dos protagonistas, a história fala sobre o
surgimento de uma paixão intensa e arrebatadora, capaz de transformar a vida
de ambos. Juntos, eles irão crescer, amadurecer e descobrir o poder redentor
do verdadeiro amor.
Conquistas: 1° lugar no Concurso Cortina de Ouro, na categoria Hot.
Mais de 800 mil leituras no Wattpad, ocupando os primeiros lugares nos
rankings Hot, NewAdult e BadBoy.
Nota da Autora / Aviso de Gatilhos
Bem-vindo ao mundo de Davi Filipo Sintori, mais conhecido como Sin.
Um legítimo bad boy para você odiar e amar.
O livro não é um romance “água com açúcar”. Pode conter gatilhos por
abordar temas sensíveis, como: sexo explícito, drogas, abusos físicos e
psicológicos (sem romantização). Inclusive, as falas e atitudes problemáticas
dos personagens são inerentes à construção e desconstrução deles, não
reproduzindo as minhas ideias e convicções.
A linguagem do texto é propositalmente mais informal, coloquial, por
se tratar de um romance do gênero new adult, com protagonistas jovens e
descontraídos. Um palavreado mais formal não seria condizente com as suas
personalidades.
No mais, para quem aprecia leitura com música, segue o código para a
playlist no Spotify:

Do fundo da minha alma, desejo que tenha uma experiência literária


prazerosa... Que a história que alcançou quase um milhão de leituras no
Wattpad consiga alçar novos voos, conquistando mais corações. Que você
possa se emocionar e se divertir ao lê-la, como eu fiz ao escrevê-la.
Com amor,
Pauline G.
Epígrafe
aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre
isso
e nada mais
incomoda eles
depois
disso.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou,
você não olha para trás
quando o chão
range.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou.
(Charles Bukowski)
Capítulo 1

Devo ficar ou devo ir agora?


Se eu for, haverá problemas
E se eu ficar, haverá o dobro
Should I Stay or Should I Go? | The Clash

Davi Filipo Sintori "Sin"

Um cutucão no braço me fez abrir os olhos e rapidamente franzi o


rosto, incomodado com a luminosidade. Virei a cabeça para o lado,
encontrando o responsável pela perturbação da minha tranquilidade.
Meu pai tentava falar alguma coisa, porém eu apenas o encarava de
volta, sem escutar nada do que saía da sua boca. "Should I stay or should I go
now?". O som de The Clash nos meus ouvidos me fazia batucar os dedos nas
coxas, descontraído.
Domenico ficou com o rosto vermelho de irritação, parecendo um
palhaço. Eu quis rir, até que puxou o fone de mim com brutalidade, quase
arrancando a minha orelha. Porra... Que estraga-prazeres.
— Eu disse que chegamos. Arrume as suas coisas para desembarcar.
— Já?! Che cavolo... — Passei as mãos pelos cabelos, aborrecido.
Agora que eu estava relaxado, quase cochilando...
O voo de jatinho até Punta del Este foi suave. Viajamos porque meu pai
gostava de apostar em cassinos e um dos mais próximos do Brasil ficava
aqui, no Uruguai.
Ele estava otimista, dizendo que sentia que era o seu dia de sorte. Eu
não ligava para jogos. Vim para passear, fazer companhia para o velho,
beber, pegar umas mulheres. Em resumo, diversão, bebida, sexo. Não
precisava de mais nada.
Depois do desembarque e de toda a porcaria burocrática, encontramos
uma BMW série 7 sedã nos esperando do lado de fora do aeroporto. Preta,
novinha, zerada.
Que tesão... Até o cheiro do banco de couro me arrepiava. Sempre
apreciei carros e, obviamente, não dava para não admirar uma máquina
daquelas.
O motorista nos levou direto ao cassino hotel Punta Estelar. Eu, o meu
velho e os dois guarda-costas. O todo poderoso Domenico Sintori não
viajaria comigo, o seu filho caçula, sem proteção.
Um dos guarda-costas ficou com a nossa bagagem, que se resumiam a
duas pequenas malas de mão. O outro nos acompanhou até a recepção para o
check-in.
O plano era passar uma noite no hotel. Um milagre que quase me fazia
jogar as mãos para os céus. Domenico sempre tinha milhões de
compromissos de trabalho e todas as nossas viagens eram irritantemente
corridas.
— Bela gravata... — Meu pai sorriu, destilando o sarcasmo de sempre,
depois que deixamos a recepção. — Comprou no camelô da Praça da Sé?
Poderia ter escolhido uma das minhas Hermès ou...
— Não vou perder o meu tempo discutindo marca de gravata, puta
assunto de velho — cortei o seu barato, entrando no elevador, com ele e o
guarda-costas. — Eu sou jovem. Não preciso de gravata grã-fina para pegar
mulher.
Mexi com o seu ego e dei risada ao perceber que ficou bravo, com o
rosto quente e o olhar gelado. Para o meu pai, não existia xingamento pior no
mundo do que ser chamado de velho. Subimos o restante do tempo em
silêncio e, quando as portas do elevador se escancararam, percebi que
estávamos no último andar.
Um segurança do hotel nos cumprimentou com um breve aceno de
cabeça, abrindo a porta da área VIP do cassino. Senti um frio na barriga
excitante ao dar os primeiros passos por aquele local imponente, exalando
riqueza. Era a minha segunda vez aqui. Forcei os olhos para conseguir
enxergar alguma coisa enquanto o gelo seco recém liberado ia se dissipando.
Percebi que o ambiente fracamente iluminado estava repleto de
pessoas, a maioria delas gente como eu e o meu pai. Homens ricos, vestidos
com roupas sociais de grife, em busca de uma bebida forte para relaxar, uma
jogatina cara para brincar e uma mulher gostosa para trepar.
Logo na entrada do salão, havia uma pequena pista de dança. A música
com o ritmo cadenciado e a luz pulsante invadiram os meus sentidos, me
inebriando. Sobre a pista, enxerguei gaiolas gigantes penduradas, com
mulheres seminuas se exibindo dentro delas, dançando animadamente.
Aquela era a área da balada.
Nas laterais da sala, junto às paredes, ficava o local da jogatina, com as
mesas de blackjack à esquerda e as de pôquer à direita. A roleta estava ao
fundo, em um quadrante de destaque sob a iluminação mais forte. As apostas
começavam nos quatro dígitos.
Seguimos direto até o bar.
— O que os cavalheiros desejam? — A garçonete ruiva abriu um
sorriso gigante.
— Vodca dupla, por favor — pediu Domenico com a voz rouca,
alisando a sua barba grisalha.
— O mesmo para mim — avisei, apoiando os meus antebraços sobre o
balcão.
Não pude deixar de notar o olhar interessado da garçonete nas
tatuagens dos meus braços, que desciam pelas mãos até os dedos. Depois que
as bebidas chegaram, Domenico deu um gole no copo, atento, com os olhos
azuis observando o ambiente ao nosso redor.
— Sin... Vamos à sala de massagem?
— Jura que quer uma massagem? Vamos ficar aqui perto da pista. Olha
para aquelas dançarinas gostosas!
O bom em ter um pai viúvo e boa pinta era isso. Podíamos sair juntos
para a night como amigos. E, honestamente, "amigo" era o papel que
Domenico desempenhava melhor, porque como pai...
— Na verdade, procuro por uma garota em específico, "Madah". A
pronúncia é "Madá" e se escreve com um H no final. Na recepção, me
disseram que estaria trabalhando aqui em cima, como massagista. Ela fala
português.
Me segurei para não bufar, exasperado. Foda... Meu pai e suas putas de
estimação.
— Por que não pede para alguém chamá-la? Vocês podem conversar
aqui, no bar. Não estou no pique de massagem, pai...
Só se fosse no meu pau, pensei, abafando um riso.
— Prefiro surpreendê-la. De repente, Madah não gosta de ser solicitada
e decide desaparecer, não sei... Não posso a deixar escapar. — Ajeitou o
paletó e mexeu no relógio, ansioso.
— Hum — murmurei, resignado. Puta que pariu... O velho parecia
determinado em encontrá-la. Madah devia ter uma boceta de ouro. Até eu me
interessaria, se não fosse por um detalhe... Eu e meus irmãos fizemos um
pacto de não compartilhar mulher com nosso pai. E, como Domenico curtia
bancar o Sugar Daddy, vivia se enroscando com umas garotas bem novas.
Para o franguinho do Enrico, o meu irmão do meio, era moleza não
quebrar o pacto. Ele nunca pegava ninguém de qualquer forma. Já para mim e
para Luca, o meu irmão mais velho... Em mais de uma ocasião, a garota da
vez se mostrou ser uma grande tentação. Mas nunca cedi... Pegar sobras do
meu velho seria nojento para cacete.
— Ok, Sin. Vou até a sala de massagem. Vai ficar por aqui? Nos
encontramos depois.
— Beleza, pai, boa sorte — respondi, dando mais um gole da minha
bebida enquanto ele se afastava.
Depois, me acomodei em um sofá relaxadamente. Retirei o paletó e
dobrei as mangas da camisa até os cotovelos para ficar mais à vontade.
Tomando a minha vodca, mantive o olhar fixo nas gostosas engaioladas,
distraído.
— Hola... — Uma loira parecida com a Shakira se materializou na
minha frente e se sentou do meu lado, sorrindo.
— Hola. Que tal? — Eu a cumprimentei, com um sorriso torto,
interessado.
— Bien, muy bien... — respondeu, com as unhas compridas arranhando
a minha coxa lentamente, subindo e descendo. Meu pau deu sinal de vida,
pulsando dentro da cueca.
— Mejor ahora, cariño. Bamos a mi cuarto? — arrisquei no meu
melhor portunhol. Que merda...
O ruim de transar em outro idioma eram frases durante o sexo. Às
vezes, tinha que me segurar para não cair na gargalhada na hora H. Como no
mês passado, em Miami, quando peguei uma gringa que passou a gritar: Oh
fuck me, fuck me hard, baby... E a cena toda ficou parecendo um pornô barato
com legenda. Surreal.
Porém, antes que a sósia da Shakira pudesse me falar mais alguma
coisa, o guarda-costas do meu pai passou apressadamente na minha frente,
me chamando com um aceno de cabeça. Logo atrás dele vinha Domenico,
com alguma coisa nos braços. Alguma coisa, não. Alguém.
Puta merda... O que ele estava aprontando?!
Fiquei em pé em um pulo, piscando os olhos com força para tentar
absorver a cena a poucos metros de mim. Domenico carregava no colo uma
garota magra, desacordada. Os braços eram finos como gravetos e
balançavam, pendurados, no ritmo das passadas rápidas do meu pai. De
repente, ele parou de andar, enquanto o guarda-costas falava com alguém
pelo walkie-talkie.
Curioso, me aproximei, mas não consegui enxergar as feições da
menina. A sua cabeça estava deitada no ombro do meu pai. Os seus cabelos
castanhos claros, quase loiros, cobriam o seu rosto. Descendo o olhar pelo
seu corpo, pude notar que vestia apenas lingerie, mais especificamente sutiã,
calcinha e cinta-liga em renda preta.
Que porra...?!
— Não fique parado assim como um imbecil. Jogue o seu paletó por
cima dela. — Domenico me fuzilou e eu o obedeci.
Na sequência, o guarda-costas nos acenou e o acompanhamos em
direção ao elevador. Meu coração batia agitado, sem entender o que estava
acontecendo.
— Pai. O que está rolando? Quem é ela? Por que está a carregando?
Para onde estamos indo? — despachei as mil perguntas de uma vez, ansioso.
— Sin... — Meu pai respirou fundo, tenso. — Vamos levar Madah para
casa.
Capítulo 2

Eu vejo, eu gosto
Eu quero, eu consigo
7 Rings | Ariana Grande
Davi Filipo Sintori "Sin"

Aquela era a Madah?!


Dentro do elevador, com a luz mais clara, pude observar melhor a
garota, que parecia ser menor de idade. Seu corpo era um verdadeiro saco de
ossos.
Pelo jeito, o gosto do meu pai estava se diversificando... Domenico
sempre preferiu as ratas de academia, como a minha atual "madrasta". Aliás,
queria só ver a cara de Bárbara quando descobrisse sobre Madah. Iria surtar,
soltando aqueles seus gritinhos estridentes irritantes. Foda...
— Pai. Ela desmaiou ou o quê? — Apontei com a cabeça para o corpo
desacordado.
— Desmaiou. Em cima de mim. Não sei se por fraqueza ou abuso de
drogas ou outro motivo. Não tenho culpa — respondeu, mudando o peso de
um pé para o outro.
Certo. Eu acreditava no meu pai. Ele não doparia uma garota para
sequestrá-la ou coisa pior. Domenico não precisava daquilo. As mulheres
quase brigavam para ficar com ele e, modéstia à parte, comigo era a mesma
coisa. Ricos, estilosos e, no meu caso, jovem. Uma combinação irresistível.
— Ela vai mesmo para a nossa casa? Quer bancar o Sugar Daddy de
novo? Bárbara vai surtar...
— Não quero falar sobre isso. Vamos até o nosso quarto. Não podemos
levá-la assim para o aeroporto.
Domenico seguiu pelo corredor carregando a menina sem qualquer
esforço. A magrela não devia pesar nem cinquenta quilos.
— Wilson, abra a porta com a sua chave — falou ao guarda-costas, que
o atendeu sem hesitar.
Entramos todos e, rapidamente, analisei o ambiente luxuoso ao redor.
Havia uma ampla sala com dois sofás e uma mesa de jantar para quatro
pessoas, uma porta de vidro que dava em uma varanda e uma porta dupla de
madeira que levava ao quarto propriamente dito.
Meu pai se dirigiu ao quarto e eu escancarei as portas para que ele
pudesse passar com a garota nos braços. Duas camas king ocupavam o centro
do recinto, arrumadas com lençóis que pareciam custar uma pequena fortuna.
Nas laterais, enxerguei poltronas de leitura de couro marrom. Domenico
colocou Madah em uma das camas, ainda coberta com o meu paletó.
— Wilson, me passe as coisas dela — pediu, estendendo a mão para o
guarda-costas, que lhe entregou uma pequena mochila. Eu nem tinha
percebido que ele a carregava no braço.
Em seguida, meu pai despejou todo o conteúdo na outra cama.
Maquiagem, balas, chocolate, perfume, carteira...
— Che cavolo! Nenhuma roupa — resmungou, franzindo as
sobrancelhas grisalhas.
Abriu a carteira pink, retirando um documento de dentro, analisando o
objeto com atenção. Depois que o largou, eu o peguei. Era um RG do Brasil.
Surpreso, li que Madah se chamava Madeleine Laurent e tinha vinte e
um anos. Filha de Heloise Laurent e Hector Mendoza. Aquela porra só podia
ser falsa... Nem ferrando que ela era dois anos mais velha do que eu.
— Sin, tem alguma roupa sua que sirva nela?
— Não sei, vou ver — respondi, abrindo a minha mala de mão. —
Trouxe camiseta, calça jeans, jaqueta de couro...
— Me passe a jaqueta. — Esticou a mão para mim e eu o atendi. Jogou
o meu paletó social na poltrona e cobriu o corpo da garota com o lençol. Por
fim, colocou a minha jaqueta de couro ao lado dela. — Vamos aguardar —
falou, se afastando. — Pelo o que pude sentir, a respiração está regular e a
temperatura corporal normal. Porém, pode levar horas para que desperte...
Parecia exausta.
— Não tenho pressa. — Peguei meu paletó social na poltrona e o vesti.
— Vou dar uma volta, preciso de um cigarro. — Andei até a porta, apalpando
o meu bolso para encontrar o maço de cigarros.
— E eu vou apostar na roleta. — Domenico alisou a roupa em frente ao
espelho, vaidoso. — Wilson, fique aqui. Me avise assim que a garota acordar.

Uma hora depois, eu estava me atracando com duas brasileiras na


balada do último andar. Ao meu redor, o ambiente parecia ainda mais cheio.
Música alta, luzes coloridas, dançarinas em gaiolas e cordas deixavam o
clima tão excitante que a minha pele chegava a formigar.
Sentado em um sofá, movimentava a língua dentro da boca de uma,
escorregando a mão por baixo do vestido da outra, apreciando o contato com
a carne macia da sua coxa. As gostosas me alisavam sem parar, com as suas
quatro mãos por todos os lados, acelerando os meus batimentos e
endurecendo o meu pau.
De repente, uma das garotas se afastou de mim e, sob o pretexto de que
precisava vomitar, saiu correndo.
— Porra... — Dei risada. — E a sua amiga, hein? Game over.
— Vamos continuar só nós dois... — sugeriu, se arrastando para o meu
colo. Seus cabelos loiros fizeram cócegas no meu nariz. — Está hospedado
aqui?
— Estou, Lu... Mas não sei se o quarto está livre — respondi, me
arrepiando com o toque da sua língua na minha orelha.
— Lu não, Ju... Ai... — Ela me corrigiu e gemeu comprido quando
apertei o seu seio por cima do tecido do vestido vermelho. Não contive um
sorriso ao senti-la remexer a bunda em cima de mim, encaixando a ereção
entre as suas nádegas. Mesmo com as camadas de roupas entre nós, pude
perceber que usava calcinha fio dental.
— Ju... Papo reto — falei, sem soltar o seu seio, com a minha boca
trilhando uma sequência de beijos molhados pelo seu pescoço. — Não quero
ofender, mas preciso saber qual é o seu lance. Você é uma profissional?
Eu precisava trepar, porém me recusava a pegar putas.
— Não sou prostituta. Fica tranquilo, gostoso. Não vai gastar um
centavo comigo. — Escorregou a mão por dentro da minha camisa,
arranhando as minhas costas. Provavelmente concluiu que eu não queria
gastar dinheiro, mas não era isso. O motivo era outro.
Enquanto eu descia com a língua pelo seu decote, me deliciando com a
maciez dos seus seios, me perguntei se poderia levá-la para o quarto. Pensei
na magrela desmaiada na cama e na chance do meu pai já ter voltado para lá.
— Quer saber? Vamos tentar usar o meu quarto — decidi, puxando a
gostosa pela mão, deixando a balada sem olhar para trás.
As batidas de "7 Rings" que faziam a pista bombar desapareceram
assim que entramos no elevador. Abri um sorriso ao me dar conta de que
tinha arranjado uma garota para trepar, como queria. Como falava a letra da
música, “se eu quero, eu consigo”. Sem dificuldades.
Seguimos pelo corredor dos quartos, eu e a loira, um passando a mão
no outro. Apertei a sua bunda e ela gargalhou. Em seguida, pedi silêncio para
abrir a porta de número 111. Na sala, enxerguei somente o guarda-costas
sentado no sofá, mexendo no celular.
— Wilson? Como estão as coisas?
— Na mesma. A garota não acordou.
— E o meu pai?
— Não apareceu.
— Maravilha. — Sorri com malícia. — Você pode dar uma volta?
Preciso de quinze minutos de privacidade. Se é que me entende...
Puxei a loira para a minha frente, enlaçando a sua cintura com os
braços. Com a expressão impassível, Wilson acenou com a cabeça e se
levantou, passando por nós. Tranquei a porta apressadamente, com o coração
agitado em expectativa.
— Quinze minutos? Só? — perguntou, alisando o meu braço.
— Temos que ser rápidos... Quinze minutos ou nada. — Deslizei a
minha mão pelas suas costas e, mais uma vez, apertei a sua bunda com força,
fincando os meus dedos na sua carne.
— Então por que continuamos de roupa? — A safada riu, descendo o
zíper lateral do vestido vermelho. Em seguida, se livrou da lingerie da mesma
cor, ficando completamente nua. Puta merda... Que mulher escultural!
Arranquei paletó, gravata, abotoaduras, camisa social, camiseta. Porra...
Eu odiava me vestir assim. Duzentas peças de roupa...
— Se masturba para mim enquanto termino aqui... — sugeri, fixando o
olhar nos seus dedos que alisavam lentamente a sua boceta depilada.
Enquanto isso, me livrava do restante dos itens. Sapatos, meias, cinto, calça,
cueca...
Devorei o seu corpo com os olhos e, ao alcançar o seu rosto, notei o seu
olhar percorrendo as minhas tatuagens, com os lábios sorrindo em aprovação.
Eu sabia que as mulheres babavam no meu físico, o que me enchia de
satisfação. Era uma excelente massagem no meu ego.
— De costas — murmurei, finalmente nu, me aproximando devagar,
com a calça na mão. Precisaria dela para pegar a camisinha.
Ela me atendeu e, salivando, observei a sua bunda, que era mesmo
fenomenal. Colei o meu corpo atrás do seu, encaixando a minha ereção entre
as suas nádegas cheias.
— Se apoia de bruços na lateral do sofá... — Eu a conduzi com uma
mão firme no seu quadril, beijando a sua nuca. — Assim... Abre mais as
pernas, gostosa.
Ela riu e me obedeceu. Com a barriga apoiada no sofá e a bunda
empinada na minha direção, a visão era do caralho. Larguei a calça no
encosto do sofá, ficando com as duas mãos livres.
Arrastei os meus dedos pela linha da sua coluna, descendo, passando
pelo vale entre as nádegas, contornando seu buraco apertado até chegar na
sua boceta quente e molhada. Puta que pariu...
Com a minha mão direita, passei a massagear o meu pau enquanto a
dedilhava com a outra mão, a masturbando. A loira gemia e rebolava,
lambuzando os meus dedos que entravam e saíam, escorregando na sua
lubrificação.
— Não se mexa. — Peguei a camisinha e me encapei. Posicionei o meu
pau entre os lábios vaginais melados e, agarrando o seu quadril, meti tudo de
uma vez.
— Ai... — gemeu, se contorcendo, com a minha ereção se acomodando
entre as suas paredes quentes, me fazendo apertar os olhos.
— Porra... — Passei a dar estocadas firmes, fortes, puxando para fora e
metendo de volta com precisão, apreciando o impacto daquela bunda enorme
na minha virilha. — Gostosa para caralho...
— Isso... Isso... — Ela ofegava, fora de si, enfiando as unhas no
estofado do sofá.
Desse jeito, iríamos gozar em segundos. Mas eu ainda não queria...
Ainda não. Parei de meter e fiquei parado, dentro dela.
— Continua... — pediu, rebolando. Abri as suas nádegas com as mãos,
vidrado com a visão do meu pau todo enterrado nela. Circulei o seu buraco de
trás com o dedo e ela estremeceu, rindo.
— Ju... Curte anal? — Esfreguei a ponta do meu indicador pelas suas
pregas e ela gemeu que sim. Continuei provocando, contornando o seu ânus,
sem o penetrar.
— Sim. Enfia logo o dedo, vai...
— Quieta. — Dei um tapa forte na sua nádega direita e senti a sua
boceta pulsar.
— Ai...
— Quieta! Eu que mando nessa porra. — Dei outro tapa, ainda mais
forte. Puxei com firmeza os seus cabelos enroscados em uma mão e voltei a
me impulsionar para a frente e para trás, a chacoalhando a cada estocada.
Uma, duas, três vezes...
— Vou gozar... — A safada estremeceu, com o orgasmo a invadindo,
intenso. Amoleceu as pernas e eu a sustentei pelos quadris.
Ainda com os espasmos a consumindo, deslizei o meu pau para fora e
pressionei a glande em cima do seu orifício menor. A camisinha estava
melada com o seu gozo, o que facilitava o processo.
Fui me empurrando devagar, milímetro a milímetro, sentindo a sua
musculatura anal me estrangular. Era uma puta sorte encontrar uma garota
que curtia ser enrabada de primeira...
— Posso continuar? — perguntei, ofegante, com o meu pau inteiro
dentro do seu rabo.
— Pode!
Acelerei aos poucos, entrando e saindo com os meus olhos fechados, a
cada investida mais perto do clímax e...
De repente, senti uma presença que deixou todo o meu corpo em alerta.
Abri os olhos e virei a cabeça para o lado com tudo, sem parar com a
movimentação dos quadris.
Assim, eu a vi. Madah.
Capítulo 3

De jeito nenhum
Não vamos tolerar isso hoje
Fuck Authority | Pennywise
Davi Filipo Sintori "Sin"

Madah nos observava parada junto à porta dupla do quarto como se


estivesse hipnotizada com a cena de sexo anal.
Vestia a minha jaqueta de couro por cima da lingerie, sexy para
caralho. Seus cabelos cor de mel bagunçados emolduravam o seu rosto
delicado, prendendo a minha atenção. Boquiaberta, fitava a loira sob mim,
que permanecia alheia a tudo, dando o cu como se não houvesse amanhã.
Sorri de lado ao perceber que a magrela não iria parar de olhar.
Com as bochechas coradas, os seus olhos foram subindo lentamente até
o meu rosto. Ao se chocarem com os meus, desencadearam uma onda elétrica
que percorreu o meu corpo com tudo. Cacete...
Mordi o lábio e aumentei o ritmo das estocadas, com o tesão
potencializado em mil por causa do olhar da ninfeta.
— Porra! — Senti o meu pau engrossar e vibrar, com o orgasmo me
destruindo. Ejaculei com força dentro da camisinha e tombei o corpo para a
frente, colando a minha barriga suada nas costas da loira.
Fechei os olhos por um momento, respirando fundo para me recompor
e, quando os reabri, Madah já não estava mais ali.

— Você foi maravilhoso, Sin... — A loira sorriu, calçando as sandálias.


— Tão intenso... O melhor sexo que fiz em anos. É uma pena que more tão
longe...
— Eu também curti, Julia. Valeu.
— Juliane. Tchauzinho. — Me soprou um beijo e saiu para o corredor
na direção do elevador.
Julia, Juliane. Que seja... Tudo a mesma coisa. Deveria ter ficado
apenas no "Ju".
Da porta do quarto, fiquei olhando a gostosa andar pelo corredor, com
o meu ombro apoiando no batente, relaxado. Até que vi o meu pai se
aproximar todo animado, passando por ela. Pela sua cara vitoriosa, ganhou
uma boa grana na roleta. Ele secou a loira da cabeça aos pés e, orgulhoso,
sorriu sutilmente para mim.
— Fazendo o meu quarto de motel, seu projeto de garanhão? Muito
bonita a menina...
— "Projeto" é o caralho. Mandei bem. — Sorri, convencido, me
lembrando dos elogios.
— Espero que tenham transado na sala ou na varanda. Seria esquisito
você fazer sexo no quarto com Madah dormindo lá dentro.
— Relaxa, não entramos no quarto... — omiti o detalhe de que ela nos
flagrou na sala. — O que tem na sacola? — Apontei para a sacola na sua mão
que continha o timbre do hotel.
— Comprei roupas para Madah. Vou acordá-la. Decidi voltar ainda
hoje para São Paulo — respondeu e, puxando o celular do bolso, leu
mensagens com um vinco na testa, apreensivo. Problemas na empresa,
provavelmente.
Passamos pela sala e fomos até a porta dupla de madeira do quarto, que
permanecia fechada. Ele bateu duas vezes e poucos segundos depois, Madah
a abriu, se encostando na parede ao lado. Continuava vestida com a minha
jaqueta de couro.
Meu coração deu um baque quando me lembrei do que havia
acontecido minutos atrás. Porra... Ela me viu trepando com a loira e não
parou de olhar até eu gozar como um condenado. Surreal.
— Madah. Já me apresentei a você lá em cima. E este é o meu filho
caçula, Davi Filipo Sintori. Todos o chamam de Sin. Creio que ainda não se
conheçam...
— Nunca o vi na vida. Prazer — disse rápido demais, me fazendo abrir
um sorriso de canto. Mentirosa. Ainda vou fazê-la confessar que não só me
viu, como gostou do que viu.
— O prazer é todo meu — respondi, ainda sorrindo, arqueando uma
sobrancelha. Ela não sustentou o meu olhar.
Eu precisava descobrir qual era o lance dela, para saber se poderia
partir para cima. Se fosse prostituta, ou se estivesse envolvida com o meu pai,
eu pularia fora.
— Madah, querida... — Domenico ergueu a sacola no ar. — Comprei
roupas e sapatilhas para você, espero que sirvam. Daqui, partiremos para São
Paulo no meu jatinho. Tudo bem?
Saquei. Começaram os "queridas", os presentes, os passeios de
jatinho. Sugar Daddy em ação. Porém, pensando melhor, algo não se
encaixava... Em vez de se mostrar animada, o que seria previsível, Madah
parecia estar em um velório. Qual era a dessa garota?!
— Se sente melhor? Você me assustou quando desmaiou de repente,
menina... — O olhar preocupado do meu pai não me passou despercebido.
— Estou bem, obrigada. Foi a emoção do momento... Em descobrir que
a minha mãe havia morrido e que o senhor me levaria para o Brasil. —
Suspirou, esboçando um pequeno sorriso que não chegava aos olhos.
— Sinto muito. E não precisa me chamar de senhor. Bem... Tome um
banho, se troque. Leve o tempo que entender necessário. Vamos esperá-la
aqui na sala.
Eu não abri mais a boca, observando com atenção a interação do meu
pai com ela, desconfiado.
— Obrigada. Não vou demorar. Com licença. — Madah entrou no
quarto e fechou a porta.
— Pai... — Me virei para Domenico com mil perguntas fervilhando na
cabeça. — Eu queria saber...
— Agora não, Sin. Preciso fazer o check-out. Me aguarde aqui —
ordenou, deixando o quarto em seguida, com Wilson na sua sombra.
Resignado, me joguei no sofá e passei a mexer no celular, tentando me
distrair.
Minutos depois, Madah apareceu, com os cabelos úmidos indicando
que havia tomado banho. Usava um vestido preto de algodão soltinho até os
joelhos. Parecia grande demais no seu corpo que continha carne de menos.
Com o olhar ressabiado, trazia a minha jaqueta de couro nos braços.
— Obrigada pela jaqueta... É bem confortável. — Esticou o braço, me
devolvendo a peça.
— Como sabia que era minha?
Ela deu de ombros, sem falar nada. Peguei a jaqueta da sua mão, fiquei
em pé e vesti, deslizando as mangas pelos braços. Ao ajeitar a gola, estranhei
um perfume que não me era familiar.
— Ficou com o seu perfume. — Inspirei fundo, identificando um
aroma suave, levemente doce. De mel, talvez.
— Obrigada? — murmurou, hesitante, provavelmente sem saber se
aquilo tinha sido um elogio. Nem eu sabia se havia sido, para falar a verdade.
Sustentei o seu olhar, analisando-a mais uma vez. Um formigamento se
espalhou pelo meu corpo, com o ar mais denso, quase elétrico, crepitando
entre nós.
Então Domenico e o guarda-costas entraram na sala, estourando a nossa
bolha.
— O check-out está feito. Vamos, crianças.
Descemos até a recepção, todos juntos. Domenico conduzia Madah
com uma mão pousada nas suas costas, protetoramente.
Ou seria "possessivamente"?
Eu os seguia a uma certa distância, com os dois guarda-costas logo
atrás, trazendo a nossa bagagem. No estacionamento do hotel, o motorista de
uma van acenou para a gente, sem ânimo.
— Pai? Que porra é essa? E a BMW de mais cedo?
— Sin. Estamos em cinco adultos agora, mais o motorista. Tive que
pedir a van —explicou, distraído, com os olhos novamente no celular.
— Que merda... — deixei escapar, entrando no veículo, me jogando no
último banco.
Depois que todos se sentaram, o motorista deu a partida. Me acomodei
de lado, com as costas na janela, encaixei os fones de ouvido e, mexendo no
celular, passei a escolher uma música. The Clash, Sex Pistols, Ramones,
Pennywise... Ainda não tinham inventado nada melhor do que as lendas
do punk rock. Se bem que os meus músicos preferidos eram hard rock: Guns
N' Roses. Duff McKagan foi quem me despertou a paixão pelo contrabaixo,
fazendo com que eu quisesse ser o baixista da Five Stars, banda que fundei
com Luca no ano passado.
Entretido com o som de Pennywise, "Fuck Authority", deixei os olhos
fechados, percebendo o sacolejar da van pelas ruas da cidade. No final da
música, eu os abri e, ao olhar para a frente, enxerguei as costas de Domenico
e Madah na primeira fileira de bancos, alheios a mim.
No minuto seguinte, a palhaçada começou.
Meu sangue borbulhou quando o meu pai tomou a iniciativa de mexer
no cabelo dela, colocando uma mecha atrás da orelha — técnica manjada
para cacete — e se aproximou para sussurrar alguma coisa, fazendo a menina
estremecer. Depois rolou um carinho aqui, um aconchego ali, até que ficaram
tão próximos que só faltava Madah subir no colo dele.
Porra, Domenico! Ela teria idade para ser sua neta! Não fode!
Apertei os olhos e o esculachei mentalmente. Com os seus quase
sessenta anos e o seu longo histórico de Sugar Daddy, já se relacionou com
inúmeras mulheres bem mais novas. Como Bárbara, a minha atual
"madrasta", de vinte e sete.
Porém eu tinha certeza de que Madah era menor de idade, o que seria
uma puta sacanagem da parte do meu pai. Ao decidir levá-la para casa,
Domenico ignorava todas as regras do bom senso. Che cavolo...
Mas por que eu me importava com ela, caralho?! Madah era só uma
garota! Uma garota, não! Uma vagabunda que não merecia um segundo dos
meus pensamentos! Se queria se sujeitar a fazer sexo com velhos, encenando
sentir prazer em troca de dinheiro e presentes, que fosse feliz.
Já contei sobre o meu ódio por putas?! Por causa do vício do meu pai
em as procurar, minha mãe caiu em depressão e... Deu no que deu. Foi como
uma sequência de dominós, com uma peça tombando depois da outra, até que
não restasse mais nada em pé. Nada. Fui ao fundo do poço e me puxaram de
volta, todo quebrado.
Eu sabia que era a "profissão" mais antiga do mundo, mas... O
problema era quando fodia com a família das pessoas. Como fodeu com a
minha.
Já na sala de espera para o embarque, sentado de costas para todo
mundo, eu não podia deixar de escutar meu pai e Madah conversando sobre
coisas aleatórias. Em um dado momento, o foco se voltou para a viagem que
faríamos logo mais.
— Domenico. Estou um pouco nervosa... Nunca andei de avião... —
Ela comentou baixinho, soando constrangida. — Nem passaporte eu tenho.
Vai ser um problema?
— Não será um problema, porque estamos no Uruguai. Sabe, Madah,
brasileiro não precisa de passaporte para viajar pelos países do Mercosul,
basta o RG. Para destinos fora do Mercosul, se pede o passaporte. E, para
alguns países em específico, além do passaporte, é necessário ainda o visto.
São exemplos o Canadá e os Estados Unidos. Já com outras nações temos
acordos de reciprocidade, que é o caso de Portugal e...
Meu pai continuou com a porra da aula de relações internacionais
tranquilamente, me dando nos nervos. Quem ouvisse a explicação didática
poderia até pensar que meu pai fosse um professor atencioso e não um Sugar
Daddy louco para fazer sexo com a menina. Não me segurei e virei a cabeça
para espiar a cara deles. Encontrei Domenico falando sem parar, todo
confiante e Madah prestando atenção nele, interessada, com os olhos
brilhantes.
— Vou lá fora fumar. — Me levantei em um pulo, puxando o maço de
cigarro do bolso.
— Não demore, filho. Vamos embarcar em breve.
Fiz que sim com a cabeça e me afastei, passando pela porta que dava
para a rua. Fumei com o olhar perdido no céu da madrugada, sem entender o
porquê de me sentir tão irritado com o meu pai. Quer saber? Domenico que
fizesse o que bem entendesse da sua vida, eu não tinha nada a ver com aquilo.
Quando voltei, encontrei-o sozinho na área de embarque, falando no
celular. Afastou o aparelho da orelha para se dirigir a mim.
— Todo mundo já embarcou, Sin. Pode ir entrando... — falou baixo e
voltou a atenção para a ligação, alheio a mim. — E é isso, Giuliano... Madah
ainda me explicou sobre os tipos de massagem que fazia... Se o cliente
pagasse um extra, teria direito a masturbação. O sexo oral era ainda mais caro
e... Não, não. Claro que não! Ok. Estou a levando para a minha casa e... Isso,
quando você retornar de viagem pode conhecê-la. Vai gostar dela... É uma
menina encantadora, embora esteja fragilizada. Sim, sim... Será um prazer.
Até breve, amico mio.
Capítulo 4

Oh, criador de sonhos


Seu destruidor de corações
Moon River | Audrey Hepburn
Davi Filipo Sintori "Sin"

"Pode conhecê-la. Vai gostar dela... É uma menina encantadora,


embora esteja fragilizada. Sim, sim... Será um prazer. Até breve, amico mio."
As palavras de Domenico ressoavam na minha cabeça sem parar.
Che cavolo... Apertei os olhos, com os meus batimentos descontrolados
me ensurdecendo. Que merda era aquela?! Meu pai iria compartilhar a
menina com tio Giuliano?! E bem que acertei que "massagista" era
eufemismo para puta. Só o fato de trabalhar de lingerie, cinta-liga... Já podia
imaginar a tabela de preços. De masturbação a sexo anal, o céu era o limite.
Tio Giuliano não era meu tio de sangue, mas era como se fosse. Ele e
Domenico mantinham uma forte amizade desde a época de escola. Casaram-
se com duas amigas, Angela — a minha mãe — e Anna, a mãe de Marco e
Paolo. As nossas famílias sempre foram muito próximas.
Eu, Enrico e Luca crescemos com Marco e Paolo. Frequentamos as
mesmas escolas, festas familiares e círculos de amizades. Cinco garotos, com
idades entre dezenove e vinte e três anos, sendo Marco o mais velho e eu o
mais novo.
— Pai... — Me aproximei assim que guardou o celular no bolso. —
Jura mesmo que você vai levar uma prostituta ninfeta para a nossa casa?!
Ele me fuzilou com o olhar, parecendo pensar no que responder. Porém
somente se abaixou, pegou a sua mala de mão e dirigiu-se ao portão de
embarque, sem olhar para trás.
— Vamos entrar logo, Sin.

Me joguei em uma das poltronas do fundo do jatinho, ajustei o cinto de


segurança e coloquei os fones de ouvido, me preparando para a viagem. A
comissária de bordo apagou as luzes por estarmos de madrugada. Notei que
os guarda-costas na primeira fileira se aprontavam para dormir, ajeitando os
travesseiros nas costas.
Meu pai e Madah estavam juntos lá pelo meio do jatinho, cochichando
alguma merda. Coloquei uma playlist de músicas mais tranquilas e, quando
começou a tocar "Patience", do Guns N' Roses, fechei os olhos, pretendendo
pegar no sono. Música perfeita. Precisava mesmo de muita paciência.
De repente, senti um toque delicado no meu ombro. Abri os olhos e,
mesmo no escuro, vi Madah em pé do meu lado. Puxei um dos fones da
orelha, encarando-a com uma sobrancelha erguida, levemente irritado.
— Oi — sussurrou. — Você estava dormindo?
— Não. E se estivesse, você teria me acordado. Fala.
— Posso sentar do seu lado? Seu pai foi para o quarto e eu não quero
ficar sozinha.
Ela falava bem baixinho, provavelmente para não incomodar os
guarda-costas mais à frente que tentavam dormir.
— Senta. — Apontei para a poltrona vaga à minha direita. Olhei pela
janela do outro lado, confuso. Continuamos parados por quê?
— Ainda não decolamos — comentou, percebendo a minha
movimentação, enquanto se acomodava ao meu lado. — O piloto disse que o
aeroporto de São Paulo está temporariamente fechado. Acho que por causa de
mau tempo... Ele está esperando autorização para voar.
— Certo. — Joguei a cabeça para trás, apoiando-a no encosto da
poltrona.
— Estou nervosa. — Ela se aproximou para sussurrar e seu perfume
delicado me atingiu com tudo. O mesmo aroma doce que deixou na minha
jaqueta. — Nunca voei e...
— Não sei como te ajudar — cortei o papo. Não queria ficar dando
trela para a marmita do meu pai. — Quer ouvir música? — ofereci. Pelo
menos assim não precisamos conversar.
— Quero. Posso escolher? Tem uma que me acalma...
— Pode escolher qualquer uma. Qual você quer?
— "Moon River". Da trilha sonora do filme Bonequinha de Luxo.
Sabe?
Dei uma risada baixa balançando a cabeça para os lados, incrédulo com
a previsibilidade da coisa. No filme, Audrey Hepburn era uma garota de
programa nova-iorquina que estava decidida a se casar com um milionário.
— Ok. "Moon River". — Estendi a mão com um dos fones.
— Obrigada. — Pegou o fone da minha mão, encaixando-o na orelha.
— Sabe por que eu gosto dessa música?
— Posso imaginar. — Não contive um sorriso debochado. — Mas me
conte o porquê.
— A minha mãe tinha uma caixinha de música linda, de madeira...
Quando a gente levantava a tampa, uma bailarina dançava a música em cima
de um espelho. Tinha um rio desenhado sob os seus pés e por dentro da
tampa uma lua. "Moon River". Mas, quando a minha mãe ficou doente, levou
alguns pertences para o hospital e... Nunca mais vi a caixinha.
— Legal — falei, não querendo admitir que mexeu comigo. Era só
falar em mãe, doença, que... — Vou dar o play, beleza?
— Tá bom. — Ela se remexeu na poltrona e, apoiando os pés descalços
no assento, abraçou os joelhos, fechando os olhos.
Aproveitei para olhar com mais atenção para o seu corpo tão próximo
ao meu. Não saberia dizer o que era mais magro nela. O braço ou o joelho.
Madah era puro osso.
A música começou a ressoar e ela passou a cantarolar junto, baixinho,
ainda de olhos fechados e...
Não sei que porra aconteceu.
Mas a verdade era que eu simplesmente não conseguia parar de olhar.
Moon river, wider than a mile
(Moon river, mais largo que uma milha)
De repente, Madah abriu os olhos e me flagrou a observando. Se eu
dissesse que não me impactou, estaria mentindo. Um choque elétrico me
percorreu com força, eriçando todos os pelos dos meus braços. Não desviei o
olhar e ela o sustentou, ainda cantarolando.
Oh, dream maker, you heart breaker
(Oh, criador de sonhos, seu destruidor de corações)
Tive que fazer um esforço surreal para não a puxar para cima de mim.
Por que Madah me causava esse efeito...? Que merda! Ela era uma prostituta!
Então, repentinamente, senti a vibração do motor sendo ligado e o
jatinho se movimentou devagar em direção à pista de decolagem.
Sobre as nossas cabeças foi aceso o aviso para desligar os eletrônicos.
Parei a música, já no final. Madah arregalou os olhos, abraçando com ainda
mais força os joelhos.
— É agora...? — balbuciou, tensa.
— Logo mais. Relaxa. — Olhei pela janela, vendo a pista livre. O
piloto passou a acelerar, aumentando a vibração, com o motor roncando alto.
E, do nada, ela agarrou a minha mão, com a sua palma fria e levemente
úmida. Virei o rosto para vê-la e notei que apertava os olhos com força, com
a respiração acelerada fazendo com que as suas narinas se inflassem
rapidamente. A garota estava quase em pânico.
Eu quis puxar a minha mão, mas não tive coragem. Fiquei imóvel,
sentindo um formigamento estranho que subia pelo meu braço e chegava à
minha nuca, arrepiando os meus cabelos curtos. Respirei fundo, com o meu
coração batendo rápido. Seria uma longa viagem.

Não sei quanto tempo se passou, porque cochilei. Acordei e, antes de


abrir os olhos, percebi que estava com a minha cabeça deitada no ombro dela.
Merda...
Minha bochecha estava encostada na sua pele quente e macia do
pescoço e, para foder de vez com o meu juízo, os seus dedos delicados
acariciavam suavemente os meus cabelos. Quis me afastar, mas não
consegui... Seus toques leves no meu couro cabeludo me arrepiavam de um
jeito absurdamente bom. Permaneci imóvel por mais dois ou três minutos,
fingindo ainda dormir e, por fim, me forcei a acabar com a proximidade.
Precisava me afastar dela.
— Acordou? — Madah perguntou baixinho depois que me sentei
direito, esticando as costas. — Está tudo bem?
— Por que não estaria? — Esfreguei os olhos, sem conseguir enxergar
direito na escuridão. — Eu não tenho medo de avião como você.
— De avião, eu não sei. Mas você sentiu medo de alguma coisa, ou
teve um pesadelo, ou sei lá. Só sei que estava dormindo, com o sono agitado,
se remexendo, falando coisas desconexas.
— Foi por isso a porra do cafuné?! — Apontei para a minha cabeça,
nervoso, a encarando.
Não queria acreditar que voltaria a sofrer com os pesadelos.
Era sempre assim... Um ou dois meses de trégua — no máximo — e
depois eles voltavam com tudo. Poderia apostar que, desta vez, os pesadelos
eram por culpa dela.
Madah, com o meu pai, trazia à tona os meus maiores medos do
passado.
— Foi — respondeu receosa diante do meu tom agressivo. — Você
relaxou depois que eu...
— Só não faça mais isso. Não toque em mim. Ok?! Caralho... Nunca te
ensinaram a não encostar em alguém que esteja dormindo? — despejei as
frases, desconcertado.
Meu corte a pegou de surpresa. Madah abriu bem os olhos e mordeu a
boca, provavelmente se segurando para não me xingar. Não a condenaria se o
fizesse. Ela havia me tratado bem o tempo todo e somente recebeu patada em
troca, gratuitamente.
— Olha... Não sei o que fiz para que você agisse assim, como um
babaca. Eu só quis te ajudar... Mas pode deixar, nunca mais vou tocar em
você. — Cruzou os braços finos sobre o peito, aborrecida.
— É bom mesmo. Tenho nojo de gente como você... — cuspi as
palavras sem olhar para ela. Quis magoá-la de propósito, para cortar de vez o
contato.
Precisava me afastar dela.
— Nojo?! Não é o que pareceu quando falou o meu nome durante o
sono — rebateu, com as bochechas pegando fogo.
O quê...?! Ela devia estar tirando uma onda com a minha cara. Eu
jamais chamaria o seu nome. Ou chamaria...?! Merda... Fiquei mudo e ela
sorriu convencida antes de voltar a falar.
— A não ser que seja algum fetiche... Sentir desejo por pessoas que
considera nojentas. Porque eu te escutei perfeitamente: "Me beija, Madah...
Porra... Fica aqui comigo." Davi Filipo, você é um garoto perturbado. Te
recomendo uma terapia. — Ela riu com deboche, se levantando. — Pensando
bem... Faça terapia ou não faça. Não me importo. Com licença. — Foi
embora, mudando de lugar.
Davi Filipo?! Quem me chamava pelo nome?! Levei as mãos aos
cabelos, nervoso, sem entender nada. Apenas uma certeza pulsava na minha
cabeça, me desestabilizando.
Aquela garota seria a minha perdição.
Capítulo 5

Você me provoca, depois vai embora


Você me enlouquece
Crazy | Aerosmith
Davi Filipo Sintori "Sin"

— Bom dia, Antônio! — Meu pai cumprimentou o mordomo assim que


pisamos em casa. — Esta é Madeleine. Ela ficará conosco pelas próximas
semanas.
— Prazer, senhorita.
— O prazer é meu — respondeu baixinho, com um sorriso tímido. Seus
lábios brilhavam com um batom clarinho, rosa, deixando-a ainda mais
feminina.
Fascinada, Madah correu os olhos ao redor, sem piscar. Suspirei fundo,
irritado. Previsível que se encantasse com a imponência da mansão Sintori...
O pé direito alto, os lustres de cristal, os tapetes persas, as esculturas caras.
Domenico não economizava com a decoração luxuosa, exatamente para isso.
Para impressionar.
— Onde estão Enrico e Luca? Por que não os vejo? — Meu pai esticou
o pescoço na direção da sala como se os procurasse. Depois puxou o celular
do bolso e, destravando a tela, passou a digitar nele.
— Ainda dormindo, senhor — explicou o mordomo. — Devo chamá-
los?
— Prefiro que leve as bagagens para os quartos. Sin, chame os seus
irmãos. Quero conversar com vocês três sobre Madah. Vou me trocar, tenho
um compromisso no almoço. Nos encontramos no escritório em dez minutos.
Ok? — perguntou, sem tirar os olhos do celular.
— Ok, Sugar Daddy — murmurei com a voz baixa, quase inaudível.
Apenas Madah me escutou, arregalando os olhos com uma expressão
indignada. Porra... Por que se fazer de ofendida, se era a vida que havia
escolhido? Balancei a cabeça e me dirigi para a escada, subindo os degraus
que levavam ao andar dos quartos.
Entrei primeiro no quarto de Enrico, o meu irmão do meio. Mesmo
sendo um pouco mais velho do que eu, era irritantemente bobo, inexperiente,
desligado. Com certeza, ainda era virgem. Eu só via o inútil se empolgar com
livros, nunca com garotas.
Com vinte anos, estava no começo da faculdade de Teatro, ou Artes, ou
Cinema. Alguma porcaria do gênero. Isolado e sem amigos, ficava o dia
inteiro perdido no seu mundinho de Bob.
Não sabia como o meu pai havia permitido que Enrico fizesse um curso
tão aleatório... Talvez fosse porque Luca já estudava Administração,
garantindo assim que pelo menos um de nós seguisse os seus passos na
empresa.
— Acorda, franguinho. — Peguei uma almofada na poltrona e
arremessei na sua cabeça. — O pai quer falar com a gente no escritório.
— Bom dia para você também, pirralho — resmungou e, se sentando,
passou a mão pelos cabelos castanhos bagunçados.
— Bom dia — respondi e segui para o quarto de Luca, o meu irmão
mais velho. Ele já estava com vinte e dois anos. Nossa mãe teve a gente com
o mesmo intervalo. Um ano e meio de diferença entre cada um.
— Hora de levantar, Bela Adormecida. — Me joguei do seu lado no
colchão. — Luquinha... Escuta a última do pai.
— Calma... — Espreguiçou, bocejando. — Espera eu acordar.
— Não temos tempo. Ele já quer conversar com a gente no escritório e
preciso te adiantar o assunto para preparar o terreno.
— Fala logo então... — Levantou devagar, levando as mãos ao rosto,
esfregando os olhos.
— Ele trouxe uma ninfeta para casa! Desta vez o Sugar Daddy passou
dos limites... Ela parece uma criança! Precisamos fazer alguma coisa.
— Sério? — Caminhou com os passos arrastados até o banheiro. —
Ninfeta? O velho é foda...
Enquanto ele escovava os dentes, cantarolei um trechinho de "Crazy",
do Aerosmith, distraído, com os olhos no mural de fotos em cima da
cabeceira da cama.
Sorrindo de canto, fixei o meu olhar em uma fotografia que tiramos no
último verão, no litoral. Pegamos muitas mulheres naquela viagem... Foi
animal.
Apesar de Luca ser três anos mais velho, sempre fomos bem parecidos.
A mesma altura, o mesmo azul nos olhos, o mesmo porte. As principais
diferenças estavam no cabelo, porque eu deixava o meu platinado, e nas
tatuagens, que eu tinha em maior número, fechando os braços.
— Vamos descer logo... Quero ver a cara da vagabunda mirim. —
Passou por mim e, abrindo a porta do quarto, enfiou uma camiseta pela
cabeça.
Encontramos Enrico no corredor e descemos os três juntos em silêncio.
Ao entrar no escritório, com meus irmãos logo atrás de mim, encontrei
Domenico em pé junto à escrivaninha, usando um terno claro. Madah se
encontrava sentada em uma poltrona perto dele, com as mãos apoiadas nos
joelhos magros, apreensiva. Percebi os olhares dos meus irmãos, analisando-a
da cabeça aos pés.
— Bom dia, meninos! — Domenico começou, com a sua voz grave,
autoritária. — Luca, Enrico... Esta é Madeleine. Podem a chamar de Madah.
É uma visitante que... Vai passar um tempo aqui com a gente. Duas ou três
semanas. Peço que a tratem com respeito e cordialidade durante a estadia.
Depois ele se virou para ela, falando em um tom de voz mais leve:
— Querida, temos quatro quartos de hóspedes à disposição, escolha o
que mais gostar.
A fala do meu pai me fez franzir a testa, intrigado. Eu pensava que os
dois dormiriam juntos, afinal, toda vez que trouxe uma garota para casa, era
assim que funcionava. Porém o "querida" não me passou despercebido. Ela
assentiu para ele, sorrindo discretamente. Domenico voltou a falar conosco:
— Como Madeleine não trouxe nada, precisam levá-la para comprar
itens de maior necessidade. Celular, roupas, sapatos...
— Você a pegou da rua? — Luca riu com deboche. — Ela não trouxe
nada para passar "um tempo" com a gente?
Mordi a bochecha para não rir. Caralho, Luquinha... Mandou bem.
— Luca, não seja indelicado. Que parte do "tratar com respeito e
cordialidade" você não entendeu? Peça desculpas a ela! — Meu pai o
repreendeu, firme.
— Foi mal. Apenas perguntei por curiosidade... — Deu de ombros,
segurando a risada.
Meu pai suspirou e se virou para pegar o celular em cima da
escrivaninha. Aproveitei para dar um soquinho no meu irmão, rindo. "Boa!",
sussurrei, animado.
— Continuando — Domenico tornou a falar. — Quem irá levar Madah
ao shopping ainda hoje? Ela precisa de roupas para o final de semana.
Um silêncio pesado se instalou no ambiente, crepitando entre nós.
— Posso ir sozinha de táxi — murmurou Madah, insegura.
— Não. — Domenico balançou a cabeça em negativa, incisivo. —
Meninos, andem logo. Quero um voluntário. Ela não conhece a cidade, um de
vocês precisa acompanhá-la. — Colocou as mãos nos bolsos, nos encarando,
um a um.
— Você que inventou de trazê-la para cá. Por que não leva a sua
"querida"? — provoquei, com o olhar desafiador, cruzando os braços
tatuados sobre o peito.
Meu pai pegava leve comigo por conta de toda aquela merda do
passado e por isso eu abusava mesmo. Foda-se.
Pelo canto dos olhos, vi que Luca esboçou um sorriso sutil, aprovando
a minha atitude.
— Porque alguém tem que trabalhar nessa casa! — Meu pai levantou a
voz, abrindo os braços, agitado. Totalmente fora da caixinha. — Para bancar
as regalias de vocês, moleques mimados ingratos, que não podem fazer um
único favor que lhes peço! Che cavolo...
Cerrei os dentes, enlouquecendo de ódio em ver que em tão pouco
tempo a garota já havia bagunçado a dinâmica da nossa família, fazendo com
que Domenico, normalmente tranquilo e paciente, se voltasse contra a gente.
— É que eu e Sin temos ensaio da banda... — Luca mentiu, mudando o
peso de um pé para o outro. — Eu adoraria acompanhar a querida
Madeleine, mas infelizmente hoje não dá. Aliás, preciso me trocar para sair.
Tchau. — Acenou com dois dedos tocando a testa e se foi.
— Tá bom. Eu posso! — Enrico ofereceu com um ar cansado,
suspirando. — Vamos em quantos minutos, Madah? Quinze?
— Obrigada. Pode ser.
— Certo. Assunto encerrado. Obrigado, filho. Mas antes de pegar o
carro, espere que ela escolha o quarto em que irá ficar. Assim já peço para a
governança deixar tudo arrumado.
— Ok. Não tenho pressa. — Enrico passou a mão pela nuca e se virou
para ela antes de deixar o escritório. — Vou te esperar lá em cima, no meu
quarto. A segunda porta à direita — avisou e, caminhando daquele seu jeito
mole, saiu do recinto.
— Aposto que já vai ler no quarto... É só o que ele faz. Bom passeio,
Madah. Enrico é muito legal. — Pisquei para ela, sorrindo com sarcasmo,
também me dirigindo para a porta do escritório. — Tchau para vocês.
Assim que deixei o ambiente, ouvi a voz do meu pai e,
disfarçadamente, fiquei parado no corredor para escutar o que ele iria falar.
— Madah. Vamos ao andar de cima, rápido. Tenho cinco minutos antes
de partir para o meu compromisso. Sugiro que escolha o último quarto. É o
mais distante dos meninos, assim eles incomodarão menos.
— Se é assim, já escolhi. Quero o último quarto. Seus filhos me
odeiam... — Ela comentou, me fazendo prender o ar na expectativa do que
mais falaria.
— Enrico não — Domenico apontou, com a voz tranquila.
— Tá. Dois terços dos seus filhos me odeiam. Sin e Luca me
estrangulariam se pudessem. — Ela riu baixo, sem ânimo.
— Não ligue para eles, Madah. Sua estadia aqui será rápida, conforme
acertamos. Vamos?
Percebendo que eles sairiam do escritório, rapidamente me afastei para
que não percebessem que eu os ouvia no corredor.
Apertei os olhos, sem saber bem o que pensar quanto à presença da
ninfeta entre nós. Era nítido que Madah dividia a família Sintori, gerando
estresse, desentendimento, caos.
Luca estava comigo, como sempre. A interesseira que não se crescesse
para cima da gente. Já Enrico provavelmente seria neutro. Ele nunca ia na
nossa onda. Por sua vez, Domenico iria defendê-la com unhas e dentes.
Sua Sugar Baby "querida". Foda... Eu iria enlouquecer.
Capítulo 6

Olhe nos meu olhos


É onde meus demônios se escondem
Não se aproxime muito
É escuro aqui dentro
Demons | Imagine Dragons

Davi Filipo Sintori "Sin"

Não vi mais Madah pelo restante do dia. Ela saiu com Enrico, eu fui
para o estúdio com Luca, mais para passar o tempo do que para ensaiar. À
noite, meu irmão foi para a faculdade e eu voltei para casa. Dormi cedo,
exausto. Estava com o sono atrasado por conta da viagem.
O dia seguinte era sábado. Apesar de ser inverno, o sol estava forte e
por isso vesti uma bermuda fui para a piscina, encontrando o meu pai e os
meus irmãos já por lá. Me perguntei onde estaria Madah, mas não questionei
ninguém a respeito.
Eu estava mexendo no celular quando percebi a sua presença, me
deixando em alerta. Levantei a cabeça e enxerguei a menina chegando ao
deck de madeira, com os olhos em mim, me analisando. Ela os desviou
rapidamente quando se deu conta de que a flagrei. Não contive um sorriso
presunçoso.
Com uma saída de praia leve cobrindo seu corpo magro, pude ver que
seu biquíni era preto, em um modelo comum. Seus cabelos claros estavam
presos em um rabo-de-cavalo alto, deixando exposto o seu pescoço esguio.
Suspirei fundo e quase pude sentir o seu perfume suave e delicioso que tive o
desprazer de conhecer na viagem.
A passos hesitantes, ela se aproximou do meu pai que tomava sol e se
sentou ao lado dele, em outra espreguiçadeira, sob os olhares atentos dos
meus irmãos. Enrico estava dentro da água e Luca sob o chuveiro, tomando
uma ducha. Nós três ficamos de olho nela, sem piscar. Madah não percebia
que não era bem-vinda?
— Madah? É você? — A voz de Domenico chamou a minha atenção.
Ele estava com o rosto de lado, apertando os olhos, cego por causa do sol.
— Sim. Cheguei.
— Pode passar protetor nas minhas costas? — pediu, me enervando.
Trinquei o maxilar, desconfortável por ser obrigado a testemunhar, mais uma
vez, a troca de toques e carícias entre eles. Porra...
— Posso. — Ela pegou o pote sobre a mesinha, lambuzou as mãos com
o creme e passou a espalhá-lo pelas costas dele, sem pressa.
Irritado, decidi tomar uma atitude, mas... Qual?
De repente, sorri com a ideia que se formou na minha cabeça. Ainda
com o celular em mãos, me aproximei deles e, disfarçadamente, bati uma
foto. Depois me sentei em uma espreguiçadeira e postei a foto nos meus
stories, com uma frase perfeita para causar o caos que eu queria. Olhei as
horas e me perguntei em quantos minutos o show começaria. Seria animal...
Nem meia hora depois, eu estava dentro da água com Luca quando
escutei o barulho de saltos enfurecidos batendo contra o piso do deck da
piscina. Bingo.
— Domenico Sintori! Eu te mato! — Bárbara apareceu como um
furacão, correndo o olhar de Domenico a Madah, ida e volta. Seus cabelos
loiros balançavam de um lado para o outro, ondulando no ritmo dos seus
passos irritados.
— Babi! Che cavolo... Me assustou. — Meu pai se sentou em um pulo,
confuso.
— Que palhaçada é essa de... Como diz a frase de Sin... "Sugar
Daddy em ação"?! — Ela balançou o celular no ar freneticamente, fora de si,
me fazendo rir. — Quem é essa garota?! — Apontou para a espreguiçadeira
ao lado de Domenico.
Madah estava sentada, com uma expressão perdida no rosto,
apreensiva, apertando as duas mãos juntas.
A casa caiu? Foda-se.
Não contive um sorriso ao observar o seu nervosismo.
— Babi... Vamos lá dentro conversar. Não é nada disso. Sin estava
brincando ao escrever aquilo... — Domenico tentou explicar, me fuzilando
com os olhos. Sonso.
Então se levantou, caminhando na direção da casa e Bárbara o seguiu,
pisando duro. Minutos depois, voltaram. Domenico estava vestido, de banho
tomado.
— Crianças. Resolvi levar Bárbara para passar o final de semana na
nossa casa de praia. Comportem-se. Até segunda. — E simplesmente se
virou, indo embora.
Bárbara agarrou o seu braço possessivamente, sorrindo para Madah
com uma aura vitoriosa. Desapareceram dentro da casa, nem ninguém falar
mais nada.
— Festinha! — Luca quebrou o silêncio, enganchando um braço no
meu pescoço. — Bora?
— Bora... — Saí da piscina, me enxugando.
Peguei o celular sobre a mesinha e digitei a mensagem: "Casa liberada.
Trazer bebida. Oito da noite. Sin."
— Já avisou o pessoal da escola? — Meu irmão mexeu no seu celular
depois de se enxugar. — Estou vendo aqui a mensagem no grupo da banda,
vou repassar para a turma da minha faculdade. Pediu para os Fontini
chegarem mais cedo?
— Pede você... Faz um vento. — Joguei a toalha úmida na sua cara,
mas ele foi ligeiro e pegou a peça no ar com a mão livre.
Era sempre assim. Toda vez que Domenico viajava, eu e Luca
organizávamos festinhas em casa, com a ajuda de Marco e Paolo, os filhos do
tio Giuliano. E, modéstia à parte, as nossas festas eram as melhores.
Não via a hora de encher a cara e pegar alguma garota. Qualquer
garota, para acalmar os meus hormônios descontrolados e voltar a pensar
racionalmente, mais tranquilo. Se por fora eu conseguia disfarçar, brincar e
manter o sorriso no rosto, a verdade era que por dentro eu estava
absurdamente incomodado com aquela nova presença na minha casa, com a
escuridão do passado e seus demônios ameaçando me engolir mais uma vez.
Madah estava fodendo com a minha sanidade. Precisava me manter
longe dela.

Por volta das sete horas, eu já estava pronto. Desci as escadas e


encontrei Marco largado em uma poltrona do hall, com as mãos atrás da
nuca. Seus cabelos escuros estavam propositalmente bagunçados, modelados
com alguma pomada. Vaidoso para caralho.
— Sinta-se em casa. — Dei risada, me aproximando. — Tatuagem
nova? — Apontei para o seu antebraço, onde havia uma rosa vermelha se
destacando entre os outros desenhos.
— Estou quase fechando os braços como você... — Ficou em pé,
esticando os braços, exibindo as tatuagens.
— Animal. E o que faz aqui sozinho?
— Esperando Luca descer, acabou de subir para tomar banho. —
Enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans, tranquilo.
— Entendi. Vamos até a cozinha... — Comecei a andar. Ele veio atrás.
— Para quê? Queimar a largada?
— Já quer beber? Beleza. Mas te chamei porque quero checar a
quantidade de gelo. Cadê o seu irmão? — perguntei, empurrando a porta da
cozinha.
— Paolo vem mais tarde... — respondeu, se sentando junto ao balcão.
— Tinha um ensaio de teatro.
Assenti e, rapidamente, conferi se havia bastante gelo. Peguei duas
cervejas no freezer e começamos a beber. Papo vai, papo vem, Luca apareceu
e abriu uma latinha para ele também. Até que, do nada, Madah surgiu na
porta da cozinha.
Merda...
Ela hesitou quando nos viu, entreabrindo os lábios, sem sorrir. A sem
noção tinha os cabelos molhados e vestia um pijaminha rosa de algodão,
quase transparente. Eram duas peças, sendo um short curtinho e uma blusinha
de mangas.
— A festa já vai começar, caralho, vai se trocar — rosnei, me
esforçando para não descer os olhos pelo seu corpo. Não deu certo. Sem
sutiã, seus mamilos pontudos eram perceptíveis sob o tecido do pijama,
atraindo o meu olhar com violência. — E vê se bota um sutiã.
Com o rosto pegando fogo, ela passou pela gente a passos decididos,
abrindo o armário sobre o forno. Ficou na ponta dos pés para alcançar a
prateleira e, ao meu lado, enxerguei Luca e Marco secando a bunda dela.
Punheteiros.
— Para a sua informação, Davi Filipo... Eu uso sutiã se quiser, o corpo
é meu. E não vou participar da festa nenhuma. Não estou a fim, tá? — A
diaba provocou, me encarando com um olhar desafiador. Depois colocou um
pacote de pipoca de micro-ondas, me dando as costas. Antes que eu pudesse
pensar em uma resposta, meu irmão tomou a iniciativa.
— E o que vai fazer em pleno sábado à noite, sem Domenico? — Luca
perguntou, com os antebraços apoiados no balcão, relaxado.
— Não que seja da sua conta, mas... Combinei de ver Netflix com o
Rico — respondeu a ele, ainda de costas, com indiferença.
"Rico". Bufei incrédulo com o apelido que denotava intimidade. Não
podia acreditar que Madah iria tentar colocar as garras no meu irmão
fracotinho, para se garantir depois que o meu pai enjoasse dela. Oportunista.
De qualquer forma... Azar o dela focar nele, porque eu tinha certeza de
que Enrico não curtia garotas.
— Essa que é a nova "aquisição" do tio Domenico? — Marco quis
saber, cutucando Luca com o cotovelo, sussurrando propositalmente alto.
Pelo jeito já tinham conversado a respeito dela.
— É sim, Marco. Madah... — Meu irmão respondeu, sorrindo com
malícia. — Aposto que está mal-humorada porque o Sugar Daddy foi viajar
com a namorada oficial, deixando o brinquedinho novo largado em casa.
Nós três nos divertimos com o comentário escroto, soltando risadas
altas. Madah enrijeceu a postura, porém não abriu a boca. Os próximos
segundos de silêncio se arrastaram, até que o micro-ondas apitou, fazendo-a
se sobressaltar. Em um movimento rápido, pegou o saco de pipoca
apressadamente e desapareceu da cozinha. Pelo jeito não teve coragem de nos
enfrentar. Se bem que três contra uma seria sacanagem.
Capítulo 7

Descendo, é hora da festa


Meus amigos também vão estar lá
Estou na estrada para o inferno
Highway to Hell | AC/DC

Davi Filipo Sintori "Sin"

A festinha estava bombando há mais de uma hora. A música alta e a


iluminação colorida deixavam a sala com jeito de balada, com dezenas de
pessoas se espremendo na pista improvisada entre os sofás.
Eu já tinha tomado mais doses de vodca do que podia contar e, mesmo
assim, não me via relaxado. Porra...
Meu pensamento traiçoeiro vivia voltando para a magrela, me
enervando. Madah estaria ainda no andar de cima com o meu irmão? A ideia
de que descesse para a festa me deixava agitado, nervoso. Os caras mais
bêbados do que gambás adoravam uma carne nova.
Ao terminar mais um copo de bebida, me arrastei até a cozinha, com os
passos instáveis, moles. Me aproximei do balcão, pegando a garrafa de vodca
entre a bagunça de copos e garrafas vazias e me servi de mais uma dose.
De repente, uma garota colou do meu lado, apoiando os peitos sobre o
balcão, atraindo os meus olhos.
— E aí, Sin. Lembra de mim? Denise. Tudo bem? — Sorriu com
malícia, esbanjando segundas intenções. Vi vantagem.
— De boa... — falei, me animando. Era disso que eu precisava. —
Quer conhecer o meu quarto?
— Quero — respondeu sem cerimônia, ampliando o sorriso.
Porém, antes que eu pudesse a puxar comigo, vi um rosto deslocado
pela cozinha. Enrico. Ele parecia confuso em meio à bagunça e,
desajeitadamente, passou a escolher uma bebida na geladeira.
Merda... Se o meu irmão estava circulando pela festa, aquilo
significava que...
— Um minuto, Denise.
Deixei a cozinha em um pulo, subindo os degraus de dois em dois. As
perguntas giravam como um carrossel na minha mente embriagada. As
palavras "Madah", "sozinha", "quanto tempo" se misturavam e,
inexplicavelmente, o medo de que ela estivesse com alguém no quarto fazia o
meu estômago se revirar.
Enjoado, me vi em frente à sua porta que estava um palmo aberta.
Coloquei a cabeça no vão e, em silêncio, me perdi com a movimentação que
acontecia lá dentro.
Somente com a luz de um abajur iluminando o ambiente, Madah
calmamente retirava o sutiã branco por dentro do vestido pink de alcinhas,
soltando o fecho de trás e descendo uma alça de cada vez, escorregando-as
pelos braços finos. Invadi o quarto sem pensar duas vezes.
— O que você pensa que está fazendo?! — Esbravejei, com o coração
acelerado, correndo os olhos pelo recinto, não enxergando mais ninguém.
Em silêncio, ela me deu as costas e jogou o sutiã na cama vazia.
Depois, displicentemente apoiou os cotovelos na cômoda, me olhando com
desdém. A luz da televisão ainda ligada deixava o ambiente todo cor-de-rosa.
— Ah... — Ela sorriu com deboche. — Estou me preparando, porque...
Meu crush precisou sair rapidinho, mas já deve estar voltando. Para eu
cavalgar no pau dele até dizer chega.
Caralho... Voei para cima, agarrando o seu pulso fino. Minha
respiração estava tão alterada que eu mal conseguia respirar.
— Me larga — murmurou, com os olhos fixos nos meus, a centímetros
de distância. — Qual é o seu problema?
— Você é o meu problema! E sabe o que faço com os meus problemas?
Eu os elimino.
— Ui, que medo... — Ela sacudiu o corpo, como se estivesse tremendo.
Riu, mas logo depois ficou séria. — Se pensa que o joguinho que faz me
assusta... Você não imagina o inferno onde eu vivia. Lidar com um garoto
mimado metido a bad boy não é nada. Agora saia daqui.
Madah mexeu o pulso para tentar se soltar de mim, mas eu escorreguei
o toque pela sua mão, entrelaçando os nossos dedos. Com a minha mão livre,
segurei o seu pescoço, sentindo sob a minha palma a pulsação descontrolada
da sua carótida. Abri um sorriso lento ao confirmar o efeito que causava nela.
— É mesmo o que você quer? Que eu saia? — perguntei, com o
coração na garganta, a olhando nos olhos.
Nossas respirações fortes e quentes se misturavam, acelerando ainda
mais o meu coração. Desci o meu olhar para os seus lábios entreabertos e os
vi se mexerem para que pudesse me responder.
— É, quero que saia. Já disse... Estou esperando alguém.
Meu sangue ferveu ao imaginá-la com outro cara. Racionalmente,
suspeitava que havia respondido aquilo apenas para me provocar, ainda assim
não conseguia conter a onda de ódio que me consumia, me cegando.
— Madah, desculpe te fazer esperar tanto, mas... — A voz de Enrico
irrompeu no ambiente. Paralisado, meu irmão ficou mudo ao nos flagrar ali,
nitidamente sem graça. Tirei as minhas mãos dela, rapidamente, como se
tivesse levado um choque.
— Porra... — Dei risada, aliviado. Ele não representava ameaça
alguma. — Era só o Enrico?!
— Eu sei. Mas não podia perder a oportunidade de te provocar. É muito
legal. — Esboçou um sorriso debochado que me deu nos nervos.
— Me provocar?! Com isso?! — Apontei para o seu corpo,
desdenhando. — Está maluca... Gosto de mulher com corpo de mulher.
— "Mulher com corpo de mulher", que idiotice... — Ela não se abalou
e sorriu novamente antes de se aproximar do meu ouvido. — Admita que
morreu de ciúmes, Sin. Admita que me deseja. E, se admitir, quem sabe eu
não possa cavalgar no seu pau.
A diaba sussurrou com os lábios roçando na minha orelha, enfiando os
dedos nos cabelos curtos da minha nuca, me arrepiando. Cacete... Uma onda
de tesão me percorreu com tudo, descendo pela coluna até a minha ereção.
— Você só pode estar delirando... — Recuei, saindo do quarto quase
correndo. Precisava me afastar dela.
Desci os degraus e, tremendo, segui até a cozinha para beber mais.
Merda... Ela queria me enlouquecer.
Virei duas doses de vodca, sem conseguir tirar da cabeça as suas
palavras sussurradas. Ainda sentia o seu hálito quente na minha orelha, a sua
pele macia na minha mão, o seu perfume suave nas minhas narinas. Nervoso,
circulei pela festa, tentando me distrair. Sem sucesso.
Em um rompante, apertei os olhos e...
Foda-se. Para o inferno o pacto de não compartilhar mulher com
Domenico. Meu pai não estava aqui, e não estava preocupado. Deveria estar
enrabando Bárbara, feliz e contente, enquanto eu morria aqui por causa da
ninfeta dos infernos.
Subi os degraus, decidido. Repeti mentalmente o chavão: "A melhor
maneira de se livrar de uma tentação é ceder a ela".
Eu iria ceder à tentação que era Madah, de uma vez por todas. Uma
única trepada para apagar o fogo que me torturava.
Sem pensar duas vezes, caminhei apressadamente até o final do
corredor, empurrando a porta do seu quarto. Respirei fundo e tomei coragem
para abrir o jogo.
— Madah. Você venceu. Eu admito que... — Paralisei com a cena de
merda que se desenrolava à minha frente.
O viado do Enrico e a ninfeta se beijavam em cima da cama como se
fossem os namorados mais apaixonados da porra do mundo. Puta que pariu...
Capítulo 8

Se você me ouvir agora


Deixe as desculpas de lado
Você nem sempre tem razão, não
Hear Me Now | Alok
HORAS ATRÁS

Madeleine Laurent "Madah"

Ainda no deck da piscina, assim que Domenico e Bárbara se foram, Sin


e Luca começaram a se ocupar com os preparativos para a festa, me deixando
apreensiva. Eu não estava nada animada para a noite. Pelo contrário. Os
amigos deles deviam ser tudo do mesmo naipe... Garotos mimados e idiotas.
Deitada na espreguiçadeira, suspirei fundo, apertando os olhos. "Aqui é
melhor do que o Uruguai. Aqui é melhor do que o Uruguai", repeti
mentalmente como um mantra, mil vezes.
— Madah. Você está bem? — A voz de Enrico chegou aos meus
ouvidos e abri os olhos para vê-lo.
Estava deitado na espreguiçadeira ao meu lado, pingando com a água
da piscina. Não pude deixar de reparar que tinha o corpo esbelto, definido.
Bonito, porém não chegava nem perto da perfeição do físico dos irmãos. Os
outros dois certamente se dedicavam muito mais a academia e esportes.
— Sim, estou bem. Só não me sinto animada para a festinha. — Me
sentei e refiz o meu rabo-de-cavalo, incomodada com os fios bagunçados por
causa do vento.
— Eu não costumo participar das festas dos meus irmãos... — Ele se
sentou também e deu de ombros. — Podemos passar a noite vendo séries
Netflix no andar de cima, se você quiser.
— Quero. Obrigada, Rico.
— De nada. Mais tarde a gente se vê. — Sorriu e se levantou, se
afastando daquele seu jeito tranquilo. Senti um quentinho no coração,
contente com a nossa aproximação.
Ontem, quando me levou para as compras, eu não sabia bem o que
esperar dele. Trocamos poucas palavras no trajeto da casa ao shopping. Ele
parecia ser tímido, introvertido, discreto. Bem diferente dos irmãos.
— Madah... — Enrico quebrou o silêncio em um dado momento,
dirigindo sem tirar os olhos da rua. — Posso te fazer uma pergunta? O que os
meus irmãos sabem que eu não sei, para te tratarem mal daquele jeito?
— Acho que eles pensam mal de mim... Por ter vindo para cá com
Domenico. Sin já lançou várias indiretas, como se eu fosse uma vagabunda,
brinquedinho de Sugar Daddy. Não te falaram?
— Eles nunca me falam nada. Fingem que eu não existo. — Sorriu sem
graça, com os olhos no trânsito.
— Sinto muito.
— Não ligo. Já estou acostumado. É que os dois são bem parecidos e...
Eu sou como o patinho feio.
— Bom, feio você não é. Pelo contrário... — falei, tentando animá-lo.
— Obrigado. Mas não digo nem da aparência... É da personalidade
mesmo. Não me encaixo na família.
— Ninguém é igual a ninguém, e tudo bem — repeti o que minha mãe
sempre falava quando eu me lamentava por ser magra demais. — Não é legal
se colocar para baixo assim. Veja o lado bom... Você mora em uma casa
linda, tem um pai presente... É uma vida privilegiada.
— Madah. Você não se parece com as outras garotas que meu pai já
pegou. — Ele sorriu, fazendo uma curva em uma larga avenida.
— Seu pai não está me pegando. É que... — pensei em como explicaria
a minha presença na casa e não soube o que falar. — É complicado.
Apertei os olhos, com as imagens da conversa na van me vindo à
mente. Domenico havia sido firme em me pedir sigilo e, depois de tudo o que
estava fazendo para me ajudar, eu não queria o decepcionar.
— Madah. Vou aproveitar que Sin está lá no fundo escutando música
para conversar com você. É um assunto sigiloso... — Domenico sussurrou,
colocando o meu cabelo por trás da orelha para falar bem perto de mim.
Eu podia sentir o seu hálito na minha orelha, me deixando
desconfortável. Apenas assenti, com o coração acelerado em nervosismo. A
van sacolejava pelas ruas, revirando o meu estômago.
— Como lhe disse na sala de massagem, eu era amigo da sua mãe.
Quase vinte anos atrás, Heloise trabalhava na minha empresa, a Modernità
Tech. Uma excelente assistente pessoal. Inteligente, competente, lidava
diretamente com o quadro de diretores do mais alto escalão. Até que, um dia,
ela me procurou assustada, pedindo ajuda porque... — Suspirou, como se
tomasse coragem para as próximas palavras. — Estava grávida e o pai do
bebê exigia que o abortasse.
— Grávida? De mim? E meu pai queria que ela me abortasse? —
perguntei em um sussurro, atordoada com os meus batimentos mais
acelerados a cada minuto.
— Exato. Sinto muito. E, naquela conversa, Heloise não quis me
revelar a identidade dele. Disse que era um homem poderoso e,
principalmente, perigoso. Queria ir embora, com medo do que ele poderia
fazer contra ela ou a criança.
— Foi por isso ela se mudou para o Uruguai...
— Foi. Eu a ajudei a sair do país e, depois, mantivemos algum contato.
Heloise chegou a voltar de carro para o sul do Brasil, para você nascer.
Parece que tinha parentes por lá... Mas logo depois retornou ao Uruguai. Eu
telefonava a ela de tempos em tempos, duas a três vezes por ano. Fiquei
satisfeito em saber que, cinco anos atrás, ela conseguiu o importante cargo
de Concierge do Punta Estelar e que, desde então, vocês duas passaram a
morar no hotel, nas dependências de funcionários, com mais conforto.
— Eu me lembro da nossa mudança para o hotel... Eu tinha onze anos.
Gostei bastante — comentei e ele sorriu, atencioso.
— Prosseguindo. Tudo seguia bem até que, dias atrás, em um último
telefonema, o hotel me informou que ela estava hospitalizada há meses, em
Montevidéu. E, em contato com o hospital, descobri que havia falecido.
Consegui a cópia da certidão de óbito, cuja data é de fevereiro, quase seis
meses atrás. Já mostrei o documento a você, na sala de massagem.
— Uhum. Isso é revoltante... Ninguém me contou da morte dela,
Domenico. Hector, um dos gerentes do Punta Estelar, me fez deixar os
estudos para trabalhar como massagista. Em um primeiro momento, recusei,
mas ele foi bem convincente. "Se realmente quer que sua mãe fique boa,
precisa trabalhar como massagista para pagar o melhor tratamento médico".
Por isso, nos últimos meses, fiz as massagens no andar VIP, que na maioria
das vezes não eram "apenas" massagens.
Omiti os detalhes de Domenico, porque era constrangedor demais... De
qualquer forma, ele já deveria saber. O valor da massagem era dobrado se o
cliente quisesse que eu o masturbasse, ou triplicado se preferisse que eu lhe
fizesse sexo oral. As primeiras vezes foram péssimas. Eram velhos
asquerosos... Eu não tinha experiência alguma, ficava nervosa, morria de
nojo, me sentia imunda, chorava por horas depois. Aos poucos, infelizmente,
me acostumei, "desligando" a mente durante a prática.
— Eu sei, eu sei... — Balançou a cabeça, sério. — Estranhando a
história do hotel que me escondeu a informação do falecimento dela,
coloquei um investigador particular para checar os fatos e descobri que você
estava sendo enganada. Trabalhando como massagista para supostamente
pagar o tratamento da sua mãe, sendo que ela já estava morta. Já no dia
seguinte deixei São Paulo para vir lhe buscar. Minha consideração por
Heloise não me permitiria deixar sua única filha nestas condições
problemáticas. E, se quiser provas da minha história...
Domenico abriu a sua maleta, apoiando-a no colo e, de dentro dela,
pegou um envelope. Havia duas fotos da minha mãe, bem mais jovem, junto
com os funcionários da empresa dele, todos uniformizados. Havia, ainda,
quatro cartões postais de pontos turísticos do Uruguai que Heloise enviou a
ele ao longo dos anos.
Meu coração disparou ao enxergar as fotografias e, emocionada,
percebi as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto. Domenico
carinhosamente as limpou com o polegar e deitei a cabeça no seu ombro.
Permiti que me consolasse, sentindo que não havia qualquer conotação
sexual na sua aproximação.
— Sinto tantas saudades dela... — murmurei enquanto ele acariciava
os meus cabelos. — Dela, e de quem eu era quando ela era viva. Sabe,
Domenico... Eu era feliz! Estudava e... Hector ainda não tinha me feito
trabalhar como massagista, fazendo aquelas coisas horríveis e...
— Não chore, criança. — Ele me puxou para um abraço. — Você está
segura agora. Vou cuidar de você até localizarmos os parentes de Heloise.
Seus parentes. Em duas ou três semanas, meu investigador irá apresentar os
resultados das buscas. E, encarecidamente, peço que não comente sobre isso
com ninguém. Primeiro quero descobrir quem é o seu pai e se ainda
representa alguma ameaça à sua integridade.
Apenas assenti em resposta, sem saber o que mais falar. De repente,
senti um leve tranco.
— Estamos no aeroporto — O motorista avisou, estacionando. O
guarda-costas desceu primeiro, abrindo a porta para a gente, deslizando-a
pela lateral da van.
E, antes que eu pensasse em me mover, Sin passou por nós como uma
flecha, me fuzilando com os seus olhos azuis, em fúria. Seu maxilar estava
travado com força. Domenico, ainda me abraçando, enrijeceu o corpo ao ver
o olhar agressivo do filho. Naquele momento, eu soube... Sin havia
interpretado tudo errado.
— Tudo bem. Não faz diferença. Se estiver ou não envolvida com meu
pai... Não vou te julgar, de qualquer forma — Enrico falou, tranquilo, me
trazendo de volta à realidade. Murmurei um "obrigada" em resposta.
Nas próximas horas, ele me obrigou a comprar tudo o que experimentei
e serviu. Enrico se mostrou uma companhia agradável e leve, me deixando
animada com a ideia de ter feito um amigo.
Engraçado que quis me ajudar no trocador mais de uma vez e, em
momento algum, me olhou com interesse. Nem mesmo quando provei os
biquínis...
Eu sabia que era magra demais, mas o normal seria que um garoto da
sua idade, cheio de hormônios, me olhasse com alguma malícia. De qualquer
forma, era melhor assim. Precisava de um amigo e não de um crush. Minha
vida já estava complicada demais.
No dia seguinte, acordei morta de fome. Ao chegar à cozinha, encontrei
Enrico e Domenico. Usando apenas uma sunga branca, o homem preparava
um café espresso, cantarolando alguma música italiana alegremente. Incrível
que, embora fosse o mais velho, era o mais tatuado de todos.
— Bom dia para vocês — falei, me sentando junto ao balcão.
— Bom dia! Como foram ontem de shopping? — Domenico perguntou
animado.
— Bem. Obrigada, mais uma vez. A vocês dois. Enrico me ajudou
bastante... — Apontei para o garoto do outro lado do balcão, sorrindo.
— Boa, Rico. — Deu um tapa no ombro do filho e foi se afastando. —
Se troquem, vamos aproveitar o sábado de sol na piscina. Apesar do vento
frio, a água está quente.
Depois de tomar café batendo papo com Enrico, subi para me trocar,
colocando um biquíni preto novinho, com uma saída de banho por cima.
Deixei o quarto e me dirigi ao andar de baixo, insegura, me
perguntando quem eu encontraria na piscina. Assim que pisei no deck de
madeira, a primeira pessoa que vi foi ele.
Mexendo no celular, Sin vestia apenas uma bermuda de piscina laranja.
Seu sorriso descontraído para o aparelho fez o meu coração pular uma batida
e, impactada, me segurei para não descer com os olhos pelas suas tatuagens
dos braços.
Provavelmente deixei escapar um suspiro, porque ele levantou os olhos
da tela e me encarou, fechando o semblante no mesmo segundo. Idiota.
Espiando ao redor, enxerguei Domenico se bronzeando de bruços em
uma espreguiçadeira, Enrico dentro da água e Luca sob o chuveiro, usando
apenas uma sunga.
A visão do seu corpo molhado era impressionante. O abdômen com os
músculos definidos, o peitoral e os braços tatuados, a pele bronzeada, os
cabelos escuros molhados... Luca era perfeito, um deus grego. No entanto,
por mais que fosse parecido com o irmão caçula, não me impactava como ele.
Não chegava nem perto...
Instantes depois, eu estava passando protetor solar em Domenico, nas
suas costas cobertas de tatuagens. Ele tinha um corpo ótimo, inacreditável
para um homem da sua idade... Porém, não me atraía em nada. Talvez porque
eu já tivesse tido a minha cota de velhos.
De repente, percebi alguém se aproximar por trás de mim. Me virei a
tempo de ver Sin com o celular na mão, olhando na nossa direção, sério.
Inspirando fundo, terminei de passar o protetor em Domenico, limpei as mãos
e me acomodei na espreguiçadeira ao lado, percebendo ainda o olhar de Sin
sobre mim, com intensidade. De qualquer forma, preferi fechar os olhos. Ele
me desconcertava demais e eu só queria tentar relaxar à beira da piscina, em
paz, aproveitando o luxo daquela casa maravilhosa.
Nem meia hora depois, minha tranquilidade acabou.
A namorada de Domenico apareceu, brigou com ele por causa de uma
foto que o cretino do Sin havia postado e, logo depois, o casal decidiu viajar,
me deixando sozinha na casa com os garotos. Nervosa, me perguntei como
iria ficar aqui até segunda, sem Domenico para me resguardar. Por sorte,
podia contar com Enrico.
No final do dia, tomei um bom banho. O chuveiro nessa casa era
maravilhoso... Mil vezes melhor do que o que tinha nas dependências de
funcionários do hotel, com suas duas únicas temperaturas de água: fria
congelante ou quente escaldante.
Depois de me enxugar, coloquei um pijama, penteei os cabelos e deixei
o quarto. Bati no de Enrico, que abriu a porta vestindo uma camiseta branca
simples e uma bermuda de moletom.
— Oi. A gente vai ver Netflix aqui ou no meu quarto?
— Melhor no seu. Estou reorganizando os meus livros... — Mostrou
atrás de si as pilhas pelo chão. — Está uma bagunça.
— Tudo bem. Tem pipoca nessa casa? — A folgada perguntou. — Sem
querer abusar... — Emendei, fazendo-o rir.
— Tem, sim. Na cozinha, no armário, em cima do forno. Quer que eu
pegue?
— Pode deixar. Vou até lá rapidinho antes que a festa comece — falei,
já me afastando.
— Ok. Te encontro no seu quarto em dez minutos.
Desci a escada tranquilamente, feliz até. Era bom estar aqui e não no
Uruguai. De sábado à noite, a balada VIP ficava lotada e eu chegava a
atender até cinco clientes na sequência. Meu estômago se retorceu quando me
lembrei daqueles velhos nojentos gemendo de prazer e... Sim, era bom estar
aqui.
Cheguei à cozinha, distraída, paralisando quando três pares de olhos
claros se voltaram com violência na minha direção, sem um pingo de
simpatia. Os garotos tomavam cerveja sentados junto do balcão e, pela cara
deles, eu havia quebrado o clima.
Sin, Luca e mais um, ainda mais tatuado do que os outros. Seu pescoço
era inteirinho coberto por desenhos coloridos. Os três eram parecidos no
estilo das roupas e nas posturas confiantes, mas Sin se destacava com todo o
seu magnetismo capaz de fazer o meu coração pular algumas batidas com um
simples olhar.
"Simples", não. Nada nele era simples. Os olhos claros intensos, as
sobrancelhas retas, a boca bem desenhada, as tatuagens. Com os seus cabelos
platinados, se destacava entre os outros dois garotos de cabelos castanhos,
atraindo a minha atenção como um sol reluzente em meio a planetas sem
graça.
— A festa já vai começar, caralho, vai se trocar — Sin rosnou para
mim. — E vê se bota um sutiã.
Idiota. Não me conformava que havia sido simpática com ele na
viagem, para o babaca me tratar como lixo. "Não toque em mim." "Tenho
nojo de gente como você." Suas palavras duras me feriram mais do que eu
gostaria. Não podia mais lhe dar abertura para que me machucasse.
Respirei fundo e, com o rosto quente, passei por eles, abrindo o armário
acima do forno. Fiquei na ponta dos pés para alcançar a prateleira, sentindo
os olhares deles me queimando pelas costas.
— Para a sua informação, Davi Filipo... Eu uso sutiã se quiser, o corpo
é meu. E não vou participar de festa nenhuma. Não estou a fim — comentei,
pegando o pacote de pipoca e o colocando no micro-ondas.
— E o que vai fazer em pleno sábado à noite, sem Domenico? — Luca
perguntou.
— Não que seja da sua conta, mas... Combinei de ver Netflix com o
Rico.
Um silêncio pesado se instalou na cozinha. Nunca os dois minutos para
estourar uma pipoca se arrastaram tanto. Então o garoto que eu não conhecia
abriu a boca, me estremecendo com o tom debochado.
— Essa que é a nova "aquisição" do tio Domenico?
— É sim, Marco. Madah... Aposto que está mal-humorada porque
o Sugar Daddy foi viajar com a namorada oficial, deixando o brinquedinho
novo largado em casa — Luca alfinetou e os três caíram na risada.
Meu coração se acelerou com tudo, fazendo minha cabeça girar. Por
fim, o micro-ondas apitou — aleluia! —, peguei a pipoca e fugi de lá.
Já no meu quarto, decidi trocar de roupa. Eu havia colocado o pijama
por pensar que não teria problema, mas me senti exposta demais quando me
deparei com os três idiotas na cozinha. Não queria correr o risco de mais
alguém me ver assim. Coloquei um vestidinho simples, de alcinhas, com
sutiã, e esperei pela chegada de Enrico.
Três ou quatro episódios de "Friends" depois, Enrico se levantou
preguiçosamente. Estava bem legal a nossa programação de Netflix com
pipoca. Os dois sentados na cama, como velhos amigos, dando risada das
piadinhas infames da série.
— Estou com sede. — Ele falou, bagunçando os cabelos castanhos. —
Vou lá embaixo pegar um refrigerante... Quer ir junto?
— Lá embaixo, com a festa acontecendo? — Podia sentir a vibração da
música alta balançando o assoalho do quarto. — Não, obrigada.
— Não precisa ter medo. Eu te acompanho. Não deixo ninguém mexer
com você — ofereceu, tão bonzinho que quase me comoveu.
— Ah... Você é um príncipe! Obrigada. Mas prefiro ficar aqui.
— Ok. Já volto. Me espera para continuar... No próximo episódio, tem
o casamento do Ross, não quero o perder por nada.
— Espero. Pode ir tranquilo, príncipe.
— "Príncipe"... — Deu risada e saiu do quarto.
Como eu não podia continuar vendo "Friends", me levantei para me
alongar. Depois, aproveitei que estava sozinha para retirar o sutiã, porque o
ferrinho do bojo estava me incomodando. Meus seios eram pequenos e eu
vivia dispensando a lingerie. Por dentro do vestido de alcinhas, soltei o fecho
de trás e desci uma alça de cada vez pelos braços, até que...
— O que você pensa que está fazendo?! — Sin surgiu do nada,
nervoso.
Fiquei momentaneamente confusa, não entendendo nada. Me
concentrei para não demonstrar o quanto sua presença me afetava. E, quando
o vi correr os olhos azuis freneticamente pelo quarto, a compreensão da sua
preocupação me fez sorrir.
Sin pensou que eu estivesse com alguém.
E, o mais divertido, sentiu ciúmes. Abri um sorriso, pronta para mexer
com ele.
— Ah... Estou me preparando, porque... Meu crush precisou sair
rapidinho, mas já deve estar voltando. Para eu cavalgar no pau dele até dizer
chega — provoquei e ele veio para cima de mim, agarrando o meu pulso. —
Me larga. Qual é o seu problema?
— Você é o meu problema! E sabe o que faço com os meus problemas?
Eu os elimino. — Sua voz mais rouca, arrastada, mostrava que ele havia
bebido demais.
— Ui, que medo... Se pensa que o joguinho que faz me assusta... Você
não imagina o inferno onde eu vivia. Lidar com um garoto mimado metido a
bad boy não é nada. Agora saia daqui.
Mexi o pulso para tentar me soltar e, para a minha surpresa, ele fez o
impensável. Desceu a pegada para a minha mão e entrelaçou os nossos dedos,
disparando o meu coração. Prendi o ar, secretamente desejando sentir o seu
toque quente e levemente áspero por outras partes do meu corpo. Com a outra
mão, segurou o meu pescoço, firme, e minhas pernas amolecerem como
gelatina. Meu Deus... Por fim, esboçou um sorriso lento ao perceber que
podia me desarmar com facilidade.
— É mesmo o que você quer? Que eu saia? — murmurou tão perto do
meu rosto que pude sentir o seu hálito de álcool.
— É, quero que saia. Já disse... Estou esperando alguém. — Fui firme.
Por mais que meu corpo inteiro o quisesse, eu não podia ceder. Ele não
merecia e, ainda que eu ignorasse o orgulho e me entregasse, era certo que ia
me machucar.
— Madah, desculpe te fazer esperar tanto, mas... — Enrico chegou,
fazendo com que Sin me largasse como se eu fosse uma leprosa.
— Porra... Era só o Enrico?!
— Eu sei. Mas não podia perder a oportunidade de te provocar. É muito
legal.
— Me provocar?! Com isso?! — Apontou para o meu corpo,
debochando. — Está maluca... Gosto de mulher com corpo de mulher.
Filho da mãe! Quer dizer que não tenho corpo de mulher?! A
indignação me queimou, mas disfarcei para não lhe dar o gostinho.
— "Mulher com corpo de mulher", que idiotice... — Abri um sorriso,
me aproximando para sussurrar a última parte no seu ouvido. — Admita que
morreu de ciúmes, Sin. Admita que me deseja. E, se admitir, quem sabe eu
não possa cavalgar no seu pau.
Provoquei, acariciando os seus cabelos platinados macios, como
naquele dia do avião. Poderia ficar tocando neles por horas. Desci os olhos e
confirmei a sua excitação, firme e forte sob o zíper da calça. Ponto para mim.
— Você só pode estar delirando... — falou, se afastando, e
desapareceu.
— Uau... — Enrico riu, coçando a nuca. — Nasci para ver o dia que
meu irmão sairia correndo de uma garota.
— Seu irmão é um cretino. Aliás, seus dois irmãos são. E aquele Marco
lá também. Está mal de contatos, hein... — Dei risada, tentando descontrair
para disfarçar o quanto me sentia nervosa.
— Então é um bom sinal eu não me misturar... Eles mal falam comigo,
você sabe.
— É um ótimo sinal! Antes só do que mal acompanhado. Os três são
tudo farinha do mesmo saco, não são? — Subi na cama, me sentando no
centro do colchão com as pernas de índio. Ajeitei a barra do vestido para não
mostrar a calcinha.
— São... Marco, Luca e Sin são praticamente iguais em tudo. Por
exemplo, jogam futebol, tocam em uma banda, trocam de mulher como eu
troco de camiseta — falou, sentando-se do meu lado.
— E você?
— Eu? Eu, nada. Não sou bom com esportes, música ou mulheres.
Nunca nem...
— "Nunca nem" o quê? — Tentei prender o seu olhar, mas ele baixou
os olhos castanhos, sem graça.
— Esquece.
— Pode falar. Não vou te julgar. — Toquei no seu braço, tentando lhe
transmitir confiança.
— Ok. — Suspirou fundo. — Vou confiar em você. Eu... Nunca beijei.
— Como?! — Arregalei os olhos, fazendo-o empalidecer. Droga. —
Desculpe a minha reação, Rico. Pensei que diria que nunca transou. Você tem
o quê? Dezenove, vinte anos?
— Vinte. — Me encarou, sério.
— E por que nunca beijou?
— Na verdade, eu nunca me senti atraído o bastante por garota alguma.
— Deu de ombros, olhando para baixo mais uma vez.
— E... por garoto?
— Talvez. Mas não tive coragem de experimentar.
— Rico. Você passou pela adolescência, a fase das experimentações,
sem fazer nada? O que você fez nos últimos sete anos?
— Ah... As mesmas coisas que faço até hoje. Estudar, ler, sentir falta
da minha mãe... Ela morreu há sete anos, sabia?
— Não sabia. Sinto muito. A minha morreu há cinco meses — falei,
com um aperto no peito.
— Sinto muito. Mas não vamos falar sobre coisas tristes... Vamos
voltar à parte em que você dá risada de mim por eu ser "BV[1]". — Ele riu. —
Sou ridículo, não sou?
— Ridículo, não. Só fiquei surpresa mesmo. Você tem vinte anos,
caramba... — comentei e, de repente, tive uma ideia. — Vamos mudar isso?
— Você quer me beijar?! Por quê?
— Por que não? Você é legal, bonito... E, assim, já descobrimos se
sente alguma coisa por garotas.
— Como em um experimento? — perguntou, receoso, coçando o
queixo.
— Isso. Vem cá...
Puxei Enrico pela nuca e, sem cerimônia, juntei os nossos lábios. Ele
continuou com a boca fechada e eu ri sem me afastar. Percorri os seus lábios
macios com a ponta da língua, de um lado ao outro e ele permaneceu parado
como um poste.
— Rico... — murmurei. Nossos lábios ainda se roçavam. — Abre logo
a boca.
Desci a mão pelo seu peito, sentindo o seu coração disparado. Enrico
abriu a boca e lentamente deslizei a minha língua para dentro dela. Seu gosto
era suave, um pouco doce do refrigerante. Ele mexeu só um pouquinho a
língua, mantendo as mãos firmes na minha cintura, tenso.
— E aí? — Me afastei um pouco, curiosa para ouvir o que ele tinha a
dizer. — Sentiu alguma coisa?
— Nada.
— Nada, nada? — insisti, curiosa.
— Sinceramente? Um pouco de nervoso, ou talvez de aflição. E você?
O que achou? Eu beijo muito mal? — quis saber, inseguro.
— Eu gostei de beijar você. Mas acho que precisa se movimentar
mais... Tenta mexer a língua, os lábios, as mãos na próxima vez.
— Ok. Vamos tentar de novo... — Ele sorriu, tomando a iniciativa do
segundo beijo.
Desta vez, me arrastou para o seu colo enquanto mexia a língua de
encontro à minha. Até senti uma gastura gostosinha quando as suas mãos
firmes apertaram os meus quadris, me puxando mais para si. Sem quebrar o
beijo, alisei as suas costas magras, gostando da sensação da sua pele quente
sob o meu toque.
— Madah. Você venceu. Eu admito que... — A voz rouca parou de
falar, atraindo a minha atenção.
Virei a cabeça e encontrei Sin paralisado junto da porta, em estado de
choque.
Eu até havia cogitado a hipótese de que ele voltasse depois da minha
provocação. Afinal, saiu daqui com uma ereção na cueca e um hálito de
bebida na boca. Uma combinação perigosa.
Porém, não sabia que estaria beijando o seu irmão quando ele o
fizesse. Timing perfeito.
Capítulo 9

Escutando o vento da mudança


Você já chegou a pensar
Que poderíamos ficar tão próximos

Winds of Change | Scorpions

Davi Filipo Sintori "Sin"

— Que porra é essa aqui?! — esbravejei, fechando as mãos em punhos.


Apertei o maxilar com força, sentindo a pressão dos batimentos cardíacos nos
ouvidos.
Madah virou o corpo de frente para mim, apoiando as costas sobre o
peito de Enrico.
— A gente está se beijando, oras. O que tem de errado? — Sorriu,
dissimulada.
— O que tem de errado?! Tudo, caralho!
— O quê, por exemplo? — Continuava sorrindo, claramente se
divertindo às minhas custas.
— Ele é viado! — Apontei com a mão para o meu irmão, atestando o
óbvio.
— Jura? Engraçado você falar isso do cara que estava com a língua na
minha garganta. Você se considera gay, Rico?
— Não — respondeu, sério.
O franguinho ainda teve a ousadia de erguer o queixo, me encarando.
Se eu partisse para cima dele, não sobraria nada da sua cara. Babaca.
— Bem... — Madah pigarreou, quebrando a troca de olhar hostil entre
mim e o meu irmão. — Ele já disse que não. Alguma outra queixa?
— Tenho. O meu pai...
— O que tem ele? — Ela foi rápida em perguntar, apertando os olhos.
— Vocês... — hesitei, escolhendo as palavras.
— Nós?
— Vocês estão "juntos". — Me segurei para não esculachar, falando
coisa pior. Não podia perder o controle.
— Quem disse?
Ah, porra... Madah me achava com cara de idiota?!
— Eu não sou cego, caralho! Domenico apareceu com você carregada
nos braços, de calcinha e sutiã, então te colocou no jatinho, te trouxe para
casa e...
— Não é cego, mas está falando besteira. A única boca que eu beijei da
sua família foi essa aqui, oh... — Virou o rosto, dando um selinho em Enrico
e depois puxou as mãos dele em torno da sua cintura fina, com um sorriso
irritante nos lábios.
Meu sangue ferveu tanto... Eu não conseguia nem respirar. Fechei os
olhos para tentar me controlar, mas a tontura me acertou com tudo.
Cambaleei, apoiando as costas na parede ao lado da porta. O que estava
acontecendo comigo?! Bebi demais...?! Esfreguei o rosto, desorientado,
nervoso.
Foda-se quem ela pegava ou deixava de pegar. Tentei ir embora do
quarto, porém os meus pés não me obedeciam.
— Madah, o pirralho tá surtando... — Enrico murmurou baixo, mas,
com o som da televisão desligado, eu pude ouvi-lo perfeitamente. — Hora de
parar.
Ele estava preocupado comigo?!
A diaba somente sorriu ainda mais, acariciando a coxa dele. Ok. Se ela
não queria parar, eu também não iria.
— Quer dizer que o franguinho é a única boca que você beijou da
família?! Faz sentido. Meu pai não beija puta.
Ela arregalou os olhos, mas logo se recompôs, com as bochechas
vermelhas em irritação.
— Isso eu já não sei... Pergunte a Domenico quando voltar, se está tão
interessado no que ele faz. Eu não estou. Vou repetir. Nunca beijei o seu pai.
Então um flash daquela conversa telefônica do meu pai com o tio
Giuliano me veio à mente, com a menção de masturbação e...
— Ok. Você pode não ter beijado o velho, mas aposto que conhece o
pau dele. — Cruzei os braços com o olhar desafiador, o qual ela sustentou,
firme. A diaba era boa de briga.
— O único pau que eu conheço nessa casa é o seu — respondeu sem
desviar os olhos e depois virou o rosto para falar com o meu irmão. — Foi à
distância, viu, príncipe.
— Depois quero saber a história completa, princesa. — Em seguida,
colocou as mãos nos ombros dela, carinhosamente. Furioso, não consegui
nem processar a troca de apelidos escrotos.
— Que história é essa de conhecer o meu pau? — perguntei, confuso.
A irritação e o álcool não permitiam que a minha cabeça funcionasse direito.
— No hotel. Quando você deu aquele showzinho para mim, trepando
com a "mulher com corpo de mulher". Gostou que eu o observasse? Ou
queria que fosse eu ali, recebendo o seu pau? A segunda opção, aposto.
Afinal, foi por isso que você voltou aqui no meu quarto. Mas que pena que
não falei a sério... Eu jamais me deitaria com você, Davi Filipo.
— Vai se foder!
— Prefiro que o seu irmão me foda. Bem gostoso... Ele, ao contrário de
você, sabe como me tratar bem. — Pegou a mão de Enrico e entrelaçou os
dedos. — Agora nos deixe a sós.
Saí de lá com as suas palavras martelando na minha cabeça, fodendo
com a minha sanidade. Madah me desestabilizava de um jeito absurdo... Eu
ficava parecendo um menino de dez anos que não sabia nem discutir.
Nervoso, me atrapalhava e me ferrava. Foda...
Chega.
Eu não iria nem olhar na direção da ninfeta. Se ela entrasse em um
ambiente, eu sairia. Se ela falasse comigo, eu a ignoraria. Assim pretendia ir
levando até o dia em que ela finalmente desaparecesse da minha casa, e da
minha vida.
Não sei quanto tempo depois me vi no meu quarto, com uma garota
ajoelhada entre as minhas coxas, me chupando com dedicação. Sentado na
beirada do colchão, enrosquei os meus dedos nos longos cabelos loiros,
acompanhando o sobe e desce da sua cabeça.
— Porra... Continua...
Apertei os olhos quando a língua molhada circulou a minha glande,
bem devagar. Estava tudo indo bem até que...
Até que a voz sussurrada da diaba invadiu a minha cabeça, fazendo o
meu pau pulsar com força: "Admita que morreu de ciúmes, Sin. Admita que
me deseja. E, se admitir, quem sabe eu não possa cavalgar no seu pau."
— Sobe em mim, gostosa... Quero te ver cavalgar... — Puxei a garota
para cima da cama e me arrastei até a cabeceira.
Olhei melhor para a cara dela, tentando me lembrar do seu nome. Uma
conhecida da escola. Lo... Louise, talvez.
Peguei uma camisinha na gaveta e me plastifiquei, sem perder tempo.
— Sin... Você quer que eu me sente em você, é isso? Para falar a
verdade, nunca fiz assim... Não tenho tanta experiência. — Posicionou um
joelho de cada lado do meu corpo.
— Relaxa, Louise... Não tem segredo. Eu te ajudo. — Segurei na sua
cintura e ajudei-a a descer na minha ereção. Caralho, que delícia...
— Lorena... Não Louise — gemeu, ondulando os quadris em cima de
mim, me arrepiando.
— Lorena, isso... Agora sobe e desce... Impulsiona com as pernas...
Isso... — murmurei enquanto ela ia para cima e para baixo desajeitadamente,
sem ritmo.
Merda... Não iria rolar assim. Com certeza, Madah daria um show, uma
cavalgada digna de filme pornô e... Merda... Não podia pensar nela.
— Tá bom assim? — perguntou, ofegante. "Não muito" seria a resposta
honesta, mas, por óbvio, disfarcei.
— Deixa que eu assumo. De quatro.
Lorena saiu de cima de mim, se posicionando no centro do colchão.
Belo traseiro... Bem mais redondo do que o de Madah e... "Esquece a
vagabunda!" Me recriminei, balançando a cabeça, perturbado. Agarrei a
carne macia das suas nádegas e, encaixando a minha glande na sua boceta,
passei a penetrá-la lentamente. Caralho... Era disso que eu precisava! Sem dó,
puxei os meus quadris para trás e me empurrei de novo para a frente,
sacudindo o seu corpo curvilíneo, quatro, cinco vezes.
— Porra...
Com a mão livre, dei um tapão na sua bunda, sorrindo ao ver a
vermelhidão brotar na sua pele.
— Nossa... — Ela arfou, se remexendo. Aumentei a velocidade,
chegando no limite. A cama rangia no nosso ritmo forte e preciso, com o
barulho molhado de entra e sai me fazendo ver estrelas.
Alucinado, levei uma mão ao seu clítoris, massageando-o para fazê-la
gozar logo.
— Sin! — gritou, explodindo com o orgasmo. Ejaculei logo em
seguida, preenchendo a camisinha. Respirei fundo, recuperando o fôlego e
me afastei.
Fui até o banheiro, descartei a camisinha e joguei uma água no rosto.
Me olhei no espelho, encarando os meus próprios olhos por algum tempo,
confuso. Me negava a ver a verdade que eles me gritavam. Estava mais
relaxado? Com certeza. Satisfeito? Nem de perto.

— Te acompanho até lá embaixo — ofereci, abrindo a porta do quarto


para Lorena.
Baguncei os meus cabelos, suspirando fundo. O meu bom humor já
tinha evaporado. Durou apenas dez segundos. O tempo do orgasmo, para ser
mais preciso.
— Não é necessário. Você parece que precisa dormir... Nos vemos na
segunda — falou, terminando de apertar o cinto de metal em torno da sua
cintura.
— Ok. Vem, te levo até a escada pelo menos...
Acompanhei a garota pelo corredor, escutando o barulho de música
vindo do andar de baixo. Espiei o relógio no celular, descobrindo que já
passava das quatro. Não disse que as nossas festas eram as melhores?!
Depois que a loira desceu os degraus, voltei pelo corredor, quase me
arrastando. A ressaca amanhã ia ser foda...
De repente, me bateu uma curiosidade. Enrico já teria voltado para o
quarto dele? Sem pensar duas vezes, parei em frente à porta do meu irmão e
abri silenciosamente. Tudo apagado. E a cama...? Tenso, forcei os olhos para
conseguir enxergar na escuridão. Vazia! Caralho... Gelei. Não podia acreditar
que ele continuava no quarto dela... Em um rompante, decidi ir até lá.
Parei em frente à última porta do corredor, colando o meu ouvido
contra a madeira. Silêncio. Coloquei a mão na maçaneta, respirei fundo e
girei. O abajur continuava aceso, mostrando que Madah dormia na
cama. Sozinha. Puta alívio... Respirei fundo, soltando todo o ar que prendia,
mais leve.
Fechei a porta atrás de mim e me aproximei da garota, como se atraído
por um ímã. Quando dei por mim, estava sentado do seu lado no colchão,
viajando nos seus lábios entreabertos, nos cabelos espalhados pelo
travesseiro, no peito que subia e descia devagar, acompanhando o ritmo da
sua respiração regular.
Uma batalha entre a razão e o desejo se travou dentro de mim.
A razão perdeu.
Me deitei cuidadosamente do seu lado e, quase caindo do colchão,
continuei a observando dormir. A paz que me invadiu era assustadoramente
boa. E, sem perceber, adormeci.
Não sei quanto tempo se passou. De repente, senti um cutucão no
braço, me despertando.
— Ei... O que você faz aqui? — Madah me encarava sem piscar, com o
rosto a centímetros do meu, espantada.
Nós dois estávamos deitados de lado na cama, um de frente para o
outro, sem encostar.
— Não sei — fui sincero e, cansado, sorri sem ânimo.
— Você me acordou — afirmou sem desviar os olhos dos meus.
— Não, você me acordou. Não lembra que me cutucou e...
— Mas você me acordou antes — rebateu, sem sorrir. — Teve um
pesadelo.
Porra... De novo, não.
— Foi mal — murmurei, constrangido. Merda. — É melhor eu ir para o
meu quarto. — Fiz menção de me levantar.
— Você faz ideia das coisas que fala durante os pesadelos? — Tocou
no meu antebraço, me fazendo estremecer. Não me levantei.
— Não — respondi rapidamente.
— Sinto muito. Pela sua mãe... Angela é o nome dela, pelo jeito. Você
chamava por ela. Pedia ajuda por algum motivo que não pude compreender.
Eu sabia bem qual era o motivo. Ou melhor, quem. Meu coração se
apertou com as lembranças fodidas. Virei de barriga para cima, cruzando os
braços sobre o peito. Percebi a minha respiração alterada, descompassada.
— É... Eu... — As palavras se embolaram. — Eu só tinha doze anos e...
— Cobri o rosto com as duas mãos, chorando como uma criança. Porra... —
Me desculpe.
— Você tem um milhão de motivos para me pedir desculpas. Chorar
não é um deles.
Começou a passar os dedos devagar pelo meu cabelo, daquele seu jeito
delicado que me arrepiava até a alma. Quando dei por mim, estava me
acalmando com o rosto enfiado no seu pescoço perfumado, respirando o seu
calor, mordendo a língua para não beijar aquela pele macia. Eu não queria
estragar as coisas. Estava bom para caralho... E, mais uma vez, me senti
absurdamente em paz, até que dormi.
Capítulo 10

Eu ainda estou bem para sorrir


Garota, eu penso em você todos os dias agora

Patience | Guns N' Roses


Madeleine Laurent "Madah"

Acordei com a luz do sol batendo no meu rosto, trespassando pelos


vãos das persianas. Olhei para o lado, me espreguiçando e vi que Sin não
estava mais ali. Ainda podia sentir a textura macia dos seus cabelos sob os
meus dedos, o calor do seu couro cabeludo sob o meu toque, a umidade das
suas lágrimas no meu pescoço. Por que veio me ver?
Seu choro me desarmou. Sua fragilidade mexeu comigo, dando a ideia
de que há coisas pesadas escondidas por trás da máscara de bad boy babaca.
Quando lhe perguntei o que fazia deitado comigo, respondeu simplesmente:
"não sei". Se nem ele sabia, quem era eu para tentar descobrir?
Saí do quarto e, no corredor, me deu um branco. Qual era mesmo a
porta do quarto de Enrico? Queria chamá-lo para tomar café comigo. Circular
sozinha, sem Domenico na casa, não era uma ideia exatamente atrativa.
Torcendo para ser a de Enrico, escolhi uma das portas, dando duas
batidinhas na madeira. Não houve resposta. Quando estava quase partindo
para a próxima, uma voz masculina abafada respondeu:
— Entra.
Tensa, girei a maçaneta devagar e dei dois passos, hesitante. Corri os
olhos pelo quarto, encontrando uma cama bagunçada, um mural de fotos.
Nada de livros. Droga. Não era o quarto certo.
— Ah, é você? — Luca apareceu do banheiro, usando apenas uma
cueca boxer. Prendi o ar com a visão impactante do seu corpo.
— Pode sair, caralho... Não percebeu que estou de cueca?! — Abriu os
braços, com o olhar cheio de raiva, me fuzilando. Cretino.
— Calma. Me enganei de quarto... E daí que está de cueca? Grande
coisa. — Dei de ombros, fingindo indiferença.
— Grande mesmo. — Levou a mão ao seu membro, por cima do tecido
da cueca, e o apertou, me desafiando com o olhar, provavelmente pensando
que eu fugiria.
— Acha mesmo? Pobrezinho... — Tripudiei, dando dois passos na sua
direção, olhando bem para onde estava a sua mão, forçando a visão. — Me
parece bem pequeno, comparado com a média dos que conheci.
— Foda-se.
Ficou irritado, com as bochechas vermelhas, deixando tudo ainda mais
constrangedor para ele e divertido para mim. Abri um enorme sorriso.
— Não me interesso pelas suas experiências como puta — murmurou,
possesso. — Coitados dos velhos que se satisfazem com você.
— E eu não me interesso pelas suas experiências como mal dotado.
Coitadas das garotas que se satisfazem com o seu pau pequeno.
Prendi o seu olhar o máximo que pude, sustentando a minha fachada de
durona por um fio, com o coração pulsando tão forte que me atordoava. Ele
ficou mudo, com o semblante perturbado, desorientado. Por fim, virei as
costas e, sem falar mais nada, deixei o seu quarto, batendo a porta atrás de
mim.
Nervosa, voltei para o meu quarto e joguei uma água no rosto. Um
pouco depois, recomposta, me preparei para procurar novamente por Enrico.
Assim que pisei no corredor, enxerguei Luca saindo do quarto de Sin, ou
melhor, de onde eu imaginava que fosse o quarto de Sin. Ele não me viu,
porque seguiu direto na direção oposta, descendo a escada.
Dos três irmãos, conheci dois quartos. O de Enrico, ontem, e o de Luca,
minutos atrás, quando tentou me intimidar... Sem sucesso. Como deixou a
porta de Sin aberta, concluí que fosse voltar logo. Ao passar em frente, não
pude evitar olhar para dentro do cômodo.
Sem parar de andar – apenas diminuindo a velocidade – vi o garoto de
cabelos platinados com um violão nas mãos. Sem camiseta. Minha nossa...
Ele estava começando a tocar "Patience", do Guns N' Roses. Sin
assobiava aquele trecho do início igualzinho ao Axl Rose, dedilhando as
cordas do violão com uma destreza impressionante.
Shed a tear 'cause I'm missin' you
(Derrubei uma lágrima porque estou sentindo sua falta)
I'm still alright to smile
(Eu ainda estou bem para sorrir)
Girl, I think about you every day now
(Garota, eu penso em você todos os dias agora)
Quando a sua voz rouca terminou de cantar as primeiras estrofes, não
contive um suspiro fazendo com que ele erguesse a cabeça, finalmente me
notando parada ali.
Seus lábios bonitos esboçaram um sorriso de canto, acelerando o meu
coração. Ele parou de tocar e me encarou sem dizer nada, com os olhos azuis
ilegíveis. Não pude sustentar o seu olhar porque o meu coração batia rápido
demais. Ao descer os olhos, encontrei as suas mãos tatuadas, com a palavra
PATIENCE gravada em preto nos dedos da esquerda. Me perguntei se seria
por causa dessa música.
Sin voltou a cantar e, com as minhas costas apoiadas no batente da
porta, fechei os olhos, apreciando a música.
There is no doubt, you're in my heart now
(Não há dúvida, você está no meu coração agora)
Said "woman take it slow, and it'll work itself out fine"
(Disse "mulher vá devagar, e vai dar tudo certo")
E, ao abrir os olhos, quase me engasguei com a saliva ao vê-lo olhando
para mim. Cantando para mim. Meu Deus... Seus olhos azuis intensos não se
desviavam dos meus, agitando o meu estômago com as famosas borboletas,
sem controle. Arrepios se espalhavam pelo meu corpo, eriçando todos os
pelinhos dos braços.
All we need is just a little patience
(Tudo o que precisamos é de um pouco de paciência)
If I can't have you right now, I'll wait dear
(Se eu não posso ter você agora, vou esperar querida)
— O que é isso, velho? Você foi chamar a perdida para um showzinho
particular? Não fode... — A voz debochada de Luca surgiu nas minhas
costas, porém me recusei a olhar para ele. Sin hesitou por um instante, ainda
com os olhos em mim, e depois os baixou, dando de ombros, sem graça.
— Eu não chamei ninguém aqui, ela apareceu porque quis.
— Quer dar uns “pegas” em você, certeza... — Luca soltou uma risada,
passando por mim. Sentou-se na cama com o irmão, pegando uma pasta de
músicas, folheando.
— É, brother... Deve ser. — Sin riu baixo, sem me olhar, esmagando o
meu coração.
— Engraçado você achar que eu quero te pegar, se foi você quem
invadiu a minha cama na madrugada. Contou isso para o seu brother?!
Virei as costas com os batimentos na garganta e, fugindo do quarto, me
apoiei na parede do corredor, fechando os olhos, tentando me acalmar. Como
a porta do quarto ficou aberta, eu ainda podia escutar as vozes lá dentro.
— Você foi para a cama dela? Comeu a marmita do pai? Pegou a sobra
do Rico? — Luca disparou as perguntas, com um tom urgente na voz. —
Coragem, hein... Quanta vodca você tomou, pirralho?
Maravilha. Sin tinha contado para o irmão mais velho sobre mim e
Enrico.
— Não, que nojo! Quem eu comi ontem foi a gostosa da Lorena. Sabe?
A loira do terceiro ano?
Pronto. Meu coração idiota foi direto para o chão.
— Aquela que tem um rabetão? Amiga da Clara?
Soltei um riso fraco, nasalado. Lógico que ela teria um "rabetão".
Afinal, Sin gostava de "mulher com corpo de mulher".
— A própria.
— Mandou bem... — Escutei Luca dar risada e, em seguida,
começaram os acordes de violão. — Bora ensaiar?

— Rico? — Bati na porta certa.


— Pode entrar — respondeu com a voz de sono.
Girei a maçaneta e entrei no cômodo escuro. Fui direto até a janela,
abrindo a cortina. A claridade invadiu o quarto, iluminando tudo.
— Ah, não! — Ele cobriu os olhos com o antebraço. — Estou
dormindo.
— Acorda, príncipe... Quase meio-dia. Quero conversar. — Me sentei
ao seu lado no colchão. Ele estava engraçado, todo descabelado, sem
camiseta. — Mas antes me conta da sua noite. Deu certo...?
— Não. Amarelei. — Suspirou fundo, desanimado.
Ontem, quando Rico deixou o meu quarto, disse que iria tomar a
iniciativa de beijar um garoto por quem ele nutria um amor platônico há anos.
Acreditava que, por termos nos beijado, seria mais fácil, já que não sentia
mais a pressão de dar o seu primeiro beijo.
— Jura? Por quê?
— Não estou a fim de falar sobre isso. Vou rapidinho ao banheiro... Me
espera aqui, princesa. — Abriu um sorriso bonito, sentando-se na cama.
Observei Rico se espreguiçar, esticando vagarosamente o tronco magro
e definido, e desejei com todas as minhas forças que estivéssemos em um
universo paralelo, onde ele fosse hétero e se apaixonasse por mim.
Continuei na cama enquanto ele foi ao banheiro. Pude ouvir o som da
descarga e depois o da água da pia. Voltou enxugando a boca, pelo jeito,
tinha escovado os dentes.
— Fala. O que você quer conversar? — perguntou, com o seu jeito
tranquilo, se sentando ao meu lado.
— Ah, o seu irmão... É um cretino.
— Isso não é novidade. Qual dos dois? Ok, os dois são cretinos... —
completou, rindo. — Mas o que aconteceu?
Primeiro, contei a ele sobre a visita da madrugada, omitindo apenas a
parte do choro, porque eu queria sentir somente raiva de Sin, e me lembrar
dele chorando amolecia o meu coração. Depois, falei sobre o que aconteceu
minutos atrás. A cena com Sin no violão. A música cantada para mim. A
chegada de Luca que estragou tudo. A conversa dos dois sobre a tal da
Lorena.
— Sou muito burra por sentir desejo pelo seu irmão caçula... É sério!
Ele é um idiota. Detesto me sentir tão mexida por alguém que só deveria me
causar repulsa.
— Você tem a sexualidade muito aflorada, tá louco... — Ele riu com
espontaneidade, bagunçando os cabelos castanhos.
— E sou virgem, tá? — confessei. Senti que podia me abrir com ele.
— Sério? — Ergueu uma sobrancelha, surpreso.
— Sério.
— Cacete... O tombo do pirralho vai ser feio quando ele souber.
— Azar o dele. Que se exploda de remorso de tudo o que fala
injustamente de mim...
— Olha... Já sei do que você precisa.
— O quê?
— Apagar esse fogo. Seus hormônios estão te matando, Madah... —
Deu risada, bagunçando os meus cabelos. — Você não está conseguindo ser
racional.
— Apagar o fogo como? Sozinha, não tem quase graça e não quero
transar com qualquer um. Quero que a minha primeira vez seja com alguém
especial.
— Por quê? Sexo é sexo — disse despreocupadamente.
— Falou o cara que era "BV" até ontem.
— Mas escuta só... Eu sou prático. Não crio expectativas românticas.
Perdi o "BV" com você experimentalmente. Não quis me guardar para o
meu crush. E gostei, tá? Será que sou bi? — Colocou um dedo sobre o lábio,
pensativo, olhando para a frente.
Fixei o meu olhar ali, nos seus lábios bem feitos, e depois subi para os
seus cílios espessos, emoldurando os seus olhos gentis. Enrico era bem
parecido e, ao mesmo tempo, muito diferente dos irmãos. Os três eram
atraentes, mas apenas um deles derrubava todas as minhas estruturas. Davi
Filipo Sintori. Porém, como não poderia tê-lo...
— Rico...?
— Quê? — Virou-se para mim, atento.
— Me beija?
Ele me encarou com seriedade e vi certa hesitação nos seus olhos
castanhos. Depois fez que sim com a cabeça e já avancei para cima dele.
Nossos lábios se uniram com urgência e, sem pensar, depositei no beijo toda
a carência que sentia por me ver rejeitada pelo meu bad boy babaca.
Capítulo 11

Agora o que dizem nas ruas


É que o demônio está no seu beijo

Cryin’ | Aerosmith
Madeleine Laurent "Madah"

Beijando Enrico, deslizei as minhas mãos pelo seu peito firme, sentindo
o seu coração disparado. Não contive um sorriso quando me arrastou para
mais perto pela cintura, aprofundando o beijo. Ele aprendia rápido...
— Madah... — Quebrou o beijo, desviando o olhar, tímido. — Toma
um banho comigo?
— O quê? Rico... Eu não vou perder a virgindade assim...
— Não vamos fazer sexo — respondeu, acariciando a minha bochecha
com o polegar. — Só pensei em um banho com benefícios... Para aquietar o
seu facho. Vem cá.
Me puxou pela mão e, um minuto depois, estávamos os dois nus
embaixo da água quente do chuveiro. Não resisti e disfarçadamente olhei para
o meio das suas pernas enquanto me ensaboava, vislumbrando o seu membro
relaxado.
Sem falar nada, Enrico me virou de costas e passou a ensaboar os meus
ombros. Fechei os olhos, imaginando outras mãos firmes me tocando. Meu
coração deu uma disparada gostosinha, agitado.
E, quando ele escorregou os dedos com sabão sobre os meus seios,
deixei escapar um gemido, ondulando os quadris. Segurei as suas mãos ali, as
apertando sobre os meus mamilos com intensidade. Enrico entendeu o recado
e continuou me tocando com firmeza, beijando a minha nuca.
— Tive uma ideia — falou, se afastando. — Pega. — Me entregou o
chuveirinho, aumentando a potência da água. — Divirta-se.
Eu sorri, direcionando o jato de água bem na minha intimidade.
— Ah... — gemi, me contorcendo.
Estava tão bom... E ficou ainda melhor quando ele me beijou pela
frente, percorrendo o meu maxilar com os lábios.
— É assim que você gosta? — perguntou com a boca no meu pescoço.
— Está bom?
— Sim, continua... — murmurei, de olhos fechados mais uma vez, com
o jato de água fazendo a minha vagina pulsar, mais e mais.
Ele me beijava e estimulava os meus seios sem parar, até que a pressão
lá embaixo foi aumentando, aumentando... E, quando pensei naqueles olhos
azuis me queimando, estremeci inteira, amolecendo as pernas com o
orgasmo. Enrico me segurou, evitando que eu caísse e me abraçou, alisando
as minhas costas. Percebi a sua respiração ofegante e, pressionando o meu
umbigo, senti a sua ereção.
— Você... — Dei risada, surpresa, fitando o seu membro rígido entre os
nossos corpos.
— Foi mal. Acho que foi demais te ver gozar... Você se entregou de um
jeito sublime, princesa. — Ele parecia genuinamente sem jeito. — Vamos
sair.
Eu não soube o que falar. Se deveria oferecer "ajuda", afinal, se tinha
uma coisa que aprendi a fazer era masturbar um homem...
— Quer que eu... — comecei, apontando para baixo, insegura.
— Não. Não — repetiu, incisivo, pegando uma das toalhas. — A ideia
era você gozar.
— E funcionou. — Sorri para ele, me enxugando com a outra toalha.
— Então vê se para de ficar tarada atrás do meu irmão caçula... — Ele
me deu um beijo na cabeça. — Nem que a gente faça isso todo dia. — Deu
risada, vestindo a cueca.
— Não seria uma má ideia... — comentei, rindo. Passei a me vestir
enquanto ele foi para o quarto, esfregando os cabelos molhados com a toalha.
Coloquei a calcinha, a blusa e, quando ia vestir os shorts, a porta do
quarto se abriu. Instintivamente, empurrei a porta do banheiro para a frente,
deixando apenas uma frestinha aberta.
— O pai telefonou para avisar que... — Sin parou de falar quando
reparou melhor no outro. Rico estava apenas de cueca, enxugando os cabelos,
com os olhos arregalados em pânico entregando que havia alguma coisa de
errado.
— Não sabe bater? — Enrico tentou disfarçar, posicionando-se na
frente do irmão, impedindo a sua passagem.
A atitude de o segurar lá fora causou o efeito contrário. Sin o empurrou
com tudo para o lado, entrando no quarto como um raio.
— Onde ela está?! — Apontou para as minhas sandálias no chão, ao
lado da cama, furioso.
Rico não falou nada e, cruzando os braços sobre o peito, o encarou em
silêncio.
— Porra! Vou acabar contigo, seu... — Sin explodiu. Puxou
rapidamente o cotovelo para trás, fazendo menção de dar um soco e eu o
interrompi com um grito, escancarando a porta do banheiro.
— Não! — Sustentei o seu olhar azul. — Não. Encosta. Nele.
Ele paralisou, descendo os olhos pelo meu corpo, incrédulo. Eu
continuava sem os shorts e com os cabelos molhados. Prendi o ar ao perceber
o seu olhar se quebrar.
Sin piscou devagar, balançando a cabeça para os lados e, em vez de
gritar ou brigar, simplesmente se virou, indo embora.
— Qual é o seu problema, Sin? — Enrico alcançou o irmão no
corredor. Permaneci no quarto, com o coração disparado, atenta à conversa a
poucos metros de mim.
— Na real, Rico? Não entendo... Não faz sentido... — A voz rouca fez
uma pausa para respirar fundo. — Você nunca pegou ninguém, e agora
resolve tomar a iniciativa justo com ela?!
— Na verdade, eu não tomei a iniciativa. Foi ela. Porém... Confesso
que me surpreendi positivamente. Ontem e hoje. Gostei da atitude dela.
"Eu também gostei da sua atitude, Rico... Você é um príncipe!", pensei,
esboçando um sorriso.
— E isso também não faz sentido... Por que ela quis você?
— Talvez, porque... Eu seja o único aqui que não a trata como lixo.
Você e o Luca perderam a noção! Se é que algum dia a tiveram...
— Rico, queria o quê? A menina é uma puta, oportunista, que...
Minha nossa... Na cabeça dele, eu era mesmo uma prostituta! Sin não
falava da boca para fora, para me provocar. Ele tinha certeza!
— Ah, cala a boca! — Rico o cortou. — Você só fala besteira... Ela
não é puta, não é nada disso. É só uma adolescente e... Não cabe a mim falar
sobre a vida dela.
— Caralho, já está assim, todo protetor? Madah deve ter dado a você
um belo chá de boceta.... — Sin riu com amargura. — Quantas vezes já
transaram?
— O quê? Nenhuma! — Enrico alterou a voz, na defensiva.
— E tomaram banho juntos? Como...? Você é mesmo viado?
— Rá. Você me chama de viado há anos, e agora resolveu me
perguntar?
Boa, Rico!
— É ou não é?! — Sin quis saber, incisivo.
— Sinceramente? Não sei.
Silêncio.
— Ainda não acredito que tomaram banho juntos e não fizeram nada...
— Eu não disse que não fizemos nada. Disse que não transamos. E não,
não vou te dar os detalhes do que fizemos.
— Vocês deram altos amassos, não deram? Assim você me quebra,
Rico...
Silêncio mais uma vez.
— Sin, olha para você... Você tá gostando dela!
Prendi o ar, na expectativa.
— Nem fodendo... Gostar dela? Uma puta? Marmita do pai? — Riu,
esmagando o meu coração.
— Pirralho... — Enrico expirou fundo, impaciente. — Me fala... Por
que cismou com isso? Alguém por acaso te contou que ela era prostituta?
— Você não estava lá, Rico. Eu vi a verdade com os meus olhos. Vou
te contar como foi tudo, desde o começo. O pai foi fazer uma massagem, em
uma área VIP do hotel lá em Punta. As tabelas das massagistas incluíam
serviços extras e... Foda.
— E...? Continua — Enrico pediu.
— Antes mesmo de sumir em uma das salas, Domenico já procurava
por ela. Ele sabia o nome dela. Talvez algum amigo a tenha indicado, isso eu
já não sei... Só sei que depois ele apareceu com Madah desmaiada nos braços,
apenas de calcinha, sutiã e cinta-liga. Disse que a levaria para casa, comprou
presentes, depois ficou de chamego com ela na van, do hotel ao aeroporto... E
o resto você já sabe.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu nem sabia direito o porquê.
Me perguntava se, no lugar dele, eu também não teria chegado às mesmas
conclusões.
— Ok — Enrico respondeu, em um tom pensativo. — Ainda acho que
tem coisa mal contada nessa história. Conversa direito com o pai, Sin... E se
acalma. Não quero que tenha uma recaída. Não gosto de te ver surtar, porque
já me lembro daquela sua fase complicada.
Recaída? Recaída do quê?
— É foda. Desde que ela apareceu... Não consigo me controlar. Ela
dispara algum gatilho em mim, não sei...
— E se você... — Enrico falou baixinho e não pude escutar o final da
frase. Droga.
— Não adianta. Já tentei. Não sei mais o que fazer para me acalmar.
Até os pesadelos voltaram, sabia? É uma merda, Rico...
— E se voltasse para a terapia?
— Detesto aquela porra. E se eu usasse só um pouquinho? Para me
ajudar e...
— Não — Rico foi firme. — Não quero te ver usando de novo... Nem
um pouquinho.
— Por quê...?
— Porque você é o meu irmão caçula e eu me importo contigo, apesar
de tudo.
— Não sei o que fazer...
— Minha sugestão é... Conversa com o pai, conversa com ela.
Esclarece as coisas.
— Beleza.
O barulho de uma porta se batendo me fez concluir que Sin havia
entrado em seu quarto. Massageei as têmporas, com a cabeça girando com as
informações. Meu coração batia sem controle. Me deitei na cama e fechei os
olhos, respirando fundo algumas vezes.
— Madah? — Enrico reapareceu. — Está tudo bem?
— Está. — Me sentei no colchão. — O que aconteceu? — Não tive
coragem de confessar que havia escutado a conversa.
— Ah... Essa casa é só estresse, tá louco... — Ele sorriu, disfarçando, e
sentou-se do meu lado.
— Percebi...
— Posso te fazer uma pergunta? — Virou-se para mim, com os olhos
castanhos me analisando, cautelosamente. — Não precisa responder se não
quiser...
— Pode.
— Você era prostituta? Mentiu quando me falou que era virgem?
— São duas perguntas. — Dei uma risada baixa, mordendo o lábio
inferior. — Mas ok, você pode saber. Não. Eu não era prostituta e não menti.
Sou virgem. Continuo intacta lá embaixo. Mas... Fui obrigada a trabalhar
como massagista e... Não era só massagem. Os clientes podiam pagar a mais
por... Masturbação ou sexo oral.
— Cacete... Você fez alguma dessas coisas com o meu pai?
— Não. E, para ser justa, não fiz porque Domenico não quis. Porque, se
ele tivesse pagado pelos serviços naquela noite, eu teria feito. Eu não tinha
opção, Rico.
— Não devia ser nada fácil para você.
— No começo, era difícil demais... Até vomitava quando voltava para o
meu quarto. Só que depois eu meio que acostumei... Nunca senti prazer em
lidar com aqueles velhos, mas eu "desligava" a cabeça, sabe? Era como se eu
não estivesse ali, de verdade.
— É o que os atores pornôs fazem... Deve ser fogo. Nós vemos as
pessoas ali, fazendo as coisas legais que nos deixam com tesão e não temos
ideia do que se passa na cabeça delas. Alguns estão lá porque querem, mas
muitos não.
— Você assiste pornô? — perguntei, espantada.
— Lógico. Posso ser virgem, mas sou o maior punheteiro... — Ele riu,
bagunçando o cabelo daquele seu jeito tranquilo. — Já vi milhares de pornôs.
— Que tipo de pornô?
— Gay, hétero... Vejo de tudo. De onde acha que veio a ideia do
chuveirinho?
Capítulo 12

Não posso acreditar nas notícias de hoje


Não posso fechar os olhos
E fazê-las desaparecer

Sunday Bloody Sunday | U2


Madeleine Laurent "Madah"

Depois de comer, me sentei preguiçosamente em uma poltrona da sala,


correndo os olhos ao redor, observando as obras de arte enquanto fazia a
digestão. Eu havia almoçado apenas com Enrico na cozinha e, em seguida,
ele me pediu licença justificando que precisava dormir. Apesar de não gostar
de ficar sozinha pela casa, não insisti para que permanecesse comigo para não
parecer grudenta.
Na hora da refeição, Luca tinha aparecido apenas para fazer o seu prato
e Sin não deu as caras em momento algum. Melhor assim.
— Posso me sentar com você? — Luca surgiu do nada, me pegando
desprevenida e, sem esperar pela minha resposta, se jogou na poltrona ao
meu lado. Eu ergui uma sobrancelha, na defensiva, desconfiada.
— Já não se sentou? Estou brincando... Claro que pode. Sinta-se em
casa. — Fiz um meneio com a mão, gesticulando para que ficasse à vontade.
Ele riu com a minha resposta, afinal, a casa era dele e não minha.
— E aí? O que você estava fazendo? — quis saber, em um tom de voz
tranquilo, estranhamente simpático.
— Nada demais. Admirando os quadros... Aquele ali... É
impressionante. Uma cópia perfeita de Monet. — Apontei para a paisagem
com a lagoa de Giverny. — E, como as outras obras do pintor, passa uma
sensação boa de tranquilidade, paz.
— Quem disse que é uma cópia?
— Mentira! — Arregalei os olhos, incrédula. — Você está zoando com
a minha cara!
— Verdade. — Ele riu, dando de ombros. — Domenico o arrematou
em um leilão em Paris alguns anos atrás. É original.
— Eu não acredito... — Forcei os olhos, tentando enxergar melhor os
detalhes do quadro, me segurando para não ir até ele.
Se eu chegasse perto demais, iria querer tocá-lo e longe de mim correr
o risco de estragar uma pintura de Monet. Aquilo lá devia valer milhões!
— E eu não acredito que você conhece Monet — murmurou, me
observando com os olhos semicerrados, intrigado. Certamente, na cabeça
dele, eu apenas conhecia posições sexuais.
— Meus avós eram franceses e, apesar de não ter conhecido nenhum
deles, minha mãe me contava a respeito... Toda minha família materna
apreciava arte. Frequentei museus no Uruguai desde bebê. Artistas franceses
eram os preferidos da minha mãe... Impressionistas, em especial. Monet,
Manet, Renoir... Inclusive, meu nome é todo francês. Madeleine Laurent. O
que foi? — perguntei, notando o seu olhar intenso sobre mim, me deixando
sem jeito.
— De verdade? Ainda não sei o que pensar de você. Enrico te acha
legal, acabei de conversar com ele, inclusive. Mas Sin fala que...
— Sin só fala bobagem a meu respeito — Eu o cortei, tensa. — Se
puder ignorá-lo, agradeço. Ele tira conclusões equivocadas em vez de
simplesmente me perguntar as coisas e... Quer me fazer alguma pergunta?
— Sim. Eu queria saber... — Ele se calou, hesitante, coçando a nuca.
— Fala logo.
— Duas perguntas, pá, pum. Você se prostituía no Uruguai? Você já
trepou com o meu pai?
— Minha nossa... Você é direto, hein? Não e não, para as duas coisas.
Seu pai me trouxe para cá por outro motivo, que não posso revelar, mas te
garanto que não tem nada a ver com sexo. Vocês são todos obcecados por
esse lance de prostituição, não são?
— É mais o Sin... Ele era grudado com a mãe. O filho caçula, sabe
como é... Por isso foi o que mais sofreu quando a merda aconteceu.
— O que aconteceu?
— Ela morreu. Depressão associada a fibromialgia. — Piscou,
suspirando fundo. Não deu mais detalhes e eu não os pedi.
— Sinto muito.
— Tudo bem, já tem sete anos... Posso só te pedir um favor?
— Fala. — Mordi a boca, pressentindo que coisa boa não deveria ser.
— Não fica de joguinhos com o Sin, por favor. Depois daquela merda,
uma coisa puxou a outra e o caçula foi parar no fundo do poço. Foi foda para
a gente tirar ele de lá. Foram três anos infernais... Morro de medo de
acontecer uma recaída.
Minha nossa... De repente, me senti mal por ter provocado Sin em mais
de uma ocasião. E, pelo jeito, Enrico e Luca tinham o mesmo receio.
"Recaída do quê?", eu quis perguntar, mas não tive coragem.
— Luca, eu... Apenas me defendo das atitudes dele. Ele foi um cretino
comigo, desde o começo. Aliás... Você também foi! — Apontei o dedo para o
seu peito, firme. — Se põe no meu lugar, caramba...
— Ok. Admito que fui um babaca... Proponho um acordo de paz.
Aceita? — Estendeu a mão na minha direção, com um olhar aparentemente
sincero no rosto.
— Aceito — respondi e, sorrindo, apertei a sua mão. Ele retribuiu o
sorriso, me deixando feliz.

Sin não apareceu pelo restante do domingo. Tarde da noite, Domenico


retornou de viagem e me chamou para o seu escritório.
— Madah. Como tem sido sua experiência nesta casa? Tudo bem?
— Tudo. Estou feliz por estar aqui. — Sorri, me sentando do outro lado
da sua mesa de trabalho.
Preferi responder assim para não o aborrecer com os meus problemas
"bobos". Afinal, todos os episódios de estresse que rolaram com Luca e Sin
eram insignificantes perto dos problemas reais que eu enfrentava no Uruguai,
dos quais ele me salvou.
— Fico satisfeito em saber, querida. — Pigarreou, entrelaçando os
dedos das duas mãos sobre a mesa. — Eu lhe chamei aqui para contar as
novidades... Meu investigador ainda não localizou os seus parentes e,
portanto, tomei a liberdade de pôr em prática uma decisão quanto ao seu
futuro.
— Que decisão...? — balbuciei, com o coração na garganta, morta de
medo de que me colocasse na rua. Para onde eu iria, meu Deus...
— Você precisa começar a ir à escola. Não será produtivo ficar
semanas em casa, sem fazer nada, atrasando-se nos estudos. Consultei o meu
advogado por telefone e ele providenciará a sua papelada para a matrícula.
Pedirá, inclusive, a anulação do seu documento de identidade que se encontra
adulterado. Tudo bem?
Mais aliviada em saber que poderia continuar morando aqui, tentei
assimilar todas as informações. Ao final, me perguntei sobre a fortuna dos
honorários do advogado para uma consulta em pleno domingo.
— Sim. Mas... Não fui à escola durante o primeiro semestre inteiro e já
estamos em agosto. Acho que o ano letivo está perdido para mim —
expliquei, me lembrando de que o desgraçado do Hector me fez largar os
estudos.
— Fique tranquila. A Barão de Mauá segue os padrões americanos e,
com isso, o ano letivo se inicia em agosto. Ou seja, você perdeu apenas
poucos dias de aula.
— Que bom.
— Meus três filhos estudaram na Barão. O diretor Doutor Roberto
Diniz é meu amigo. Conversei com ele hoje, sobre a sua situação
emergencial, e ele já autorizou o seu ingresso na escola. — Parou de falar,
pensativo, tentando se lembrar das palavras. — Você cursará o segundo ano,
junto com Sin, a partir de amanhã. Será bom para você já conhecer alguém da
turma. Tenho consciência de que ele não é sinônimo de simpatia, porém é
melhor um rosto conhecido do que nada.
— Sin ainda estuda e está no segundo ano...?! — perguntei, espantada.
Eu realmente não contava com a possibilidade de estudar com ele.
— Está. Ele tem dezenove anos de idade, mas se encontra três anos
atrasado na escola. — Domenico apoiou mãos sobre a mesa, se levantando.
Entendi que não queria mais falar sobre o assunto. — Bem... Preciso me
deitar. Estou com uma dor de cabeça terrível... Temo ter abusado do vinho no
final de semana.
— Ok. Melhoras. — Me levantei também, alisando a roupa. —
Obrigada por tudo, de verdade. Boa noite.

No dia seguinte, segunda-feira, apareci na cozinha para o café.


Domenico e Sin estavam sentados junto ao balcão, comendo em silêncio, de
costas para a porta. Meu coração deu aquela disparadinha gostosa quando
olhei para as costas fortes do garoto de cabelos platinados, que me atraía e
perturbava na mesma medida.
Assim que me aproximei do banco vago ao lado do pai, o filho se
levantou, levando sua xícara à pia. Depois colocou um boné na cabeça, com a
aba para trás, mantendo o rosto baixo.
— Bom dia — falei e apenas Domenico me respondeu, acenando com a
cabeça.
— Bom dia, querida. Preparada para o seu primeiro dia de aula?
— Acho que sim... — Me servi de café. — Eu...
— Estou indo para a escola. — Sin se apressou em direção à porta,
visivelmente mal-humorado. Imaginei que o pai tivesse contado a ele as
novidades de que estudaríamos juntos. Antes de sair da cozinha, o garoto se
virou para mim, sério. — Se quiser carona, agiliza.
— Quero, obrigada — respondi, abrindo um sorriso nervoso.
Ele permaneceu parado junto ao batente, sem sorrir. Me perguntei se
seria uma boa ideia pegar carona com ele... Se bem que, como Domenico
havia dito, seria melhor aparecer na escola com alguém conhecido do que
com ninguém. Bebi o café de uma vez, peguei um pão de queijo e me afastei
da mesa para não perder tempo.
— Vou me trocar rapidinho, Davi Filipo. — Avisei ao me aproximar
dele. — Os alunos precisam usar algum uniforme? Tem alguma regra de
vestimenta?
— Não. É só não se vestir como uma puta que está bom — murmurou,
cruzando os braços sobre o peito, me queimando com o olhar azul.
Arregalei os olhos e me virei para Domenico, para ver se daria alguma
bronca no filho, mas ele estava distraído, mexendo no celular. Respirei fundo
e passei em silêncio por Sin, mordendo a boca, aborrecida. Queria de verdade
que a nossa convivência fosse mais leve, mais normal.
Com Enrico e Luca, eu me via mais tranquila... Só faltava ele para que
eu ficasse mais à vontade na casa pelas próximas semanas, até chegar a hora
de ir embora.
Capítulo 13

Mas só porque queima


Não significa que você vai morrer

Try | Pink
Madeleine Laurent "Madah"

Assim que desci as escadas, encontrei Sin me esperando ao lado da


porta do hall de entrada. Ele estava com as costas displicentemente apoiadas
na parede, mexendo no celular.
Repeti mentalmente a minha decisão de tentar ter um relacionamento
minimamente civilizado com ele. Seria a minha meta pelos próximos dias. Eu
iria me esforçar para não o provocar, a não ser que ele passasse dos limites...
Afinal, não nasci para ser saco de pancadas de garoto rico mimado.
Quando percebeu a minha presença, Sin ergueu o olhar, atento. Como
sempre, meu coração pulou uma batida. Aparentemente, ele não desgostou da
roupa que vesti. Não elogiou, mas não criticou. O que era quase um
progresso, vindo dele.
Como o dia estava nublado e mais fresco, eu havia colocado calça jeans
e blusinha e, por cima, uma jaqueta azul-marinho. Não tinha mochila nem
material e, por isso, peguei uma bolsa comum na cor preta, combinando com
os meus tênis All Star. Os cabelos presos em um rabo-de-cavalo e os lábios
cobertos com uma camada de lip balm de framboesa completavam a
produção.
Sin parecia sentir menos frio do que eu, porque vestia uma camiseta
preta de mangas curtas e calças da mesma cor. Todas aquelas tatuagens
expostas dos braços atraíram a minha atenção, me fazendo engolir em seco.
— Vamos logo — murmurou, abrindo a porta para sairmos da casa.
Do lado de fora, uma imponente SUV 4x4 importada vermelha estava
estacionada à nossa frente. Pelo jeito, ele havia a buscado na garagem
enquanto eu me arrumava.
Sin se sentou atrás do volante e eu dei a volta, me acomodando no
banco de passageiro. O interior do carro era impressionante... Chique, bem
cuidado, limpo, perfumado. Os bancos de couro em um bege claro em
contraste com os vidros escuros eram lindos demais...
— Gostou da minha Ruiva? — perguntou, em um tom orgulhoso,
notando que eu olhava tudo ao redor, fascinada. Suprimi uma risada ao
perceber que ele tinha um apelido para a SUV.
— Sim. É muito bonita... — Esbocei um sorriso que, para variar, ele
não correspondeu. Começou a dirigir em silêncio e entendi que a nossa
"conversa" estava encerrada. Eu queria lhe perguntar o que fez ontem, afinal,
desapareceu desde a hora que me flagrou saindo do banho com Enrico, mas
não senti qualquer abertura da sua parte.
O clima dentro do carro estava tenso, pesado, desconfortável. Para
tentar descontrair, peguei o meu celular e os fones, procurando por uma
música. Penei um pouco porque o aparelho era novinho e ainda não sabia
mexer direito nele. Sin percebeu a minha dificuldade, espiando de rabo de
olho, curioso.
— Pode ligar o som... — Apontou para o painel ao lado do volante. —
Se quiser — completou, com a voz milagrosamente normal, sem denotar
irritação.
— Obrigada. — Estiquei a mão, mas hesitei diante da infinidade de
botões.
Então ele se adiantou e ligou o painel, escolhendo uma das playlists.
"Try", da Pink, passou a ressoar segundos depois. Embora fosse uma música
que eu adorasse, estranhei a sua escolha. Não combinava com ele.
Where there is desire, there is gonna be a flame
(Onde tem desejo, vai ter uma chama)
Where there is a flame, someone's bound to get burned
(Onde tem uma chama, alguém vai tender a se queimar)
But just because it burns doesn't mean you're gonna die
(Mas só porque queima, não significa que você vai morrer)
— Sério que você gosta de Pink...? — perguntei, sorrindo. — Eu adoro,
mas achei que...
— É a playlist que coloco para as garotas. Todas gostam — rebateu,
rápido. Ok, entendi que ele estava habituado a carregar garotas no carro.
Sin não falou mais nada durante o trajeto, mantendo os olhos fixos na
rua enquanto dirigia. Fiquei cantarolando para me distrair e, vez ou outra,
espiava os seus antebraços tatuados, com as veias aparentes, de tirar o fôlego.
Minutos depois, chegamos à escola. Um enorme portão de metal sob os
dizeres "Barão de Mauá" dava acesso ao estacionamento. Mais ao fundo, era
possível ver o grande prédio de dois andares em estilo clássico. O gramado
bem cuidado, os prédios menores ao redor, os jardins planejados... Tudo era
ostensivo. Sin nem se abalou, óbvio, estava acostumado a vir aqui, porém eu
fiquei literalmente boquiaberta.
Enquanto manobrava o carro dando marcha a ré para entrar em uma das
vagas, um grupinho de quatro adolescentes se aproximou e, mesmo com as
janelas fechadas, pude ouvi-los falar o nome de Sin. Certamente,
reconheceram a "Ruiva" dele. Como o vidro tinha insulfilme, eles não
podiam nos ver, mas eu os via.
Eu não conhecia ninguém e me sentia nervosa, com o coração batendo
mais rápido do que o normal. As duas garotas estavam muito mais arrumadas
do que eu, com os cabelos escovados, os rostos maquiados, as bolsas chiques
a tiracolo.
Com as mãos trêmulas, fui fechar o zíper da minha bolsa e acabei a
derrubando no chão do carro, desastrada. Me inclinei para recolher as coisas
que se espalharam enquanto Sin descia, me deixando sozinha. Espiando pela
janela, eu o vi cumprimentar os meninos com toques de mão e as meninas
com beijos no rosto. Nada de anormal. O clima parecia leve e tranquilo entre
eles.
Sin se sentou em uma mureta que dividia o estacionamento de um
gramado, esboçando um pequeno sorriso quando tropecei ao descer da SUV,
que era mais alta do que um carro normal. Por sorte, consegui me equilibrar
sem me espatifar no chão. Espanei a minha roupa, com a cabeça baixa, ciente
de que o nervosismo fazia as minhas bochechas se esquentarem, pegando
fogo.
Assim que levantei os olhos, me deparei com todos os olhares voltados
para mim, fixos. Uma das meninas, sentada na mureta, enganchou o braço no
de Sin, abrindo um sorriso malicioso.
— Dando carona, Sin? Quem é essa? — perguntou com a voz melosa,
jogando os longos cabelos loiros para o lado.
— É uma garota que... Meu pai levou para casa. — Ele deu de ombros,
sem sorrir. Acendeu um cigarro e levou aos lábios.
— E ela vai estudar aqui? — A menina perguntou surpresa.
— Assim? — Apontou para as minhas vestimentas, nitidamente as
desdenhando. Idiota.
— Vai — disse ele, soltando a fumaça.
A loira então pegou o cigarro da mão dele e deu uma longa tragada,
deixando claro que possuíam intimidade.
— Aluna nova? Prazer. — Um dos garotos deu um passo à frente e me
estendeu a mão, simpático. — Bruno.
Bruno tinha os cabelos pretos jogados para o lado e os olhos escuros
grandes, expressivos. Era alto e forte, com o corpo de um esportista.
— Madeleine. Prazer — respondi, apertando a sua mão rapidamente,
desconfortável com toda aquela atenção em cima de mim.
Olhei para os lados, decidindo o que fazer. Eu queria me afastar deles,
mas fiquei com vergonha de sair andando sozinha sem rumo. Não sabia nem
para que lado ficava a saída do estacionamento...
— "Madeleine". Um nome diferente. Conheça Leonardo... — Bruno
mostrou o outro menino, com a pele escura bonita e os dentes brancos bem
alinhados, sorrindo para mim. — Lorena e Clara. — Apontou as meninas
com a mão. Elas não sorriram. Lorena era a loira sentada com Sin e Clara a
outra em pé. — Em que turma vai estudar?
— Pode me chamar de Madah. Prazer em conhecer todos vocês. Estou
no segundo ano, não sei em que turma.
Então me lembrei de um detalhe. Lorena.
Era o nome da garota que ficou com Sin na festinha de sábado.
Inclusive, neste exato momento, ela acariciava o antebraço tatuado dele,
possessivamente. Porém Sin parecia não apreciar o gesto, pela sua expressão
de desconforto no rosto.
— Madah. Está na hora — Ele falou comigo, se soltando dela. Ficou
em pé em um pulo, vindo até mim, rápido. — Domenico pediu para te trazer
e te levar até o diretor.
Prendi o ar quando ele apoiou a mão na parte baixa das minhas costas.
Estranhei o seu toque inesperado, mas não o repeli.
— Até mais, pessoal. — Movimentou a mão pesada pelas minhas
costas até alcançar a cintura, deixando um rastro quente pelo caminho.
Caminhei do seu lado, com os nossos corpos se roçando a cada passo fazendo
o meu coração pular na garganta.
— Você quer fazer ciúmes para a sua ficante? — murmurei, apontando
para a sua mão na minha cintura.
— Quê...?! Ela não é a minha ficante.
— Não é a mesma Lorena de sábado?
— Como sabe que fiquei com uma Lorena no sábado? — Ele parou de
andar e me olhou nos olhos, sem tirar a mão da minha cintura. Eu jamais
admitiria que estive escutando a sua conversa com Luca. Levantei o queixo
para sustentar o seu olhar, quase me perdendo naquelas íris azuis.
— Sabendo... — respondi, por fim.
— Luca fofoqueiro para caralho... — resmungou, voltando a andar,
ainda me segurando. Irritado, para variar. Não me soltou nem quando
chegamos ao prédio da escola.
Eu não aguentava mais a pressão de ficar com os nossos corpos tão
próximos, com tanta hostilidade irradiando dele para mim, quase me
pinicando. Eu mal conseguia respirar. Pensei em falar alguma coisa para
tentar amenizar o clima...
— Calma, bebê. Não precisa ficar se irritando por... — Minha frase se
interrompeu quando Sin paralisou no lugar, com os olhos arregalados de um
jeito que eu nunca havia visto, me assustando.
— Nunca mais me chame de bebê — sibilou, apertando o meu pulso,
tremendo de raiva. — Sua imbecil sem noção.
Atônita com a sua reação, me desvencilhei da sua mão, dando dois
passos para trás. Levei segundos para reencontrar a minha voz.
— Tá. Vou sozinha à diretoria, posso seguir as placas — falei, me
afastando rapidamente, nervosa. — E imbecil sem noção é você... Vai se
ferrar.
Mostrei o dedo do meio para ele e, com o coração disparado, entrei na
escola sem olhar para trás. Pelo jeito, já havia falhado na minha meta no
primeiro maldito dia.
Capítulo 14

Lá estava ela, parada na porta


E eu estava pensando comigo mesmo
Isso aqui pode ser o paraíso ou o inferno

Hotel California | Eagles


Davi Filipo Sintori "Sin"

Os próximos dias se arrastaram. Até agora eu não entendia o porquê de


Madah ter vindo para cá. Nem sabia se Domenico tinha interesse sexual nela.
Enrico, eu sabia que sim, apesar de que ainda desconfiava da sexualidade do
meu irmão. Gay ou não, o fato era que eu havia os pegado no pulo, duas
vezes, no sábado e no domingo.
Surtei legal depois de descobrir que tomaram banho juntos, por mais
que Rico tenha me garantido que não transaram. Foi mais um motivo para eu
passar o restante do domingo na rua.
Desde então, eu ficava longe de casa o máximo que conseguia. Passava
as minhas tardes e noites no estúdio ensaiando, jogando tempo fora. Preferia
evitar me encontrar com a diaba que me desestruturava e, também, morria de
medo de surtar caso a flagrasse novamente com Enrico.
Ontem à noite, quando voltei para casa perto de meia-noite, encontrei o
meu pai ainda acordado, sozinho no escritório. Tivemos uma conversa que
não me esclareceu quase nada.
— Pai. Ainda não explicou o motivo de Madah estar aqui... —
comentei, me sentando do outro lado da sua mesa de trabalho, cruzando os
braços.
— E nem vou explicar — respondeu, com os olhos na tela do
computador. Parecia compenetrado em alguma coisa.
— Porra! Tem que ter uma explicação! — Explodi. Passei as mãos
pelos cabelos, exasperado.
Consegui a sua atenção. Meu pai me fitou com o olhar sério,
entrelaçando os dedos das mãos sobre o tampo da mesa.
— Já percebeu que você é o único que fica implicando com a garota?
Seus irmãos a aceitaram bem. Por que não baixa a guarda, Sin? Madah é uma
boa menina.
Apesar da sua voz contida, percebi que estava com raiva de mim.
Afinal, eu havia sido desrespeitoso. Não que eu gostasse de o destratar...
Tinha as minhas mágoas com Domenico, sim, porém tentava manter um
relacionamento decente com ele. Só que às vezes eu explodia, era mais forte
do que eu. Che cavolo...
— Ok, pai. Me desculpe. Só preciso de umas respostas. Ela era
massagista lá no Uruguai. Certo?
— Certo.
— E ela fazia apenas massagem nos clientes? Fiquei sabendo de uma
tabela com "serviços" extras que podiam contratar e... — Gesticulei as aspas
com os dedos.
— Filho — Meu pai me interrompeu, hesitante. — Madah não fazia
aquelas coisas porque queria. Ela não teve opção.
— Já entendi — Eu o cortei, incomodado com a confirmação dos
serviços sexuais que ela fazia em troca de dinheiro. — E você fez uso desses
extras no hotel?
— Não. Eu nunca encostei nela, nem ela em mim. Juro. Pode ficar
tranquilo. Eu não iria me envolver com uma garota de dezesseis anos.
— Dezesseis anos. Cacete... — Bem que eu desconfiava que era mais
nova do que constava no documento. Cocei a nuca, pensativo. Seria possível
o meu pai a acolher para se relacionarem futuramente, depois que ela
completasse dezoito...? Não, não, seria bem bizarro. Mas, ao mesmo tempo,
não era impossível...
— O documento de vinte e um anos é falso — explicou, diante do meu
silêncio.
— Imaginei. Mais uma pergunta... Não se importa que ela se envolva
com outros garotos? — perguntei, querendo descobrir quais eram as suas
intenções.
— Que outros garotos? — Franziu as sobrancelhas grisalhas, com o
olhar atento, me esquadrinhando. — Bem que eu desconfiei que vocês dois
pudessem ter...
— Eu, não. Mas os caras olham para Madah como se ela fosse um
pedaço de carne. Luca, Marco, até mesmo Enrico, que...
— Espera, espera, espera. — Ele balançou a cabeça, perturbado. —
Marco a conheceu?! Quando?!
— No sábado à noite. Você levou Bárbara para viajar e demos uma
festinha aqui. Por quê? — Estranhei a sua reação. Ele gostava de Marco,
como se fosse um sobrinho.
— Sin... Me prometa que não vai deixar Marco se aproximar dela. Por
favor. Me atenda mesmo sem saber o porquê.
— E Paolo? — indaguei, curioso com o seu pedido.
— Com Paolo, não me preocupo. Bem... Em breve, tudo será
esclarecido. Espero! Agora me dê licença. Preciso terminar um e-mail aqui
com urgência.
Deixei o escritório com a pulga atrás da orelha, me perguntando qual
seria o motivo da implicância do meu pai com Marco. De qualquer forma,
ainda que fosse verdade o fato de que meu pai e Madah nunca tiveram nada,
não me conformava com o fato de ter trazido uma prostituta menor de idade
para a nossa casa. Não me conformava, mesmo.

Hoje era sexta-feira. Sentado no fundo da sala, deitei a cabeça sobre os


braços, entediado demais para prestar atenção à aula de História. Coloquei os
fones de ouvido e me perdi no rock antigo dos Eagles. O solo de guitarra era
um tesão...
O professor era um velho arrogante que me irritava a cada vez que
alisava a sua camisa, formal, como se fosse a porra de um duque. De repente,
eu o ouvi pigarrear alto e, por isso, retirei os fones.
— Agora, irei receber os trabalhos sobre Renascimento feitos
individualmente ou em dupla. Espero que tenham caprichado. Será a
principal nota do bimestre. Por ordem alfabética. Amanda?
O quê?! Trabalho?! Merda... Apertei os olhos, nervoso, com os meus
batimentos me ensurdecendo.
— Leo... — Cutuquei o meu amigo ao lado, torcendo para que ele
tivesse feito o trabalho sozinho e me deixasse colocar o meu nome com o
dele. — Você fez em dupla?
— Positivo. Com o Bruno. Olha lá, ele já está entregando as folhas... —
Apontou com a cabeça para a frente, tranquilo, girando um lápis entre os
dedos. — Por quê?
— Nada. — Enterrei as mãos nos cabelos, suspirando fundo,
apreensivo. Já era...
— Carolina? — O professor continuou chamando os alunos em ordem
alfabética, com a sua pose imponente em frente à lousa, sem sorrir. Até que...
— Davi? — pronunciou o meu nome já com um tom debochado, como
se soubesse que não fiz a porcaria do trabalho.
— Eu... — murmurei, abrindo a mochila e a vasculhando na maior cara
de pau, como se esperasse por um milagre.
— O trabalho, Davi. Vamos logo. Não tenho a manhã inteira.
— Não está aqui, senhor. — Fechei a mochila, sustentando o seu olhar.
Por trás dos óculos redondos, os seus olhos brilhavam em satisfação. O
desgraçado estava se divertindo, sem dúvidas.
— Lógico que não estaria — começou, esboçando um sorriso de canto.
— Alunos, olhem para trás. — Apontou para mim, fazendo todas as cabeças
se virarem na minha direção, com tudo. Meu sangue ferveu quando me dei
conta de que o babaca pretendia me humilhar. — Aquele é o rosto do
fracasso. Não sejam como ele. Aos dezenove anos, continua pateticamente no
segundo ano do Ensino Médio e, pelo jeito, irá repetir de ano mais uma vez.
Talvez não pretenda terminar os estudos antes dos trinta e...
— Com licença, professor. Ele fez o trabalho comigo. Aqui está. —
Madah, sentada na primeira fileira, esticou o braço fino para a frente,
entregando as folhas.
Atônito, fixei os olhos na sua mão delicada e pude notar que estava
levemente trêmula. Porra... Meus batimentos se aceleraram ainda mais, me
atordoando.
— Fez? — O velho franziu a testa, pegando os papéis dela. Ajustou o
posicionamento dos óculos para ler a capa. Depois balançou a cabeça,
encaixando o trabalho entre os demais e pigarreou. — Prosseguindo... Elisa?
E o desgraçado voltou a chamar os alunos, sem sequer me pedir
desculpas. Esfreguei o rosto, ainda nervoso, sem entender o porquê de Madah
ter me ajudado.
Eu iria falar com ela no intervalo.
Assim que bateu o sinal, Leo puxou um assunto aleatório sobre a festa
que daria na sua casa, me prendendo por mais alguns minutos na sala.
Quando consegui me livrar dele, puxei o maço de cigarros do bolso e parti
para o pátio externo.
Corri os olhos pelos bancos e logo enxerguei Madah sentada sozinha
em um deles, afastada, abrindo uma barra de chocolate. Perto de uma parede,
o sol batia em seu corpo criando sombras atrás de si, com os raios deixando
os seus cabelos cor de mel ainda mais claros.
— E aí? — Me sentei do seu lado, fazendo com que ela arregalasse os
olhos. Distraída, não tinha me visto chegar. — Obrigado por me salvar lá na
sala. — Fui direto ao ponto.
— De nada — murmurou, terminando de desembrulhar o chocolate.
— Por que fez isso? — Apoiei os cotovelos nos joelhos, me inclinando
para a frente, tentando soar tranquilo.
— Porque, apesar de você não merecer a minha ajuda para nada, me
incomodou demais aquela atitude do professor.
— Entendi. — Encaixei um cigarro entre os lábios, o acendendo, sem
saber o que falar.
— Mas não se acostume. Não vou ficar fazendo os seus trabalhos. Seja
mais responsável. Você não para em casa, Sin... Fica o dia inteiro no estúdio
e, neste momento, a banda não tem que ser a sua prioridade — tagarelou,
visivelmente nervosa, com o vento trazendo o seu hálito doce de chocolate
diretamente para as minhas narinas.
Segurei um sorriso ao notar que Madah reparava nos meus hábitos,
inclusive sabendo para onde eu ia, sendo que eu nunca havia falado nada a
respeito com ela.
— Ei... — Não me contive, ajeitando uma das suas mechas que
voavam, a colocando atrás da sua orelha. Sua pele macia e quente sob os
meus dedos me deixou em alerta. — Acha mesmo que é por causa da banda
que eu não paro em casa?
Madah enrijeceu o corpo, sustentando o meu olhar, sem falar nada.
Eu poderia beijá-la. Um único beijo e...
Não. Eu não faria aquilo. Ou me foderia de vez.
Até que o sinal bateu e, em um pulo, fiquei em pé, me afastando.
— Obrigado pela ajuda com o trabalho, mais uma vez. Aquilo foi...
Inesperado. Tchau.
Depois do intervalo, era a aula de Educação Física. As aulas de
esportes costumavam unir as turmas de segundos e terceiros anos, por isso o
vestiário masculino ficava lotado.
Assim que empurrei a porta de metal, fui engolido pelo ambiente
ruidoso, fedendo a suor e umidade. A conversa dos caras estava ainda mais
barulhenta do que o normal. Franzindo o rosto por conta do mau cheiro, fui
até o meu armário para me trocar. Ao lado, estava Bruno, que era o capitão
do time de futebol.
— Hoje a animação está demais... — comentei com ele enquanto
pegava o meu uniforme do futebol no armário. — O que está rolando?
— É por causa da festa... Você vai? — Bruno estava quase pronto para
o jogo, vestindo o meião e a caneleira, sentado no banco atrás de mim.
— Vou. Lá no Leo? — perguntei para confirmar. Às vezes, tinha mais
de uma festa no mesmo dia.
— Isso. A partir das oito — respondeu e se levantou. Fechou o seu
armário, batendo a porta de metal. — Fui. O treino vai começar em dois
minutos. Agiliza.
Bruno nunca se atrasava para os treinos. Como o capitão do time, tinha
que dar o exemplo e ser pontual. Por isso eu nunca me candidatava para a
vaga...
Ainda estava me trocando quando um grupo de nerds se aproximou de
mim. O nerd principal, Eduardo, e seu fiel seguidor, André. Eram uns caras
esquisitos que curtiam computadores, jogos online e essas merdas de TI.
Circulavam entre os caras populares apenas porque descolavam umas drogas
sintéticas de qualidade.
— Fala, Sin. Madeleine vai à festa de hoje? — Eduardo perguntou, sem
qualquer noção. Incrédulo, me segurei para não esmagar aqueles seus óculos
de grau ridículos.
— Sei lá, caralho... — murmurei, amarrando as chuteiras.
— Inclusive é por isso que a expectativa para a festa está tão alta...
Todo mundo quer ver quem vai ser o primeiro da escola a ficar com ela... —
André comentou, fazendo o meu sangue ferver.
Me levantei e, pronto para o futebol, tranquei o armário, respirando
fundo.
— Então vão se decepcionar, seus punheteiros... — falei, me
apressando para deixar o vestiário. — Ninguém aqui vai ficar com ela.
Capítulo 15

O cabelo dela me lembra


Um lugar quente e seguro
Onde, criança, eu me esconderia

Sweet Child O’ Mine | Guns N' Roses


Davi Filipo Sintori "Sin"

Nervoso, eu andava rapidamente pelo longo corredor mal iluminado


repleto de portas fechadas dos dois lados, com o coração disparado
pressentindo que daria merda. O assoalho vibrando sob os meus pés não
deixava dúvidas quanto ao volume estratosférico da música. A festa corria a
todo vapor no andar de baixo.
"É a chave da última suíte à direita, Sin. Leo disse que podemos a usar
à vontade. Se quiser subir com alguma garota, me fala." No início da festa,
Bruno havia me mostrado a chave dourada antes de a enfiar novamente no
bolso, animado, com um sorriso malicioso nos lábios.
Com a sua pinta de capitão de time "certinho", o filho da puta não tinha
dificuldade para pegar mulher. Não que eu pudesse reclamar quanto a isso...
Eu e os meus amigos sempre estivemos bem servidos de garotas. O problema
era que, naquela noite, todo mundo parecia querer pegar a mesma garota.
A diaba sonsa de sorriso doce. Sorriso que me atraía como o canto da
sereia mais dissimulada.
Finalmente, com a mão sobre a maçaneta da última porta, inspirei
fundo antes de a abrir. O sumiço dos dois não havia me passado
despercebido.
— Porra... — murmurei ao entrar no quarto, me deparando com o casal
se pegando, quase se comendo. Que merda...
Em um sofá de couro preto, Bruno estava por cima de Madah, os dois
nus da cintura para cima. Enquanto se beijavam, ele acariciava o rosto dela e
ela alisava os músculos dele, tão absortos nos amassos que não notaram a
minha chegada.
Meu coração batia com tudo, me atordoando de uma forma absurda
que...
Acordei.
— Caralho... — Soltei o ar, me sentando na cama, com os batimentos
descompassados me deixando sem ar.
Péssima ideia tirar um cochilo antes da festa.
Não satisfeita em me incomodar na vida real, Madah vinha me
perturbando nos sonhos. Ou melhor, nos pesadelos. Foda.
Me levantei e, para relaxar, tomei um banho demorado. Cantarolando
sob o chuveiro, fui aos poucos me animando, entrando no clima da night.
Leonardo havia mandado uma mensagem mais cedo contando que
providenciou um palco para que a nossa banda se apresentasse durante a
festa, me deixando empolgado.
Depois do banho, coloquei uma regata, tirei uma selfie exibindo as
tatuagens e a mandei no grupo da escola. "Baixista da Five Stars pronto para
o show. Hoje a noite promete!" Várias garotas me responderam com elogios
e, com um sorriso convencido nos lábios, passei a analisar as fotos dos
contatos para eleger as mais "pegáveis".
Algum tempo depois, troquei a regata por uma camiseta de manga
curta, cacei a jaqueta de couro na bagunça do armário, enfiei a carteira e o
celular nos bolsos e, pilhado, deixei o quarto. Desci as escadas e, pelo
barulho de bate-papo, concluí que estavam todos da família na sala. Parei na
porta, analisando a cena, sem que ninguém me notasse.
Meus irmãos já estavam prontos para ir para a faculdade, enquanto
Madah conversava com eles, de pijama. Era um modelo de duas peças mais
discreto desta vez, em azul-marinho com uma estrela com brilhos no mesmo
tom. Pelo jeito, ela gostava da cor. Os três estavam felizes e sorridentes,
sentados nos sofás, tranquilos. Praticamente uma família da porcaria de um
comercial de margarina.
Respirei fundo e tentei me afastar sem ser percebido, mas derrubei a
jaqueta de couro que carregava nos braços. O barulho do impacto da peça no
chão me entregou.
— Fala, Sin! Já está de saída? — Luca quis saber, me flagrando. Todos
os olhos se voltaram para mim.
— Estou. Festa do Leonardo da escola, lembra? — perguntei,
recolhendo a jaqueta do chão.
— Caramba... Não fui convidada... — Madah comentou, esboçando um
sorriso minúsculo, tirando uma onda com a minha cara. Sonsa.
Luca me encarou em expectativa, praticamente me obrigando a fazer a
próxima pergunta. Era ridículo que já estivesse no time dela...
— Não precisa de convite. Quer ir? — murmurei, incomodado. Me
lembrei do papo dos caras no vestiário, dizendo que queriam ficar com ela e...
— Não, obrigada. Hoje não vai dar. Já me programei aqui... — Ela deu
de ombros, com um sorriso de falsa inocência. A diaba adorava me provocar.
— Tem outros planos? — Não me segurei, mordendo a isca. Burro para
caralho.
— Tenho. Eles incluem três coisas. Eu, pipoca e Netflix.
— Posso faltar da faculdade e ficar com você, se quiser. De sexta, os
professores nunca passam nada de útil... — Enrico ofereceu. Ela sorriu
abertamente, apreciando a ideia.
O quê?! Nem fodendo.
— Madah. Pensando melhor, talvez fosse bom você ir à festa... Fazer
uma social — falei, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans, possesso.
Eu me odiava por sentir ciúmes dela. E a odiava por me deixar assim.
Luca percebeu a minha real intenção e segurou o riso, balançando a
cabeça. Olhei feio para ele, fuzilando-o.
— Só se o Enrico for comigo — disse ela, me enervando.
— Por quê?! — Me xinguei ao perceber que a minha voz saiu quase
estridente. Passei as mãos pelos cabelos, estressado.
— Porque já estou vendo tudo. Você vai ficar lá com os seus amigos e
eu vou ficar isolada. Você mal fala comigo! E, quando fala, é para me
insultar em noventa por cento das vezes. Ou a gente leva o Rico ou eu não
vou.
— Deixa para lá, princesa. Não gosto de festas... — Enrico falou mole.
Trinquei o maxilar, irritado.
— E você, Luca? Quer ir? Se você for, eu vou. — Ela se virou para o
meu irmão mais velho, me enervando ainda mais.
— Eu bem que queria ir... Mas não posso faltar na faculdade. Último
ano é foda... — Luca explicou, esfregando os olhos. — Vai sozinho, pirralho.
E manda um abraço para os caras da banda.
— Caras da banda? Marco e Paolo vão? — Enrico se interessou.
Previsível...
— Vão — confirmei, já prevendo que ele mudaria de ideia em dois
segundos. — Combinamos de tocar umas músicas na festa.
— Ah, isso parece legal! Vamos, Madah? — O franguinho se animou.
Suprimi um sorriso, mordendo o lábio inferior.
— Tá bom, tá bom! Que enrolação... Bom, vou me trocar. — Ela
suspirou, se levantando. — Sairemos em quantos minutos?
— Dez minutos — respondi, com a ciência de que a minha ideia inicial
já era. Eu pretendia ir sozinho à festa, para passar a noite longe dela, me
pegando com alguma garota qualquer. E, agora, não apenas a levaria, como
teria que carregar o meu irmão esquisito junto. Foda...

Para ser justo, Madah se arrumou bem rápido para uma garota. Eu me
via distraído com o celular no hall ao lado da porta quando ela apareceu,
aproximando-se de mim a passos hesitantes, sem me olhar diretamente. Com
o cabelo escovado de um jeito diferente e os olhos bem maquiados, estava
sexy para caralho. Usava um vestidinho tomara-que-caia preto que eu queria
poder arrancar com os dentes.
— Você está... — Perdi as palavras quando ela me olhou nos olhos.
Porra...
— O quê? Vai falar que estou igual a uma puta? — Cruzou os braços,
na defensiva.
— Não. Vou falar que... Isso que passou nos olhos... — Apontei sem
encostar nela. — Dá um efeito legal.
— Você está me elogiando?!
— Acho que sim. — Dei de ombros, enterrando as mãos nos bolsos,
mudando o peso de um pé para o outro.
— Obrigada.
— De nada.
Silêncio. Um, dois, três segundos.
Sem falar nada, como se não estivesse no comando dos meus pés, dei
dois passos na sua direção. Madah arregalou os olhos, sem se mover.
Ficamos com os corpos a poucos centímetros de distância e eu sentia que
ainda não era perto o bastante.
Seu perfume quente e adocicado me inebriava, agitando o meu
estômago. Foram longos segundos de um silêncio que fazia a minha pele
formigar, com os nossos olhares conectados deixando tudo ainda mais
surreal. E, quando ela soltou um suspiro, entreabrindo os lábios, todo o ar foi
sugado dos meus pulmões.
Hipnotizado, encostei dois dedos no seu rosto delicado, contornando o
seu maxilar lentamente, de um lado ao outro. Sua pele era macia e eu poderia
tocá-la para sempre. Madah fechou os olhos e não recuou, umedecendo os
lábios com a ponta da língua. Puta que pariu... Que tentação...
Minha mente gritava que eu precisava me afastar, mas o meu corpo
cheio de hormônios parecia não entender e...
— Vamos? — Enrico surgiu do nada, a poucos metros de nós,
quebrando imediatamente o clima. A magrela deu um pulo para trás,
assustada.
Melhor assim. Foi por pouco... Quase fiz merda.
— Vamos. Até que enfim, noiva. — Me virei para o meu irmão e o
encontrei com a cara de bunda de sempre, todo franguinho, com os bracinhos
expostos graças às mangas curtas da sua camiseta preta.
Mordi a boca ao passar pela porta, tentando me recompor.
No carro, liguei o som para o curto trajeto até a festa. De modo
aleatório, passou a tocar Guns N' Roses, "Sweet Child Of Mine".
— Gosto desta música... — Madah comentou baixinho. Ela estava
sentada do meu lado, no banco do passageiro. Me virei rapidamente na sua
direção e a vi sorrindo, ajeitando o cabelo daquele seu jeito leve que, ao
mesmo tempo, me tranquilizava e fodia com o meu juízo.
— É uma boa música — respondi a primeira coisa que me veio à
mente.
Chegamos em cinco minutos porque Leonardo morava no mesmo
bairro que a gente. Eu e Enrico descemos do carro e Madah ficou retocando a
maquiagem lá dentro, visivelmente insegura. Era natural que estivesse
nervosa... Seria a sua primeira festa com o pessoal da escola.
Eu poderia a escoltar para dentro da casa, facilitando as coisas, mas...
Não. Ela que inventou de vir, eu não tinha nada com isso.
Distância. Eu precisava me manter longe.
— Pega. — Entreguei o chaveiro ao meu irmão, decidindo entrar na
festa sem eles. — Você volta dirigindo.
Ele sorriu com a ideia, surpreso. Enrico era louco para dirigir a minha
Ruiva, porém eu nunca permitia porque morria de ciúmes. Só que hoje queria
tomar todas, por isso não tinha escolha. Ajeitei a jaqueta no corpo e, sem
olhar para trás, entrei sozinho na casa.
Capítulo 16

É a minha vida, é agora ou nunca


Não vou viver para sempre
Eu só quero viver enquanto estou vivo

It’s My Life | Bon Jovi


Madeleine Laurent "Madah"

Assim que entramos, percebi que a festa ainda não tinha oficialmente
começado. No enorme salão, havia apenas nós três — eu, Sin e Rico —, o
anfitrião Leonardo e dois outros garotos de cabelos castanhos, sendo um
deles o babaca do Marco, mexendo em aparelhos de som em um palco
improvisado. Provavelmente eram todos da banda. Sin se uniu a eles e
começaram a passar o som. Eu e Enrico nos sentamos em um sofá na parede
oposta da sala, de frente para o palco.
— Rico... Quem são?
— Marco e Paolo. Os filhos do tio Giuliano. Os dois fazem parte da
banda, junto com os meus irmãos e com Leonardo — explicou. Senti um leve
tom de nervosismo na sua voz.
— Por acaso, algum deles é o seu crush? Percebi que você se
interessou em vir para a festa quando soube da banda...
— Talvez. — Ele sorriu, sem desviar o olhar do palco. — Mas
não precisa ter ciúmes, princesa. Você é a única garota para mim, tá? —
completou com a voz divertida e, passando um braço pelos meus ombros, me
beijou na cabeça.
Eu ia responder que sentia falta das nossas "brincadeiras", mas preferi
não falar nada. Nós ficamos apenas duas vezes, no sábado no meu quarto e
no domingo no dele, quando tomamos aquele banho com benefícios. Durante
a semana, Enrico continuou me tratando bem, porém fiquei com a impressão
de que não quis dar continuidade à amizade colorida por causa do irmão.
— E como chama a banda?
— Five Stars.
— Tá, os cinco se acham estrelas. Captei a mensagem. — Dei risada.
— Exatamente. Cinco narcisistas. Mas, hoje em dia, são quatro com
mais frequência do que cinco. Luca começou a estagiar, por estar terminando
a faculdade, com isso não participa tanto da banda.
— Entendi. E qual é a posição de cada um?
— Paolo no vocal, Sin no baixo, Marco na guitarra, Leonardo na
bateria. — Apontou um a um.
Olhei bem para os garotos ensaiando no palco, com a luz indireta lhes
dando um ar de estrelas do rock. Todos eram extremamente parecidos no
estilo, menos um.
Paolo não tinha tatuagens aparentes e era bem mais magro. Apenas
o piercing de argola no nariz e as unhas pintadas de preto denotavam alguma
rebeldia. Assim como o boné na cabeça, suas roupas eram comuns. E, o que
mais chamou a minha atenção, foi o sorriso bonito que lançou na nossa
direção quando nos notou no sofá.
— É ele, não é? — murmurei, cutucando o meu amigo com o cotovelo.
Não houve resposta.
— Fala de uma vez, Rico. Estou morrendo de curiosidade...
— Você não vai mesmo me deixar em paz? — Ele riu. — Tá bom, tá
bom... É ele. Paolo.
— Aprovado. Bem gatinho... Conta mais. Nunca rolou nada mesmo?
— Somente trocas de olhares, conversas... Nada demais. — Suspirou,
frustrado. Jogou a cabeça para trás, apoiando-a no encosto do sofá.
— A noite está só começando... — Baguncei os seus cabelos. —
Milagres podem acontecer.
— Aliás... Um milagre já aconteceu. — Ele riu, puxando um chaveiro
do bolso. Olhei para o objeto sem entender o que havia de especial nele. — É
a chave da Ruiva do Sin. Ele a deixou comigo, nem acredito... Vou dirigir
aquela máquina pela primeira vez na vida.
— Ele é muito chato com o carro? — Eu quis saber. Eu queria saber
mais sobre Sin, mas nunca via a oportunidade de perguntar.
— "Chato" é apelido. Ele é louco, obcecado... Nunca vi o pirralho
sentir tanto ciúmes de alguma coisa, como sente daquela SUV... —
respondeu, franzindo a testa em seguida, esquadrinhando o meu rosto. —
Pensando bem... Acho que a Ruiva foi rebaixada para o posto de segundo
lugar. O primeiro é todo seu, princesa.
Assenti, ciente de que Sin dava todos os sinais de que sentia ciúmes de
mim. Naquele exato instante, por exemplo, ensaiava com um olho na
partitura e o outro em mim, atento à minha interação com Enrico.
Antes de sair de casa, ele havia quase me elogiado e, não saberia dizer
se foi loucura da minha cabeça, mas fiquei com a impressão de que fosse me
beijar. Pelo jeito ele estava começando a mudar de atitude comigo. Ou não.
A realidade era triste e, ao mesmo tempo, simples. Em vez de tentar me
conquistar — o que teria sido a coisa mais fácil do mundo para ele —, o
babaca me destratava, não demonstrando interesse em me conhecer de
verdade, sem os seus pré-julgamentos ridículos. Difícil.

A festa estava lotada, com pessoas espalhadas pela sala, cozinha e


quintal. Por volta das nove horas, a Five Stars se preparava para o início da
apresentação, ligando as luzes do palco. Puxei Enrico para a frente da pista,
passando por dezenas de corpos, aguardando pelo show em meio ao gelo seco
e as luzes coloridas.
— Boa noite, pessoal... — Paolo começou a falar, mas os meus olhos
não se prenderam no vocalista.
Eu estava hipnotizada demais por Sin se posicionando com o
contrabaixo nas mãos, a poucos metros do amigo. Sem a jaqueta de couro,
com as tatuagens dos braços expostas sob as luzes coloridas, estava mais
lindo do que nunca. Sua presença de palco era de arrepiar...
Quando os primeiros acordes de música ressoaram, meu coração se
acelerou. Eu estava realmente animada para vê-lo em ação com a banda...
Como se pressentisse o meu olhar, Sin virou a cabeça na minha direção e,
sem parar de tocar o contrabaixo, conectou nossos olhos. E, quando esboçou
um sorriso torto para mim meus joelhos amoleceram como gelatina. Minha
nossa...
Mordi o lábio para não sorrir como uma menina apaixonada. Até que
estava bem legal a festa...
As duas primeiras músicas eu não reconheci, mas, mesmo assim,
dancei discretamente, balançando-me no ritmo, ao lado de Enrico. Já a
terceira — "It's my life", do Bon Jovi —, cantei junto com a banda na maior
felicidade.
It's my life
(É a minha vida)
It's now or never
(É agora ou nunca)
— Tá ouvindo a letra? Fica a dica, Rico! — gritei para ele tentando me
fazer ouvir em meio ao som alto. — Aproveita a vida! É agora ou nunca!
Quero te ver beijar o vocalista hoje!
— Só se você beijar o baixista! — gritou de volta, rindo. — Não
aguento mais essa tensão sexual entre vocês!
— Combinado — respondi sem pensar, na empolgação.
Depois do show, Paolo se aproximou de nós e, para deixar os dois a
sós, pedi licença para ir ao banheiro. Quando voltei, não vi mais o meu
amigo. Torci para que estivesse se pegando com o crush.
Receosa, resolvi circular pela festa para procurar por algum conhecido.
Andei até o gramado da frente, cheio de gente conversando e tomando
cerveja, porém não encontrei ninguém.
— Oi. Madeleine? — Um garoto de óculos parou do meu lado. Seus
cabelos escuros estavam melecados com litros de gel. — Sou Eduardo e o
meu amigo se chama André. — Apontou para um menino bochechudo à sua
esquerda. Os dois eram esquisitos.
— Oi, prazer — respondi, ainda espiando ao redor, na esperança de
encontrar um rosto conhecido.
— Está procurando alguém? — Enfiou as mãos nos bolsos, atento a
mim.
— Um amigo... Enrico. Conhece?
— Não. É da escola?
— Já estudou na Barão, mas agora faz faculdade. É irmão do Sin.
— Ah... — Arrumou os óculos no nariz, inquieto. — Não posso ajudar,
porque não sei quem é.
— Tudo bem. E o Sin, sabe dele? Não o vi depois do show... —
perguntei casualmente, sem querer entregar o meu interesse pelo baixista.
— Uhum. Ele me parecia bem ocupado entrando no carro,
acompanhado... Deixa eu pensar melhor qual era... Ah, uma SUV vermelha.
É dele?
— É. — Meu coração se afundou. — Sério...?
— Sério. Vem cá... Olha lá. — Me puxou pelo cotovelo até a lateral do
jardim onde estavam os carros. A poucos metros de nós estava a SUV, com a
lanterna acesa e os vidros embaçados. Droga.
— Você parece chateada... — comentou diante do meu silêncio. —
Quer entrar para tomar alguma coisa?
— Eu não bebo. Aliás, ninguém aqui deveria beber. A maioria nem tem
dezoito anos — respondi, subitamente mal-humorada.
— Relaxa, é uma festa... Vamos até a cozinha.
Na falta do que fazer, eu o segui. Queria tanto ir embora...
Eduardo abriu a caixa de isopor com as bebidas, caçando alguma
latinha mais do fundo. Seu amigo havia desaparecido, reparei ao olhar ao
redor.
— Quer saber? Me vê uma dessas. — Apontei para uma cerveja.
— Boa. Vamos até a pista? — perguntou, sorrindo ao me entregar uma
latinha. — O DJ parece ser bacana.
— DJ? — Estranhei. Festa escolar com DJ não era uma coisa
exatamente comum.
— É... Contrataram um DJ para tocar no intervalo da banda —
explicou, colocando uma mão no meu ombro. — Vamos?
Na pista há algum tempo, eu dançava ao som da música eletrônica sem
muito ânimo. Já estava na segunda latinha e nada de me alegrar... Era a
primeira vez que eu bebia e me perguntava como as pessoas gostavam
daquele líquido frio e amargo. Horrível.
— Olha lá... Leonardo está religando os aparelhos. A banda já vai
voltar — Eduardo apontou, gritando no meu ouvido, com o som alto
atrapalhando a conversa.
Assenti com a cabeça, na expectativa de ver Sin subir no palco. Ele
voltaria para a segunda parte do show ou continuaria nos seus amassos dentro
do carro? Dois minutos depois, Marco e Sin subiram no palco, com o garoto
platinado ajustando o pedestal do microfone para a sua altura. Ele iria
cantar?!
— Boa noite — Sua voz rouca ressoou por toda a sala, me arrepiando.
— Diante do desaparecimento do vocalista da Five Stars, vou assumir o
vocal para esta parte do show. Falou.
Me perguntei onde estaria Paolo e, como um raio, a compreensão me
atingiu com tudo, me fazendo sorrir. As peças todas se encaixavam com
perfeição.
O sumiço de Enrico.
O sumiço de Paolo.
A chave do carro de Sin com Enrico.
Boa, Rico!
Meu sorriso cresceu ainda mais quando me dei conta de que,
obviamente, não era Sin se pegando com alguém na SUV. E, quando me
lembrei novamente do que falei com Enrico, que iria beijar o baixista da Five
Stars, as borboletas todas se agitaram no meu estômago.
É hoje! Pensei, decidida. Certamente, me arrependeria depois, mas... O
que mais queria na festa era beijar o garoto que não desocupava os meus
pensamentos, nem por um minuto.
A pista lotou para o show. A atmosfera estava empolgante... As luzes
piscando, o assoalho vibrando com o som alto, o calor humano contagiando a
todos. Porém, o que mais esquentava o meu rosto e disparava o meu coração
eram os olhos azuis de Sin, que de tempos em tempos se voltavam para mim,
me estremecendo inteira.
— Última música, pessoal! Guns N' Roses! Pode começar, Marcão!
Aquela lá! — Sua voz gritou no microfone, me deixando em alerta. Seria
possível...?
Quando Marco passou a dedilhar a guitarra para a introdução, eu já
soube a resposta. Meu Deus do céu...
Meu coração pulou duas batidas ao reconhecer a música que escutamos
no seu carro e que ele sabia que eu gostava. E, para me matar de vez, poderia
jurar que enxerguei os lábios de Sin fazerem as palavras sem som: "Para
você".
Abri um sorriso gigante, me posicionei bem na sua frente e passei a
cantar com ele os primeiros estrofes, com os nossos olhares ligados fazendo
arrepios se espalharem pelo meu corpo como ondas de eletricidade.
She's got a smile that it seems to me
Reminds me of childhood memories
(Ela tem um sorriso que me parece
Lembrar de memórias de infância)
Now and then when I see her face
She takes me away to that special place
(Nas vezes que eu vejo seu rosto
Ela me leva embora para aquele lugar especial)
And if I stare too long
I'd probably break down and cry
(E se eu olhar por muito tempo
Provavelmente vou perder o controle e chorar)
Oh, oh! Sweet child o' mine
Oh, oh! Sweet love of mine
(Oh, oh! Minha doce menina
Oh, oh! Meu doce amor)
Parado atrás de mim, Eduardo falava comigo, mas eu o ignorava, sem
qualquer interesse em desviar a atenção do garoto que cantava olhando para
mim, acelerando mais e mais os meus batimentos.
No final da música, morta de calor, prendi os cabelos em um rabo-de-
cavalo e, de repente, duas mãos firmes agarraram meus braços por trás, com
uma boca beijando minha nuca, me estremecendo de um jeito ruim. Nojo.
Muito nojo.
— Ei! Eduardo! Para com isso! — Tentei me soltar, nervosa, com o
asco me consumindo.
— Não está gostoso assim? — Deslizou a boca pelo meu pescoço, me
lambendo. Suas mãos fortes ainda imobilizavam meus braços, com seus
dedos firmes nos meus cotovelos.
Agoniada, tentei o chutar com a sola do pé, mas ele se desviou, rindo,
sem desgrudar a boca da minha pele. Quase em pânico, espiei ao redor da
pista lotada, mas ninguém parecia notar nada. Ou estavam bêbados demais ou
ocupados demais. Droga.
Capítulo 17

A porta está trancada agora


Mas estará aberta se você for sincero
Se você puder me entender
Então eu poderei entender você

The Unforgiven II | Metallica


Davi Filipo Sintori "Sin"

Assim que encaixei o microfone ao final da música, levei os olhos à


pista e... Que porra?! Pulei como um raio para o chão e corri até eles com o
sangue fervendo, louco do ódio.
— Larga ela, caralho! — Dei um empurrão no ombro do filho da puta e
puxei o cotovelo para trás para lhe virar um soco na cara.
Só que Eduardo foi mais rápido... Jogou Madah para cima de mim e
deu alguns passos desajeitados para trás, com as mãos erguidas em sinal de
rendição. Possesso, eu queria ir para cima dele, mas estava preso no lugar,
com a magrela encolhida junto ao meu corpo, se tremendo toda.
— Ca-calma, cara... Não sabia que não po-podia... — O nerd gaguejou,
se afastando de costas, se embrenhando entre o povo na pista de dança. Não
tirou os olhos assustados de mim, nem por um instante. Covarde
desgraçado...
— Seu filho da puta! — esbravejei, gesticulando com uma mão,
furioso. Meu outro braço estava imobilizado, com Madah enroscada nele, me
apertando como se eu fosse uma boia salva-vidas e ela estivesse prestes a
afundar.
— O que foi, Sin?! — Marco apareceu do meu lado, afobado.
— Marcão, vai atrás dele! Aquele cara de óculos! — falei para o meu
amigo, apontando para Eduardo que se afastava mais e mais, àquela altura
quase deixando a sala. Marco me atendeu sem hesitar. Então me virei para
Madah, para ter a confirmação do que eu já sabia. Eu iria matar aquele
babaca...
— O que ele fez? — Passei a mão pelo seu cabelo bagunçado que caía
sobre o rosto, ajeitando-o atrás da orelha.
— Ele me agarrou. — Ela alcançou a minha mão que estava na sua
orelha, entrelaçando os nossos dedos. Cacete... Sua palma fria e seus olhos
aflitos me desconcertavam.
— Vamos. — Eu a puxei pela mão para fora da pista, mal conseguindo
respirar com as luzes e o gelo seco me deixando ainda mais perturbado.
— Onde? — Ela quis saber, mas não ofereceu resistência ao meu
aperto na sua mão, acompanhando os meus passos sem reclamar.
— Tomar um ar.
Continuei andando até passar pela cozinha e sair pela porta dos fundos,
chegando ao quintal coberto por grama. Apoiei as costas na parede externa da
casa, levando as duas mãos à cabeça, suspirando fundo.
— Obrigada. — Madah se colocou na minha frente. — Ninguém
parecia perceber o que estava acontecendo e... Só você me ajudou — falou e,
inesperadamente, me puxou para um abraço, deitando a bochecha no meu
peito.
Sem reação, retribuí, apreciando o calor do seu corpo miúdo que
parecia se encaixar perfeitamente ao meu. Porra...
— De nada — murmurei com a boca perto do topo da sua cabeça, com
a minha voz quase inaudível.
Nem sei quanto tempo depois ela se afastou e, dando um passo para
trás, esquadrinhou o meu rosto, sem falar nada. Suas feições não estavam
nítidas, por conta da pouca luz que nos cercava, a céu aberto. Ainda assim eu
podia ver os seus olhos brilhantes e sentir o seu perfume delicado, soprado
pelo vento frio que nos abraçava, me arrepiando.
— Davi Filipo, eu quero...
— Sin, estava te procurando! O cara escapou! — Marco surgiu do
nada, cortando a frase, estourando a nossa bolha. — Ela está bem?
— Mais ou menos — respondi, sem tirar os olhos do rosto dela. — Nos
deixe a sós, brother — murmurei, com o coração pulando sem controle.
Marco se foi, entrando de volta na casa.
— Madah... Você quer... — Comecei, mas me perdi naqueles seus
olhos intensos e hesitei por um momento.
De repente, um garoto apareceu na porta da cozinha e passou a vomitar
no chão, esguichando a poucos metros dos nossos pés. Cacete... O clima se
quebrou mais uma vez.
— Vamos mais para lá... Cansei de interrupções. — Eu a puxei na
direção do deck da piscina, vazio. Com o vento gelado, ninguém se atreveria
a ficar naquela área desprotegida.
A cada passo que eu dava, meu estômago se agitava com a expectativa
do que a gente poderia fazer naquele local escuro, a sós. Que se dane que ela
era uma prostituta... Eu a queria mesmo assim. Eu a queria para caralho.
— Droga... — Madah tropeçou e quase caiu, por sorte eu a ergui pela
mão. — Os saltos finos ficam entrando na grama, não consigo andar direito...
— Não seja por isso. — Em um movimento ágil, eu a peguei no colo,
com um braço nas suas costas e o outro sob os seus joelhos. Madah não
pesava nada.
— Ei... Não precisa me carregar! — Sorriu, envolvendo o meu pescoço
com um braço, se ajeitando no meu colo.
— Relaxa. Você não pesa nada, magrela.
Continuei andando até chegar ao deck da piscina, na quase completa
escuridão. Apenas a luz da lua permitia que a gente enxergasse alguma coisa.
Me sentei em uma das espreguiçadeiras e ela continuou no meu colo, de lado.
Quando se mexeu, roçou a bunda no meu volume, me fazendo morder a boca.
— Sin... — Levou as pontas dos dedos ao meu rosto, contornando o
meu maxilar. — Foi impressão minha ou... Você cantou a última música para
mim?
— Não foi impressão sua — confessei.
Seus olhos cintilaram em satisfação e, quando seus dedos delicados
escorregaram do meu rosto para a minha nuca, foi a gota d'água.
Foda-se.
Colei os nossos lábios, enfiando a minha língua na sua boca como
havia fantasiado desde o primeiro dia. Seu gosto era quente, suave,
alucinante. Porra...
Nos beijamos com tanta devoção que saí de órbita, perdendo a noção de
tempo e espaço, com milhares de ondas elétricas se espalhando pelo meu
corpo, repercutindo na minha ereção.
Madah enterrou os dedos nos meus cabelos, me puxando mais para si,
gemendo e se remexendo, em um desespero que só não era maior do que o
meu.
Apertei a sua cintura fina com as duas mãos, em uma pegada firme, a
mantendo parada em cima de mim. Meu pau doía dentro da calça a cada
rebolada que a magrela dava, me enlouquecendo.
— Cacete... — Quebrei o beijo, sem ar, mas ela não se afastou. Desceu
os lábios pelo meu pescoço, me arrepiando ao distribuir beijos molhados por
toda a extensão, de cima a baixo.
— Você é muito gostoso... — Sua mão entrou por baixo da minha
camiseta, alisando o meu abdômen e contornando os meus músculos sem
parar. Arrastei uma mão pela lateral do seu corpo, apreciando os seus
contornos até alcançar o seu colo.
— Sem sutiã, é? — murmurei ao massagear o seu seio por cima do
vestido, circulando o seu bico rígido com o polegar.
— Faz tempo que você não me manda "botar um sutiã"... — Deu risada
e, sem aviso, puxou o vestido para baixo, expondo os seios. Puta que pariu...
— Não prefere assim?
— Prefiro. Mas só para mim... — Em um movimento rápido, inverti as
nossas posições e a deitei na espreguiçadeira, caindo de boca nos seus peitos.
Chupei um e depois o outro, me deliciando com a sua pele macia. Depois
brinquei com o bico, balançando-o com a ponta da língua antes de sugar,
aumentando a pressão aos poucos.
— Minha nossa... Você está me matando... — Ela gemeu, ofegante,
enterrando as mãos nos meus cabelos.
— Posso...? — Pedi a sua autorização, escorregando lentamente uma
mão pela sua coxa. Cheguei à virilha e alisei o elástico da sua calcinha com
as pontas dos dedos. O tecido molhado e quente que cobria a sua boceta não
deixava dúvidas quanto à sua excitação.
— Pode. — Abriu mais as pernas, facilitando o meu acesso. Me
encaixei entre elas e, puxando o elástico da calcinha para o lado, estremeci ao
tocar os seus lábios íntimos com dois dedos.
— Porra, Madah... Molhada demais... — Arfei, patinando com os
dedos na sua lubrificação, para cima e para baixo, a masturbando. Enquanto
isso, suas mãos deslizavam por dentro da minha camiseta nas costas, me
apertando, me arranhando. Seus toques levemente frios contra a minha pele
quente me estremeciam.
— Estou quase... Quase gozando... — Ela se contorceu e voltei a
mamar forte no seu seio, enfiando o meu indicador na sua boceta. Puta que
pariu... Sua musculatura quente me apertou, centímetro a centímetro, fazendo
o meu pau quase explodir dentro da cueca.
— Você é tão justa... Cacete... Como é possível... — Deixei escapar as
palavras, entrando e saindo devagar com o dedo, degustando o calor, a
pressão, o tesão. Era demais...
— Eu sou virgem, babacão. — Ela sorriu, mordendo o lábio, fixando os
olhos nos meus.
Virgem?! Uma prostituta?!
— Não fala merda. Você está bêbada? — Paralisei, com o coração na
garganta, em choque. Ela só podia estar brincando...
— Bebi duas cervejas, mas estou sóbria. Pode acreditar... Eu. Sou.
Virgem.
Não. Não era possível...
Incrédulo, cuidadosamente, girei o meu dedo dentro dela e quase caí
para trás.
Virgem.
Puta merda... Como pude me enganar tanto?!
— Madah... Me desculpa, eu...
— Para de falar, vai... Eu já estava quase gozando... Quero o meu final
feliz.
— Pode deixar. Você vai ter o seu final feliz, linda — respondi e, sem
hesitar, uni os nossos lábios, a beijando e a masturbando no mesmo ritmo,
indo e vindo, com a língua e o dedo em sincronia. Caralho... Perfeita
demais...
Sem parar de tocá-la, quebrei o beijo para a olhar nos olhos e me perdi
com os barulhos das nossas respirações ofegantes e do entra e sai molhado do
meu dedo, impressionado com aquele momento surreal. E, por fim, quando
circulei o seu clítoris, estimulando-o com o polegar, foi tiro e queda.
— SIN! — Madah começou a gozar, com os espasmos a estremecendo
e não tirei o meu dedo de lá, me deleitando com o seu orgasmo. Ela chamou
pelo meu nome... Pelo meu nome.
Não me aguentando mais, enfiei a mão dentro da cueca e, com o meu
pau latejando de tão duro, me masturbei rapidamente e explodi em cinco
segundos, me melando todo. Inacreditável.
Respirei fundo para me recuperar enquanto ela me dava beijinhos
rápidos pelo pescoço, me arrepiando inteiro.
— Davi Filipo... — Ela sorriu quando eu me deitei do seu lado, me
abraçando com o corpo mole.
— Fala, magrela. — Sorri de volta, acariciando o seu rosto.
— Foi o melhor orgasmo da minha vida.
Porra...
Eu não soube o que responder, por isso apenas a puxei para cima de
mim, a apertando contra o meu corpo. Meu coração batia sem controle,
extremamente feliz e absurdamente assustado.
— Madah... — Levantei o seu queixo com a mão. Suas bochechas
coradas a deixavam ainda mais linda. — Eu tenho que me desculpar com
você. Fui muito babaca, porque...
— Não quero falar sobre isso agora. Não quebra o clima, Davi Filipo.
Você é um babaca, sim... Mas um babaca gostoso e habilidoso. Para falar a
verdade... Eu já sabia que seria, desde que te vi no hotel, mas... Superou as
minhas expectativas. Um deus do sexo. — Ela me presenteou com um sorriso
bonito, alisando o meu pescoço.
Sorri de volta, sem me conter...
Eu estava rendido.
Eu estava fodido.
Capítulo 18

Feche os seus olhos e você encontrará


A saída da escuridão
Você vai me enviar um anjo?

Send Me An Angel | Scorpions


Davi Filipo Sintori "Sin"

— Alguém mais já te chamou de deus do sexo? — Madah perguntou,


contornando as tatuagens do meu antebraço com as pontas dos dedos, me
arrepiando.
Deitada em cima de mim na espreguiçadeira, estava com o rosto
enfiado no espaço entre o meu pescoço e o ombro, com a sua respiração
morna batendo na minha pele. Inspirei o perfume quente dos seus cabelos
macios, notando aquele mesmo aroma adocicado que remetia a mel.
Eu estava louco para fumar, mas não me moveria para pegar o maço no
bolso.
Não me moveria por nada.
— "Deus do sexo." Não, só você falou isso. Detalhe... Nem fizemos
sexo. — Dei risada, me dando conta de que estava rindo mais em uma hora
com ela do que o fiz em um ano inteiro. — Você não existe, magrela...
— Davi Filipo... Por que você não podia ser legal assim desde o
primeiro dia?
— É... — Não soube o que falar. Eu não me sentia pronto para falar
sobre os meus fantasmas. Não aqui. Não assim. — É complicado. Está
esfriando, não está? Quer voltar para a festa? — mudei de assunto.
— Não. Estou com preguiça. — Bocejou, cobrindo a boca com a mão.
— Quero continuar aqui. Fica comigo?
— Fico.
Passei a acariciar as suas costas magrinhas, para cima e para baixo,
bem devagar. Madah me imitou, deslizando a mão pelo meu braço, subindo e
descendo. Em um silêncio confortável, ficamos assim nos tocando por
minutos a fio. Aos poucos, percebi seu corpo relaxar, seus movimentos
diminuírem e... Dormiu. Incrível.
— Enrico. Onde você está? — perguntei ao meu irmão, pelo celular,
quase sussurrando para não a acordar.
— Na festa, é lógico. E você? — gritou para se fazer ouvir em meio à
música alta, com a sua voz se misturando à barulheira de fundo.
— Preciso da sua ajuda.
— Espera. Vou sair da sala, está muito barulho... — explicou e,
segundos depois, o ruído de fundo desapareceu. — Pronto. Fala, Sin.
— Leva o carro até a porta de trás da casa? Madah dormiu e vou
carregá-la no colo.
— Dormiu?! Ela está bem?
— Está. Te explico tudo pessoalmente. Manda uma mensagem quando
eu puder sair com ela.
Minutos mais tarde, enquanto Enrico dirigia a minha Ruiva, eu me via
no banco traseiro com a cabeça da magrela no meu colo. Inquieto, contei ao
meu irmão sobre Eduardo e, por alto, sobre o que rolou depois, entre mim e
ela.
"Nós dois ficamos." Ter falado em voz alta deixava tudo ainda mais
assustadoramente real.
— E o Eduardo, hein? Aquele imbecil pensou o quê? Que ficar com
alguém à força era uma boa ideia? — Rico comentou, aborrecido, balançando
a cabeça. — Me sinto culpado. Eu não deveria ter deixado a princesa
sozinha...
— A culpa não é sua — respondi, me esforçando para ignorar o apelido
carinhoso que ele usou para se referir a ela. — Botei o otário para correr, mas
me arrependo de não ter estourado a cara dele antes. Eduardo ainda vai ter o
que merece. Ele que me aguarde...
— Legal da sua parte ter socorrido ela, Sin. Do jeito que você tratava a
menina, pensei que nunca fosse mover um dedo para ajudá-la.
Silêncio.
— Ela é virgem, Rico. — Passei a mão pelo rosto, suspirando.
— Eu sei. Ela me disse.
— Ela me disse também, durante os amassos e... Eu não acreditei. Por
causa daquela minha ideia fixa de que era prostituta. Fui tão babaca! —
Apertei os olhos com o remorso me corroendo.
— Foi mesmo.
Chegando em casa, subi com ela no colo sem qualquer esforço,
apreciando os últimos momentos da nossa noite surreal. Quando a acomodei
na cama, Madah abriu os olhos lentamente, com uma expressão confusa, me
fitando com os olhos pesados de sono.
— Sin...? Onde estamos?
— Em casa. Chegamos da festa. Pode voltar a dormir. — Dei um beijo
na sua testa. — Boa noite.
— Fica comigo? — Pediu e, se arrastando para o lado, abriu espaço
para mim na sua cama.
— Fico.
Era a segunda vez, hoje, que Madah me pedia para ficar com ela. Não
sabia bem como lidar... Só sabia que não podia e não queria negar.
Coloquei o celular na mesinha de cabeceira e tirei os tênis. Depois me
deitei com cuidado e Madah se arrastou para mais perto se enroscando no
meu braço. Minutos depois, adormeci, com o seu calor embalando o meu
sono.

Acordei com a luz do sol batendo na janela e logo reconheci a cama de


Madah. Ela não estava mais comigo. Me sentei e, checando o horário no
celular, descobri que eram mais de dez horas. Milagrosamente bem-
humorado depois de uma noite de sono profundo sem nenhum pesadelo,
percebi que sorria sozinho ao deixar a cama.

A verdade era que Madah me transmitia uma paz absurda... Os seus


dedos nos meus cabelos, na viagem de jatinho, foram o primeiro sinal do seu
dom de me acalmar. Como um anjo com o poder de me resgatar da escuridão.
Intrigado, eu me perguntava o porquê. Talvez...
Talvez fosse porque ela representava o completo oposto da pessoa que
havia fodido com a minha vida.
Madah tinha a presença suave, o corpo miúdo, os gestos acolhedores, o
olhar tranquilo, o sorriso doce. Tudo se contrapunha. Tudo. Quem ocupava os
meus pesadelos tinha a presença forçada, o corpo avantajado, os gestos rudes,
o olhar ferino, o sorriso venenoso.
E, apesar das minhas tentativas falhas de negar o óbvio, a realidade era
que eu desejava a garota desde o primeiro maldito dia. A única barreira que
me segurava era a ideia equivocada de que fosse uma prostituta. Portanto,
agora, nada mais me prendia.
Eu iria para cima. Eu a queria. Ela seria minha.
Como não querer...?! A nossa química era incrível! Madah me
desmontou inteiro com os lábios no meu pescoço, os toques no meu
abdômen, os gemidos na minha boca, o orgasmo nos meus dedos.
"Foi o melhor orgasmo da minha vida", sua voz ofegante me veio à
mente. Porra... Com as lembranças ainda frescas me deixando tarado, fui para
o meu quarto e tomei uma ducha fria, me aliviando. Depois, me troquei e
desci.
Assim que entrei na cozinha, eu a vi de costas, sentada junto ao balcão
tomando café com Enrico. Os dois riam de alguma coisa, descontraídos. E,
quando o meu irmão bagunçou o cabelo dela, gargalhando, não pude deixar
de sentir uma pontada de ciúmes por testemunhar a intimidade entre eles.
— Bom dia — falei e Madah se virou com tudo. Seu sorriso morreu
quando me viu, fazendo o meu coração gelar.
Cacete... O que eu fiz agora?!
Tentei ignorar a insegurança e me aproximei dela, encostando
delicadamente na sua cintura. Seus olhos se desviaram dos meus e seu corpo
se enrijeceu sob o meu toque, desconfortável.
— Bom dia, pirralho. Eu já estava de saída... — Enrico percebeu o
clima estranho e fugiu, nos deixando a sós. Ela também se levantou, se
afastando de mim, levando seu prato vazio à pia com as mãos levemente
trêmulas, nervosa.
— Madah... Olha para mim. — Eu a chamei e ela me atendeu. Meu
estômago se revirou diante da expressão dura no seu rosto. — Está tudo bem
com você?
— Está, sim. Obrigada — balbuciou com a apreensão palpável.
Merda...
— Que bom... — Tenso, me forcei a abrir um sorriso, que ela não
correspondeu. — Acordei e não te vi na cama. Ontem você me pediu para
ficar no seu quarto e...
— Sobre ontem — falou, me interrompendo. — Vamos deixar para lá,
ok? Esquecer.
Puta que pariu...
— Por quê?! — Foi a única coisa que consegui perguntar, com o
coração pulando na garganta, me sufocando.
— Porque eu me deixei levar pelo calor do momento e... Hoje pensei
melhor. Não foi uma boa ideia a gente ficar... Foi um erro.
Capítulo 19

Não acho que me encaixo nesta festa


Todo mundo tem tanta coisa a dizer
Sempre me sinto como
Se eu fosse um ninguém

I Don't Care | Ed Sheeran feat. Justin Bieber


Enrico Lorenzo Sintori "Rico"

Nunca gostei de ir a festas.


Não me encaixava, não me divertia, não suportava o som alto e as
pessoas bêbadas. Preferia mil vezes ficar em casa, entretido com livros e
Netflix. Sim, eu nasci velho.
Contudo, mais cedo, quando Sin mencionou a banda, por impulso
decidi vir. Eu queria e, ao mesmo tempo, não queria ver Paolo. O garoto me
despertava sentimentos intensos demais, os quais eu preferia evitar. Covarde
para cacete.
Quase fugi da pista durante a apresentação da Five Stars, com meu
coração palpitando a cada vez que o vocalista fixava os olhos em mim,
sorrindo. Paolo sabia como me provocar, sempre soube. A porcaria era que
eu ficava travado — apavorado — quando ele agia assim, de forma nada
sutil.
Paolo Fontini. Ele mexia comigo desde o começo da adolescência. Tio
Giuliano, o pai dele e de Marco, sempre viajou bastante e os meninos viviam
em casa. Tia Anna, a mãe, doente há mais de quinze anos, nunca teve saúde
para cuidar dos filhos.
Agora que estavam adultos, com a mãe morando em uma clínica,
quando o tio Giuliano viajava os garotos Fontini ficavam sozinhos na casa
deles, tranquilos e felizes. Felizes até demais, pelos comentários dos meus
irmãos. As orgias que organizavam davam o que falar. Os olhos claros e os
cabelos cacheados lhe davam um ar angelical, mas eu sabia bem como o
garoto era terrível...
Paolo era o meu oposto. Confiante, livre, "pegador", desinibido, alegre.
Como vocalista da banda, apresentava-se esbanjando tranquilidade,
segurança, felicidade. Sua energia era contagiante, todo mundo a sentia a
cada show.
Eu fantasiava com ele há tanto tempo que ficava com a impressão de
que nunca seria real. Amor platônico, puro e simples. Queria ter a coragem de
tomar alguma iniciativa, mas quase entrava em pânico só em pensar na ideia.
Enfim, eu estava ferrado.

Assim que terminou o show, antes de descer do palco, Paolo sinalizou


com o microfone que queria falar comigo, gelando meu estômago. Continuei
na pista com Madah e, de repente, eu o vi se aproximar da gente.
— Rico, preciso ir ao banheiro. — A princesa piscou para mim,
afastando-se propositalmente para nos deixar a sós.
— Ora, ora... Enrico Lorenzo Sintori, em carne, osso e timidez, em uma
festa escolar? Como se sente em um habitat estranho, cara? — Sorriu,
estendendo a mão na minha direção.
— Tudo bem, Paolo? — Sorri de volta e fui apertar a sua mão, mas ele
me puxou para um abraço.
— Melhor agora. — Jogou seu charme barato perto do meu ouvido, me
arrepiando inteiro. — Faz tempo que não nos vemos. Saudades de ti.
Seu perfume masculino despretensioso, provavelmente de desodorante,
invadiu os meus sentidos. Paolo não devia usar perfume, colônia pós barba,
nada. Ele era despojado e seguro demais para perder tempo com isso.
— Faz tempo, né? — comentei sem graça, coçando a nuca.
— Demais! Vem comigo, vamos conversar enquanto termino de
guardar as coisas da banda. — Fez um sinal para que eu o seguisse e fomos
até a parte de trás do palco.
O local era como um corredor ladeado por pesadas cortinas pretas. Me
sentei em uma das cadeiras encostadas na parede enquanto ele guardava uma
porção de acessórios em uma grande maleta, agachado.
— Com quem você veio? — Levantou a cabeça para me olhar, com as
mechas do cabelo bagunçado caindo sobre os olhos.
— Com meu irmão e uma amiga. — Mordi o lábio, nervoso por
estarmos a sós.
— Hum, amiga? Que amiga? Aquela que estava vendo o show com
você?
— Isso. Madeleine. A gente a chama de Madah. É uma hóspede que
está lá em casa. — Dei de ombros, não sabendo como explicar melhor.
— Já pegou? — perguntou. Direto, como sempre. Ficou em pé e deu
alguns passos na minha direção, com as mãos enfiadas nos bolsos da frente
do jeans, atento.
— Já — respondi a verdade, com o coração batendo forte por causa da
sua aproximação.
— Mais de uma vez? — Paolo se sentou na cadeira do meu lado, com
os olhos fixos em mim. Balancei a cabeça em sinal positivo. — Fiquei com
ciúmes, cara... — Abriu um sorriso bonito que agitou meu estômago. — Até
ontem você nem sabia o que queria. Se é que me entende...
Apoiou a mão no meu joelho, me deixando em alerta. Não soube nem o
que falar. Seu toque me desconcertava, roubando a voz da minha garganta e o
ar dos pulmões.
— Não me diga que descobriu que é hétero... — murmurou, deslizando
devagar a mão pela minha coxa, disparando ainda mais meu coração. —
Assim como no teatro, a vida é um palco infinito de experiências e sensações.
Não se limite, Rico. Seja como eu.
— Você? O que você é? — balbuciei, nervoso.
— Sou uma alma livre. E você? — questionou, contornando meu
queixo com o polegar. Congelei.
— Não sei. Só experimentei uma ou outra coisa com Madah e... —
Cobri sua outra mão com a minha, impedindo que chegasse à minha virilha.
— Posso te ajudar. Mostrar outras experiências... Ensinar algumas
coisas... Assim você pode comparar as vivências... — Aproximou-se mais,
inclinando o corpo na minha direção. Levou uma mão ao meu pescoço,
acariciando-o. Seu toque era quente como lava. — Quer?
Respirei fundo, tomando coragem. Pisquei devagar e, quando reabri os
olhos, vi que Paolo estava com o rosto a centímetros do meu, apenas
aguardando o meu ok.
Sorria de lado, confiante como sempre. Já sabia que eu estava nas suas
mãos, mas sadicamente queria me obrigar a falar o óbvio. Me agarrei ao fio
de coragem que me trouxe até aqui e, morto de medo, abri a boca para lhe dar
a resposta, com a língua pesada como chumbo.
— Quero.
E, antes que eu pudesse processar qualquer reação, sua boca estava na
minha. Cacete... Finalmente!
Revirei os olhos dentro das pálpebras fechadas, extasiado com a
sensação dos seus lábios se esfregando contra os meus, da sua língua
explorando o interior da minha boca, lentamente, centímetro a centímetro.
Surreal... Eram anos de desejo reprimido explodindo como uma enxurrada
em um único beijo.
Eu o arrastei para o meu colo e Paolo quebrou o beijo para arrancar a
minha camiseta e, depois, levou as mãos ao meu peito, com os lábios
sugando a pele do meu pescoço, me arrepiando.
— Rico... — murmurou perto da minha orelha. — Sempre me
perguntei qual seria o seu gosto. É bom para caralho...
Enquanto me beijava no pescoço sem parar, enfiei as mãos por baixo da
sua camiseta nas costas, me deliciando com a sua pele quente e macia, úmida
de suor. Minha ereção latejava dentro da calça, dolorida.
— Quero te chupar. Se levanta — falou do nada.
Arregalei os olhos. Mas já?!
— Qual é o problema? — Ele riu diante da minha hesitação. —
Primeira lição da noite: Nunca recuse um boquete.
Dei risada e, me levantando, encostei as costas na parede, ansioso.
Paolo se ajoelhou na minha frente e, abrindo o meu zíper, desceu a minha
cueca com uma agilidade impressionante.
Sorrindo com os olhos fixos no meu rosto, deslizou a mão por toda a
extensão do meu pau, indo e vindo, me fazendo morder o lábio.
— Esse pau é virgem? — perguntou, sem desviar o olhar. Fiz que sim
com a cabeça enquanto ele me masturbava devagar.
— Alguém já chupou?
Fiz que não, sem conseguir responder com palavras.
— E você já chupou algum pau?
De novo, fiz que não, arrancando um sorriso malicioso dos seus lábios.
— Então olha bem... E aprende.
Com a ponta da língua, circulou a minha glande, me fazendo ver
estrelas. Puxei forte o ar, pousando as mãos nos seus cabelos macios, quase
me desequilibrando. E, quando esfregou a língua aberta por toda a ereção, um
choque absurdo percorreu a minha coluna.
— Ah... Paolo...
Apertei os olhos quando ele finalmente passou a me chupar, em um
ritmo cadenciado, preciso. Perfeito. Nunca havia sentido tanto prazer, em
toda a minha vida. Um ou dois minutos depois percebi a pressão aumentar,
com o meu pau vibrando de leve com a ejaculação iminente.
— Vou gozar... — Ofeguei e ele intensificou os movimentos com a
boca, passando a massagear as minhas bolas com a mão, amolecendo os
meus joelhos. — Cacete!
Explodi com o orgasmo, percebendo os meus jatos se espalharem
dentro da sua boca, fortes. Paolo recebeu tudo sem engasgar, denotando
experiência na área. Quase senti ciúmes ao imaginá-lo com outros garotos.
Ainda de joelhos, Paolo olhou para mim, sorrindo com os lábios
inchados e puxei a sua cabeça contra o meu abdômen, não querendo que se
afastasse tão cedo.
— Isso foi... Incrível. Nem sei definir — murmurei, entorpecido. — O
que você achou?
— Que o seu pau é delicioso como você, Rico. — Ele riu e, se
levantando, beijou o meu maxilar. — Vamos para a próxima lição?
— Aqui? A gente está se arriscando demais... E se aparecer alguém? —
Desci as mãos pelas suas costas, sem conseguir parar de tocar nele.
— Veio de carro?
— Estou com o do meu irmão. — Puxei a chave da SUV do bolso.
— Vamos. Não vejo a hora de brincar no carro do Sin... Vai ter porra
até no teto. — Gargalhou com espontaneidade, com os olhos brilhantes.
— Ele te mata. Sin é maluco por aquele carro. A Ruiva vive
impecável...
— Estou brincando. Prometo tomar cuidado. Vou pegar a minha
mochila.

Paolo parecia uma criança curiosa, xeretando todos os cantos do carro


do meu irmão. Abriu os compartimentos um a um e riu com as milhares de
camisinhas que caíram de um deles. Nervoso, não contive um sorriso e
balancei a cabeça. Ainda não acreditava que estava acontecendo.
— Vou ligar o rádio — avisou, mexendo nos botões. Uma música
aleatória passou a tocar deixando o clima mais leve. — Vem para cá...
Pulou para o banco de trás do carro e o segui. Aproveitamos o
insulfilme dos vidros para tirar as nossas roupas. Paolo pegou uma toalha na
mochila e forrou todo o banco.
— Sério que você é virgem, Rico? Não acredito, cara... Com vinte
anos? Pensa em quantos anos de putaria perdeu... — Ele riu, sentado do meu
lado sobre a toalha.
— Virgem total — confessei. — Até a semana passada inclusive eu era
“BV”.
Não me segurei o desci os olhos para o meio das suas pernas,
enxergando o seu membro "meia vida" como o meu. Fiquei com vontade de
encostar nele, mas senti vergonha.
— Pega nele. Eu sei que você quer. — Puxou a minha mão e colocou
ali. Ele era quente, macio e cheio de veias. E, quando escorreguei os dedos ao
longo da extensão, pulsou sob o meu toque. Passei a masturbá-lo devagar,
inseguro.
Do nada, começou a tocar "I don't care", com Justin Bieber e Ed
Sheeran, uma das "mais pedidas do momento", nas palavras do radialista. A
letra era sugestiva...
Don't think I fit in at this party
(Não acho que eu me encaixo nessa festa)
I always feel like I'm nobody
(Eu sempre sinto que não sou ninguém)
Who wants to fit in anyway?
(Quem quer se encaixar, de qualquer maneira?)
'Cause I don't care when I'm with my baby
(Porque eu não me importo quando estou com meu bebê)
All the bad things disappear
(Todas as coisas ruins desaparecem)
— Nem acredito que hoje você me deu abertura. Até que enfim... —
Ele falou, me olhando com os olhos pesados de desejo. — Tenho tesão por
você desde os doze anos, cara... — Mordeu o lábio, apertando os olhos assim
que acelerei os movimentos.
Dei um sorriso tão largo por causa das suas palavras que até fiquei
constrangido. Ainda bem que ele não viu... Paolo manteve os olhos fechados,
nitidamente apreciando a punheta. Afinal, se havia algo que eu sabia fazer
bem era bater uma punheta. Anos de masturbação solitária me ensinaram
alguma coisa.
Sorri ao vê-lo se entregando, mexendo os quadris, fora de si.
— Espera. Ainda não... — Colocou uma mão sobre a minha,
escorregando o corpo até se deitar no banco, de barriga para cima. — Quero
durar mais. Me beija?
— Uhum. — Subi por cima dele e colei os nossos lábios. Paolo
deslizou as mãos pelas minhas costas úmidas, apertando e abrindo as minhas
nádegas com os dedos cravados na minha carne.
— Seu cuzinho é território inexplorado? — perguntou com os lábios
roçando nos meus, circulando o meu ânus com o indicador. Me arrepiei com
o seu toque bem ali.
— É...
— Então fica para outro dia, uma coisa de cada vez. E preciso te
ensinar a fazer “chuca”... Depois te explico. Eu fiz hoje... Com esperança de
me divertir.
— E está se divertindo? — Voltei a masturbá-lo enquanto ele rodeava o
meu ânus com os dedos, sem me penetrar.
— Além das expectativas, cara... — respondeu ofegante. — Enfia um
dedo em mim? Quero gozar assim... Antes de meter é bom lamber para
lubrificar.
Meu pau pulsou com o pedido e, sem hesitar, eu o obedeci direitinho.
Assim que empurrei nele a ponta do meu indicador molhado de saliva,
estremeci de tesão. Fui entrando mais, seguindo os seus comandos, com a
outra mão o masturbando sem parar.
— Enfia... Isso... Porra, Rico... Agora gira... Assim... Puta merda, vou
gozar...
E, estremecendo sob mim, Paolo gozou na minha mão, com os seus
jatos quentes escorrendo entre os meus dedos, sujando a toalha abaixo de nós.
— Espera... Deixa o dedo no meu cu... — Sussurrou, se remexendo
com o orgasmo longo, apertando os olhos. — Cacete, Rico... Animal...
Pronto. Vem cá...
Me puxou para um beijo lento e profundo, com o corpo todo mole. Vi
os vidros embaçados e dei risada, ainda incrédulo com tudo aquilo. Em
seguida, me deitei do seu lado, nos esmagando para ninguém cair do banco,
com os corpos suados tão grudados que quase se fundiam em um só.

Saímos do carro como se nada tivesse acontecido. Como se eu não


tivesse vivido a maior e a melhor experiência sexual da minha vida. Mas...
Bem lá no fundo, algo me incomodava.
— Paolo. Se puder deixar isso aqui entre nós... — Pedi, temendo a
reação dos nossos irmãos.
— Eu sabia que me pediria isso, seu viado enrustido do caralho... —
Ele riu, despreocupado, bagunçando os cabelos. — Não ligo. Desde que a
gente passe a se encontrar sempre que der. Certo? Vou te mandar uma
mensagem amanhã.
— Certo. — Sorri, feliz.
Logo que entramos na casa meu celular vibrou, era Sin. Me afastei de
Paolo, que piscou discretamente para mim antes de se jogar no sofá ao lado
do irmão, abrindo uma cerveja.
— Enrico. Onde você está? — O pirralho quis saber e, minutos depois,
eu o busquei, com Madah dormindo em seu colo.
Sin tinha ficado com ela, o que era absurdamente surpreendente mas,
ao mesmo tempo, não. Era errado. Porém um errado que parecia tão certo...
Assim como eu com Paolo.
Capítulo 20

Nós nunca perdemos o controle


Você está cara a cara
Com o homem que vendeu o mundo

The Man Who Sold The World | Nirvana


Madeleine Laurent "Madah"

— Um erro por quê, caralho?! Che cavolo! — A voz alterada de Sin me


fez estremecer.
Seu olhar vulnerável e seu perfume quente de sabonete me atraíam
tanto que mal conseguia me lembrar dos meus argumentos, do porquê não
poderia simplesmente me sentir feliz por termos ficado ontem.
— Vamos conversar em outro lugar. — Passei por ele, caminhando
para ganhar tempo para me recompor.
Ele veio logo atrás, com uma energia furiosa exalando na minha
direção. Eu não sabia nem para onde ir, não queria levá-lo para o meu quarto
por motivos óbvios. Por isso segui sem rumo, passando pela sala, tentando
encontrar um lugar adequado. Quando vi as portas duplas da pequena
biblioteca, parei de andar e respirei fundo. O plano era conversar com
privacidade e sem nenhuma cama por perto. Lá poderia dar certo.
Abri a porta e entramos na pequena saleta repleta de estantes de livros,
do chão ao teto em duas das paredes, uma em frente à outra. Na parede do
fundo, havia um janelão de vidro emoldurado por duas poltronas de couro.
Suando frio, me sentei em uma das poltronas e apoiei as mãos úmidas
nos joelhos, mexendo os dedos, inquieta. Sin fechou a porta atrás de si e se
acomodou em outra, mantendo uma postura rígida, nada amistosa.
— Sou todo ouvidos. — Cruzou os braços tatuados sobre o peito, na
defensiva.
— Eu... — As palavras me fugiram. Como começar...?! Droga.
— Já sei. Está achando que agi de caso pensado? Aquele babaca do
Eduardo te agarrou e... Eu não planejei nada daquilo! Escuta...
— Não. Me deixa falar. — Resolvi tentar tomar as rédeas da conversa
tensa. — Em primeiro lugar, agradeço que tenha me ajudado com o Eduardo.
Aquilo foi inesperado e... Muito legal da sua parte.
— Então... Qual é o problema? — Bagunçou o cabelo, agoniado. —
Por que está me cortando?
— O problema é que você passou a semana inteira me humilhando, me
maltratando, me chamando de puta em todas as oportunidades. Tudo isso por
ter concluído sozinho que eu era uma prostituta e que tinha me deitado com
Domenico e... Quer saber? Ainda que eu fosse uma garota de
programa... Nada justificaria o modo extremamente desrespeitoso como você
me tratou. Eu me senti um lixo! Por sua causa!
Sin ficou pálido com as minhas palavras. Completamente mudo,
esfregou os olhos e jogou a cabeça para trás, apoiando a nuca no encosto da
poltrona. Enquanto isso eu controlava a respiração para tentar me acalmar,
me esforçando para segurar as lágrimas que subiam pela minha garganta
querendo escapar pelos olhos.
Não vou chorar, não vou chorar, repetia mentalmente, mil vezes.
Meu coração batia tão descontrolado dentro do peito que temia passar
mal. Eu era campeã em desmaiar quando estava sob estresse, como no dia em
que Domenico contou da morte da minha mãe, na sala de massagem do hotel.
Detestava quando isso acontecia, principalmente porque me machucava toda
com a queda, ficando com vários roxos pelo corpo.
De repente, sua voz rouca quebrou o silêncio, falando o inesperado.
— Tem razão, Madah. Agi como um completo babaca, e sinto muito.
Peço perdão. — Passou as mãos pelo cabelo platinado, suspirando. — O
arrependimento, a culpa e o remorso estão me matando. Você não faz ideia.
Porra... Sou mesmo um imbecil.
Minha nossa... Um pedido de perdão, assim, não estava no script.
Fiquei sem reação. E, quando me fitou com os olhos azuis cheios de dor,
eu quase joguei todo o meu orgulho e amor próprio para o alto e pulei em
cima dele, beijando a sua boca. Mas, por sorte, o meu lado racional deu sinal
de vida e trouxe à tona todas as humilhações dos últimos dias. Sin havia
caprichado na crueldade... Foi pancada atrás de pancada.
No avião, depois que adormeceu no meu ombro e acariciei a sua
cabeça, me repeliu. "Não toque em mim." "Tenho nojo de gente como você."
No sábado, quando fui pegar a pipoca na cozinha, me constrangeu na
frente de Luca e Marco. "A festa já vai começar, caralho, vai se trocar. E vê
se bota um sutiã."
Depois, quando me viu no quarto com Enrico, me esculachou. "Meu
pai não beija puta." "Vai se foder."
E tantas outras situações de deboche, escárnio, grosseria,
ódio. Gratuitos.
As lembranças ainda estavam tão frescas... A mesma voz rouca que no
presente tentava me amolecer foi a que me feriu e me magoou de modo
visceral poucos dias atrás. Como confiar nele agora? Impossível. Ninguém
mudava assim, da noite para o dia!
Não posso confiar nele, não posso confiar nele.
— Eu fui tão estúpido... — Sin voltou a falar do nada, com um ar
cansado. — E, quando percebi que você era virgem, minha cabeça quase deu
um tilt... Caralho, Madah... Virgem?! Como era possível?! Há pouco tempo,
conversei com o meu pai. Domenico falou sobre as massagens e os "serviços
opcionais" e que não rolou nada entre vocês. Mas entendi que você fazia de
tudo com os clientes e...
— Ele te contou sobre as massagens...?! — Quase engasguei,
extremamente constrangida. — Em vez de falar com ele pelas minhas costas,
você poderia ter me perguntado! Como os seus dois irmãos fizeram! Eu teria
te falado, droga!
Me levantei, prestes a explodir em lágrimas. As imagens de tudo o que
fazia com os clientes invadiram a minha mente, fazendo o meu estômago se
embrulhar.
— Eu sei, eu sei. — Ele se aproximou, fazendo menção de tocar na
minha mão, mas cruzei os braços, evitando o seu toque.
— Quer saber, Davi Filipo? Não importa mais. Estou achando que você
só mudou comigo porque pôde comprovar a minha virgindade. Eu senti você
mexendo o dedo dentro de mim. E a ideia de você ter mudado por causa disso
é perturbadora... Como se a virgindade me desse outro peso, outro valor, me
fizesse digna do seu respeito.
— Madah, não é nada disso, eu...
— Espera. Não terminei. — Fiz um sinal com a mão espalmada no ar
para que ele aguardasse. — Não quero que me respeite por causa do rótulo
inútil de “menina virgem”. E mais... Aposto que, na sua cabeça machista,
tirar uma virgindade é um troféu. Moleza para você, certo? Só que comigo
não vai rolar. Como falei na cozinha, não foi uma boa ideia a gente ficar, foi
um erro. Já tomei a minha decisão. Não quero mais nada com você.
— Calma... Você está viajando! Madah... — Apertou as têmporas,
aflito. — Presta atenção. E a química que rola entre a gente, porra?! Isso aqui,
oh... — Balançou a mão entre os nossos corpos, desesperado. — É desde o
primeiro maldito dia!
— Não importa... Não seria saudável. — Fugi para mais perto da
janela, lhe dando as costas.
Não posso confiar nele, não posso confiar nele.
— Não seja tão orgulhosa. Me dá uma chance... Por favor.
Não consegui me virar para vê-lo, nem pude elaborar uma resposta.
Escutei os seus passos na direção da porta, se afastando de mim.
— Não vou pedir de novo — avisou com a voz baixa.
Me virei para ele e encontrei o seu olhar duro, já com uma mão na
maçaneta, abrindo a porta.
— É bom mesmo que não peça... — murmurei, tremendo da cabeça aos
pés.
— Você fez a sua escolha. Desisto.
Não tive coragem de olhar nos seus olhos. Em seguida, tremi com o
estrondo da porta se batendo. Sin se foi. Era melhor assim.
Capítulo 21

Como flores falsas não perfumam


Todas as frases que você me diz
São inúteis

Sale | Benji & Fede


Madeleine Laurent "Madah"

Antes do almoço, Enrico me convidou para a piscina. Quase desisti


quando vi Bárbara já deitada em uma espreguiçadeira, tomando sol ao lado
de Domenico. Escolhi uma do lado oposto, o mais longe possível, passei
protetor e me estiquei como uma lagartixa, determinada a pegar um bronze.
Deitado do meu lado, Rico me contava com empolgação da sua noite
com Paolo. Eu estava achando maravilhosa toda aquela sua tagarelice. Além
de ficar feliz por ele, eu me distraía, assim conseguia não pensar o tempo
todo em um certo garoto tatuado.
Enrico falava e falava, sem soltar o celular da mão. Era cômico vê-lo
checar o WhatsApp de um em um minuto, à espera da mensagem que
o crush havia ficado de mandar.
— Queria conhecê-lo — falei, com os olhos fechados. — Paolo parece
ser divertido, legal... Ao contrário do irmão idiota.
— Ah, sim... Apesar de irmãos, ele e Marco são bem diferentes. Como
eu e meus irmãos.
Marco não me descia depois daquele encontro na cozinha, quando me
olhou com desdém, perguntando: "Essa que é a nova 'aquisição' do tio
Domenico?" Babaca.
— É verdade... — comentei, me virando de bruços para tomar sol nas
costas.
— Madah! Olha isso! Pelo jeito você irá conhecê-lo... Paolo mandou
uma mensagem chamando a gente para o ensaio da banda, na casa dele, hoje
no final do dia!
— Ensaio da banda? — perguntei insegura. Não sabia se seria uma
boa... Eu e o baixista da Five Stars estávamos em um clima no mínimo
esquisito.
Nisso, escutei o barulho de alguém pular na piscina. Me segurei para
não olhar. Mesmo sem abrir os olhos, eu sabia que era ele.
Todas as células do meu corpo gritavam que era ele.
Segundos depois senti um gotejar de água gelada nas costas. Pega de
surpresa, girei a cabeça sem pensar e quase me engasguei com o que vi. Sin
estava todo molhado, me fitando com aqueles olhos azuis de encharcar a
calcinha. Ou o biquíni, no caso.
— Pensei melhor, magrela. Não vou desistir.
Sua voz rouca estremeceu todas as partes do meu corpo. Me sentei,
com as costas apoiadas no encosto da espreguiçadeira e colei os joelhos no
peito, os abraçando.
— Por quê...? — balbuciei.
Pela visão periférica, percebi Enrico se afastando para nos dar
privacidade. Não saberia dizer se achei bom ou ruim. Sorrindo, Sin se sentou
na minha espreguiçadeira junto dos meus pés, molhando-os com os seus
shorts que pingavam água da piscina. Minha pele, quente do sol, se arrepiou
com o contato gelado.
— Porque, Madah... Depois de te provar uma vez, é impossível não te
querer de novo. — Bagunçou os cabelos úmidos, espirrando gotículas nas
minhas pernas. — É foda... Não sei que porra está acontecendo, mas você
não sai da minha cabeça.
Incrédula, pisquei os olhos, com sentimentos conflitantes se debatendo
dentro de mim. Por um lado, estava feliz em saber que talvez fosse verdadeiro
o seu interesse. Por outro, morria de medo de ter o meu coração partido. Sin
não me parecia exatamente confiável.
"Você não sai da minha cabeça." Quantas garotas já haviam se iludido
com esta sua frase clichê? Apertei com mais força os joelhos contra o meu
corpo, na defensiva, com o coração batendo sem controle.
— Eu... Não confio em você. — Tentei soar firme.
— Vou conquistar a sua confiança.
— Difícil... — Mordi a bochecha, entregando o meu nervosismo.
— Não sou homem de desistir fácil.
— Você vai se cansar...
— Mas no final vai valer a pena. — Sorriu com uma certeza tranquila,
passando a ponta da língua pelos lábios. Me perdi olhando a sua boca bem
desenhada. — Pode anotar, magrela. Você vai ser minha.
— Convencido! — Balancei a cabeça, achando graça da sua
prepotência. A autoestima dele era gigante...
— Convencido, não. Realista. Nossa química é foda. É um pecado não
ficarmos juntos. — Afirmou, se arrastando para mais perto, com os quadris
quase encostados em mim.
— Pecado? — perguntei retoricamente, atordoada com a nossa
proximidade. Mal conseguia raciocinar com aqueles olhos azuis me fitando
com tanta intensidade. Sua atitude extremamente segura e incisiva me
desconcertava.
— Pecado. O próprio. — Ergueu a mão, rindo. — Literalmente.
Não me aguentei e sorri com o trocadilho bobo com o seu apelido.
"Sin" em português significava "pecado."
— Tá. Nada do que eu diga vai te fazer me deixar em paz? — Cocei a
nuca, me sentindo inquieta.
— Não. Podemos continuar discutindo o assunto por horas... — Apoiou
a bochecha na mão, em uma pose relaxada, nitidamente se divertindo. Não
pude evitar descer os olhos pelo seu antebraço tatuado cheio de veias
saltadas. — Eu sei que você gosta das minhas tatuagens. Pode olhar. Ou
tocar. Ou beijar. Você entendeu. Sou seu.
Meu Deus... Enrubesci com as suas palavras que repercutiram com tudo
na minha intimidade.
— Tchau! Me deixa tomar sol! — falei, empurrando-o levemente com
os pés.
— Eu vou. Mas eu volto. — Beliscou de leve o meu pé e levantou-se.
Pulou na piscina, afundando o corpo inteiro.
Luca saltou por cima dele, rindo, e os dois ficaram brincando e se
provocando como crianças felizes. Hipnotizada, fiquei observando o garoto
de cabelo platinado. As gotas de água passeavam pelo rosto bonito, pescoço,
ombros e... Sin era perfeição em forma de garoto. Eu poderia observá-lo por
horas.
Capítulo 22

Se eu não disser isso agora


Certamente enlouquecerei
Seja minha garota, eu cuidarei de você

Look After You | The Fray


Madeleine Laurent "Madah"

Depois da piscina, subi para tomar banho. Ao entrar no quarto,


pendurei a bolsa de piscina no gancho ao lado do espelho e, quando a porta se
abriu com tudo atrás de mim, dei um pulo, espantada.
— Posso entrar? — Sin perguntou depois de entrar, rindo por ter me
assustado.
— Não faça mais isso. — Mantive a mão sobre o peito, sentindo os
batimentos acelerados contra a minha palma. — A regra é bater antes de
entrar.
— E que graça tem em sempre seguir regras? — Sorriu de lado,
fechando a porta e enfiando as mãos nos bolsos da bermuda de piscina.
— Tá. Fala de uma vez. O que faz aqui? — Cruzei os braços sobre o
peito, tentando não sorrir.
Queria conseguir ser mais durona, porém ele me desmontava inteira
apenas por me encarar. Não precisava nem me tocar.
— O que faço aqui, onde? — Girou o indicador no ar, com um brilho
divertido no olhar. — Nesta casa? Eu moro aqui.
— O que faz aqui, na minha frente. — Revirei os olhos, sorrindo sem
me conter.
— Queria te ver mais uma vez, magrela. Vou dar uma saída e não sei
que horas volto.
Não vou negar o quentinho que sentia toda vez que ele me chamava
assim, carinhosamente. "Magrela."
— Já viu. Pronto. — Dei uma voltinha rápida, sorrindo. Ainda vestia a
saída de praia por cima do biquíni. — Se é só isso, já pode ir.
— Gostei da voltinha. Por enquanto é só isso mesmo. Tchau. —
Colocou a mão na maçaneta, abrindo a porta. — Ah, mais uma informação.
Sei ser paciente.
— Sabe mesmo?
— Positivo. Tenho paciência gravada na pele. — Esticou os dedos
tatuados da mão, mostrando-os para mim.
Imediatamente, lembrei do dia em que reparei na tatuagem. Como
esquecer? Foi no domingo anterior, quando eu havia o flagrado sem camisa
com o violão em mãos, cantando "Patience", com sua voz rouca arrepiando
todos os pelinhos dos meus braços.
As letras grandes em preto nos dedos da mão se destacavam na pele
clara. PATIENCE. Dedos grandes e habilidosos, que já tocaram na minha...
Ai, não podia pensar nisso agora!
— Que cara é essa? — Mordeu o lábio, semicerrando os olhos para me
analisar melhor. — Está olhando de uma forma esquisita para os meus
dedos... — Passou a se aproximar devagar. O brilho diferente no seu olhar me
roubava o ar dos pulmões. — No que está pensando, hein? — Mexeu dois
dedos no ar e me segurei para não esfregar uma coxa contra a outra.
— Em nada — respondi rápido, sem conseguir me mover. Ele estava a
cada segundo mais próximo de mim e...
— Tchau, de novo — murmurou e, sem aviso, deu um beijo rápido no
meu rosto.
Depois, não se afastou. Ficou me fitando por intermináveis segundos,
em silêncio. Apertei meus lábios um contra o outro, morrendo com a sua
proximidade. Seu cheiro de cloro e suor invadia as minhas narinas,
amolecendo meus joelhos.
E, quando sua mão subiu pelo meu pescoço, pensei que seria beijada na
boca. Prendi a respiração em antecipação. Porém Sin agarrou meus cabelos
perto da nuca e sussurrou um pedacinho da música com os lábios roçando no
meu ouvido.
If I can't have you right now, I'll wait dear... Patience...
(Se eu não posso ter você agora, vou esperar querida... Paciência...)
Apertei os olhos, toda arrepiada. Assim que os reabri sua mão me
soltou e ele se foi. Quase corri atrás, implorando para que me agarrasse de
uma vez. Respirei fundo, me perguntando por quanto tempo mais eu
conseguiria resistir. Se continuasse assim...
Eu não teria chance.

Me joguei no sofá da sala com Enrico, mal conseguindo respirar de


tanto que havia comido no almoço. Salada, macarronada à bolonhesa, torta de
limão.
— Rico. Por que Sin nunca almoça com a família de domingo? —
Cutuquei a testa do meu amigo com o indicador. Ele estava quase cochilando
deitado com a cabeça apoiada nas minhas coxas.
— Às vezes, ele almoça... — respondeu sem abrir os olhos.
— É? Porque é o segundo domingo que ele some.
— Tem alguém aqui preocupada demais com o meu caçula, hein? —
Abriu os olhos para me encarar, segurando o riso.
— É só curiosidade... Nada mais. — Disfarcei.
— Vem. Vamos subir para nos arrumar. Temos um compromisso. —
Me puxou pela mão.
— Vamos mesmo ao ensaio? — perguntei, subindo as escadas ao lado
de Enrico. Queria só ver a cara de surpresa de Sin ao me encontrar na casa
dos Fontini. Eu não lhe disse que iria. Seria uma surpresa boa ou ruim para
ele?
— Vamos. Estou muito ansioso... Ainda não acredito que ontem fiquei
com Paolo e que hoje vou ao ensaio, convidado por ele. Depois de tantos
anos de falta de coragem...
— Agora só precisa ter coragem para confessar ao seu irmão o que
fizeram no carro dele — comentei, rindo.
Fiquei chocada quando Enrico me passou os detalhes dos amassos com
Paolo na Ruiva. Eu não conseguia parar de rir ao imaginar a cara do irmão
quando descobrisse. Sin era tão "cricri" com aquele carro...
— Antes eu me amassando na Ruiva do que ele, não é? — perguntou,
referindo-se ao que lhe contei. Que vi o carro com os vidros embaçados,
concluindo equivocadamente que fosse Sin com alguma garota. Por culpa do
cretino do Eduardo que disse que o viu entrar ali.
— Com certeza.
— Por falar em amassos. A nossa... — Enrico hesitou, parecendo sem
jeito, mordendo a boca. — A nossa amizade "com benefícios", como falam,
não pode continuar. Vamos manter apenas a amizade "sem benefícios". Ok?
— Tudo bem, príncipe. Não precisa ficar sem graça. Já sei que "se
encontrou" depois que ficou com o seu crush e fico feliz por você. De
verdade.
— Obrigado. Mas não é só isso. — Parou na porta do seu quarto,
esquadrinhando o meu rosto, com o olhar sério.
— O que mais...? — quis saber, um pouco insegura. Ele teria odiado
ficar comigo, ou se arrependido?
— Jura que você não sabe?
— Prefiro que fale.
— O meu irmão. Ele gosta de você, princesa.
— "Gosta"?! Até parece! — Soltei uma risada nervosa. — Até ontem
só me humilhou. Agora, porque descobriu que sou virgem, está todo
pianinho, querendo ser o primeiro a brincar no parquinho. Conheço bem o
tipo dele. Sem vergonha, sedutor, cafajeste. Corre atrás das meninas e depois
as descarta sem pensar duas vezes.
— Você está enganada.
— Estou? Então... Me diga o porquê. — As batidas descompassadas do
meu coração quase me impediam de elaborar uma frase decente.
— Primeiro que meus irmãos não correm atrás de ninguém. As garotas
caem nos pés dos desgraçados. Segundo que nunca vi o caçula olhar
para ninguém da maneira que olha para você. Lembra como ele surtou
quando flagrou a gente? E Sin já... Já passou por uma fase complicada. Bem
complicada. Por isso, tenho um pedido a lhe fazer.
— Que pedido? — balbuciei, quase gaguejando de tão surpresa com o
rumo da conversa.
— Por favor... Não quebre o coração dele.
O quê?! Eu quebrar o coração dele?
— Rico! Você só pode estar brincando, não é possível. — Arregalei os
olhos, incrédula. — É muito mais certo ele quebrar o meu coração.
— Não estou brincando. É sério. Não vou expor a você os problemas
dele, não cabe a mim fazê-lo. Só pense com carinho no meu pedido. Afinal,
sou o seu cunhado preferido, não sou?
Capítulo 23

O que acontecerá conosco, amor?


Acho que teremos que esperar e ver

Estranged | Guns N' Roses


Madeleine Laurent "Madah"

No final da tarde, fui com Enrico para a casa dos Fontini. Enquanto ele
estacionava a picape, passei a observar a construção com atenção. Parecida
com a de Domenico, era uma mansão de dois andares em um amplo terreno.
Maravilhosa.
— O estúdio fica ali... — Enrico apontou para uma porta metálica em
uma espécie de garagem fechada na lateral da casa. — Vamos até lá?
— Vamos. — Desci do carro, ajeitando os cabelos, ansiosa.
— Pela mensagem de Paolo, hoje o ensaio é com a formação completa
e com plateia. Um pessoal da escola... — O leve tremor na sua voz não me
passou despercebido. Rico estava uma pilha de nervos.
Pensei nos cinco garotos bonitos. Sin, Luca, Paolo, Marco e Leonardo.
Bonitos, não. Lindos. Mas o engraçado era que apenas um deles fazia meu
coração disparar...
Do nada, Enrico deu um longo suspiro e parou de andar, com o olhar
quase em pânico.
— Respira de novo. — Sorri para o meu amigo, me colocando atrás
dele e apertando os seus ombros, massageando-os. — Estou sentindo a sua
tensão. Relaxa.
— Estou tenso mesmo... Será que Paolo vai ficar feliz com a minha
chegada?
— É claro que vai! Ele te convidou, príncipe. Esqueceu? É simples. Se
não quisesse você aqui, não teria mandado a mensagem. Vamos logo.
Quando nos aproximamos do estúdio, comecei a ouvir o som dos
aparelhos musicais. Não era uma música, apenas uma bagunça sonora de
guitarra, bateria e sei lá mais o que. Meu estômago se agitou com a
expectativa de rever Sin.
A primeira coisa que enxerguei quando Enrico abriu a porta foram as
costas de dez ou doze adolescentes sentados no chão, de costas para mim,
assistindo ao ensaio enquanto os integrantes da Five Stars mexiam nos
instrumentos musicais.
Logo encontrei quem os meus olhos buscavam. Sin estava sentado no
fundo do palco, concentrado dedilhando o contrabaixo com os olhos presos
no celular apoiado na coxa. Sem camiseta, vestia calça jeans preta rasgada
nos joelhos e tênis quadriculados. Seus dedos tatuados se mexiam com
habilidade e, com a visão, as borboletas descontroladas no meu estômago
começaram a dar piruetas.
— Baba menos... — Enrico sussurrou, me cutucando com o cotovelo.
De repente, Paolo percebeu a nossa chegada e sorriu na nossa direção.
Um sorriso aberto, que alcançava os olhos. Pude imaginar o quanto Rico
ficou feliz com aquela reação... O olhar radiante do vocalista para a gente fez
com que algumas pessoas se virassem para trás, curiosas.
Naquele momento, reconheci os cabelos loiros de Lorena entre elas.
Droga. Insegura, me perguntei se Sin a havia chamado para o ensaio. Porque
a mim ele não chamou... Ao me ver, a infeliz ficou em pé em um pulo,
apontando o dedo na minha direção, com o olhar indignado.
— O que a desclassificada faz aqui? Quem convidou? Droga, Marco!
Você me chamou e eu vim porque pensei que a sua casa fosse mais bem
frequentada!
Todos paralisaram, observando a cena com espanto. Sin ergueu a
cabeça e parou de tocar o contrabaixo, olhando para mim com a expressão
intrigada, não entendendo o que eu fazia ali.
— EU CONVIDEI — Paolo respondeu no microfone, com o volume
bem alto, atraindo a atenção de todos. — Se é amiga do Enrico, é amiga
minha também. Bem-vindos, queridos.
Encaixou o microfone no apoio e desceu do palco, murmurando um:
"Controle-se, Lorena." Caminhou até nós com passos tranquilos e confiantes.
Enganchou um braço no meu pescoço e o outro no de Enrico, beijando a
minha bochecha e depois a dele. Sem tirar os braços de nós, nos puxou para
perto do palco, onde nos sentamos no chão, afastados das outras pessoas.
Meu coração batia sem controle e meus pensamentos giravam confusos. Só
sabia que havia simpatizado demais com o garoto.
— Obrigado por terem vindo, estou muito feliz... Fiquem à vontade, o
ensaio está terminando. Mais meia horinha e podemos partir para a cerveja.
— Pulou graciosamente de volta para o palco, mexendo em uma pilha de
sulfites sobre uma cadeira.
Enquanto folheava os papéis, passava a língua pelo lábio,
despreocupadamente. Reparei que Paolo era uma daquelas raras pessoas que
possuíam uma aura natural de simpatia e carisma que as destacava das
demais.
— Gostei do seu crush, Rico. Ele é carismático. Vocês têm a minha
benção. Podem se casar — sussurrei para o meu amigo, que caiu na risada,
balançando a cabeça.
— Posso saber qual é a piada? — Sin brotou do nada na nossa frente,
cruzando os braços, com um olhar questionador. Seu tronco tatuado sem
camiseta me desconcertava.
— Já volto. — Enrico fugiu mais rápido do que uma flecha. Quase dei
risada da sua "discrição" em me deixar a sós com o seu irmão, mais uma vez.
— Segredo — respondi, mordendo o lábio. Eu não podia mesmo falar a
verdade, ninguém mais sabia do lance entre Rico e Paolo. — Por que não
pergunta para o seu irmão?
Ele me analisou com os olhos semicerrados, com um brilho levemente
irritado. Ainda sentiria ciúmes de mim com Enrico? Quando pensei que Sin
não diria mais nada, ele se aproximou para sussurrar no meu ouvido com a
sua voz rouca, afundando uma mão nos meus cabelos, acariciando a minha
nuca.
— Porque não é nele que eu estou interessado.
Depois virou as costas e retornou para o palco. Meu coração parecia
uma bateria de escola de samba. Como em um passe de mágica, Enrico
voltou a se sentar do meu lado como se nada tivesse esse acontecido,
comentando algo sobre as novas caixas de som da banda. Um garoto que eu
conhecia de vista da escola, Bruno, se sentou do meu outro lado. Sabia que
ele era capitão do time de futebol.
— Madeleine, certo? Lembra de mim? Meu nome é Bruno. Nós
conversamos no seu primeiro dia de aula. — Com um sorriso nos lábios, me
encarou com os olhos de chocolate, passando a mão pelos cabelos castanhos.
— Lembro, sim — respondi, sorrindo. — Depois que eu quase caí ao
descer do carro.
— É verdade. Por pouco você não deu um show. — Sorriu formando
covinhas nas bochechas. Bonitinho.
Nós três conversamos e rimos sobre assuntos aleatórios durante o
restante do ensaio. Por conta do som alto dos instrumentos dos músicos, eu
tinha que me aproximar deles para ouvi-los. Ora para a direita, para Enrico,
ora para a esquerda, para Bruno.
Sin não tirava os olhos de nós, com a irritação crescente estampada no
seu rosto. O maxilar travado, os olhos intensos, a postura rígida.
Eu sinceramente não queria provocar o baixista e ainda assim a sua
raiva parecia crescer a cada minuto. Por um lado, fazia bem ao meu ego saber
que ele tinha ciúmes de mim. Por outro, achava o seu sentimento
absolutamente desnecessário.
Não seja cego, menino, é você que eu quero..., era a minha vontade de
falar.

Assim que Paolo deu por encerrado o ensaio, Sin largou o contrabaixo
de qualquer jeito e saiu do estúdio a passos furiosos, enfiando a camiseta pela
cabeça. Luca foi atrás dele com o olhar preocupado e eu fiquei os observando
à distância. Parada ao lado da porta de metal, apertava as unhas contra as
palmas das mãos, apreensiva.
O resto do povo começou a deixar o estúdio distraidamente, batendo
papo, sem perceber a cena que prendia a minha atenção. Até que Sin
encaixou um cigarro entre os lábios e subiu na sua SUV sem olhar para trás.
— Espera, caralho! — O irmão gritou ao lado do seu carro. — Não vai
fazer merda, porra!
Sin o ignorou, dando marcha a ré a toda velocidade, se afastando sem
parar. Depois Luca passou por mim correndo, entrando de volta no estúdio.
— Marco! Pega a chave do seu carro! Rápido!
— Luca? — Encostei nele, assustada. — O que está acontecendo?
— Sin... Ele vai fazer merda. — Sua respiração forte me deixava mais
nervosa.
Olhei ao redor, já não tinha quase ninguém ali. Vi apenas Marco e
Leonardo, que terminava de guardar os aparelhos musicais. Não encontrei
Enrico. Meu amigo havia desaparecido. Droga.
— Vou com vocês — falei para Luca e, em resposta, recebi um breve aceno
de cabeça. — Onde vamos? — perguntei assim que entramos no Camaro de
Marco. Fui ignorada.
Sentada sozinha no banco de trás, respirei fundo, tentando não brigar
com eles por não me falarem nada. Os dois pareciam bem estressados com a
situação e eu não queria piorar as coisas. Marco dirigia como um louco, e
Luca digitava sem parar no celular.
— Confirmado. Meu irmão está lá... Acelera! — Luca exclamou para o
outro, depois que viu algo no celular. Passou as mãos pelos cabelos
castanhos, aflito.
— Consigo chegar na casa em menos de cinco minutos. — Marco
respondeu, sem tirar os olhos do trânsito, aumentando a velocidade.
Logo depois paramos em frente a uma casa esquisita, escura. Segui os
meninos até a porta passando por um quintal mal cuidado, com flores secas e
entulhos.
Marco tocou a campainha. Um rapaz magro com roupas pretas abriu a
porta e, sem falar nada, deixou-nos entrar. Luca foi na frente, como se
conhecesse bem o caminho. Eu e Marco o seguimos de perto, em silêncio.
As paredes eram sujas, com a tinta descascada, com lascas levantadas.
O aspecto era tão feio que me dava calafrios. Descemos uma escada em
péssimo estado, com os degraus todos esburacados, faltando pedaços. Lá
embaixo deparei com o porão, um ambiente mal iluminado, com duas
lâmpadas velhas cobertas por uma nuvem de sujeira e fumaça de cigarro. Eu
estava tão nervosa que me sentia até enjoada...
Corri o olhar pelo local, atordoada pela música punk alta e pelo cheiro
forte e fétido que me embrulhava o estômago. Mesmo com os olhos
lacrimejando, consegui ver mais de dez jovens espalhados por sofás, pufes e
mesmo pelo tapete encardido do chão. Dois garotos passaram cambaleantes
por nós, com os olhos vidrados, pesados. Pareciam... Drogados?!
— Que lugar é esse?! — murmurei, quase em pânico, pousando a
minha mão no antebraço de Luca.
— O inferno... — respondeu, me puxando para a sua frente. — Fica
perto de mim.
Capítulo 24

Houve tempos em minha vida


Em que estava ficando louco
Tentando superar a dor

Amazing | Aerosmith
Davi Filipo Sintori "Sin"

Eu era mesmo um fraco. Foda-se.


A verdade era que não aguentava mais me sentir tão angustiado,
agitado, nervoso, irritado, com a merda do coração subindo pela garganta. A
porra do tempo inteiro.
Como se uma bomba-relógio preenchida com ácido estivesse vazando
prestes a explodir dentro do meu peito, me corroendo de dentro para
fora. Tic, tac, tic, tac.
Os últimos acontecimentos haviam sido tão pesados que a dor deixou
de ser apenas emocional e, se espalhando pelo meu corpo, passou a ser física.
Por isso, eu precisava, pelo menos de um pouco...
A magrela de papo com Enrico e Bruno, bem na porra da minha cara,
foi a gota d'água. O que me quebrou foi concluir que qualquer um dos dois
seria bem melhor para ela do que eu. Os caras eram responsáveis, tranquilos,
estudiosos, com futuros brilhantes. "Garotos de ouro."
Enrico e Bruno não eram um marmanjo de dezenove anos que ainda
cursava o segundo ano do Ensino Médio, se importando mais com música do
que com estudos. Não, eles não perderiam tempo brincando em uma banda.
Enrico e Bruno não eram um ex usuário louco o bastante para ceder à
tentação de injetar heroína mais uma vez no corpo já tantas vezes quebrado,
correndo o risco gigantesco de voltar ao vício fodido.
Eu de um lado, eles de outro. Nem tinha comparação...
Um deles, Madah havia beijado na minha frente. O outro, nos meus
pesadelos. Que a verdade fosse dita, eles eram melhores para a magrela do
que eu. E ela sabia disso.
"Não foi uma boa ideia a gente ficar, foi um erro.”
“Já tomei a minha decisão. Não quero mais nada com você."
Toda essa merda fodeu com o resquício de juízo que ainda existia na
minha cabeça, me trazendo até aqui.
Enquanto observava Samuel dissolver na colher o pó branco com a
água, movimentei os dedos trêmulos para ajustar melhor o elástico no meu
braço, centímetros acima do cotovelo.
— Faz tempo que você não usa, cara... — Ele comentou, puxando a
mistura com a seringa. — Vou dividir a dose em duas. Se achar que a
primeira não fez efeito, me avisa que dou a segunda.
Assenti com a cabeça, consciente de que estava fazendo merda. Meu
pai iria me dar um esporro daqueles, mas...
Foda-se.
— Manda bala, Samuel. — Me acomodei melhor na poltrona,
estendendo o braço.
No instante em que senti a picada na veia, as palavras de seis anos atrás
voltaram com tudo, frescas como se tivessem sido ditas ontem.
"É como uma picadinha de mosquito, bebê. Você vai conseguir dormir,
relaxar... Sou enfermeira, lembra? Sei o que estou fazendo. Vamos contar até
dez para a mágica acontecer. Um, dois, três..."
Porra... Apertei os olhos com o torpor se espalhando pelo corpo, me
consumindo como um orgasmo lento e intenso, incrível.
— Sin? Abre os olhos. Olha para mim... — Sua voz doce me chamou e
com relutância eu a atendi.
A magrela estava aqui. Na minha frente. Cacete, isso estava melhor do
que o esperado... Surpreso, senti meus lábios se esticaram em um sorriso
preguiçoso. Tranquilo, me via envolto por uma névoa de paz e leveza e,
como a cereja do bolo, ela tinha vindo fazer parte da minha alucinação.
— Oi magrela. — Encostei os dedos nos seus cabelos macios e depois
os desci pelo seu rosto delicado. — Sabia que mesmo na minha alucinação
mais louca você é perfeita?
Seus olhos bem abertos se encheram de lágrimas. Por quê...?
— Vem, vamos para casa. — Ela tentou me levantar, mas eu a puxei
para o meu colo.
— Não. A alucinação é minha. Eu dito as regras. — Abracei a sua
cintura fininha e ela envolveu o meu pescoço com os braços.
— Vamos, por favor. Não gosto daqui — pediu baixinho perto do meu
ouvido. Tive a impressão de que soluçou.
Como assim... Ela iria chorar no meu sonho, na minha alucinação? Mas
não iria, mesmo. Eu queria que ela fosse feliz. Sempre feliz. Com aquele
sorriso bonito nos lábios. Queria tanto ser capaz de fazê-la feliz...
— Não pode chorar. — Limpei uma lágrima da sua bochecha com o
meu polegar. — Não quero isso. Quero... — Me perdi na imensidão dos seus
olhos.
— O que você quer? — perguntou, sustentando o meu olhar.
— Quero que você seja feliz... E que fique comigo, só comigo... E que
me ame como eu te amo. — Segurei o seu rosto com as duas mãos quando vi
as lágrimas descendo como rios. — Não, não é para chorar...
Beijei o seu rosto todo. As bochechas, o nariz, os olhos... Curioso que
mesmo no sonho as impressões pareciam absurdamente reais. Senti nos meus
lábios o calor da sua pele, as lágrimas molhadas, o gosto salgado...
— Madah. Não está funcionando, ele não quer vir. Precisamos levá-lo
daqui. — Luca apareceu do nada, puxando-a de cima de mim. — Marcão,
segura o meu irmão de um lado que eu seguro do outro.
Sem entender nada, não esbocei qualquer reação, inerte. Somente
apertei os olhos quando me puseram em pé, com uma forte tontura fazendo a
minha cabeça girar, e me senti flutuar.

— Luca? Quem te deixou dirigir a minha Ruiva? — Tentei me erguer


no banco de trás, apoiando o peso em um cotovelo, mas caí de volta deitado.
Porra...
Ainda me sentia extremamente relaxado, com um torpor bom para
cacete pelo corpo, porém não podia negar um leve descontentamento em ver
o meu irmão com as mãos no meu carro.
— A SUV teria que ser a sua última preocupação neste momento... —
resmungou, sem tirar os olhos do trânsito. — Não acredito que, depois
de tudo, você voltou para a merda do porão do Samuel.
— Que mal-humorado... — Dei risada, deitando de barriga para cima
no banco. — Você é um... — Emudeci ao encontrar os olhos da magrela
fixos em mim.
Olhos bonitos que estavam vermelhos, inchados de chorar. Intrigado,
encostei na sua bochecha macia, percebendo que era real. Mas por que eu
estava deitado no colo dela? E por que a magrela tinha chorado?
— O que eu fiz? Você estava chorando, não estava? Me desculpe, não
sei o que foi, mas aposto que a culpa é toda minha. Sou um imbecil... — Dei
risada, espalmando a mão na testa. Engraçado que eu não conseguia ficar
nervoso ou ansioso. Não sentia nada. Estava simplesmente curioso. Que
merda eu tinha aprontado para a fazer chorar?
— Depois a gente conversa — respondeu, me presenteando com um
sorriso triste. Bocejei lentamente, com o corpo amolecendo.
— Ok. Estou com sono... — Me acomodei melhor com a cabeça nas
suas pernas. Seu calor me envolveu e acolheu. E, quando os seus dedos
acariciaram o meu couro cabeludo, quase vi estrelas. Estava bom para
caralho...
— Você não vai dormir! Porra! — Luca esbravejou, socando o volante.
Babaca.
Tarde demais. Meus olhos se fecharam e, antes que eu me entregasse
ao sono, pedi:
— Dorme comigo em casa, magrela?
Tentei me segurar para ouvir a sua resposta, porém a escuridão passou
a me engolir, implacável. Não sei se foi verdade ou se sonhei, mas fiquei com
a impressão de ter escutado a sua voz sussurrar:
— Durmo, amor.
Capítulo 25

Enquanto perde seu tempo com inimigos


Mergulhado em uma febre de rancor
A realidade desaparece
Como sombras na noite

Lost For Words | Pink Floyd


Davi Filipo Sintori "Sin"

— Acorda. Está tudo bem. — Sua voz delicada e seus toques leves nas
costas me fizeram despertar. Percebi que estava todo suado, com o coração
disparado e o corpo trêmulo. Outra porra de pesadelo...
Me sentei na cama, colocando os pés no chão. Olhei ao redor,
reconheci o meu quarto. O relógio mostrava que eram duas e pouco da
madrugada. Baguncei os cabelos, suspirando fundo. Confuso, pelo canto do
olho, vi a magrela se arrastar para o meu lado, virei para vê-la melhor.
Mesmo com os cabelos bagunçados de sono, estava linda.
Madah estava dormindo aqui comigo?! Que merda não conseguir me
lembrar direito das coisas...
Me esforcei para segurar as memórias que piscavam na minha mente
como flashes desordenados. Os fatos se embaralhavam sem nexo e foi difícil
organizá-los, mas depois de um tempo consegui alguma coisa.
O ensaio da banda no estúdio dos Fontini. Enrico surgindo com Madah.
Bruno se aproximando dela. A ida ao porão de Samuel. A picada. A
alucinação. O retorno para casa na Ruiva com Luca no volante. A magrela
mexendo na minha cabeça no seu colo. Fim.
Apertei os olhos, com as primeiras sensações ruins se esgueirando pelas
minhas entranhas, me entristecendo. Decepção comigo mesmo, vergonha,
raiva.
Sou mesmo a porra de um fraco...
— Preciso de um banho. — Me levantei rápido demais, quase caindo
para a frente com a tontura que me abateu. Madah rapidamente me segurou
pela cintura, se colocando em pé do meu lado.
— Vem, eu te levo, se apoia em mim...
Passei o braço em torno da sua cintura fininha e juntos caminhamos até
o banheiro.
— Você estava dormindo comigo? — arrisquei perguntar, sem
coragem de olhar para ela.
— "Dormindo", não. Como estava preocupada, eu... Fiquei de olho em
você.
— Obrigado. Desculpe pelo trabalho — murmurei, surpreso com a sua
resposta e entramos no banheiro.
— Você me ajudou no dia da festa. Eu te ajudei hoje. Não precisa
agradecer. Já passou o efeito da... Da droga? — quis saber, sem jeito. O
constrangimento pesou no meu peito. Como ela me enxergaria a partir de
agora? Como um "Zé droguinha" sem noção.
— Passou — afirmei e, ainda me segurando nela, com a mão livre, abri
o chuveiro. — Já estou normal.
Depois, enquanto a água esquentava, dei alguns passos cuidadosos até
me apoiar com as duas mãos espalmadas na bancada fria da pia. Hesitante,
tentei me desencostar, ficando em pé sem apoio e consegui, percebendo que a
tontura havia passado. Suspirei aliviado, percebendo que não havia mais
efeitos da heroína em mim. Sob o olhar atento dela, aproveitei para escovar
os dentes.
— Meu pai percebeu o estado em que cheguei? — perguntei,
enxugando a boca com a toalha de rosto.
— Não. No almoço, ele avisou que iria viajar por alguns dias —
respondeu, em pé junto da porta, com os braços cruzados sobre o peito. —
Você não sabia porque não almoçou com a gente.
— Ok. — Notei o vapor saindo do box. A água já havia esquentado. —
Quer tomar banho comigo? — arrisquei, puxando a camiseta pela cabeça.
Pelo seu olhar assustado, já soube que a resposta seria "não." Merda... O
gosto amargo da rejeição se impregnou na minha língua.
— Te espero no quarto. — Ela me deu as costas, prestes a sair do
banheiro.
— Foi mal. Esqueci que não sou o Enrico — ironizei, fazendo-a
paralisar sem se virar para mim. A tensão em seus ombros era visível de
longe.
Me preparei para o contra-ataque, sabendo que a magrela me daria
alguma resposta irritada, me esculachando, porém depois de dois ou três
segundos parada no mesmo lugar, ela simplesmente desapareceu do banheiro,
sem se virar para mim.
Foda-se.
Com a respiração forte, entrei embaixo do chuveiro e deixei a água
quente me lavar. Apoiei as mãos na parede de azulejos e fechei os olhos,
tentando me acalmar.
Por que não sabia lidar com a rejeição dela?
De repente, duas mãos pequenas percorreram delicadamente os meus
ombros molhados, arrepiando-me. Girei o corpo para encontrar Madah dentro
do box comigo, nua, com os seus olhos claros me queimando até a alma.
— Presta atenção, Davi Filipo. Não vou repetir. Esquece o Enrico,
esquece qualquer outro garoto. Eu só quero você. E o único motivo para não
estarmos juntos é a porcaria da sua atitude comigo. Por isso... Melhore.
— Eu... — Perdi a fala. A sensação dos seus dedos molhados indo dos
meus ombros ao pescoço, dos seus olhos intensos prendendo os meus, da
água quente descendo pelos nossos corpos. Era demais. — Eu... Não sei
como. Não sei nem o que falar.
Fui sincero, apoiando as minhas mãos na sua cintura fina, não querendo
falar mais para não correr o risco de estragar tudo. Ela me deixava nervoso
para cacete e por isso eu estragava as coisas quando abria a boca. Não
conseguia me controlar e, quando percebia, já tinha sido grosso e estúpido
mais uma vez.
— Então não fala nada e me beija — murmurou, com as mãos
alcançando a minha nuca, se levantando na ponta dos pés. Porra... Sem
hesitar por um segundo, colei os nossos lábios em um beijo desesperado.
Enquanto a minha língua invadia a sua boca, as minhas mãos
apertavam a sua cinturinha, puxando-a para mais perto. Por sua vez, Madah
descia e subia as mãos pelas minhas costas molhadas, me apertando e me
arranhando, acelerando os meus batimentos.
Sem quebrar o beijo, empurrei-a contra a parede úmida de vapor,
erguendo-a pela bunda para ajustar a altura dos nossos rostos. E, quando
movi os quadris para a frente, ela me envolveu com as pernas e gemeu
baixinho dentro da minha boca.
Com os nossos corpos se roçando assim, o tesão crescia de modo
surreal, me fazendo sorrir sem soltar a sua boca. Minha ereção se esfregava
por fora da sua boceta quente e seus bicos durinhos provocavam a pele do
meu peitoral. Precisei de um autocontrole do caralho para não me enterrar de
uma vez nela.
Madah rebolava em mim sem vergonha, fazendo o meu pau pulsar de
tão duro, escorregando por fora da sua boceta com a lubrificação misturada à
água do banho.
Até que perdi o fôlego, quase gozando quando uma corrente elétrica
percorreu com força a minha coluna. Com os batimentos descontrolados,
separei os nossos lábios para conseguir respirar.
— Magrela... Que beijo... — murmurei, ofegante, com as nossas testas
unidas. Desci o seu corpo miúdo de volta para o chão e subi as mãos para o
seu rosto, afastando as mechas molhadas que grudavam nas suas bochechas.
Ela sorriu com os olhos brilhantes, deslizando as mãos pelo meu peito até a
barriga. — Vamos sair daqui?
— Vamos.
Suas bochechas coradas a deixavam ainda mais linda. Fechei a água e
peguei a minha toalha ao lado do box, notando que Madah havia trazido a
dela. Nos enxugamos e fomos para o quarto. Eu não sabia se vestia alguma
coisa ou se continuava pelado. Será que queria continuar me beijando?
Minhas dúvidas desapareceram quando ela se deitou completamente
nua na minha cama, me chamando com o dedo indicador. Cacete!
Subi por cima dela e, sorrindo como um adolescente apaixonado, beijei
os seus lábios sem pressa, com o meu peso distribuído nos meus braços
apoiados firmes no colchão.
— Está se sentindo bem? — perguntou depois do beijo, acariciando a
minha nuca.
— Estou bem. Obrigado.
E, quando fiz menção de beijá-la mais uma vez, Madah me deu um
selinho e depois desviou o rosto, desvencilhando-se de mim para se levantar.
Eu estava prestes a questioná-la, quando a sua voz suave me surpreendeu:
— Quero fazer você se sentir ainda melhor. Deita e fica quietinho. —
Sorriu, fazendo o meu coração pular duas batidas.
— Tem certeza? — perguntei, quase em choque ao vê-la se ajoelhar no
colchão entre as minhas pernas. Madah somente ampliou o sorriso e, me
olhando nos olhos, levou uma das mãos ao meu pau, envolvendo-o com os
seus dedos finos e delicados, me punhetando lentamente.
— Você já fez isso alguma vez? — murmurei, todo arrepiado com o
seu toque.
— Já. Mas é a primeira vez que eu quero fazer.
Porra... Doeu. Entendi que ela se referiu aos clientes do hotel e senti
vontade de voltar lá e quebrar os dentes de cada um deles. Inspirei fundo,
apertando os olhos para não me distrair com os pensamentos perturbadores.
Quando os reabri, enxerguei Madah descendo o olhar para a sua mão que me
masturbava devagar, mordendo o lábio sem deixar de sorrir.
— Eu nunca tinha visto um assim... — comentou, subindo e descendo a
mão por toda a extensão, em uma movimentação perfeita.
— Assim como?
— Tatuado. Sério mesmo que as pessoas tatuam as partes íntimas...?!
— Ah... Outra hora te conto... Não posso conversar agora, se é que me
entende. — Dei risada, apertando os lençóis com as mãos. Um puta tesão se
espalhava por todo o meu corpo, me deixando inquieto, quase eufórico.
Mantendo o ritmo da punheta, a magrela se deitou do meu lado, sussurrando
no meu ouvido:
— Se deseja apertar alguma coisa enquanto te dou prazer, que seja o
meu corpo, e não os lençóis.
No mesmo instante, virei de frente para ela, ficando com o corpo de
lado na cama. Colei os nossos lábios e levei uma mão aos seus seios
empinadinhos. Enquanto a beijava, os meus dedos provocavam os seus bicos
durinhos, esfregando, esticando, torcendo, com a pressão certa, cuidadosa,
sem me afastar.
Quebrei o beijo, sem ar nos pulmões quando ela acelerou a velocidade,
bem perto do limite. Então distribuiu beijos leves pelo meu pescoço e,
subindo até a minha orelha, sussurrou:
— Goza para mim, amor... — E, assim, não aguentei mais, explodindo
em um orgasmo forte, melando toda a sua mão com os jatos quentes.
A magrela diminuiu o ritmo até saírem as últimas gotas e eu a abracei
apertado, não querendo largá-la nunca mais. Alisei as suas curvas e, ao descer
uma mão ao meio das suas pernas, Madah se contorceu com o meu toque,
com a boceta toda melada com a sua lubrificação. Lisa, quente, macia.
Cacete...
— Posso retribuir...? — perguntei, deslizando dois dedos entre os seus
lábios íntimos, arrastando para cima e para baixo. Eles estavam tão sensíveis
que pulsavam sob os meus toques, fazendo-a se mexer como se levasse
pequenos choques.
— Pode. Deve. — Apertou os olhos e mordeu o lábio, fazendo que sim
com a cabeça enfaticamente, várias vezes. Suprimi um riso diante da sua
resposta quase desesperada.
Em silêncio, passei a masturbá-la, sem a penetrar. Tive receio de a
machucar, agora que sabia da sua virgindade.
Madah gemia baixinho e se remexia com os meus toques, excitada para
caralho. Sem tirar os meus dedos dela, posicionei-a de barriga para cima e
firmei os seus quadris magrinhos com a minha mão livre, facilitando os
trabalhos.
— Abre os olhos — pedi e ela me atendeu, me fitando enquanto eu
acelerava a movimentação, com dois dedos alisando a entrada da sua boceta e
com o polegar estimulando o seu clítoris, cada vez mais rápido, em círculos
cada vez menores.
E, sem desviar o olhar de mim, enfiou as unhas no meu antebraço ao
gozar nos meus dedos, com os espasmos a deixando ofegante, sorrindo com
os lábios entreabertos. Linda.
Beijei a sua boca e me obriguei a me levantar. Rapidamente, fui ao
banheiro buscar uma toalha para a limpar. Vesti um roupão e retornei para o
quarto, encontrando-a quase dormindo, com os cabelos úmidos espalhados
pelo meu travesseiro. Me sentei do seu lado e, delicadamente, limpei as suas
mãos e a sua barriga ainda meladas da minha ejaculação.
— Obrigada, Davi Filipo — Madah murmurou, esboçando mais um
sorriso.
— Eu que agradeço, Madeleine. Por tudo.
Joguei a toalha na cadeira e me deitei na cama com ela, com a cabeça
apoiada em uma mão para a observar melhor. Ela era tão perfeita... Porra!
Tinha que ser minha. Só minha. E, com esta ideia na cabeça, lancei as duas
palavras que nunca havia falado a garota alguma, em toda a minha vida.
— Namora comigo?
Capítulo 26

Mas estou tão envolvida, você sabe


Sou uma grande uma tola por você
Você me tem na sua mão

Linger | The Cranberries


Madeleine Laurent "Madah"

— Namora comigo? — Sua pergunta me pegou completamente


desprevenida. Sin continuava com o olhar brilhante, me encarando sem piscar
e me questionei se ele falava sério ou se estava emocionado por conta dos
nossos amassos.
— É sério? — Acariciei a sua bochecha com as pontas dos dedos,
mordendo o lábio, nervosa. Os batimentos do meu coração latejavam nos
ouvidos. Tum tum tum tum.
— É sério, magrela. — Sorriu e, segurando a minha mão, entrelaçou os
nossos dedos. — Gosto de você para caralho.
Morri.
Boquiaberta, fiquei completamente surpresa por escutar a confirmação
do que havia expressado sob o efeito da droga, naquele porão horroroso.
Porque eu não acreditava que ele tivesse sentimentos por mim até vê-lo
drogado, se declarando de uma maneira extremamente visceral. Sua voz
rouca e instável me fez chorar ao revelar: "Quero que você seja feliz... E que
fique comigo, só comigo... E que me ame como eu te amo."
Naquele momento, Sin havia tocado o meu coração e a minha alma,
mudando tudo.
Não sabia nem se ele se lembrava. Já eu... Não apenas lembrava, como
tinha certeza de que jamais me esqueceria das suas palavras.
Continuei em silêncio e, atenta, percebi uma ruga se preocupação se
formar na sua testa.
— Ok. — Pigarreou, sem jeito. — Talvez você não queira namorar
comigo, sou todo fodido e...
— Cala a boca, Davi Filipo. É lógico que eu quero. — Dei risada,
fazendo-o rir também. — Mas...
— Cacete, tinha que ter um "mas"?
— Mas queria te fazer um pedido, amor. Na verdade, dois. — Alisei o
seu braço carinhosamente, sorrindo.
— Fala de uma vez — murmurou, esfregando os olhos, bocejando. —
Pode ser que eu preste atenção. Desde que você continue me chamando de
"amor."
— Ok, amor. — Dei um destaque extra à palavra, arrancando um
sorriso bonito dos seus lábios. — Um... Não quero que você volte a aquele
lugar horrível, nunca mais.
Seu sorriso morreu. Sin ficou mudo e trincou o maxilar, sem desviar os
olhos dos meus. Voltei a falar, tentando parecer segura. Afinal, eu seria
irredutível quanto a isso.
— Quando te vi daquele jeito fiquei desesperada... Não quero ter que
me preocupar com o meu namorando se enfiando lá a cada aborrecimento.
— Você acha que eu gosto de ir lá?! — perguntou e, se sentando,
passou as mãos pelo cabelo platinado. — Eu acabo indo quando não aguento
mais, quando não vejo outra saída... É foda. Você não entende. Não sabe das
merdas do meu passado, dos fantasmas que me assombram até hoje. Tem
dias que eu só quero relaxar e não pensar em mais nada.
— Não sei, ainda, das coisas do seu passado. Assim como você não
sabe do meu. E tudo bem. Namoros servem para isso.
Me sentei do seu lado e enrosquei o lençol em volta do meu corpo nu,
me cobrindo. Depois, pousei uma mão no seu pescoço para que olhasse para
mim. Sob a palma da minha mão, eu sentia os batimentos rápidos da sua
carótida. Ele devia estar bem nervoso... E, como continuou quieto, tornei a
falar.
— Vamos nos conhecer, nos divertir... Tenho algumas ideias de
"atividades" que podemos fazer para você relaxar que não envolvam um
porão escuro repleto de drogados. Você não vai se arrepender, amor. Só não
volte mais lá. Combinado?
— Combinado. — Ele se deu por vencido, me abraçando apertado,
apoiando o queixo no meu ombro.
— Agora, o pedido de número dois. Eu tenho conversado com a
psicóloga da escola. Ela tem me ajudado. Muito. Por isso, queria que você
fizesse terapia. Lá ou em outro lugar, você escolhe — falei e percebi o seu
corpo se enrijecer.
Silêncio.
— Se eu te contasse sobre a antiga psicóloga da escola... — Riu baixo,
balançando a cabeça.
— Então me conta. Eu não conheci a antiga psicóloga. Apenas a
doutora Solange, que é a atual. Ela me parece ser bem legal.
— Você não vai gostar de escutar...
— Não faz mal. Quero que me conte mesmo assim. Pode falar de uma
vez, sem enrolação. Eu aguento — brinquei, puxando-o para que a gente
voltasse a se deitar na cama, com os nossos corpos aconchegados.
— Ok. Vamos lá... A outra psicóloga também era legal. Principalmente
quando estava chupando o meu pau. A filha da puta se aproveitava da minha
fragilidade para me seduzir! Não que eu esteja reclamando. Gozei para
caralho naquela sala. Mas não me ajudou em nada. Pelo contrário, o jeito que
ela falava comigo... Às vezes, me despertava lembranças péssimas, gatilhos.
Foda...
— Minha nossa... Bem, a doutora Solange não tem cara de que iria
tentar seduzir você. Ela parece ter mais de sessenta anos, é uma senhorinha
bem fofa, com os cabelos grisalhos e os olhos gentis.
— Ok. Posso conhecê-la, se você faz questão — respondeu e bocejou
lentamente. Depois, beijou o topo da minha cabeça, me puxando para mais
perto.
— Fico feliz... Obrigada. Agora dorme, Davi Filipo. — Fitei o seu
rosto, encontrando os seus olhos pesados de sono. Depois, apoiando a minha
cabeça no seu ombro, acariciei o seu peito com as pontas dos dedos, por
dentro da abertura do roupão, contornando as suas tatuagens.
— Ainda vai estar namorando comigo quando eu acordar? —
murmurou, já com os olhos fechados.
— Sim. — Dei um beijinho em cima do seu coração, apreciando o
contato dos meus lábios com a sua pele firme e quente.
— Obrigado. Até amanhã, namorada.
— Magrela? — Sua voz rouca chegou ao banheiro, onde eu lavava o
rosto depois de escovar os dentes.
— Aqui! Já vou! — respondi, pegando a toalha para me enxugar.
Ajeitei os cabelos rapidamente e voltei para o quarto. Quase tropecei ao
vê-lo ainda deitado sob a luz da manhã, com o roupão aberto. Sin era tão
lindo que dava medo... A pele clara coberta por tatuagens escuras, as
bochechas rosadas, os lábios bem desenhados, os olhos azuis, o cabelo
platinado, a barba por fazer... Perfeito.
— Bom dia, tudo bem? — questionei, me aproximando. — Eu já ia te
acordar. Precisamos ir para a escola.
Me sentei na beirada do colchão. Como ele estava seminu, evitei olhar
lá para baixo para não me distrair. Já eu vestia uma camiseta sua que peguei
durante a madrugada quando senti frio.
— Precisamos mesmo? — Agarrou a minha cintura por baixo da
camiseta, me arrastando para o seu lado, me deitando. Seus dedos quentes me
arrepiavam inteira me tocando dos seios ao umbigo. Ele me aquecia o corpo e
a alma.
Sin me fazia tão bem...
Porém algo me incomodava lá no fundo. Uma insegurança chatinha e
persistente. A pergunta que não queria calar gritava na minha mente:
O namoro era para valer?
Eu queria lhe perguntar se o pedido de namoro continuava de pé, ou se
havia sido apenas uma loucura da madrugada, mas não sabia como o fazer.
— Precisamos, sim — respondi sobre a escola, suspirando. Por mim
ficaria na cama com ele o dia inteiro. Só que não dava. — Não acho certo
perder aula à toa.
Me sentei e ele fez o mesmo. Quando fui me levantar, segurou o meu
pulso, acariciando a minha pele.
— Magrela... Espera. Agora que estamos namorando, me peguei
pensando em uma coisa... — Ele começou, respondendo a minha dúvida
silenciosa, acalmando o meu coração.
O namoro é para valer!
— Continua... — pedi, sorrindo como uma idiota. Não me segurei e
acariciei o seu rosto, desfazendo uma ruga de preocupação entre as suas
sobrancelhas.
— Temos que dar alguma satisfação para o Enrico? Sei lá, não queria
magoar o meu irmão. Não nos damos bem, eu sei, mas me preocupo com o
franguinho. Sei que ele tá cagando para mim, mas...
— Ei... Não precisa se preocupar. Eu e ele só ficamos duas vezes, não
foi nada demais. E sabe o que mais? Enrico também se preocupa com você.
Um dos motivos que o fez sugerir sermos apenas amigos foi
precisamente você. Sabia?
— Não sabia — respondeu, pensativo. Coçou a nuca antes de me olhar
de novo. — E tem mais motivos? Você disse "um dos motivos."
— Tem. Ele não está na minha... Está em outra — falei, fazendo Sin
arregalar os olhos, surpreso. Fez menção de pedir os detalhes, mas o cortei.
— Mas não cabe a mim fazer a fofoca. Se quiser saber mais, você que
converse com ele.
Nem morta que eu contaria a ele sobre Paolo. E, só de lembrar dos
amassos dentro da SUV, quase caí na gargalhada. Sin iria ficar tão
indignado...
— Sacanagem. Namorados não guardam segredos, sabia? Namorados
que se gostam de verdade, que confiam um no outro — tentou me chantagear
emocionalmente, sorrindo.
— Jogo baixo. Mas não vai me convencer. — Dei risada, ficando em
pé. — Pode desistir, amor. Agora levanta logo essa bunda da cama ou vamos
nos atrasar.
Capítulo 27

Eu poderia descansar a minha cabeça


Apenas por saber que você era minha
Toda minha

November Rain | Guns N’ Roses


Davi Filipo Sintori "Sin"

— Vamos? — Enfiei a cabeça pela porta entreaberta do quarto de


Madah, onde ela terminava de se arrumar para a escola. Distraída, colocando
um brinco em frente ao espelho, nem notou a minha chegada.
Hipnotizado, reparei que havia feito uma maquiagem leve, arrumado os
cabelos e colocado roupas mais elegantes. Vestia blusa cinza, saia preta até os
joelhos e sandálias de salto. Era a primeira vez que se arrumava assim com
tanto capricho para a escola.
— Chega de se arrumar, magrela. Impossível ficar mais linda... —
falei, me aproximando. Ela me abriu um sorriso nervoso, pegou a bolsa e
descemos a escada em silêncio.
Dentro da Ruiva, a caminho da Barão, pelo canto do olho eu podia ver
como ela estava ansiosa. No banco de passageiro, sacudia levemente as
pernas, sem parar. Seus joelhos magrinhos inquietos atraíam a minha atenção.
Quando parei em um sinal vermelho, coloquei uma mão em um deles,
sentindo a sua pele fria.
— Você está bem? — perguntei, mexendo o meu polegar na sua coxa
por baixo do tecido de saia.
— Médio. Estou tão nervosa... Do nada a gente vai aparecer lá na
escola namorando, você é todo popular e... Não é melhor a gente manter o
namoro às escondidas? — Me olhou com os olhos aflitos e, antes que eu
pudesse falar alguma coisa, escutei um carro buzinar atrás de mim, avisando
do sinal verde.
Acelerei com tudo e, praguejando baixo, subi na calçada, estacionando
em uma vaga de um comércio fechado.
— Manter o nosso namoro às escondidas?! Nem fodendo. Vem cá... —
Em um movimento rápido, puxei-a para o meu colo, jogando o banco para
trás. — Quero esfregar na cara de todo mundo daquela escola que você é
minha.
— Tem certeza? — Mordeu o lábio enquanto eu subia lentamente a
minha mão pela sua coxa.
A magrela estava sentada de lado no meu colo, com um braço
enganchado no meu pescoço. Com a mão livre, mexi no som do carro,
procurando pelo álbum do Guns. Nada de “Patience” por hoje. Vamos
de “November Rain” com os seus longos doze minutos.
— Tenho. E agora abre mais as pernas porque sei como te acalmar.
Com as primeiras notas de piano, avancei na sua boca com firmeza,
enfiando a língua ao mesmo tempo que encostei dois dedos por fora do tecido
quente da sua calcinha, subindo e descendo até o sentir todo molhado.
Meus batimentos se aceleraram tanto que fiquei sem fôlego. Quebrei o
beijo para respirar e aproveitei para cantar a música baixinho, com os meus
olhos presos nos dela, sem deixar de masturbá-la.
When I look into your eyes
(Quando eu olho nos seus olhos)
I can see a love restrained
(Eu posso ver um amor contido)
But darlin', when I hold you
(Mas querida, quando eu te abraço)
Don't you know I feel the same?
(Você não percebe que eu sinto o mesmo?)
Voltei a beijá-la lentamente, enquanto a magrela se remexia no meu
colo, fazendo o meu pau endurecer dentro da cueca. E, quando afastei o
elástico da calcinha, gememos juntos assim que os meus dedos encontraram a
sua boceta inchada de tesão.
— Sinta-se privilegiada. — Deslizei os meus lábios até o seu pescoço.
— Vai ser a primeira garota a gozar no meu carro. Não gosto da fazer a
minha Ruiva de motel.
— Seu chato... — Ela riu, enfiando uma mão por dentro da minha
camiseta, alisando a minha barriga. — Ainda vamos transar muito na "sua
Ruiva".
— Chato?! Tá fodida... — Girei o seu corpo pela cintura e, apoiando as
suas costas no volante, abri bem as suas pernas.
Puxei o elástico da calcinha para o lado, expondo a sua boceta rosada
que brilhava de tão molhada. Até pisquei, impactado com a visão do paraíso.
Subi o desci os meus dedos pela sua fenda, deslizando na lubrificação e levei
a minha outra mão ao seu rosto. Ela mordia o lábio de baixo com os dentes de
cima, apertando os olhos em excitação. Meu coração batia sem controle ao
vê-la tão minha.
I could rest my head
(Eu poderia descansar minha cabeça)
Just knowin' that you were mine
(Apenas por saber que você era minha)
All mine
(Toda minha)
— Chupa. — Enfiei o polegar da mão direita entre os seus lábios e,
quando senti a sua língua o envolver, passei a penetrá-la com o dedo do meio
da outra mão, me arrepiando inteiro. — Porra... — Combinei o entra e sai dos
dois dedos ao mesmo tempo, um na boca e o outro na boceta. Mesmo em um
ritmo devagar, a nossa respiração estava tão forte que embaçava os vidros,
com o calor, me deixando sem ar.
Tirei as minhas mãos dela, liguei o ar condicionado e inverti os dedos,
levando o que estava melado de saliva ao meio das suas pernas e o outro à
sua boca. Esfreguei o dedo ao redor dos seus lábios e a beijei em seguida,
sentindo o gosto do seu sexo na minha boca. Caralho... Meu pau doía de tão
duro, latejando para entrar em ação.
Então começou o solo de guitarra da música, que ficou mais rápida e
cadenciada. Timing perfeito.
— Vou acelerar — avisei com os nossos lábios ainda se roçando. —
Quero te ver gozar nos meus dedos mais uma vez.
Sem beijá-la, fui dedilhando por fora da sua boceta virgem. Eu subia e
descia e pinçava e alisava, com o meu polegar friccionando o seu pontinho
mais sensível. Até que...
— Sin! — Ela estremeceu com o orgasmo e, como eu queria, senti os
espasmos nos meus dedos. Puta merda... Meu coração foi a mil.
Nossas respirações se misturavam enquanto os nossos olhares se
fundiam. Não existia nada mais impactante no mundo do ver as suas íris
claras com as pupilas dilatadas, cheias de desejo por mim. Cacete... Enquanto
isso Axl Rose cantava as últimas estrofes da música, perfeita para caralho
para o momento.
Don't ya think that you need someone
(Você não acha que precisa de alguém)
Everybody needs somebody
(Todo mundo precisa de alguém)
— Minha nossa... — Madah riu, me abraçando com o corpo mole. — E
acho que vamos perder a primeira aula — comentou, espiando o relógio do
carro.
— Não se preocupe, consigo chegar lá rapidão... — Fiz menção de dar
a partida, mas ela segurou a minha mão.
— Espera. Antes temos que dar um jeito nisso aqui... — Alisou a
minha ereção, com a mão procurando o fecho do zíper da minha calça.
— Não me tenta, magrela... Não dá para bater punheta sem esporrar no
banco do carro. Merda... Não vai rolar. — Suspirei fundo, frustrado,
enterrando as mãos nos cabelos.
— Quem falou em punheta? — Ela escorregou para o chão, ajoelhando
com as mãos pousadas nos meus joelhos. — Fica tranquilo, amor... Não vou
deixar cair uma gota na "sua Ruiva."
Caralho... Eu não sabia se ria ou se ficava em choque enquanto a
observava terminar de descer o meu zíper, libertando o meu pau da cueca.
Sem cerimônia, a magrela caiu de boca, chupando e lambendo a minha
ereção enquanto as suas mãos arranhavam as minhas coxas, me
enlouquecendo. Quase vi estrelas, com uma onda de eletricidade se
espalhando por todo o meu corpo fazendo a minha pele formigar.
Levei uma mão aos seus cabelos macios, me arrepiando a cada chupada
mais forte, já chegando no meu limite rápido demais... Minhas bolas
pesavam, com a ejaculação iminente.
De repente um pensamento incômodo me surgiu, quando me dei conta
de que ela tinha habilidade demais, mas logo consegui afastá-lo, me
concentrando na perfeição do boquete.
— Porra... — gemi, mexendo os quadris. — Vou gozar... Madah!
Extasiado, senti os jatos preencherem a sua boca. A magrela engoliu
tudo sem dificuldade, lambendo a glande no final, limpando até a última gota.
Depois eu a puxei para cima, com o coração ainda descontrolado e abracei-a
forte.
— Puta que pariu... O que tenho que fazer para ganhar um boquete
desses todos os dias?! — Dei risada, ajeitando os seus cabelos. — Tenho a
melhor namorada do mundo, porra!
— Você pode enjoar... — Ela me presenteou com um sorriso bonito,
com os lábios ainda vermelhos, me inundando com uma paz absurda.
— Nunca, magrela.

Estacionei na escola e, pelo horário, sabia que estava no final da


primeira aula. Madah desceu do carro e colocou a bolsa no ombro, mordendo
a boca, apreensiva. Em um impulso, tomei a iniciativa de darmos as mãos.
Nunca namorei, mas sei que namorados fazem essas paradas.
Estendi a minha mão, recebendo o seu olhar um pouco hesitante, mas
dois segundos depois ela sorriu e segurou-a. Entrelacei os nossos dedos e
deixamos o estacionamento, juntos. Com a mão livre, acendi um cigarro.
— Sem chance de você largar esse vício, Sin?
— Me deixa... — Soltei a fumaça lentamente para o alto, com um
sorriso nos lábios. — O cigarro do pós gozo é o melhor. A nicotina misturada
aos efeitos do orgasmo... É do caralho! Só perde para o seu boquete. Vai ter
outro na volta?
— Tarado... — Me beliscou com a mão livre, rindo. — Que
desculpinha isso de "nicotina misturada aos efeitos do orgasmo"... — Imitou
a minha voz. — Você gozou há mais de vinte minutos! Já não tem mais
efeito nenhum.
— Não deu para fumar logo depois. Você queria o quê? Que eu
fumasse na minha Ruiva? Sem chance. — Joguei a bituca no lixo, subindo os
degraus do prédio da escola.
— Davi Filipo! — Ela brigou, segurando o riso. — Se falar "minha
Ruiva" mais uma vez, vou mandar você pedir boquete para a "sua Ruiva" e
não para mim.
— Presta atenção. — Abracei a sua cintura por trás. — No plano das
pessoas, você é a minha preferida. No plano dos carros, é a Ruiva. São coisas
diferentes, entende?
— Médio — respondeu, com a voz tranquila. Fiquei feliz por conseguir
relaxá-la. Madah não parecia tensa como antes.
Olhando ao redor, notei que o corredor das salas estava vazio, com os
alunos assistindo às aulas. Ficamos ao lado da porta da nossa turma,
esperando o sinal para a troca dos professores.
— Quer sentar comigo no fundo, ou prefere que eu fique com você na
frente? — perguntei, notando um vestígio de apreensão escurecer o seu olhar.
— Precisamos sentar juntos mesmo?
— É lógico! Qual é a graça de namorar na escola se não for para essas
coisas?
— Me diga você. Eu nunca namorei — murmurou, sem jeito.
— Eu também não. Você é a minha primeira namorada — falei e ela
arregalou os olhos, incrédula. Dei de ombros. — Mas quero o pacote
completo. Que inclui sentar juntos na classe, para rolar uma mão boba
sempre que o professor estiver distraído.
Nisso, tocou o sinal. O professor saiu da sala, mexendo no celular e
nem nos viu parados ali fora. Melhor assim... Não estava a fim de um esporro
por bolar aula.
Agarrei a mão da magrela e avisei:
— É agora. — Puxei a garota assustada para dentro da sala e
obviamente todos os olhares se voltaram para nós.
Continuei andando de mãos dadas com ela, seguindo entre as fileiras
até o fundão, onde encontrei duas carteiras vazias atrás dos meus amigos.
Dois deles se voltaram para nós, curiosos.
— Leonardo, Bruno... Perdemos alguma coisa da primeira aula? —
perguntei, me sentando ao lado de Madah. Apoiei a minha mão na sua coxa,
para não deixar dúvidas sobre a gente. Bruno nos observou em silêncio e
pude ver um brilho de inveja nos seus olhos escuros. Foda-se.
— Não, não perderam nada de útil. E nós, perdemos alguma coisa? —
Leonardo riu, apontando com a cabeça para a minha mão. — Vocês não eram
como irmãos? Luca me disse que ela era como uma irmã caçula, para a gente
cuidar dela na escola.
Não sabia deste pedido do meu irmão para Leonardo, mas não o
estranhei, afinal, Luca já havia simpatizado com Madah bem antes de mim.
E, com certeza, ele havia se ligado que Lorena e as amigas não iam com a
cara da magrela.
— Irmãos é o caralho. — Dei risada, sem disfarçar a felicidade. — A
não ser que o nosso sobrenome seja Lannister... Porque estou gamadão nesta
garota, cara. E estamos namorando.
Capítulo 28

Você não pode me dizer nada


Ninguém pode me dizer nada

Old Town Road | Lil Nas X


Davi Filipo Sintori "Sin"

As aulas transcorreram sem intercorrências. A nossa turma de segundo


ano era tranquila e ninguém mexeu com a gente.
— Eu prefiro não lanchar no refeitório... — Madah comentou, ao bater
o sinal do intervalo, antes de sairmos da sala de aula. Apreensiva, mordia a
boca, me encarando com os olhos inquietos.
— Ok. Vamos para algum outro lugar, mas só por hoje. Não quero ficar
escondendo o nosso namoro. — Segurei a sua mão e seguimos pelo corredor,
em sentido oposto à maré de alunos que se dirigia ao refeitório.
— Não é que eu queira esconder o nosso namoro... — Ela disse,
mexendo os dedos fininhos entrelaçados aos meus. — Eu só prefiro não me
encontrar com certas pessoas.
Eu sabia que ela se referia às meninas do 3º ano, em especial Lorena. A
loira havia sido antipática com Madah na escola, em mais de uma ocasião, e
dado aquele surto de grosseria no ensaio na casa dos Fontini.
— Não se esqueça de que às quartas e sextas temos Educação Física e
vamos nos encontrar com "certas pessoas." Aliás... Estou louco para me
encontrar com uma pessoa, em especial.
— Quem? — perguntou, enquanto descíamos as escadas até o gramado
da frente do prédio.
— Não faz ideia mesmo de quem, magrela? — Olhei para ela, que
balançou a cabeça em negativa. — Eduardo. Na verdade... É o meu punho
que quer se encontrar com a cara dele.
Em um momento de raiva involuntária, esmaguei a mão de Madah, que
a puxou de mim esboçando uma careta de dor.
— Sin! O que pensa em fazer com ele?! E doeu, viu...
— Foi mal... — Levei os seus dedos magrinhos à boca e beijei-os um a
um. — É que fico puto quando me lembro... O merdinha te agarrou, caralho!
Se ele pensa que vai ficar por isso mesmo, está muito enganado.
— Não quero que você se meta em confusão. Esquece o Eduardo. —
Madah pediu, me encarando com os olhos cheios de preocupação.
— Nem fodendo — murmurei, acedendo um cigarro.
Logo depois, chegamos a um pequeno jardim na lateral do prédio. Não
havia mais ninguém por ali. Madah se sentou em um banco e eu do seu lado,
com a minha bunda no encosto e os pés no assento. Desta maneira, no alto, a
minha fumaça de cigarro não a incomodaria tanto. Em silêncio, ela mexeu na
bolsa e retirou um barra de chocolate branco, abrindo-a sem pressa.
— Esse é o seu lanche? — perguntei, com a mão segurando o cigarro,
apontando para o chocolate. Descuidado, quase derrubei cinza em cima dela.
Porra... Só dava fora.
— É. Por quê? Gosto de chocolate para adoçar a vida... — Deu um
sorriso simples antes de morder a barra.
— Porque você precisa se alimentar direito, magrela. Não é nutritivo.
— Pensei em falar que a minha porra que ela havia engolido no boquete era
mais nutritiva do que isso, mas me calei. Eu tinha umas ideias tão sem
noção... Precisava me controlar.
— Todo chocolate é um pouco nutritivo — Madah rebateu, enfiando o
último pedaço na boca.
— Chocolate branco tecnicamente nem é chocolate, sabia?
— Como assim? — Ela riu, intrigada. — Me explique melhor, ó grande
"chocolatier".
— Ó grande pentelha... Presta atenção. Chocolate branco não tem
massa de cacau. É feito de manteiga de cacau, leite e açúcar. Ou seja, não tem
massa de cacau, não é chocolate. — Dei de ombros, me achando o
inteligente. Dei mais um trago e soltei a fumaça para o alto.
— Onde você aprende essas coisas? — Ela me observava detidamente,
com uma sobrancelha erguida.
— Sou um poço de cultura inútil, você ainda vai descobrir... —
Arremessei a bituca de cigarro no lixo.
— Tá. E como você critica o meu lanche, se nem trouxe nada?
— Como não tenho fome de manhã, prefiro aproveitar para fumar. E...
— Escorreguei para baixo, me sentando ao lado dela. — Agora que tenho
namorada, preciso otimizar ainda mais o tempo do intervalo. Vem cá,
magrela...
Madah sorriu, se arrastando para o meu colo. Me perdi nos seus olhos
azuis, sentindo uma paz absurda preencher o meu peito.
— O que foi? Que cara é essa? — perguntou, passeando com a ponta d
o indicador pela minha bochecha.
— Caralho... — Mordi o lábio, sem desviar o olhar e ajeitei seu cabelo
com uma mão. — Nem acredito que estamos numa boa, sem brigas, sem
provocações... Ainda não me caiu a ficha de que estamos juntos, sabe? —
Enfiei uma mão por baixo da sua blusa, acariciando a bordinha do seu seio,
contornando com o polegar.
— E eu nem acredito que você deixou de ser aquele boçal mal-
humorado e grosso para passar a ser este garoto atencioso, carinhoso e tarado,
tudo junto e misturado. A combinação perfeita — sussurrou no meu ouvido
antes de beijar de leve o meu pescoço, me arrepiando.
— Porra... — Alcancei o seu bico com o polegar, balançando-o para
um lado e para o outro enquanto ela traçava uma linha de beijos do meu
pescoço ao maxilar, até chegar à boca.
— O que são estes furinhos aqui? — Passou a língua embaixo do meu
lábio inferior, fazendo o meu pau enrijecer dentro da cueca.
— Eu usava piercing... Você gosta? — murmurei, quase ofegante.
Lembrei que as garotas gostavam de que eu as chupasse com
o piercing labial. A fricção do metal na boceta as deixava malucas. Porém,
obviamente, não falei nada a respeito.
— Talvez. Coloca um dia para eu avaliar... — pediu, passando a língua
entre os meus lábios.
— Combinado. — Sem soltar o seu peitinho, com a outra mão agarrei a
sua nuca e beijei-a com vontade. Puta que pariu... Seu gosto ainda mais doce
por conta do chocolate estava uma delícia. Suguei o seu lábio inferior,
degustando o sabor quente e delicado, enquanto as suas mãos delicadas
arranhavam as minhas costas, me excitando ainda mais.
Nunca alguém havia me deixado tão tarado. Meu pau doía tanto que
nem parecia que mais cedo já tinha gozado com aquele boquete perfeito...
Não via a hora de me enterrar nela. Eu sabia que poderia levar um
tempo, afinal, seria a sua primeira vez, porém não me importava em esperar.
Tinha certeza de que, quando acontecesse, seria incrível.

Na hora do almoço, eu, Madah e Enrico nos sentamos à mesa. Apenas


nós três, em vez de cinco, porque meu pai estava viajando e Luca em algum
compromisso. O bate-papo fluiu sobre inutilidades — filmes, séries, livros —
entre os dois, enquanto eu comia em silêncio. Nunca tinha assunto com o
meu irmão.
A nítida intimidade entre os dois me perturbava. Mesmo porque poucos
dias atrás eles se pegaram, tomaram banho juntos e...
— Princesa, me passa a salada de frutas? — pediu Enrico, sorrindo. Me
segurei para não mandar o babaca tomar no cu.
— Se você puder parar com a palhaçada de chamar a minha
namorada de princesa, agradeço. — Não me segurei. Ele arregalou os olhos,
surpreso.
— Ah... Ainda não tive a oportunidade de te contar, Rico... — Madah
tomou a iniciativa, com um pequeno sorriso nos lábios. — Hoje eu e o seu
irmão começamos a namorar.
Assenti com a cabeça e segurei a mão dela por cima da mesa, abrindo
um sorriso orgulhoso, contente. Ele olhou para os nossos rostos, para um de
cada vez, indo e vindo com os olhos castanhos intrigados. Por fim, murmurou
um: "Ok." Otário.
Depois do almoço, a magrela falou que precisava dormir um pouco.
Afinal, a nossa madrugada havia sido bem "agitada". Para evitar atrapalhar o
seu descanso, eu a deixei sozinha no seu quarto e fui para o meu. Minutos
depois, escutei duas batidas na porta.
— Pode entrar — falei, esparramado na cama.
Madah resolveu vir se deitar comigo? Legal.
— Oi. — Enrico colocou a cabeça pelo vão da porta, um pouco sem
graça. Nada legal. — Podemos conversar, Sin?
Pela sua cara de bunda, eu já sabia que viria merda. Por isso dei um
longo suspiro antes de concordar com a cabeça, desanimado. Me sentei na
cama, com as costas apoiadas na cabeceira e ele se acomodou na cadeira de
rodinhas do computador, se aproximando de mim, devagar.
— Fala — murmurei, sem sorrir, cruzando os braços sobre o peito.
— Que lance é esse de namoro? Pode me explicar?
— Não tenho o que explicar a você. Estamos namorando. Algum
problema?
— É que... — Parecia pensar nas palavras, coçando a nuca. — Até
ontem você tratava a Madah mal para cacete, brigavam como gato e rato...
Ok, eu percebia a tensão sexual entre vocês dois, mas... Namoro? Você nunca
namorou. O que está fazendo?
— Rá. Falou o expert em relacionamentos. Nunca pega ninguém e quer
dar uma de entendido para cima de mim?! — Ri com deboche. — Você só
pode estar viajando...
— "Viajei" ao achar que a gente pudesse ter uma conversa madura e
civilizada, de irmão para irmão. Eu queria te falar o que penso sobre isso,
mas pelo jeito não vale a pena.
Ok. Não fui muito maduro.
— Tá legal. Sou todo ouvidos. — Baguncei os cabelos, expirando todo
o ar dos pulmões. — O que você pensa?
— De verdade? Promete não surtar?
— Prometo, Rico. Anda logo. — Gesticulei com a mão para que
parasse de enrolar.
— Acho que você só quis "namorar" a garota porque a flagrou comigo,
e porque a viu de conversinha com o Bruno no dia do ensaio. Você surtou,
pirralho... Lembra? Tanto aqui em casa, quanto no estúdio. Ou seja, você a
pediu em namoro por ser egoísta, mimado, competitivo, possessivo, qualquer
merda, menos apaixonado. Vocês dois mal se conhecem! E isso é uma puta
sacanagem da sua parte.
O quê?!
Por que ele queria estragar tudo?!
— Você tá falando merda! — Meu sangue fervia de uma maneira que
eu mal conseguia organizar os pensamentos. — Eu já a conheço o suficiente!
— Conhece? Qual é o nome da mãe dela? Do que ela morreu? Qual é a
cor preferida dela? E o sabor de sorvete? E que personagem de Friends que
ela mais gosta?
— Eu... — Esfreguei o rosto, nervoso para caralho, sem saber uma
única maldita resposta.
— Heloise, câncer, azul, baunilha, Ross.
— Foda-se! Eu não obriguei a Madah a namorar comigo. Se ela
aceitou, foi porque quis. Você está com inveja! Porra, Rico...
— Madah aceitou porque ela tem dezesseis anos e não sabe nada do
mundo, cara! Vivia presa naquele inferno, fazendo coisas que não queria
fazer, com homens que lhe davam ânsia de vômito. — Ele se levantou, com o
rosto vermelho de raiva. Eu nunca havia o visto tão irritado.
— Do que você está falando, cacete?! — Fiquei em pé, me segurando
para não socar a sua cara, apertando as mãos em punhos, possesso.
— Pelo jeito vocês não conversaram sobre o passado dela, e aposto que
não conversaram sobre o seu. — Ele se aproximou de mim, me fuzilando
com os olhos. — Eu sei que você já passou por muita merda, só que ela não
fica atrás. Madah não teve uma adolescência nada fácil. Vocês dois agem
como se fossem fortes e durões, mas não são. Você sabe que daqui de casa
sou o mais "velho" e responsável de todos, tem vezes que ganho até mesmo
do papai. E por isso eu me preocupo, com ela e com você. Sim, me
preocupo com os dois, por terem se enfiado neste namoro precipitado fadado
ao fracasso. Pensa melhor antes de dar continuidade com isso, cara... Vocês
vão acabar se machucando feio.
— Eu... Eu dispenso a sua preocupação — murmurei a primeira merda
que me veio à cabeça, atordoado demais com tudo o que ele havia despejado
em cima de mim.
— Uma última coisa, pirralho... Todo mundo sempre passou a mão na
sua cabeça, por conta das merdas do seu passado, mas não sei até que ponto
isso te ajudou. Você tem dezenove anos e muitas vezes, age como um
moleque de doze. Está mais do que na hora de amadurecer.
E, do nada, Enrico foi embora, batendo a porta atrás de si, me deixando
mais confuso do que nunca. Puta que pariu...
Capítulo 29

Ultimamente, eu tenho pensado


Quero que você seja mais feliz

Happier | Marshmello feat. Bastille


Madeleine Laurent "Madah"

Abri os olhos preguiçosamente, despertando da minha soneca da tarde.


Puxei o celular ao lado e chequei o horário.
— Seis da tarde? Já? — Surpresa, me dei conta de que havia dormido
por mais de quatro horas. Minha nossa... Pelo jeito eu estava mesmo bem
cansada.
Ao deixar o quarto, segui pelo corredor e encontrei a porta do quarto de
Sin fechada. Bati duas vezes. Nada. Tentei de novo. Sem resposta. Intrigada,
me perguntei se ele estaria no andar de baixo.
Logo adiante, vi a porta de Enrico entreaberta. Pelo vão, enxerguei o
meu amigo conversando no celular, em uma chamada de vídeo. O sorriso
apaixonado no seu rosto me fazia pressupor quem seria do outro lado...
Bati de leve na porta e ele sorriu para mim, me chamando para entrar,
sem desligar o celular. Bateu no colchão para que eu me sentasse do seu lado
e pude ver o rosto de Paolo na tela.
— Boa tarde, Madah! — Paolo sorriu, bagunçando os cabelos
ondulados, com os olhos inchados de sono. — Pelo jeito não sou o único que
acabou de acordar.
Rico deu risada, arrancando um sorriso bonito do vocalista da Five
Stars.
— Boa tarde, Paolo! Capotei mesmo depois do almoço... É que eu tive
uma madrugada agitada. Qual é a sua desculpa?
— Eu tive uma madrugada perfeita. De pura inspiração! Escrevi duas
músicas inteirinhas. Acho que tem alguém aqui me deixando inspirado. —
Sorriu mais uma vez para Enrico, que o fitava com os olhos brilhantes,
contente.
— Que maravilha! Depois quero ouvir as músicas... — O ronco da
minha barriga me lembrou de que estava morta de fome. — Bom, boa
conversa para vocês. Preciso comer alguma coisa. Beijo, Paolo. — Me
despedi, me levantando da cama.
— Espera, vou com você — Enrico falou, tocando no meu braço. —
Preciso mesmo desligar, daqui a pouco tenho faculdade — explicou a Paolo.
— Depois nos falamos. Beijo.
— Beijo, Rico. Boa aula.
Desci as escadas com Enrico me contando sobre o telefonema, todo
animado. Seguimos direto até a cozinha, onde passei a pegar na geladeira os
ingredientes para o lanche.
— Prefere levar um sanduíche de presunto e queijo ou de atum? —
perguntei a Enrico, separando duas fatias de pão de forma. — Prepara um
café para mim, por favor?
Enrico e Luca já estavam acostumados a levar para a faculdade os
lanches que eu preparava para eles, quase todos os dias. Eu percebia que os
três garotos Sintori eram carentes, cada qual a sua maneira, provavelmente
pela perda precoce da mãe e pela ausência constante do pai. Um agrado
simples que os fizesse sorrir, como os sanduíches, não me custava nada.
Enquanto eu comia um pedaço de queijo, Rico mexia na máquina de
café, de costas para mim.
— Pode ser de presunto, princesa. Obrigado. Ah... Mais uma coisa. —
Ele girou o corpo de frente para mim. — Vou te chamar de princesa para
sempre, meu irmão que esperneie o quanto quiser. A não ser que você não
queira...
Ele parecia um pouco inseguro e virou de costas novamente para pegar
o café quando a máquina apitou.
— Pode continuar, Sin que aprenda a lidar. Não tem por que ele ainda
sentir ciúmes de nós dois. Aliás... — Me aproximei dele para pegar o meu
café. — O seu lance com Paolo. Vai ser secreto para sempre? Tenho certeza
de que o seu irmão pararia de encher o saco da gente se soubesse de vocês.
— Calma. Ainda nem sei se temos mesmo algum lance. É muito
recente para a gente assumir qualquer coisa, só ficamos duas vezes. Eu não
começo a namorar da noite para o dia, sabe? — Ergueu uma sobrancelha,
tomando um gole do seu café. — Coisas precipitadas não costumam dar
certo.
Senti a indireta e, desconfortável, não soube o que responder.
— E aí, pessoal? — Luca surgiu do nada, olhando para o sanduíche
embalado no papel de alumínio sobre o balcão. — É o meu?
— É o do Rico. Eu nem sabia se você estava vivo. Não te vi hoje o dia
todo.
— Morreu de saudades, pode falar. — Me puxou com o braço esquerdo
pela cintura e deu um beijo estalado na minha bochecha, rindo.
— Vai com calma. — Enrico se dirigiu ao irmão. — Agora ela é uma
menina comprometida.
— Ah, é? — Luca olhou para mim, surpreso, colocando as duas mãos
nos meus ombros. — Comprometida? Com quem?
— Ah... — Senti as minhas bochechas enrubescerem com toda aquela
atenção voltada para mim. — Eu e Sin... Estamos namorando.
Era estranho falar assim, em voz alta. O que parecia tão certo e natural,
quando estava a sós com Sin, soava inapropriado e esquisito quando dito às
outras pessoas. Não entendia o porquê.
— Como assim? Eu nem sabia que vocês estavam juntos. Caralho...
Fiquei quanto tempo fora? — Segurou a risada, balançando a cabeça. —
Bom... Boa sorte.
Foi até a geladeira, procurou por alguma coisa e pegou um refrigerante.
— Mas você vai continuar preparando sanduíches para mim, não vai?
— Abriu a latinha e deu um longo gole.
— Claro. Hoje quer de presunto e queijo ou atum?
— Só queijo. Obrigado. — Olhou ao redor da cozinha, curioso. — E
cadê o arrombado do Sin?
Eu ia responder que não sabia, porém Enrico foi mais rápido.
— Está lá no quarto dele, se afogando em bebida, escutando música. Já
tentei chamá-lo para descer mais cedo, mas não rolou.
Como assim?! Terminei de montar o lanche de Luca, ansiosa para subir
e falar com o meu namorado. Bebendo em plena segunda-feira?!
— Deixa ele, Rico — Luca deu de ombros, guardando o sanduíche na
mochila. — Melhor bebida do que outras coisas, e melhor em casa do que em
outros lugares. Vamos para a faculdade.
Acenei um tchau para eles e, preocupada, subi as escadas com o
coração pulando aflito dentro do peito. Bati novamente na porta do meu
namorado, mas não obtive resposta. Arrisquei girar a maçaneta, espiando
pelo vão.
Sin estava sentado em uma cadeira junto a uma pequena mesa, de olhos
fechados, com fones de ouvido. Mantinha os cotovelos sobre a mesa, com um
notebook em frente e um copo de bebida ao lado. Me aproximei devagar,
com medo de assustá-lo. Toquei delicadamente no seu antebraço e ele abriu
os olhos. Vermelhos. Sem sorrir, girou a cadeira e me puxou para o seu colo,
me abraçando apertado, enfiando o rosto no meu pescoço, respirando fundo.
Eu não sabia o que fazer, por isso somente retribuí o abraço, alisando as
suas costas fortes, para cima e para baixo. Depois de algum tempo, retirei os
seus fones e, hesitante, olhei nos seus olhos embaçados.
— O que foi? O que aconteceu?
— Não sei bem como começar a explicar... — Seu hálito fedia a
uísque. — Se deita um pouco comigo?
Fiz que sim com a cabeça e nos levantamos, caminhando até a sua
cama. Ele se acomodou de barriga para cima e, me puxando para que eu
apoiasse a cabeça no seu ombro, beijou o topo da minha cabeça. Com um
braço, envolveu a minha cintura, mexendo os dedos nas minhas costelas
como se tocasse piano.
— Tenho medo de... — se interrompeu e mordeu a boca, nervoso.
— Medo de quê? Continua — insisti, contornando as suas tatuagens do
braço com as pontas dos dedos, tentando o acalmar.
— Medo de te machucar. De te fazer mal. Queria que você fosse feliz
e... Não sou o melhor cara para você namorar. Pelo contrário. Sou o pior,
porra...
Eu queria lhe pedir que explicasse o porquê desta fala, mas a sua voz
embargada e o seu hálito forte deixavam claro que havia bebido demais.
Achei melhor encerrar o assunto, por enquanto.
— Melhor, pior, não importa. Você é o único garoto que eu namoraria,
Davi Filipo. Deixa de bobagem — falei, sem parar de deslizar os meus dedos
pelo seu braço tatuado, com a voz levemente trêmula.
— Não. A gente precisa conversar, magrela... Só não sei como
começar... — Me deixou ainda mais tensa com o tom que empregou. Sin
queria terminar o nosso namoro, em menos de vinte e quatro horas...?!
Sem falar mais nada, deu um longo bocejo, me puxando para mais
perto.
— Dorme, amor — sussurrei, erguendo os olhos para o seu rosto quase
adormecido. — Depois a gente conversa.
Tirei o seu boné, mexi nos seus cabelos macios e voltei a me
aconchegar no seu corpo firme e quente. Precipitado ou não, tinha certeza de
que não gostaria de estar em nenhum outro lugar que não nos braços do
garoto que fazia o meu coração disparar como nenhum outro. Decidida, me
comprometi a mostrar a ele, a Enrico e a todo mundo que poderíamos dar
certo.
Capítulo 30

Não desista de si mesmo


Pois todo mundo chora
E todo mundo se machuca, às vezes

Everybody Hurts | R.E.M.


Davi Filipo Sintori "Sin"

— Bebê... Você é tão bonito... Vai se tornar um homem maravilhoso


quando crescer... E isso aqui também vai crescer... — Uma mão mexia no
meu pinto e eu nem piscava olhando para as suas unhas pintadas de
vermelho.
Sua outra mão segurava a minha no meio das suas pernas, onde eu
podia sentir que era quente, molhada e peluda. Com o estômago embrulhado,
me perguntei se as meninas da minha idade eram assim também por dentro da
calcinha.
Nós estávamos no meu banheiro. Ela havia trancado a porta ao entrar,
enquanto eu terminava o banho depois de jogar bola, me enxugando com a
toalha do Pac-Man. Sem falar nada, tirou as roupas e me puxou para o chão.
Nos deitamos no tapete felpudo ao lado da banheira e ela passou a alisar o
meu corpo magro, ainda úmido, da barriga para baixo.
Eu estava com aflição, enjoado e com o coração disparado. Não
entendia o porquê, mesmo assim, o meu pinto ia crescendo e crescendo. Toda
vez que ela começava a mexer nele acontecia isso...
— Davi, você não está fazendo direito... Mexe os seus dedos como te
ensinei... Entra e sai, entra e sai...
Ela tinha me feito jurar que eu não contaria para ninguém. "É um
segredo só nosso. Tudo que vou lhe ensinar a fazer... É como um presente
que eu quero lhe dar. Todos os meninos da sua idade gostariam de ganhar.
Você é tão sortudo em receber..."
— Tia Rita, os meus pais... — Tentei fazê-la desistir. Eu sabia que
aquilo, "o nosso segredo", era errado e nojento.
— Bebê lindo da tia... Sua mãe está dormindo pesado, seu pai só vai
voltar de noite. Continua ou vou contar para ele que o seu boletim está cheio
de notas vermelhas. — Assustado, movimentei os dedos como sabia que ela
queria, enfiando e tirando, enfiando e tirando.
— Ai... — deixei escapar, suando frio, nervoso.
— Isso... Continua... Gira os dedos, vai... Isso, bebê... Ah... — gemeu
comprido, estremecendo. Estalou os dedos, o que significava que eu não
devia mais tocar nela. Então se inclinou sobre mim e acelerou a mão que
mexia no meu pinto, para cima e para baixo, sem parar.
Colocou a boca na pontinha, lambendo bem na hora que começaram a
sair aquelas gotinhas esbranquiçadas. Minha respiração falhava e eu fechei os
olhos, com a cabeça girando. Meu coração batia mais rápido do que nas
partidas de futebol.
— Bom menino, Davi... Bom menino. Meu turno está acabando, mas
amanhã eu volto. — Ela se levantou e, depois de vestir a roupa branca, saiu
do banheiro. Ela se foi, mas o seu cheiro forte na minha mão ficou. Senti
ânsia de vômito e me segurei. Odiava vomitar. Agoniado, resolvi tomar outro
banho.
Era sempre assim... Quando ela começava a mexer em mim, o meu
pinto crescia. Alguma coisa estranha acontecia com o meu corpo, como uma
descarga elétrica. Eu sabia que era errado é me sentia sujo, principalmente
quando eu mexia nas partes dela. Depois eu ficava inquieto, irritado, tomava
outros banhos e...
Fechei o chuveiro e, pronto me enxugar, enxerguei-a parada de novo ao
lado do box. Seus olhos brilhavam para mim e, abraçando o meu próprio
corpo, tentei conter os arrepios que gelavam o meu estômago de um jeito
ruim.
— Mudei de ideia, bebê. Já quero mais.
— Ah, não! Não! Tia Rita, eu...
— Acorda, amor! Davi Filipo! Acorda! — Sua voz doce me chamando
com firmeza fez com que eu despertasse no susto. Outra porra de pesadelo...
E esse foi absurdamente realista... Merda.
— Caralho... — Me sentei na cama, todo suado, com o coração pulando
na garganta. Madah me olhava com os olhos claros cheios de preocupação,
sem piscar.
— Conversa comigo, Sin. — Ela acariciou o meu braço, com seus
dedos delicados subindo e descendo devagar. — O que te perturba tanto?
Quem é Rita?
Escondi o rosto nas mãos, com a respiração forte, tentado a contar toda
a merda para ela. Ninguém sabia direito de todos os detalhes. Nem o meu pai.
— Pode confiar em mim. — Sua voz suave voltou a falar. — Sou a sua
namorada, lembra? Vou te apoiar, sempre.
Quer saber? Foda-se. Vou falar tudo. Seja o que Deus quiser.
Não aguentava mais guardar aquilo dentro de mim.
— Eu tinha onze anos... — Respirei fundo e, deitando a minha cabeça
nas pernas da magrela, fechei os olhos.
— Estou ouvindo... — incentivou, acariciando os meus cabelos, me
acalmando com os seus toques delicados, leves.
— Meu pai contratou uma enfermeira para cuidar da minha mãe. Eu e
os meus irmãos a chamávamos de Tia Rita.
— O que sua mãe tinha?
— Fibromialgia e depressão. Foi piorando até que chegou uma hora
que quase não saía da cama, dormindo praticamente o dia inteiro. Às vezes,
ficava tão dopada que nem me reconhecia.
— Que triste... É compreensível que isso lhe perturbe. As lembranças
devem ser pesadas e...
— Não é isso — cortei sua fala, abrindo os olhos. Encontrei o seu olhar
confuso. Fiquei em silêncio, sem saber como lhe explicar.
— O que é, então?
Me senti inquieto, com ela me encarando daquela forma. Preferi mudar
de posição, me sentando na cama. Madah fez menção de chegar mais perto,
mas sinalizei com a mão que mantivesse distância. Ficamos os dois em cima
do colchão. Ela abraçando os joelhos, e eu de perna de índio, sem nos
encostar.
— Vou tentar resumir. É uma história tão fodida... Quer mesmo saber?
— Quero. Se você quiser me contar. Não se sinta pressionado.
— Lá vai... — Cocei a nuca, tomando coragem. — A enfermeira
começou a dar em cima de mim. Ela me ensinou a fazer coisas que menino
nenhum de onze anos deveria fazer com uma mulher dezoito anos mais velha.
Ela tinha quase trinta anos e eu era uma criança, no máximo um pré-
adolescente.
— Que horror... Ela era pedófila... — Seus olhos bonitos estavam
arregalados, em choque.
— Era. E o pior era que na hora eu ficava excitado. Só que depois eu
me sentia mal para caralho. Sujo, sabe? Tomava trocentos banhos e... Porra...
Perdi a minha virgindade com ela.
— Caramba... Sinto muito... — Apertou os próprios joelhos com força,
aflita. — E ela... — Mordeu a boca, se interrompendo.
— Pode perguntar, imagino que tenha mil questionamentos.
— E ela vinha aqui todos os dias? Sempre conseguia abusar de você?
Meu Deus... Com onze anos, eu era uma criança inocente, estudava em
período integral... Você não passava o dia na escola, amor?
— Eu estudava só de tarde. Ela vinha em casa de manhã, cinco vezes
por semana, quando minha mãe era viva. Mas nem sempre rolavam os
abusos... Só quando ela me flagrava sozinho. Por isso eu tentava ficar o
tempo todo com os meus irmãos, mas Luca passou para o Ensino Médio e
começou a estudar de manhã. Já Enrico, para variar, não saía do seu
mundinho de Bob, enfiado nos livros, alheio a tudo e a todos ao redor. Ou
seja, pelo menos uma ou duas vezes por semana ela conseguia o que queria.
E essa merda começou a me prejudicar em outras coisas, como a minha
concentração que foi para o lixo, as minhas notas que caíram, etc.
— Minha nossa... E por quanto tempo ela trabalhou aqui? Meses?
— Trabalhou por seis meses, até que a minha mãe morreu. Nisso,
pensei que ficaria livre dela, mas...
— Mas...?
— Mas algum tempo depois, meu pai veio nos contar que estava
namorando. E adivinha quem era a nova namorada? — Dei um sorriso sem
graça.
— Não acredito! Ela e Domenico namoraram?! — Madah ficou
boquiaberta.
— Namoraram. Até tudo sair do controle de vez... Está preparada para
a pior parte?
— Ai, vai piorar? — Fechou os olhos, agoniada.
— Vai... Quando eu já estava com treze anos, não suportava nem que
ela chegasse perto de mim. Gritava com a maluca, saía de casa quando ela
chegava, explodia mesmo... Todo mundo achava que eu tinha raiva dela por
ser a nova namorada do meu pai, que eu não tinha superado a morte da minha
mãe... Passei a ficar cada dia mais perturbado, nervoso, agressivo. O meu pai
já não sabia o que fazer comigo... O "filho problemático".
— Espera... Só para eu entender. Como você lidou com a morte da sua
mãe?
— Porra... Eu fiquei mal, é lógico. Mas o que me transformou no "filho
problemático" não foi a morte dela, e sim o assédio da namorada do meu pai,
que não desistia de me procurar para sexo. Nem dormir tranquilamente eu
podia... Perdi a conta de quantas vezes acordei de madrugada com ela me
chupando e o caralho. Eu a xingava, a humilhava e mesmo assim a maluca
não me deixava em paz.
— Que coisa mais horrível... — Madah parecia à beira das lágrimas.
— Calma que vai piorar ainda mais... — Baguncei os cabelos,
suspirando fundo, me preparando para o episódio mais pesado.
— Ah, não... Mais? — Ela colocou as mãos na cabeça, incrédula.
— Mais. Até que um dia a filha da puta veio com um papo de que não
iria mais insistir naquilo. Que estava cansada de ser humilhada por um garoto
que a rejeitava no sexo. Que queria ser uma boa madrasta, se dedicar ao meu
pai, cuidar da família, etc. Eu vivia sempre tão irritado... Já fumava cigarro há
algum tempo, mas a nicotina não fazia nem cócegas. Então ela disse que
sabia de uma coisa que iria me acalmar...
— Sei. E o que ela aprontou? — Madah perguntou, mordendo a boca
em ansiedade.
— Ela me apresentou à heroína. Não me esqueço das suas palavras na
primeira vez que me drogou: "É como uma picadinha de mosquito, bebê.
Você vai conseguir dormir, relaxar... Sou enfermeira, lembra? Sei o que estou
fazendo. Vamos contar até dez para a mágica acontecer. Um, dois, três..."
— Desgraçada... — Madah começou a chorar e fiquei em silêncio para
enxugar as suas lágrimas. Suas bochechas ficaram molhadas e quase desisti
da narrativa para beijá-la. No entanto, me segurei. Eu sentia que já tinha ido
longe demais e que precisava prosseguir até o final. Por isso, puxei-a para
perto de mim e voltei a falar.
— Vou encerrar logo. Aguenta aí, magrela... Resumindo, a maldita me
viciou em heroína, aos treze anos, para continuar abusando em mim. Foi a
pior época. Eu não resistia e nem tentava fugir. E, mais, fazia tudo o que ela
queria, qualquer coisa em troca de uma dose a mais. Além de pedófila, ela
era ninfomaníaca, porque às vezes me procurava três, quatro vezes no mesmo
dia. Depois eu ficava malzão, ainda mais porque o meu pai também transava
com ela, nojento para caralho. Até que...
— Quê...? — Madah balbuciou, enxugando as lágrimas.
— Até que um dia eu surtei de vez. Ela vivia elogiando o meu pau e,
durante o surto, drogado, tive uma "brilhante ideia". Se eu não tivesse mais
ele, a maluca me deixaria em paz, de vez. O que fiz? Com a faca de cozinha,
tentei me mutilar, cortar o meu pau fora...
— Não! — Madah cobriu a boca com a mão, com os olhos molhados
arregalados. — Como conseguiu lidar com a dor?
— A heroína é um analgésico potente, sabia? Cinco vezes mais forte do
que a morfina. Por isso a dor não foi nada... Só que desmaiei quando
começou a sangrar sem parar, até que Enrico me encontrou quase morto por
causa da hemorragia. Só assim para o franguinho sair da sua bolha e
finalmente perceber que tinha algo de muito errado com o irmão caçula.
— Minha nossa... E seus irmãos não sabiam mesmo? Ela nunca mexeu
com eles? E o seu pai?
— Não. Domenico não enxerga um palmo na frente do nariz quando o
assunto são os filhos. Só pensa em trabalho, diversão e mulher. E, dos
garotos, fui o único escolhido. O "sortudo." Talvez por ser o mais novo...
— Faz sentido. — Balançou a cabeça em concordância. — E depois?
— Depois da tentativa de automutilação, fui hospitalizado e, como
você deve saber, salvaram o meu pau, que ficou cheio de cicatrizes. Só que os
exames mostraram que eu estava drogado e assim todo mundo soube do meu
vício em heroína. Então o meu pai bancou um puta tratamento, que levou três
anos fodidos, dos meus treze aos dezesseis, até eu ficar "limpo." E é por isso
que estou três anos atrasado na escola. Fim.
— Fim? E a pedófila? Foi presa?
— Foi nada. Contei por alto o que rolou para o meu pai e os meus
irmãos e... É engraçado como as pessoas não enxergam a porra da gravidade
quando a pedofilia é feita por uma mulher contra um menino. Luca até deu
risada, falando que perdi a virgindade antes, que eu era "sortudo." Enfim,
foda-se. Já passou.
— Já passou nada. — Ela me encarou com os olhos preocupados. —
As marcas ficam. Você tem os pesadelos até hoje e...
— Por falar em "marcas". — Dei uma risada fraca, interrompendo-a. —
Adivinha por que fiz a tatuagem no pau? Para...
— Para cobrir as cicatrizes — completou a frase, assentindo com a
cabeça. — Meu Deus. Estou tão chocada com tudo isso, você...
— Eu sou todo fodido, eu sei.
— Não. Eu ia falar que você é tão forte... — Segurou o meu rosto com
as duas mãos. Esbocei um sorriso, apreciando o seu toque quente e macio. —
É um sobrevivente! E, agora que te conheço melhor, entendo o porquê de
algumas coisas. Os pesadelos. A falta de diálogo com seu pai. O desprezo
pelas namoradas dele. A mágoa com Enrico. O medo que todos têm das suas
recaídas.
— E isso não te assusta? Sou todo quebrado... Um namorado com
defeito de fábrica. Você não é obrigada a aceitar. — Peguei as suas mãos,
nervoso, inseguro.
Não me abandone, torci mentalmente, desesperado.
— Não, não me assusta. Eu também vim com defeito, mas a minha
história fica para outro dia. Nós dois somos quebrados, amor. E isso nos torna
perfeitos um para o outro — declarou, presenteando-me com um sorriso
bonito.
Quase caí em lágrimas. Porra... Estava mexido para caralho depois de
tudo... Madah era foda. Perfeita.
É ela.
Ao contrário do que cheguei a cogitar mais cedo, eu não iria voltar
atrás. Não terminaria o namoro com a magrela. Nunca.
Capítulo 31

Quando você sorri, o mundo inteiro para


E lhe encara por um tempo
Porque, garota, você é incrível
Simplesmente do jeito que é

Just The Way You Are | Bruno Mars


Madeleine Laurent "Madah"

— Obrigada. Por confiar em mim. — Dei um beijinho no seu rosto


bonito e depois o puxei para um abraço demorado. Sin correspondeu, me
envolvendo pela cintura, em silêncio. Sob o meu queixo sentia o seu ombro
tenso, rígido, mas não comentei nada.
Eu estava extremamente impactada pela sua história, porém me
esforçava para não chorar mais, ou demonstrar pena, porque sabia que era o
que as pessoas menos desejavam que sentissem por elas.
Apreensiva, tive receio de que pensasse que decidi continuar com ele
somente por isso. Por ter me compadecido do seu passado, do que sofreu nas
mãos daquela enfermeira criminosa maldita. A verdade era que queria
continuar com ele por um único e simples motivo: porque não existia nenhum
outro garoto com quem eu quisesse ficar.
É ele.
Ainda o abraçando, respirei fundo, com o nariz roçando no seu
pescoço. Seu cheiro e seu calor aceleravam o meu coração. Sorrindo, me
perguntei se já estaria apaixonada.
— Confio mesmo em você, magrela. Você é incrível por escutar, sem
julgar... Confesso que tive medo da sua reação. Eu nunca tinha contado a
história direito para ninguém... — disse com a voz rouca, levemente trêmula,
emocionado. — Quero tomar uma ducha. Esfriar a cabeça.
— Vai lá. Vou aproveitar para tomar um banho rápido no meu
banheiro. Já volto.
Fugi antes que ele falasse para tomarmos banho juntos. Eu queria ficar
sozinha um pouquinho, para colocar a cabeça no lugar, tentar absorver tudo o
que havia me contado. Retornei para o seu quarto poucos minutos depois,
vestindo shorts jeans e blusinha de algodão. Encontrei Sin de bermuda e
camiseta, esfregando a toalha nos cabelos molhados.
— Está tudo bem? — Observei a sua postura, ele parecia menos tenso.
— Já estou mais tranquilo. Mas ainda preciso de um cigarro...
— Não. Nada de cigarro. Deita de bruços. — Eu o empurrei
delicadamente para trás, na direção da cama. — Vou fazer uma massagem
que vai te relaxar mais do que a nicotina.
Sin ergueu uma sobrancelha e, sorrindo de canto, arrancou a camiseta
antes de se deitar de barriga para baixo. Eu nunca tinha reparado nas suas
tatuagens das costas. Embaixo de um desenho de uma mandala na nuca,
havia uma enorme Themis, a deusa da Justiça, com a balança em mãos,
ocupando praticamente toda a extensão, das omoplatas à lombar.
Impressionante.
Sentei por cima do seu quadril e passei a apertar seus ombros fortes,
seu pescoço, sua nuca com o cabelo raspado. Os seus fios curtos se
arrepiavam com os meus toques.
— E em pensar que poucos dias atrás eu sentia tanta raiva de você...
Como as coisas mudam, não é? Sinto muito por ter te tratado mal... —
murmurou com o rosto de lado, com uma bochecha apoiada no colchão,
mantendo os olhos fechados.
— Pois é... — Desci as mãos pela linha da sua coluna, apreciando a
sensação da sua pele quente contra as minhas palmas. — Não foi totalmente
culpa sua, por isso já deixei para lá. Você não sabe o motivo de Domenico ter
me trazido para cá... Entendeu tudo errado. Eu não podia explicar direito e
seu pai não ajudou em nada.
— Não vai me contar, magrela...? Nem mesmo agora...? — Me senti
mal por esconder alguma coisa dele, depois de tudo o que havia me revelado.
— Que maldade... Eu me abri com você. Pensei que entre a gente existisse
confiança — continuou, exagerando no drama. Senti o tom de chantagem
emocional e sua malandragem me arrancou um pequeno sorriso.
— Golpe baixo, Davi Filipo. Só não te falei até agora porque
Domenico me pediu segredo. Mas vou te contar, sim. Não quero esconder
mais nada de você.
Em um movimento rápido, Sin girou o corpo, ficando de barriga para
cima, quase me derrubando do colchão no processo. Seus olhos azuis
brilhavam em expectativa. Depois se levantou, pegou um cigarro na
escrivaninha e levou-o aos lábios.
— Me deixa fumar enquanto você fala, por favor... — murmurou,
brincando com o isqueiro. — Estou nervoso.
— Tá. Mas vai na janela... — falei, acomodando-me de perna de índio
na cama. — Vou contar de uma vez. E isso tem que ficar entre nós, ok?
Confio em você.
— Pode confiar. Fala. — Deu uma longa tragada no cigarro, me
olhando sem piscar, atento.
— Seu pai era amigo da minha mãe. Na verdade, ela trabalhava na
empresa dele, quase vinte anos atrás, quando ela engravidou de mim e...
— Puta que pariu. — Ele empalideceu, me interrompendo. — Nós
somos irmãos?! — Passou a mão pelo cabelo, desorientado.
— Não! — exclamei meio alto demais, chamando a sua atenção para o
meu rosto. — Desculpe, não quis te confundir. Deixa eu continuar.
— Ela engravidou de mim e procurou o seu pai para a ajudar, porque o
meu pai não queria que ela desse continuidade à gravidez. Queria que ela me
abortasse. E, como ele era poderoso, minha mãe decidiu ir embora, sair do
país, com medo do que o homem pudesse fazer. Assim, Domenico a ajudou a
se mudar para o Uruguai e os dois mantiveram algum contato. Até que, em
um telefonema ao hotel Punta Estelar, disseram a ele que Heloise estava
hospitalizada e, ao ligar para o hospital, soube que ela havia falecido, quase
seis meses antes.
— Preciso entender... Você estava há quase seis meses sozinha no
hotel? Menor de idade? Como...?
— Eu não sabia que ela estava morta. Isso que é o mais revoltante...
Hector, um dos gerentes, me fez trabalhar como massagista para pagar o
tratamento de câncer da minha mãe. Por isso me providenciou um documento
falso de vinte e um anos. E, Sin... Eu nunca te disse com todas as letras, mas
não era apenas massagem. Os clientes podiam pagar a mais por masturbação
ou sexo oral.
Terminei a frase em um fio de voz, percebendo o maxilar do meu
namorado travar com a informação. De qualquer forma, eu sabia que não era
novidade para ele. Porém escutar da minha boca deveria ser péssimo.
— E depois?
— Depois que o seu pai soube que ela estava morta há meses,
estranhou a informação que o hotel havia passado a ele, por isso colocou um
investigador particular para checar melhor os fatos. Descobriu o que estavam
fazendo comigo e foi me resgatar, por consideração à amizade que tinha com
a minha mãe. Você foi junto, mas pelo jeito não sabia de nada.
— Não sabia. — Balançou a cabeça, apagando a bituca de cigarro em
um cinzeiro pousado na base da janela.
— Enfim... Domenico disse que o investigador faria buscas sobre a
minha família no Brasil e, enquanto não a encontrasse, eu moraria com vocês.
Indefinidamente.
— Certo. E... Por que ele não me falou nada disso? — Cruzou os
braços sobre o peito, com o semblante duro.
— Não sei. Ele, inclusive, me pediu para não comentar sobre isso com
ninguém. Explicou que, primeiro, queria descobrir quem era o meu pai e se
ainda representava alguma ameaça à minha integridade.
— Entendi. Mas ele poderia ter me contado por alto, caralho... Me
deixou pensar que você fosse uma garota de programa e ele sabe que eu
odeio putas. Foi por causa delas que minha mãe se afundou de vez na
depressão.
— Amor... — comecei, medindo as palavras, apertando as minhas
mãos nos joelhos. — A culpa pela gravidade da doença não é das prostitutas.
É do seu pai que não foi fiel a ela.
— Eu sei, porra... Eu sei. Mas é foda. É como uma sequência de
dominós. Se não fossem as putas... O vício do meu pai por elas... Minha mãe
não teria piorado, não precisaria de cuidados de enfermeiras, não teria
existido a... Deixa para lá. — Passou as mãos pelos cabelos, aborrecido. —
Não me conformo que ele não tenha me falado a real de você para mim.
Magrela... Pensei tão mal a seu respeito. E você é virgem, cacete!
— Talvez Domenico não tenha feito na maldade... Talvez tenha
pensado que eu fosse uma garota de programa, sim. Quando ele apareceu na
minha sala de massagem, no Punta Estelar, tudo apontava para isso. Até as
minhas vestimentas.
— Sim. Você está certa... — murmurou, pensativo. — Vamos deixar
tudo isso para lá. — Veio até a cama e puxou-me para que eu me levantasse.
Sorrindo daquele seu jeito convencido, colocou as minhas mãos sobre o seu
peitoral firme e quente, acariciando os meus pulsos com os polegares. — O
que importa é que toda essa merda te trouxe para a minha casa. Para viver
com quatro Sintori e namorar o mais gostoso deles.
— E o mais humilde... — Sorri, arranhando de leve a sua pele lisinha e
tatuada, fazendo os seus mamilos se enrijecerem. Meu estômago
inconveniente roncou baixinho. — Estou com fome...
— De mim? — Apertou a minha cintura, me puxando ainda mais para
si.
— Não. Você acaba com a minha energia. Preciso jantar comida de
verdade.
Capítulo 32

Ela é só uma garota


E está em chamas
Mais quente do que uma fantasia

Girl On Fire | Alicia Keys


Madeleine Laurent "Madah"

— Jantar, magrela? Que horas são, caralho?


— Nove e pouco — respondi, depois de espiar a tela do celular em
cima da mesinha de cabeceira. — E quem vai preparar o jantar? Eu ou você?
— Como assim? — perguntou, vestindo a camiseta, com aquela
agilidade charmosa que prendia os meus olhos.
— Só estamos nós dois aqui... — Dei de ombros, caminhando em
direção à porta. — Os funcionários foram embora, os seus irmãos estão na
faculdade.
— Ué... O mordomo sempre dorme em casa. — Veio atrás de mim,
agarrando a minha cintura e, colando os nossos quadris, se esfregou, me
provocando.
— Escutei os seus irmãos dizerem que Antônio tirou uns dias de folga.
A casa é só nossa. — Arrebitei a bunda para trás, sentindo a sua ereção entre
as minhas nádegas, dura.
— Perfeito — murmurou com os lábios no meu ouvido, me arrepiando.
— Vou ficar te apavorando o tempo todo naquela cozinha... Vamos descer
logo. — Em um movimento rápido, Sin me jogou de bruços sobre um de seus
ombros, me carregando pelo corredor, a passos apressados.
— Ei! Me deixa descer! — Dei risada, dando soquinhos nas suas
costas. — Seu homem das cavernas!
— Nem estou te arrastando pelos cabelos... Fica quieta. — Com a mão
livre, me deu um tapa estalado na bunda, gargalhando. Era incrível vê-lo tão
animado, tão feliz, depois de tudo o que havia me contado, minutos atrás.
Continuou me carregando assim até a cozinha, onde me colocou
sentada sobre o balcão.
— Não saia daí. — Apontou para o meu rosto, com o olhar firme,
enquanto se dirigia de marcha a ré até a geladeira. Pegou uma lasanha
congelada no freezer e colocou no micro-ondas, voltando até mim. — Pronto.
Jantar a caminho. Temos quinze minutos.
Com os quadris encaixados entre os meus joelhos, suas mãos já foram
erguendo a minha blusa, retirando-a, disparando o meu coração. Enquanto
apertava os meus seios por cima do sutiã, colou os nossos lábios em um beijo
lento e forte. Agarrei a sua bunda durinha, puxando-o para mais perto de mim
e ele levou as mãos às minhas costas, soltando o fecho do sutiã, livrando-se
da peça.
Logo depois Sin arrastou o antebraço pelo balcão, jogando tudo o que
estava sobre ele no chão — talheres, porta-guardanapo, jogos americanos de
tecido — e empurrou o meu tronco para trás, caindo de boca em um dos
meus seios. Girou a língua em torno do mamilo antes de abocanhar o
montinho com vontade.
Enquanto me mamava com força, fazendo com que eu me retorcesse de
tesão, com uma mão desceu o zíper do meu shorts, abaixando-o junto com a
calcinha até as peças caírem no chão. Um medinho revirou o meu estômago
quando, completamente nua, percebi que ele abria a sua bermuda.
— O que está fazendo? — perguntei em meio a um gemido, ao mesmo
tempo que sentia os seus dedos brincando com os meus lábios vaginais,
acariciando-os.
— Um aperitivo para o jantar... — respondeu depois de mordiscar o
meu mamilo com os dentes da frente. — Não vou tirar a sua virgindade em
uma maldita cozinha. Confia?
— Confio. — Relaxei, entregando-me às sensações. Seus dedos
alisavam a minha abertura molhada que pulsava com os seus toques e sua
boca se revezava entre os meus dois seios, ora sugando com força, ora
lambendo, ora prendendo os biquinhos com os dentes. Minha nossa...
Quando pensei que não poderia ficar mais intenso, deslizou a língua
pela minha barriga, beijando e lambendo, deixando um rastro molhado e
quente pelo caminho e, sem aviso, caiu de boca entre as minhas pernas.
— Sin! — gemi o seu nome quando sugou os meus lábios vaginais
lentamente, com as duas mãos firmes nas minhas coxas, mantendo-as bem
abertas.
— Alguém já tinha te chupado? — Ergueu levemente a cabeça para me
olhar nos olhos. Seus lábios molhados o deixavam ainda mais sedutor. E,
quando os umedeceu com a ponta da língua, sorrindo, fez minha vagina
pulsar com tudo.
— Não, nunca.
— Vou tentar caprichar para você. — Sua voz rouca estremeceu todas
as minhas células. Sin mantinha os nossos olhares conectados e, ainda
sorrindo, agarrou as minhas pernas, apoiando-as nos seus ombros, uma de
cada lado. Depois desceu a cabeça, voltando a me chupar. Sua língua
circulava a minha abertura, entrando e saindo devagar, estimulando todos os
pontos sensíveis. E, quando se concentrou em cima do meu clitóris, quase vi
estrelas.
— Ai... — Arfei quando ele deslizou um dedo para dentro de mim, com
a boca trabalhando ao mesmo tempo, me derretendo de prazer.
Sin me mordiscava bem de leve, me beijava e me pincelava com a
língua, sem parar. Tudo isso sem retirar o dedo, mexendo-o com cuidado,
alisando as minhas paredes internas, me enlouquecendo. E, quando arrastou o
dedo para fora e enfiou a ponta da língua endurecida dentro de mim, girando,
arqueei a coluna com força, quase gozando.
— Não é para gozar ainda, magrela. — Ele riu e me virou de bruços,
deixando as minhas pernas penduradas e a minha bunda empinada na sua
direção.
— Isso é tortura... — reclamei, sentindo falta da sua língua no meu
sexo.
— Tortura é encostar o meu pau na sua boceta e não me enterrar nela...
Mas só vamos fazer quando você pedir. Quando se sentir pronta.
Mais excitada do que nunca, estremeci ao sentir a sua glande quente e
úmida sendo friccionada para cima e para baixo, deslizando na minha
lubrificação, ao redor da minha vagina. Quase implorei para que me
penetrasse, desesperada. Nossas respirações fortes preenchiam o ar quente da
cozinha, onde a contagem regressiva do micro-ondas corria sem parar.
— Você me deixa maluco, porra... — murmurou e com as mãos firmes
separou as minhas nádegas, girando os quadris enlouquecidamente,
esfregando a sua ereção por cima do meu buraquinho de trás. Me lembrei
dele fazendo sexo anal com a loira no hotel e tive certeza de que ele queria
me possuir ali também. — Caralho... — rosnou, frustrado.
Me virou de frente, me sentando e voltou a me beijar, em um misto de
desejo e raiva. Mordia os meus lábios descontroladamente e, quando levei a
minha mão à sua ereção, punhetando, ele gemeu comprido dentro da minha
boca, extasiado.
— Vamos juntos? — perguntei ao senti-lo me dedilhar no mesmo ritmo
da punheta que eu batia para ele, cada vez mais rápido. Nós dois estávamos
suados, ofegantes, desesperados para gozar.
— Cacete, magrela... Que boceta deliciosa... — Enfiou novamente um
dedo dentro de mim e passou a ejacular, esporrando na minha barriga. A sua
expressão de entrega e prazer foi o gatilho que me faltava para que eu me
desmanchasse na sua mão.
— Ah... — gemi com o seu polegar friccionando o meu clitóris e ele
me abraçou com força, apertado.
Enquanto as nossas respirações se normalizavam, quase alcancei o
Nirvana, leve, feliz, com o corpo todo formigando. Até que o micro-ondas
apitou, me trazendo de volta à realidade.
Hora do jantar.
Capítulo 33

Você é meu raio de sol


Meu único raio de sol
Você me faz feliz
Quando o céu está nublado

You Are My Sunshine | Johnny Cash


Davi Filipo Sintori "Sin"

Devoramos a lasanha em pé mesmo e demos uma geral na cozinha.


Sem pressa, recolhi as coisas que derrubei no chão enquanto a magrela lavou
a louça. Em seguida, subimos. Eram umas dez e pouco da noite.
— Preciso de outro banho. Estou meio... Melada. — Sorrindo, apontou
para a barriga onde eu havia ejaculado. — Depois, cama.
Madah estava parada em frente à porta do meu quarto, meio que se
despedindo. Nem fodendo que ela iria me deixar aqui sozinho...
— Toma banho comigo. Depois, podemos dormir juntos na minha
cama. — Acariciei o seu pulso fininho, puxando-a para mim, mas ela não se
moveu.
— Sin... Acho chato ficar dormindo toda noite no seu quarto. Seu pai
não vai gostar de saber que estamos fazendo a casa dele de motel.
— Domenico está cagando para isso, pode acreditar. Fora que ele ainda
nem voltou de viagem — expliquei e, como ela permaneceu impassível,
decidi apelar. — E quem vai me acordar se eu tiver outro pesadelo? Preciso
de você comigo, magrela. Pelo menos hoje, que revivi toda a merda do meu
passado.
Madah hesitou por um momento, porém não resistiu ao meu olhar de
cachorro sem dono. Sorri de lado quando percebi que iria ceder.
— Tá bom, tá bom! — Ela riu, me fazendo rir também. — Vou só
pegar a toalha e o pijama. Vai preparando o banho...
Na ponta dos pés, deu um beijinho no meu rosto e se afastou na direção
do seu quarto. Satisfeito, caminhei todo sorridente até o banheiro, escovei os
dentes e abri a água do chuveiro. Eu estava debaixo da água morna quando
ela chegou, já sem as roupas, com a toalha enrolada no corpo.
Prendi o ar quando ajeitou o cabelo em um coque e se livrou da toalha.
Nua, desfilando com aquele seu corpinho miúdo e perfeito, abriu a porta do
box e sorriu para mim. Seus olhos brilhavam, sustentando o meu olhar em
meio ao vapor, fazendo o meu coração disparar, agitado e sem ritmo.
Fodeu. É isso... Estou apaixonado. A simples ideia deixou o meu
estômago gelado.
— Demorei para chegar? — perguntou, quebrando o silêncio, testando
a temperatura da água com a mão antes de molhar o restante do corpo.
— Demais... — respondi, respirando fundo, tentando me acalmar. Me
encostei na parede de azulejo para que ela tivesse mais espaço para se lavar.
— Encontrei Enrico no corredor quando eu estava voltando para o seu
quarto, quase morri de susto. Eu não sabia que ele ia chegar mais cedo da
faculdade. — Ela riu com os olhos baixos, ensaboando as pernas.
O quê?! Enrico a encontrou quase pelada?! Conversaram?! E ela estava
rindo por quê?!
— Puta merda. Ele te viu só de toalha?! Caralho! — Dei um tapa no
azulejo úmido, tão forte que fez a minha palma arder.
— Calma. — Ela me encarou com os olhos cheios de julgamento e
voltou a se ensaboar. Eu sentia o meu sangue ferver pelo corpo todo,
alterando a minha respiração, até que explodi em um rompante de fúria. Que
merda!
— Como "calma", porra?! Meu irmão te viu quase pelada, e você me
fala "calma"?! Não fode!
Pensei que Madah fosse se intimidar com a minha atitude escrota, mas
que nada...
— Grande coisa! — Ela me fuzilou de volta, com os olhos firmes e o
nariz em pé, destemida. — Enrico já me viu completamente pelada, lembra?
Tomamos banho juntos e você sabe disso.
Meu peito doeu com a lembrança fodida. E, como o bom masoquista
que sou, deslizei os meus dedos pelo seu rosto molhado, segurando o seu
queixo e prendendo o seu olhar.
— Me fala o que vocês fizeram naquele dia. Não saber é a pior das
torturas para mim. Che cavolo... Preciso saber!
— Ok. Se quer tanto saber, eu falo. — Ela parecia irritada e ao mesmo
tempo desconfortável. Quase me arrependi do meu pedido. — A gente se
beijou, se alisou e...
— E...? — perguntei, ansioso, com o coração na garganta. Tentei
segurar o seu braço molhado, mas ela se soltou de mim, balançando a cabeça
e dando um passo para trás.
— Enrico sugeriu que eu me masturbasse com o chuveirinho. Gostei da
ideia e cheguei ao orgasmo com ele beijando o meu pescoço, com as mãos
nos meus seios. Foi ótimo. Satisfeito? — falou rápido, puxou a toalha e saiu,
pisando duro.
Cacete... Enfiei em algum canto escuro da cabeça a imagem
perturbadora da minha garota gozando no chuveiro com o meu irmão e fechei
a água do banho, correndo atrás dela enquanto me enxugava.
— Espera! Magrela... Me desculpe. Perdi a cabeça.
Ela vestia o pijama apressadamente e, quando me aproximei, se virou
para mim com os olhos indecifráveis. Mágoa, raiva, decepção? Porra...
— É melhor eu não dormir com você... Estou irritada. Droga, Sin...
Depois de tudo, você quis discutir o que rolou entre mim e Enrico? Você fez
com que eu me sentisse constrangida.
— Me desculpe... — Joguei a toalha na cadeira e peguei uma cueca
boxer na cômoda, vestindo rapidamente a peça preta de algodão. — Não sei
mais o que falar. A verdade é que me sinto inseguro em relação a ele. Enrico
é mais centrado, responsável e o caralho. E eu sei que foi você quem tomou a
iniciativa de se beijarem.
Ela pareceu ficar surpresa por dois ou três segundos com a minha
revelação, se recompondo em seguida.
— Escuta aqui, Davi Filipo. Você não merecia explicação nenhuma,
mas mesmo assim vou esclarecer as coisas. — Madah deu dois passos na
minha direção, com o olhar sério. — Eu só fiquei com Enrico para aliviar a
pressão do que já sentia por você. E não pense que usei o seu irmão, porque
Rico sabia disso o tempo todo. Que não era ele quem eu queria, da mesma
forma que não era eu quem ele queria.
Suas palavras, embora raivosas, acalentaram o meu coração quebrado.
Respirei mais aliviado, passando a mão pelo rosto. Madah fez uma pausa
para respirar, tirando o elástico do cabelo e, soltando as mechas compridas
com os dedos, voltou a falar.
— Enrico é um amigo querido e ponto final. Então chega de me
perguntar sobre isso. Eu não fico querendo saber os detalhes do que você fez
naquele mesmo final de semana com Lorena aqui na sua cama. E, só para
deixar anotado, me doeu saber que vocês transaram.
— Merda... Me desculpe, de verdade... Por tudo. Fui tão sem noção...
— Me aproximei cauteloso, levando as mãos à sua cintura magrinha. Madah
não se afastou. Enfiei o rosto no seu pescoço macio, beijando a sua pele
quente, macia, deliciosa. — Dorme comigo, vai? Vou me comportar.
— Durmo, com uma condição. — Ela me abraçou pela cintura, me
acalmando. Sorrindo, vi os pelinhos dos seus braços arrepiados por causa dos
meus lábios colados no seu pescoço.
— O que quiser, magrela. Qualquer coisa. — Afastei o rosto para a
olhar nos olhos.
— Toca uma música para mim? No seu violão? — Sorriu timidamente
e me segurei para não a agarrar. Que garota adorável... Abri um largo sorriso
e depois caminhei até a parede para pegar o instrumento.
— Até duas. Alguma preferência? — Me sentei na cama com o violão
em mãos, pronto para tocar.
— Me surpreenda — disse com um sorriso leve nos lábios, se
acomodando do meu lado, com os olhos acesos em expectativa. Linda. Ela
não tinha ideia de como me fazia bem, de como iluminava a minha vida.
É isso, porra!
— Lá vai... — Comecei a dedilhar as cordas, com o coração disparado,
cantando sem desviar os olhos.
The other night, dear, as I lay sleeping
(Na outra noite, querida, enquanto eu dormia)
I dreamed I held you in my arms
(Eu sonhei que tinha você em meus braços)
But when I awoke, dear, I was mistaken
(Mas quando eu acordei, querida, eu estava enganado)
So I hung my head and I cried
(Então eu abaixei minha cabeça e chorei)
You are my sunshine, my only sunshine
(Você é meu raio de sol, meu único raio de sol)
You make me happy when skies are gray
(Você me faz feliz quando o céu está cinza)
You'll never know, dear, how much I love you
(Você nunca saberá, querida, o quanto eu te amo)
Please, don't take my sunshine away
(Por favor, não tire meu raio de sol)
Uma música bonita, simples e com a letra perfeita. Assim como a
minha namorada. Cacete... Ainda não tinha me caído a ficha de que a magrela
era a minha namorada.
— Nossa... — murmurou assim que parei de cantar, esticando um braço
para a frente. — Olha isso... Estou toda arrepiada. Que coisa mais linda! Por
que mesmo você não é o vocalista da banda? Sua voz... Rouca, suave... É
maravilhosa.
— Obrigado. — Coloquei o instrumento no chão, felizão, e puxei o seu
corpo miúdo para o meu colo. Eu vestia apenas a cueca boxer, por isso sentia
a sua pele quente do braço contra o meu peito. — Prefiro ficar no
contrabaixo. O vocalista é o centro das atenções, uma coisa que dispenso.
Mas posso cantar para a minha namorada... Sempre que quiser.
— Todos os dias. — Ela escorregou do meu colo para se deitar no
colchão, bocejando. — Vem... Precisamos dormir.
— Me chama se eu tiver mais um pesadelo? — perguntei, me
acomodando do seu lado, envolvendo a sua cintura com um braço.
— Pode deixar, amor. — Deu um beijinho na minha clavícula,
ajeitando a cabeça sobre o meu ombro. — Boa noite.
— Boa noite, magrela — murmurei antes de beijar o topo da sua
cabeça, inspirando o perfume doce dos seus cabelos, tranquilo. Momentos
depois, sentindo as pontas dos seus dedos contornando as minhas tatuagens
do peito, relaxei de vez, adormecendo.
Capítulo 34

Estive pensando
Por que não consigo tirar
Meus dedos de você, querido?

Drunk In Love | Beyoncé feat. Jay Z


Enrico Lorenzo Sintori

Não pude ficar até a última aula da faculdade, depois do convite de


Paolo para que eu passasse a noite lá. Ele disse que Marco havia ido dormir
fora e que poderíamos nos divertir à vontade.
Sorri como um adolescente apaixonado, com o estômago se retorcendo
em expectativa. Nem acreditava que iria, mais uma vez, me encontrar com o
vocalista da Five Stars, meu sonho de consumo há tantos anos.
Ainda no estacionamento da faculdade, li mais uma vez as nossas
últimas mensagens.
P: Está na faculdade?
E: Sim, por que?
P: Estou indo para casa, meu irmão foi dormir fora. Pensei em me
divertir com você. Passa a noite comigo?
E: Tentador, mas... Não sei.
Naquele momento, eu hesitei. Não sabia se estava preparado para
passar uma noite inteira com ele... Assim, do nada, em plena segunda-feira.
Nós nos falamos todos os dias desde a festa do Leonardo e ficamos duas
vezes, na SUV do Sin e nos fundos do estúdio no dia do ensaio. Hoje seria a
terceira e eu sabia que Paolo iria tentar dar o próximo passo.
P: Deixa eu te apresentar coisas novas... Vai ser inesquecível, te
garanto.
Ele insistiu. Excitação e nervosismo me corroeram de dentro para fora,
em iguais medidas.
E: Tudo bem. Eu vou! Só preciso passar em casa primeiro...
P: Este é o meu garoto! Já estou ansioso.
Sem pensar mais no assunto, joguei o celular no banco do passageiro e
dirigi até a minha casa. Estranhei o silêncio quando cheguei, umas dez e
meia. Pensei que encontraria Sin e Madah ainda jantando, porque sabia que o
caçula gostava de comer tarde, mas olhei na direção da cozinha e vi as luzes
apagadas.
Melhor assim... Não teria que dar alguma desculpa a eles por ter saído
mais cedo da faculdade. A última aula acabava quinze para as onze, então eu
nunca chegava em casa antes das onze e meia. Ainda no hall o meu celular
apitou.
P: Já estou no esquenta. Vem logo! — Mandou a foto de uma cerveja
long neck.
Subi as escadas rapidamente e, distraído com o celular nas mãos, quase
atropelei Madah no corredor.
— Oi! — Ela riu, segurando uma toalha enrolada no corpo. — Onde
vai com tanta pressa? Está tudo bem?
— Oi. Tudo bem... Estou de saída. Só vim pegar umas coisas para... —
Parei de falar pensando nas palavras. Deveria dizer a verdade?
— É sério que você está com vergonha de me falar que vai passar a
noite fora? Olha bem para mim, Rico... Você me flagrou indo para o quarto
do seu irmão, quase pelada! — Soltou uma risada descontraída, com os olhos
brilhantes.
— É... — Abri um pequeno sorriso. — Paolo me chamou para dormir
lá. Estou nervoso... Eu nunca... Você sabe.
— Você não precisa fazer nada que não queira. Se não se sentir pronto,
tudo bem. Não se sinta pressionado. — Ela esboçou um sorriso gentil, me
tranquilizando.
— Eu sei, mas... Fica subentendido, sabe? Eu aceitei passar a noite com
ele, então...
— Nada a ver. Eu já passei a noite com o seu irmão e continuo virgem.
Sin respeita o meu tempo. Paolo é legal. Ele vai respeitar o seu tempo
também.
— Tem razão. — Respirei fundo, coçando a nuca. Madah estava certa.
Paolo não forçaria a barra. — Você é uma boa amiga, já me deixou mais
calmo. Obrigado, princesa.
— De nada. Vai na fé, príncipe. Divirta-se.

Mais ou menos meia hora depois, eu estava passando pelos portões da


mansão dos Fontini. O porteiro autorizou a minha entrada sem interfonar,
afinal, eu e meus irmãos frequentamos a casa desde sempre. Estacionei a
picape e, com as pernas bambas, caminhei até a entrada, enxugando as mãos
úmidas na calça jeans.
Antes de tocar a campainha, me bateu o desespero. Cacete... O que
estava fazendo aqui...?! Quase virei as costas e fugi, mas de repente a porta se
abriu e uma garota ruiva sorriu para mim, contente.
— Bem que eu vi os faróis de um carro chegando... Sou Laila, e você?
— Enrico — respondi, franzindo as sobrancelhas. Quem era ela?
— Você também é amigo de Paolo? — perguntou, me dando passagem.
— Venha, o pessoal está lá no deck da piscina.
— Ok. — Sem entender nada, eu a segui pelo hall. Cruzamos a sala,
passamos pela cozinha e, antes de sairmos para o deck, senti o cheiro de
maconha.
A música alta e a iluminação azul da piscina deixavam o ambiente com
aspecto de balada. Definitivamente, não era o que eu esperava.
Paolo estava sentado em uma rodinha com uma garota e dois garotos,
dando risada, bebendo cerveja e fumando maconha. Eu não sabia o que
pensar, estava me sentindo extremamente deslocado. Primeiro que não
fumava nada, nem cigarro, nem maconha. Segundo que pensei que ele havia
chamado apenas a mim. Não esperava chegar em meio a uma festinha regada
a bebidas e drogas. Um nervosismo incômodo disparou o meu coração,
fazendo-me suar frio.
— Rico! — Paolo abriu um largo sorriso quando me viu, levantando-
se. Veio até mim, me abraçando com vontade, enfiando o rosto no meu
pescoço. — Que bom que você veio, cara.
— É, eu vim — respondi, sem jeito.
— Pessoal! — Me puxou pela mão, todo animado. — Conheçam
Enrico! Ele é tímido no começo, mas logo se solta... Rico, estes são os meus
amigos do Teatro. Laila, Stella, Joaquim e Vitinho.
Todos me cumprimentaram com sorrisos e acenos alegres. Repeti
mentalmente os seus nomes, tentando gravá-los. A ruiva era Laila, que me
abriu a porta, a loira era Stella. O barbudo com jeitão de hippie era Joaquim,
o mais branquinho e magro era Vitinho.
Paolo se sentou, mexendo no celular para mudar a música que saía na
caixa de som, colocando "Drunk in love", de Beyoncé e Jay Z.
— Senta aqui comigo, quero te mostrar uma coisa... — Bateu no
espaço ao seu lado na espreguiçadeira e eu o atendi. — Quer ver a foto que
botei no meu celular? — Travou a tela, virando-a para mim. Pude enxergar
uma foto nossa, dentro de um hexágono, de quando ficamos depois do ensaio.
Não consegui evitar um sorriso.
— Precisa me mandar esta foto... — comentei, com o coração
acelerado. — Ficou legal. O seu sorriso é...
— Espontâneo. Feliz. Graças a você. Vem cá, gostoso... Demorou para
chegar, senti sua falta, porra... — Enganchou um braço por trás do meu
pescoço, me beijando na boca.
Uma onda de eletricidade subiu pela minha coluna quando as nossas
línguas se encontraram. Tentei ignorar o fato de estarmos em público.
Provavelmente seus amigos do Teatro não nos julgariam.
Apesar do gosto de cerveja e maconha na sua saliva, o beijo continuava
de arrepiar. Os barulhos das nossas respirações se misturavam com o ritmo
cadenciado da música, deixando tudo ainda mais intenso. Eu poderia beijá-lo
por horas.
I've been drinking, I've been drinking
(Eu tenho bebido, eu tenho bebido)
I get filthy when that liquor get into me
(Fico obsceno quando esse álcool entra em mim)
E quando Paolo me empurrou para nos deitarmos na espreguiçadeira
sem parar de me beijar, me lembrei da presença das outras pessoas. Abri os
olhos enquanto ele sugava o meu pescoço e vi um casal se beijando em outra
espreguiçadeira — a ruiva e o hippie — e os outros dois fumando mais
maconha.
— Aqui, não — murmurei quando ele mexeu os quadris contra os
meus, com a sua ereção roçando em mim.
— Por que não? — perguntou, enfiando uma mão por baixo da minha
camiseta, arranhando a minha barriga. — Todo mundo faz isso, Rico...
Ninguém aqui é virgem, com exceção de você.
— Eu prefiro ficar com você em um lugar mais reservado... —
expliquei e, desconfortável com a sua atitude, saí de baixo dele. Me sentei na
espreguiçadeira ao lado e Paolo veio atrás, se encaixando atrás de mim.
— Relaxa, cara. Curte a vibe. Não seja velho. — Passou a beijar a
minha nuca, com as mãos puxando os meus quadris mais para si. Eu sentia o
seu volume na minha bunda e, mesmo apreensivo, percebi o meu pau dar
sinal de vida.
Fechei os olhos para não pensar nos outros à nossa volta. Me perguntei
se eu seria mesmo um velho chato... Tentei relaxar e deu certo. Me entreguei
às sensações, sorrindo enquanto Paolo degustava o meu pescoço sem parar,
fazendo a minha ereção pulsar na cueca.
Um ou dois minutos depois, percebi alguém se sentar na minha frente,
agarrando o meu pulso direito. Abri os olhos e, surpreso, encontrei a garota
loira levando a minha mão ao seu seio. Ela gemeu quando o loirinho miúdo
se sentou por trás dela, beijando a sua nuca.
Fiquei sem reação, sentindo ainda os lábios de Paolo no meu pescoço e
o bico durinho da menina contra a minha palma. Todos pareciam excitados,
menos eu. Para mim, foi como um puta balde de água fria.
— Eu não quero... — comecei a falar e, virando a cabeça para olhar
para trás, quase tive um treco quando vi o garoto hippie de pau para fora, com
Paolo o masturbando enquanto me beijava. Puta que pariu... Arranquei a
minha mão do peito da menina, me levantando em um pulo.
— O que foi, cara? — Paolo me sorriu lentamente, levando as mãos ao
zíper da sua calça. Puxou a sua ereção para fora, com os olhos vermelhos
fixos em mim. — Bate aquela punheta para mim, vai... Você é o melhor.
— Melhor do que eu? — A ruiva surgiu do nada, se sentando em uma
das coxas dele, levando uma mão ao membro de Paolo e a outra ao do hippie
em pé ao lado, punhetando os dois ao mesmo tempo.
— Rico é foda, Laila... Você precisa chupar o pau dele... Gostoso para
caralho. Mas quero ser o primeiro a cair de boca nele hoje à noite, ok?
E, quando a loira engatinhou para a frente, beijando os lábios de Paolo,
algo se quebrou dentro de mim. Foi o meu limite. Virei as costas, me
afastando com o coração na garganta e, com as pernas trêmulas segui até o
meu carro. Entrei na picape e apoiei a testa no volante, tentando assimilar que
merda foi aquela.
Ok, Paolo me disse que era uma "alma livre". Mas não imaginava que o
seu convite para mim, hoje, incluísse uma orgia. Que droga... Com o
estômago embrulhado, tentei dar a partida no carro, porém minhas mãos
tremiam sem parar.
— Rico, espera! — Paolo apareceu correndo, meio trôpego, passando
as mãos pelo cabelo bagunçado. Pendurou-se na minha janela, ofegante. —
Não vai embora, cara. Pensei que a gente fosse se divertir...
— Eu também pensei, Paolo. Mas assim... — Apontei para a casa, com
a minha mão ainda tremendo. — Para mim, não dá. Não curto esses seus
lances de "alma livre".
— Como sabe se não curte, sem experimentar? Se solta... Deixa fluir...
Não seja careta.
— Pode me chamar de careta, quadrado ou o que for. Foda-se. Sigo o
bom e velho ditado que diz: dois é bom, três é demais. Seis, então... Nem
pensar.
— Mas comigo é só assim que funciona! — Ele voltou a falar,
mordendo o lábio. — Se quiser que a gente fique mais vezes, tem que abrir a
cabeça e...
— Então não quero mais. — Eu o interrompi, sentindo meus olhos se
encherem de lágrimas. Precisava ir embora, e rápido. — Boa noite.
E, sem olhar para trás, acelerei e parti.
Capítulo 35

Estou sozinho
Não sei se consigo encarar a noite
Estou em lágrimas e o choro é por sua causa

Angel | Aerosmith
Madeleine Laurent "Madah"

Algum som distante do lado de fora do quarto me acordou. Abri os


olhos, atenta. O que seria o barulho? Passos arrastados perto da escada,
arriscaria supor. Meu sono era tão leve! Desperta, aproveitei para ir ao
banheiro.
Uma perna pesada de Sin prensava o meu quadril contra o colchão e
precisei me esforçar para levantá-la de cima de mim. Peguei o celular na
mesinha de cabeceira para checar o horário. Quase uma da madrugada. Mais
passos no corredor. De quem? Rico disse que passaria a noite fora, então
deveria ser Luca.
Eu já estava em pé, calçando os chinelos para ir ao banheiro quando
escutei nitidamente alguém soluçar. Abri a porta do quarto rapidamente,
espiando o lado de fora. A luz da escada mal iluminava o corredor. Ainda
assim pude ver Enrico com a mão na maçaneta do seu quarto. Ele se virou
para mim quando percebeu a minha presença e, mesmo com a luz fraca,
enxerguei o seu rosto marcado pelo choro. Os olhos vermelhos, as bochechas
molhadas, os lábios trêmulos. Com uma mão enxugou embaixo dos olhos,
sem falar nada.
— Minha nossa, Rico! O que aconteceu? — Corri até ele, assustada.
Meu celular continuava em uma mão e, com a outra, encostei no seu braço.
— Paolo. Já era... — murmurou, derrubando mais lágrimas. Um garoto
alto como ele, chorando igual a uma criança, me desmontou.
— Vamos entrar. Me conta direito a história. — Puxei o meu amigo
para dentro do seu quarto e ele se sentou na beirada do colchão, com os
ombros pesados, em uma postura derrotada.
Acomodei-me do seu lado, sem saber se deveria metralhá-lo com
perguntas ou se o melhor seria esperar que falasse quando tivesse vontade.
Enquanto isso, aproveitei para mandar uma mensagem para o meu namorado
inseguro:
"Amor. Se acordar e eu não estiver com você, favor não surtar. Vim
para o quarto do seu irmão. Enrico não está bem... Assim que ele melhorar eu
volto, ok?" Coloquei o celular de lado e respirei fundo, escutando Enrico
fungar. Depois de algum tempo, quebrei o silêncio:
— O que foi, hein? — perguntei, acariciando a sua mão. — Vocês
brigaram?
— Não exatamente... Vou te falar.
Pelos próximos minutos, escutei o meu amigo contar tudo o que
aconteceu na casa dos Fontini. Em resumo, ele esperava uma noite romântica
a dois e encontrou uma festinha com orgia a seis. Paolo não queria que ele
fosse embora e tentou convencê-lo a ficar, mas Enrico se recusou e foi
chamado de careta.
— Que droga, Rico... Sinto muito. E te proíbo de se considerar careta,
velho ou algo do tipo. Eu teria feito o mesmo que você. Não gosto dessas
coisas...
— Careta ou não, princesa, estou na merda. Criei altas expectativas e o
tombo foi feio.
— Nem sei o que falar... Dorme, que amanhã você vai acordar melhor.
A madrugada não ajuda a gente a pensar.
Eu me acomodei com as costas apoiadas na cabeceira da cama e ele se
deitou com a cabeça no meu colo. Comecei a fazer cafuné nos seus cabelos
castanhos, tentando confortá-lo. Meu coração doía a cada suspiro sofrido que
ele dava. Enrico era tão bonzinho, não merecia passar por isso.
— O pior é que não consigo sentir raiva de Paolo... — comentou, com
a voz embargada. — Eu gosto dele e... É uma pena que eu não seja o
suficiente... Que ele "só funcione" naquele esquema de vários parceiros.
— Não se culpe, querido. O problema não está em você — falei, sem
parar de mexer nos seus cabelos. — Você é mais do que suficiente. E, se
Paolo não enxerga isso, o problema está nele.
Ele ficou em silêncio por um tempo e depois levantou os olhos
castanhos para mim.
— Obrigado. Fico feliz que esteja aqui. Nunca tive ninguém com quem
eu pudesse conversar assim... — Bocejou, acomodando-se melhor com a
cabeça nas minhas pernas. — Você é um anjo. É a melhor amiga que eu
poderia ter.
— A recíproca é verdadeira, Rico... — Sorri, com o coração quentinho.
— Boa noite, querido.
Acordei do nada, com o sol entrando pela janela aberta. Peguei o
celular, no susto. Cinco e meia da manhã. Droga. Saí da cama de Enrico, que
dormia em sono profundo. Em pé, me espreguicei lentamente, toda dolorida
por ter dormido sentada. Voltei para o quarto de Sin, deitando-me do seu
lado, devagar. Corri os olhos pelo corpo do meu namorado. Ele estava tão
lindo dormindo...
Apenas de cueca, com os lábios entreabertos, o rosto relaxado, os
cabelos platinados bagunçados, mantinha um braço para cima, com os bíceps
tatuados em destaque. Me segurei para não o beijar todinho.
Assim que me aconcheguei ao seu lado, ele se virou e me puxou pela
cintura, se encaixando atrás de mim, de conchinha. Com os nossos quadris
encostados eu podia sentir o seu volume entre as minhas nádegas.
Meu coração se acelerou e minha intimidade pulsou e, sem me conter,
esfreguei as coxas uma contra a outra. Eu me sentia tão excitada...
Escorreguei uma mão entre os nossos corpos, tocando levemente no seu
membro. Sin se remexeu, ainda dormindo.
Tive uma ideia. Fazer uma surpresinha para o meu namorado... Ainda
não tinha repetido o "melhor boquete do mundo", como ele falava. Minha
boca se encheu de água só de pensar...
Engatinhei pelo colchão até o meu rosto ficar na altura do seu quadril e,
com as mãos, ajeitei o seu corpo, deixando-o de barriga para cima. Deslizei
os meus dedos pelo elástico da cueca, sentindo a sua pele quente e macia se
arrepiar de leve com os meus toques. Ele se remexeu de novo, murmurando
algo incompreensível.
Me sentindo a garota mais ousada do planeta, sorri sozinha e desci a
sua cueca, libertando o seu membro. Eu o segurei com as mãos, sentindo o
seu peso, o seu calor e, determinada, levei a minha boca a ele. Lambi a
cabecinha devagar, escorregando a minha língua ao redor e...
— Não! Sai, porra! Sai! — Sin passou a gritar, agitado, ainda de olhos
fechados, me chutando para fora da cama. Bati as minhas costas com tudo no
pé da cadeira do computador. A dor da inesperada fez minha cabeça girar.
— Ai... — gemi levando a mão à lombar, com o coração batendo sem
controle, apertando os olhos.
— Magrela...?! — Ele me encarou, sentado na cama, com os olhos
arregalados e a boca aberta. — Puta merda, eu te chutei! Me desculpa! Pensei
que...
Sin se levantou em um pulo, me puxando para a cama. Me abraçou
apertado, passando a mão pelas minhas costas. Respirei fundo, com o coração
pequenininho, me dando conta do que havia acontecido. Ele achou que eu
fosse a pedófila.
— Você pensou que fosse ela, não pensou? — perguntei em um fio de
voz, já sabendo a resposta.
— Sim, pensei... — Suspirou lentamente. — A filha da puta sempre me
chupava quando eu dormia. Não me conformo de ter te derrubado da cama...
— Beijou o topo da minha cabeça. — Me desculpa.
— Eu que peço desculpas. — Abracei forte o seu tronco, apoiando o
meu rosto contra o seu peito firme e quente. Sentia os seus batimentos
descontrolados contra a minha bochecha. — Nem pensei que isso poderia
acontecer e faz todo o sentido. Já aconteceu antes... De você se confundir,
assim?
— Não. Eu nunca passo a noite com as garotas com quem eu... Você
sabe. Você é a minha primeira namorada. Sinto muito que você tenha me
pegado todo fodido... — Me puxou para mais perto e soltei um gemido
involuntário de dor. Assustado, ele levantou as duas mãos com medo de me
tocar e as levou à própria cabeça, desorientado. — Eu te machuquei mesmo,
cacete! Sou a merda de uma bomba relógio e... Estou me sentindo tão mal...
Que porra!
— Você não tem culpa. Não se sinta mal, por favor. — Puxei uma de
suas mãos e beijei os seus dedos tatuados, um a um. — Você nunca me
machucaria de propósito. Eu sei disso.
— Preciso ir ao banheiro. — Ele se desvencilhou de mim,
apressadamente. Escutei o barulho da água da pia e pela fresta da porta o vi
lavar o rosto e escovar os dentes.
— Já volto — avisei e fui até o meu quarto. No meu banheiro, ergui a
blusa do pijama, encontrando um hematoma feio se formando na minha
lombar. Abri a minha necessaire, procurei por uma pomada e besuntei todo o
local, em cima da linha da calcinha. Aproveitei para escovar os dentes e
ajeitar os cabelos.
Quando retornei para o quarto dele, a cama continuava vazia. Fui até o
banheiro e o encontrei sentado no chão, com o rosto enfiado nos joelhos. Sua
respiração forte fazia suas costas tatuadas se balançarem. Que droga... A
minha surpresa mal pensada foi um gatilho que o desestabilizou.
— Vem, amor. Levanta daí. — Me aproximei, estendendo a mão. Ele
ergueu o rosto e quase morri quando vi os seus olhos vermelhos, molhados de
lágrimas. — Vem, por favor.
Fomos para o quarto, de mãos dadas. O sol já entrava pelas frestas da
persiana. Me soltei dele e fui até a janela para a fechar.
— Magrela... — Sua voz rouca me fez virar para trás.
— O que foi?
Deitado na cama, com as mãos atrás da nuca, Sin me olhava com
intensidade. Não me respondeu nada. Fiquei com a impressão de que iria
falar algo, porém perdeu a coragem. Talvez quisesse desistir do nosso
namoro? Ah... Mas eu não iria deixar, mesmo.
Me deitei do seu lado em silêncio, com o coração apertado dentro do
peito. Eu simplesmente não sabia o que fazer para mudar aquele clima de
velório.
— O que quer fazer agora? — Apoiei o meu queixo no seu peito. Seus
olhos azuis se fixaram nos meus, indecifráveis.
— Quais são as minhas opções? — Esboçou um pequeno sorriso.
Toquei nos seus lábios bonitos com as pontas dos dedos e ele sorriu mais.
— Não sei. — Sorri de volta. — Voltar a dormir, levantar, conversar...
— Pensando bem... Nada disso me parece interessante o bastante. — Vi
um brilho diferente no seu olhar, com certa malícia. Era a minha brecha para
melhorar o clima... Arrisquei me deitar por cima dele e, devagarinho, apoiei
as mãos sob o meu queixo, sentindo os seus batimentos contra as minhas
palmas.
— O que seria interessante o bastante para você? — perguntei e os seus
olhos escureceram um tom. Levou as mãos à minha bunda e, apertando as
nádegas com vontade, sorriu de lado.
— Te fazer gozar na minha boca. Para te recompensar. Tá a fim? —
Massageou a minha bunda com as mãos fortes, empurrando o meu quadril
mais para baixo, por cima da sua ereção. Eu sentia o seu volume bem na
direção da minha calcinha.
Me remexi de leve e ele gemeu baixinho, mordendo o lábio. Minha
nossa... Minha intimidade inteira latejou, espalhando um formigamento
gostoso pelo meu corpo. Com as bochechas quentes e o estômago gelado,
tomei uma decisão.
— Sugiro outra coisa — sussurrei com o coração disparado. — Posso
ser direta?
— Pode — respondeu sem desviar os olhos dos meus, com as mãos
ainda na minha bunda, me esfregando descaradamente contra si.
— Quero perder a minha virgindade, já. Tá a fim?
Capítulo 36

Você já se sentiu frágil como papel


Como um castelo de cartas
A um sopro de desmoronar?

Firework | Katy Perry


Davi Filipo Sintori "Sin"

Deitada por cima de mim na cama, Madah despejou as palavras que


pensei que não falaria tão cedo, me deixando sem reação. “Quero perder a
minha virgindade, já. Tá a fim?”
Ela me sorria com os olhos cintilando e, surpreso, demorei dois ou três
segundos para tentar elaborar uma fala.
— O quê?! Você quer transar?! Comigo?! Por quê?!
— Quero, sim. Me deixa pensar o porquê... — Colocou os dedos no
queixo, forçando uma pose reflexiva, quase rindo. — Vamos ver... Você é
bem gostosinho. Dá para o gasto, sabe? É cheiroso, limpinho... E, na última
vez que chequei, ocupa o posto de meu namorado. — Ela não se aguentou e
riu, sem desviar os olhos dos meus.
— Palhaça. Você está tirando uma com a minha cara... — murmurei,
com um tom azedo. Virei o rosto, fugindo do seu olhar. — Bem que imaginei
que fosse brincadeira.
— Davi Filipo. — Ela me cortou, colocando uma mão na minha
bochecha. — Tá difícil?! Eu quero perder a minha virgindade com
você. Hoje. Agora. Entendeu?! É sério.
— Eu... — hesitei.
Nunca tinha feito sexo com uma virgem e não queria a machucar. De
novo. Depois de arremessá-la da cama e o caralho... Madah era tão magrinha,
delicada, frágil.
— Você não quer...? — Ela se levantou, sem graça, com o olhar
magoado. — Pensei que...
— O que não quero é machucar você. Vai doer e...
— Que eu saiba, na primeira vez de uma garota é normal doer. Sei
disso e estou preparada. Mas se você não estiver, por algum motivo... Tudo
bem. Podemos deixar para outro dia. — Deu de ombros, virando-se, prestes a
sair do quarto.
— Nem fodendo. — A ficha demorou, mas caiu. Levantei-me como
uma flecha, segurando o seu pulso, ansioso. — Eu quero você, como nunca
quis nenhuma outra garota.
— Sério? — balbuciou, com os olhos brilhantes. Linda.
— Sério. Só vamos combinar uma coisa... Me dá um toque se eu me
empolgar demais. Estou acostumado a fazer de um jeito mais bruto, mas vou
me esforçar para ir com calma. Ok?
— Ok. Eu confio em você. — Ficou na ponta dos pés e me deu um
beijo rápido. Seu sorriso bonito entregava certo nervosismo.
Abracei a sua cintura fina e beijei-a de verdade, invadindo a sua boca
com a minha língua. Seu gosto doce e quente tinha um toque de menta da
pasta de dente. Como se estivesse prestando atenção na mesma coisa, sem
descolar nossos lábios, Madah murmurou:
— Você ainda não fumou hoje... Seu gosto fica ainda melhor sem o
cigarro.
— Hoje vou fumar o melhor cigarro de todos... O do pós-sexo —
respondi, descendo a minha boca pelo seu pescoço macio enquanto ela
deslizava as unhas pelas minhas costas, me arrepiando. — Quero sentir a sua
pele... — falei e, com as mãos na barra da sua camiseta do pijama, afastei os
nossos rostos para tirar a peça de roupa. Eu vestia somente cueca e Madah
desceu os shorts, ficando apenas de calcinha.
— Pronto. Estamos iguais agora. — Ela sorriu, dando uma voltinha,
animada.
Seus mamilos rosados apontavam para a frente, duros, e eu sabia que
era de pura excitação. Afinal, não fazia frio. Na verdade, nós dois estávamos
com tanto calor que uma fina camada de suor nos cobria, fazendo as nossas
peles brilharem.
Voltei a beijá-la na boca, empurrando o seu corpo miúdo até a parede,
encaixando uma coxa no meio das suas pernas. Com a fricção da sua calcinha
contra a minha perna, eu sentia o tecido delicado molhado, o que fazia o meu
pau se animar dentro da cueca.
Madah gemeu na minha boca quando sentiu as minhas mãos subindo
lentamente, centímetro a centímetro, em uma pegada firme da cinturinha até
os seios. Balancei os bicos com os polegares e ela remexeu os quadris, se
contorcendo. Porra... Ela era tão sensível às minhas investidas, o que me
deixava absurdamente alucinado.
Passei a depositar uma trilha de beijos pela sua pele macia. Lábios,
maxilar, pescoço, ida e volta, sem pressa. Seu gosto doce, agora levemente
salgado de suor, era viciante. Desci com a boca até o seu seio empinado, ao
mesmo tempo que escorreguei uma mão por dentro da sua calcinha.
Girei a minha língua ao redor do seu mamilo no mesmo ritmo lento que
circulei com os dedos a sua boceta quente e virgem. Depois mordi, chupei e
lambi o seu biquinho enquanto dedilhava os seus lábios íntimos, patinando na
sua lubrificação.
— Minha nossa... Que delícia... — sussurrou, enfiando as mãos nos
meus cabelos. — Estou quase...
— Você que é uma delícia... — Com a mão livre, ajeitei a minha
ereção dentro da cueca, doendo de tão pesada. — Me deixa maluco... Goza
na minha mão, magrela.
Levei a boca ao outro seio, depois que o primeiro ficou todo vermelho,
e brinquei com o bico com a ponta da língua, ainda a masturbando com os
dedos, esfregando o seu clítoris cada vez mais rápido.
— Sin... — gemeu com o orgasmo, amolecendo as pernas, com a
respiração falhando.
Em um movimento ágil a peguei no colo e, beijando o seu rosto, a
depositei com cuidado na cama de barriga para cima. Retirei a sua calcinha e
dei um beijo rápido no seu sexo que ainda pulsava, escorregando a minha
língua entre os seus lábios melados do gozo. Eu precisava sentir o seu gosto.
— Espera... — Madah riu, se remexendo. — Ainda estou me
recuperando.
— Ok. Vou dar cinco minutos de paz para a sua boceta, escutou? Nem
um minuto a mais.
Caí na risada quando ela me mostrou o dedo do meio, sorrindo.
Me deitei ao seu lado, apoiando a cabeça em uma mão com o cotovelo
no colchão, observando a sua respiração se acalmar. Seus olhos estavam
fechados, com as pálpebras trêmulas, seus lábios entreabertos. As bochechas
rosadas salpicadas de sardas clarinhas a deixavam ainda mais linda. Puta que
pariu... Madah era perfeita, e era minha.
— Abre os olhos — pedi, com um sentimento intenso acelerando os
meus batimentos. Ela obedeceu, sorrindo, contente.
— Fala, amor.
— Magrela... Eu amo você.
Ela arregalou os olhos e eu respirei fundo, me sentindo mais leve por
ter aberto o meu coração. Mesmo que ela ainda não me amasse...
— E eu amo você — falou, brincando com os meus furinhos do
piercing labial com as pontas dos dedos.
Porra... Pisquei devagar para assimilar a sua fala.
A magrela me ama, caralho! Inacreditável.
Fiquei com vontade de rir, de soltar fogos de artifício, de sair gritando
na janela.
— Mas a sua declaração é suspeita... A minha, não — falei, mordendo
a boca para não rir.
— Por quê?! — Franziu a testa, indignada.
— Porque você está emocionada, já que acabei de te fazer gozar. —
Dei risada, sem me conter. — E a minha é verdadeira, porque ainda não
gozei. Admite?
— Idiota! — Ela gargalhou, me dando um monte de soquinhos. Pulou
em cima de mim, com um joelho de cada lado do meu corpo e agarrei os seus
pulsos com as minhas mãos.
— Um idiota que você ama? — perguntei, erguendo o tronco,
prendendo os dois pulsos fininhos unidos com uma mão. Com a outra, apertei
o seu seio, apreciando a textura da sua carne macia nos meus dedos. Ficamos
os dois sentados no meio da cama, um de frente para o outro, com os seus
joelhos nas laterais dos meus quadris.
— Um idiota que eu amo — confirmou, mordendo a boca quando
prendi seu mamilo entre o polegar e o indicador.
Sem soltar os seus pulsos, beijei a sua boca, ainda provocando o seu
bico. Madah se contorceu e correspondeu o beijo, se remexendo com a sua
boceta roçando em cima da minha ereção, me enlouquecendo. Assim que
libertei as suas mãos, ela agarrou os meus bíceps, alisando os meus braços
sem parar de me beijar.
Quebrei o beijo e, ofegante, desci uma mão até o meio das suas pernas.
Juntei as nossas testas úmidas de suor, com as respirações entrecortadas se
misturando, se fundindo. Seu hálito quente batia nos meus lábios.
— Pronta? Quer mesmo continuar? — Deslizei dois dedos entre os seus
lábios íntimos, sentindo a sua lubrificação escorrer. Porra... Ela estava mais
do que pronta para mim.
— Quero — respondeu simplesmente, com os olhos presos nos meus.
A palavra solitária fez o meu pau pulsar com força.
— Já venho. — Eu a empurrei para trás com cuidado e dei um beijinho
nos seus lábios antes de me levantar.
— Onde você vai?
— Pegar a camisinha.
— Não quero.
Travei no lugar. Como assim? Ela era maluca? Não queria ser pai aos
dezenove anos, caralho...
— Como assim?
— Quero te sentir direito na minha primeira vez. Eu tomo injeção, não
vou engravidar. A não ser que você faça com as outras garotas sem
proteção...
— Eu só faço usando proteção... — murmurei com o coração pulando
na garganta.
— Hoje não vai usar. Volta aqui. — Esparramada no colchão, me
chamou com um dedo.
Hesitante, caminhei de volta até a cama, com o estômago gelado. A
única pessoa com quem eu já fiz sem proteção foi... Não, não podia pensar
naquela filha da puta. Porém, sem que eu quisesse, sua voz afetada ressurgiu
com tudo: "Davi, goza dentro de mim, bebê. Dá o leitinho para a mamãe."
Cacete... Passei as mãos pelo cabelo, nervoso. Não consegui chegar até
a cama.
Já era.
— Ei, calma... — Ela veio até mim, com o olhar preocupado. — Se
quiser usar camisinha, pode usar. Você é quem manda. Tenho certeza de que
será maravilhoso de qualquer jeito.
— Como... Como você sabe? — perguntei sem pensar, com a cabeça
girando.
Meu pau morreu, pendendo mole entre as minhas pernas, inerte. Que
merda!
— Porque eu sei — respondeu, levando as mãos ao meu rosto. —
Porque você é o meu amor.
— Esquece. Não vai rolar. Che cavolo... — Me sentei na beirada do
colchão, enfiando o rosto nas mãos. Meu coração batia sem controle e não de
um jeito bom. Era de um jeito péssimo, excruciante.
Puta que pariu... Nunca tinha brochado com garota alguma, tinha que
acontecer bem com ela?!
Capítulo 37

Seu corpo é um país das maravilhas


Seu corpo é uma maravilha
Vou usar as minhas mãos

Your Body Is a Wonderland | John Mayer


Madeleine Laurent "Madah"

Eu me sentia paralisada, olhando para o meu namorado sentado na


beirada da cama, com o rosto enfiado nas mãos.
Estraguei tudo.
Quando propus o lance de transarmos sem camisinha, não imaginei que
fosse desencadear essa reação nele. Igual a hora que comecei a fazer o
boquete enquanto dormia...
Enfim, consegui dar dois foras apenas nesta manhã. Dois gatilhos que o
lembraram da pedófila, deixando-o arrasado. Que droga... Precisava dar um
jeito de remendar as coisas.
— Vou colocar uma música para a gente, ok? — sugeri na falta de ideia
melhor. Sabia que ele amava música e que a usava para relaxar e se distrair.
— Ok — murmurou e, suspirando fundo, tombou o tronco para trás.
Ficou deitado de barriga para cima, com um antebraço cobrindo os
olhos. Com a outra mão, segurou um travesseiro sobre os quadris. Eu não
conseguia nem imaginar o quanto se sentia constrangido por ter brochado.
Vesti a sua camiseta que estava largada em cima da cômoda e depois
peguei o celular. Mexendo nas playlists, procurei aleatoriamente por uma
música apropriada. Não poderia ser animada demais, porque não era o
momento de dançar, nem lenta demais, porque era preciso levantar o astral
e... Achei!
— Sin... — Em pé, toquei no seu joelho com uma mão. Apertei o play
de "Your body is a wonderland", de John Mayer. Ele abriu os olhos e eu
comecei a dançar, sensualizando.
— Sério? Um strip-tease? — Ele se sentou devagar, surpreso.
— Sério. — Enfiei as mãos por baixo da barra da camiseta, alisando
lentamente os meus quadris, barriga e cintura, no ritmo da música.
And if you want love, we'll make it
(E se você quer amor, vamos fazê-lo)
Swimming a deep sea of blankets
(Nadando em um mar profundo de lençóis)
Take all your big plans and break 'em
(Pegue todos os seus grandes planos e os quebre)
This is bound to be a while
(Isto deve demorar um pouco)
Seus olhos não se desviavam do meu corpo e, atenta, notei que as íris
azuis ficaram mais intensas. Eu dançava e me tocava devagar, bem na sua
frente, observando as suas reações. Sin estava imóvel, prendendo o lábio
inferior com os dentes, com a respiração forte fazendo o seu peito tatuado
subir e descer cada vez mais rápido.
Até que, ainda sentado, com as mãos levemente trêmulas, agarrou a
minha cintura, me puxando mais para si. Fiquei em pé entre os seus joelhos,
em expectativa.
Sem aviso, Sin arrancou a camiseta que eu vestia, me deixando toda
nua. Arremessou o travesseiro que estava no seu colo para trás e passou a se
masturbar devagar, com os seus dedos fortes envolvendo seu pau tatuado.
Não poderia existir nada mais sexy... Feliz, eu sorri ao vê-lo se excitando
mais uma vez.
— Vai. Continua. — Com o seu jeito firme e autoritário, mesmo sem
dizer mais nada, ele conseguia acelerar o meu coração e umedecer a minha
intimidade. Ele gostava de estar no controle. Ele precisava estar no controle.
E, por mim, tudo bem.
Your body is a wonderland
(Seu corpo é um país das maravilhas)
Your body is a wonder, I'll use my hands
(Seu corpo é uma maravilha, vou usar minhas mãos)
Seus olhos percorriam cada centímetro do meu corpo, demorando nos
meus seios, fazendo os meus mamilos ficarem duros como pedra. Ainda se
masturbando em silêncio, não me tocava e eu não sabia se deveria tomar
alguma atitude. Não queria correr o risco de estragar as coisas de novo.
— Me escuta... — falei baixinho. — Vamos fazer tudo do seu jeito. É
só falar o que quer de mim. Ele sorriu de lado com as minhas palavras, com
os olhos cheios de malícia. Pelo jeito, acertei ao sugerir aquilo.
— Massageie os seus seios, magrela. — Sua voz rouca me arrepiou
com tudo.
— Assim? — Apertei a minha carne macia com os dedos abertos.
— Puxe os bicos. — Mais uma vez, obedeci-o, pinçando os mamilos,
sentindo a minha vagina latejar.
Com os olhos presos nos meus dedos, Sin ainda se masturbava com a
mão direita. Eu não sabia se olhava para o seu rosto ou para a sua ereção.
Tudo nele era hipnotizante.
Do nada, levou a mão esquerda à minha intimidade, esfregando a palma
toda para frente e para trás. Arfei com o toque inesperado e quase bruto.
Minha nossa...
— Caralho... Tão molhada... — rosnou, me jogando na cama, de
barriga para cima.
Subiu por cima de mim, com um braço apoiado no colchão e, com a
outra mão, passou a provocar a minha vagina com a sua glande quente e
úmida. Escorreguei as mãos pelo seu peito tatuado, sentindo o seu coração
batendo tão rápido quanto o meu.
Ele continuava me pincelando, com as nossas lubrificações se
misturando, me fazendo ver estrelas quando se concentrava sobre o clitóris.
Se fizesse isso por mais um minuto eu poderia gozar assim, fácil.
— Minha nossa... — gemi, me remexendo. — Que delícia...
— Pronta? — Posicionou a glande na minha entrada, encaixada entre
os meus lábios vaginais.
— Sim. Pode vir — respondi, quase sem respirar. Nem acreditava que
iria acontecer...
E, no segundo seguinte, ele me beijou. Um beijo lento, cheio de
sentimentos, que aqueceu o meu coração.
— Te amo — murmurou ao separar os nossos lábios e, sem falar mais
nada, começou a me penetrar. Mordi a boca ao senti-lo me abrir, milímetro e
milímetro, arrastando a sua espessura pelas minhas paredes íntimas, dura
como ferro, me queimando.
Meus olhos se encheram de lágrimas quando senti a película do hímen
se romper, ardendo ainda mais. Enfiei as minhas unhas nos seus bíceps, com
a dor se espalhando pelo meu corpo, me estremecendo.
— Você está bem? — perguntou e, preocupado, beijou o meu rosto,
deslizando os lábios pelas minhas lágrimas.
— Sim. Continua — pedi, envolvendo o seu quadril com as minhas
pernas. Já que chegamos até aqui, eu queria ir até o fim. Então o meu
namorado foi se empurrando mais e mais, com firmeza porém com cuidado,
até que entrou por inteiro.
— Cacete... Que boceta perfeita, porra... — Girou os quadris devagar,
se acomodando melhor dentro de mim, de olhos fechados.
— Minha nossa... — Eu percebia a minha musculatura interna tentando
se amoldar a ele, com os meus lábios vaginais esticados ao redor da sua
grossura, doloridos.
Sin abriu os olhos e, agarrando as minhas mãos, as empurrou contra o
colchão, nas laterais do meu rosto.
— Magrela... — Me encarou com intensidade. — Agora você é minha.
Morri. Simplesmente, morri.
Uma energia forte se espalhou pelo meu corpo, fazendo os meus
batimentos perderem o compasso.
— Sou sua — confirmei com o coração batendo sem controle. Eu mal
conseguia respirar. Ele sorriu e me deu um beijo rápido, voltando a separar os
nossos rostos, atento às minhas expressões faciais.
Sin continuava todo dentro de mim, imóvel. A sensação era
indescritível. Eu nunca havia me sentido tão preenchida, arrebatada,
completa. Mesmo ainda sentindo dor, soltei uma risada espontânea.
— Já está rindo, é? — Ele sorriu de canto. — Ainda nem me mexi.
Preparada para gozar no meu pau?
— Manda bala, gostoso... — Sorri, percorrendo com os olhos o seu
rosto bonito. Perfeito.
Lentamente, ele passou a mover os quadris para frente e para trás, em
um ritmo firme e preciso. Quando soltou as minhas mãos eu as levei às suas
costas molhadas de suor e fechei os olhos, me entregando às novas sensações.
O barulho do entra e sai cada vez mais rápido se fundia às nossas
respirações alteradas e, quando beijei as tatuagens do seu pescoço quente, Sin
gemeu baixinho, acelerando ainda mais com as investidas. Ouvi a cabeceira
da cama se chocar contra a parede, sem parar, mais um som para a sinfonia
do nosso sexo.
Até que ele levou uma mão lá embaixo, girando o polegar bem em
cima do meu clitóris, com suavidade e firmeza. Senti o formigamento crescer,
o calor aumentar e...
— Sin! — Explodi com a onda elétrica que me invadiu. Minha
musculatura em espasmos apertou o seu pau que começou a ejacular forte,
me preenchendo com os seus jatos.
— Porra! — gritou, bombeando devagar, até expelir tudo. Então se
jogou de lado, saindo de dentro de mim, ofegante.
Percebi o seu sêmen quente e viscoso escorrendo pela minha abertura e
sorri ao finalmente me dar conta de que ele havia conseguido, mesmo, fazer
sem camisinha.
— Caralho, magrela... O que foi isso... — Me puxou para mais perto,
rindo. Seu cheiro masculino misturado ao suor era delicioso. — Melhor sexo
do universo. Tá fodida... Vou te comer todo dia.
— Posso pensar no seu caso. — Acariciei o seu peito suado com as
pontas dos dedos, fazendo os seus mamilos se enrijecerem.
— Você está me arrepiando... — Ele riu, segurando a minha mão. —
Sabia que te amo?
— Hum, não tenho certeza — brinquei, acariciando os seus cabelos
claros bagunçados. — É melhor você repetir.
— Te amo! — Ele me abraçou forte, quase esmagando as minhas
costelas. — Muito!
— Ai... Menos força, por favor.
— Foi mal. É foda me segurar com você... Eu me empolgo! Sabe por
quê? Porque é linda, perfeita, gostosa e eu te amo. Já falei que te amo? Te
amo, porra!
Ele repetia as coisas, tagarelando tão feliz, que quase não o reconheci.
— Já falou, sim. No último minuto, umas dezessete vezes. —
Gargalhei. — Só que alguém já me disse que as declarações depois do
orgasmo não valem...
— Quem foi o idiota?! — Sorriu, todo contente, me fazendo perceber
que estava ainda mais apaixonada por ele.
— O idiota que eu amo.
Capítulo 38

Não importa o que ganharemos com isso


Eu sei que nunca esqueceremos

Smoke On The Water | Deep Purple


Davi Filipo Sintori "Sin"

— Nada de escola hoje, magrela — murmurei com uma mão


acariciando os seus cabelos macios. — Ainda não acredito que você quis
perder a sua virgindade antes das sete da manhã... Tá louca.
Madah riu, deslizando os dedos delicados pelo meu peito. Ainda
estávamos nus, na minha cama, naquela preguiça pós sexo.
Foi difícil para cacete deixar de lado as minhas lembranças de merda
para conseguir dar à magrela o que ela queria. Nunca uma garota tinha me
dito para não usar camisinha. O seu pedido inesperado me paralisou, brochei
e o caralho. Cheguei a pensar que não iria mais rolar. Mas a minha namorada
era foda... Quando começou a dançar daquele jeito para mim, a minha ereção
ressuscitou na hora.
E, quando me enterrei até o final naquela boceta virgem, quase saí de
órbita. A sensação foi indescritível... O calor e a pressão que envolveram o
meu pau, de cima a baixo, quase me levaram ao limite. Precisei ficar imóvel
por algum tempo para me recompor ou iria gozar em dois segundos.
— Tá bom! Só vamos faltar hoje, hein? Amanhã temos que ir... —
Deslizou os dedos pelo meu pescoço, contornando as tatuagens. Me arrepiei
com tudo. — Você tem aquele treino importante para o próximo jogo,
lembra?
Amanhã teria aula de Educação Física, que reunia os segundos e
terceiros anos. Dia de fortes emoções... Sabia que Madah deveria estar tensa
por encontrar Lorena. Eu também estava ansioso, mas por outro motivo. Não
via a hora de acertar as contas com Eduardo.
— Sim, senhora. Amanhã a gente não falta. — Me sentei na beirada da
cama, me espreguiçando. — Vamos descer para comer alguma coisa? Depois
podemos ficar na piscina... Me deixa ver que horas são. — Peguei o meu
celular, encontrando uma mensagem escrita de madrugada:
"Amor. Se acordar e eu não estiver com você, favor não surtar. Vim
para o quarto do seu irmão. Enrico não está bem... Assim que ele melhorar eu
volto, ok?"
— O que rolou com Enrico? Por que você foi para o quarto dele? —
perguntei sem tirar os olhos do celular. Me segurei para não demonstrar a
irritação que fervia o meu sangue.
— Ah... — Madah começou a falar e parou, pensando nas palavras. —
Eu escutei quando o seu irmão chegou, em torno de uma da manhã e ele não
estava bem. Estava chateado e... Conversamos até que se acalmasse.
— E imagino que não vá me contar o motivo da chateação dele —
comentei, em um tom azedo. Uma única pergunta perturbava a minha mente:
Enrico não estaria aceitando o namoro dela comigo? Naquele dia que me
falou as merdas, deixou bem claro que não aprovava o nosso relacionamento.
Porra... Ele que não tentasse me foder.
— Não posso contar. Sinto muito. É particular... Dele.
— Tem a ver com você? — rosnei, sentindo meu maxilar enrijecer,
tenso.
— Não! É lógico que não. — Foi rápida em responder. — Não tem
nada a ver comigo. É sobre ele e outra pessoa. Só tentei ajudar porque estava
bem mal e...
Soltei o ar, aliviado. Uma preocupação a menos.
— Ótimo — interrompi a sua fala. Me levantei, procurando por uma
bermuda de piscina na cômoda.
— Eu te conto que o seu irmão chegou mal e você me corta, dizendo
"ótimo"?! — Sua voz nas minhas costas se alterou, não sei se surpresa ou
indignada.
— Simplesmente não me importo. Enrico que se foda — murmurei,
revirando a porra da gaveta inteira, impaciente. Onde estavam as bermudas
de piscina, caralho? Pronto. Finalmente encontrei uma de tactel preta. Me
virei de frente para Madah, com a peça em mãos, inquieto.
— Você não pode ser mais delicado com relação a ele? — perguntou,
me encarando com os olhos faiscando de raiva.
— Não, não posso. — Fui sincero. Precisava mudar de assunto ou a
gente iria brigar. — Vou me trocar para descer. Vai lá para o seu quarto,
coloca um biquíni. Olha que sol bonito... — Apontei para a janela. — Nos
encontramos em dez minutos lá embaixo?
Madah me observava com os olhos bem abertos, mordendo a boca.
Consegui identificar decepção, incredulidade, irritação. De repente, me deu
as costas, balançando a cabeça para os lados.
— Tá, daqui a pouco eu desço — murmurou, saindo do quarto.
Porra... Eu sabia que ela não tinha gostado da minha atitude. Se
decepcionou? Decepção foi o que senti dos meus onze aos treze anos, quando
a indiferença de Enrico me empurrou direto para as garras da pedófila.
Enrico foi um irmão de bosta.
Respirei fundo e fechei os olhos, com as imagens ainda nítidas na
minha cabeça. Imagens daquele primeiro maldito dia, quando toda a merda
começou, tantos anos atrás.
Entediado e cheio de energia, desliguei o videogame. Estava jogando
Fifa desde cedo
e já eram quase onze horas da manhã. Já deu.
O que vou fazer agora? Televisão? Não, queria ir lá para fora.
Piscina? Não, estava ventando muito. Já sei! Vou bater uma bola lá no
campinho. Animado, vesti o uniforme de futebol completo, com a camisa e os
shorts da seleção da Itália.
Estiquei os meiões azuis até os joelhos, coloquei as caneleiras, calcei
as chuteiras vermelhas e, com a bola encaixada embaixo do braço, bati na
porta do quarto do meu irmão. Escutei um "entra" em resposta.
— Rico! — Eu sorri, empolgado, não me importando que aparecessem
os metais do meu novo aparelho dentário. — Bora jogar futebol?!
— Não estou a fim, pirralho — respondeu da cama, sem tirar os olhos
de um livro. Meu sorriso murchou. Poxa... Não vou desistir tão fácil. Rico
era perna de pau, mas era melhor jogar com ele do que sozinho.
— Vamos, vai! O que você está lendo? — Coloquei a bola na
escrivaninha, andei até a cama e puxei o livro da sua mão, espiando o título
enquanto corria para o outro lado do quarto. Harry Potter.
— Me devolve! — Ele correu atrás de mim, irritado.
— Não. Só depois que você jogar meia hora de futebol comigo! — Fugi
dele em círculos, subindo na cama, pulando no chão, dando vários "olé".
Comecei a gargalhar quando ele tropeçou e quase caiu.
— Que saco, Davi! Eu odeio futebol! Me deixa em paz — Ele gritou,
com as bochechas vermelhas.
— Que bagunça é essa aqui?! — Tia Rita, a enfermeira da mamãe,
apareceu na porta do quarto, cruzando os braços no peito. — Estão
incomodando o sono da mãe de vocês.
— Foi mal... — Joguei o livro para o alto. — Valeu, hein, Rico! Vou
jogar bola sozinho mesmo.
Peguei a bola em cima da escrivaninha, indo em direção à porta.
Enrico pegou o livro do chão e, desamassando as folhas, me olhou feio.
Mostrei o dedo do meio e saí de lá. Que droga que Luca, o meu irmão legal,
estudava de manhã e não podia ficar brincando comigo.
— Onde você vai jogar bola? — Tia Rita perguntou, no corredor.
— Lá no campinho, atrás da piscina.
— Tudo bem. Daqui a pouco eu vou lá te ver, bebê. — Piscou para
mim e desapareceu. A mulher era esquisita. Me olhava de um jeito estranho,
como se estivesse com fome.
No campinho, treinei dribles sozinho por um tempo, tentando levar a
bola de um lado para o outro. Minutos depois Tia Rita apareceu, se sentando
no banco que tinha na lateral, sorrindo enquanto me via correr para lá e
para cá.
Eu já estava de saco cheio de treinar sozinho, até que virei o pé sem
querer e caí no chão, resmungando de dor. Ela veio até mim, me puxando
pelo braço.
— Vamos ali atrás, no banheiro da piscina, jogar uma água para
cuidar do seu tornozelo.
Fui mancando, com ela me dando apoio. No banheiro, me sentei em
cima da tampa do vaso sanitário e ela se ajoelhou na minha frente, tirando a
minha chuteira e o meião. Então se levantou, molhou as mãos na torneira da
pia e depois se ajoelhou de novo, colocando as palmas úmidas em mim, me
alisando devagar, do meu tornozelo até a coxa, ida e volta. Quando
aproximou os dedos da minha virilha, me remexi, incomodado. Suas unhas
me arranhavam levemente e me arrepiavam. Meu coração batia forte, de um
jeito ruim.
— A dor é lá embaixo... — Apontei para o tornozelo.
— Eu sei. Mas às vezes se espalha, por isso é melhor eu sentir tudo.
Sou enfermeira, lembra? Fica quietinho, bebê. Você vai gostar.
E foi naquele dia fodido que ela me masturbou pela primeira vez.

— Anda sumido, Luquinha... — Dei um soquinho no ombro do meu


irmão que tomava café na cozinha. — Tudo certo?
— Tudo. Tenho ficado mais tempo na empresa. O pai está viajando e
me deixou umas funções. Hoje vou ficar por lá a tarde toda, do almoço até a
hora da faculdade — respondeu, espalhando manteiga no pão.
— Legal. Quando ele volta mesmo? — perguntei, me sentando do seu
lado. Me servi de suco de laranja.
— Amanhã. — Me olhou com mais atenção, reparando que eu só vestia
a bermuda de tactel. — Não vai para a escola?
— Não. Hoje vou ficar por aqui. Pegar uma piscina com a magrela...
Fica com a gente, se não tiver nada para fazer de manhã — sugeri, pegando
um pedaço do bolo de chocolate. Com a primeira garfada, percebi que estava
morto de fome. Porra... Madah tinha sugado todas as minhas energias.
— Legal. Posso ficar com vocês, sim. Eu não costumo fazer nada de
manhã. Vou me trocar — disse, se levantando.
— Luca... Acabei de pensar em uma coisa. Quer ir rapidinho até a
escola comigo, amanhã de manhã? Você e Marco. Estou com umas ideias...
Minutos depois, na piscina, dei uns mergulhos com Luca enquanto
Madah tomava sol, me dando um gelo. Mal me cumprimentou quando
chegou. Merda...
Ela permanecia deitada quieta há quase uma hora, usando um biquíni
cor de vinho. Seus óculos escuros não me deixavam saber se dormia ou não.
— Sabe qual é a melhor coisa do pai viajar? — Luca perguntou do
nada, bagunçando os cabelos molhados. Nós dois ainda estávamos dentro da
água.
— Fala — murmurei, com os olhos na minha namorada. Mesmo brava,
a magrela era adorável. Seus bracinhos finos, sua pele lisinha, seus peitinhos
empinadinhos.
— A irritante da Bárbara não fica vindo aqui... — Meu irmão deu
risada, me fazendo rir também.
— Boa! Não aguento aquela mulher. O pai é louco e... — interrompi,
saindo rapidamente da piscina ao ver Madah se levantar. — Ei... Não vai
conversar comigo mesmo? — perguntei, fazendo-a se virar para mim. Atrás
dos óculos escuros, os seus olhos estavam escondidos. Porém, pela
movimentação discreta da sua cabeça, descobri que me secava, mordendo o
lábio, quase babando. — Falar comigo você não quer... Agora, me devorar
com o olhar você quer. Gosta do que vê? — Sorri de lado, convencido.
— Tenho que gostar, né! — respondeu com a voz séria, mas percebi
que segurava o riso por ter sido flagrada. — É o meu namorado!
— O namorado que você ama. Larga de marra, magrela... Eu te amo,
porra! — Em um movimento rápido, eu a abracei, arrepiando a sua pele
quente com os meus braços frios. Madah tentou se soltar de mim, rindo, mas
eu continuei agarrando o seu corpo por trás, firme.
— Sai! Você está todo molhado!
— Estou. E quero te deixar também toda molhada... Principalmente lá
embaixo. A sua boceta fica uma delícia molhadinha — sussurrei no seu
ouvido, fazendo-a gargalhar.
Pronto. Derreti o gelo. Sorri feliz, beijando o seu pescoço quentinho
enquanto ela acariciava a minha nuca, com leveza.
— Parem com isso! — Luca gritou, jogando água na gente. — Não sou
obrigado a ficar de vela. Estou sozinho aqui com vocês, caralho... Se
comportem.
— Antes só do que mal acompanhado, brother... Se quiser chamo a
Bárbara para te fazer companhia.
— Nem fodendo! Pensando bem... Podem se pegar à vontade. Não vou
reclamar mais! — Deu risada, afundando a cabeça na água.
— Aliás, por falar em Bárbara... Ela pediu para me seguir no Instagram
— Madah comentou, pegando o celular em cima da mesa. — Até estranhei,
porque não somos amigas nem nada.
— Deve querer xeretar a sua vida... A nossa vida. Como todo mundo
faz, nas redes sociais. — Me deitei em uma espreguiçadeira e ela se encaixou
entre as minhas pernas, com a cabeça na minha barriga, ainda mexendo no
aparelho.
— O nome de usuário dela é “babidiva”? — perguntou, quase rindo. —
A mulher se intitula “diva”, que coisa...
— Falta de humildade é foda... Deixa eu ver se é ela mesma. —
Estiquei a mão e Madah me passou o celular. Com a outra mão, fiquei
mexendo nos seus cabelos macios. E, quando cliquei na foto do perfil de
Bárbara, os stories abriram, mostrando os seus pés com as unhas pintadas de
vermelho na beirada de uma piscina e... Meu sangue gelou. — Porra...
— O que foi?
— Eu conheço essa piscina! Os ladrilhos coloridos... Puta que pariu! —
exclamei, incrédulo, desorientado. — Ela está lá com ele! Será que passaram
a noite juntos?!
— Ele quem?!
— Marco — Baguncei os cabelos, estressado. — Não acredito que
fizeram isso com o meu pai!
— Calma, amor. Pode ser outra piscina, não?
— Não. Passei a metade das minhas férias naquela casa, reconheceria
aquela maldita piscina em qualquer foto. Vamos até lá. — Me levantei em
um pulo, com o sangue fervendo.
— Agora?!
— Agora.
Capítulo 39

Não comece uma briga


Porque sou T.N.T., sou dinamite
E vou vencer a parada

T.N.T. | AC/DC
Madeleine Laurent "Madah"

Era com o coração batendo forte que eu via Sin se enxugar com raiva,
possesso. Os movimentos bruscos e o maxilar travado não deixavam dúvidas
de que estava furioso. Abracei o meu próprio corpo, nervosa. Aquilo não iria
acabar bem...
— Sai da piscina, Luca! — gritou para o irmão, jogando a toalha usada
na espreguiçadeira. — Vamos até os Fontini! Já!
— Por quê? O que está rolando? — ele subiu os degraus da escadinha
da piscina, com o olhar confuso indo de mim ao meu namorado, ida e volta.
— Alguém pode me explicar?
Como Sin não abriu a boca, ocupado recolhendo as coisas da mesa —
celular, correntinha de prata e óculos de sol —, restou a mim a função de
resumir a situação tensa.
— Seu irmão acha que Bárbara tem um caso com Marco. Quer ir até lá
tirar a história a limpo — expliquei, guardando o chapéu e o protetor na
bolsa.
— Por que você acha isso, cara? — perguntou correndo atrás do irmão
que já saía do deck, a passos apressados.
— No caminho eu explico tudo, Luquinha. Vamos nos trocar. Saímos
em cinco minutos.
— Caralho, Sin... Marco botando chifres no nosso pai?! Que otário...
— "Otário" é pouco... Se for isso mesmo, Marco tá fodido — rosnou,
passando a mão pelo cabelo platinado.
Arregalei os olhos ao presenciar os dois conversando daquele jeito,
descontrolados. Terminei de recolher os meus pertences e entrei na casa.
Tomei um copo de água na cozinha, agoniada. Como iria impedir que
fizessem alguma besteira? Sozinha?!
Precisava de ajuda. Precisava de Enrico!
Subi rapidamente a escada e, sem demora, coloquei um vestidinho por
cima do biquíni que não precisei tirar por não ter me molhado. Depois, corri
até a porta do meu amigo, dando duas batidas na madeira. Respirei fundo e
girei a maçaneta devagar, espiando pela fresta. Estava na cama, ainda
dormindo, sem camiseta.
— Enrico? — Entrei no quarto, falando baixo. — Acorda. Você precisa
vir com a gente... — Andei em direção à janela para a abrir.
— O quê? — Esfregou o rosto, desorientado. — Onde? Por quê?
— Seus irmãos... — comecei, afastando a cortina, deixando o sol entrar
no quarto. — Tenho medo de que façam alguma besteira. Você é o mais
sensato, o mais controlado e...
— Cacete, princesa... Fecha isso aí — resmungou, cobrindo o rosto
com o travesseiro.
— Enrico Lorenzo! Presta atenção. — Puxei o travesseiro de cima do
seu rosto. — Seus irmãos vão brigar feio com Marco. Levanta! Me ajuda,
poxa!
— Ok, ok. Estou levantando... — Suspirou e sentou-se na cama. — Só
me explica o porquê da briga. O que Marco aprontou?
— Talvez ele esteja de rolo com Bárbara... — Peguei uma camiseta
branca na sua cômoda, jogando-a na sua direção. — Veste isso.
— Marco e Bárbara?! — Enfiou a camiseta pela cabeça. — Sacanagem
com o meu pai...
— Também acho sacanagem, Rico... Mas não é para tanto, né?! Seus
irmãos estavam falando de um jeito que parecia que queriam matar o garoto.
Você precisa me ajudar a enfiar algum juízo na cabeça deles.
Ele balançou a cabeça, entrando no banheiro. Segundos depois escutei
passos no corredor e corri para ver quem era. Sin estava todo vestido,
andando apressadamente, já com a chave do carro na mão.
— Espera! — gritei quando ele chegava na escada — Vamos com
vocês!
— Então venham logo — murmurou sem parar de andar.
— Anda, Rico! — Apressei o meu amigo, que passou a calçar o All
Star azul em pé, equilibrando-se. — Olha, já peguei o seu celular... — Retirei
o aparelho do carregador, mostrando-o a ele.
— Pode guardar na sua bolsa — falou, ajeitando os cabelos castanhos
com as mãos.
— Pronto para talvez rever Paolo? — perguntei, para que ele se
preparasse psicologicamente para um possível reencontro. — Tem uma boa
chance de o vermos lá...
— Ah, a festinha “alma livre” deve ter rolado até de madrugada. —
Deu de ombros, seguindo pelo corredor do meu lado, desanimado. — Paolo
deve estar dormindo...
— É verdade — murmurei, sem saber bem o que dizer.
— Melhor assim. Prefiro não me encontrar com ele tão cedo —
comentou em um tom melancólico e fiquei com vontade de guardá-lo em um
potinho.
Logo que descemos a escada e saímos da casa, encontramos Luca do
lado de fora. De repente, escutei a aproximação do motor da SUV, com os
pneus ruidosamente espalhando as pedrinhas do chão.
Sin parou o carro na nossa frente, destrancando as portas. Me sentei ao
lado dele, Luca e Rico no banco de trás. Dois irmãos nitidamente estressados
e o outro ainda sonado, bocejando. Eu não tive coragem de quebrar o silêncio
e apertei as mãos, me sentindo inquieta. Seria um trajeto de poucos minutos.
Assim que nos aproximamos dos portões da mansão de Giuliano, o
segurança já os abriu para a nossa passagem, sem interfonar. Certamente,
identificou a SUV de Sin. De repente, o meu namorado deu um murro no
volante, me fazendo pular de susto no banco. O que foi que ele viu...?!
— O carro dela... — Enrico murmurou, apontando para um esportivo
vermelho estacionado em uma das vagas de visitantes, em frente à casa.
Droga.
— Presente do nosso pai para a namorada dedicada. — Luca riu com
sarcasmo. — Filha da puta...
Sin estacionou bem atrás do carro dela, prendendo-o. Provavelmente
queria evitar uma possível tentativa de fuga de Bárbara. Descemos da Ruiva,
com o meu namorado liderando o caminho. Estranhei que não se dirigiu à
porta da frente. Em vez disso, seguiu pela lateral da mansão, rápido.
— O que vai fazer? — perguntei, tocando no seu braço, tentando
acompanhar os seus passos.
— Surpreendê-los na piscina — murmurou, sem olhar para mim. —
Estou tão puto, magrela... Porra!
— Amor, calma — pedi, tentando segurar o seu cotovelo. — A briga
não é sua. Não faça besteira... Por favor. Você está me deixando aflita.
Ele olhou para mim por um instante e, parando de andar, me deu a mão.
Os seus irmãos passaram na nossa frente e...
— Caralho... — Luca murmurou, fincando os pés no chão, com os
olhos presos em alguma cena mais adiante. Enrico paralisou ao seu lado,
levando as mãos à cabeça, desorientado.
Sin me arrastou até eles e, enfim, enxerguei o que os outros dois já
tinham visto.
A poucos metros de nós, estavam Marco, Paolo e Bárbara dentro da
jacuzzi, se pegando de uma forma bem louca, que a princípio eu nem entendi
de quem era cada braço que se movimentava dentro da água borbulhante,
com o vapor se espalhando ao redor. Apenas pude discernir que Marco
beijava a garota na boca e Paolo lambia os ombros dela, em um ritmo lento e
despreocupado.
O cheiro de maconha no ar era palpável. As peças de roupas jogadas no
chão deixavam claro que os três estavam nus. E, entretidos entre si, sequer
notaram a nossa chegada.
— Seus filhos da puta! — Sin gritou, indo na direção deles. Chegou
bem perto da jacuzzi, com o celular na mão. — Che cavolo, Bárbara! Sua
máscara acaba de cair, vagabunda! — Passou a tirar fotos ou a filmar, não sei
bem qual das duas opções, enquanto os três permaneciam na água, surpresos,
sem falar nada.
Observei o "trisal" com mais cuidado. Marco estava pálido, Bárbara
exibia as bochechas vermelhas e Paolo coçava a cabeça, perdido.
— Como vocês dois tiveram coragem?! — Luca se juntou ao irmão, ao
lado da jacuzzi, acusando os amigos com a voz alterada. — O meu pai
sempre os tratou como família! É assim que retribuem?!
— Foi mal... — Marco murmurou, esfregando os olhos. — Eu...
— Pessoal! — Paolo o cortou, erguendo as mãos, chamando a atenção
para si. — Relax! Não é nada demais! Fetiche com irmãos, quantas mulheres
não têm? Muitas... E eu adoro! — Deu risada, nitidamente drogado.
Sin e Luca passaram a discutir furiosamente com ele, mas não pude
escutá-los porque Enrico tocou no meu ombro com a mão gelada, atraindo o
meu foco. Ergui a cabeça para olhar para o seu rosto, percebendo que não
estava nada bem. Seus olhos brilhavam e, cheios de água, deixavam claro que
a qualquer momento começaria a chorar.
Suspirei fundo, arrasada, com o remorso me corroendo. Eu que pedi
que ele viesse e, com aquele flagra, o meu amigo iria ficar ainda mais na
fossa.
— Vamos para lá, Rico — falei baixinho, segurando a sua mão que
estava pousada no meu ombro. Enrico apertou os meus dedos, tenso,
tremendo. Meu coração se doeu por ele. Demos as costas para os outros, nos
afastando, até que...
— Ali! Olha ali! — Paolo gritou alto e nos viramos para vê-lo. — Ali
já temos mais um casal! — Apontou para mim e para Enrico, de mãos dadas.
Gelei da cabeça aos pés, sentindo os olhos azuis do meu namorando se
fixando em mim. — Se organizarmos direitinho, todo mundo transa! Duas
garotas com cinco garotos, por mim tá ótimo!
— Vai se foder! — Sin gritou para ele antes de se virar, vindo até mim
apressadamente, com o olhar ferido. — Porra, magrela! Por que vocês dois
estão de mãos dadas nas minhas costas?! Que putaria é essa?!
Paralisei, com o coração na garganta. Como lhe explicar, sem contar do
lance entre Enrico e Paolo...? Instintivamente, soltei a mão do meu amigo e
olhei para o rosto dele, pedindo por ajuda em silêncio. Seus olhos castanhos
estavam ilegíveis.
Estragar a minha amizade, ou arriscar o meu namoro?! Que dilema!
— Não olha para ele! Olha para mim! Eu que sou o seu namorado! Que
merda... Eu me entreguei para você! Eu me abri, cacete, como nunca tinha
feito! E não mereço uma maldita resposta? Não acredito... Nasci para ser
corno, como o meu pai!
— Calma... Não é nada disso... Eu... — As palavras me fugiram. Eu
simplesmente não sabia o que falar.
Luca olhava para a gente, sem entender nada, enquanto os outros três lá
atrás saíam da jacuzzi discretamente, enrolando-se em toalhas, prestando
atenção no show do meu namorado. Marco e Bárbara pareciam aliviados com
a mudança do centro das atenções.
— Pirralho... Calma... Posso explicar... — Enrico assumiu a situação,
dando um passo na direção do irmão, apoiando as duas mãos nos seus
ombros. Prendi o fôlego em expectativa.
— Explica logo, caralho! — Sin rosnou e, travando o maxilar, remexeu
os ombros, se soltando das mãos de Rico. Apertei as unhas contra as palmas
das mãos enquanto o meu amigo respirava fundo, tomando coragem.
— Ok. Vou abrir o jogo... Madah tentava me consolar porque estou na
merda. — Enrico baixou o rosto, derrotado. — Porque estou apaixonado.
Pelo Paolo.
Capítulo 40

Não consigo nenhuma satisfação


E eu tento, e eu tento

(I Can't Get No) Satisfaction | The Rolling Stones

Davi Filipo Sintori "Sin"

Eu não sabia se virava um soco na cara irritante do meu irmão por ter
me feito sofrer por ciúmes à toa, ou se dava risada feliz por me sentir aliviado
com a sua confissão.
Enrico apaixonado por Paolo?! Que merda... Não consegui nem
elaborar uma resposta. O resto do povo permaneceu mudo, por segundos que
pareceram a porra de uma eternidade.
— Apaixonado?! Por mim?! — Paolo quebrou o silêncio e todos os
olhos se voltaram para ele. O franguinho estava sentado do lado de fora da
jacuzzi, com uma toalha enrolada na cintura. Um vinco de confusão se
formou entre as suas sobrancelhas.
Senti vontade de socar a sua cara lesada até que passasse todo o efeito
da maconha que fumou. Ele já falou tanta bosta por estar drogado que me
deixou de saco cheio.
Enrico não abriu a boca, nem mais ninguém, por isso Paolo voltou a
falar, se levantando.
— Cacete, Rico... Apaixonado?! Mesmo?! — repetiu, caminhando na
nossa direção, com os olhos fixos no meu irmão. — A gente ficou o quê?
Duas, três vezes? Tudo bem que naquela primeira vez na SUV do Sin foi
intenso para caralho, mas... Você me pegou de surpresa, cara! Pensei que
fosse apenas um lance aleatório e...
O quê?! Na minha Ruiva?! Puta que pariu...
Antes que eu pudesse esboçar a reação que queria, Madah me puxou
para perto de si, agarrando a minha mão, firme.
— Amor... Vamos embora daqui? Esquece a Ruiva agora. Seu irmão
não quer ficar. — Ela apontou com a cabeça para Enrico que se afastava,
quase correndo, deixando Paolo para trás, falando sozinho. Logo depois Luca
passou por mim como uma flecha, indo atrás do nosso irmão.
— Vamos, magrela. E me desculpe por desconfiar de você. —
Entrelacei os nossos dedos, ficando uma última vez de frente para os Fontini,
com Bárbara atrás deles. Queria poder matá-los. — O que vocês fizeram... —
falei, apontando o dedo para os três. — Não tem perdão. Não apareçam mais
na casa do meu pai. Vocês apunhalaram Domenico pelas costas, caras...
Espero que o sexo com ela tenha sido fenomenal, para valer mais do que tudo
o que vocês estragaram. A nossa amizade... A nossa banda... A nossa
parceria. Acabou.
— Espera, velho... — Marco deu alguns passos hesitantes na minha
direção. — Não faz isso... Eu e o meu irmão pisamos na bola, eu sei, mas
escuta... Você sabe que a nossa parceria é mais forte do que toda essa
confusão. Esfria a cabeça, depois a gente conversa.
— Não tenho mais nada para conversar com você. E muito menos com
o seu irmão. — Passei o braço pelas costas da magrela e, apertando a sua
cintura para que a minha mão parasse de tremer, virei para ir embora.
A caminho de casa o clima de tensão pesava dentro do carro, quase
estalando. Ninguém falava nada com ninguém. Mordi a língua para não tocar
no assunto da pegação de Enrico e Paolo na minha Ruiva. Pensar naquilo
estava me dando nos nervos... Foi a cereja do bolo de toda a merda, que
começou com o flagra dos três na jacuzzi, fazendo o meu pai de otário.
Eu me sentia por um fio. Inspira, expira, inspira, expira.
Não posso surtar.
Dirigindo, olhei para Enrico pelo espelho retrovisor e enxerguei-o
mordendo o lábio, inquieto. Ao seu lado, Luca observava a paisagem pela
janela, pensativo.
Já Madah acariciava a minha coxa delicadamente, em um gesto
apaziguador. Ela me acalmava tanto... Respirei fundo mais uma vez,
satisfeito por estar conseguindo manter o controle.
— Querem passar em algum lugar? Almoçar fora, sei lá? — sugeri ao
parar em um sinal vermelho, tentando amenizar o clima.
— Não. São mais de onze horas. Preciso ir direto para casa me trocar.
Depois do almoço, tenho que estar na empresa — Luca respondeu, olhando
para o celular, sério.
— O pai chega que horas mesmo? — perguntei, pensando no estresse
que seria falar com Domenico sobre Bárbara. Caso ele duvidasse da gente,
pretendia mostrar as imagens do flagra que tinha no meu celular.
— Só no final do dia — Luca murmurou, com os olhos baixos,
digitando alguma mensagem.
— Ok. — Balancei a cabeça. — A gente conversa com ele em casa,
antes de você ir para a faculdade. Combinado, Luquinha?
— Combinado. Uma garota a mais para a longa lista de ex de
Domenico. Que a próxima "madrasta" seja melhor.
Dei risada. Em silêncio, pensei que Bárbara só não foi a pior de todas
porque ninguém ganharia daquela desgraçada da Rita. A filha da puta que me
perturbava até hoje, nos meus pesadelos.

Almocei com a magrela e com os meus irmãos, uma macarronada com


almôndegas de lamber os beiços. Enrico e Luca desapareceram da mesa
assim que terminaram de comer. Eu fiquei esperando Madah repetir três
vezes a sobremesa, um pudim de leite condensado, doce para caralho. Estava
começando a achar que era magra de ruim...
Com o meu bucho cheio, observava cada garfada que a minha garota
levava à boca, hipnotizado. Fiquei com a cabeça apoiada na mão, com o
cotovelo sobre a mesa, curtindo aquela preguiça gostosa. Cheguei até a
bocejar. Quando finalmente nos levantamos, me aproximei por trás, enfiando
o rosto nos seus cabelos perfumados.
— Vamos dormir um pouco? — sugeri com os lábios perto do seu
ouvido, enquanto envolvia a sua cintura fininha com os braços.
— Vamos. — Ela colocou as mãos sobre as minhas, se remexendo. A
safada gostava de roçar a bunda no meu pau. Eu não enxergava o seu rosto,
mas sabia que sorria. — Estou morta, amor... Depois da energia que você me
fez gastar às seis da madrugada.
— Eu?! — Dei risada, indignado. — Você que me acordou com fogo
no rabo! Louca para dar!
— Idiota... — Ela gargalhou daquele jeito espontâneo, aquecendo o
meu coração. — Acha que é fácil para uma garota só dormir com um pedaço
de mau caminho como você? Ninguém mandou ser tão gostoso... Agora não
reclama.
— Tá maluca? Não estou reclamando. — Apertei a sua bunda por
baixo do vestidinho enquanto subíamos a escada. — Pode me usar sempre
que quiser... A qualquer hora do dia ou da noite.
— Bom saber! E, por falar em noite... — falou, assim que pisamos no
andar de cima, se voltando para mim com os olhos sérios. — Hoje Domenico
vai voltar para casa. Cada um vai dormir no seu quarto, ok? Já disse... Tenho
vergonha de dormir com você, com o seu pai no quarto dele, no mesmo
corredor.
— Che cavolo... — Suspirei enquanto abria a porta do meu quarto. —
Quando eu penso que está tudo certo, você inventa de...
— Mas está tudo certo! — Ela me interrompeu, entrando atrás de mim
no quarto. — Estaremos a poucos metros de distância. Se você se comportar,
posso te visitar, ou deixar que me visite. Mas dormir juntos a noite inteira,
com Domenico em casa, não.
— Que merda, hein, magrela... — resmunguei me jogando na cama, de
barriga para cima.
— Não faça drama, Davi Filipo. Nós não somos grudados. E, se já está
com este bico agora... — Ela sorriu, se sentando perto da minha cabeça,
passando os dedos pelos meus lábios. — Quero só ver como vai ser quando
eu me mudar para a casa da minha família.
— O quê?! Nem fodendo! — Me sentei em um pulo, com os olhos
arregalados.
— Amor... Quando o investigador do seu pai localizar a minha família,
vou ter que ir. Simplesmente não faz sentido eu morar aqui, com vocês, para
sempre. Isso já está meio que combinado com Domenico, desde o começo.
— E se for em outra cidade?! Em outro estado?!
— Tenho esperança de que seja aqui em São Paulo mesmo... — Passou
os dedos pelo meu cabelo, me acalmando. — Minha mãe era daqui... Nasceu
e cresceu na cidade. Trabalhava na empresa do seu pai, lembra?
— Tem razão, mas... Porra... Como a gente vai poder se ver, quando
você não morar mais aqui?!
— Como todos os casais de namorados da nossa idade. Um vai para a
casa do outro. — Deslizou os dedos da minha cabeça pelo meu pescoço, me
arrepiando. — A gente sai para passear, para cinema, restaurante, motel... —
Sorriu com malícia. Linda. — Você sempre soube que a minha estadia aqui
seria provisória. Admite?
— Eu sabia e não via a hora de você desaparecer daqui... — respondi,
subindo a mão pela sua coxa. — Mas isso era antes. Antes de eu me
apaixonar por você. Agora, a simples ideia de você ir embora me destrói.
— Ah... Eu também me apaixonei por você! — Ela envolveu o meu
pescoço com os braços fininhos. — Você é o meu amor! E sempre vai ser,
independente de eu morar aqui ou em outro lugar. Não vamos brigar por
causa disso, por favor. Me dá um beijo?
— O que você me pede que eu não faço, magrela? Ok. Não vou mais
encher o seu saco com isso. — Agarrei a sua nuca e aproximei os nossos
rostos, prendendo o seu olhar por três segundos antes de colar as nossas
bocas, emocionado.
A familiar onda de calor me percorreu quando nossas línguas se
provocaram. Suguei e mordisquei o seu lábio enquanto as suas mãos
desceram pelas minhas costas, me arranhando, me puxando para mais perto.
Com os dedos ansiosos apalpei os seus peitinhos, provocando os
biquinhos duros e, quando ela gemeu dentro da minha boca, o tesão me
consumiu com tudo, como um raio. Separei os nossos lábios, sem fôlego,
com o meu pau endurecendo dentro da cueca.
— Cacete... Um beijo nosso nunca é só um beijo. Somos incríveis
juntos, não acha?
— Acho. Não estava com sono? O que é isso aqui? — perguntou,
sorrindo, tocando de leve na minha ereção.
Eu queria me enterrar nela com força, para me esquecer de todas as
minhas inseguranças e aflições. Porém, sabia que ainda era cedo demais para
repetir a dose do sexo matinal. Sua boceta recém desvirginada precisava de
uma folga.
— É... Precisamos dormir, magrela — falei, resignado. Então me deitei,
puxando-a para se acomodar do meu lado. Fechei os olhos e, com os seus
dedos delicados acariciando os meus cabelos, adormeci.

Duas batidas na porta me acordaram. Madah continuou dormindo, com


a cabeça no meu peito.
— Entra. — Ajeitei rapidamente o vestido dela que havia subido, para
não aquela bundinha de biquíni arrebitada à mostra.
— Sin... O pai está chegando em casa — avisou Luca, enfiando a
cabeça pelo vão da porta. — O guarda-costas me mandou uma mensagem,
como eu havia pedido. Já são mais de seis horas.
Porra! Dormi para caralho...
— Já vou. Me encontra no escritório em cinco minutos — falei,
cuidadosamente me desvencilhando do corpo quente da minha garota.
Joguei uma água no rosto, escovei os dentes e desci. Quando pisei no
andar térreo, a porta de entrada se abriu. Domenico chegou.
— Boa tarde, filho! — Sorriu para mim, carregando uma maleta. —
Tudo bem?
— Oi, pai. Tudo... — respondi, coçando a nuca. — Fez boa viagem?
Onde estava mesmo?
— Fiz, sim. Em Miami. Vamos até o escritório... Quero te mostrar o
meu novo iPhone.
Eu o segui até o escritório e, assim que ele abriu a porta, já viu Luca lá
dentro. Meu irmão estava sentado no sofá, mexendo no celular.
— Boa tarde, Luca! O que faz aqui? — Domenico estranhou, soltando
a maleta em cima de uma poltrona. Depois se acomodou no outro sofá, de
frente para ele, passando a mão pela barba grisalha.
— Boa tarde, pai. Estava te esperando... Eu e Sin queremos conversar
com você. É um assunto meio chato. — Me chamou com a mão e sentei do
seu lado. Luca me olhou de forma questionadora, indeciso.
— Quer que eu fale? — perguntei a ele.
— Não, deixa. Eu falo. Pai... Vou ser direto. Descobrimos que Bárbara
se encontra com Marco e Paolo. É... Como explicar... Ela se encontra com
eles. Sexualmente falando. Sinto muito.
— Che cavolo... Com os dois garotos Fontini?! — Alisou os cabelos
ralos, franzindo a testa. — Certo. Hoje mesmo vou encerrar o meu
relacionamento com ela.
— É o melhor a ser feito. Sinto muito — comentei, satisfeito com a sua
decisão.
Silêncio. De repente, ele deu uma risada baixa, balançando a cabeça.
— "Sinto muito" para cá, "sinto muito" para lá. Relaxem, meninos. Eu
estou completamente tranquilo com o término. — Ele se levantou,
caminhando até o bar. Abriu a garrafa de Bourbon e serviu-se de uma dose.
— Um relacionamento com uma garota como ela é... Como posso dizer...
Uma troca de interesses. Não há amor, por isso não há coração partido
quando chega ao fim. — Pegou o celular no bolso, com o semblante sereno.
— Já vou pedir para o meu advogado cuidar dos trâmites. Se puderem me dar
licença... Gostaria de falar com ele a sós.
Eu e Luca nos levantamos, trocando olhares confusos. Pelo jeito, me
aborreci mais com o caso de Bárbara com os Fontini do que o meu próprio
pai, o corno da história. E, enquanto saía do escritório, uma pulga atrás da
orelha me incomodou. Com o coração inquieto, me perguntei se não tinha
exagerado em romper a amizade com eles.
Capítulo 41

Jovens demais para perceber


E ingênuos demais para ligar
O amor foi uma história incomparável

Terrible Things | Mayday Parade

Davi Filipo Sintori "Sin"

Depois da conversa com o meu pai, eu estava subindo a escada,


pensativo, quando esbarrei em Enrico, que descia os degraus mexendo no
celular. Aliás...
— Você deu para o Paolo na minha Ruiva? — Fui direto. Parei na sua
frente, impedindo a sua passagem. — Por quê? Com tanto lugar no mundo
para isso... Fez de propósito para me irritar?
— Não! — Ele arregalou os olhos, em um misto de surpresa e
indignação. — Não dei! E não foi nada de propósito. Aquele dia, na festa do
Leonardo... Eu fiquei com a sua chave, lembra?
— Sei. — Cruzei os braços sobre o peito, apertando os olhos,
desconfiado. — Paolo já entregou que o que rolou entre vocês dois na Ruiva
foi "intenso". Anda, desembucha... Não vou desistir enquanto não me contar
direito o que fizeram.
— Você é foda, hein? Não vai me deixar em paz... Tá louco! — Cruzou
os braços como eu, estressado. — Se quer mesmo saber o que rolou, eu te
falo. Pu-nhe-ta. Eu bati uma para ele, e ele uma para mim. Satisfeito?
— Caralho, Rico! — Fiz uma careta de nojo, esfregando os olhos,
tentando não imaginar a cena. — Vocês... Foram dois otários... E eu um
idiota. Entrei na Ruiva logo depois. Como não percebi?
— Paolo levou uma toalha, forrou o banco e... É isso. Grande coisa.
Esquece. É só um carro, cara...
— Você fala como se não fosse nada demais?! Porra! Você sabe o
cuidado que tenho com a minha Ruiva — expliquei, tentando lhe mostrar o
meu ponto de vista e a sua expressão de indiferença permaneceu impassível,
me dando nos nervos. — É uma paixão, um capricho, um passatempo, um
hobby, chame do que quiser... É como você com os seus livros raros. Ai de
quem ousar amassar uma folha... Você não entende, não é? Dedicar o meu
tempo com o carro e com a banda nos últimos anos foram as únicas coisas
que me impediram de enlouquecer. E, ainda por cima, agora a Five Stars já
era. Uma merda...
Ao final, Enrico coçou a nuca, parecendo perdido com todo o meu
falatório. Nós nunca conversamos, portanto fazia sentido que estivesse sem
reação. Como permaneceu mudo, eu voltei a falar.
— Enfim... Fazer a minha Ruiva de motel... Foi uma puta falta de
respeito da sua parte. Mas acho que é pedir demais que o meu irmão me
entenda, olhando além do seu próprio umbigo. Você é um alienado
egoísta. Nunca se importou comigo e pelo jeito não vai ser agora que isso vai
mudar.
Foda-se... Explodi mesmo, para variar.
— Pirralho... — Boquiaberto, Enrico finalmente demonstrou alguma
compreensão no seu olhar. Encostou devagar no meu braço, mas me remexi,
afastando a sua mão de mim. — Isso não é só sobre o carro, é?
Me afastei e, com o coração saindo pela boca, voei na direção do meu
quarto. Bati a porta com tanta força atrás de mim que Madah acordou no
pulo, apoiando os cotovelos no colchão, assustada.
— O que aconteceu?! Domenico...?
— Domenico está ótimo. Até demais... — Baguncei os cabelos,
suspirando fundo. O pôr do sol entrava pela janela, deixando o quarto com
uma coloração amarelada, quente.
— Vem... Senta. Me explica tudo.
Me sentei na beirada do colchão e puxei Madah para o meu colo. Só de
poder envolver a sua cinturinha com os meus braços já ficava mais calmo.
— Vamos lá... Eu e Luca contamos para Domenico sobre Bárbara e ele
cagou para a história. Não questionou nada, tanto que nem mostrei as fotos.
Simplesmente falou que encerraria o namoro, como se dissesse que iria trocar
de camiseta.
— Nossa... Isso é um pouco estranho — comentou, pensativa. — Bom,
melhor para ele. Não vai sofrer por ela. Mas foi por isso que você chegou
aqui tão aborrecido?
— Não. — Apoiei o meu queixo sobre o seu ombro magrinho,
inspirando o seu cheiro adocicado. — Foi porque cruzei com Enrico na
escada. Eu quis saber direito do lance dele com Paolo na minha Ruiva e
acabei despejando um monte de merda... Mas não quero mais falar sobre isso.
— Se você prefere... Não vou te forçar a falar, amor. Mas saiba que
pode desabafar comigo sempre que quiser.
— Obrigado. Vamos tomar um banho?
— Só um banho? — Ela perguntou baixinho, maliciosamente, me
roubando um sorriso de lado. Safada.
— Só um banho. Sem putaria. Hoje quero deixar a sua boceta
descansar. Depois podemos descer para jantar, ver um filme, sei lá. Essas
paradas que namorados fazem quando não estão transando.
— Ok — respondeu, se levantando. — Vou pegar uma roupa limpa no
meu quarto, já volto. Te encontro no banho. Sem putaria.

A magrela era foda... Me enrolava direitinho. Embaixo do chuveiro,


veio com o papo de um ensaboar o outro e quando dei por mim ela estava de
joelhos, chupando o meu pau. Gozei como um condenado, com a bunda
apoiada no azulejo gelado do box. Puta que pariu, que delícia...
Depois, enquanto eu me enxugava, ela passou a desembaraçar os
cabelos molhados em frente ao espelho, cantarolando alguma música
estranhamente familiar.
— Que música é essa mesmo? — perguntei, olhando-a através do
espelho.
— Moon River. Lembrou...?
— Lembrei — respondi, me recordando de quando ela me pediu para
colocar a música no jatinho. — Qual é o seu lance com ela? Me explica de
novo.
— A minha mãe tinha uma caixinha de música muito bonita, com uma
bailarina que dançava Moon River sobre um espelho. É isso. — Deu um
sorriso triste, ainda penteando os cabelos.
— Não ficou com você depois que ela...?
— Não. Ela a levou para o hospital e nunca mais a vi. Nem a caixinha,
nem a minha mãe. Heloise foi levada de ambulância ao pronto-socorro da
cidade quando passou mal, a diagnosticaram com câncer e, durante a
madrugada, foi mandada a um hospital especializado. Foi tudo tão
repentino...
— Que merda... Sinto muito — murmurei, puxando Madah para o
quarto. Na cômoda, peguei uma camiseta e uma bermuda para me vestir.
— Obrigada — respondeu, colocando sua roupa. Depois se acomodou
na cama, com as costas apoiadas na cabeceira, abraçando as pernas.
— Onde foi isso? No Uruguai? — Me sentei na cadeira da
escrivaninha, em vez de na cama com ela. Achei bom manter uma distância
segura para que a gente não começasse a se pegar. Queria prestar atenção na
sua história.
— Sim. Eu morava em Punta del Este e o hospital para onde a
transferiram ficava em Montevidéu. Logo depois a colocaram em coma
induzido e... Eu esperei que os médicos me contatassem com boas notícias,
de que ela tivesse acordado, assim eu pegaria a estrada para vê-la. Mas isso
nunca aconteceu. Agora sei que minha mãe já estava morta há meses, seu pai
me mostrou a certidão de óbito... Ai, estou cansando você com este falatório?
Já deve estar praguejando por ter perguntado.
— Não, magrela. Estou bem atento. Quero mesmo saber mais sobre
você e sobre a sua família.
— Não tem muito o que saber da minha família. Era só eu e a minha
mãe. E, por falar em família... — Ela mordeu o lábio, pensando em alguma
coisa. — Você já contou a Domenico? Sobre a gente?
— Não. Podemos contar na hora do jantar. Naquela hora, no escritório,
ele expulsou a mim e ao meu irmão assim que falamos sobre Bárbara. Disse
que queria conversar com o advogado a sós para cuidar dos trâmites.
— Que trâmites?
— Meu pai sempre faz um "contrato de namoro" com as garotas com
quem se relaciona. Para que não configurar união estável, sabe? Assim ele se
resguarda financeiramente. Ou seja, as garotas ganham presentes, joias e o
caralho, mas apenas durante o namoro. Depois não conseguem mais nada.
Não rola divisão de bens ou pensão.
— Entendi. Esperto o seu pai.
De repente, uma batida na porta chamou a nossa atenção.
— Sin? — Domenico perguntou do outro lado. Por falar no diabo...
— Diga. Acabei de tomar banho — falei, sem abrir a porta.
— Você viu Madeleine? Não a encontrei pela casa.
Porra... Com o coração mais acelerado, encarei a minha namorada, que
estava com os olhos bem abertos, tensa. Murmurei um: "Vamos contar?" e
ela ergueu os ombros, esboçando um: "Não sei", insegura.
Em um impulso, agarrei a sua mão, puxando-a da cama e, com a outra
mão, abri a porta de uma vez. Os olhos de Domenico correram de mim a ela e
depois desceram, pousando sobre os nossos dedos entrelaçados.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou para mim, com o
semblante fechado, sério.
— Nós estamos juntos. Namorando — respondi, sustentando o seu
olhar.
— Namorando?! — Passou a mão pela barba grisalha, franzindo a
testa. — Não. Não posso concordar...
— Por que não?! — rosnei as palavras, já com o sangue fervendo.
Esmaguei os dedos da magrela, que puxou a mão de mim, esboçando uma
careta de dor.
— Você sabe... Você é o meu filho mais...
— Mais...?! — Prendi o fôlego. — Pode falar. Mais fodido?! Mais
problemático?! Mais irresponsável?! Saquei. Se fosse o Luca ou o Enrico,
beleza. Agora, eu... — Dei uma risada sarcástica. Foda!
— Mais "instável", eu diria. Mas, não. Eu não queria vê-la com
nenhum de vocês. — Colocou uma mão no meu ombro, em um gesto
condescendente. — Sin... Tente me entender. Eu trago a garota para casa e...
Permito que você tire vantagem dela? Não é certo. Ela é menor de idade. Não
seja irresponsável. Pelo menos uma vez na vida, raciocine antes de agir
levianamente.
Puta merda...
— Já entendi que me vê como lixo. Foda-se. — Chutei o balde,
fuzilando o meu pai com os olhos. — Com ou sem a sua benção, o namoro
vai continuar.
— "Foda-se"?! — Domenico se indignou, me lançando um olhar
gélido. Eu não respondi nada, encarando-o de volta com uma sobrancelha
erguida, apertando os braços cruzados sobre o peito, desafiador.
— Seu... Seu moleque! — Ele apontou o dedo na minha cara, com as
bochechas vermelhas. — Com esta sua atitude de merda, acha mesmo que ela
vai querer ficar com você?! Quem em sã consciência ficaria?!
Era só o que me faltava... Madah desistir?! Se bem que... Depois de
descobrir o que o meu próprio pai pensava de mim... Que namorada, no lugar
dela, não pensaria em mudar de ideia?
Nós ficamos os três mudos, com a tensão palpável no ar, crepitando.
Meu corpo tremia da cabeça aos pés. Me sentia a beira de um surto, até que...
A mão delicada da magrela segurou a minha, entrelaçando os dedos mais
uma vez.
— Eu quero ficar com o seu filho, Domenico. Estou apaixonada por
ele. — A sua voz baixinha quebrou o silêncio, trazendo um alento para o meu
coração aflito. — E está tudo bem. Não precisa se preocupar comigo. O seu
filho não está tirando vantagem de mim. — Sorriu para o meu pai,
amolecendo a postura furiosa do velho. Voltei a respirar.
— Tem certeza, querida? Ele não está forçando a situação...?
— Tenho certeza, sim. Como nunca tive, em toda a minha vida. Ele me
faz muito feliz. — Ergueu o olhar para mim, com um sorriso lindo nos lábios.
Porra... A magrela não existia. Meus olhos se encheram de lágrimas.
Cacete...
— Muito bem... — Domenico assentiu, mais calmo. — Saber disso é
tranquilizador para mim. Vamos jantar juntos?
Capítulo 42

Eles não sabem o quanto demora


A espera por um amor assim

Lucky | Jason Mraz feat. Colbie Caillat


Madeleine Laurent "Madah"

— Vamos jantar juntos? — Domenico perguntou. Surpresa, eu não


soube o que responder. Olhei de soslaio para Sin, que parecia nem respirar,
nervoso. — Aceitem o convite, por favor. Confesso que não reagi bem à
"novidade." Passado o susto, me permitam melhorar os ânimos — insistiu,
diante do nosso silêncio hesitante.
— Aceitamos — decidi, abrindo um sorriso. Pelo jeito ele estava de
boa vontade. — Desceremos daqui a pouco, tudo bem?
— Tudo, querida. Vou esperar por vocês na sala — falou e, sorrindo,
foi embora.
Ufa... Respirei aliviada por ter conseguido contornar um pouco a
situação, amenizando o clima pesado. Fechei a porta do quarto e virei para o
meu namorado.
— É verdade...? Eu te faço feliz? Ou falou aquilo só para se livrar do
meu pai? — Sua voz rouca me pegou de surpresa.
Sin se sentou na beirada do colchão, desanimado. Sua insegurança mais
uma vez dava as caras... Eu sofria com ele, sofria por ele.
— Ah, meu amor... — falei, caminhando até a cama, me acomodando
no seu colo como sabia que ele gostava. Sin me envolveu pela cintura com os
braços tatuados, em silêncio. — Davi Filipo. Quantas vezes vou ter que
repetir...? Você me faz muito feliz! Eu te amo! É tão difícil assim para você
acreditar em mim? — Passei a dar beijos leves por todo o seu rosto bonito.
Maxilar, bochechas, testa.
— É. Minha antiga terapeuta dizia que eu tinha problemas de
confiança. — Deu de ombros, alisando as minhas costas, sem deixar de me
olhar nos olhos. — Aprendi a esconder, a sufocar a insegurança e os medos.
Na escola, nas festas, ninguém nunca imaginou... Até que me mostrei de
verdade para você, mas... Fiquei vulnerável para caralho. Uma merda.
Ai, como eu queria ser capaz de arrancar tudo de ruim que afligia o seu
peito, para que conseguisse enxergar o quanto é maravilhoso...
— Obrigada por se mostrar a mim. Me sinto honrada, de verdade. Todo
mundo age como você por autopreservação. Por fora pode parecer que está
tudo bem. Mas, por dentro... — Acariciei a sua nuca, contornando a gola da
camiseta, apreciando o contato com a sua pele quente e macia. — Todos
levamos cargas que não mostramos às pessoas. Algumas são mais leves,
outras mais pesadas. Sinto muito que a sua seja tão difícil...
— Tenho tanta sorte. Você é... — Agarrou os meus cabelos da nuca,
aproximando mais os nossos rostos, apoiando a sua testa na minha. — Você é
a única coisa capaz de me acalmar e que, ao mesmo tempo, me faz bem.
Na hora entendi o que quis dizer. Ele havia feito referência à
dependência química. Porque a heroína era uma coisa que o acalmava, só que
não fazia bem. Esbocei um pequeno sorriso, sustentando o seu olhar azul. Eu
podia perceber que a sua cabeça estava a mil pelo modo aflito que me
encarava.
— Queria poder ler os seus pensamentos... — murmurei, desfazendo o
vinco entre as suas sobrancelhas com a ponta do meu indicador.
— E eu queria poder não pensar em mais porra nenhuma. Me ajuda a
silenciar a minha mente fodida. Me beija.
Eu o atendi sem pensar, no mesmo segundo. E, quando colamos os
nossos lábios, desci as minhas mãos pelas suas costas firmes, nos unindo
ainda mais. Nos beijamos sem pressa, com intensidade e paixão. Até que,
sem ar, Sin se afastou, abrindo um sorriso de lado. Lindo.
— Pronto. Estou bem melhor. Já posso encarar o meu pai lá embaixo.
— Fez um sinal de cortar a garganta com a mão, deslizando a lateral do
indicador como se fosse uma faca.
Imaginei que se sentisse mesmo como um novilho a caminho do abate.
Domenico realmente tinha pegado pesado com ele...
— Amor... — Me levantei do seu colo, o puxando pela mão. Passei a
língua pelos meus lábios que ainda formigavam do beijo. — Posso dar uma
sugestão? Não leve tão a sério as críticas do seu pai. Se controle, respire
fundo, pense em coisas relaxantes para não explodir outra vez. Mostre que
está crescendo e evoluindo. Você já melhorou tanto, Davi Filipo... Pelo
menos comigo.
— É? — Me olhou com divertimento. — Quer dizer que a senhorita
está satisfeita com o novo layout do produto?
— Demais! Amei o novo layout. Foi uma mudança incrível, da água
para o vinho.
— Fico feliz com a sua satisfação. — Abriu a porta do quarto sorrindo,
inclinando o tronco, exagerando de propósito no cavalheirismo. Seguimos
juntos pelo corredor, em um clima leve e gostosinho. — Agora falando
sério... Você tem razão. Vou tentar me comportar com o meu pai —
comentou enquanto descíamos a escada. — Já até sei em que coisa relaxante
posso pensar.
— Lá vem... — murmurei, sorrindo ao notar nos seus olhos um brilho
diferente. Estávamos entrando no hall, andando de mãos dadas.
— No meu pau, na sua boceta, entrando e saindo bem devagar... Sabe?
Eu me enterro até o talo, depois saio quase que por inteiro, deixando só a
cabecinha encaixada na portinha, entro de novo, e saio, e de novo... —
sussurrou perto do meu ouvido, me arrepiando inteira.
— Que delícia, digo, que absurdo. — Dei risada, me segurando para
não apertar as coxas. — Se controle, Davi Filipo.
— Falou a freira. Eu queria um banho sem putaria e você quase engoliu
o meu pau. Se controle, Madeleine.
Gargalhei e, ainda de mãos dadas, entramos na sala de jantar onde
Domenico nos aguardava.
— Boa noite, crianças — falou, sentado na cabeceira da mesa,
erguendo sua taça de vinho.
— Boa noite — respondemos. Me acomodei à direita de Domenico e o
meu namorado à esquerda.
— Tudo bem? Me contem sobre a escola. Sin continua no time de
futebol? Como andam os jogos?
— Continuo. Amanhã à noite teremos um jogo bem importante, em
Guarulhos. É a semifinal do campeonato — respondeu, servindo-se de água.
— Verdade? De manhã ou à noite? — Domenico perguntou, parecendo
nitidamente interessado. Um bom sinal.
— O jogo mesmo vai começar às oito da noite. Amanhã de manhã,
durante a aula de Educação Física, será o último treino.
— Vamos ver o jogo deles em Guarulhos, Madeleine? Posso levar você
de carro, já que o meu filho deve ir de ônibus com o time.
A pergunta de Domenico me pegou de surpresa. Eu queria muito ver o
jogo, só se falava disso na escola, mas eu tinha medo de atrapalhar de alguma
forma... Sabia que alguns jogadores se sentiam mais pressionados quando
tinha namorada ou família na torcida. Além disso, eu não queria parecer
grudenta, impondo a minha presença, me convidando para ir.
— Legal. Boa ideia. Se ela quiser ir... — Sin falou. — Eu queria
mesmo que você fosse, magrela... Muito. Mas tive receio de que não
quisesse, porque ficar sozinha na arquibancada deve ser um porre... Por isso,
se puder mesmo ir, pai... Agradeço.
— Você quer ir comigo, querida? — Domenico se virou para mim.
— Quero — respondi a ele, mais animada.
— Então está decidido. Nós vamos. Combinado, filho.
E, nos próximos minutos, conversamos sobre assuntos banais enquanto
nos serviram o jantar. Pai e filho não se estranharam nenhuma vez. Me senti
feliz em vê-los progredindo, ainda que a passos pequenos, em direção a uma
relação mais saudável.
Capítulo 43

Quem quer viver para sempre?


Quem ousa amar para sempre?

Who Wants To Live Forever | Queen


Enrico Lorenzo Sintori

O professor falava, falava, mas eu não conseguia compreender uma


única palavra. Foi assim em cada uma das seis malditas aulas. As imagens de
Paolo na noite anterior, com os amigos do Teatro, se misturavam com a desta
manhã, com a orgia na jacuzzi, embrulhando o meu estômago.
Para complicar o tormento, não sabia se faltava muito para acabar a
última aula porque tinha esquecido o celular na bolsa de Madah. Como não
podia ver que horas eram, o tempo parecia se arrastar, sem fim.
De repente, o sinal soou. Até que enfim!
Arrumei o material em dois segundos e saí da sala, sem olhar para os
lados. Segui pelos corredores do campus de cabeça baixa. Torcia para não
encontrar ninguém, desejando voltar para casa o mais rápido possível e dar
por encerrado o dia infeliz.
Durante o flagra de Marco e Paolo com Bárbara, fui obrigado a me
humilhar, assumindo que estava apaixonado por Paolo, porque o pentelho do
Sin estava surtando de ciúmes da princesa comigo. E, para piorar ainda mais
o meu humor, discuti com o caçula na escada de casa, quando ele veio tirar
satisfações sobre os amassos na Ruiva, jogando um monte de merda na minha
cara, com o papo de que eu não me importava com os seus sentimentos.
Aquilo não era novidade para mim. Sin me culpava pelos abusos que
sofreu anos atrás, como se eu tivesse falhado no meu papel do irmão mais
velho de protegê-lo. Cacete... Eu podia não ser o garoto mais atento na época,
mas quando tudo começou ele tinha onze anos e eu doze e meio. Éramos —
os dois — crianças. Se alguém tinha o papel de protegê-lo, esse alguém era o
nosso pai, porém Domenico para variar não estava presente.
Do lado de fora do prédio da faculdade, no estacionamento, tateei o
bolso da calça em busca da chave do carro, caminhando na direção da minha
picape. E, quando finalmente ergui o olhar, quase caí para trás. Paralisei,
gelando da cabeça aos pés.
Paolo, em carne e osso, estava junto ao muro, bem do lado do meu
carro. Sentado no corrimão, com a cabeça apoiada em uma mão, mantinha o
olhar fixo em mim. O poste de luz logo acima iluminava apenas um dos lados
do seu rosto, deixando-o ainda mais hipnotizante.
Eu queria simplesmente poder me enfiar em algum buraco no chão,
desaparecendo dali. Mas, como não tinha esta opção, continuei parado como
um idiota, com o coração pulando na garganta, me sufocando.
— Oi, Enrico — falou, endireitando a coluna, sem desviar o olhar. —
Queria falar contigo.
— Fala — respondi com a língua quase se embolando na minha boca,
enfiando as mãos nos bolsos da calça.
— Abre o carro? Estou mofando aqui há mais de meia hora — pediu,
bagunçando os cabelos castanhos com a mão.
— Prefiro... Prefiro que não entre no meu carro.
— Cacete, Rico... Eu não vou te atacar. Só queria falar contigo. E
preciso de uma carona, estou sem carro. Vim andando do meu campus até o
seu, esperava que pudesse me deixar em casa.
— Pode falar aqui mesmo, eu te escuto. E depois você chama um Uber
para ir embora.
— Não vai dar. Meu celular está sem bateria, olha... — Pegou o
aparelho no bolso, mexendo na tela desligada, mostrando-a a mim. — E eu
sei que você está sem o seu. Ou seja, nada de Uber.
— Como você sabe?
— Te conto dentro do carro. Preciso me sentar. Estou cansado, porra...
Hoje foi um dia estressante. Por favor?
— Tá bom. — Suspirei, finalmente destrancando o carro.
Me sentei atrás do volante e, em silêncio, ele se acomodou no banco do
passageiro. Me virei para colocar a mochila no banco de trás e Paolo
começou a mexer no rádio do carro, mudando de estação em estação. Ergui
uma sobrancelha, observando-o enquanto os seus dedos finos apertavam os
botões. Ele sorriu de lado ao perceber o meu olhar, mantendo os olhos fixos
no som.
— O que foi? Você sabe que eu só funciono com música... Pronto. Esta
vai servir.
A voz de Freddie Mercury cantando "Who wants to live forever"
preencheu o carro e, inquieto, Paolo passou a tocar com as pontas dos dedos
nas coxas, como em um piano.
There's no time for us
(Não há tempo para nós)
There's no place for us
(Não há lugar para nós)
— Para falar a verdade, eu não sei bem como você funciona, não. —
Dei uma risada fraca, olhando para o outro lado. — Me surpreendi bastante
de ontem para hoje.
— Digo o mesmo, cara. Me surpreendi para caralho. Contigo, e comigo
mesmo. Por isso vim até aqui...
What is this thing that builds our dreams
(O que é isso que constrói nossos sonhos)
Yet slips away from us?
(E no entanto foge de nós?)
Who wants to live forever?
(Quem quer viver para sempre?)
Arrisquei olhar para ele, tentando ignorar o impacto que me causava.
Até a energia que emanava do seu corpo me abalava, deixando todas as
minhas células em alerta.
— Certo. — Respirei fundo. — E o que você quer?
— Você.
O quê?!
Meu coração trouxa bateu tão forte que estremeci. Boquiaberto, não
consegui pensar em uma única maldita palavra para lhe falar. Nos meus
ouvidos, a música do Queen se misturava à pressão dos meus batimentos
descontrolados, me atordoando.
There's no chance for us
(Não há chance para nós)
It's all decided for us
(Está tudo decidido para nós)
— Me escuta, Rico. — Seus olhos azuis aflitos me prendiam, sem
piscar. — Sei que você deve estar puto comigo. Mas eu acho que foi uma
falha de comunicação fodida... A gente ficou duas vezes, sem compromisso,
no dia da festa e no dia do ensaio e... Ok, fui meio sem noção em te chamar
em casa para a festinha com o pessoal do Teatro sem saber se curtiria o
esquema. Mas, caralho... Não foi de propósito. Foi mal. Me perdoa, cara. —
Despejou as palavras rapidamente, sem respirar.
Apertei os olhos, tentando organizar uma resposta decente. Minha
cabeça girava, mas me concentrei para me fazer ser claro.
— Paolo... Sim, a gente só ficou duas vezes. Três, se contar o beijo de
ontem à noite na sua casa. Mas não foi nada "aleatório", como você disse
hoje cedo. Pelo menos para mim. O lance platônico vem de anos... E, desde o
dia da festa até ontem, nós nos falamos todos os dias. Você me dizia cada
coisa pelo celular... Que eu te inspirava para as músicas novas e... Criei
expectativas. E me fodi.
Ele me escutou em silêncio, assentindo de leve com a cabeça antes de
abrir a boca.
— Foi mal, mesmo, Rico. Tenta se colocar no meu lugar. Eu não sabia
que...
— Tenta você se colocar no meu lugar! Você me manda aquela
mensagem, falando que queria se divertir comigo, que era para eu passar a
noite na sua casa... Acha que gostei de te ver com os seus amigos?! Fiquei na
merda, cara. E, hoje, quando te vi na jacuzzi com Bárbara...
— Nem me lembra dessa merda. Eu estava drogado, a maluca que
sempre se pega com Marco inventou de me chamar para a putaria e... Me
arrependo. Estou me torturando o dia inteiro, me lembrando de como você
ficou chateado por causa disso.
— Fiquei, mesmo. Por mim e pelo meu pai. Ou você acha certo ter
botado chifres nele?
— Rico... — Ele fez uma pausa como se pensasse nas palavras. —
Domenico e Bárbara tinham um relacionamento aberto. Pela sua reação e dos
seus irmãos, vocês não sabiam. Sin até acabou com a banda, cacete... Não me
conformo. — Passou as mãos pelos cabelos, nitidamente estressado. — Posso
fumar no seu carro?
— Pode. Mas me explica... Relacionamento aberto? Como?
— Como? Assim... — Encaixou um cigarro nos lábios, o acendendo
com o isqueiro, ágil. — Era ok para o seu pai que ela ficasse com outros
caras na ausência dele. Ele também não era fiel a ela... O combinado era que
Bárbara estivesse disponível para Domenico, sempre que a solicitasse. E,
com ele viajando, ela se enfiava lá em casa. Por causa do Marco, já falei.
Acho até que eles se gostam... Porém Bárbara nunca quis abrir mão das
regalias que seu pai proporcionava a ela. Carro, joias, viagens e o caralho.
Mas se fodeu, coitada... No final do dia, o advogado telefonou, encerrando o
contrato deles. Pelo jeito Domenico não gostou do flagra que vocês deram.
Se bem que aposto que o seu velho nem se importou de verdade com os
"chifres", como você disse. Conta aí como foi a reação dele.
— Eu... Eu não sei. — Pisquei, tentando absorver a enxurrada de
informações. — Quem foi conversar com ele em casa foram os meus irmãos,
eu não participei.
— Pode ver com eles como foi. Tenho certeza de que Domenico
cagou... Quer apostar?
— Não — respondi, jogando a cabeça para trás.
Que merda... Sin e Luca desconheciam mesmo esse lance de
"relacionamento aberto"? Não sabia se deveria conversar com eles a respeito,
nunca falavam direito comigo e...
— Enrico. Posso falar agora a pior parte? — Ele me chamou pelo
nome, soltando a fumaça devagar pela janela. Depois abriu a porta do carro,
desceu, apagou a bituca nas pedrinhas do chão e deu a volta, escancarando a
minha porta.
— "Pior"? Como assim?
— É o seguinte. Te liguei hoje à tarde uma caralhada de vezes. Até que,
no final da noite, Madah atendeu o seu celular, e meu coração quase caiu no
chão quando, por uma fração de segundo, pensei que vocês estivessem
juntos. Foi foda, cara... Eu nunca sinto ciúmes de ninguém, por isso fiquei
perdidão. Talvez tenha sido porque ela tirou o seu “BV”... Pelo menos logo
lembrei que a garota namora o seu irmão, e relaxei.
— Vocês conversaram alguma coisa? Cadê a pior parte? — Senti medo
de que ela tivesse contado a ele o quanto chorei durante a madrugada, como
um idiota. Mas Madah não faria isso... Faria?
— Não conversamos nada demais... — Ele colocou uma mão no meu
joelho e, impactado, quase parei de respirar. — Ela só me disse que você
esqueceu o celular lá, e que tinha ido para a faculdade.
— Ok. — Soltei o ar devagar.
— Agora, a pior parte é... — Deu as costas e, se afastando, entrelaçou
as mãos na nuca, andando para lá e para cá, agitado.
— Fala logo. — Ansioso, desci do carro, dando dois ou três passos na
sua direção. Paolo se virou para mim e lentamente se aproximou até ficar a
centímetros de distância.
— Acho que estou gostando de ti, cara.
Cacete...
Não soube como reagir e paralisei por um segundo. Depois, como o
belo trouxa que sou, abri um sorriso de canto a canto, com o coração
disparado dentro do peito.
— Sério? — Eu não conseguia parar de sorrir.
— Sério. Você foi inventar de falar que está apaixonado por mim... E
me fodeu. Só penso nisso... — Apoiou uma mão no meu ombro e a deslizou
até o pescoço, deixando um rastro quente pelo caminho.
— E o papo de alma livre? — murmurei, sentindo os seus dedos
chegarem à minha nuca, mexendo nos cabelos, me arrepiando.
— Então... Eu queria tentar ficar só contigo. Nunca fiz isso antes, mas
agora eu quero. Muito. — Sua outra mão apertou o meu quadril, me puxando
para mais perto. — Fala que ainda me quer, Rico. Me dá uma chance.
E, sem pensar, balancei a cabeça em sinal positivo. Já falei que sou
trouxa?
Sabia que iria acabar me fodendo... Mas não pude resistir, foi mais
forte do que eu.
Paolo abriu um sorriso e, sem falar mais nada, me beijou. Puta merda...
Minhas pernas amoleceram como gelatina quando senti os seus lábios sobre
os meus.
Sedentas, suas mãos desceram para a minha bunda, me apertando.
Agarrei os seus cabelos macios, entrelaçando os meus dedos nas mechas,
correspondendo o beijo na mesma intensidade. Seu gosto familiar, misturado
à nicotina, me inebriava. E, quando ele girou o quadril, esfregando a sua
ereção na minha, gemi dentro da sua boca.
— Caralho, Rico... Seu gostoso da porra... Vamos embora daqui? —
Acariciou o meu rosto, com os lábios úmidos do beijo, me encarando sem
piscar.
— Vamos — respondi, sem nem perguntar para onde, feliz. Com ele,
eu iria para qualquer lugar.
Capítulo 44

E sim, eu te amo
Mal posso acreditar que toda noite
Você está ao meu lado

My Only One | Sebastián Yatra


Davi Filipo Sintori "Sin"

Depois do jantar com o meu pai, eu e Madah voltamos para o meu


quarto e nos deitamos para ver televisão. Eu não tinha o costume de ver séries
— meus passatempos eram música, futebol e festas — mas gostei de passar o
tempo assim com a magrela.
Com a sua cabeça deitada na minha barriga, vimos um monte de
episódios de Casa de Papel, sem conversar, curtindo uma preguiça...
Enquanto eu mexia nos seus cabelos macios, ela contornava com os dedos
delicados as minhas tatuagens do abdômen, me arrepiando de um jeito bom
para caralho.
Mais uma vez, uma paz absurda me invadiu a alma. Depois de umas
duas horas assim, comecei a dar cabeçada, morto de sono. Meus olhos se
fecharam, pesados.
— Boa noite, amor.
Escutei a sua voz murmurar perto do meu ouvido e somente esbocei um
pequeno sorriso, sem abrir os olhos.
Madah estava determinada a dormir no seu quarto e não pude
convencê-la do contrário. Por fim, senti os seus lábios macios na minha
bochecha, me presenteando com um beijinho casto, antes de ir embora.

— Bom dia, Davi Filipo! — Acordei com a magrela abrindo as


cortinas, pilhada. — Anda logo ou vamos nos atrasar para a escola. E pode
desarmar a barraca, que não dá tempo de brincar agora. — Ela riu, apontando
para o meu volume dentro da cueca.
— Escola, já? — Esfreguei os olhos, sonado. — Pensei que me atacaria
de madrugada, safada.
— Dormi pesado, gostoso... — Madah se sentou do meu lado, alisando
a minha ereção com as pontas dos dedos, por cima do tecido. — Mais tarde,
eu te ataco, pode deixar. Temos que sair em dez minutos. Hoje você tem
aquele treino importante, lembra? Para o jogo da noite.
— Me levanto com uma condição. — Sorri de lado, capturando o seu
olhar. Segurei firme a sua mão em cima do meu pau, a deslizando para cima e
para baixo.
— Qual...? — Escorregou a ponta do indicador por dentro do elástico
da cueca, tocando na minha glande úmida. Puta merda...
— Veste uma saia. Vai... — Me levantei em um pulo, com uma ideia
excitante na cabeça. — E me encontra na Ruiva em cinco minutos.
Me troquei rapidão e bati no quarto de Luca.
— Fala, Sin. — Ele abriu a porta, vestindo uma camiseta.
— Está de pé o que combinamos? Pode mesmo ir até a escola às nove?
— Sim. Estarei lá. Espero que não meta a gente em confusão...
— Relaxa, vai dar tudo certo.

Na escola, fui rapidinho até o Ginásio com Madah antes da primeira


aula para deixar a minha mochila do futebol no vestiário. O treino seria às
nove, logo depois do intervalo.
A magrela me aguardou perto da arquibancada. Quando deixei o
vestiário, encontrei-a com os cotovelos apoiados no corrimão, com as duas
mãos na cabeça.
— Que cara é essa?! — Parei na sua frente, sorrindo de canto.
— Você sabe... Não me conformo... Você é gostoso demais! É quase
insuportável!
Gargalhei alto, jogando a cabeça para trás. A magrela era engraçada...
Puxei-a pela mão, em direção ao prédio principal. Já iria começar a primeira
aula.
— Sério! — Ela voltou a falar, andando do meu lado, rindo na escada
do prédio, indignada. — Tinha que ser ilegal alguém ser tão gostoso assim!
Minha nossa, mesmo com esta camiseta preta velha e surrada... Me deixa
tarada!
— Sei... — Entrelacei os nossos dedos, entrando no corredor das salas
de aula. — Isso a gente vai ver no intervalo. Já falei que tenho planos...
— Queria saber quais são os tais planos... Tem a ver com isso que você
colocou hoje? — Apontou para o meu piercing embaixo da boca, no canto do
lábio.
— É uma surpresa. Não vou contar, desiste.
— Chato. Eu não vou conseguir me concentrar nas aulas, com todo o
mistério.
— E eu não vou conseguir me concentrar nas aulas, com toda a
expectativa do que já sei que vamos fazer. Porque... Eu já sei. E você não
sabe — provoquei e ela me deu um soquinho no braço.
— Idiota... — Ela deu risada, soltando a minha mão. Me posicionei na
sua frente, impedindo que continuasse a andar. Fixei os meus olhos nos seus,
com um sorriso sutil se desenhando nos meus lábios.
— Repete que me acha idiota — murmurei e, depois, encostei com a
ponta da língua no piercing, mexendo nas bolinhas de metal. — Mas já aviso
que terei que te castigar.
— Idiota... Idiota... — falou, com os olhos brilhando, segurando o riso.
Depois ficou na ponta dos pés, para sussurrar no meu ouvido. — Na verdade,
eu te acho perfeito, mas estou louca para ser castigada, Davi Filipo.
Safada. Suas palavras fizeram o meu pau pulsar com força.
— Tá fodida... — respondi no seu ouvido, mordiscando o seu lóbulo.
— Me aguarde.
Seguimos de mãos dadas até a nossa sala e nos sentamos no fundão.
Me segurei para não encostar nela durante as primeiras aulas. Havia muita
gente ao nosso redor, inclusive Bruno, que só falava sobre o jogo do
campeonato. Pelo menos não senti mais ciúmes dele com a magrela.
Enquanto os professores explicavam as matérias, eu a observava,
hipnotizado. Madah anotava a lição no caderno, mordendo a ponta de trás do
lápis de tempos em tempos, com algumas mechas claras caindo sobre o rosto.
Linda.
Eu balançava a perna, ansioso, contando os minutos para o intervalo.
Até que... O sinal soou, fazendo todo mundo se levantar.
— Vamos. — Segurei a sua mão, quase a arrastando pelo corredor
afora. Meu coração
batia sem controle.
— É agora...? — perguntou, praticamente correndo para conseguir
acompanhar o meu ritmo.
— É — respondi, sem diminuir as passadas.
Deixamos o prédio principal e seguimos até um prédio menor, com as
salas de Artes e Música ao longo do corredor. Peguei o chaveiro no bolso,
destrancando a porta do antigo estúdio de música. O cheiro fraco porém
perceptível de mofo deixava claro que ninguém o utilizava há tempos. Sem
dizer uma palavra, entrei com Madah e tranquei a porta atrás de nós.
— O que é essa sala? — Ela olhava tudo ao redor, curiosa. Era uma
sala quadrada, pequena e mal iluminada, com as paredes forradas com um
material acolchoado para isolamento acústico. — Ok, entendi. Um estúdio.
Quem mais tem a chave?
— Só a gente da Five Stars. Da extinta Five Stars. — Me lembrei de
que a banda já era, mas logo afastei o pensamento incômodo. Não era o
momento para lamentações. — Ou seja, na escola, apenas eu e Leonardo.
Não se preocupe, vou trancar com a chave e com o trinco. — Girei a rodinha
do trinco, que só podia ser aberto pelo lado de dentro.
— Certo — respondeu, com um sorriso nervoso. — E...
— Chega de conversa, magrela. Temos pouco tempo. — Arranquei a
camiseta, estendendo-a em cima do palco, perto da beirada. — De quatro, em
cima da camiseta, agora.
Seus olhos azuis se arregalaram, fixos nos meus. Sorri de lado ao vê-la
descalçar as sapatilhas. Agarrei a sua cintura e ergui o seu corpo magrinho do
chão, colocando-a em cima do palco. Antes de soltá-la, já subi a sua saia,
amassando o tecido na altura do umbigo.
— Vira o rabo para mim. Assim... — Levei as mãos aos seus quadris, a
posicionando com os joelhos perto da borda e os pés pendurados no ar,
soltos.
Pisquei os olhos, com o coração disparado. Enganchei os polegares nas
laterais da sua calcinha branca, descendo a peça.
— Abre mais as pernas — falei com o olhar preso na sua boceta que
brilhava de excitação. Ela obedeceu e, sem aviso, assoprei forte bem ali.
— Ai... — Madah se remexeu, rindo. — Faz cócegas.
— Quieta. — Dei um tapa estalado na sua bunda, alisando a pele macia
em seguida. — Está doendo?
— Não.
— Avisa quando estiver... — Com os dedos de uma mão brincando por
fora da sua boceta, com a outra desferi dois, três, quatro tapas na sua nádega,
deixando a sua pele bem vermelha. Madah se remexia, mais molhada a cada
tapa, sem reclamar. Safada. — Chega.
— Gostei do castigo.
— Percebi. Vai gostar ainda mais do que farei agora... — Com as duas
mãos, separei as suas nádegas e, apertando a carne macia com firmeza,
aproximei o meu rosto, beijando com a boca entreaberta a sua boceta
molhada. Puta merda, que delícia... Seu gosto suave fazia o meu pau latejar,
duro, pesado.
Passei a beijá-la com vontade, misturando a minha saliva com a sua
lubrificação, alucinado. A magrela se contorcia conforme eu mexia os lábios,
esfregando o piercing nela. Minhas mãos firmes nas suas pernas as
mantinham bem abertas.
Suguei, mordisquei e provoquei, usando dentes, lábios e língua e,
quando pincelei para cima e para baixo entre as dobras, a magrela gemeu o
meu nome, fora de si. "Ah, Sin..."
Eu soube que se continuasse a chupando neste ritmo ela gozaria em um
minuto. Por isso parei, abrindo do zíper da minha calça. Posicionei a minha
glande entre os seus lábios íntimos e... Paralisei, hesitante. Era a segunda vez
dela, melhor não meter assim.
— Algum problema? — Minha garota virou a cabeça para trás, com o
olhar confuso e as bochechas rosadas de excitação, ofegante.
— Nenhum — respondi, deitando-a de barriga para cima. Agarrei os
seus pulsos acima da sua cabeça com uma mão e, com a outra, posicionei a
minha ereção na sua abertura.
Madah estava com as pupilas dilatadas e os lábios entreabertos e, antes
que eu me empurrasse para dentro, beijei-a como se precisasse daquilo para
viver.
— Te amo! — rosnei quando separei os nossos lábios. E, com os meus
olhos presos aos seus, me empurrei lentamente, sem parar, até o final.
Cacete... Perfeita!
Impulsionando os quadris para frente e para trás, passei a meter
devagar, degustando cada momento, cada sensação. O meu pau deslizava
para dentro e para fora, justo, se arrastando, abrindo a sua musculatura quente
e macia, mais e mais.
Madah gemia e se contorcia, excitada para caralho. Os sons dos seus
gemidos, as nossas respirações fortes, os barulhos molhados de entra e sai, os
olhos pesados de desejo... O suor, o calor, a entrega, a paixão... Tudo era
demais! Porra!
— Goza para mim, magrela... — Aumentei o ritmo das estocadas,
metendo com tudo e, chocando as nossas virilhas, senti o momento exato em
que ela alcançou o orgasmo.
— Ah... — gemeu comprido, me fazendo ejacular junto com os
espasmos, preenchendo a sua boceta com os meus jatos. Puta que pariu!
Soltei os seus pulsos e tombei ao lado dela, sem fôlego. Então a puxei
para cima de mim, percebendo o seu coração tão descontrolado quanto o
meu. Incrível.
— Vou botar uma música para a gente se recuperar e depois temos que
sair daqui, ok?
Escolhi uma baladinha romântica, imaginando que ela gostaria de algo
assim. "My only one". Cantarolei a música baixinho, alisando o seu pescoço
delicado, úmido de suor.
I remember when I met you, I didn't want to fall
(Lembro que quando conheci você, eu não queria me apaixonar)
I don't know why, but every time I look into your eyes
(Não sei porque, mas toda vez que olho nos seus olhos)
I see a thousand falling shooting stars and yes I love you
(Eu vejo mil estrelas cadentes e sim eu te amo)
— Minha nossa... — Ela riu, acariciando o meu peito. — Davi Filipo
Sintori. Você é mesmo fora do comum.
— Isso é bom? — perguntei, soltando as suas mechas grudadas da
testa, liberando os seus olhos.
— Isso é perfeito! — Subiu com a mão para o meu rosto, tocando
no piercing com as pontas dos dedos. — Que sorte a minha... Te amo, tanto!
Sorri, contente para caralho. Que sorte a minha.

— Magrela... — falei, a caminho do Ginásio, com uma leve tensão


enrijecendo os meus ombros. — Se troca no vestiário sem enrolação, tira a
calcinha melada, depois vai direto para a arquibancada. Luca vai estar lá
esperando por você.
— Tudo isso é por causa da Lorena...? Se ela quiser falar mais
bobagens para mim, não ligo. Não precisava ter feito o seu irmão vir até aqui,
para ficar de babá, cuidando de mim durante a aula de Educação Física.
— Não. Eu só quero que você faça companhia para ele. Luca quis vir
por conta própria, para ver o treino... — menti. — Já que não vai poder ir ao
jogo à noite.
— Entendi. Tudo bem, vou ficar com ele — respondeu, comprando a
história. Chegamos ao Ginásio dois minutos antes das nove e o local ainda
estava praticamente vazio.
— Ok. Vou dedicar os meus gols para vocês. — Dei um beijo rápido
nos seus lábios. — Me deseje boa sorte.
— Boa sorte! — Acenou, sorrindo, enquanto eu me dirigia ao vestiário
masculino.
"Boa sorte".
Realmente, eu iria precisar.
Capítulo 45

Você pode ter o que quiser


Mas é melhor você não o tirar de mim
Bem-vindo à selva

Welcome To The Jungle | Guns N' Roses


Davi Filipo Sintori "Sin"

Eu me trocava para o treino de futebol, com a cabeça a mil, notando o


vestiário masculino se encher de alunos dos segundos e terceiros anos,
animados para o jogo. Esperava ansiosamente pela chegada de um deles em
específico, para um acerto de contas.
De repente, ele chegou. Tive que respirar fundo, fazendo um esforço do
caralho para já não socar a cara feia do Eduardo assim que passou pela porta
com André. Ele sabia que tinha feito merda, tanto que nem se aproximou de
mim. Ficou a uns bons metros de distância e, enquanto eu amarrava as
chuteiras, o observava discretamente. Pude vê-lo olhando na minha direção,
nervoso, mais de uma vez.
Parecia esperar por alguma atitude vingativa da minha parte. Ele estava
certo no receio, afinal, eu não deixaria passar em branco o que fez com a
minha namorada. Porém ainda não era o momento de agir... Eduardo, o nerd
metido a traficante que agarrou Madah, iria pagar, mas não agora.
Depois de vestido com o uniforme do time, deixei o recinto. Sorri ao
pisar na quadra do Ginásio, enxergando Luca ao lado da magrela na
arquibancada. Era para Marco ter vindo também, como tinha planejado dias
atrás, mas depois do lance da jacuzzi, não falei mais com ele.
Durante o aquecimento, eu e os outros jogadores corremos ao redor da
quadra e, quando passei por eles, mandei um beijo para a minha namorada
linda, sem me importar com quem estivesse de olho. Estava grudento para
caralho, nem eu me aguentava.
— Tá mesmo encoleirado, hein... — Leonardo vinha logo atrás e me
deu um tapinha na cabeça, me fazendo rir. Sua voz grossa estava cheia de
graça.
— Estou fodido, cara... Eu amo aquela garota! — Passei a mão pelo
rosto, sem parar de correr. — E o mais incrível é que ela me ama de volta.
— Fico feliz por ti, Sin. — Sorriu sincero, me roubando um sorriso
espontâneo. Leo era um bom amigo. Só que logo depois fiquei sério ao passar
pelo grupinho das líderes de torcida, sentindo o olhar gelado de Lorena sobre
mim. Ela que não inventasse alguma merda... — E a banda? Já era mesmo?
— perguntou, em um tom preocupado, se esforçando para correr do meu
lado.
— Já era — confirmei.
— Que droga, hein...
— Sem clima para continuar, com os Fontini... Pisaram na bola comigo
e com o Luquinha — comentei, diminuindo o ritmo da corrida. O
aquecimento estava chegando ao fim e Bruno já nos sinalizava para parar.
— Estou sabendo. Falei com o seu irmão ontem. Aliás, por que ele está
aqui? — Apontou com a cabeça para a arquibancada.
— Ah, Luca quis ver o treino. Não faz nada de manhã mesmo... Você
sabe, eu dou um show com a bola. — Sorri, convencido. Desde o ano
passado, eu era o artilheiro do time.
Ele riu e, balançando a cabeça, afastou-se para pegar a sua garrafinha
de isotônico no banco.

Depois de fazer cinco golaços durante o treino, tomei uma ducha


demorada, com o clima bombando no vestiário, animado. Os caras estavam
ainda mais empolgados para o jogo da noite. Bruno tagarelava e sorria sem
parar, despejando palavras de incentivo para os jogadores. Ele realmente
havia incorporado o papel de capitão.
Com o canto dos olhos, observei Eduardo mexer em uma caixa de
sapatos dentro do seu armário, retirando dela um pequeno saquinho,
sorrateiramente. Depois saiu pela porta dos fundos, de fininho, com André
logo atrás. Sorri ao perceber que o plano estava em andamento.
O combinado era Luca abordá-lo no final do treino, querendo comprar
droga. "Desesperado", estaria disposto a pagar acima da média pela entrega
imediata do pó, no estacionamento. Eduardo não sabia que éramos irmãos e
não seria trouxa de negar uma boa venda.
Me troquei rapidão e digitei uma mensagem a Madah enquanto saía
apressadamente pelos fundos do vestiário, para não passar pelo Ginásio.
S: "Magrela, pode voltar para a classe sozinha. Vou perder a próxima
aula, preciso resolver uma coisa. Anota a matéria para mim? Te amo!"
Sua resposta veio logo em seguida, demonstrando me conhecer bem
demais.
M: "Não vai se meter em confusão, hein! Te amo."
Já no estacionamento, sem ninguém chegando ou saindo naquele
horário, vi André parado junto ao portão, atento à aproximação de pessoas.
Por isso dei a volta e, em vez de seguir pelo caminho principal, fui
ziguezagueando entre os carros parados até alcançar o veículo do meu irmão.
Luca e Eduardo, sentados dentro dele, me olharam assim que cheguei. Sem
falar nada, firmei as minhas duas mãos sobre o capô, encarando o filho da
puta.
O nerd parecia muito assustado, se dando conta de que eu tinha vindo
atrás dele. Fez menção de abrir a porta para fugir, mas Luca trancou o carro,
sorrindo de lado.
— Por que a pressa? Meu irmão quer ter uma conversinha contigo...
Otário.
Desceu os vidros e apoiei os meus braços na janela de Eduardo, com o
rosto a centímetros de distância do seu. Eu sorri, satisfeito com o medo
estampado em seus olhos.
Os seus lábios tremiam de nervoso e eu poderia jurar que ele iria chorar
a qualquer momento. Quase senti dó, porém me lembrei dos mesmos lábios
beijando à força a pele da minha magrela e o meu sangue ferveu.
— Você fugiu naquele dia, na casa do Leo. Hoje você não vai fugir, seu
merda... — rosnei. Ele transpirava tanto que seus óculos estavam embaçados.
— É... É covardia! Dois contra um! — balbuciou, com a voz trêmula.
— Nada disso. Só eu e você. — Encostei o dedo no meu peito e depois
no dele, sentindo os seus batimentos descontrolados. — Vem aqui.
Luca destrancou o carro e desceu primeiro, cruzando os braços sobre o
peito, atento. Eduardo não se mexeu.
— Vem logo, porra! — gritei. — Se não vier em três segundos, vai ser
ainda pior!
Eu queria que ele descesse para socar a sua cara e só não bati nele ali
mesmo, sentado, para não sujar o carro do meu irmão.
— Três, dois...
— Tá bom! — Ele abriu a porta, tirando os óculos. Os guardou no
bolso na calça e deu dois passos hesitantes na minha direção. — Vai, pode
me bater.
Baixou os olhos, colocando as mãos atrás do corpo, encolhendo os
ombros.
Fodeu.
Eu não esperava por aquilo. Achava que ele iria vir para cima de mim,
ou que pelo menos me irritaria mais. Porra... Eu não conseguiria esmurrar a
sua cara, se mantivesse aquela postura passiva. Olhei para Luca, sem saber o
que fazer, e ele ergueu as sobrancelhas mordendo a boca, em um típico "você
é quem sabe".
— Porra, Eduardo! Como você teve coragem de agarrar Madah? Você
foi muito filho da puta... — esbravejei, agitando os braços.
— É... Eu sei, eu errei — murmurou, cabisbaixo.
— Não se agarra à força ninguém! Aquilo foi abusivo para caralho!
— Ah, "abusivo" também não, né... — Ele deu um riso fraco. — No
fundo, ela queria. Estava pedindo. Dançando na minha frente com aquele
vestidinho curto, se remexendo de uma maneira que...
Um soco bem dado calou a sua boca. Pronto.
Usei tanta força que os nós dos meus dedos latejaram com o impacto. O
problema foi que as suas costas bateram no carro ao lado, disparando o
alarme escandaloso, estridente. Merda.
— Boa, Sin! — Luca sorriu para mim. — Só que temos que sair daqui
agora. — Olhou para o veículo com o alarme disparado e depois entrou no
seu carro, já dando a partida.
Eduardo ficou caído chão, com o lábio cortado, sangrando. Eu lhe dei
as costas, afastando-me a passos rápidos.
— Isso não vai ficar assim... — Sua voz trêmula chegou até mim e
pude escutar as suas palavras com perfeição, mesmo com o barulho do
alarme irritando os meus ouvidos. — Vou dar o troco...
— Ficarei esperando ansiosamente.
Capítulo 46

Minhas mãos estão atadas


Por tudo o que vi, mudei minha mente

Civil War | Guns N' Roses


Davi Filipo Sintori "Sin"

O final da manhã transcorreu sem problemas. Como imaginei, Eduardo


e André não deram queixa da agressão na Diretoria. Não saberiam explicar o
que motivou o soco ou o porquê de estarem no estacionamento àquela hora.
E, ainda que o diretor não desconfiasse da questão das drogas, o fato era que
ambos estavam onde não deveriam estar em horário de aula, o que por si só
era passível de punição naquela escola de merda.
— Ninguém viu vocês mesmo? — Madah perguntou pela segunda vez,
durante o retorno para casa, na minha Ruiva.
— Não — respondi, dirigindo, sem tirar os olhos da rua.
— E por que o mau humor? — Cutucou a minha bochecha com a ponta
do dedo.
— Estou frustrado. — Respirei fundo. — Eduardo acabou apanhando
bem menos do que eu queria... O filho de puta teve a sorte de disparar o
alarme do carro, fazendo com que o acerto de contas fosse encerrado
prematuramente. Pelo menos consegui dar um soco bem dado...
— Ah, relaxa, já valeu... — Acariciou o meu joelho. — Ele deve estar
bem chateado por causa do soco. Bem feito.
— Mas eu ainda queria...
— Você não queria mais nada. — Puxou delicadamente a minha
orelha. — Te proíbo de bolar outro plano para pegar o Eduardo. Não quero
que se meta em confusão. Morreu o assunto, ok? Ah, pensa no lado bom do
que ele fez...
— Lado bom? — Gelei com a possibilidade de ela ter gostado da
atitude de merda dele. "No fundo, ela queria", a voz de Eduardo me voltou à
mente. Caralho... Apertei o volante com tanta força que os nós dos meus
dedos ficaram brancos.
— Sim, amor, lado bom — disse, sorrindo, com o carro parado em um
sinal vermelho. — Que é... Tudo de bom que aconteceu entre nós foi depois
que ele me agarrou. Nós ficamos naquela noite pela primeira vez, e hoje
estamos aqui, juntos.
— Cacete... É verdade. Foi o estopim — murmurei e resolvi brincar
com ela. — Acho que até devemos chamá-lo de padrinho do nosso futuro
casamento.
— Não é para tanto! — Madah me cortou e, rindo, me fez rir junto,
mais leve. Ela me fazia tão bem...
No final da tarde, vestido com o uniforme completo do time, passei a
arrumar a minha mochila para o jogo. Toalha, garrafinha com isotônico,
roupa extra, etc. Madah se encontrava largada na minha cama, lendo no
celular. Pelas caras que fazia, até imaginava o conteúdo das leituras. Safada.
De repente, bateram na porta do quarto.
— Entra! — respondi, guardando o documento de identidade na
mochila.
— Oi. — Enrico enfiou a cabeça pelo vão da porta, meio sem graça.
Respirei fundo.
— Fala — murmurei, voltando a mexer na mochila.
— É... É o seguinte. A gente queria ver o jogo também, se você não se
importar. Já sei que o pai e a Madah vão, pensei que seria legal porque...
Nunca fazemos nada em família.
— "A gente" quem? — Ergui uma sobrancelha, me virando para ele. —
Luca disse que não poderia faltar hoje na faculdade.
— Eu... e ele. Nós estamos juntos. — Abriu mais a porta, mostrando
um Paolo em pé ao seu lado, com as mãos enfiadas nos bolsos da frente da
calça, sorrindo.
— Ah, não, porra! Como você tem coragem de trazer este merda aqui?!
Depois do que ele fez com o pai?!
— Calma, Sin... — Paolo ergueu as mãos, em sinal de rendição. — Já
conversei sobre a Bárbara com o Rico, se me deixar explicar para vocês...
— Eu não quero ouvir! E...
— A gente quer, sim! Um minuto, meninos. — Madah me puxou pelo
braço até o banheiro, fechando a porta atrás de nós.
Meu peito subia e descia rápido, com a respiração quase ofegante,
irritado para caralho. Apoiei as mãos na bancada da pia, tentando me
controlar.
A magrela se aproximou por trás de mim e, me abraçando pela cintura,
apoiou a bochecha nas minhas costas. "Calma, respira", sussurrou baixinho.
— Por que você está defendendo aquele imbecil?! Che cavolo... —
Apontei para o quarto, me esforçando para manter a voz baixa.
— Todo mundo merece uma chance de explicar as coisas. Além disso,
ele me defendeu naquele dia do ensaio, quando Lorena me destratou na frente
das pessoas. Agora se controla e vamos voltar lá.
— Não sei se consigo.
— Se esforça! Por mim. Posso até te recompensar depois... — Abriu
um sorriso malicioso e entendi que tipo de recompensa seria.
— Agora ficou interessante... — Sorri de lado e dei um tapinha na sua
bunda arrebitada. Depois a levantei, colocando-a sentada sobre a bancada.
Me posicionei entre as suas pernas, beijando o seu pescoço.
— Você fica tão gostoso de uniforme de futebol... — murmurou,
passando as mãos por baixo da minha camiseta, agarrando as minhas costas.
Meu pau ficou duro no mesmo instante.
Mexi o meu quadril para a frente, esfregando a minha ereção na sua
boceta e a safada se remexeu, aumentando a fricção. Caralho... Precisei de
um autocontrole fodido para dar um passo para trás.
— Porra, magrela... Você me deixa maluco! Vamos voltar logo para o
quarto ou eles vão se comer na minha cama. Depois do que fizeram na minha
Ruiva...
— Você é muito implicante, Davi Filipo! — Ela riu, descendo da pia.
— Deixa os dois em paz. Se comporta.
— Quero falar com Paolo a sós — avisei assim que voltamos para o
quarto. — Magrela, pode levar o meu irmão daqui por cinco minutos?
Enrico ergueu uma sobrancelha, desconfiado, me encarando antes de
sair do quarto. Sorri ao vê-lo desconfortável. Teria ficado inseguro por deixar
Paolo comigo sozinho?
— Rá. — Dei risada quando eles saíram. — Acho que ele ficou com
ciúmes... Foda-se. Inclusive, se ficou, bem feito. Depois de ter me feito sofrer
de ciúmes por ter ficado com Madah...
— Isso porque ele nem sabe da "mão amiga" que eu te dava na
adolescência. — Paolo sorriu, sentando-se na cadeira do computador. Franzi
o rosto com a lembrança que estava enterrada em algum canto morto da
minha mente. Já fiz cada coisa na vida...
— E nem precisa saber. Aquela merda ficou lá atrás... Eu tinha o quê?
Quinze anos? — perguntei e andei até a janela, apoiando o quadril na parede
ao lado.
Esfreguei os olhos, me lembrando da primeira vez que rolou. Paolo
entrou no banheiro da piscina, do nada, e me flagrou batendo uma punheta no
banho. Deu risada se aproximando e, na maior cara de pau, continuou o
serviço, me fazendo gozar para caralho.
Foda... Os hormônios adolescentes nos levavam a fazer cada merda...
Depois daquele dia, rolou mais uma ou outra vez, mas, ao contrário dele, eu
não quis ir além. Ficamos só na "mão amiga", dele em mim.
— Dezesseis. "Merda"? — Riu com deboche, bagunçando os cabelos.
— Eu me lembro de como você gozava como um condenado depois das
punhetas que eu te batia. Acho que realmente gostava da minha mão no seu
pau.
— E eu acho que você está pensando muito no meu pau. — Ergui o
dedo do meio. — É falta de rola no mercado?
— O seu pau tatuado é inesquecível.
Pela sua cara irritante, eu sabia que estava me provocando, tentando me
constranger. Só que podia lidar muito bem com ele...
— Ah, vai se foder... Você nunca mais vai chegar perto da minha rola.
Contente-se com o pau pequeno do meu irmão. — Dei risada, fazendo-o
balançar a cabeça para os lados, se divertindo. — Aquilo lá que fizemos
foram umas brincadeiras idiotas de adolescentes... Eu sou macho. Já você
sempre foi gay...
— Sou uma alma livre. — Deu de ombros, despreocupado. — O meu
interesse sexual não se limita a grupos predefinidos.
— "Alma livre". Que porra é essa?! Você sente tesão por homem,
mulher, árvore e nuvem? — perguntei. Ele gargalhou com espontaneidade,
sem inibição, me fazendo questionar como podia se relacionar com Enrico.
Eles eram os extremos opostos. — Quer saber? Estou cagando para isso. O
que quero conversar é... Qual é a sua explicação para ter traçado a namorada
do meu pai?
Nos próximos minutos, Paolo me falou sobre o relacionamento aberto
de Domenico e Bárbara, sobre como o meu pai não se importava que ela
ficasse com outras pessoas e o caralho. E, quando pensei na reação
indiferente de Domenico, tudo fez sentido.
— Que merda... — murmurei, passando a mão pelo rosto. — É, acho
que exagerei.
— Relaxa. Eu te perdoo — falou com sarcasmo — com uma condição.
— Qual condição?
— A banda. Não acaba com a Five Stars, cara.
Interessante... A Five Stars, de volta? Gostei da ideia. A banda era uma
das melhores coisas que me aconteceram nos últimos anos. Me distraía, me
deixava feliz...
— Pensei que seria algo relacionado ao meu irmão... — comentei,
pensativo. — Porque não sei se aprovo essa união. Você é porra-louca
demais para ele.
— O meu lance com ele não te interessa. Com todo o respeito. Mas se
quer saber, estou mesmo gostando dele. De verdade. — Sorriu com os olhos
brilhantes e acreditei nas suas palavras.
— Legal. Ok, a banda está de volta. Mas espera eu conversar com o seu
irmão, beleza? Quero me acertar com Marco.
Algum tempo depois, estávamos todos prontos para partir para
Guarulhos. Decidi ir com a minha família, em vez de no ônibus da escola.
Como o grupo era de seis pessoas, tivemos que ir em dois carros. Eu e a
magrela fomos com o meu pai e o guarda-costas em um dos Mercedes.
Enrico e Paolo foram sozinhos, na picape do meu irmão.
Engraçado que Domenico não se estressou nem um pouco quando
Enrico contou sobre o seu rolo com Paolo, antes de entrarmos nos carros.
"Então, pai... Nós dois estamos juntos", meu irmão comentou, tímido. "Ok,
Rico, usem camisinha", Domenico respondeu, me arrancando uma risada. O
bom de ter um pai mente aberta para relacionamentos era isso.
O velho só surtou quando soube do meu namoro com Madah, incrível...
Pelo jeito o problema era eu.
O trajeto até Guarulhos foi tranquilo. Madah ficou sentada do meu
lado, acariciando a minha perna sem me tarar, o que foi diferente e bom ao
mesmo tempo. Conversamos assuntos aleatórios com o meu pai, sobre
viagens principalmente. A magrela ainda não conhecia neve e combinamos
de levá-la a uma estação de esqui nas férias.
Já no Ginásio onde seria o jogo, me despedi deles para me encontrar
com o time no vestiário. Eu havia falado com Bruno poucos minutos atrás, o
ônibus tinha acabado de chegar.
— Vai lá, amor. — Madah me deu um beijo simples e eu a puxei para
um abraço apertado. — Acaba com eles. Vamos torcer bastante!
— Boa sorte, filho. — Meu pai deu um tapinha no meu ombro. — Se
concentra.
Enrico e Paolo também me desejaram bom jogo e me afastei deles, com
a mochila nas costas, já sentindo a adrenalina se espalhar pelo meu sangue.
No vestiário, o clima era de festa. Pendurei minha mochila em um
gancho e tomei uns goles do isotônico da minha garrafinha enquanto Bruno
dava discursos de incentivo. O professor sorria, orgulhoso de nós.
— Vamos lá, time! Conto com todos vocês! — Bateu palmas enquanto
a gente deixava o vestiário.
Todo mundo sorria, menos um rosto de óculos. Eduardo, com o lábio
ainda inchado do soco, me olhava feio, como se pudesse me amedrontar.
Otário. Não sei nem porque veio. Ele era tão inútil que não saía do banco de
reservas.
Entramos com empolgação na quadra para o jogo e, para variar, dei um
show. Três dos quatro gols foram meus. Todo mundo gritava o meu nome,
fazendo a adrenalina bombar forte nas minhas veias. Quando o juiz apitou o
final do primeiro tempo, arranquei a camisa, levando a torcida à loucura.
Procurei pela minha garota e lhe mandei um beijo, fazendo a
arquibancada explodir em palmas, com todos os olhos sobre a magrela. Ela
ficou mais vermelha do que um pimentão e eu caí na risada.
Madah estava sentada apenas com Enrico e Paolo e me perguntei pelo
meu pai e o guarda-costas. Provavelmente, surgiu algum imprevisto de
trabalho e tiveram que ir embora.
Fomos para o vestiário, nos hidratamos, bati o isotônico da minha
garrafinha e a preenchi com um novo, feliz para caralho. Vesti outra camisa
do time, limpa, e joguei uma água no rosto.
— Você está demais hoje, cara... — Leonardo se aproximou, sorrindo.
— Com a corda toda. Três gols, seu filho da puta!
— Estou mesmo, pilhado... E quero fazer mais três no segundo tempo.
— Vamos lá... — falou com os olhos no professor que sinalizava para
voltarmos para a quadra.
O juiz apitou o início do segundo tempo e comecei a correr, disputando
a bola com um jogador do time adversário. E, de repente, um clarão explodiu
bem na minha frente. Paralisei, assustado, com os olhos fixos nas chamas
brancas brilhantes.
— O que foi?! — Leo chegou em mim, correndo. — Por que tá
parado?!
— Aquilo ali! — Apontei para o clarão, bem no meio da quadra, a dois
metros de mim. As chamas brancas subiam do chão como em uma fogueira.
— Que porra é aquela?!
— Não tem nada ali, cara! Se concentra no jogo!
Esfreguei os olhos, assustado. Olhei de novo para o local e... A fogueira
havia sumido. Cacete! Que merda estava acontecendo comigo?!
Espiei ao redor e, com o coração palpitando, uma tontura me invadiu
com tudo. Balancei para os lados, instável, me abraçando, tentando me
equilibrar. Senti uma mão no meu braço e virei o rosto para ver quem era.
— Você tá drogado?! — Bruno me perguntou baixinho, com os olhos
arregalados. — Porra, Sin! Sai do jogo, agora!
Assenti e, quando fui andar, um buraco negro me engoliu. Tive a
sensação horrível de cair no vazio, com a escuridão me puxando. Antes de
apagar, uma imagem prendeu o meu olhar.
Eduardo, no banco de reservas, me encarando com um sorriso nos
lábios.

Abri os olhos e, desorientado, olhei ao redor. Percebi que estava em um


hospital, com uma agulha espetada no braço. Cocei a bochecha com a mão
livre, confuso, me perguntando o porquê de estar ali.
Não havia mais ninguém no quarto comigo. Minha cabeça doía tanto
que eu mal conseguia respirar. Apertei o botão vermelho ao lado, chamando
pela enfermagem. Precisava de algum remédio. Fechei os olhos por um ou
dois minutos e, com a dor ainda me consumindo, escutei a porta se abrir.
De repente, uma voz absurdamente familiar chegou aos meus ouvidos,
me arrepiando da cabeça aos pés, retorcendo o meu estômago e gelando a
minha espinha.
— Eu sabia que você se tornaria um homem maravilhoso, bebê.
Capítulo 47

Eu estarei lá por você


Estas cinco palavras
Eu juro para você

I'll Be There For You | Bon Jovi


Enrico Lorenzo Sintori

O jogo foi suspenso assim que o meu irmão tombou no meio da quadra,
com o baque da sua queda me fazendo estremecer. Cacete... Com os seus
olhos fechados e a bochecha prensada de encontro ao chão, a visão era muito
impactante.
Fiquei sem reação por uns dois ou três segundos, então vi a princesa
correndo desesperada pelos degraus da arquibancada até lá embaixo, porém
os guardas não a deixaram passar da grade de proteção.
Poucos metros mais adiante, os jogadores carregavam Sin para o banco
de reservas. Com o corpo mole e os braços caídos, meu irmão parecia um
boneco de pano.
— Vamos descer, Paolo, rápido. — Me levantei, chamando pelo garoto
que continuava ali comigo, assustado. Meu pai e o guarda-costas já tinham
ido embora por causa de uma emergência de trabalho.
Segundos depois, eu e Paolo alcançamos Madah, que agarrava com
força as grades com as suas mãos magrinhas, como se dependesse delas para
não afundar.
— Rico! O que ele tem?! — Ela se virou para mim com os olhos
arregalados.
— Não sei. Vamos tentar descobrir. — Coloquei a mão no seu ombro e
puxei-a para caminharmos juntos. Paolo veio logo atrás em silêncio.
Demos a volta, ficando mais perto de onde estava o meu irmão, com
uma equipe médica o examinando. Havia dois socorristas agachados,
aparentemente checando os seus sinais vitais. Sin permanecia deitado no
banco de madeira, desacordado. Eu me controlava para não demonstrar o
quanto me sentia aflito.
Bruno nos viu chegando e apontou na nossa direção. Seus cabelos
escuros, suados e desgrenhados, mostravam bem como estava nervoso.
— Aquele ali é o irmão dele! Pode acompanhá-lo na ambulância!
Os socorristas viraram as cabeças para nós e um deles se levantou,
trazendo uma prancheta nas mãos.
— Eu quero ir com ele! — Madah passou na minha frente, afoita,
porém o homem a barrou com certa impaciência no olhar.
— Pode parar. Você é da família? Documento. — Estendeu a mão na
direção dela.
— Sou a namorada dele!
— Não é da família. Com licença. — Olhou para um terceiro socorrista
que se aproximava empurrando uma maca de metal.
Observei sem piscar a transferência do meu irmão do banco para a
maca, onde o prenderam com cintas de segurança nas pernas, quadris, tórax e
ombros. Sem perder tempo, um dos socorristas empurrou a maca na direção
da ambulância. O veículo estava a poucos metros de distância, com as portas
de trás abertas e uma rampa de metal a postos, estirada.
— Moço, espera! — Madah gritou, aproximando-se dele. — O que ele
tem? Por que desmaiou?
— Overdose — respondeu sem tirar os olhos da maca que empurrava
rampa acima, transportando o meu irmão caçula.
Senti o baque no peito. De novo, não. Cacete... Sin parecia tão bem, tão
feliz! Não teria porque se drogar hoje. Ou teria? Meus pensamentos confusos
foram interrompidos quando notei a garota do meu lado chorando
compulsivamente, descontrolada.
— Princesa, calma. Respira — falei, abraçando-a. — Eu vou com ele
na ambulância. Me encontra no hospital, Paolo te leva no meu carro. Vai dar
tudo certo.
Entreguei a chave da picape a eles e Paolo a guardou no bolso.
Bagunçou o cabelo com o olhar perdido, aborrecido, provavelmente se
xingando por ter vindo até aqui comigo.
— Acorda, Paolo. Cuida dela para mim.
— Como você sabe? Que vai dar tudo certo? — Madah perguntou
baixinho, tentando enxugar as lágrimas.
— Porque não é a primeira vez que ele apaga por causa de drogas. O
pirralho vai ficar bem, te prometo — afirmei, dando um beijo na sua testa.
Em seguida, subi na ambulância, sem coragem de olhar diretamente
para o meu irmão a centímetros de mim. O espaço era apertado, por isso
meus joelhos batiam na sua maca, com o metal frio roçando na minha calça.
— Minha nossa... — Madah soluçou do lado de fora da ambulância e
me virei para ela, que estava em pé a poucos metros de mim. Vi suas pernas
fraquejarem. Só não se espatifou no chão porque Paolo a sustentou, passando
um braço em volta da sua cintura.
— Uma última coisa — falei, antes de fecharem as portas. — Não vou
poder usar o celular na aqui ambulância. A caminho do hospital, ligue o viva-
voz do meu carro e avisem a todos. Meu pai, Luca, Marco. Ok?
— Pode deixar. — Paolo assentiu. — Vamos para qual hospital? Quero
colocar no aplicativo o endereço. Não sei andar nesta cidade.
— Para onde vão levá-lo? — perguntei ao motorista da ambulância.
— Para o Hospital Geral de Guarulhos — o homem respondeu e Paolo
acenou com a cabeça, em concordância.
A caminho do hospital, eu olhava para o meu irmão desacordado, com
uma máscara de oxigênio cobrindo parte do seu rosto. Enquanto ouvia a
sirene do lado de fora e os apitos intermitentes dos aparelhos do lado de
dentro, eu passava as mãos pela cabeça com a culpa me corroendo, me
consumindo.
Sin tinha razão? Eu era mesmo um irmão de merda? Até então ninguém
da família havia levado muito a sério as suas reclamações, aos treze anos,
quando falava que a desgraçada da Rita tinha fodido com a sua vida.
A princípio, pensamos que fosse exagero dele o ódio, o desprezo, a
aversão que sentia por ela, a "nova namorada do papai", que isso teria a ver
com a nossa mãe, ou que estava desequilibrado por conta do vício em
heroína.
Depois, quando nos contou sobre o sexo, o choque maior foi porque ela
era a namorada do nosso pai. Ninguém cogitou em abuso. Afinal, qual era o
problema...? Iniciar a vida sexual com uma mulher bonitona como ela não
poderia ter sido tão ruim. Era o sonho de muitos adolescentes. Por que Sin
teria achado repugnante? Além disso, um garoto não poderia ser vítima de
abuso sexual praticado por uma mulher, certo?
Errado.
Demorei, mas finalmente percebi o quanto havia me enganado. Foi um
verdadeiro trauma para ele! E o pior foi que não se tratou de um fato
isolado... A merda durou dos seus onze aos treze anos.
Como pude ser tão cego? Juntando as peças, sabia que o meu irmão
ainda sofria com os problemas decorrentes do trauma. Os surtos, os
pesadelos, a insegurança, a desconfiança, as drogas...
Só que pensava que ele tinha parado de se drogar. Pelo jeito me
enganei.
Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente. Teria sido mais
atencioso com ele. Mais protetor. O caçula sempre foi o mais animado e
cheio de energia de nós três. Eu deveria ter percebido que tinha alguma coisa
de errado com ele quando começou a ficar quieto, sem concentração e...
Cacete!
Senti as lágrimas quentes descendo pelas minhas bochechas. Sem parar
de olhar para o seu rosto desacordado, por um instante imaginei que abriria
os olhos para me xingar de viadinho como sempre, me zoando. Sin pegava no
meu pé, mas não fazia diferença. Era o meu irmão caçula e não me via sem
ele. Nunca.

No hospital, levaram de imediato Sin para a ala de atendimento e


pediram que eu fosse à recepção fazer o cadastro de entrada. Informei nome,
endereço, telefone, preenchendo duas fichas, uma minha e uma do meu
irmão. Depois me sentei nas cadeiras da área de espera, junto com dezenas de
pessoas.
Logo em seguida Madah e Paolo passaram pelas portas duplas da
entrada e vieram apressadamente até mim.
— Rico! E aí? Cadê ele? Para onde o levaram? Alguma notícia? —
Madah estava muito nervosa, olhando tudo ao redor, assustada.
— Levaram ele para o atendimento lá dentro... Sem notícias por
enquanto. Já fiz o cadastro e agora estou esperando pelo médico.
— Vou fazer o meu cadastro também. Quero vê-lo assim que possível!
— disse e afastou-se, correndo até a recepção.
— Fala a verdade, Rico. — Paolo me encarou, mordendo o lábio. Ele
estava sentado bem do meu lado. — O que você já sabe? Você chorou, cara...
Posso ver pelo seu rosto. Não gosto de te ver assim, cara.
— Falei a verdade. Não sei de nada, é que... — Minha voz falhou.
Passei uma mão pelos olhos, jogando a cabeça para trás, suspirando fundo.
— Vem cá... — Ele abraçou os meus ombros, me puxando para mais
perto e enfiou uma mão nos meus cabelos perto da nuca. Apreciei o seu calor
e os seus toques suaves que me acalmaram de leve. — Vai ficar tudo bem...
Seu irmão é guerreiro para caralho. Daqui a pouco o pentelho vai tá
acordado, enchendo o meu saco como sempre.
— Torço para isso. Não vejo a hora dele passar por aquela porta e tirar
uma onda da minha cara de choro. — Dei uma risada sem ânimo. — Então...
Não quero te prender aqui, cara. Se quiser pode ir embora, que...
— Nem fodendo — falou com segurança, roubando-me um sorriso. —
Vou ficar aqui contigo. Estamos juntos, lembra?
— Lembro — respondi, sem conseguir disfarçar a felicidade que senti
ao ouvir as suas palavras. "Estamos juntos".
Algum tempo depois, um médico surgiu com uma prancheta em mãos,
parando ao lado do balcão da recepção.
— Família de Davi Filipo Sintori? — perguntou, olhando para as
dezenas de pessoas sentadas. Nós três nos levantamos em um pulo e fomos
até ele.
— Somos nós. Davi é o meu irmão. — Tomei a iniciativa e Madah se
agarrou no meu braço. Segurei a sua mão e a senti esmagar os meus dedos,
aflita. — Pode falar, doutor.
— Boa noite. Sou o Dr. Daniel. Vou resumir o quadro do paciente. —
Ajeitou os óculos empoleirados no nariz, lendo a folha presa à prancheta,
atento. — Já está tudo sob controle. Foi um caso grave de intoxicação por
MDMA.
— MDMA?! — Estranhei a sigla desconhecida. Mentalmente, repeti
"já está tudo sob controle", tentando me acalmar.
— MDMA é a sigla para 3,4-metilenodioximetanfetamina. É uma
droga sintética. Ela atua sobre os neurotransmissores serotonina, dopamina e
noradrenalina, provocando sensibilidade exacerbada e alucinações visuais,
auditivas, entre outros efeitos.
— Minha nossa... Nunca ouvi falar... — Madah comentou. — Como é
usada? É injetada, como heroína?
— Não. É um pó cristalizado, que pode ser levado diretamente à língua
ou diluído em água ou outra bebida. Em altas doses, como no caso deste
paciente, provoca distúrbios fortes no organismo que podem levar à morte
por falência hepática ou parada cardíaca. Felizmente, conseguimos agir a
tempo. Minha equipe teve sucesso em minimizar os danos.
— Cacete... — A explicação fez um arrepio subir pela minha espinha.
— Ele poderia ter morrido?
— Sim. Mas, como falei, as nossas intervenções foram bem-sucedidas.
Em meia hora, o paciente já poderá ir para o quarto.
— Obrigado. Já nos tranquilizou bastante. Podemos vê-lo agora, ou
apenas quando estiver no quarto? — perguntei.
— Apenas no quarto, em meia hora. E, como o horário de visitação já
se encerrou — falou, olhando para o relógio de pulso. — Posso permitir
apenas um parente, maior de idade, desde que cadastrado como
acompanhante.
— Então eu não posso?! — Madah quase caiu no choro. — Sou a
namorada e tenho dezesseis anos.
— Infelizmente, não. Terá que aguardar o horário de visita, pela
manhã. Sinto muito.
— Não... Ele quase morreu... Não posso esperar tanto... — balbuciou.
— Eu vou vê-lo. Explico para o pirralho que você queria entrar
também, mas que não permitiram. — Eu a abracei, tentando confortá-la. Dei
um beijo na sua testa, sentindo a sua pele fria.
— Não se esqueça de pegar o cartão de acesso ao quarto na recepção.
Mais alguma dúvida? — Dr. Daniel quis saber, guardando a prancheta no
jaleco.
— Não, obrigado — agradeci e o médico se foi.
Puxei Madah de volta às cadeiras e ela deitou a cabeça no meu ombro,
tremendo. Paolo permaneceu em pé na minha frente, com um olhar
indecifrável.
— Rico. Eu queria fumar um cigarro. Vai comigo ali fora rapidinho?
— Pode ser. — Respirei fundo e me dirigi a Madah. — Princesa. Vou
ali fora com ele, já volto. Qualquer coisa chama a gente, ok?
Ela fez que sim com a cabeça, com o semblante triste. Me levantei e
Paolo agarrou a minha mão com firmeza e nem tive tempo para processar se
as pessoas ao nosso redor estavam olhando para a gente. Apesar da timidez,
gostei muito de sentir os seus dedos entrelaçados aos meus.
Caminhamos em silêncio até o estacionamento em frente. A noite
escura sem estrelas deixava o clima mais pesado. Apenas os postes de rua nos
iluminavam em um tom fraco, amarelado.
— Frio para caralho... — Paolo comentou, passando as mãos pelos
braços.
— Senta aqui comigo. — Bati do meu lado, na mureta, e ele veio.
Abracei a sua cintura, subindo e descendo a mão pela lateral do seu corpo
magro. — Te esquento.
— Gosto quando você toma alguma iniciativa, Rico... Mas quero te ver
fazendo isso quando tiver mais gente por perto.
— Eu não estou acostumado a demonstrações de afeto em público.
— Comigo, né? Porque nos últimos minutos vi você utilizar apelido
carinhoso, pegar na mão, abraçar e beijar a testa de outra pessoa, na frente da
porra da multidão do hospital.
O quê...?!
Não soube o que responder, por isso fiquei quieto. Ele sentiu ciúmes de
Madah? Não era possível... Para quem queria me ver em meio a uma orgia...
Paolo e ciúmes não combinavam.
— Foda-se, esquece. — Ele balançou a cabeça e acendeu um cigarro,
soltando a fumaça devagar, para o alto.
— E aí? Avisou o pessoal? — perguntei, mudando de assunto.
— Avisei. — Tragou de novo o cigarro. — Logo devem chegar... Seu
pai, Luca, Marco. Se bem que, de São Paulo até Guarulhos, leva mais de
hora.
— Como eles reagiram à notícia? — Puxei Paolo para mais perto e ele
deitou a cabeça no meu ombro. Com a mão livre, passou a acariciar o meu
braço, subindo e descendo com as pontas dos dedos. Gostei tanto do seu
gesto que prendi a respiração com medo de que se afastasse.
— Domenico deu uma surtada — respondeu, jogando fora a bituca do
cigarro. — Falou alguma coisa de "não quero o meu filho naquele hospital",
mas não entendi o porquê. Burguês... Deve estar se corroendo por aqui ser
um hospital público.
— Imagino ele queira transferir o meu irmão para São Paulo...
— Pensamento positivo, cara. Sin vai ter alta. Não vai precisar de
transferência para caralho nenhum. Quer apostar? — Levantou a cabeça para
olhar para mim. Abriu um sorriso tão bonito que revirou o meu estômago.
— Queria conseguir pensar como você — murmurei, mordendo a
bochecha. — Você é tão otimista... Tão diferente de mim.
— Pois é... Os opostos se atraem. — Segurou a minha nuca, ainda
sorrindo. — Me dá um beijo, vai... Logo temos que voltar. Já está quase na
hora de você visitar o pentelho.
Sorrindo, colou os nossos lábios em um beijo rápido e intenso, enfiando
a língua possessivamente na minha boca. Com a mão agarrando os meus
cabelos, mordeu o meu lábio inferior com os dentes da frente, me arrancando
um gemido baixo. Paolo tinha uma pegada tão boa...
— Rico. Porra... Sua boca é deliciosa. — Encostou a testa na minha,
com o olhar intenso. — Eu queria ter sido o seu primeiro beijo.

Peguei o cartão na recepção e deixei Madah sentada com Paolo. Segui


pelo corredor da área interna do hospital, lendo as placas para encontrar a ala
correta. Um adesivo no cartão indicava o número do quarto: 316.
Depois de alguns minutos de busca, encontrei a porta. Passei o cartão
na fechadura eletrônica, girando a maçaneta com cuidado. Não queria acordar
o meu irmão, caso estivesse dormindo.
O quarto estava na penumbra, apenas com um abajur aceso. Levei um
instante para que os meus olhos se acostumassem à iluminação fraca,
prateada. Então, quando pude enxergar com clareza, paralisei com a cena se
desenrolando à minha frente, surreal.
Que porra...?!
Meu irmão se encontrava deitado na cama, com os olhos arregalados e
uma expressão de puro pânico no rosto. Do seu lado, sentada na beirada do
colchão, uma enfermeira falava baixinho, mantendo a mão na coxa dele,
mexendo os dedos compridos para cima e para baixo. De imediato, eu soube
que havia alguma coisa de muito errado ali.
Nenhum dos dois notou a minha chegada. Apertei os olhos para
enxergar melhor a mulher, analisando as suas características. Altura mediana,
magra, cabelos ruivos compridos... E, quando foquei no seu rosto, gelei da
cabeça aos pés.
Não era possível... Cacete!
— Sai de perto dele! — gritei, voando na direção dos dois. — Sai ou
vou chamar a Polícia! Sua pedófila desgraçada!
Rita deu um pulo para trás e me reconheceu, erguendo uma
sobrancelha.
— Enrico Lorenzo. Que surpresa agradável... — Sorriu com malícia. —
Que lindo que você está... Quase chega aos pés dele.
— Vai se foder! Sua maluca! O que fez com o meu irmão? — Me
aproximei mais dele, que parecia em choque, estático.
— Ah, a gente só estava colocando o papo em dia... Depois de tanto
tempo. Bom... Vou deixar vocês a sós — disse para mim e depois se voltou
para o meu irmão. — Se precisar de mim, bebê... É só chamar. Podemos
brincar como antigamente, do jeito que você gostava.
Sin ficou ainda mais pálido quando ela soprou um beijo no ar, piscando
sedutoramente.
— Sua filha da puta! — Agarrei o seu braço com força.
— Ai, você está me machucando! — Fez uma careta, tentando se
soltar.
— É para machucar mesmo. — Apertei com mais força, cravando os
meus dedos na sua carne. — E só não acabo contigo porque não bateria em
mulher.
— Você, acabar comigo?! — Riu com deboche. — Não deve nem saber
dar um tapa.
Senti meu sangue borbulhar. Virei um tapa com tanta força no seu rosto
que minha mão ardeu. Ela só não caiu porque a minha outra mão continuava
agarrando o seu braço, firme.
— Mudei de ideia. Em você, eu bato. Não é uma mulher. É um
monstro. — Virei outro tapa violento, fazendo o seu lábio sangrar. — Fora
daqui!
Com os olhos arregalados, Rita levou a mão ao rosto e desapareceu
pela porta.
— Sin. Como você está? — Fui até ele, sentindo os meus batimentos
pulsando sem controle. Meu irmão ergueu o corpo, apoiando-se em um dos
cotovelos. O outro braço tinha uma agulha espetada.
— Cacete, Rico... — Balançou a cabeça, rindo. — Me salvou, cara.
Você bateu nela?! Porra, inacreditável! Mandou bem!
— Tão inacreditável que nem eu acredito... Minha mão está doendo. —
Mostrei a minha palma com a pele vermelha e percebi que a minha mão
inteira tremia.
— Lógico que está doendo. Viadinho para caralho... — Riu com gosto,
me fazendo rir também. — Viu que azar o meu? A filha da puta da Rita
trabalha aqui. Quando ela apareceu foi foda... Eu não sabia se era a porra de
uma alucinação, ou a merda de uma assombração que escapou dos meus
pesadelos.
— Muito azar... Quais eram as chances da maluca ressurgir do inferno,
assim?
— E o pior é que, quando encostou na minha perna, fiquei paralisado,
com o estômago todo embrulhado, sem conseguir me mexer. Até o cheiro
dela me enjoa... Preciso ir embora daqui, mas o médico só vai me dar alta
amanhã e... Estou fodido. E se ela voltar, Rico? De madrugada? Como fazia
quando...
— Calma, cara. — Agarrei a sua mão agitada, determinado a corrigir os
erros que cometi no passado. Chegou a hora. — Não vou deixar que ela
chegue perto de você de novo. Fica tranquilo, pirralho. Não vou sair daqui.
Capítulo 48

O amor, apenas o amor


Poderá acabar com as barreiras algum dia

Still Loving You | Scorpions


Davi Filipo Sintori "Sin"

Ainda não conseguia acreditar que o Rico tinha estapeado a desgraçada


da Rita. Foi uma cena irada... Inesquecível.
— Que cara é essa? — perguntei ao vê-lo sorrindo como um imbecil ao
digitar no celular. — Falando putaria com o Paolo, aposto.
— Eu não falo putaria. Só estamos batendo papo... — Baixou o
aparelho, olhando para mim. — Acho que ele e a princesa não se dão muito
bem. Paolo não vai com a cara dela. Devem estar entediados, os dois
sozinhos na recepção.
"Princesa". Suspirei ao ouvi-lo chamar a minha namorada assim. E, por
falar nela...
— Ainda não acredito que não a deixaram entrar... — Passei a mão
pelo rosto, aborrecido. — Preciso vê-la, porra... Vou pedir para o pai tentar
dar um jeito. Ele falou se está chegando?
— Está. Marco também, com Luca. Até achei que o meu cunhado não
viria, depois do estresse da jacuzzi, mas pelo jeito ele ainda gosta de ti. —
Esboçou um sorriso, pensativo. — A vida não é justa. Você enche o saco de
todo mundo, mesmo assim é venerado pelas pessoas. Marco é um bom
exemplo disso.
— Marcão é parceiraço. Gosto para caralho dele e do irmão. Aliás...
Por que Paolo não vai com a cara da magrela? Ele sempre se dá bem com
todo mundo. É o mais sociável de nós cinco.
— Então... Ele não falou com todas as letras, mas... — Rico coçou a
nuca, sem jeito.
— Mas...?
— Acho que ele sente ciúmes de mim com ela. Paolo já sabe de tudo o
que rolou, que perdi meu “BV” com ela em casa e...
— Pode parar... Já saquei — interrompi o relato de merda, balançando
a mão, não querendo pensar naquilo.
— Engraçado que Paolo é o cara mais desapegado do mundo. Agora
me vem com essa de ciúmes? Karma é foda...
Dei risada, fazendo o meu irmão rir também. Assim, em um raro
momento descontraído com Enrico, me dei conta de que talvez ele fosse um
cara legal.
— Filho! — Domenico abriu a porta com tudo, quase me fazendo cair
da cama com o susto. — Como você está?
Eu me virei na sua direção e, ao enxergar os seus olhos assustados e os
seus cabelos grisalhos desgrenhados, concluí que estava preocupado comigo.
De vez em quando era bom...
Logo atrás dele, entraram no quarto Luca, Marco, Paolo e... Madah!
Porra!
— Não acredito... — Abri os braços, sorrindo como um retardado para
ela. — Vem aqui! Como te deixaram entrar?
— Seu pai... — Subiu na cama, me envolvendo com os braços finos,
enfiando o rosto no meu pescoço. — Fiquei tão preocupada, amor...
— Estou bem. — Respirei fundo, sentindo o seu calor e o seu perfume
delicado dominarem os meus sentidos. Passei o braço direito ao redor da sua
cintura, acomodando-a do meu lado na cama. Meu braço esquerdo
continuava com a agulha espetada, parcialmente imobilizado.
— Nós também estamos te visitando, viu? — Luca brincou, porque
ignorei por completo a presença de todos eles. Só me importava com a minha
garota.
— Legal — falei, sorrindo. — Fico feliz de verdade que estejam todos
aqui. Pai, como conseguiu que autorizassem a entrada dela?
— Até parece que não me conhece... Ninguém resiste ao meu charme,
filho. — Sorriu, presunçoso.
— Ao charme, e à promessa de uma doação generosa ao fundo do
hospital... — Luca complementou, apertando o ombro de Domenico. Dei
risada, balançando a cabeça. Meu pai era foda...
— Já volto — Enrico falou, deixando o quarto com Paolo, que parecia
quieto demais.
Marco permanecia em silêncio, meio sem graça, atrás do meu irmão
mais velho.
Eu me sentia tão em paz, com a magrela assim pertinho de mim, que
fiquei com vontade de me acertar com Deus e o mundo. Por isso tomei a
iniciativa de falar com o meu amigo.
— Marcão... Obrigado por ter vindo, cara. Depois precisamos
conversar. Queria te falar que peguei meio pesado e...
— Esquece. — Ele deu um passo à frente, com as mãos enterradas nos
bolsos. — Eu pisei na bola e... Só queria que a gente voltasse ao normal.
Você é meu brother. Gosto muito de ti, cara.
— É recíproco. Aproveitando, já falei com o seu irmão. A Five Stars
está de volta. A não ser que você não queira...
— É lógico que eu quero, porra... — Abriu um sorriso gigante,
passando a mão pelo cabelo, animado. — O fim da banda estava me
matando... Vou ligar agora mesmo para o Leo. — Desapareceu do quarto,
todo empolgado.
Meu pai e o meu irmão mais velho continuavam no recinto, em pé,
cochichando alguma coisa de modo que eu não podia os ouvir. Até que
Domenico empurrou delicadamente Luca para a frente, os dois parecendo
desconfortáveis. Lá vinha bomba...
— Sin. Queria te perguntar uma coisa, cara. Não me leve a mal, mas...
Por que você foi se drogar no intervalo do jogo?
— Eu não me droguei. — Travei o maxilar, me lembrando da
expressão no rosto do filho da puta do Eduardo. Tremi de raiva e Madah
acariciou o meu braço, como se quisesse me acalmar.
— Mas o médico disse que você apagou por causa de uma droga
sintética... — Luca voltou a falar.
— Colocaram a droga na minha bebida. Eu tomei o isotônico no
intervalo, no vestiário. Minutos depois, comecei a ter alucinações. E, antes de
desmaiar, eu entendi tudo. Já sei até quem foi.
— Quem, filho? Por quê? — Domenico interveio.
— Um cara lá da escola. Eduardo. Hoje de manhã, eu dei um soco no
babaca, por causa do que ele fez com a minha namorada. Lembra? Você
estava lá, Lucão! Ele falou que iria dar o troco! Não posso provar, porém
tenho certeza de que foi ele.
— Che cavolo... Isso é muito grave! É crime! Vou fazê-lo pagar —
exclamou meu pai, bravo, sem duvidar de mim. Caralho! Que milagre!
— Você poderia ter morrido, cara... — Luca se manifestou. — Ele
precisa responder por isso. Será que no vestiário não tem câmeras?
— Boa... — falei. — Vamos tentar descobrir. Ele já tem dezoito anos,
quero que seja preso por esta merda.
— Ele será preso. Pode ter certeza, meu filho.
Assim que os dois saíram, eu abri um sorriso para a minha garota, mais
leve.
— Me ajuda a ir ao banheiro? Quero escovar os dentes para te beijar...
Estou com gosto de carpete mofado na boca — pedi. — Solta ali para mim?
— Apontei para o soro.
— Sério mesmo que você quer me beijar em um quarto de hospital?! —
Ela deu risada, balançando a cabeça, mas me atendeu. Deixei a agulha ainda
presa no braço, com o caninho solto, pendurado.
— Por quê? Você não quer? — Me levantei da cama, olhando para a
camisola hospitalar azul que batia nos meus joelhos. — Tá... Essa minha
roupinha aqui é broxante...
— Davi Filipo, acha mesmo que me importo com o que você usa?
Gostoso... — Me abraçou por trás, enfiando as mãos por dentro da abertura
da camisola, arranhando o meu abdômen. — Além disso, vestido assim a sua
bunda fica à mostra... Adorei. — Desceu as mãos até as minhas nádegas, as
apertando com vontade.
Porra... Ela me deixava maluco!
No banheiro, abri a água da pia e escovei os dentes enquanto ela ficou
alisando as minhas costas, tranquila. Em seguida, retornamos para o quarto.
— Você precisa dormir, amor. Deita aqui de conchinha comigo... —
Madah se acomodou de lado na cama, sorrindo. Me encaixei por trás dela,
beijando o seu pescoço delicado, me esfregando na sua bunda.
— Ai... — Suspirou, levando um braço para trás para acariciar a minha
nuca. — Te amo, tanto. Declarou e a puxei ainda mais para mim, apertando a
sua cintura. Seu corpo miúdo ficou todo colado no meu, me aquecendo, me
relaxando. Cacete... Era perfeito o nosso encaixe.
— Te amo mais, magrela.
Capítulo 49

De sonhadores a inimigos
Você tá indo, vai me deixar aqui, perdido
Você já contou pros seus amigos de nós?

Me Beija Com Raiva | Jão


Enrico Lorenzo Sintori

Estávamos nós seis na lanchonete do hospital, sentados ao redor uma


mesa. Eu, Paolo, Marco, Luca, Domenico e Wilson, o guarda-costas. Quando
terminava de tomar um refrigerante, senti o cansaço pesar nos meus ombros.
— Já é quase meia-noite... — Espiei o relógio, me virando para
Domenico. — Você vai ficar? Acho que nós vamos embora... — Apontei
com a cabeça na direção de Paolo, sentado do meu lado, quieto.
Paolo sorriu em concordância, nitidamente aliviado com a minha
sugestão. Tomou a iniciativa de segurar a minha mão, em cima da mesa,
porém não me senti à vontade com o seu gesto ali, na frente de todos, e me
soltei dele.
— Pode ir, Rico. Vá para casa descansar. Você já passou pelo estresse
da ambulância e o seu irmão é responsabilidade minha. — Olhou para mim e
para Paolo. — Levem os irmãos de vocês — sugeriu, referindo-se a Luca e
Marco.
— Tudo bem. E Madah? — perguntei, escutando em seguida Paolo
bufar do meu lado. Cacete... Eu não podia nem mencionar o nome dela?
— Ela fica. A garota faz bem a Sin. — Deu um pequeno sorriso,
coçando a barba grisalha. — Madah pode dormir no quarto com ele, eu vou
com Wilson para o hotel ao lado. Retorno de manhã, antes da alta, para os
levar de volta para São Paulo.
Seria uma boa ideia, deixar Sin apenas com a princesa durante a
madrugada, com a maluca da Rita solta pelo hospital?
— Pai... — Passei a mão pelo cabelo e me levantei. — Podemos falar
em particular por um minuto?
— Podemos. — Ele ficou em pé, me analisando com o olhar intrigado,
curioso. — Vamos ali fora. — Mostrou uma área externa da lanchonete, com
mesinhas redondas de madeira. Enfiei as mãos nos bolsos e segui-o até o
local indicado. Passamos por uma porta de vidro que se fechou
automaticamente atrás de nós. — O que foi, filho?
— Você sabe quem trabalha neste mesmo hospital? — sussurrei. —
A...
— Rita, eu sei. Tanto que eu não queria ver o seu irmão internado aqui,
ele não poderia correr o risco de revê-la... — Suspirou, apertando os olhos.
— Contudo, é de praxe que as ambulâncias tragam as emergências para cá,
por isso não tivemos escapatória.
Estranhei que ele já soubesse que a maluca trabalhava aqui. Mas, como
o meu pai nunca abria o jogo com a gente, nem perdi o meu tempo
questionando-o a respeito.
— Então... — voltei a falar. — Não é melhor que um de nós fique aqui
durante a madrugada? Para o caso dela...
— Ela não chegaria perto do seu irmão. Não me pergunte detalhes... Só
lhe digo que Rita sabe bem quais são os limites que impus a ela. — Deu um
sorriso enigmático, balançando a cabeça, como se a minha ideia fosse
completamente absurda.
— Você está enganado. Ela chegaria perto dele, sim. Inclusive, já
chegou. — Me irritei com todo aquele mistério, sentindo o meu rosto
esquentar. — Sabia que quando entrei no quarto, ela estava lá, toda
sorridente, com a mão em cima da perna dele? O pirralho ficou tão apavorado
que parecia estar em choque! Tive que literalmente expulsá-la a tapas!
— O quê?! — Ele arregalou os olhos. — Che cavolo... Ela me paga! O
nosso combinado... — murmurou, pegando o celular. Eu o observei enquanto
digitava alguma mensagem furiosamente e logo ouvi o apito de recebimento
de uma resposta. — Pronto. Já botei ordem na bagunça. Ela não irá mais
incomodá-lo.
Domenico afirmou de modo tão categórico que gelou a minha espinha.
Teria mandado algum capanga dar um fim nela?
— Para quem você mandou mensagem? — perguntei, desconfiado.
— Para Rita. Eu a proibi que se aproximasse de Sin novamente. Pode
ficar tranquilo, Enrico. — Guardou o celular no bolso, cruzando os braços
sobre o peito, como se dissesse: "assunto encerrado."
Como assim? Meu pai tinha o número do telefone da maldita?
Trocavam mensagens? E, para complicar, ele dava ordens nela?
— E por que ela lhe obedeceria? — questionei, tentando entender que
merda estava acontecendo.
— Porque todo mês... — começou a falar porém se interrompeu,
mordendo o lábio. — Em resumo. Ela tem muito a perder, se ousar bater de
frente comigo. Chega. Vamos para lá. — Virou as costas, entrando de volta
na lanchonete.
Já do lado de fora do hospital, percebi Paolo, Marco e Luca
conversando animadamente sobre a banda. Tentei prestar atenção no papo,
mas não consegui.
Eu precisava um momento a sós, longe deles. Minha cabeça estava
perdida em pensamentos, tentando compreender o lance do meu pai com a
desgraçada da Rita. "Todo mês" o quê, cacete?
— Vou buscar o carro. Já pego vocês aqui — falei com a chave da
picape na mão, me afastando dos três.
— Espera. Vou contigo. — Paolo se apressou, me alcançando. — O
que está rolando, Rico? Desde que conversou com o seu pai, você está
estranho e...
— Eu não sei o que está rolando — respondi, sem parar de andar. — E
o problema é exatamente esse. Meu pai está escondendo alguma coisa...
— Sobre? — Acendeu um cigarro, caminhando do meu lado.
— Rita. Uma ex de Domenico, bem doida, que dava em cima do meu
irmão quando ele era pivete. É uma longa história.
— Rita... Era a enfermeira da sua mãe, não era? Me lembro vagamente
de ter ouvido algo a respeito, no passado — comentou, soltando a fumaça, ao
lado da minha picape. — Vamos dormir juntos hoje?
Perguntou do nada. A mudança brusca de assunto me fez paralisar com
a mão na maçaneta fria do carro.
— Como assim?
— Dormir juntos, ué. Na sua casa ou na minha, tanto faz. E relaxa, não
vou tirar a sua virgindade hoje. Você ainda não está pronto. Só queria ficar
mais um tempo contigo. — Veio até mim e, com o cigarro pendurado nos
lábios sorridentes, bagunçou os cabelos com a mão, daquele seu jeito
despojado irresistível.
Todas as minhas células gritavam que "sim", só que a minha habitual
covardia falou mais alto.
— É melhor não... Já passa de meia-noite, até chegar em São Paulo vai
ser tarde demais. — Baixei a cabeça, disfarçando a minha falta de coragem.
A verdade era uma só. Eu não conseguiria dormir com ele, sabendo que
teria um dos nossos irmãos no quarto ao lado. E, com os dois no carro com a
gente, não daria para deixá-los, para depois ir a um hotel com Paolo. Como
explicar...?
— E daí? Dane-se que está tarde. A sua carruagem da Cinderela vai
virar abóbora? Olha... Desde que chegamos ao hospital não ficamos cinco
minutos juntos. Eu só queria ficar um tempo contigo, mas beleza.
— Me desculpe se a nossa noite não saiu como o programado. O
hospital não estava no roteiro. Não posso... — Me atrapalhei com as palavras,
nervoso.
— Não te entendo, Rico. — Ele colocou as mãos nos meus ombros,
tentando prender o meu olhar. — Você fala na frente de todo mundo que está
apaixonado por mim. Porra... Mexeu comigo, para caralho! Por isso me
joguei de cabeça... Resolvi ficar só contigo. Nunca mais saí com ninguém,
nem participei de putarias e... Estamos ou não estamos juntos? Porque... Sabe
o que parece? Que você está cagando para mim.
— Para você é tudo tão simples, não é? — Sorri sem ânimo. — Não
sou assim, como você... Acho que nunca vou ser. Sou racional demais.
— Eu não quero que você seja como eu! Todo mundo tem qualidades e
defeitos. E a minha lista de defeitos é gigante, cara... — Ele andava para lá e
para cá, inquieto. — Sou impulsivo, por exemplo, mas pelo menos sou
autêntico. Eu sei o que quero.
— Paolo... O que você quer eu faça? Sinto muito, eu não vou dormir
com você na minha casa, com Luca no quarto ao lado. Ou na sua, com
Marco...
— O que eu quero que você faça? Caralho... Quero que você pare de ter
vergonha de nós dois!
— Eu... Eu não tenho vergonha.
— Você contou para os seus amigos de nós? Não contou. Aposto que
na sua faculdade ninguém sabe... Estou certo ou errado? Só a sua família
sabe, porque é tão fodida quanto a minha, e ainda assim você não quer dormir
comigo, por causa dos nossos irmãos. Quer saber? Foda-se.
Cacete... Eu sentia que o perdia naquele exato instante, como areia
escorrendo pelos meus dedos. Eu teria que tomar uma atitude, falar alguma
coisa... Porém não conseguia. Meu coração batia tão forte que quase me
ensurdecia.
Paolo me encarou com o olhar magoado por dois ou três segundos,
deixando o meu peito aflito. Então mordeu o lábio, balançando a cabeça,
nitidamente decepcionado. Por fim, entrou no carro e não abriu mais a boca.
O trajeto até São Paulo foi rápido, já que não havia trânsito. Marco e
Luca monopolizaram a conversa. Falaram sobre banda, faculdade, mulheres e
eu prestei um por cento de atenção neles.
Paolo não tirou os olhos da janela, mexendo os dedos sobre as pernas,
cantarolando baixinho uma música atrás da outra.
Não identifiquei quase nenhuma e a única que pude compreender fez
meu coração se apertar, pequenininho. Continha exatamente a última
pergunta que ele me fez antes de entrarmos no carro.
Pros sonhadores há inimigos
Você tá indo, vai me deixar aqui perdido
Você já contou pros seus amigos de nós?
Eu dirigia o tempo todo com um gosto amargo na boca. Era uma merda
não conseguir corresponder às suas expectativas...
Ao deixar os Fontini na casa deles, Paolo nem se despediu de mim.
Nervoso, fiquei com a impressão ruim de que não nos veríamos mais depois
de hoje e...
A simples ideia de que isso acontecesse me destruía.
Capítulo 50

Fale comigo gentilmente


Há algo em seus olhos
Não abaixe a sua cabeça em tristeza
E, por favor, não chore

Don't Cry | Guns N' Roses


Madeleine Laurent "Madah"

— Não está com fome? — perguntei, alisando o antebraço de Sin,


apreciando o calor do seu corpo encaixado nas minhas costas, me
envolvendo.
— Eu até estou com um pouco de fome... Mas nem fodendo que eu
chamo a enfermagem de novo — murmurou a última frase meio distraído,
como se falasse sozinho.
— Ué. Por que não? Pelo horário? Os enfermeiros trabalham vinte e
quatro horas.
— Não te contei uma coisa. — Soltou um riso sem graça. — Sabe
quando tudo dá errado, e você pensa que não tem como piorar, e piora?
— Do que você está falando? — Virei a cabeça para vê-lo melhor,
atenta.
— Não fica me olhando ou vou me desconcentrar — murmurou,
acariciando os meus cabelos, delicadamente girando a minha cabeça para o
outro lado. — Escuta só... Primeiro, o filho da puta do Eduardo me drogou.
Na final da porra do campeonato. Já vi pelo celular as mensagens do grupo
do futebol e, além de terem cancelado os meus gols, aplicaram uma
penalidade ao time, que foi desclassificado. É a penalidade máxima, dada em
caso de drogas ou doping de um dos jogadores. Todos os caras estão me
crucificando, afinal, sabem do meu histórico de dependente químico. Pensam
que tive uma recaída e por isso não param de me esculachar. Menos Bruno e
Leo, que vieram me chamar em particular, preocupados comigo.
— Minha nossa... — sussurrei com o coração apertado no peito. —
Eduardo complicou a sua vida, amor.
— Complicou, mesmo. E, quando pensei que nada poderia ser pior,
chamei a enfermagem porque a minha cabeça doía e...
— E...? — Eu sentia a sua respiração forte atrás de mim, indicando que
seria algo bem grave.
— A enfermeira veio. E era... A vagabunda da Rita.
— Rita?! Ela trabalha aqui?! A mesma que... — Não me aguentei e
girei o corpo, ficando de frente para ele. Sin estava com o maxilar travado,
nervoso.
— A mesma.
— Não acredito! — exclamei, em choque. — Desgraçada... Vamos
chamar a Polícia?!
— E falar o quê, magrela? Que ela abusou de mim há mil anos? Que
tirou a minha virgindade? Porra... Se nem a minha família me levou a sério,
os policiais reagiriam como?
— Mas... Mas ela não pode ficar impune. — Balancei a cabeça, sem
saber o que falar. — Temos que pensar em alguma coisa. Agora que a gente
sabe onde ela está, temos que dar um jeito de fazê-la pagar.
— Pelo menos o Rico bateu nela, acredita? — Ele riu sem ânimo.
— O que?! O Rico?! Bateu, como?!
— Agarrou o braço da maldita e deu dois tapas fortes no rosto dela. Foi
irado... — Esboçou um sorriso bonito, feliz com a lembrança. — Mas o
melhor foi o que ele me disse depois que ela desapareceu. Meu irmão meio
que assumiu que errou no passado, falando que não iria deixar que ela
chegasse perto de mim de novo.
Eu sorri com a sua fala. Rico era mesmo um príncipe... Não era
perfeito, porque ninguém era, mas era correto e bondoso, e queria corrigir os
seus erros.
— Que bom, amor... Ele tem noção de que falhou com você lá atrás.
Deve querer se redimir.
— Sim. Já o meu pai... Tá nem aí para a história.
— Pelo menos Domenico acreditou em você no incidente de hoje.
Quando disse que não se drogou, que foi o Eduardo... — Voltei a me deitar
com as costas na sua barriga, puxando as suas mãos para me abraçar. —
Reparou que seu pai não duvidou de você em momento algum?
— É verdade... Até fiquei surpreso... — Respirou fundo e depois
bocejou. — Vamos dormir?
Fiz que sim com a cabeça. Seu calor e seu cheiro me aqueciam a alma,
me embalando em uma preguiça gostosa. E, quando a sua mão voltou a
acariciar meus cabelos, amoleci o corpo, quase adormecendo.
De repente, duas batidas na porta me fizeram sentar em um salto.
Droga. Sin enrijeceu o corpo, ainda deitado, e nenhum de nós disse nada.
— Estão acordados? Posso entrar? — Domenico abriu a porta devagar,
sem colocar a cabeça no vão. Provavelmente ficou com medo de nos flagrar
em alguma cena imprópria.
— Pode — Meu namorado respondeu. Seu pai entrou no quarto com o
guarda-costas, Wilson.
— Vim me despedir. Vou dormir no hotel aqui ao lado. Amanhã cedo,
volto para a sua alta, filho.
— Certo. Obrigado.
— Vão ficar bem? Precisam de alguma coisa? — Enfiou as mãos nos
bolsos da calça social, com o semblante sério.
— Estamos bem e.... — Sin se interrompeu, como se pensasse nas
palavras. — Então... Não sei se Enrico te contou, mas...
— Sobre a aparição de Rita? — Domenico o cortou. — Ele me contou,
sim. Não se preocupe. Ela não irá voltar.
— Como assim, pai? Você falou com ela?
— Só... Não se preocupe. Boa noite. Durmam bem. — E virou as
costas, deixando o quarto com Wilson à sua sombra.
— Ué... — murmurei. — Isso foi estranho.
— Meu pai é estranho, magrela. Nem vou esquentar a cabeça.
— É melhor... Você precisa descansar, amor. Boa noite. — Dei um
beijinho rápido nos seus lábios macios e voltei a me encaixar nos seus braços,
apreciando o seu calor.
— Boa noite.

— Bom dia. — Uma voz feminina me fez abrir os olhos. Uma


enfermeira grisalha e baixinha andava em direção à janela, escancarando as
cortinas. Depois voltou até a porta e puxou um carrinho de metal, tranquila.
— Trouxe o café da manhã.
— Bom dia — respondi. — Acorda, amor... — Mexi no braço do meu
namorado, que dormia profundamente. Me sentei, alisando os cabelos
bagunçados.
— Eu não sabia que havia uma pessoa de acompanhante neste quarto.
Você é a namorada? O prontuário não continha a informação. Vou pedir que
tragam mais uma bandeja.
— Agradeço. — Sorri, ainda ajeitando as minhas mechas. Meu
estômago roncava de fome.
— O paciente passou bem a noite? — perguntou, colocando a bandeja
do café sobre a mesinha.
— Sim. Dormiu direto.
— Ótimo. Daqui a pouco o médico irá reavaliá-lo. Se tudo estiver
certo, terá alta. Com licença. Se precisarem de mim, meu nome é Edna.
— Obrigada. — Me levantei e fui até o banheiro lavar rosto. Escovei os
dentes, penteei os cabelos e, quando voltei para o quarto, Sin estava
acordando.
— Bom dia — falou com a voz rouca, passando a mão pelo rosto. — Já
trouxeram o café... Espero que seja algo que preste. Estou com uma fome da
porra... — Olhou para a mesinha, se sentando.
— Bom dia. — Parei sob o batente da porta do banheiro, mais uma vez
impressionada com a sua beleza. Mesmo com o rosto amassado e o cabelo
bagunçado, meu namorado continuava lindo. — Sim, o café está ali, mas
ainda nem vi o que é. E vão trazer mais um, graças a Deus. Estou com tanta
fome que comeria até pedra...
— É? — Sorriu de lado, me secando, malicioso. — Tem uma coisa
aqui dura como pedra para você cair de boca... — Sentado na beirada da
cama, apontou para a ereção que se desenhava por baixo do tecido da roupa,
rindo.
Não era possível! Gargalhei alto, incrédula com o seu comentário
safado logo cedo.
— Atrapalho alguma coisa?! — Uma enfermeira de cabelos ruivos
entrou do nada no quarto, me encarando. Seus olhos verdes faiscavam,
gelados. No mesmo segundo, eu soube quem era.
Rita.
Olhei rapidamente para o meu namorado, que já não sorria. Pelo
contrário, estava pálido, com os olhos arregalados em um misto de tensão e
medo.
Impressionante o que um trauma de infância era capaz de fazer com
uma pessoa, desestruturando-a até depois de adulta. Sin já era um homem
feito, grande, forte, que poderia dar uma surra nela se quisesse, porém
nitidamente se sentia acuado, assustado, paralisado.
Eu precisava fazer alguma coisa.
— Some daqui, sua doente! — Me coloquei na frente dele, em pé entre
os seus joelhos, apertando a sua mão. — Não tente se aproximar dele ou faço
um escândalo.
Ela sorriu com deboche, dando dois passos à frente, calculados. Ficou a
poucos metros de nós, com os braços cruzados sobre o peito.
— Eu quis ver com os meus próprios olhos quem era a sua
acompanhante, Davi. Quando Edna pediu mais um café para a "namorada" do
paciente... Não me contive. — Desceu os olhos, me analisando dos pés à
cabeça, com desdém. — Não acredito que, depois de ter uma mulher como
eu, você se contente com uma adolescente ratinha como ela.
Meu sangue ferveu de raiva, acelerando o meu coração. Eu sentia a
respiração alterada de Sin nas minhas costas, porém ele não abria a boca. Sua
única reação era apertar os meus dedos com mais força, aflito.
— Engraçado falar isso... — Eu a encarei, sem me deixar abalar.
Minhas bochechas queimavam em irritação. — Quem aqui gosta de
adolescente, ou melhor, de criança, é você, sua pedófila! Como teve
coragem?! De abusar de um menino de onze anos?!
— Você não sabe do que fala! Menina idiota... Não foi abuso. Nós
dois... — Apontou para o próprio peito e para o do meu namorado, me
enervando. — Vivemos um romance lindo! Não tradicional, admito, mas o
amor verdadeiro não se prende a mesquinharias como diferença de idade ou
outras bobagens.
— Minha nossa... Você é mesmo doente... — Balancei a cabeça,
incrédula com a sua fala. Meu coração batia sem controle dentro do peito. —
Precisa ser internada para nunca mais voltar a viver em sociedade. Você
representa um risco para as pessoas!
— Davi. Ela está tão cega que não consegue enxergar a verdade. Conte
a ela, meu bebê. Como nos amamos... Como foi real...
— Real?! Foi um pesadelo, caralho... — Ele balbuciou por trás de mim,
com a voz trêmula.
Precisava expulsá-la daqui ou ele iria surtar.
— REAL. Tão real que gerou frutos! — Ela deu mais um passo à
frente, com uma mão sobre a barriga. Ah, não... Não podia ser.
Droga, droga, droga.
Minha cabeça latejava com a compreensão do que ela estava
insinuando. O ar se tornou mais pesado no quarto e não se ouvia um único
pio. A hostilidade era palpável entre nós, estalando.
— Eu não lhe contei na época... — Rita voltou a falar, sorrindo como
uma louca. Seus olhos continham um brilho doentio, intenso. — Mas agora
que é adulto está na hora de saber. Eu engravidei de você, bebê. Nós temos
um filho.
Capítulo 51

Não preciso de braços ao meu redor


E não preciso de drogas para me acalmar

Another Brick In The Wall | Pink Floyd


Davi Filipo Sintori "Sin"

As palavras daquela desgraçada ficaram ecoando em looping na minha


cabeça, fodendo com a minha sanidade. "Eu engravidei de você, bebê. Nós
temos um filho."
Com a espinha gelada e o estômago revirado, eu simplesmente não
sabia o que falar.
— Mentirosa! Manipuladora! — Madah gritou, me tirando do transe.
— Você não teria um filho dele sem ninguém saber! Com certeza, iria exigir
o sobrenome, a pensão e tudo o mais! Está inventando isso para nos
perturbar!
— Quem disse que ninguém sabe?! — Ela riu, balançando a cabeça. —
Tolinha... Domenico sabe. Inclusive, paga uma gorda pensão todo mês para o
neto. Apenas abri mão do sobrenome e de uma ou outra coisinha.
Porra... "Não vou surtar, não vou surtar." Repetia mentalmente,
agarrando a cintura da minha namorada com firmeza como se fosse uma boia
salva-vidas. Somente ela era capaz de me dar o mínimo de estabilidade.
— Magrela... Chame o meu pai aqui, agora — murmurei, com o
coração na garganta.
Madah fez que sim com a cabeça, digitando com os dedos trêmulos
uma mensagem no celular. Logo em seguida um apito indicou a chegada da
resposta.
— Ele já está passando pela recepção do hospital, amor — respondeu
baixinho, virando o rosto para mim, com os olhos azuis presos aos meus. —
Calma. Ainda acho que pode ser mentira dela...
— Estou calmo. — Respirei fundo, tentando não surtar. — Apenas
quero colocar tudo em pratos limpos. — Apoiei o meu queixo no seu ombro,
inspirando o seu perfume doce e quente.
Rita nos olhava com um sorriso estranho nos lábios, sem piscar, com
aquele olhar vidrado que só as pessoas loucas tinham. Ela era completamente
maluca.
Aliás... Meu pai não permitiria que uma doente como ela criasse seu
neto, meu filho. Caralho... "Meu filho". Me recusava a acreditar que ela tinha
engravidado de mim e...
— Quero ver uma foto da criança, agora — falei, sem desviar os olhos
dela. Percebi que hesitou, surpresa com pedido.
— Eu não tenho foto dele aqui comigo... — Fugiu com o olhar,
desconfortável.
— Que mãe não tem uma foto do filho?! Na carteira, no celular?! —
Madah se cresceu, com a voz firme. — Eu sabia que era mentira sua...
— Eu não tenho, porque... Porque eu não crio a criança. Foi uma das
condições de Domenico. Ele me daria o suporte financeiro, desde que eu
entregasse o bebê para ser criado por outra pessoa. O menino está com... Com
uma prima minha.
Puta que pariu...
Aquilo até que fazia sentido.
De repente, a porta do quarto se abriu e Domenico paralisou ao nos ver
todos ali. Pálido, correu os olhos pelos nossos rostos, preocupado.
— O que está acontecendo aqui?! — perguntou. Wilson saiu de
fininho, fechando a porta atrás de si.
— Querido... — Rita sorriu forçadamente para ele. — Eu acabei
contando a verdade a eles. Não precisamos mais esconder...
— Cale-se! Em primeiro lugar, não me chame de "querido". —
Gesticulou com as mãos, furioso. Cacete... Era tão raro ver o meu pai bravo
daquele jeito. — Em segundo lugar, uma das condições do nosso combinado
era que você não o procurasse nunca mais.
— Eu não o procurei! — A filha da puta ergueu as mãos, em um gesto
inocente falso para caralho. — Nestes anos todos, nunca fui atrás de Davi.
Não tenho culpa se o destino o trouxe para o meu hospital. Para mim.
— Saia daqui! Agora! Ou já sabe! — gritou, fazendo-a estremecer. Rita
desapareceu do quarto sem olhar para trás, o que me deu um puta alívio.
Quase não conseguia respirar com a maldita no mesmo ambiente que eu...
Em seguida, olhei com atenção para Domenico, que passou as mãos
pelos cabelos grisalhos, estressado.
— Pai... — comecei, puxando Madah para se sentar do meu lado na
cama. Eu estava tão chocado que nem me abalava mais. Não sentia mais
desespero, nervoso, nada. Parecia que os meus sentidos e o meu corpo
estavam entorpecidos. — É verdade...?
A magrela segurou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos,
agoniada. Domenico somente me encarava em silêncio, inseguro e, quando
pensei que não diria nada, passou a falar.
— Eu me lembro daquele dia como se fosse ontem. Eu já havia
rompido com Rita e ela apareceu em casa, pedindo para conversar. Disse que
estava grávida. — Baixou os olhos, se calando.
— E qual foi a sua reação? — perguntei, incentivando que continuasse
a falar.
— Dei risada. Falei que era impossível, pois eu era vasectomizado há
anos. Então ela respondeu que não estava grávida de um filho, mas sim de
um neto meu. Che cavolo... Mostrou o teste de gravidez com o resultado
positivo e me contou do caso de vocês.
— "Caso". — Dei uma risada sem ânimo. — Ela abusava de mim. Eu
contei para vocês, lembra? Mas ninguém se importou...
— Sin. — Ele me fitou com o olhar duro. — Você era um viciado em
heroína. Como queria ser levado a sério?
— Esquece. — Balancei a cabeça, decepcionado. — Continua falando
da gravidez... Quem garante que o bebê era meu? Ela pode ter transado com
outros caras na mesma época.
— Sei disso. Por isso fizemos o exame de DNA, ainda no início da
gravidez.
— Durante a gravidez?! — Madah exclamou, surpresa.
— Durante a gravidez. O médico coletou o material que envolvia o
feto, do líquido amniótico ou da placenta, não me recordo.
— Eu não me lembro de ter sido examinado...
— Você não foi, filho. Eu não iria submetê-lo a mais esse estresse, em
um período já tão conturbado. Por isso me voluntariei. E a paternidade pode
ser confirmada com as amostras de DNA de avô e neto.
— E aí? — perguntei retoricamente, já sabendo a resposta. Porra...
— O resultado foi positivo. Rita estava mesmo grávida de um filho seu.
— Caralho! — Esfreguei os olhos, quase me beliscando. Queria tanto
que não passasse de um pesadelo...
— Me deixe terminar, por favor. Pensando no seu bem e no da criança,
tomei a decisão de firmar um combinado com ela. Afinal, com treze anos
você não poderia ser pai.
— Que combinado?
— Eu pagaria uma pensão mensal bem generosa, com três condições:
ela deveria abrir mão do registro de nascimento, não o procurar nunca mais e
entregar o bebê para outra pessoa criar. Rita não tinha condições psicológicas
para cuidar de uma criança. O dia que assinamos o acordo foi a última vez
que a vi. Até hoje.
— E como sabe que ela cumpriu as condições?
— Nós nos falamos nestes anos todos, por telefone. Ela me relatava os
acontecimentos, como a entrega do bebê a uma prima assim que nasceu. Eu
conheci esta prima logo depois do exame de DNA, se chamava Lúcia, me
pareceu ser uma pessoa bem normal. Lúcia me confirmou por telefone que
recebeu o bebê. Fim.
— Que merda, hein? Não sei nem o que dizer... Você conheceu o...?
— Não conheci o menino. Não quis conhecê-lo, na verdade. Achei
melhor assim. — Domenico se levantou, com um ar cansado. — Chega desta
conversa. Vamos para casa. Me encontrem na recepção em dez minutos. — E
saiu do quarto, sem falar mais nada.
— Porra, magrela... Um filho! — Eu a abracei apertado, com a minha
cabeça aérea. — Um filho meu, com aquela desgraçada... Que história
fodida...
— Calma, amor. — Madah subia e descia a mão delicada pelas minhas
costas, tentando me tranquilizar. — Ainda acho que pode ser mentira dela e
que o seu pai paga pensão sem existir neto nenhum.
— O quê?! Por quê?!
— Não sei bem... São impressões, hipóteses... Pensa comigo. — Madah
se afastou para me olhar nos olhos. — Domenico não viu a evolução da
gravidez... Nunca viu a criança... Rita se assustou quando você pediu para ver
uma foto...
— Mas e o teste de gravidez? E o exame de DNA? Eu não usava
camisinha com ela, cacete... Já te contei essa merda.
— Ela pode ter engravidado, sim. — Segurou o meu rosto, com as
mãos delicadas nas minhas bochechas, me acolhendo. — Porém aos treze
anos você estava viciado em heroína e todo mundo sabe que fetos de pais
drogados podem ter malformações graves. Ou seja...
— Ou seja...? — perguntei, ansioso. Já sabia o que ela diria, porém
queria ouvir as palavras saindo da sua boca.
— Ela pode ter perdido o bebê, amor.
— Magrela... Não sei se você é inteligente demais ou otimista para
caralho. Mas faz sentido... Preciso investigar se o meu suposto filho existe.
Me sentia prestes a afundar, preso a um finíssimo fio de esperança,
torcendo com todas as forças para que a minha namorada estivesse certa.
A caminho de casa, com o meu pai e o guarda-costas nos bancos da
frente do Mercedes, puxei Madah para mais perto no banco de trás, passando
os dedos pelos seus cabelos macios. Ela suspirou recostada no meu ombro,
segurando a minha outra mão. Depois de algum tempo, pela sua respiração
lenta, eu soube que havia cochilado.
Eu, por outro lado, não conseguia relaxar. Tinha bem claro na minha
cabeça que precisava desmascarar o merda do Eduardo, limpar a minha barra
com o time e desmentir a filha da puta da Rita. Só assim teria paz.
Capítulo 52

Eu continuo vivo
Mereço estar, é a questão?
E, se for, quem a responde?

Alive | Pearl Jam


Davi Filipo Sintori "Sin"

Ao chegar em casa, eu me via à beira de um surto. Estômago gelado,


coração acelerado, mãos trêmulas. Eu odiava me sentir tão perdido. Porra...
Eu tinha que estar no controle para não surtar.
O problema era que, desde a maldita hora que tomei a bebida
"batizada" pelo babaca do Eduardo, tudo tinha dado errado. Minha realidade
começou a ruir, uma bomba atrás da outra, com as coisas fugindo
completamente do meu controle. Até a filha da puta da Rita ressurgiu dos
infernos, com o papo de que havia engravidado de mim.
Subi as escadas em silêncio, com Madah ao lado, de mãos dadas
comigo. Segui em direção meu quarto e, sem parar, entrei no banheiro. Abri o
chuveiro, deixando a água bem quente. Quando estava prestes a entrar no
box, a voz hesitante da magrela nas minhas costas me fez estacar.
— Posso tomar banho com você? Ou prefere tomar sozinho, para
pensar...? — perguntou. Virei para ela e quase me engasguei ao vê-la sem
roupas. Puta que pariu...
Um minutos antes, eu me sentia como um zumbi, amortecido, apagado.
Ciente de que apenas duas coisas seriam capazes de fazer com que eu me
sentisse vivo: uma dose de heroína ou de Madah. Felizmente, a segunda
opção me era benéfica e estava bem na minha frente.
Meus olhos a devoraram lentamente, descendo do rosto para o corpo, se
demorando nos seios empinadinhos, com os mamilos rosados pontudos.
Depois, desceram mais, encontrando a sua rachadura delicada entre as pernas.
Mordi o lábio ao perceber que ela apertava as coxas, excitada com o
meu olhar. Os barulhos das nossas respirações se acelerando se misturavam
ao som da água caindo, com o vapor quente deixando tudo ainda mais
intenso.
— Não quero pensar em nada. Vem...? — Estendi a minha mão e subi
o olhar para o seu rosto bonito.
— Será um prazer — respondeu com um sorriso cheio de segundas
intenções, aceitando a minha mão. Com a outra, alisou o meu quadril até
alcançar a minha bunda, apertando-a com força. — Literalmente.
— Isso é bom... — Deslizei o meu nariz pelo seu pescoço perfumado,
arrepiando a sua pele ao mordê-la de leve. — E pode ficar ainda melhor, se
me deixar ficar no controle... Faz isso por mim? Hoje eu preciso estar no
controle, magrela — pedi, louco para pegá-la do meu jeito, pela primeira vez.
— Depende. O que pretende fazer exatamente? — perguntou com os
braços envolvendo o meu pescoço, esfregando os seios contra o meu peito. A
fricção dos seus biquinhos duros contra a minha pele me estremeceu de tesão.
— Pretendo te comer com força e te dar muito prazer. Com ordens,
palavrões, tapas na bunda, dedo no cu e pau na boceta. Sem romantismo ou
declarações. Quer?
— Credo, que horror... Porém quero. — Riu, enfatizando a última
palavra. Deslizou os dedos pelas minhas costas, me arranhando. Cacete...
— Entra no box. Mãos na parede — falei, me afastando para trancar a
porta do banheiro. Quando voltei, abri um sorriso ao vê-la com as mãos
magrinhas espalmadas contra os azulejos brancos, úmidos do vapor.
— Isso... — murmurei, punhetando lentamente o meu pau. Com a outra
mão, me ensaboei rapidamente, para tirar a sensação de hospital impregnada
na minha pele. Depois, deslizei o sabonete pelo corpo miúdo da minha
namorada, demorando na sua bunda. Deixei a água cair sobre nós e, em
seguida, fechei o chuveiro. — Abre mais as pernas e arrebita a bunda,
safada...
— Assim? — Madah escorregou os pés no chão molhado,
distanciando-os, empurrando um pouquinho a bunda para trás.
— Não. Assim... — Puxei bruscamente os seus quadris na minha
direção, com os dedos da mão esquerda apertando a sua carne. Com a mão
direita, agarrei a minha ereção, esfregando-a no vale entre as suas nádegas,
para cima e para baixo. — Bem putinha... Isso...
— Não era você que não gostava de prostitutas? — Ela riu, se
remexendo, tentando aumentar a fricção entre nós.
— Não gosto de putas. Gosto de te transformar na minha puta.
Entendeu a diferença? E não pode se mexer, ou vou te castigar. — Segurando
o meu pau encaixado na sua bunda, dei um tapa forte na sua nádega esquerda,
fazendo-a gemer.
— Ok. Não posso me remexer. Assim...? — perguntou, se remexendo
ainda mais. Safada.
— Caralho... Você gosta dos meus tapas? Sua cadela... Fica quieta. —
Dei outro tapa na mesma nádega, observando a sua pele delicada ficar bem
vermelha, marcada. Mais um, mais dois.
— Minha nossa... — Deixou escapar e acariciei com a mão esquerda as
marcas deixadas pelos meus tapas. Com a outra mão, deslizei lentamente dois
dedos desde a sua nuca, pela linha da coluna, até a bunda. Sua pele úmida,
quente e macia fazia o meu pau latejar, pesado. Dei um passo para trás,
afastando-o dela.
Continuei descendo com os dois dedos, escorregando entre as suas
nádegas, circulando o seu buraquinho virgem bem devagar. Passei a beijar o
seu ombro, encaixando a pontinha do meu indicador por fora do seu ânus
apertado, fechado.
— Ai... Isso é bom... — Ela gemeu, sem se segurar. Sorri de lado ao
perceber que ela poderia gostar de anal.
— Não te disse para ficar quieta? Já que não cala essa boca, vou ter que
ocupá-la. — Voltei a rodear as suas pregas com as pontas dos dedos, levando
a outra mão ao seu rosto, enfiando dois dedos entre os seus lábios. — Chupa,
minha putinha... Chupa com vontade.
Assim que a sua língua quente envolveu os meus dedos da mão
esquerda, chupando-os com força, desci mais os dedos da mão direita,
metendo de uma vez na sua boceta quente. Puta que pariu... Passei a enfiar e
tirar os dedos, deslizando na sua lubrificação, já desesperado para substituí-
los pelo meu pau.
Madah chupava os meus dedos com vontade, como se precisasse deles
para viver. Sua boceta pingava, melando os meus outros dedos que a
masturbavam, me mostrando que estava com tanto tesão quanto eu.
— Agora pode fazer barulho. Gemidos ou o meu nome. Nada mais.
Entendeu? — Ela fez que sim com a cabeça.
Sem parar de dedilhar a sua boceta, escorreguei os dedos da outra mão
pelos seus lábios, passando pelo queixo, descendo pelo pescoço, até agarrar
um dos seios. Apertei o biquinho com força, fazendo-a gritar. Sua boceta
pulsou forte, apertando os meus dedos e eu sabia que mais um pouco ela iria
gozar.
Ainda não.
Retirei as minhas duas mãos dela, dando um passo para trás. Quase ri
ao ver o seu olhar indignado, porém não falou nada, aguardando pela minha
próxima ordem.
— Mama. — Apontei para o meu pau carente de atenção e ela sorriu,
aprovando a ideia. Sem pensar, se ajoelhou, o abocanhando de uma vez.
Apertei os olhos, estremecendo. Porra, que delícia! — Vou foder a sua
garganta... Se prepara.
Agarrei os seus cabelos com as duas mãos, pronto para arremeter na
sua boca. Comecei devagar, impulsionando os meus quadris para frente e
para trás e depois acelerei, percebendo que ela daria conta. Madah se
segurava com os dedos na minha bunda, me apertando com força, se
firmando.
Eu via estrelas cada vez que a cabeça do meu pau se chocava contra o
fundo da sua garganta, com a sua língua me envolvendo e os seus lábios me
chupando. Que boquete do caralho...
Eu estava quase gozando, por isso parei. Então a puxei para cima e
beijei a sua boca, sentindo o gosto do sexo enquanto as minhas mãos
massageavam a sua bunda com brutalidade, apertando.
— Gosta mesmo quando eu te pego assim? — perguntei, sugando a
pele do seu pescoço e enfiando de novo os meus dedos na sua boceta quente,
pulsante. Ela gemeu comprido quando os girei dentro dela, tocando nas suas
paredes sensíveis. — Responda.
— Gosto. Muito — confessou, ofegante.
Tirei os meus dedos, posicionando a cabeça do meu pau na sua
abertura, abrindo seus lábios íntimos.
— Cadela safada... Gostosa para caralho... — murmurei, penetrando-a
lentamente, me empurrando centímetro por centímetro.
Meu pau escorregava justo, apertado, a tomando e abrindo. Porra...
Ergui uma de suas pernas, dobrei os meus joelhos e me impulsionei para
cima, me empurrando mais para dentro, até as minhas bolas colarem na sua
pele.
— Minha — rosnei, parado, todo enterrado nela, prendendo o seu olhar
no meu. — Diga.
— Sua — respondeu, sem desviar os olhos e uma corrente elétrica forte
me percorreu, quase me desequilibrando. Cacete...
Respirei a milímetros do seu rosto, sentindo a sua respiração tão falha
quanto a minha. E, segurando a sua coxa erguida com uma mão, passei a dar
estocadas firmes e precisas, sacudindo o seu corpo magro a cada investida.
Com a outra mão, provocava o seu ânus, o rodeando com as pontas dos
dedos enquanto beijava o seu pescoço, lambendo, mordiscando, chupando.
Pousei a ponta do indicador bem em cima do buraquinho e parei com as
estocadas na sua boceta.
— Relaxa agora... Vou enfiar lá atrás — sussurrei no seu ouvido e ela
fez que sim com a cabeça. Sua concordância silenciosa foi o suficiente.
Suguei o seu lóbulo macio e, ao mesmo tempo, empurrei o meu dedo
no seu cu, me enterrando até a metade. Puta que pariu... Viajei nas sensações,
desejando que fosse o meu pau naquela pressão toda.
Deixei-o parado ali e passei a investir de novo na sua boceta, metendo
enlouquecidamente. Colei os nossos lábios e, quando a sua boca se abriu me
recebendo, sorri ao me dar conta de que possuía todos os seus três buracos ao
mesmo tempo.
Sem fôlego, quebrei o beijo bem na hora que a senti estremecer, com o
orgasmo iminente. Aumentei o ritmo das estocadas, ainda com o meu dedo
enfiado no buraquinho de trás, e desci a mão livre pela frente, esfregando o
seu clítoris sem parar.
— Sin! — Ela explodiu com os espasmos mais fortes do que nunca,
com a musculatura da boceta apertando o meu pau com tanta intensidade que
gozei junto com ela, ejaculando com tudo.
— Porra, magrela! Caralho! — Bombeei mais algumas vezes,
alucinado. Levei as mãos às suas costas, abraçando-a apertado. — Perfeita.
Perfeita para mim. Te amo!
— E a parte do "sem romantismo e sem declarações"? — Ela riu,
ofegante, me abraçando de volta. — Você é um romântico, Davi Filipo.
— Você fala isso para o cara que meteu o dedo no seu cu?! —
esculachei, gargalhando. — Gostou da experiência? — Dei um tapinha de
leve na sua bunda, feliz.
— Demais... Nunca tinha me sentido tão... Tão possuída por você. —
Acariciou os meus braços lentamente, arrepiando os meus pelos. — Amor...
Você estava por todos os lados, em todas as partes ao mesmo tempo. Você é
perfeito para mim. Te amo!
Dei um beijo simples nos seus lábios, com o coração batendo acelerado
dentro do peito. Ela me fazia tão bem!
Depois, abri o chuveiro, me deliciando com a água quente escorrendo
pelo meu corpo.
— Vou lavar você. Pode descansar, minha magrela... — falei, sorrindo
como um adolescente apaixonado. Ela sorriu de volta e encostou as costas na
parede, me encarando com o rosto alegre, com as bochechas rosadas. Linda.
Peguei o chuveirinho e, com a outra mão, fui ensaboando o seu corpo
delicado. Pescoço, ombros, peitinhos, barriga e, quando cheguei na boceta,
fiquei vidrado ao vê-la toda melada com a minha porra. Lavei ali bem
devagar, intercalando a minha mão e o chuveirinho, hipnotizado pelas suas
dobras. Sem pensar me ajoelhei na sua frente, com água na boca.
— O que está fazendo aí? — Ela mordeu o lábio, estranhando os meus
olhos a centímetros do seu sexo. Sua boceta estava mais vermelha e inchada e
quase me arrependi das investidas brutas de minutos atrás.
— Estou vendo se está ficando bem limpa... — respondi com o olhar
fixo no meu dedo que deslizava para cima e para baixo entre os seus lábios
íntimos, os acariciando.
— Davi Filipo... — Ela falou, em um misto de gemido e bronca e,
quando abriu mais as pernas, entendi o recado. Soltei o chuveirinho e passei a
beijá-la delicadamente, sugando as suas dobras quentes, lambendo o seu
grelinho judiado, circulando a sua abertura com a língua. — Você não existe.
Isso não é normal... — Madah agarrou os meus cabelos molhados, rindo. —
É tarado demais!
— Está reclamando? Quer que eu pare? — Afastei a boca e passei a
penetrá-la com um dedo, entrando e saindo, devagar.
— Não... — gemeu, apertando os olhos.
— Você é quem manda agora, magrela. O que quer de mim? —
perguntei, com o dedo ainda nela, a masturbando.
— Continua... Me chupa, usa o dedo também... Minha nossa... —
Arfou quando chupei o seu clítoris com cuidado.
Ignorei o incômodo dos joelhos contra o chão duro e passei a degustar a
sua boceta sensível, primeiro a lambendo com a língua aberta e com um dedo
girando lá dentro. Em seguida, com os polegares, a abri bem, pinçando
delicadamente os seus lábios íntimos macios.
Enfiava e tirava a ponta dura da língua, me deliciando com o seu gosto
quente e levemente salgado. Quanto mais ela gemia, mais eu me empolgava,
até que passei a pincelar sem parar em cima do clitóris para escutar a sinfonia
arrepiante dos seus gemidos.
Madah já se contorcia apertando os meus ombros quando passei a
meter dois dedos nela, lambendo cada vez mais rápido o seu pontinho
sensível. E, quando levei a outra mão à sua bunda, circulando de novo o seu
ânus e espalhando até ele a lubrificação quente da sua boceta, quase dei
risada ao ouvi-la pedir:
— Enfia o dedo no meu rabo, vai... É tão bom...
Não precisou pedir duas vezes.
Fui empurrando o dedo do meio ali, até o final, mexendo-o para os
lados para que a sua musculatura virgem se acostumasse a ele. Puta que
pariu... Meus batimentos se aceleraram enlouquecidamente, em euforia.
E, com os meus dedos estimulando os seus dois buracos, acelerei as
pinceladas no grelinho até a magrela se desmanchar na minha boca, em um
orgasmo comprido que prologuei ainda mais a chupando durante os
espasmos.
Minha ereção pulsava com a cena absurdamente erótica, batendo na
minha barriga.
Depois que retirei os meus dedos, me sentei com as costas no azulejo
molhado. Punhetei o meu pau que doía de tão duro, gozando em um recorde
de cinco segundos. Cacete!
— Davi Filipo... — Madah murmurou, sem ar, deslizando o corpo até o
chão. Eu a puxei para o meu colo, sentindo a sua respiração descompassada.
— Você é terrível! Nunca mais vou tomar banho com você!
— É mentira... — Dei risada, abraçando-a com carinho.
— É mentira, sim. Você é maravilhoso... — falou, me arrancando um
grande sorriso.
O sexo mudou o meu humor, cem por cento, para melhor. Eu me sentia
leve, cheio de energia, vivo. A magrela era foda... A cada dia que passava eu
a amava mais.
Capítulo 53

Eu estava vulnerável
Fui um tolo por deixar
Você derrubar minhas barreiras

Love Yourself | Justin Bieber


Enrico Lorenzo Sintori "Rico"

DIAS DEPOIS
Estava à mesa com a minha família, terminando o almoço de domingo.
Eu não via Paolo desde que o deixei em casa ao voltarmos do hospital de
Guarulhos. Ele não me procurou mais e nem eu fui atrás dele.
Era uma merda, sentia a sua falta para cacete, porém não tinha coragem
de tomar a iniciativa. Ele estava certo... Eu não passava de um covarde idiota.
Cheguei a lhe digitar umas dez mensagens, só que depois as apaguei,
uma por uma. Amarelei na hora H, como sempre. Sofria imaginando que ele
já tinha voltado à ativa, com as festinhas regadas a sexo e orgias. Pelo menos
um de nós sabia se divertir...
Perdi a fome antes do final de refeição e deixei a mesa, me
acomodando no sofá com uma almofada macia atrás da cabeça, me
afundando em um poço de autopiedade.
— O que foi, hein? Que cara de bunda é essa? Continua brigado com
Paolo? — Sin se jogou do meu lado enquanto a princesa continuava sentada à
mesa, para variar repetindo a sobremesa.
— "Brigado", não. Nós não estamos mais juntos — respondi. Falar em
voz alta doía ainda mais.
— Bem que eu percebi... — Meu irmão balançou a cabeça, pensativo.
— Ontem, no ensaio, ele estava insuportável. Mal-humorado a porra do
tempo inteiro... Até jogou o microfone no chão quando Marco sugeriu que a
gente tocasse "I don't care". É a música de vocês ou o quê?
Meus batimentos falharam com a lembrança de quando a ouvimos
juntos, no banco de trás do carro. Sua voz rouca surgiu com tudo na minha
mente: "Nem acredito que hoje você me deu abertura. Até que enfim... Tenho
tesão por você desde os doze anos, cara..."
— É... A gente se pegou pela primeira vez com esta música tocando no
rádio... — confirmei com um sorriso fraco nos lábios.
— A primeira vez?! Então foi na minha Ruiva, não foi, seu
arrombado?! — Me deu um soco fraco no braço, rindo.
— Ah não, de novo o papo da Ruiva, não! — Soltei uma risada,
massageando o meu braço no local do soco, dolorido.
— Brincadeira. Já superei... Rico. Falando sério agora. Paolo tá na
merda, tanto ou mais do que você. Manda uma mensagem para o filho da
puta.
— Não sei... — Retirei o celular do bolso, indeciso. — Até queria...
Mas acho que não consigo.
— Dá essa porra aqui... — Sin puxou o telefone da minha mão,
destravando a tela e acessando o WhatsApp em um piscar de olhos.
— Como você sabe a minha senha?! — Franzi a testa e Sin não falou
nada, segurando o riso. Depois, passou a digitar rapidamente, concentrado. —
Ei... O que você está escrevendo aí, pirralho? Quero ler antes de enviar e...
— Ops! Já foi! — Gargalhou, jogando o aparelho no meu colo, se
levantando. — Não precisa me agradecer.
Com o coração na garganta, peguei o celular com medo de ler o que ele
tinha escrito. Quase me engasguei com a saliva ao encontrar a mensagem:
E: Paolo. Tudo bem? Vou ser direto. Sou um imbecil. Estou na merda
sem você, gato. Me encontra hoje às 20:00 na Rainbow?
Cacete, Sin... Não podia ter sido mais sutil?! E ainda o chamou para a
porra de uma balada LGBT?! Fiquei sem reação por algum tempo e, quando
pensei em deletar a mensagem, Paolo deu sinal de vida.
P: “Gato”?! Enrico, você bebeu? Mas... Se estiver falando sério, eu
vou.
E: Na verdade, foi o idiota do Sin que escreveu a mensagem... Porém
eu quero te ver. Muito.
P: Eu também quero. Nos encontramos lá? Vou direto de um ensaio do
Teatro, talvez eu me atrase dez ou quinze minutos. Ok?
E: Ok. Combinado.
Eu não conseguia segurar o sorriso que esticava os meus lábios,
fazendo com que Sin começasse a rir lá do outro lado da sala.
— Encontro marcado, Ricão?! Boa balada!
Seu olhar fazia as minhas bochechas se esquentarem. Eu o fuzilei com
os olhos, mas depois dei de ombros e gesticulei um "positivo" com o polegar.
Pelo menos iria me encontrar com Paolo e torcia para que conseguíssemos
nos acertar. Ao ver o meu gesto, Sin "respondeu" puxando os cotovelos na
direção do corpo com os punhos cerrados e, fazendo menção ao ato sexual,
passou a rir sem parar. Crianção de tudo!
O caçula estava mais animado do que o normal, chegando a ser quase
irritante a sua felicidade. Isso porque naquela manhã a Polícia obteve as
imagens das câmeras de segurança do vestiário, lá da quadra de Guarulhos,
conseguindo flagrar Eduardo colocando um pó na garrafa de isotônico. Ou
seja, o advogado de Domenico já poderia fazer a notícia-crime para que um
inquérito policial fosse aberto contra o nerd. Eduardo se ferrou.

Depois do banho, experimentei quinhentas roupas, ansioso. Arrumei os


cabelos, percebendo pelo reflexo do espelho os meus dedos trêmulos
penteando as mechas escuras.
Me lembrando das mensagens que troquei com Paolo, um detalhe me
incomodava mais e mais com o passar do tempo. Ele disse que se atrasaria
por causa de um "ensaio do Teatro". Seria com os mesmos garotos que
participaram daquela orgia na sua casa? Ele se pegaria com algum deles antes
de ir ao meu encontro?
Uma pontada incômoda de ciúmes me tirava a paz, revirando o meu
estômago. Sabia que nós não estávamos juntos, mas a ideia de que ficasse
com outra pessoa me perturbava mais do que eu estava disposto a admitir.
Um pouco antes das oito, chamei o Uber. Não quis ir para a Rainbow
de carro porque, além de ser difícil encontrar vaga para estacionar na Vila
Madalena, pretendia beber. Não gostava de encher a cara, mas duas ou três
cervejas para relaxar até que poderiam cair bem.
Meus batimentos estavam acelerados, com a ansiedade à flor da pele.
Eu não via a hora de rever Paolo e pedir que me desse mais uma chance.
O trajeto foi feito em poucos minutos, domingo à noite não havia
trânsito na cidade. E, assim que o carro fez a curva na rua da Rainbow, de
longe, vi o letreiro com o nome e o arco-íris, deixando bem claro qual era o
público-alvo do estabelecimento.
Nunca fui a um local assim e me perguntava o que encontraria lá
dentro. Em vez que marcar o encontro em um cinema ou em uma livraria, o
pirralho me ferrou com a ideia da balada gay.
Respirei fundo, tentando não ficar nervoso com o possível julgamento
do motorista do Uber, quando se desse conta do meu destino. Felizmente ele
não fez um único comentário ao estacionar em frente à entrada.
Do lado de dentro, o ambiente era escuro, com luzes coloridas piscando
no ritmo das músicas escolhidas pelo DJ. Pelo menos o som não era alto
demais, assim eu conseguiria conversar com Paolo sem precisar gritar.
Me sentei em banco alto junto ao balcão do bar, pedindo uma cerveja
long neck ao garçom. Peguei o celular no bolso para ver se tinha alguma
notícia de Paolo. 20:05. Nada. Ele bem que avisou que atrasaria um pouco,
por isso relaxei e comecei a tomar a minha cerveja.
— Oi. — Do nada, um cara se sentou do meu lado, apoiando o cotovelo
sobre o balcão perto da minha bebida. — Vem sempre aqui?
— Hum... — Quase revirei os olhos com a cantada manjada. Suas
sobrancelhas espessas escuras e a barba comprida e bem aparada lhe
conferiam um ar misterioso. Balancei a cabeça e baixei o olhar para o chão,
sem graça. Usando mocassim marrom, calça jeans e camisa social branca,
parecia uns bons anos mais velho do que eu.
— Ok, isso foi péssimo. Me desculpe pela falta de jeito... Não sei bem
como puxar assunto. Acabei de me separar, depois de um relacionamento de
mais de dez anos. Acho que estou enferrujado... — Sorriu e não tive coragem
de ignorá-lo.
— Certo... É a primeira vez que venho aqui e... — Não soube como lhe
falar que não estava interessado. — E estou esperando uma pessoa.
— Você é compromissado?
— Não exatamente. É... Complicado.
— Posso esperar com você? Quando a pessoa chegar, eu saio. —
Levantou a sua cerveja, encostando a garrafa na minha em um sinal de
brinde. — O que faz da vida?
— Faculdade, de Artes Plásticas — respondi, sem conseguir sustentar o
seu olhar.
— Jura? — falou, empolgado. — Sou professor universitário, na
cadeira de História da Arte. Me conte mais a seu respeito. Você pinta,
desenha, esculpe...? Já montou alguma exposição?
— Não. Quer dizer, eu desenho, mas nunca expus, não sou tão bom
assim. — Peguei o celular no bolso. Quinze minutos de atraso.
Paolo, cadê você? Me perguntei mentalmente. Ele estaria a caminho?
— A pessoa com quem você marcou se atrasou? — perguntou,
percebendo a minha preocupação. — É ele ou ela?
— Ele. Mas avisou que atrasaria mesmo... Daqui a pouco deve chegar.
Espero. — Suspirei, guardando o aparelho no bolso.
— Ok. Enquanto ele não chega, quero te conhecer melhor. Me chamo
João. E você?
— Enrico.
— Muito prazer. — Estendeu a mão e eu a apertei com certo receio. —
Quantos anos você tem?
— Vinte, e você?
— Trinta e dois. Mas não pense que sou muito mais experiente... Com
vinte anos, conheci o meu parceiro e nos separamos há pouco tempo. —
Abriu a segunda cerveja, pensativo. — É... Doze anos. Doze anos de
relacionamento monogâmico e estável. Foi bom enquanto durou.
Interessante. Pelo jeito as pessoas ainda se relacionavam por longos
períodos, com estabilidade e fidelidade. Nem todo mundo era "alma livre".
— E por que acabou? — perguntei por curiosidade, arrancando um
sorriso dele.
— O de sempre. A paixão acabou. Tornamo-nos apenas amigos.
— Entendi.
Pelos próximos minutos, tomei mais duas cervejas e conversei com
João sobre assuntos aleatórios. Mais solto graças ao álcool, eu estava me
divertindo com a sua companhia.
De repente, resolvi olhar as horas mais uma vez. Gelei ao ver que já
passava das nove. Abri rapidamente o WhatsApp para ver se havia alguma
mensagem de Paolo que justificasse tamanho atraso e... Nada. Não podia
acreditar que levei um cano! Cacete...
— Ele não vem? — João perguntou, atraindo a minha atenção. Ele me
analisava com cuidado, atento.
— Acho que não. Vou tentar telefonar, de repente aconteceu alguma
coisa... — Disquei o número de Paolo e...
— Está desligado — murmurei, com o coração apertado dentro do
peito, desanimado. — Acho que eu vou embora para casa...
— Fica mais um pouco. Já vai começar o show da banda Liberdade
Alternativa, é bem bacana. Meu irmão é o baterista.
— Meus irmãos também são músicos, que coincidência... — respondi
sem ânimo, com o rosto baixo. Então a sua mão cobriu a minha sobre o
balcão. João mexeu os dedos lentamente, me deixando em alerta. Seu toque
era quente e pesado.
— Fica. Por que ir para casa, se pode se divertir aqui comigo?
Pensei em Paolo no ensaio com os "amigos" do Teatro, ignorando o
nosso encontro e tomei uma decisão no impulso, o que era absolutamente
raro na minha vida. Sim. Eu iria ficar.

Prensado contra uma das paredes, João me beijava lentamente, com


devoção. Seu gosto de cerveja e menta era delicioso e sua barba macia me
arrepiava quando descia com os lábios pelo meu pescoço, indo e vindo. Ao
contrário de Paolo, João parecia não ter pressa de me degustar. Suas mãos
apertavam suavemente a minha cintura, sem me apavorar. Diferente.
Diferente e bom.
— Enrico... — Afastou o rosto, com os lábios mais vermelhos de me
beijar. — Gostaria de sair de novo com você. Se você também quiser.
— Quero.
— Me empresta o seu celular, vou deixar o meu número. — Estendeu a
mão e eu peguei o telefone no bolso, destravando a tela.
Espiei mais uma vez o WhatsApp, para checar se havia alguma
mensagem de Paolo. Nada. Entreguei o aparelho a João, que discou do meu
número para o seu.
— Pronto. Já tenho o seu número e você tem o meu. Vamos combinar
algo? Esta semana começa a exposição de Arte Moderna no MASP e sou um
dos organizadores. Seria um prazer mostrá-la a você.
Eu sorri em resposta, gostando da sua ideia. Adorava ir ao MASP e...
Meus pensamentos se interromperam com o meu celular vibrando na minha
mão. Desci os olhos, franzindo a testa ao ler o nome dele.
— Marco? — perguntei, apertando o aparelho contra o ouvido, com a
música de banda me atrapalhando. Me afastei de João, murmurando um "com
licença."
— Enrico. Onde você está? Que barulho é esse? — Mesmo com a
música abafando a sua voz, pude notar o seu nervosismo, fazendo um arrepio
horrível subir pela minha espinha, pressentindo más notícias. — Aliás, não
importa. Saia daí agora e venha para o Pronto Socorro Vila Madalena. Paolo
está fodido, cara... E não para de chamar pelo seu nome.

— Sin... — falei, tremendo da cabeça aos pés. — Estou no Uber a


caminho do Pronto Socorro Vila Madalena. Me encontra lá? Por favor?
— Porra, Rico... O que você tem?
— Não sou eu... É o Paolo. Não sei o que aconteceu, mas Marco disse
que ele está fodido e... Por favor, preciso...
— Pode deixar. Já vou sair de casa. Madah e Domenico estão aqui, eles
vão comigo. Te encontramos lá em dez minutos. Respirei fundo, um pouco
mais calmo por saber que podia contar com ele. Pelo jeito a gente estava
evoluindo...
Assim que desci do Uber, vi a SUV do meu irmão entrando a toda
velocidade no estacionamento. A princesa pulou do banco do passageiro e
correu até mim.
— Vou procurar uma vaga e já encontro vocês! — Sin gritou,
arrancando com o carro, com o meu pai ainda lá dentro com ele.
— Obrigado por ter vindo. — Eu a puxei pela mão e passamos pelas
portas de vidro da entrada. — Estou tão nervoso... Marco não me explicou
nada e...
— Marco está ali! — Madah apontou para ele na área da recepção,
sentado com o rosto enfiado nas mãos. Aquilo não era nada bom...
— Marco...? — chamei ao me aproximar e ele ergueu o rosto para
mim. Seus olhos vermelhos mostravam que havia chorado, me desmontando
inteiro. Merda! — O que aconteceu?!
— Um bando de homofóbicos, filhos de puta, que... Quase mataram o
meu irmão, Rico.
— O quê?! Explica isso direito! — Me sentei do seu lado, com a
cabeça latejando, explodindo.
— Parece que ele estava na esquina da Rainbow, a pé. Uns caras
perceberam que era gay e... Arrastaram Paolo até um beco ali perto e bateram
nele sem dó. Destruíram o meu irmão. E ainda levaram a carteira e o celular,
por isso demoraram para me chamar. — Marco enxugou as lágrimas,
respirando fundo antes de continuar, desolado. — Paolo só foi identificado
por causa de uma tatuagem no braço, que a auxiliar de enfermagem
reconheceu por acaso como sendo da banda e... Consegui vê-lo antes que o
colocassem em coma induzido. O meu irmão não parava de delirar,
chamando pelo seu nome. Ele está todo deformado, Rico. Não me conformo,
caralho! — Deu um soco na cadeira de plástico desocupada ao lado, com o
estrondo atraindo a atenção das pessoas ao redor, curiosas.
Eu não conseguia organizar a porra de uma frase, enjoado, com a culpa
me corroendo. Enquanto Paolo apanhava dos covardes desgraçados, eu me
pegava com um estranho na balada. Puta que pariu... Como pude?!
— E o que os médicos disseram, Marco? Qual é o quadro dele? — A
princesa quis saber, com a voz preocupada. Como se adivinhasse, um médico
de meia idade surgiu na recepção, perguntando em voz alta:
— Parentes de Paolo Fontini?
— Aqui! — Marco levantou o braço e fomos correndo até o médico
grisalho. O bordado no jaleco indicava seu nome. Dr. Érico Novaes. — Pode
falar, doutor.
— Serei direto. Tenho uma boa e uma má notícia. Primeiro, a boa.
Conseguimos estabilizá-lo, mas por pouco tempo. O paciente perdeu muito
sangue e precisará de uma transfusão com urgência. E esta é a má notícia.
Seu sangue é um dos mais raros de todos. Não o temos em estoque. Sem ele,
em poucas horas perderemos o paciente.
Levei um choque com as suas palavras, percebendo Marco estremecer
do meu lado.
— E não podem trazer as bolsas de outros hospitais...? — Madah
perguntou. Pelo menos um de nós parecia ainda conseguir raciocinar.
— Já ligamos em todos os hospitais parceiros. Ninguém tem este
sangue e...
— Que sangue? — Marco interveio. — Sou irmão dele, posso doar!
— Isso é bom. Vamos testar o seu sangue para verificar a
compatibilidade. Paolo tem o chamado Falso O, também conhecido como
Bombay ou Bombaim. É herdado geneticamente, de um dos pais.
— Deve ser do meu pai... — disse o meu amigo. — Minha mãe é O
positivo, estou acostumado a acompanhá-la nos exames. A merda é que o
meu pai está fora do país. Já telefonei para ele para contar o que houve e me
garantiu que voltaria no primeiro voo, só que deve demorar mais de um dia...
— Não temos tanto tempo, infelizmente... — O médico falou com o
tom grave. — Vamos então torcer para que você seja compatível, rapaz.
— Dr. Érico. Posso me oferecer também para o teste de
compatibilidade? — perguntei, desesperado. — Vai que...
— Podemos. Porém é praticamente impossível que alguém que não seja
da família apresente o sangue Falso O. Pelo o que me lembro, há uma apenas
uma dúzia de famílias no país com este sangue.
— Eu me ofereço para o teste também! — Madah ofereceu, solícita.
— Ótimo — respondeu o médico. — Vamos já pegar as amostras de
vocês três.
Minutos depois, na sala da recepção, aguardávamos o resultado do
teste. Sin e Domenico já estavam conosco, em um silêncio tenso, com a
ansiedade palpável entre nós. De repente, o médico passou pela porta,
sorridente, balançando um papel em uma mão.
— Boa notícia! Temos uma compatibilidade! — avisou, sorrindo, e
Marco já se levantou. Respirei fundo, aliviado.
— Você, não. — O médico gesticulou para que ele se sentasse de novo.
— Você. Venha, garota. Vamos fazer a transfusão agora mesmo.
Madah se levantou em um pulo, com os olhos arregalados. Todos
ficaram paralisados, menos Domenico, que ficou em pé e apertou o ombro
dela em um gesto amistoso, sorrindo.
— Vamos logo. — O médico a puxou e se foram.
— Pai, o que você sabe que nós não sabemos? Você nem ficou tão
surpreso com o resultado... Por quê? — Sin perguntou a ele e eu nem pisquei,
atento.
— Tio Domenico...? — Marco murmurou, com a voz instável.
— É uma longa história. Marco... Eu queria esperar o retorno do seu
pai para confirmar com um teste de DNA e... — Pousou uma mão no ombro
dele, firme. — Pelo jeito Madeleine é filha de Giuliano. Você tem uma irmã
caçula.
Capítulo 54

Você quer esse meu amor?


A escuridão nos ajuda a brilhar
Você o quer agora?

Dark Necessities | Red Hot Chili Peppers


Enrico Lorenzo Sintori "Rico"

Meu pai lançou a bomba e por segundos ficamos mudos, sem reação.
Madah era a filha caçula do tio Giuliano.
— Preciso ficar sozinho. — Pálido, Marco se levantou e, enterrando os
dedos nos cabelos curtos, se foi.
— Pai... — Sin se virou para Domenico. — Que merda, hein? Madah
me disse que o pai dela queria que a mãe abortasse e... Como o tio Giuliano
pôde? E você, sempre soube?
— Ela te contou sobre o aborto? Che cavolo... Não, filho, eu não sabia.
Porém, quando Madeleine passou a morar com a gente, comecei a reparar em
certos detalhes. Giuliano me telefonou mais de uma vez, interessado em saber
sobre ela, fazendo perguntas demais. Além disso, a menina tem o mesmo
sorriso dele. Você sabe, sou amigo de Giuliano desde a época de escola.
Enfim, eu o pressionei e ele me confessou ter tido um caso com Heloise na
época em que ela trabalhava na empresa.
— Caralho... — Meu irmão esfregou os olhos, perturbado. — Mas e a
porra do lance do aborto? Ele confessou também?
— Sim. Giuliano disse que entrou em pânico com a gravidez de
Heloise porque a esposa estava em uma fase muito delicada de saúde e, se
descobrisse, seria terrível... Mas ele se arrepende e está com boas intenções,
disposto a consertar o erro com Madeleine. Está ansioso para conhecê-la.
— Não sei se acredito nessas boas intenções — Sin rebateu com o olhar
duro. — Não confio na aproximação dele, é um risco para a minha namorada.
Ele queria que a mãe dela abortasse, cacete...
— Filho... Os problemas de adultos são diferentes. Não é incomum que
os pais, digo, o pai ou a mãe, entrem em pânico diante de uma gravidez não
planejada, cogitem em aborto e... — Domenico se interrompeu, alisando a
barba grisalha. — E, depois do nascimento da criança, tornem-se ótimos pais.
Fique tranquilo. Ele não faria mal a ela ou a qualquer pessoa.
Eu não tinha como discordar do meu pai. Embora tio Giuliano tivesse
falado para a mãe de Madah abortar, não poderia compactuar com a ideia de
Sin, de que ele ainda seria um risco a ela.
— Concordo com o pai, Sin. Tio Giuliano não faria mal a ela. —
Opinei, repetindo as palavras de Domenico, procurando acalmar o meu
irmão.
Ficamos todos em silêncio, perdidos em pensamentos. Até que o
médico apareceu e nos levantamos para falar com ele.
— Novidades?! — perguntei, com a ansiedade me consumindo.
— Vim lhes contar que está tudo certo. A transfusão está em
andamento. Retiramos duas bolsas da doadora que agora está descansando.
Por causa do baixo peso tivemos que ser cautelosos.
— Mas ela está bem?! — Sin quis saber, apreensivo. Previsível que se
preocupasse, a princesa era o seu ponto fraco.
— Está. — O médico assentiu com a cabeça. — Só precisa descansar
um pouco. Com licença. Retorno quando tiver mais notícias.
Voltamos a nos sentar assim que ele se afastou, todos mais aliviados.
— Meninos... Agora que sei que os dois estão bem posso ir embora. —
Domenico se levantou, mexendo no celular. — Tenho uma reunião com
empresários do Japão daqui a pouco. Wilson está vindo me buscar. Vocês
estão de carro, certo?
— Estamos. Tudo bem. Vai lá, pai — respondi e ele acenou, se
afastando. Esfreguei os olhos, cansado, ainda com a culpa me apertando o
peito.
— Rico... Acha que devo ir atrás do Marco?
— Melhor não. Dá um tempo... Marco disse que queria ficar sozinho. É
uma novidade e tanto para a cabeça dele.
— Filha do tio Giuliano... — Sin murmurou, balançando a cabeça. —
Eu não fazia ideia. E você?
— Para falar a verdade, eu já desconfiava. O fato de Domenico ter ido
buscá-la... E, depois, falar para não deixar Marco se aproximar dela... Fui
juntando as peças. Não foi tão difícil assim suspeitar de que fosse filha do tio
Giuliano.
— Porra... Eu me esqueço de que você é o mais inteligente de todos.
Anos e anos com a cara enfiada nos livros te serviram para alguma coisa.
Continua virgem, porém um virgem inteligente.
— Cala a boca, vai... — Empurrei o seu ombro, rindo do seu
comentário desnecessário.
— Sabia que, quando ela começou a me contar a história, eu pensei que
a magrela fosse filha do nosso pai? Me desesperei por um segundo, com
medo de ter praticado incesto. Sou imbecil para caralho!
— Às vezes... — respondi. — Às vezes para caralho, às vezes só um
pouco. Mas definitivamente um imbecil. — Dei risada e ele me deu um tapa
na nuca.
Apesar do clima tenso, eu estava gostando de conversar com o meu
irmão. Sin nunca tinha me falado tantas coisas na vida como nestes últimos
dias.
— Rico, como você acha que Paolo e Marco vão lidar com a novidade?
Bem ou mal?
— Paolo não gosta muito dela, você sabe... Mas vai ter que gostar.
Gostar e ser grato. A princesa literalmente deu o sangue para ele. Já Marco
talvez seja mais difícil, por ser muito ligado à mãe. Deve estar aborrecido por
ter descoberto que o tio Giuliano teve uma filha com uma amante.
— O tio Giuliano é foda... — Sin suspirou, jogando a cabeça para trás.
— Igualzinho ao nosso pai. Será que é tão difícil assim? Se manter fiel em
um relacionamento longo?
— Não sei. Acho que para algumas pessoas deve ser mais difícil... Sei
lá. Você sabe que não tenho experiência em relacionamentos.
— Mas o que você pensa a respeito? Hipoteticamente?
— Penso que... Deve ser normal se sentir tentado. Os nossos hormônios
trabalham assim. Por exemplo... Eu gosto de verdade do Paolo, mas isso não
impede que eu ache outras pessoas interessantes. — Logo pensei em João,
mas pisquei os olhos para afastar a lembrança dos nossos beijos. — A
diferença está nas escolhas que fazemos diante das tentações. Se eu estivesse
em um relacionamento com ele, eu não o trairia. Eu jamais o magoaria de
propósito. A minha escolha seria respeitá-lo, sempre.
Sin me olhou com admiração e, para minha completa surpresa,
enganchou um braço por trás do meu pescoço e, com a outra mão, bagunçou
os meus cabelos, sorrindo.
— Caralho, Rico! Você é tão... — Deu risada enquanto eu tentava me
soltar dele, sentindo o seu braço me esmagar, apertando. — Maduro. Sábio.
Sei lá que porra... Sou teu fã. E concordo contigo, cara. Eu não quero trair a
magrela, nunca. Só de pensar em quanto isso a machucaria... Eu amo aquela
garota.
— Me solta! — Me levantei e passei a arrumar o meu cabelo
bagunçado. — Você é pentelho demais, cara, como ela te aguenta?!
— Fazer o que, sou irresistível... — Sorriu de lado, colocando a mão
por trás da própria nuca, convencido.
— Agora, falando sério... Nunca pensei que te veria assim com uma
garota. Evoluiu demais... Gosto disso. Você está crescendo, pirralho.

Horas depois, acordei do meu cochilo sentindo uma mão me apertar


suavemente no ombro. Abri os olhos, vendo a princesa em pé na minha
frente, com uma mão em mim e a outra no meu irmão.
— Meninos... Acordem. — Ela parecia mais pálida, porém exibia um
sorriso tranquilo nos lábios. — Vocês vão ficar doloridos dormindo assim,
sentados... O médico falou que vai vir conversar com a gente em cinco
minutos. Cadê Domenico e Marco? — Olhou ao redor da recepção do
Pronto-Socorro.
— É... — Meu irmão começou, sem jeito, esfregando os olhos. —
Domenico foi embora e Marco foi lá para fora depois que...
— Depois que...? — perguntou, sentando-se ao lado do namorado.
Prendi o ar com medo da sua reação quando soubesse da revelação que meu
pai fez.
— Que Domenico falou sobre... — Sin parecia perdido, pensando nas
palavras. — Sobre o porquê da sua compatibilidade sanguínea com Paolo.
— Explica direito, Davi Filipo.
— Eu não fazia ideia, mas... A verdade é que... Parece que você é filha
do tio Giuliano, magrela. Paolo e Marco são seus irmãos.
— Meu Deus! — Madah arregalou os olhos, surpresa. — Rico! Você já
sabia?
— Eu até suspeitava, mas... Mas ninguém aqui sabia, exceto o meu pai.
Foi um choque. Para todo mundo. Principalmente para Marco.
— Quero falar com ele. Agora. — Ela se levantou rapidamente e o meu
irmão a acompanhou, afastando-se de mim.
Preocupado, torci para Marco não a destratar. Baixei a cabeça,
aborrecido. Era estresse atrás de estresse. Como se já não bastasse Paolo lá
dentro, todo quebrado...
— Onde estão os outros? — A voz grave do médico chegou aos meus
ouvidos. Ergui o rosto e o vi na minha frente, com o semblante sério.
— Não sei. Lá fora, eu acho... Aconteceu alguma coisa? — Me levantei
com as pernas tremendo.
— Já terminamos a transfusão, que foi um sucesso, e suspendi a
medicação que o mantinha em coma induzido. O paciente deve acordar a
qualquer momento. Preciso que alguém esteja lá para checar a integridade da
sua memória e das demais funções cognitivas.
— Integridade...? Como assim? — Minha cabeça espanou, com a
pressão me ensurdecendo. Eu tentava debilmente prestar atenção nas palavras
do médico.
— Por ter apanhado bastante na região posterior do crânio, talvez tenha
sequelas, como perda de algum dos cinco sentidos, ou amnésia.
— Cacete... — murmurei sem pensar. — Me desculpe.
— Entendo a sua reação. O paciente é músico, não é? Espero que a fala
e a audição estejam intactas. Os danos físicos já pudemos delimitar. Um
braço quebrado, quatro costelas fraturadas, cortes e hematomas no rosto e no
tronco. Pelo menos a hemorragia foi controlada e não houve lesões mais
graves, como à coluna vertebral.
— Ok. — Tentei não me prender à descrição dos danos. — Vamos lá...
Quero entrar. — Respirei fundo, procurando controlar a vontade de chorar.
— Você e o paciente são amigos? — perguntou enquanto eu o seguia,
passando pela porta que levava à área interna.
— Não. Amigos, não — tomei coragem para falar a um estranho, pela
primeira vez, o que todas as minhas células gritavam no meu íntimo. —
Somos parceiros. Sou apaixonado por aquele garoto.
Sem parar de andar, o médico se virou para mim, assentindo com
cabeça, calmo.
— Fique tranquilo. Ele vai ficar bem.
Poucos metros depois, ele abriu a porta do quarto e, com o coração na
mão, entrei no recinto. Meus olhos logo se pousaram sobre Paolo que parecia
dormir na cama. Uma enfermeira baixinha estava ao seu lado mexendo no
monitor cardíaco.
Meu estômago se revirava mais e mais conforme eu me aproximava
dele, enxergando aquele quadro assustador. O nariz deformado, o lábio
inferior estourado, o olho inchado em meio a um hematoma roxo quase preto,
a sobrancelha disforme com um corte fechado por meia dúzia de pontos.
Porra...
Que estrago fizeram com você, Paolo...
Corri os olhos pelo seu corpo parcialmente coberto pelo lençol. O seu
braço esquerdo estava imobilizado e o direito tinha uma agulha espetada. O
monitor cardíaco mostrava os seus batimentos e a pressão estáveis, o que me
trouxe um pouco de alívio.
— Ele ainda não acordou? — perguntei retoricamente ao médico,
percebendo que ele escrevia algo no prontuário.
— Pelo jeito não... — respondeu, sem me olhar. — Pode ficar aqui
esperando, ou chamar outra pessoa. Um acompanhante por vez.
— Eu quero ficar.
— Muito bem. Apenas devo alertá-lo sobre uma questão. Não sabemos
como ele irá se comportar ao acordar. Se irá reconhecê-lo.
— Certo. Ainda assim vou ficar — afirmei, gelando com a
possibilidade de que Paolo não me reconhecesse. O médico balançou a
cabeça em concordância e depois se virou para a enfermeira.
— Denise, me chame assim que o paciente despertar.
— Perfeitamente, Dr. Érico.

Os minutos se arrastaram em uma agonia inquietante. Fiquei sem saber


o que fazer. Deveria permanecer aqui ou voltar para a recepção? Eu andava
para lá e para cá pelo quarto, agitado demais para me sentar.
De repente, vi a enfermeira mexer mais uma vez nos aparelhos médicos
presos ao corpo de Paolo, concentrada.
— Ele estava sentindo muita dor? — indaguei, mas logo me arrependi.
Que pergunta mais idiota... Era óbvio que deveria estar passando mal de dor.
— Pelo menos não sente mais... — Ela apontou para o soro pendurado
ao lado da cama. — Morfina.
— Obrigado. Fico mais tranquilo em saber.
— Você está bem? — A mulher se aproximou de mim. — Parece
pálido. Não quer se sentar um pouco?
— Estou bem. Impactado com tudo isso e... Sei lá.
— Vocês são muito amigos?
— Não somos amigos. Somos parceiros. Ou ao menos eu queria ser...
Porém não sei se ele ainda vai me querer... É complicado. — Respirei fundo
e, cedendo ao cansaço, me joguei no pequeno sofá.
"Parceiros." Falar pela segunda vez foi mais fácil.
— Entendo. — Ela sorriu. — Deve ser difícil ver uma pessoa querida
nestas condições. Sinto muito.
— Obrigado. — Me levantei. Sentar não foi uma boa ideia. — Vou até
o banheiro jogar uma água no rosto... — Abri a porta do pequeno lavatório,
inquieto.
— Tudo bem. Eu vou checar os outros pacientes. Se precisar de mim,
aperte aquele botão. — Mostrou um botão vermelho na parede e depois saiu
do quarto.
Lavei o rosto e me encarei no espelho por um tempo, desanimado.
Peguei o celular no bolso, percebendo que eram quase três horas da
madrugada. Resolvi enviar uma mensagem para o meu irmão, que
provavelmente notou a minha ausência ao voltar para a recepção do Pronto-
Socorro. Além de lhe avisar sobre onde eu estava, queria saber se
conseguiram encontrar Marco.
E: Cadê vocês? Estou no quarto com Paolo, esperando que ele acorde...
Encontraram Marco?
S: Ele está aqui com a gente na recepção. Já está tudo sob controle.
Acho que vou embora, levar a magrela para casa. Ok? Ela precisa dormir.
E: Ok. E Marco? Vai ficar? Ele quer entrar? Só pode um acompanhante
de cada vez.
S: Ele está falando que também vai embora, porque Paolo vai preferir
te ver quando acordar. Mande notícias.
E: Mando. Obrigado por ter vindo.
Decidi voltar para o quarto, um pouco mais tranquilo por saber que
Marco estava com eles. Depois iria pedir que me contassem direito o que
conversaram. "Já está tudo sob controle" tinha me deixado curioso.
Assim que fechei a porta do banheiro, paralisei ao me deparar com
Paolo com os olhos abertos, fixos em mim. Na realidade, um olho bem aberto
e o outro quase, devido ao inchaço ao redor. Mas o que importava era...
Ele acordou! Até que enfim!
Meu coração pulou no peito, com meus lábios se esticando em um
grande sorriso.
— Oi — falei, quase embolando a palavra minúscula na minha língua
pesada de expectativa.
— Oi. Te conheço? — Sua pergunta fez um calafrio percorrer a minha
espinha.
Puta que pariu. Ah, não...
— Conhece — respondi, aproximando-me mais. — Você não se
lembra de mim? Mesmo? — Parei de respirar no aguardo da sua resposta.
Faz um esforço, Paolo! Sou eu! Torcia mentalmente, quase morrendo.
— Estou zoando, Rico! Não precisa fazer essa cara! — Deu risada. —
Sempre quis brincar com isso ao acordar em uma cama de hospital.
O quê?! "Brincar"?! Deram exatamente quais drogas para ele?! Não era
possível...
— Porra... Não é hora de brincar. Você lembra do que aconteceu?! Foi
muito grave! Quase te mataram! — Me sentei com cuidado do seu lado na
cama, sério.
— Ah, aqueles idiotas? Que se fodam... O que importa é que estou
vivo. Pronto para outra. E você, cara? O que me conta de novo?
Inacreditável.
O que eu conto? Pensei em lhe falar sobre a transfusão do sangue,
sobre a novidade de que a princesa era sua irmã, sobre a minha pisada de bola
ao beijar outro cara na balada, mas... Melhor não. Melhor deixar para outra
hora. Sem mais estresses por hoje.
— Pelo jeito não ficou nenhuma sequela nesta sua cabeça de vento...
Ainda bem. — Sorri, alisando levemente a sua mão. — Posso encostar na sua
mão? Não dói?
— Não dói. Nada dói. Consigo sentir a santa morfina dançando como a
Lady Gaga pelo meu sangue. Por que o meu outro braço está preso assim? —
Olhou para o esquerdo, imobilizado do antebraço ao ombro.
— Está quebrado. E quatro costelas estão fraturadas e... — Meus olhos
se encheram de lágrimas. — Paolo... Sinto muito. A culpa é minha. Se não
fosse o nosso encontro na Rainbow, você não teria apanhado e...
— Cala a boca. A culpa não é sua. — Entrelaçou os dedos aos meus,
disparando o meu coração. — Rico... Eu estava sonhando ou você se assumiu
para a enfermeira?
— Sim... E, um pouco antes, para o médico. Só falta eu colocar em um
letreiro lá na rua. — Dei risada, com os olhos ainda cheios de lágrimas,
pateticamente emocionado. — Aproveitando... Vamos tentar de novo? Me
aceita de volta? Você sabe, antes eu me sentia...
— Ei... Tudo bem. Não precisa falar mais nada. — Apertou a minha
mão, me interrompendo. — Você já me conquistou no "oi".
— Sério? — perguntei, sorrindo como um imbecil. — No "oi"?
— Na verdade, não. Foi antes... Mais precisamente quando você contou
para a enfermeira que somos parceiros. Mas eu quis usar a referência de Jerry
Maguire. "You had me at hello". A atuação do Tom Cruise naquele filme foi
foda. Não acha?
— Paolo! — Gargalhei. — Isso foi aleatório para caralho.
— Fazer o quê? Eu sou aleatório! — falou com a voz divertida,
acariciando o dorso da minha mão com o polegar. — Quer ouvir outra coisa
aleatória, cara?
— Manda.
Seus olhos estavam fixos nos meus e, mesmo com um deles quase
fechado por causa do hematoma, eu podia ver que brilhavam.
— Lá vai... Enrico Lorenzo. Eu te amo.
Capítulo 55

Ouvi a sua voz através de uma fotografia


Pensei nisso e trouxe o passado de volta

Otherside | Red Hot Chili Peppers


Davi Filipo Sintori "Sin"

Mais de onze horas da manhã, eu estava tomando café com meu pai na
cozinha de casa. A magrela ainda não havia acordado. Fomos dormir depois
das três da madrugada e ela estava exausta por conta dos acontecimentos, em
especial por ter doado sangue. Luca eu não sabia onde estava e Enrico
continuava no Pronto-Socorro com Paolo.
— Pai... Hoje o advogado ficou de ir à Delegacia fazer a notícia-crime
contra Eduardo, certo?
— Certo. A essa hora... — Sentado à minha frente, Domenico olhou
para o relógio de pulso. — Já deve ter feito. Daqui a pouco posso telefonar
para ele.
— Ok. Esse advogado é bom mesmo? — perguntei, preparando o
terreno para a minha próxima pergunta.
— É, sim. Dr. Saulo trabalha em parceria com um investigador
particular e os dois são muito eficientes. Em um dia, conseguiram as imagens
que foram mostradas à Polícia, de Eduardo colocando a droga na sua bebida.
Um excelente trabalho. Por quê?
— Então... Queria que você pedisse a ele que investigasse mais uma
coisa para mim. — Respirei fundo antes de mencionar o nome da filha da
puta. — Estou achando que não tive filho nenhum com a maluca da Rita. Ele
poderia ir atrás disso?
— Como assim? — Domenico me encarou, com o garfo com uma
porção de ovos mexidos paralisado a meio caminho da boca. — Eu vi os
resultados do teste de gravidez e de DNA.
— Pensa, pai... Ela pode ter engravidado, sim... Porém eu e Madah
achamos que abortou. Você nunca viu a barriga de gravidez ou a criança
depois de nascida, certo?
— Eu que nunca quis ver o menino! Eu! Che cavolo... — Largou o
talher na mesa, nervoso.
— E facilitou para caralho a vida dela! Me escuta... Como eu ia
dizendo, você nunca viu a criança. E, naquela época que ela engravidou de
mim, eu estava viciado em heroína. Quais eram as chances de o feto ser
saudável ou pelo menos viável?! Além disso, você não estava lá no hospital
de Guarulhos, comigo e com Madah, quando pedimos a Rita que mostrasse
uma foto da criança. A cara dela, pai... Entregou o jogo! Aposto que não
existe filho algum.
Ele ficou em silêncio por algum tempo e eu quase podia ouvir as
engrenagens do seu cérebro girando sem parar, com um vinco entre as
sobrancelhas se acentuando mais e mais.
— Se a vagabunda me enganou por todos esses anos... — Domenico
rosnou, com o rosto vermelho de raiva.
— É o que quero descobrir, com urgência, isso está me torturando.
Pai... Está comigo nessa? Posso pedir para o advogado ir atrás dela?
— Sim. — Balançou a cabeça afirmativamente, me dando um puta
alívio. — Hoje mesmo conversarei com o Dr. Saulo.
— Obrigado. — Assenti, satisfeito, e me levantei para deixar a cozinha.
Paralisei quando uma terceira pessoa irrompeu no ambiente. Com o
semblante fechado, ajeitou a camisa social branca dobrada na altura dos
cotovelos e depois cruzou os braços sobre o peito, firme. Com os cabelos
claros penteados para trás e os olhos azuis faiscando, exalava mau humor.
— Bom dia. Domenico, Davi. — Giuliano nos encarou com seriedade.
— Precisamos conversar.
Fodeu.
Ele já sabia sobre mim e Madah? Foi a primeira pergunta que brotou na
minha cabeça. Prendi o ar, observando atento o desenrolar da cena, tenso.
— Amico mio! — Domenico exclamou com alegria, levantando-se para
cumprimentá-lo. — Não sabia que já havia chegado a São Paulo.
— Cheguei hoje cedo e fui direto ao Pronto-Socorro ver o meu filho.
Que, inclusive, já deve estar em transferência daquela espelunca para um
hospital particular de primeira linha. Agora, o motivo que me trouxe
aqui... Cazzo... Na verdade, os motivos, porque são dois... — Ergueu os dedos
da mão direita, numerando as falas. — São... Um, por que todo mundo já
sabe que a menina é minha filha, se te pedi discrição até que fosse feito o
DNA? Marco está puto comigo! E, dois, Paolo e Enrico estão juntos?!
— Quanto a saberem que Madeleine é sua filha, assumo a
responsabilidade. Mais cedo ou mais tarde todos descobririam, de uma forma
ou de outra — Domenico explicou, sério. — A questão do sangue despertou a
curiosidade dos meninos. Sabe... Paolo tem um sangue raro, herdado de você,
e precisava com urgência de doação. O médico colheu amostras, ela era a
única compatível. Ou seja... — Deu de ombros, abrindo os braços, daquele
seu jeito expansivo.
— Madeleine é Falso O?! — Giuliano suspirou fundo, sentando-se em
uma banqueta. — Como eu e Paolo? Pouquíssimas pessoas têm este sangue
no mundo. Ela certamente é minha filha.
— É. E ela salvou a vida dele ao fazer a doação — comentei com um
sorriso, orgulhoso da minha namorada.
— Entendi. Bem, para falar a verdade, no fundo, eu sempre soube que
ela seria minha filha. Eu engravidei Heloise muitos anos atrás, em uma época
que bate com a idade da menina.
— E por que nunca a ajudou? — perguntei, tentando conter uma
pontada de irritação. — Não apoiou a mulher durante a gravidez e...
— Filho, calma... — Domenico apertou o meu antebraço. — As coisas
não são tão simples assim...
— Tive os meus motivos — respondeu Giuliano, com o olhar duro. —
Sei que não agi corretamente, porém já está feito. Ela terá o meu nome assim
que confirmarmos a filiação com o DNA. Antes tarde do que nunca.
— É isso aí, amico mio. — Domenico foi até ele, sorrindo. Parecia
querer melhorar o clima entre nós. — Você vai adorar conhecê-la! É uma
menina muito doce e educada. Daqui a pouco deve acordar.
— Estou ansioso para isso. E o lance entre Enrico e Paolo, hein? Me
pegaram de surpresa.
— Parece que eles se gostam — comentou Domenico, com uma
expressão tranquila no rosto. — Eu não fiquei surpreso, para ser sincero.
Sempre soube no meu íntimo que Enrico é gay.
Giuliano sorriu e aproveitei o momento descontraído para lhe revelar
sobre mim e a magrela.
— Eu também, sogro. Sabe, eu...
— Espera, espera! — Balançou a mão em negativa, apertando os olhos.
— Você também é gay, Davi? "Sogro"? Não vai me falar que está com
Marco, que...
— Não! — Gargalhei. — Falei "eu também" porque eu também sempre
soube que Enrico é gay. Eu sou hétero. Macho para caralho. Marco é apenas
um bom amigo.
— Ah... Jura? É que me lembrei de umas "brincadeiras" suas com
Paolo, no passado.
— Que brincadeiras? — Domenico quis saber, erguendo uma
sobrancelha. Cacete...
— Aquelas merdas não passaram de descobertas de adolescentes.
Porra, Giuliano, não me fode... Sou hétero, sim. — Fechei o rosto, mal-
humorado. Como ele sabia da "mão amiga" que Paolo me dava?
— Certo. — Mordeu o lábio, desconfiado. — Então por que o "sogro"?
— Porque estou namorando a sua filha. Que é uma garota. Afinal,
como já falei, sou hétero.
— A minha menina?! De dezesseis anos?! Não me diga que vocês dois
já... — Me queimou com os olhos e eu fiz que sim com a cabeça. — Cazzo,
Domenico! Fico algumas semanas fora e... Como deixou o seu filho pegar a
minha filha?!
— Ué... O seu filho está pegando o meu e estou bem tranquilo quanto a
isso. Deixa os jovens. Relaxa, Giuliano.
— "Relaxa"?! É surreal! Você é sogro de dois filhos meus, eu sou
sogro de dois filhos seus. — Ele passou as mãos pelos cabelos claros,
desorientado. — Preciso de algum tempo para processar as novidades.
A minha tensão havia desaparecido. Agora que todas as cartas já
estavam na mesa, voltei a respirar, sem o peso do mundo nas costas. Até
queria rir da cara de perdido do meu sogro. Coitado...
— Poderia ser pior... — provoquei, sorrindo de lado. — Pensa... Luca e
Marco poderiam namorar, assim em vez de sogros duas vezes, vocês
seriam três vezes, com direito a pedir música no Fantástico.
— Sin, chega. Não complica... — Meu pai me repreendeu, porém vi
que segurava o riso. — Giuliano, vá para sua casa, tome um banho, descanse.
Fez uma longa viagem.
— Vou embora, sim. Mas antes chame a minha filha, por favor. Vou
levá-la comigo para casa. Para a casa dela.
Capítulo 56

Quando eu envelhecer
Estarei lá ao seu lado
Para te lembrar como ainda te amo
Amor da minha vida

Love Of My Life | Queen


Davi Filipo Sintori "Sin"

Estremeci com a fala de Giuliano. "Chame a minha filha, por favor.


Vou levá-la comigo para casa. Para a casa dela."
— Nem fodendo! — gritei, sentindo o meu sangue ferver. Meu maxilar
se travou com força e tive me segurar para não virar um soco na cara dele.
— Filho... — Domenico pousou a mão no meu ombro, me apertando de
leve. — O lugar dela é com o pai. Você sempre soube que a permanência de
Madeleine nesta casa seria provisória. Seja razoável.
Porra... Eu sabia que fazia sentido que a magrela se mudasse para lá.
Mas não estava preparado para abrir mão da sua companhia diária, ainda não.
— Mas eu...
— Davi. — Giuliano me cortou, me encarando com firmeza. — Se
coloque no meu lugar. Eu apenas desejo o melhor para a minha filha. Quero
conhecê-la, compensar o tempo perdido. Isso não é sobre você.
Respirei fundo para não o mandar tomar no cu. Precisava mudar de
abordagem. Trocar o foco de mim para ela.
— Se coloque você no lugar dela! Vocês não podem simplesmente
querer que Madah vá morar com um homem estranho!
Eu olhava de Giuliano a Domenico, ida e volta, com o coração
disparado no meu peito, quase passando mal.
— Foi exatamente o que aconteceu quando Madeleine veio comigo
para cá. — Domenico sorriu, me fodendo. — E aposto que ela não se
arrependeu de ter vindo.
— Comparação escrota para caralho! — Explodi, agitando os braços.
— Quando Madah deixou o Uruguai, estava fugindo do inferno! Entre as
duas opções, vir para cá com um estranho foi a menos pior. Agora ela está
feliz aqui em casa. Namora comigo, é a melhor amiga dos meus irmãos e...
— Ela também já conhece Marco e Paolo... — Giuliano deu de ombros,
não se convencendo com os meus argumentos.
— Não é a mesma coisa... — murmurei, com a cabeça girando,
tentando desesperadamente encontrar uma solução. — Me escuta... Até
ontem você exigia a porra do DNA para a chamar de filha.
— E daí? Tenho o direito de exigir a comprovação da paternidade pelo
teste de DNA.
— E daí que a minha ideia é a seguinte... Ela se muda para a sua
casa depois que sair o resultado positivo do teste, com a retificação do
documento de identidade. Quando Madah for oficialmente uma Fontini. Por
enquanto a minha namorada não é nada sua. E até lá vocês podem se
conhecer, deixando as coisas menos estranhas.
Sorri orgulhoso com a minha boa ideia. Pelo menos assim eu ganharia
tempo.
— Mas o sangue Falso O já me deu a certeza de que...
— Giuliano, meu filho tem um ponto... — Domenico o interrompeu e,
posicionando-se do meu lado, até parei de respirar. — Não vamos nos
precipitar. Vamos aguardar o resultado do teste para a mudança.
Caralho! O meu pai me apoiou!
Apurei os ouvidos para ouvir os fogos de artifício que explodiriam a
qualquer momento. Porém o que ouvi foi ainda mais inesperado. A voz
delicada dela, levemente trêmula.
— Amor... O que está acontecendo aqui? — De pijama, abraçando o
próprio corpo, a magrela estava parada sob o batente da porta da cozinha,
com os olhos bem abertos. — Lá de cima eu pude perceber que você estava
gritando.
Imediatamente, eu a puxei para o meu lado, abraçando a sua cintura.
— Magrela, é que...
— Oi, Madeleine... — Giuliano se adiantou, encarando-a com um
sorriso tenso nos lábios. — Sabe quem eu sou? Estava ansioso para conhecê-
la.
— Você... Seria o meu pai? — arriscou, insegura.
— Eu sou o seu pai. Giuliano Fontini. — Ele deu um passo à frente,
hesitante.
Silêncio. Segundos de um silêncio terrível preencheram o recinto,
quase me sufocando.
— Sinto muito, Madeleine — Giuliano tornou a falar. — Eu não podia,
naquela época... Me deixe recompensá-la agora. Você vai morar comigo e
com os seus irmãos. Pode escolher o melhor quarto da casa, cursar a melhor
faculdade quando chegar a hora, tudo o que quiser. Te darei o mundo, filha.
— Espera... Por que você nunca me quis e agora está falando essas
coisas?
— Porque... A minha esposa é doente. Anna sofre de uma doença
progressiva... Há quase vinte anos. Embora ainda esteja viva e receba os
melhores cuidados intensivos, piora gradativamente, ano a ano. Vive em uma
clínica, já não anda, não fala e raramente reconhece a família. Seria
imperdoável, naquela época, eu lhe pedir o divórcio para assumir um
relacionamento com Heloise. Os meninos... Marco, principalmente... Eu não
poderia.
Ninguém falou mais nada por algum tempo. O clima de merda deixava
o ar pesado, com uma tensão que poderia ser cortada com uma faca. Eu sentia
a respiração forte da magrela, com as suas costas coladas na minha barriga.
— É uma situação bem complicada mesmo, amico mio... — Domenico
murmurou, balançando a cabeça.
— Amor... Me leva daqui? — Madah sussurrou, virando a cabeça para
trás, me encarando com os olhos cheios de lágrimas. — Sobe comigo?
— Agora mesmo. Giuliano, Domenico, com licença. — Puxei a
magrela pela mão, levando-a embora.
Subimos as escadas em silêncio até que, no meu quarto, assim que bati
a porta atrás de nós, trancando-a, ela me abraçou forte, chorando de soluçar
no meu peito. Porra... Não falei nada e a deixei chorar, passando a mão nas
suas costas, para cima e para baixo, com o meu coração apertado para
caralho.
Depois de algum tempo Madah enxugou as lágrimas e ergueu o rosto
para mim.
— Sin... Não sei o que eu faço... Não consigo sentir raiva dele, mas me
sinto magoada e... — Soluçou, sem conseguir continuar.
— Vem cá... — Eu a puxei para a cama e nos deitamos abraçados, com
a cabeça dela sobre o meu peito. Passei a mão pelos seus cabelos macios até
que se acalmasse. — Vou apoiar qualquer decisão que você tomar. E não
precisa já saber o que quer fazer com relação a Giuliano... Pense o quanto
quiser. Sem pressa.
Madah ficou em silêncio, mexendo as pontas dos dedos no meu braço,
contornando as tatuagens, por dois ou três minutos.
— Eu sei o que eu quero fazer agora. — Ela apoiou o queixo na mão,
com o cotovelo no meu peito, me encarando sem piscar. Seus lábios estavam
trêmulos e seus olhos embaçados.
Puta que pariu... Aquela fragilidade me desmontava inteiro, com o meu
peito explodindo de amor pela minha namorada. Queria poder levá-la para
bem longe daqui, só nós dois em uma ilha deserta, sem mais ninguém para
nos incomodar.
— O que você quer?
— Quero fazer amor com você, Davi Filipo. Quero sentir o seu corpo
por todos os lados, para eu não pensar em mais nada que não seja o seu calor,
o seu toque, o seu cheiro.
Cacete... "Fazer amor". Eu teria que me esforçar para pegar leve. Sem
as putarias, sem a agressividade que ela sabia que era a minha praia.
— Já entendi. — Sorri, girando os nossos corpos, me posicionando por
cima dela. — Posso fazer esse "esforço". O que você me pede que eu não
faço, magrela... — falei, beijando o seu pescoço delicado.
Ela riu com os dedos delicados deslizando por dentro da minha
camiseta, alisando as minhas costas. Desci as mãos até os seus seios, ainda
cobertos pela blusinha do pijama e esfreguei os meus polegares por cima dos
biquinhos que ficaram duros em dois segundos.
Sem parar de estimular os seus mamilos, trilhei beijos por todo o seu
rosto, sentindo a sua pele morna ainda salgada das lágrimas até colar os
nossos lábios. E, quando a sua língua macia recebeu a minha, com a mesma
devoção e entrega, meu pau enrijeceu dentro da cueca, me arrepiando.
Ainda a beijando, desci uma das mãos até os seus shorts, escorregando-
a por dentro do elástico até encontrar a sua calcinha de algodão. Gememos
juntos, um contra a boca do outro, quando os meus dedos encontraram o
tecido molhado e quente que cobria a sua boceta.
Quebrei o beijo e, ofegante, me livrei das minhas roupas. Madah puxou
a sua blusinha pela cabeça e eu desci os seus shorts com a calcinha, ficando
os dois completamente nus. Ver o seu corpo miúdo e delicado, à minha total
disposição, acelerava ainda mais o meu coração.
Voltei a subir por cima dela, apoiando parte do meu peso em um dos
cotovelos fincado no colchão. Recomecei a beijá-la. Boca, bochecha,
pescoço, roçando os nossos corpos quentes, pele contra pele, me arrepiando
da cabeça aos pés com os seus biquinhos duros se esfregando contra o meu
peito.
Madah levou as mãos às minhas costas, descendo-as até a minha bunda,
me apertando e puxando para mais perto, fazendo com que a minha ereção
encontrasse a sua boceta. Movimentei os quadris para intensificar a fricção,
esfregando a cabeça do meu pau entre os seus lábios íntimos, para cima e
para baixo, percebendo o meu líquido do pré-gozo se misturar à sua
lubrificação quente e abundante.
— Vem, amor... — Ela murmurou e abriu mais as pernas, facilitando o
meu acesso. Colocou uma das mãos entre nós, me punhetando rapidamente,
posicionando a minha glande na sua abertura. Entendi o recado.
— Caralho... — gemi de tesão ao me empurrar para dentro dela,
sentindo o meu pau deslizar justo, firme, com a sua boceta apertada se
abrindo para recebê-lo. O calor, a pressão, o aperto... Puta que pariu!
A magrela me fitava com as pupilas dilatadas, com as mãos apertando
os meus braços enquanto eu impulsionava os quadris, entrando e saindo em
um ritmo lento e preciso. Eu me perdi na visão do seu rosto, hipnotizado, me
perguntando quando o sexo "papai e mamãe" passou a ser tão bom.
Tão certo.
Aos poucos, acelerei, com as estocadas tão fortes que balançavam a
cama, com a cabeceira se chocando contra a parede. Sem planejar as nossas
mãos se encontraram no colchão, se agarrando e se fundindo, com o entra e
sai quente e molhado dos nossos sexos me fazendo sair de órbita. E, quando
os nossos olhares pesados se chocaram, eu soube mais uma vez que era ela, e
somente ela...
Em silêncio, "perguntei" com os olhos se ela estava chegando perto,
sabendo que eu não aguentaria muito mais. A magrela entendeu a pergunta,
assentindo com a cabeça, mostrando que a nossa sintonia era absurdamente
perfeita, até que...
— Ah... — Madah gemeu em um orgasmo comprido, apertando o meu
pau com a sua musculatura íntima se contraindo em espasmos, longos,
intensos.
— Porra! — Meti ainda mais rápido, gozando logo em seguida,
preenchendo a sua boceta com os meus jatos. Continuei bombeando devagar,
prologando a sensação fodida e a vi de olhos fechados, sorrindo com os
lábios vermelhos dos nossos beijos, feliz.
— Abre os olhos, Madeleine... — Ela me atendeu, um pouco surpresa
por eu ter usado o seu nome. Deixei de me mover depois de soltar os últimos
jatos, ficando todo enterrado dentro dela, parado. — Você foi a primeira
garota com quem eu fiz amor. E foi bom para caralho.
— Davi Filipo... — Ela sorriu ainda mais, levando uma mão ao meu
rosto, me acariciando com toques leves. Fiquei todo arrepiado. — Você é
perfeito...
— Sou...? — Arfei ao me retirar de dentro dela e tombei do seu lado na
cama, ainda com a respiração alterada.
Com um braço, puxei-a para cima de mim. Madah passou a me analisar
em silêncio, com os olhos indecifráveis, mordendo a boca.
— O que foi? — perguntei com um tom de desconfiança. Eu estava
com a impressão de que ela diria algo importante, só não sabia se seria algo
bom ou ruim. "Que seja bom", torci mentalmente, receoso.
— Você é... Um paradoxo. Sabe por quê?
— Me diga.
— Porque você é... Pervertido, às vezes, romântico, confiante, às vezes,
inseguro, engraçado, às vezes, mal-humorado. Os seus olhos... Azuis que no
sol ficam verdes. A sua boca... Perfeita que se entorta de leve quando sorri,
destacando os seus furinhos... — Passou a ponta do indicador carinhosamente
pelas minhas marquinhas do piercing. — Você é único... Você é o amor da
minha vida.
— Porra, magrela... — Enxuguei os olhos, chorando como uma
criança. — Você é o amor da minha vida.
Capítulo 57

Amor, não tenha pressa


Vamos ficar juntos e bem
Só precisamos de um pouco de paciência

Patience | Guns N' Roses


Madeleine Laurent Fontini "Madah"

DIAS DEPOIS

Era hoje que me mudaria para a casa de Giuliano. A casa do meu pai,
onde passaria a viver, com ele e com os meus irmãos.
Sentada no banco do passageiro da Ruiva, estacionada em uma das
vagas para visitantes da mansão Fontini, eu sentia a apreensão me corroendo.
Ainda sem coragem de descer do carro, agarrei a mão do meu namorado,
percebendo que estava tão fria quanto a minha.
Com a mão livre Sin mexeu no som, colocando a "nossa" música
— “Patience”, do Guns N’ Roses — e jogou a cabeça para trás, suspirando.
A minha mudança de casa não iria ser fácil. Nem para mim, nem para ele.
A gente não tinha falado nada no curto trajeto da casa dele até ali. Seu
olhar fixo à frente e seu maxilar travado refletiam a sua insatisfação. Pelo
menos não tentou me convencer a mudar de ideia.
Nós dois sabíamos que aquilo era o certo e, portanto, teríamos que nos
resignar.
Era apenas uma questão de tempo... Logo a gente se acostumaria com a
nova realidade. O nosso namoro iria prosseguir, cada um morando na sua
casa, como a esmagadora maioria dos casais normais da nossa idade.
Com a voz de Axl Rose quebrando o silêncio e nos lembrando de que
era preciso ter paciência, fechei os olhos para me acalmar, relembrando os
últimos acontecimentos.
Às vezes fico tão tenso, mas não posso acelerar o tempo
(Sometimes I get so tense, but I can't speed up the time)
Disse "mulher vá devagar e as coisas vão ficar bem"
(Said "woman take it slow and things will be just fine")
Você e eu vamos usar um pouco de paciência
(You and I'll just use a little patience)

No dia anterior havia saído o resultado do teste de DNA que, como já


esperávamos, deu positivo. Sin estava sentado do meu lado, junto da mesinha
do computador, quando acessei o site do laboratório. Com os dedos trêmulos,
digitei o número do protocolo e a senha e depois aguardei a tela carregar por
dois segundos que pareceram uma eternidade.
Com o coração descontrolado dentro do peito, eu nem conseguia ler as
primeiras linhas, que começavam com: "A investigação genética etc.",
focando o meu olhar no retângulo vermelho com a palavra mais importante
em destaque: POSITIVO.
Eu e Sin soltamos o ar juntos, sem falar nada. Senti a sua mão firme na
minha cintura, arrastando a minha cadeira para mais perto da sua.
— É isso, magrela... Você vai embora — murmurou, com a voz baixa e
triste. — Porra...
— Ei, está tudo bem... — Virei para ele, tentando sorrir, disfarçando a
angústia e o medo que apertavam meu coração. — Vamos morar pertinho,
vai dar tudo certo... Sempre virei aqui e você poderá ir lá.
— Fazer o que... — resmungou, esboçando um pequeno sorriso
desanimado, bagunçando o cabelo platinado com a mão. — Não vejo a hora
de me formar, trabalhar e poder te pedir em casamento.
— Casamento...?! — balbuciei, sorrindo de canto a canto. Minha
nossa... Ele realmente fazia planos para a gente! Para o nosso futuro!
— Por que a dúvida? Não disse que você é o amor da minha vida? E
você não falou que sou o amor da sua? — perguntou com a sua característica
nota de insegurança.
— Dúvida nenhuma. Davi Filipo... Você é a minha certeza! Mas tudo a
seu tempo, meu amor. — Coloquei as minhas mãos na sua nuca, colando os
nossos lábios em um beijo simples. Em seguida, ele me puxou para um
abraço apertado e, quando soltou o ar quente com o nariz roçando no meu
pescoço, quase torci para que fôssemos alguns anos mais velhos e já
pudéssemos nos casar, ter a nossa casa, a nossa vida.
Uma coisa de cada vez, Madeleine. Uma coisa de cada vez.
Algum tempo depois, Paolo me chamou no celular, mandando uma
selfie com Giuliano, os dois sorridentes apontando para o computador, com o
resultado POSITIVO aberto na tela.
P: Bem-vinda à família Fontini, irmã!
M: Obrigada! Pelo jeito já está em casa?
P: Sim, saí daquele hospital burguês. Ei... Fiquei sabendo que me deu o
sangue. Obrigado. — Seu agradecimento acalmou o meu coração aflito,
deixando-o quentinho.
M: Irmãos servem para isso... — digitei, sorrindo.
P: Bora comemorar a sua chegada e a minha alta hospitalar! Festinha
aqui?!
M: Só se a minha banda preferida tocar.
P: Fechado! Fala para o arrombado do seu namorado trazer o
contrabaixo — respondeu, me arrancando uma gargalhada.
M: Não fala assim dele! É seu cunhado em dose dupla.
P: Então... Se cunhado fosse bom, não começava com cu. Boa noite,
maninha! — despediu-se. Aquela sua piadinha ridícula me fez rir ainda mais.
— Rindo do quê, magrela? — Sin apareceu do nada no meu quarto,
trancando a porta atrás de si. Eu estava deitada na cama, de pijama, mexendo
no celular.
— Paolo. Sabia que ele já teve alta? — Bati com uma mão no espaço
vazio ao lado no colchão e o meu namorado se deitou comigo. Vestindo
apenas shorts de pijama, colou o corpo no meu e apreciei o calor da sua pele,
passando os dedos pelo seu abdômen definido. Sin era tão gostoso...
— Sabia. Falei mais cedo com Rico. O filho da puta do seu irmão não
ficou com nenhuma sequela... Sortudo para caralho... — respondeu, passando
um braço por trás dos meus ombros, nos aproximando ainda mais. — Ainda
não acredito que vai ser a sua última noite aqui, comigo.
— Não faça drama, Davi Filipo. — Aconcheguei a minha cabeça no
seu colo. — Do jeito que nossos pais vivem viajando, posso dormir de vez
em quando aqui com você, assim como você pode dormir lá comigo.
— É melhor você vir... Marco não vai gostar de saber que estou
comendo a irmã na casa dele, debaixo do mesmo teto.
— “Comendo a irmã”. Tão delicado...
— Delicadeza não é uma das minhas virtudes, você já deveria saber. —
Escorregou a mão para a minha bunda. — Ainda está menstruada?
— É claro que sim. Desceu ontem... Nem vem, não vou transar
sangrando. Tenho aflição.
— Você sabe que piloto que é bom pousa até em pista molhada. —
Sorriu de lado, me puxando para cima do seu corpo. Fiquei deitada de bruços
em cima dele, já sentindo o seu volume na minha virilha. — Está me
torturando com essa greve de sexo, cacete...
— Greve?! Minha nossa... Com exceção de ontem, transamos todos os
dias! — Dei risada, descendo uma mão até a sua ereção, alisando-a por cima
do tecido dos shorts. — Você não se cansa?
— O que você acha? — perguntou com o olhar malicioso, agarrando
com firmeza as minhas nádegas com as duas mãos.
Sin me esfregou mais contra o seu corpo, mexendo os seus quadris por
baixo de mim, simulando o ato sexual. Seu volume indo e vindo no meio das
minhas pernas começou a me excitar, fazendo a minha vagina pulsar.
— Cacete... — gemeu, apertando os olhos, com os lábios entreabertos.
— Que tesão da porra...
Sua boca carnuda e bem desenhada prendeu o meu olhar, me deixando
hipnotizada. Aqueles furinhos do piercing me fascinavam... Levei os dedos
até os seus lábios, deslizando-os por todo o contorno. Sin abriu os olhos, me
encarando sem piscar com as pupilas dilatadas, ainda esfregando os nossos
sexos, sem parar.
— Vamos transar, vai... — murmurou com a voz rouca, beijando os
meus dedos. — Por favor. Eu não tenho problemas com menstruação. Nossa
última noite morando juntos... Por favor.
— Não. — Fui firme, apesar do desejo que me consumia. Eu estava tão
excitada quanto ele, porém não conseguia ir adiante. — Queria poder
corresponder às suas expectativas... Sinto muito.
Saí de cima dele, constrangida. Sabia que muitas pessoas não se
importavam com sexo durante a menstruação e eu as respeitava. Só que
simplesmente não me visualizava transando com o sangue sujando tudo entre
nós, me agoniando.
— Tudo bem. Parei. — Ele se sentou, passando as mãos pelo cabelo,
descontente. — Vou tomar uma ducha.
Depois que bateu a porta sem olhar para trás, me encolhi na cama,
chateada por termos nos aborrecido na nossa "última noite". Respirei fundo e
fechei os olhos. Minutos depois, quando eu estava quase dormindo, senti o
colchão se afundar atrás de mim e não pude conter um sorriso.
— Você não corresponde às minhas expectativas... — Me abraçou por
trás, dando um beijo casto no meu ombro. — Você as supera, desde o início.
Não quero brigar. Te amo.
Meu coração pulou uma batida. Minha nossa... Quando o meu
namorado impulsivo e mimado tinha se tornado tão maduro e compreensivo?
— Te amo — murmurei de volta, com a voz embargada, arrepiada de
emoção. — Me surpreendeu...
— Achou que eu te deixaria dormir sozinha na última noite da melhor
fase da minha vida? Nem fodendo... — Enfiou o rosto no meu cabelo,
respirando fundo. — Com ou sem sexo, quero ficar com você. Posso dormir
aqui?
— Deve. Não ouse sair. — Segurei os seus braços que rodeavam a
minha cintura, sentindo o seu coração batendo nas minhas costas. Dormir de
conchinha com Sin era uma experiência incrível... Seu contato, seu calor e
seu cheiro de sabonete me envolveram da cabeça aos pés, em um aconchego
maravilhoso.
— Boa noite, Davi Filipo.
— Boa noite, magrela.

— Vamos lá. — Sin tomou a iniciativa de sair da Ruiva. Deu a volta e


abriu a porta do passageiro, estendendo a mão para mim, com o olhar
arrasado.
— Vamos. — Soltei o ar devagar, aceitando a sua ajuda para descer do
carro. Com a postura rígida, ele pegou no banco de trás a minha pequena
mala e seguimos até a frente da casa em silêncio, de mãos dadas.
— Buongiorno! — Giuliano nos cumprimentou, sentado nos degraus
sob o alpendre. — Lindo domingo, não? Eu vi a SUV estacionando na vaga
para visitantes. Sabia que eram vocês.
— Boa tarde. — Não consegui falar mais nada. Meu namorado
murmurou um cumprimento qualquer, sem largar a minha mão. Giuliano se
levantou apertou a mão de Sin. Depois se virou para mim, me abraçando
apertado. Meu Deus... Estava mesmo acontecendo. Me sentia confusa, aérea,
quase entorpecida.
— Bem-vinda, Madeleine — falou, afastando o corpo, porém
mantendo as mãos nos meus ombros, sorrindo. — Estou muito feliz com a
sua chegada. Vamos entrar?
Assenti e ele pegou educadamente a minha mala da mão de Sin,
enganchando a alça no seu antebraço esquerdo e, com a mão direita, abriu a
porta da casa.
— Obrigada. E eu estou feliz por estar aqui — murmurei, mexendo em
uma mecha do cabelo, nervosa.
— Gosto de saber! — Ele sorriu, descendo os olhos para o relógio de
pulso. — Já são quase três e meia. Vamos subir para que você escolha um
dos quartos. Depois podemos tomar um café com os meninos e Domenico,
que disse que chegaria umas quatro horas. Ele acabou de pousar em
Guarulhos e do aeroporto ia vir direto para cá. — Giuliano segurou a porta
aberta e deu-nos passagem, tagarelando, um pouco agitado. — Paolo está
ansioso para a festa... Não parou quieto o dia todo, enfiado na bagunça do
estúdio, testando os aparelhos de som. Nem parece que esteve internado até
ontem! Trouxe o contrabaixo, Davi? Se não me engano os convidados vão
chegar a partir das seis.
— Trouxe. Deixei tudo na Ruiva, depois eu pego — Sin respondeu,
subindo a escada atrás dele, sem sorrir.
— Viram a nota que saiu da coluna social? Você está famosa,
Madeleine. Todo mundo já sabe sobre a festa de boas-vindas da nova
integrante da família Fontini — Giuliano comentou com os olhos brilhantes,
voltando-se para mim.
Ele parecia estar se esforçando para me agradar, mas sinceramente não
apreciei a ideia de aparecer em coluna social. Certamente viriam fotógrafos
para a festa, com toda a atenção em cima de mim a me deixar tímida, com
vergonha.
— Nota na coluna social?! Pensei que você fosse preferir ser mais
discreto quanto a isso. Por causa da tia Anna... — Sin apontou, referindo-se à
esposa dele que vivia em uma clínica.
Assim como o meu namorado, estranhei a publicidade que Giuliano
deu ao assunto. Afinal, eu era fruto de um adultério. De qualquer forma, me
recusava a sentir culpa por isso. Meus pais se envolveram porque quiseram,
anos atrás, antes que eu existisse. Enfim, eu não era a causa das suas
decisões. Eu era a consequência delas.
— Infelizmente Anna não possui mais discernimento de nada, por
conta da doença. — Ele parou de caminhar no corredor, com os olhos baixos.
— Minha esposa atualmente está em estado vegetativo. Ela nem tomará
conhecimento de nada.
— Sinto muito... Giuliano — falei, sem poder pronunciar a palavra
“pai”. Não saberia dizer que algum dia conseguiria o chamar pela palavra
que, embora pequena, carregava um enorme significado.
— Obrigado. Já estou acostumado a essa situação trágica. — Deu um
sorriso triste. — Temos dois quartos de hóspedes deste lado e dois daquele
outro. Vamos vê-los?
Capítulo 58

Sem perder um pedaço de mim


Como posso chegar ao céu?

Heaven | Troye Sivan


Davi Filipo Sintori "Sin"

Depois que a minha namorada escolheu um dos quartos, o de parede


verde azulada, dizendo que a cor parecia com a dos meus olhos, descemos as
escadas em direção à cozinha.
— E os seus filhos? — Estranhei a ausência de Marco e Paolo. Não
tinha os visto ainda.
— Estão ensaiando no estúdio, para variar. Tomem um café comigo.
Depois vocês podem ir até lá. Aceitam? — Giuliano perguntou, ligando a
máquina de café.
— Aceito — Madah respondeu e, sorrindo, se sentou em uma das
banquetas. Então o meu pai apareceu do nada. Cumprimentou a gente com
um sorriso maior do que o normal nos lábios. Animado, se aproximou de
mim, esfregando uma mão na outra.
— Filho. Podemos conversar a sós? — Encostou no meu braço, me
encarando com os olhos brilhantes. Pelo jeito ele tinha novidades.
Assenti e caminhamos em silêncio até a sala, com a ansiedade agitando
o meu estômago. Me sentei em uma poltrona e ele se acomodou no sofá em
frente.
— Sin... — Ele não conseguia parar de sorrir. — Na sexta-feira o
advogado, me telefonou. Você estava certo, cazzo. Não existe filho nenhum.
Rita mentiu.
— Porra! Eu sabia! — gritei, com o coração explodindo de felicidade.
— Conta direito! O que ele descobriu?
— Vasculhando o passado dela, o investigador encontrou os exames
antigos. O primeiro ultrassom gestacional já mostrava que o feto tinha
malformações graves, incompatíveis com a vida. Provavelmente em razão
das drogas que você consumia. — Ele fez uma pausa, suspirando. — Enfim,
Rita abortou o bebê. Mas, como pode concluir, ela omitiu o fato de mim para
receber o meu dinheiro mensalmente ao longo dos anos. Desgraçada... Só que
a farra acabou... Na mesma hora, determinei o bloqueio do último
pagamento.
— Boa, pai! — Eu tamborilava os dedos nas coxas, empolgado. — E
por que só me contou hoje? Se já soube na sexta.
— Porque eu estava em Nova Iorque. Queria lhe contar pessoalmente.
— Apertou o meu joelho com a mão pesada, feliz.
Joguei o corpo para trás, respirando bem mais leve, sorrindo sem parar.
Não tenho filho com aquela pedófila maldita!
Não via a hora de contar a novidade para a magrela.

Perto das seis da tarde, estávamos no palco terminando de ensaiar a


música que Paolo havia escolhido para abrir a apresentação — “Heaven”, do
Troye Sivan. Porque, depois de sofrer aquela merda de ataque homofóbico,
ele queria cantar uma música que falasse sobre a questão LGBT. Essa era de
arrepiar...
Sem mudar uma parte de mim
(Without changing a part of me)
Como chego ao paraíso?
(How do I get to heaven?)
Todo o meu tempo é desperdiçado
(All my time is wasted)
Sentindo como se meu coração estivesse errado
(Feeling like my heart's mistaken)
Naquele dia a Five Stars contaria com a formação quase completa. Eu,
Luca, Paolo e Marco. Apenas Leonardo não conseguiu comparecer. Tocando
o contrabaixo em cima do palco improvisado na sala, ensaiando, meus olhos
se mantinham fixos na magrela, sentada em um sofá ao lado de Domenico.
Do outro lado do meu pai, estava Giuliano.
Madah sorria para mim o tempo inteiro. Linda. Estava tão feliz quanto
eu com a descoberta do "filho" inexistente. Soltei o ar, pensando na cena que
tinha rolado antes do ensaio. Assim que lhe contei a novidade, a minha
namorada me deu um beijo contente, agarrando a minha nuca, pendurando-se
em mim.
— Só eu posso parir um filho seu... Está me escutando, Davi Filipo?
Mas daqui a uns dez anos... — murmurou com os lábios macios provocando
a minha orelha.
— Só que você se esquece de um "detalhe". Para termos um filho,
precisamos fazer sexo. O que você tem me negado nos últimos dias... Me
deixa de pau duro e depois foge da raia. Malvada para caralho...
— Estou menstruada, não malvada. Vai lá para o palco, amor... Caso
ensaie bonitinho, posso te recompensar mais tarde. — Ainda com os braços
no meu pescoço, sussurrou a próxima frase na minha orelha: — Me dá um
tesão te ver tocando o contrabaixo.
— Que tipo de recompensa? — Me animei como uma criança a quem
ofereciam um doce. Apertei a sua cinturinha com as duas mãos, na
expectativa. Ela riu e depois veio sussurrar mais uma vez.
— B-O-Q-U-E-T-E. — Soletrou, fazendo o meu pau pulsar forte na
cueca. Porra...

No final do ensaio, eu já me sentia animado, com a adrenalina a mil no


sangue, pensando em como dar uma fugidinha com a magrela. Eu continuava
no palco com os caras da banda, tocando os últimos acordes da música.
De repente, um dos seguranças da casa se aproximou do sofá em que
Madah estava com os nossos pais, falando alguma coisa com o patrão.
Intrigado, desci do palco e fui até eles.
— O que foi? — perguntei.
— O segurança Hugo veio nos informar que uma pessoa não autorizada
está no portão, pedindo para entrar — Giuliano respondeu. — A mulher
afirma ser uma ex-namorada de Domenico.
Bárbara?! O que a maluca queria aqui? Só faltava tentar reatar com o
meu pai, bem na casa onde se pegava com Marco e Paolo. Mas seria muito
cara de pau...
— Vou até lá — Domenico falou, alisando a camisa, afastando-se.
— Vou com você — avisei, acelerando o passo para alcançá-lo. Queria
evitar que ele amolecesse. Nem fodendo que eu iria permitir que a aceitasse
de volta. Mulher interesseira...
— Eu também vou. — Madah apertou a minha mão, percebendo que eu
já estava irritado.
Nós três seguimos o segurança pela sala, depois pelo hall e passamos
pela porta de entrada, saindo no jardim da frente. Continuamos em silêncio
pelo caminho de pedrinhas, com o céu ainda claro sobre nós. Os últimos raios
de sol passavam pelas nuvens, deixando as nossas peles com um aspecto
dourado. Domenico caminhava na nossa frente com o segurança, com os
ombros rígidos, nitidamente desconfortável com a visita inesperada.
Alcançamos o pesado portão de metal, com uma pequena porta para
pedestres ao lado da porta maior para veículos, perto da cabine blindada da
portaria. O segurança usou o walkie-talkie para se comunicar com o colega
que se encontrava do lado de dentro da cabine, que não podíamos ver graças
ao vidro escurecido com insulfilme.
— Câmbio. Danilo, Hugo na escuta.
— Câmbio. Prossiga.
— Destranque a porta. Os convidados do senhor Giuliano irão falar
com a mulher.
— Positivo.
— Precisam que eu lhes acompanhe? — Hugo perguntou ao meu pai,
com sua pose formal.
— Não. Pode ficar aqui dentro. Eu toco a campainha quando formos
voltar.
Sua resposta foi seguida de um sonoro click, com a porta se abrindo
lentamente.
E, em vez de Bárbara, era outra mulher que nos esperava do outro lado.
Com um sorriso debochado no rosto, mexia nas pontas dos longos cabelos
vermelhos como fogo. Paralisei, com o enjoo me revirando o estômago ao
reconhecer a filha da puta...
— Não me convidaram para a festa, bebê? Ainda bem que leio a coluna
social — Rita se dirigiu a mim, me estremecendo da cabeça aos pés.
Cacete... Esmaguei a mão esquerda da magrela, que usou a direita para
acariciar o meu braço, tentando me acalmar. "Respira, amor."
— O que faz aqui?! — Meu pai tomou a iniciativa de confrontá-la,
dando um passo à frente, com a voz firme. — Filho, entre... Basta tocar a
campainha. Eu lido com ela, pode deixar. — Apontou para a porta fechada
atrás da gente.
Apesar das palavras de Domenico para mim, não consegui mover os
pés. Apenas puxei Madah para a minha frente, com a pressão dos meus
batimentos cardíacos me ensurdecendo. Envolvi a cintura fininha da magrela
com os meus braços, apoiando o meu queixo no topo da sua cabeça, me
estabilizando com o calor do seu corpo miúdo e com o cheiro doce dos seus
cabelos perfumados.
— Você cortou a minha pensão! Achou que eu não perceberia?! Exijo
uma explicação! — Rita o fuzilou com os olhos furiosos. — Como você não
me recebe nem na sua casa nem na sua empresa, tive que vir até aqui. Ainda
bem que a colunista social confirmou a presença da família Sintori na festa na
mansão dos Fontini.
— Cortei a pensão, sim! A pensão que eu nunca deveria ter concordado
em lhe dar. Che cavolo... Demorei, mas descobri a verdade. Não há neto
algum. Sua dissimulada! Nunca mais receberá um único real de mim.
— Seu velho maldito! Isso não vai ficar assim! Depois de tudo o que
fiz... O que tive que fazer para garantir o dinheiro... — Passou as mãos pelos
cabelos vermelhos, perturbada. — Davi, bebê... Você me engravidou uma
vez. Podemos tentar de novo e...
O quê?! Quase vomitei com a ânsia me subindo garganta, queimando.
— Não fale com ele, sua desgraçada! — Domenico gesticulou com os
dois braços abertos e Rita lhe deu as costas. — Você já fodeu com a vida do
meu filho no passado! Não ouse se dirigir a ele e...
Sua voz morreu assim que ela se virou rapidamente de frente,
empunhando uma arma com firmeza. Puta que pariu...
— Calado! Seu velho idiota! — Apontou a pistola para ele, com os
olhos vidrados. — Já que você quebrou a sua parte do nosso combinado, eu
vou quebrar a minha. Eu não podia chegar perto dele... — Acenou com a
cabeça na minha direção, me gelando a coluna. — Agora eu posso. Quero
levar o meu menino comigo. Davi, venha. Ou mato o seu pai.
Porra... Como assim?!
Eu mal conseguia respirar. Sentir a magrela tremendo na minha frente
só me deixava ainda mais em pânico.
— Sin... Não vá — Domenico falou com a voz baixa, tentando soar
seguro. — Ela está blefando. Não teria coragem de matar e...
— Eu não teria coragem de matar?! Rá! — Rita deu risada, sem abaixar
a arma por um único maldito segundo. — Já matei a sua mamãe, Davi.
Sabia? Ou seja, matar o seu papai não seria nada difícil para mim. Agora
venha!
Capítulo 59

Faça as suas preces, pequeno


Não se esqueça, meu filho
De incluir todo mundo

Enter Sandman | Metallica


Madeleine Laurent Fontini "Madah"

A voz da desgraçada da Rita ecoou pela rua.


— Você matou a minha mulher?! Maldita... — Domenico rosnou, com
o rosto todo vermelho.
— Falou o marido dedicado! "Nota dez", hein?! — Riu com sarcasmo,
balançando a arma na direção do rosto dele. — Quanta hipocrisia... Enquanto
se distraía com as prostitutas, eu ficava a sós com a sua esposa e podia agir
com toda a liberdade. Você nunca percebeu que fui aumentando a medicação,
a envenenando aos poucos. Eu a deixei prostrada, depois inconsciente, até
que a matei de overdose. Não fui inteligente?
Domenico permanecia boquiaberto, em choque. Seus olhos arregalados
e seus cabelos desgrenhados compunham o quadro caótico do seu desespero.
— Filha da puta... Assassina... — Sin murmurou, com a respiração
forte fazendo o seu peito bater rapidamente nas minhas costas. Sem saber o
que fazer para lhe acalmar, somente apertei a sua mão, sentindo os seus dedos
trêmulos.
— Chega de enrolação! Venha logo, Davi. Não vou falar de novo. —
Rita mirou a pistola na direção de Domenico. Posicionando o dedo sobre o
gatilho, me fez arfar, cobrindo a boca com a mão.
— Magrela. Não tem jeito... Tenho que ir com ela — Sin sussurrou no
meu ouvido. Embora estivesse extremamente nervoso, eu podia perceber que
havia uma grande determinação no seu tom. — Não se preocupe, não sou
mais uma criança medrosa. Confie em mim e deixe o seu celular ligado.
Deu um beijo rápido no topo da minha cabeça e se afastou do meu
corpo, dando um passo para trás. Um calafrio percorreu a minha espinha no
mesmo instante.
A mulher não tirava os olhos vidrados de nós, sorrindo, com a arma
ainda engatilhada na mão. Aquilo não iria acabar bem...
— Não... — balbuciei para o meu namorado, segurando as lágrimas,
assustada. Eu queria chorar e gritar, mas meu descontrole não o ajudaria em
nada. Tentei agarrar a sua mão, porém se afastou mais de mim, caminhando
lentamente na direção dela, como um animal resignado se arrastando para o
abate.
Domenico veio para o meu lado e, pálido como um papel, apertou a
minha mão. A sua palma estava tão fria quanto a minha. Juntos, observamos,
em um silêncio estarrecedor, Sin se juntar à maluca, perto do meio-fio. Rita
rapidamente se colocou atrás dele, com a arma colada base dos cabelos
platinados. A mera visão da cena gelava o meu sangue.
— Muito bem, bebê. Vamos embora... — Com a mão livre, agarrou o
braço dele, puxando-o na direção da esquina. Soltou-o para destrancar com
um bip um carro branco estacionado ali. — Entre.
Sin se sentou no banco do passageiro e ela bateu a porta, travando o
carro com outro bip. E, em vez de se dirigir ao outro lado do veículo para se
sentar no lugar do motorista, Rita deu três passos na nossa direção e, sem
falar nada, disparou duas vezes contra o abdômen de Domenico.
Pow! Pow!
Minha nossa... Meu desespero foi tanto que vi o tempo mudar o ritmo,
entrando em câmera lenta.
Os dois estrondos ensurdecedores, o olhar apavorado do meu namorado
dentro do carro, o cheiro de pólvora, o barulho do impacto do corpo contra o
chão. Domenico tombou de lado, bem nos meus pés. Paralisei, sem reação,
olhando para o filete de sangue espesso escorrendo pela calçada, a
centímetros dos meus tênis All Star.
Até que os meus olhos captaram uma movimentação periférica. Enrico
apareceu correndo, vindo da outra esquina e, sem hesitar, jogou-se ao lado do
pai.
Ao mesmo tempo, o ronco de um motor de carro atraiu o meu olhar
para a esquina oposta. Vi Rita partir, levando Sin embora, e senti o meu
coração se quebrar, como se arrancassem um pedaço dele. Meu Deus...
— Rico? — Domenico tossiu, cuspindo sangue.
— Calma, pai. Vai dar tudo certo! Já telefonei para a Polícia. Assim
que cheguei na esquina, vi a maluca com vocês, com a arma na mão... Por
isso não me aproximei, mas consegui gravá-la em vídeo. Vamos mandá-la
para a cadeia — falou rapidamente, segurando a mão de Domenico, tentando
lhe passar segurança. Depois levantou os olhos para mim, me encontrando
parada como uma completa idiota. — Anda, princesa, toca a campainha!
Chama o seu pai! Chama o Marco! Ele faz Medicina! Vai poder ajudar com
os primeiros socorros!
Assenti com a cabeça e, saindo do transe, apertei a campainha um
monte de vezes.
— Mansão Fontini. Boa tarde. — Uma voz tranquila soou pelo
interfone, me enervando. Como assim?! "Boa tarde"?!
— Pelo amor de Deus! Vocês não têm câmeras?! Ninguém viu o que
aconteceu?! Domenico foi baleado! Precisamos de Giuliano e Marco aqui,
com urgência!
— Positivo.
Logo em seguida Hugo passou pela porta, falando com alguém pelo
walkie-talkie antes de se virar para mim.
— Não percebemos nada, senhorita. Perdão. Como Seu Giuliano havia
solicitado a minha presença, eu estava no interior da casa. Pensei que a
mulher fosse inofensiva...
— Tá. E o segurança da cabine?
— Do lado de dentro da cabine não se escuta o som externo e Danilo
não deve ter prestado atenção às imagens das câmeras. — Colocou
novamente o walkie-talkie no ouvido, concentrado. — Recebemos novas
instruções agora. Iremos levar Seu Domenico para dentro da casa, Seu
Giuliano está lá com os filhos separando os materiais para os primeiros
socorros.
— Rico... — Domenico cuspiu sangue de novo, atraindo a nossa
atenção. — Não perca o seu irmão de vista. Vá atrás deles. Eu vou ficar bem.
— Apontou para o carro branco já distante, bem no final da rua.
— Cacete... O pirralho! — Enrico se levantou em um pulo, puxando a
chave do carro do bolso.
— Vou com você! — Me apressei para acompanhar os seus passos e
em dois segundos chegamos à picape. Rico deu a partida e seguimos pela rua
principal até chegarmos a uma bifurcação.
— Merda... Perdemos eles de vista. Para onde foram?! — Enrico
olhava para os lados, sem saber por onde ir.
De repente, senti uma vibração inesperada no meu celular, guardado no
bolso de trás da calça. Já sabia era ele! Com o coração mais disparado do que
nunca destravei a tela, sorrindo com a descoberta: Sin havia me enviado a sua
localização em tempo real. Perfeito!
— Rico! Vire à direita no final da rua — falei, empolgada, com os
olhos presos no celular. — Agora podemos segui-los!
"A cem metros, vire à direita". A voz robótica do aplicativo ressoou
pelo carro, repetindo a instrução.
— Boa. — Meu amigo abriu um sorriso, empolgado. — Compartilhe a
localização comigo e com Luca, peça para ele avisar a Polícia.
— Pode deixar! — Sorri de volta, mais otimista. Rico e as suas ideias
estavam salvando a pátria... Nem sei o que faria sem ele. Compartilhei a
localização como me pediu e Luca me respondeu logo em seguida.
L: Localização recebida! Vou avisar a Polícia.
M: Ok! E Domenico?
L: Sangrando ainda, uma merda... Marco está terminando de fazer os
primeiros socorros, agora temos que aguardar a ambulância que Giuliano
chamou. Parece que não chega nunca...
M: Calma, já deve estar chegando. Pensamento positivo!
"Vire à esquerda", a voz robótica quebrou o silêncio e, atenta ao
caminho, parei de trocar mensagens com Luca. "Pegue a segunda saída na
rotatória, à direita".
— Ei... — Observei o semblante do meu amigo concentrado no
trânsito. — Desde quando você se tornou esse cara tranquilo, que toma as
melhores decisões em momentos de caos?
— Momentos? Como assim?
— "Momentos", no plural, porque é a segunda vez que te vejo assim,
todo proativo. Naquele dia que Sin foi drogado em Guarulhos, lembra? E,
agora, se superou.
— Acho que Paolo está me influenciando — comentou com um
pequeno sorriso, sem tirar os olhos da rua. — Naquele dia que expulsei a
maluca da Rita do quarto do meu irmão, no hospital, eu tinha conversado
exatamente sobre isso com Paolo. Sobre ele ser mais seguro, confiante,
otimista... Enquanto eu não passava de um medroso, pessimista, inútil.
— "Medroso, pessimista, inútil"?! Não fale assim... Mas devo dizer que
essa sua versão cheia de iniciativa é maravilhosa. Jura que até teve a ideia de
gravar um vídeo da maluca com a arma?
— Gravei, sim. Mas o difícil foi escutar a fala dela sem poder reagir...
Naquela parte em que confessou ter matado a minha mãe... — respondeu,
apertando o volante com força. — Foi foda, princesa. Pelo menos o vídeo vai
garantir a passagem dela para a cadeia. Assassina.
— E pedófila, psicopata, dissimulada. Rita havia falado que, caso Sin
não fosse com ela, atiraria em Domenico. Por isso ele foi. E a maldita atirou
no seu pai mesmo assim... Por que será que quis matá-lo?
— Não sei. — Enrico balançou a cabeça. — Não sei que interesse
poderia ter com a morte dele. Deve ter sido na maldade mesmo.
"Pegue a saída para a Rodovia Presidente Dutra, à esquerda."
— Para onde estamos indo? — Observei a estrada, saindo da cidade. Já
havia anoitecido. — Guarulhos? Tem certeza de que é o caminho certo?
Consegue vê-los?
— Sim. Olha o carro dela ali... — Apontou mais adiante na estrada. —
Na frente daquela van vermelha.
De repente, o meu celular vibrou na mão, atraindo a minha atenção.
S: Giuliano está do lado dela!
— Rico! Minha nossa! Não quero acreditar no que Sin está falando...
— Não consegui continuar, com o coração batendo descontroladamente no
peito. Quase fiquei sem ar, com a cabeça girando, pensando nas
possibilidades.
Giuliano, traidor?! Será que ele a chamou para ir até lá para atirar em
Domenico? Ele sabia que o meu sogro não levava o segurança quando ia na
casa do amigo. Mas Rita disse que apareceu porque leu sobre a festa na
coluna social...
Ah! Por isso que ele tinha feito aquela palhaçada de nota em coluna
social? Para Rita ter uma desculpa para aparecer e... Fazia sentido, sim!
— O que? Você está me assustando, Madah. Fala logo!
— Ele escreveu: "Giuliano está do lado dela!" — O gosto amargo por
pronunciar as palavras em voz alta me enojou. Bem agora que fiquei sabendo
que tinha um pai, era triste descobrir que ele não passava de um mau caráter.
— Tio Giuliano?! Por quê?! — Enrico gritou, cortando o meu
raciocínio. Do nada, inclinou o tronco para a frente, apertando os olhos para
enxergar melhor alguma coisa. — O que foi aquilo? Algo foi arremessado
pela janela do carro!
— Tenho um pressentimento. Será que foi o celular do Sin? Deixa eu
ver... Sim, foi isso. — Gelei ao ver o meu namorado já offline no WhatsApp.
Com isso, cortou o envio da sua localização.
— Ela deve ter descoberto que ele estava nos mandando a localização
em tempo real.
— Não perca o carro de vista, Rico, pelo amor de Deus!
— Não vou perder. — Acelerou, aproximando-se mais dela. — Mande
a nossa localização para Luca. Ou melhor, ligue para ele. Diga que tem que
tirar Domenico daquela mansão agora mesmo.
— Ok. — Acenei, discando para o contato do meu outro cunhado,
tremendo mais do que vara verde. — Caixa postal.
— Ligue para Paolo — murmurou, mordendo o lábio. — Será que os
meninos estão do lado do pai deles? Cacete... Talvez, Marco. Paolo, não. Não
posso acreditar... Ligue para ele.
— Tá bom — concordei, procurando pelo contato dele. — Caixa
postal.
— Droga! — Rico deu um soco no volante. — Que merda está
acontecendo naquela casa?!
Capítulo 60

Todos nós cometemos erros


Mas nunca é tarde para recomeçar
Respire fundo mais uma vez
E faça outra oração

Fly Away from Here | Aerosmith


Davi Filipo Sintori "Sin"

Minha tática parecia estar funcionando. Entrei no jogo da psicopata e,


dentro da sua loucura fodida, Rita comprou a ideia de que eu havia gostado
de fugir com ela.
— Quer dizer que você sentiu saudades de mim? — perguntou,
animada, com os olhos vidrados presos à estrada.
— Demais... — murmurei, segurando-me para não estragar a mentira.
Pisquei devagar, repetindo mentalmente: Não posso surtar.
— Eu também! Foram tantos anos separados, bebê... Pelo menos agora
poderemos correr atrás do tempo perdido.
— Não vejo a hora.
— Estamos quase chegando no lugar que escolhi para a gente... Mais
quinze ou vinte minutos.
— Maravilha, tia Rita. Estou ansioso.
Sentia ânsia de vômito a cada vez que ela encostava na minha perna,
porém não podia arriscar enfrentá-la, com a arma ainda na sua mão. Por isso
apenas forçava sorrisos e suspirava fundo, tentando me controlar. Não posso
surtar.
Rita dirigia com a mão direita segurando o volante e a esquerda
empunhando a porra da pistola.
Chegou a apontá-la para mim minutos atrás, quando percebeu que eu
mexia no celular e, irritada, me fez arremessá-lo pela sua janela aberta.
Fui imprudente para caralho ao mandar aquela última mensagem para a
magrela, só que eu tinha que avisá-la do envolvimento do filho da puta do
Giuliano nessa merda.
Ele havia acabado de telefonar para Rita, que atendeu a ligação no
viva-voz do carro. Meu coração gelou quando escutei o meu "querido tio" a
esculachar por ter falhado no assassinato do meu pai.
Cacete, aquilo foi surreal...
"Sua mulher imprestável! Cazzo! Se Domenico não morrer, o nosso
acordo já era! Está me entendendo?! Vagabunda inútil! Você não vai receber
nada!"
Depois que me vi sem o celular, torcia para que Rico não tivesse nos
perdido de vista. Eu ainda não tinha entendido de onde o meu irmão tinha
surgido, mas estava feliz com o fato que ele estava vindo atrás de mim.
Cheguei a morder a bochecha para não sorrir quando percebi a picape
nos acompanhando, meia hora atrás. Porém eu não sabia se ele continuava na
nossa cola...
Embora fosse difícil me segurar e não olhar para trás, tinha a
consciência de que não poderia ficar me virando ou levantaria suspeitas. Pelo
jeito Rita não havia notado que ele nos seguia.
O semblante fechado da maluca, com os olhos vidrados ainda presos na
estrada, mostrava que ela estava aborrecida comigo, por causa do lance
celular.
Quando entramos na porra do carro, ela havia dito para que eu não
pegar nada, não mexer em nada, se não quisesse irritá-la.
Pois é... Pelo jeito eu a irritei.
Minha respiração falhou quando reparei que os seus dedos finos
apertavam a arma com tanta força que estavam até com os nós brancos nas
juntas.
Precisava dar um jeito de acalmá-la...
— Tia Rita... — comecei, hesitante. — Não fica brava comigo, por
favor... — Forcei um tom amistoso e infantilizado. — Foi pura força do
hábito, mexer no celular ao receber uma mensagem... Foi mal.
— E quem era, hein? — Apertou os olhos para me analisar
rapidamente, antes de voltar a olhar para a estrada. Eu lhe exibia o meu
sorriso mais angelical.
— Nada de importante. Alguma bobagem do grupo do futebol...
— Tudo bem. Eu te perdoo com uma condição. — Seus lábios pintados
de vermelho esboçaram um sorriso de lado. — Você me chupar gostosinho
assim que chegarmos na casa... Daquele seu jeitinho faminto. Sabe, bebê?
Puta que pariu.
Travei com a lembrança da sua boceta me vindo à tona com tudo. Me
lembrei de todos os detalhes de quando lhe fazia oral — cores, cheiros,
sabores, texturas. Porra...
Meu estômago embrulhou, meu sangue esquentou, minha cabeça
girou... Caralho! Passei mal e por pouco não vomitei ali mesmo.
Rita se virou para olhar para mim, estranhando o meu silêncio e os
nossos olhares se chocaram por um único segundo. E, para piorar, eu não
pude disfarçar todo o horror que me consumia.
Fodeu.
Ela percebeu.
Então vi o seu rosto nojento se iluminar, do nada, com as luzes
pulsantes de sirenes policiais. Olhei para a frente e enxerguei quatro viaturas,
vindo a toda velocidade na nossa direção pela pista oposta.
No impulso, tomei uma decisão.
Quer saber? Foda-se.
— Eu nunca mais vou chegar perto da sua boceta asquerosa, sua
psicopata! — gritei, pegando-a de surpresa. Boquiaberta, ela virou o rosto
para a frente, percebendo que as viaturas invadiam a nossa pista, uma a uma,
vindo ao nosso encontro.
Com o coração disparado, entendi o que estava se passando lá fora.
Queriam cercar o nosso carro! Finalmente!
— É aquela menina que entrou na sua cabeça... Aquela ratinha... —
balbuciou, desorientada, balançando a cabeça. — Você gostava de mim,
bebê, e pode voltar a gostar.
— Não viaja, caralho! Eu sempre senti nojo de você, e sempre vou
sentir! E nunca mais me chame de bebê! — explodi, falando tudo o que
estava preso na minha garganta. — Você é a pior coisa que aconteceu na
porra da minha vida!
— Chega! Cala a boca! — Sacudiu a arma na minha direção,
diminuindo a velocidade do carro por causa das quatro viaturas que haviam
fechado as pistas. Os dois sentidos da estrada ficaram bloqueados.
— Fim de jogo, "titia". — Acenei na direção da Polícia, parada a
alguns metros de nós. Meu coração batia rápido, esperançoso por um final
feliz. — Hora de se entregar.
— Nunca... Eu não vou para a cadeia... — Balançou com força a
cabeça e soltou o volante, bagunçando os cabelos vermelhos. O carro
ziguezagueava devagar pela pista, sem rumo. — Se não
podemos viver juntos, vamos morrer juntos...
E, ao se virar para mim com a pistola engatilhada, tive que tomar uma
decisão fodida em uma fração de segundo.
— Vai você! Para o inferno, porra! — Me agachei e, com a mão
esquerda, soltei o seu cinto de segurança ao mesmo tempo em que, com o pé
esquerdo, pisei com tudo no acelerador, virando o volante na direção do
acostamento.
O carro deu um tranco forte, alcançando o marco de 100km/h em
poucos segundos. O corpo dela se sacudiu sem controle com a aceleração
repentina e depois voou pelo vidro da frente com o impacto, ao bater o capô
contra a mureta do acostamento, espalhando estilhaços por todos os lados.
O airbag se inflou bem na minha cara, me prensando e me sufocando,
mesmo assim eu ria como um palhaço, eufórico. Caralho!
Fiquei com o rosto de lado, olhando para a porta amassada, me
perguntando o que teria acontecido com a desgraçada da Rita. Das duas, uma.
Ou filha da puta se machucou feio, ou morreu.
Se morreu... Foda-se! Tomara que sim! Mas, se não morreu, pelo
menos iria presa. De qualquer forma, eu estava livre.
Livre, caralho! Livre dela, para sempre.
— Amor! — De repente, a voz aflita da minha namorada chegou até
mim. — Você está bem?!
Madah se agachou para me espiar através da janela quebrada. Seu
sorriso de canto a canto me comoveu. Feliz, sorri ao fitar os seus olhos azuis
preocupados, cheios de lágrimas.
— Estou bem, magrela. Agora, sim.
Capítulo 61

Quando você tem um trabalho a fazer


Você tem que fazê-lo bem

Live And Let Die | Guns N' Roses


Enrico Lorenzo Sintori "Rico"

— Como você já chegou aqui?! — Escutei Sin perguntar a Madah,


ainda preso dentro do carro, prensado pelo airbag.
Eu estava a poucos metros deles, prestando esclarecimentos a um
policial, que me fazia perguntas e anotava as respostas em uma prancheta,
falando no rádio de tempos em tempos.
— Vim com o seu irmão. Rico apareceu lá na frente da casa dos
Fontini, logo depois que aquela mulher horrorosa te levou e... — Ela tentava
abrir a porta para que ele saísse, sem sucesso. — Queria dar um jeito de te
tirar do carro, amor... Depois a gente conversa, tá?
As luzes pulsantes das sirenes iluminavam a cena, deixando-a ainda
mais aflitiva, com os barulhos de vozes e dos rádios da Polícia ao redor, me
atordoando.
Até que dois policiais apareceram e começaram a tentar arrancar a
porta do carro amassado. "Vamos tirar você daí, garoto!" Vi que a lataria
estava quase cedendo, com os homens bufando com os rostos vermelhos do
esforço.
— Enrico Sintori. Acabo de receber novas informações. — O policial à
minha frente chamou a minha atenção e baixou o rádio, com o semblante
sério, me deixando tenso. — Seu pai, Domenico Sintori foi levado com vida
para o hospital, estável, e Giuliano Fontini foi preso. Ele e seus seguranças.
Cacete! Então tio Giuliano era mesmo culpado... Que merda!
— Obrigado. — Aliviado por saber que meu pai estava vivo, expirei o
ar com força, levando as mãos à nuca.
— Até que enfim, caralho! — Ouvi Sin falar ao fundo, se arrastando
para fora do carro, com a porta destruída jogada no chão.
— Rico, tem notícias do pai? Como ele está? — Ele correu até mim e
agarrou os meus ombros, nervoso, com os olhos arregalados.
Repassei as informações ao meu irmão, com a princesa grudada no seu
braço, atenta.
— E a desgraçada...? — perguntou Sin, apertando os lábios, se
referindo a Rita.
— Está morta. Não resistiu aos ferimentos da batida do carro... —
Madah respondeu e, automaticamente, virei para os legistas que fechavam o
corpo da maluca dentro de um saco com zíper. Não pude evitar um calafrio
me subindo pela coluna.
— Jura?! — Sin quis ter certeza, abraçando a namorada, com o alívio
palpável na sua voz. — É verdade, Rico?!
— É, pirralho. Fica tranquilo.
— A senhorita é filha do suspeito, certo? Podemos conversar por um
minuto? — O policial se virou para Madah, que assentiu com a cabeça, com
os olhos bem abertos.
— Rico... — Sin me puxou mais para o lado, sussurrando, com a voz
trêmula. — Eu que sou o responsável pela morte da Rita... Pisei no acelerador
e soltei o cinto de segurança dela e... Porra! A maluca queria bater o carro
para que a gente morresse junto! Isso foi muito errado?! Não sei o que
pensar.
— Não. Pode parar com isso. — Apertei o seu ombro e, sentindo a sua
musculatura toda rígida, o encarei. Suas íris azuis refletiam o seu nervosismo,
me comovendo. — Você fez o que tinha que ser feito. O lugar dela é no
inferno.
— Valeu. Valeu, mesmo. — Ele me puxou para um abraço apertado,
quase me esmagando, com a voz embargada. — Te amo, irmão.
— Também te amo, pirralho — respondi, o abraçando de volta, mais
leve.
Era a primeira vez que a gente falava aquilo um para o outro.

Entrei com a picape no estacionamento do hospital depois de dirigir


desde Guarulhos, sem parar. O meu irmão e a princesa tinham vindo comigo.
Eu havia perguntado se Sin não queria ir para casa descansar, depois de todo
o estresse que passou com a maluca da Rita, mas ele preferiu vir junto.
Queríamos ver o nosso pai e, também, entender o que aconteceu naquela
casa.
Eu sabia que Marco tinha ido para a Delegacia prestar esclarecimentos
assim que a Polícia levou Giuliano e seus seguranças presos. Já Luca veio
para cá, acompanhando Domenico na ambulância, com Paolo os seguindo de
carro.
Paolo ficou de me explicar todo o caos pessoalmente assim que eu
chegasse. Pelo menos já me disse que meu pai havia passado por uma
cirurgia bem-sucedida e estava estável, o que tranquilizou a todos nós.
— Vai entrando, Rico... — Sin me falou depois que descemos do carro,
com um braço em volta da cintura da namorada, mais calmo. — Vou fumar
um cigarro aqui fora com a magrela, daqui a pouco a gente te encontra lá
dentro.
— Ok, sem pressa. — Olhei para o meu relógio de pulso, baixando os
olhos. — Não são nem dez horas e, de acordo com Paolo, o médico explicou
que Domenico só acordaria por volta de meia-noite. Foi uma cirurgia bem
complicada para a retirada dos projéteis do abdômen dele.
— Porra, nem me fale dos tiros... — Meu irmão bagunçou os cabelos,
encaixando um cigarro entre os lábios. — Nunca vou me esquecer daquela
cena fodida. A filha da puta da Rita atirou nele sem dó...
Em seguida, eu o vi acender o cigarro, dando uma longa tragada,
apertando os olhos. Ficamos em silêncio por alguns segundos, os três parados
no meio do estacionamento mal iluminado.
— O que importa é que acabou — comentou Madah, com um pequeno
sorriso nos lábios. — Sin escapou sem ferimentos, Rita está morta, Giuliano
foi preso e Domenico está se recuperando da cirurgia. Dentro das
possibilidades, deu tudo certo.
— Tem razão. Mas ainda não entendi a traição de Giuliano —
concordei, respirando fundo. — Bom, vou lá procurar por Paolo... Mais tarde
nos vemos.
Me afastei deles, seguindo em direção ao prédio do hospital. Passei
pelas portas de vidro da recepção e logo enxerguei o vocalista da Five Stars
com um semblante tão perdido que me comoveu. Os ombros caídos, os
cabelos cacheados bagunçados... Em nada se parecia com o meu garoto de
sempre, que vivia alegre e cheio de energia.
Ele estava em pé, recostado em uma parede ao lado da máquina de
café, com as mãos enfiadas nos bolsos da frente da calça jeans. Com os olhos
baixos, não notou a minha aproximação até que eu estivesse parado bem na
sua frente.
— Paolo — chamei e ele ergueu os olhos. Vermelhos. Estremeci ao me
dar conta de que havia chorado. Que merda! — Vem cá, cara...
Sem pensar, eu o puxei para um abraço, que ele retribuiu, envolvendo a
minha cintura com os seus braços finos. Então explodiu em lágrimas no meu
ombro, sacudindo o corpo magro com os soluços, me desmontando todo.
Acariciei as suas costas, tentando lhe passar algum conforto.
— Eu não imaginava... — murmurou em meio aos soluços. — Que
filho da puta... O meu pai... Não me conformo, Rico! Estou me sentindo mal
para caralho... Tio Domenico sempre nos tratou tão bem e...
— Ninguém imaginava. Não fique assim... Você não tem culpa de nada
— respondi, ainda o abraçando. Continuamos assim por algum tempo até ele
se acalmar.
— Obrigado. — Afastou o rosto para me olhar, esboçando um sorriso
desanimado. — Imagino que você tenha uma porrada de perguntas... Vamos
lá fora, preciso de um cigarro.
Concordei com a cabeça e seguimos até a parte externa do hospital, de
mãos dadas. No estacionamento, Paolo se sentou em uma mureta e acendeu
um cigarro, o tragando e soltando a fumaça para cima.
— Pode começar a falar quando estiver preparado, sem pressa — disse
a ele, me sentando ao seu lado, não desejando o pressionar.
— "Preparado" eu nunca vou estar. O que o meu pai fez foi... —
Tragou mais uma vez o cigarro, jogando a cabeça para trás, com os olhos
perdidos no céu estrelado. — Uma puta sacanagem.
Capítulo 62

Eu encontrei uma razão para mim


Para mudar quem eu costumava ser
Uma razão para recomeçar
E a razão é você

The Reason | Hoobastank


Enrico Lorenzo Sintori "Rico"

— Deixa eu te contar direito... — Paolo soltou a fumaça do cigarro


com os olhos perdidos no céu estrelado. — Lembra que o meu pai estava
viajando?
— Lembro. Na China, certo?
— Sim. Os chineses fizeram uma oferta fodida para a compra da
Modernità Tech, porém o seu pai não quis vendê-la. Domenico disse que
nunca abriria mão da empresa, que era o seu legado para os filhos.
— Sim, ele sempre fala isso... — comentei. — Inclusive Luca passou a
trabalhar lá há algum tempo, deixando Domenico bem orgulhoso.
— Já o meu pai estava pouco se fodendo para o lance de legado
familiar. — Paolo riu sem graça, balançando a cabeça. — Nenhum dos filhos
dele seguiu a carreira empresarial. Marco quis fazer Medicina e eu, você
sabe... Sou das Artes. Enfim... Os velhos discutiram. Por causa da venda da
empresa aos chineses que Giuliano queria fazer e Domenico não.
— Mas isso foi motivo o bastante para ele querer ver o meu pai
morto?! Cacete, pensei que fossem amigos, quase irmãos...
— Perder uma venda de duzentos milhões de dólares já seria motivo
suficiente para muita gente. Só que eles também carregam mágoas antigas...
Parece que o meu pai sente inveja do seu. Domenico é livre, namora à
vontade, viaja, curte a vida e... A minha mãe doente prende Giuliano, você
sabe.
— Que merda, hein... — murmurei, sem saber bem o que falar. — E
ele não pensou em vocês? Com ele na cadeia e a tia Anna na clínica, você e
Marco agora estão sem ninguém.
— Grande diferença... — Jogou longe a bituca, chateado. — Eu e
Marco já nos viramos sozinhos faz tempo. Desde a infância, eu convivi mais
com o seu pai do que com o meu. Aliás, Domenico sempre nos acolheu muito
bem na sua casa, não posso reclamar.
— É verdade. Durante as férias vocês viviam com a gente... —
respondi, assentindo com a cabeça.
E foi em uma delas que comecei a me interessar por você, pensei,
nostálgico.
— Meu pai tá cagando para mim e para o meu irmão, Rico — disse
com o olhar sem foco, triste. — E tem mais... Se Domenico tivesse morrido,
você e os seus irmãos automaticamente herdariam a parte dele na empresa.
Escutei Giuliano falar que conseguiria manipular você e o pirralho, porque
estavam envolvidos em relacionamentos com os filhos dele.
— Relacionamentos? — repeti, meio aéreo com as novas informações,
perdido.
— Sim. No caso, eu com você e Madah com Sin. Luca, que é o único
que já possui alguma noção empresarial, ficaria isolado e seria voto vencido
caso tentasse barrar a venda da Modernità — explicou, se levantando,
inquieto.
— Faz sentido. — Eu também fiquei em pé e, pensativo, cocei a nuca.
— Tem mais uma coisa... Hoje descobri que meu pai é um ganancioso
filho da puta há anos... Sabia que ele tentou obrigar a mãe da Madah a
abortar? Por isso a mulher se mandou para o Uruguai.
— Como assim?
— Simples. A grana da minha família veio toda do lado da minha
mãe... Meu pai era um fodido que não tinha onde cair morto. Assim, quando
eles se casaram, rolou um acordo pré-nupcial falando que em caso de
infidelidade comprovada, Giuliano sairia do casamento sem nada. Ou seja, se
viesse à tona na época que tinha engravidado outra mulher, meu pai iria se
foder.
— Porra... Mas agora não tem mais problema? Ele assumiu a
paternidade da Madah depois do DNA, não assumiu?
— Sim, assumiu. Pensando na empresa. Em manipular Sin através da
namorada. E, de um tempo para cá, minha mãe perdeu a consciência, por isso
meu pai pensou que não daria em nada ter uma filha de um lance
extraconjugal. Mas meu irmão ficou puto com ele e disse que vai acionar o
advogado para garantir que Giuliano se ferre... Já era a liberdade e o dinheiro
que ele tanto prezava. Marco também não se conforma com a traição a
Domenico.
— Caramba... Gostei de saber que vocês dois não ficaram do lado dele.
Mostraram que, ao contrário do pai, têm caráter. Fiquei orgulhoso.
— Obrigado, Rico — Paolo murmurou, esboçando um sorriso sem
ânimo.
— E como ele foi preso? Me conta. Vocês ficaram incomunicáveis, não
ficaram? Tentamos ligar e só dava caixa postal.
— Foi assim... Hugo trouxe o seu pai baleado para dentro da casa e o
meu pai disse que tinha chamado a ambulância. Mas, depois de um tempo,
estranhamos a demora. Luca estava surtando de preocupação e quis ligar de
novo para o resgate. Nisso, Giuliano finalmente abriu o jogo e, tirando a
máscara, falou que não havia ambulância alguma a caminho. Mandou Hugo
nos apontar uma arma, confiscando e desligando os celulares de todo mundo,
para que ninguém chamasse ajuda. Queria que Domenico morresse ali
mesmo, de hemorragia. Foda... Descobrir do nada que o meu pai era um
bandido filho da puta...
Paolo parou de falar e virou as costas, andando sem rumo,
desorientado.
— Imagino. — Fui atrás dele, ainda com uma dúvida na cabeça. — E
como a Polícia apareceu, se vocês ficaram sem celular?
— Porque outra pessoa já havia ligado para o 190. Não sabe mesmo
quem foi...? — Ele sorriu timidamente para mim, dando dois passos na minha
direção.
Cacete! A ligação que eu tinha feito para a Polícia, quando vi Rita com
a arma na frente da casa, ameaçando o meu pai.
— Sei. Eu que liguei. Mas pensava que a vilã fosse somente a maluca
da Rita. Jamais pensei que o seu pai...
— Eu sei, eu sei. Que ele estaria por trás dela — explicou, me
estendendo a mão. — Ela atirou em Domenico porque Giuliano lhe prometeu
um percentual da venda da empresa. E foi isso... A Polícia chegou, cercou a
casa e o meu pai teve que se render. Fim.
— Entendi. — Segurei a sua mão fria, puxando Paolo para mais perto.
Enfiei o rosto no seu pescoço e, suspirando fundo, apoiei as mãos na sua
cintura.
— Rico... — murmurou perto do meu ouvido, me arrepiando. —
Espero, de verdade, que essa merda não atrapalhe a gente.
— Não entendi. — Afastei os nossos rostos para olhar em seus olhos.
— Assim... Eu compreendo se você ficar com raiva da minha família,
por causa do meu pai, mas eu não sabia de nada. Fiquei pensando antes de
você chegar. Eu estou tentando melhorar, sabe... Porque eu gosto para
caralho de ti. Mas então vem o meu pai, rachando as famílias e...
— Ei... Pode parar. O seu pai é uma pessoa, você é outra. Giuliano me
decepcionou demais, não vou negar. Eu o desprezo. Já você, eu... — hesitei
com as palavras pesando na língua, presas.
— Fala. — Ele abriu um sorriso largo, com os olhos azuis brilhantes,
em expectativa.
— Você... Eu não desprezo. — Dei risada e ele me puxou para mais
perto pelos quadris.
— Não era bem o que eu queria ouvir, mas beleza... — Beijou a minha
bochecha, bem no cantinho da boca. — Melhor do que nada.
Eu sei.
Inseguro, sem poder lhe dar o que ele queria, tomei outra atitude. Levei
as duas mãos ao seu rosto e uni os nossos lábios em um beijo lento,
disparando o meu coração.
Embora já estivesse completamente apaixonado por ele, era difícil me
declarar. Engraçado que a única vez que falei abertamente sobre os meus
sentimentos foi no dia do flagra horroroso na jacuzzi.
Já Paolo falou com todas as letras que me amava naquele dia que estava
todo estourado, no hospital.
Quer ouvir outra coisa aleatória, cara? Lá vai... Enrico Lorenzo. Eu te
amo.
E, apesar do seu jeito oposto ao meu, apesar de todas as adversidades,
eu o amava, sim. Demais, que até me doía o peito.
Porém a insegurança me prendia... Tinha medo de me entregar de vez e
me ferrar. Paolo não me inspirava total confiança. As imagens que presenciei
das orgias continuavam frescas na minha mente, me deixando com o pé atrás.
Me perguntava se eu seria mesmo o bastante para ele. Se, sozinho, poderia
fazê-lo feliz.
Talvez fosse por isso que ainda não havia cortado em definitivo aquele
cara que conheci na Rainbow. João. Não nos vimos mais, mas temos trocado
mensagens esporadicamente. Me sentia mal por levar o homem em banho-
maria, mas...
A verdade era que eu o via como um estepe, para quando as coisas com
Paolo desandassem. O que, na minha cabeça, iria acontecer mais cedo ou
mais tarde. Era apenas uma questão de tempo.
Capítulo 63

É errado eu não querer só a metade?


Eu quero tudo de você

If I Can't Have You | Shawn Mendes


Enrico Lorenzo Sintori

UM MÊS DEPOIS

Enquanto aguardava Paolo chegar, eu mexia no celular, balançando o


pé, ansioso. Pensei nas últimas semanas que passamos juntos, não
conseguindo conter um sorriso. As visitas na faculdade, os ensaios da banda
no estúdio, os filmes na minha casa e na dele. E, para fechar com chave de
ouro, teve o lance dos anéis de compromisso que Paolo tomou a iniciativa de
comprar para oficializar o nosso relacionamento.
Só que, apesar de estarmos apaixonados e de termos uma química
incrível, eu continuava virgem. Inseguro, com medo da dor e com vergonha
por não saber bem o que fazer na hora H, vinha adiando o momento.
Paolo era tão experiente, tranquilo, desinibido. E eu, o seu completo
oposto.
Ok, já vi um milhão de filmes pornôs, já pratiquei algumas coisas
durante os nossos amassos, já aprendi até mesmo a fazer a bendita "chuca"
para evitar constrangimentos. Ou seja, tinha uma boa ideia do que
aconteceria.
Sabia também que Paolo não se prendia a rótulos de "passivo" ou
"ativo".
Ontem mesmo, foi direto: "Você está me torturando, porra! Nunca
fiquei tanto tempo sem sexo. Eu quero muito te foder e ser fodido por você.
Vamos experimentar de tudo, está prestando atenção? Na frente, atrás, por
cima e por baixo." E caiu na risada, ajeitando a própria ereção dentro da
calça, com os olhos brilhantes. "Não vejo a hora, Rico. Só de pensar na nossa
primeira vez já fico de pau duro."
Nós estávamos sozinhos na sua casa, largados no sofá. Com a sua
cabeça deitada no meu colo, ele falava sobre sexo com naturalidade, como se
comentasse sobre a previsão do tempo.
"Com você, não tem o lance de 'ativo' ou ' passivo', né? Bem 'alma
livre'!" Apontei, sorrindo. Paolo puxou a minha mão direita, dando um beijo
em cima do anel de compromisso: "Alma livre e monogâmica. Mais feliz do
que nunca."
Naquele momento, com os batimentos descontrolados quase me
ensurdecendo, me perdi nos seus olhos azuis e tomei uma decisão.
Uma, não. Duas. Cortar de uma vez o contato com João e perder a
virgindade com Paolo.
"Mais feliz do que nunca." Repeti a sua fala, sorrindo como um
adolescente. "Amanhã?"
Paolo se sentou em um pulo, surpreso. "Caralho, você tem certeza?"
Assenti com a cabeça e ele me agarrou. Meu corpo tombou para trás no sofá,
com o dele por cima. "Amanhã, Rico. Mas primeiro vou te levar para jantar...
Pacote completo."

Assim que entrei no carro, perdi o ar ao vê-lo de banho tomado, ainda


com os cabelos úmidos, bagunçados.
Paolo vestia uma camiseta branca simples e calça jeans e, mesmo
assim, estava impecável. Olhei bem para ele, ainda sem acreditar que iríamos
jantar fora, em um encontro.
— Que cara é essa? — perguntou com divertimento.
— Você está... — Não soube o que falar.
— Lindo? Gostoso? — Deu risada, mexendo na minha franja.
— Sentava?
— Convencido seria a palavra mais adequada. Você se acha... —
Acabei sorrindo diante da sua fala.
— Lógico que eu me acho! Motivo não me falta. Olha o gostoso que
vai jantar comigo... E, depois, vai me jantar... E, depois, vai ser jantado... —
Apertou a minha bochecha, rindo ainda mais. — Mais tarde, Rico... Quando
eu sentar, nem guindaste me levanta.
— Paolo! Eu fico constrangido quando você fala essas coisas...
— Tá bom, parei. Pronto para o nosso primeiro encontro? — Se
inclinou na minha direção, beijando a minha bochecha. — Vou me
comportar.
— Sei — murmurei, ligando o som do carro enquanto ele dava a
partida.
Estava começando a tocar "If I Can't Have You", de Shawn Mendes.
I can't write one song that's not about you
(Eu não posso escrever uma música que não seja sobre você)
Can't drink without thinkin' about you
(Não posso beber sem pensar em você)
Paolo foi dirigindo, cantarolando ao mesmo tempo, alegre. Eu
simplesmente não conseguia desviar os meus olhos. A boca rosada e carnuda,
o piercing prateado no nariz, os olhos claros, a franja bagunçada...
— O que foi, hein? Por que está me encarando?
— A música — disfarcei. — Você sabe a letra de cor!
— Eu gosto de Shawn Mendes. E você? Não gosta?
— Prefiro Harry Styles.
— Jura, Rico?! — Franziu a testa, incrédulo. Depois balançou a cabeça,
sorrindo. — Certo.
Logo chegamos ao restaurante onde ele havia feito as reservas. "Pasta
& Vino". Um motorista ficou com o carro e caminhamos até a porta de mãos
dadas. Já estava quase à vontade com estes pequenos gestos. Ainda não
tínhamos nos beijado em público, mas segurar a mão e fazer uma ou outra
carícia discreta, sim.
Assim que passamos pelas portas de vidro, olhei ao redor,
impressionado com o ambiente fino e, ao mesmo tempo, acolhedor. As luzes
amareladas, as velas nos castiçais, as paredes escuras, as mesas com toalhas
brancas e taças de cristais.
Sorri ao me dar conta de que Paolo quis se esforçar por mim. Por ele,
aposto que iríamos a uma lanchonete fuleira qualquer. Sabia bem como eram
os botecos que frequentava com os amigos do Teatro.
— Boa noite! — A hostess loira nos cumprimentou. Seus olhos com
longos cílios nos avaliaram da cabeça aos pés. — Sinto muito, os senhores
não podem entrar.
Merda... Fiz menção de me soltar de Paolo, mas ele agarrou a minha
mão com mais firmeza, entrelaçando os dedos, antes de falar com a mulher:
— Como assim? Fiz as reservas com antecedência. Duas pessoas, em
meu nome.
— Compreendo, porém, temos uma regra de conduta que...
Minha cabeça girou, com o coração bombeando forte, me atordoando.
Não podia acreditar que ela iria estragar tudo, nos barrando por sermos um
casal de garotos.
— ... que exige uso de paletó para homens. Traje social.
— Ah... — murmurei, aliviado. Desci os olhos para a minha roupa,
ainda com o coração acelerado. Vesti uma camisa polo branca porque não
sabia que teria que usar paletó.
— Me perdoe, não me atentei a este detalhe. — Paolo sorriu para ela,
todo charmoso. — Imagino que tenham alguma solução para situações
especiais. Afinal, hoje é o nosso primeiro encontro... Audrey. — Leu o nome
dela no crachá. — E, apesar dele gostar mais de Harry Styles do que de
Shawn Mendes, o meu namorado é o garoto da minha vida.
O olhar leve dela deixava claro que havia simpatizado com Paolo. O
carisma dele era irresistível.
— Bem... É evidente que Shawn Mendes é melhor. — Ela sorriu com
espontaneidade, formando covinhas nas bochechas. — Vamos ver a reserva...
Como é mesmo o nome dos senhores?
— Paolo Fontini e Enrico Sintori — respondeu, acariciando o dorso da
minha mão com o polegar. — Nada de "senhores", pode nos chamar pelos
nomes.
— Sintori, com S? — Ela arqueou as sobrancelhas claras. — Parente de
Domenico Sintori?
— Sim. — Paolo aumentou o sorriso, orgulhoso. — É o pai dele e,
assim, o meu sogro. Você o conhece, Audrey?
— Eu o admiro, mas não tive a oportunidade de conhecê-lo
pessoalmente. Fiz uma entrevista recentemente na Modernità Tech, com um
dos diretores, porém não fui chamada até o momento.
— A empresa é das nossas famílias, na verdade. Posso pedir para
reavaliarem o seu currículo, se quiser. Você me parece bem capaz.
— Obrigada, Paolo. Eu ficaria muito feliz se me fizesse esse favor. —
Ela sorriu, agradecida. — Por falar em favor... Me lembrei de que temos
paletós guardados para clientes preferenciais. Devem servir em vocês. Só um
momento. — Se afastou com os saltos finos batendo no piso bem lustrado.
Logo depois retornou com dois paletós pretos no braços.
— Muito obrigado. — Paolo estendeu as mãos, pegando as peças com
cuidado. — Isso foi muito atencioso da sua parte.

O jantar transcorreu tranquilamente. Pedimos uma massa fresca


deliciosa, com frutos do mar e um vinho branco de acompanhamento. A
companhia de Paolo era muito agradável. Continuávamos sentados à mesa,
no aguardo do mousse de chocolate de sobremesa quando um casal
violinistas se aproximou, atraindo a nossa atenção.
— Paolo Fontini e Enrico Sintori? — O homem perguntou. Fizemos
que sim com a cabeça, estranhando a presença deles.
— A senhorita Audrey nos pediu para tocar uma música para o casal,
em comemoração ao primeiro encontro. Podemos começar?
Paolo fez menção de lhe responder que sim, porém correu o olhar até
mim antes de abrir a boca. Talvez por achar que eu poderia ficar
constrangido. Eu conseguia ver o quanto ele estava animado com a situação,
por isto respirei fundo e tomei a iniciativa de responder aos músicos.
— Podem, sim. Obrigado. — Apoiei a minha mão sobre a coxa de
Paolo, lhe arrancando um pequeno sorriso. Depois ele cobriu a minha mão
com a sua e, em silêncio, prestamos atenção aos violonistas.
A mulher puxou os acordes, me fazendo reconhecer “Mercy”, de
Shawn Mendes. Em seguida, já engataram “Lights Up”, de Harry Styles.
Audrey pelo jeito se lembrou da nossa conversa, deixando o nosso primeiro
encontro ainda mais inesquecível.

Paolo me empurrou contra a parede assim que entramos no seu quarto.


— Não aguento mais, Rico... Porra... Não vou me segurar —
murmurou com os lábios percorrendo o meu pescoço, enfiando uma mão por
dentro da minha calça. Encontrou o meu pau, esfregando o polegar na
pontinha úmida da minha glande. Cacete...
— Não quero que se segure... — falei, com o corpo todo formigando
em expectativa. Escorreguei as mãos por dentro da sua camiseta, deslizando
os dedos pela sua barriga lisinha. Paolo deu um passo para trás, se livrando
da camiseta, chutando os tênis para longe e descendo as calças. Ficou apenas
de cueca. Eu o imitei, me despindo sem perder tempo.
Ansioso, ele voltou a me prensar contra a parede, me beijando
possessivamente enquanto movimentava os quadris me empurrando mais e
mais, com as nossas ereções se estimulando.
— Não vai desistir? — perguntou, com os seus olhos azuis me
enxergando até a alma. Percebi no seu hálito quente o álcool do vinho branco
e o doce do mousse de chocolate.
— Não. Eu quero você.
— Vamos para a cama?
— Vamos — respondi e Paolo sorriu, descendo a cueca. Excitado, fitei
a sua bunda durinha enquanto se afastava de mim, subindo no colchão.
— Rico... — Ele se deitou de barriga para cima, se masturbando
devagar. — Pega aquela caixinha e depois sobe aqui. Apontou para um cubo
de madeira em cima da cômoda. Eu obedeci, buscando o objeto e, com a mão
livre, tirei a cueca antes de me aproximar dele.
— O que eu faço agora?
— Me beija. — Me puxou e eu me posicionei por cima do seu corpo,
com o meu peso nos cotovelos, colando os nossos lábios. — Seu gosto é o
melhor... — Levou os lábios ao meu pescoço, me lambendo da orelha ao
ombro. Ao mesmo tempo, passou a me masturbar, com a mão deslizando
para cima e para baixo do seu comprimento, sem parar.
— Cacete, Paolo... Se continuar assim eu já vou gozar... — murmurei,
com a eletricidade me subindo pela coluna.
— Nada disso. — Puxou a caixinha. — Vai gozar no meu rabo. Bota
isso... — Jogou uma camisinha para mim e gelei ao me dar conta de que
nunca vesti uma. Ele parecia distraído abrindo o tubo de lubrificante, sem
notar que eu continuava parado, imóvel.
— Eu... — balbuciei, olhando para a camisinha, sem saber o que falar.
— Te ajudo, fica tranquilo. — Abriu a embalagem com uma facilidade
absurda, segurando o preservativo entre os dedos.
Depois o desenrolou na minha extensão, aproveitando para me
estimular mais um pouquinho. A sensação da punheta com o meu pau
encapado era um pouco estranha. Não exatamente ruim... Só diferente.
Ficamos ajoelhados em cima da cama e ele voltou a beijar o meu
pescoço, sem parar de me masturbar. Eu ainda não me conformava com o
fato de que não sabia vestir um preservativo, com vinte anos na cara.
— Sou tão cabaço... — Dei risada, balançando a cabeça.
— Por pouco tempo. Deixa comigo... — Me empurrou para trás e
fiquei com as costas apoiadas na cabeceira, sentado, meio reclinado.
— Ok. Me fala o que fazer.
— Espalha lubrificante no meu rabo que depois vou sentar em você.
Beleza, Rico?
— Beleza.
"Beleza"? Com o coração disparado em expectativa, fui mais para
frente, pegando o tubo de lubrificante nas mãos. Paolo se virou de costas para
mim e, abrindo as nádegas, passei a espalhar o gel bem ali.
— Isso... — Ele se remexia conforme os meus dedos trabalhavam,
lubrificando toda a região. Levei a outra mão para a frente do seu corpo,
encontrando o seu pau duro e quente.
— Cacete... — gemi, rodeando o seu ânus e brincando com a sua
ereção, degustando a sensação de usar as duas mãos nele.
— Se tá achando bom brincar com os dedos, vai surtar quando usar
outra coisa, cara... — Ele riu, se virando de frente para mim, com as
bochechas rosadas de tesão. — É agora, Rico... Vou sentar e você vai me
enrabar... Fechado?
Assenti, com os olhos arregalados.
"É agora, Rico..." Fodeu.
De frente para mim, Paolo colocou uma perna de cada lado das minhas
coxas, posicionando a minha glande no seu buraco. E, antes que eu pudesse
falar alguma coisa, estremeci ao me sentir entrando nele, justo. Conforme ele
descia, a sua musculatura quente se abria para me receber, me fazendo ver
estrelas.
— Ah... — Ele gemeu, sorrindo de olhos fechados, sentado por inteiro
em mim.
— Nem acredito... — Agarrei a sua cintura com as mãos, extasiado ao
me ver todo enterrado nele.
— Oi, ex virgem. — Paolo sorriu, rebolando de leve, roçando a bunda
em mim. — Posso continuar?
— Pode — respondi, ofegante. Sentia o suor descer pela minha coluna
conforme ele subia e descia, se impulsionando em um ritmo perfeito.
— Caralho, que pau gostoso... — murmurou, mordendo o lábio,
acelerando o sobe e desce. Apertei os olhos, com o tesão me queimando e,
quando os abri, vi Paolo sorrindo para mim, emocionado. Apaixonado. Foi o
gatilho que me faltava...
— Porra! — Explodi em um orgasmo forte e, preenchendo a camisinha,
puxei o meu garoto para mim. — Paolo... Acho que eu te amo.
Nossos corpos quentes, suados e fundidos, me gritavam a certeza que
eu tinha medo de enxergar. Ele deu risada e se ergueu, tirando a camisinha de
mim devagar, dando um nó. Ficamos por algum tempo em silêncio, sentados
lado a lado.
— Rico... Se eu soubesse que era só te dar o cu para você se declarar...
Teria dado faz tempo!
— Besta. Não foi só por isso... — Enganchei um braço no seu pescoço,
puxando-o para mais perto. Eu estava ansioso para prosseguir com os planos
da noite. — Minha vez agora. Quero te dar...
— Dar o quê...?! — perguntou, segurando o riso, querendo que eu
falasse com todas as letras.
— Você sabe!
Fui bater no seu braço, mas ele me empurrou para o lado, me deitando
de bruços na cama.
— Não sei, não. — Sentou sobre as minhas coxas e deslizou uma mão
lentamente pela linha da minha coluna, de cima a baixo. Me arrepiei com
tudo quando senti os seus dedos descendo mais, rodeando o meu buraco
virgem.
— É isso que eu quero dar! — Eu ri, nervoso. — Porém tenho medo...
Vai doer muito?
— De verdade, cara? Um pouco. Prometo ser cuidadoso. — Se
inclinou, beijando a minha nuca. — Relaxa...
Senti os seus lábios macios descendo pelas minhas costas úmidas, com
a língua quente me lambendo centímetro a centímetro. Em seguida, agarrou
as minhas nádegas com as mãos, separando-as. Passou a me lamber bem ali,
me dando choques de prazer. Não pude conter um gemido comprido.
— Rico... Vou jogar o lubrificante, ok? Não se assusta, só é gelado no
começo...
— Ok — murmurei, estremecendo ao sentir o gel frio no meio da
minha bunda.
— Vou preparar o terreno... — Paolo voltou a me beijar na nuca,
enfiando lentamente um dedo no meu ânus, acelerando o meu coração. Não
doeu, talvez por conta do lubrificante.
— Que apertado, hein... — Arfou, alucinado, entrando e saindo
devagar. — Posso enfiar mais um?
Fiz que sim com a cabeça, gemendo ao sentir os dois dedos me
penetrando. Dentro de mim, os abriu como uma tesoura, forçando a
musculatura com cuidado.
— Aguenta firme... — Repetiu o gesto mais algumas vezes, com a
outra mão massageando os meus ombros, me relaxando.
De repente, tirou os dedos de mim. Quase reclamei. Mas, ao olhar para
trás, o vi vestindo a camisinha. Meu estômago se revirou em apreensão,
disparando mais o meu coração.
— Pronto, amor? — Se inclinou de novo por cima de mim, encaixando
a sua ereção entre as minhas nádegas.
— Se eu soubesse que me chamaria de amor quando fosse me foder, eu
já teria concordado antes... — Imitei a sua fala, rindo, agarrando os lençóis
com as mãos. — Manda bala.
— Vai brincando, vai... Quero ver rir agora. — E, de repente, passou a
se empurrar para dentro de mim. Cacete... Apertei os olhos, sentindo ele me
rasgar, me queimando ao forçar a passagem.
— Não prende, Rico... — falou por trás de mim, com as mãos trêmulas
nos meus quadris, entrando mais e mais. — Faz força para fora... Assim...
Caralho! Pronto!
— Entrou tudo? — perguntei, me sentindo preenchido de um jeito
diferente e absurdamente intenso.
Por que demorei tanto para experimentar?
— Tudo. — Ele se abaixou para falar na minha orelha, sem sair de
dentro de mim. — Oi, ex virgem, de novo. Agora você é meu. — Lambeu o
meu pescoço, girando os quadris, ainda todo enterrado em mim.
— E você é meu?
— Só seu, Rico. Porra... — gemeu, saindo quase que por inteiro e
voltando tudo de novo. — Vou acelerar, ok? Não estou aguentando mais de
tesão... — Repetia a movimentação sem parar, indo e vindo. Assenti,
percebendo que, apesar do leve desconforto lá atrás, a minha excitação
voltava a crescer com todo aquele entra e sai na minha bunda.
— Puta que pariu! — Paolo gritou, ejaculando. — Rico, porra... Te
amo, te amo, te amo... — repetiu, bombeando devagar, prolongando o seu
orgasmo. Depois tombou do meu lado e virei o rosto para o seu. Ficamos nos
encarando por longos segundos que pareceram uma eternidade.
— Já falei que te amo, cara? — Ele sorriu, com o rosto vermelho e os
olhos ainda mais azuis. Passou a mão pelo meu cabelo, desgrudando a franja
da minha testa suada.
— Uma ou outra vez. — Puxei a sua mão, beijando em cima do seu
anel de compromisso. Uma felicidade absurda preenchia o meu coração. — E
eu te amo, Paolo. Definitivamente, eu te amo.
Capítulo 64

Eu te amarei, querida, para sempre


E estarei lá para sempre e mais um dia

Always | Bon Jovi


Davi Filipo Sintori "Sin"

UM MÊS DEPOIS

— Meu Deus... — Madah me olhou espantada ao abrir a porta.


Apesar de Giuliano estar preso, a magrela quis continuar morando
naquela casa, com Marco e Paolo. Afinal, era uma Fontini. Marco, por ser
seu irmão mais velho, havia assumido o papel de tutor e, sem demora, a
aceitou bem na família. Ninguém resistia ao encanto da minha garota.
— "Meu Deus", não. "Meu namorado" seria o mais adequado. — Sorri
de lado, enfiando uma mão no bolso. Seus olhos claros se apertaram
levemente por causa do sol atrás de mim, mas ainda assim pude vê-la me
secar da cabeça aos pés. Eu estava todo de preto, com um paletó por cima da
camiseta.
— Caprichou, hein... Nunca te vi assim, Davi Filipo. — Sorriu com
espontaneidade, contente, disparando o meu coração. Não sei como era
possível, mas eu a amava cada dia mais. Com um vestido claro, branco,
exalava feminilidade e leveza.
Eu de preto, ela de branco. Os opostos que se atraíam, se completando
com perfeição.
— Tive que caprichar. Para tentar chegar aos seus pés. Linda. — Dei
um beijo simples nos seus lábios, segurando a sua mão. — Vamos?

Já havia anoitecido quando chegamos ao nosso destino. Assim que


desliguei o motor da Ruiva, arrastei Madah para o meu colo. O seu vestido
delicado subiu e ela rapidamente puxou a barra para baixo, alisando.
— Sin! Vai me deixar toda amassada! — reclamou, dando risada,
sentada de lado em cima das minhas pernas. — Queria ficar com a roupa
impecável para o nosso primeiro jantar. O que as pessoas grã-finas vão
pensar...?
Apontou para a fachada do Figueira Rubayat, restaurante que escolhi
para o nosso encontro. Não foi fácil conseguir as reservas em cima da hora,
em pleno sábado à noite, porém a minha nova "madrasta", Audrey, já
trabalhou como hostess aqui e tinha os contatos certos.
Pela primeira vez na vida, Domenico tinha arranjado uma namorada
decente, gentil e inteligente, que não dava em cima de mim ou dos meus
irmãos.
— Você é linda de qualquer jeito, magrela. — Ataquei o seu pescoço,
beijando a sua pele quente, ao mesmo tempo em que ia subindo com os dedos
pela sua coxa lisinha. — Amassada ou não. Fodam-se os grã-finos.
Beijei a sua boca, enfiando a língua possessivamente, sentindo o seu
gosto doce e quente. Com a outra mão na sua nuca, puxei os seus cabelos
macios, liberando das mechas o familiar aroma de mel que senti naquele
primeiro dia.
Passei a mordiscar os seus lábios ao descer a mão para brincar com seu
seio, por cima do vestido, balançando o biquinho, a excitando. Minha outra
mão continuava lá embaixo, apertando a sua coxa com vontade, subindo mais
e mais.
— Ainda não entendi o porquê do convite para o jantar, todo formal.
Ai... — gemeu quando alcancei a sua calcinha. E, em vez de reclamar, a
safada abriu mais as pernas, me roubando um sorriso.
— Porque eu te amo. E porque eu vi a sua cara de cachorro sem dono
quando o meu irmão contou que Paolo o levou para jantar fora, no mês
passado. — Passei a subir e descer com os dedos pela renda da calcinha,
gostando de sentir a umidade e o calor da sua boceta. — Tesão do caralho...
Vamos dar uma rapidinha agora? De aperitivo. Depois do jantar a gente vai
ficar com preguiça.
— Agora?! Aqui?! Davi Filipo, é um estacionamento movimentado...
— Os vidros do carro são filmados e estamos de frente para o muro.
Ninguém vai ver nada. — Escorreguei dois dedos por baixo do elástico da
calcinha, acompanhando lentamente a bordinha da renda, de cima a baixo,
percebendo a sua lubrificação escorrer. Porra... — Me lembrei de que um dia
você falou que queria cavalgar no meu pau... Chegou a hora.
Lá no comecinho, quando a gente só se estranhava, sua voz
provocadora me sussurrou: "Admita que morreu de ciúmes, Sin. Admita que
me deseja. E, se admitir, quem sabe eu não possa cavalgar no seu pau."
Foi na noite da primeira festinha com a magrela em casa e na época, eu
a tratava mal para cacete. Ela me provocava, eu surtava. Um círculo vicioso
fodido. Bem estressante, para nós dois. Respirei fundo, sentindo um puta
alívio ao perceber que aquela merda ficou para trás. A única coisa que não
mudou foi o desejo que sempre senti por ela.
— Espera. Amor... — Madah começou, mordendo o lábio, pensativa.
Tirei a minha mão da sua boceta para prestar atenção no que falaria. — Eu
me lembro de falar em cavalgar... Só que naquele dia eu te detestava. A gente
ainda vivia como gato e rato. Mas...
— Mas...?
Madah se remexeu para descer a calcinha, se sentando de frente para
mim, um joelho de cada lado das minha pernas, com o olhar cheio de malícia.
— Eu fugia de você mas, no fundo, já queria me pegasse de jeito.
Gostoso... — Confessou. Sem tirar os olhos dos meus, levou as mãos aos
botões da minha calça, fazendo com que a familiar onda de tesão me subisse
pela coluna.
— E eu fugia de você, mas no fundo já queira te pegar. — Agarrei a
sua cinturinha fina, sorrindo de lado com o seu vai e vem, esfregando a sua
boceta no volume da minha cueca. Me animei ao perceber que ela tinha
topado o sexo de aperitivo. — Mudou de ideia, safada...? Sou irresistível,
pode falar.
— Não vou transar por causa disso — murmurou, levando uma mão ao
meu pau que pulsava de tão rígido. — Ok, você é mesmo irresistível, amor.
Porém tenho um motivo ainda mais forte.
— Que seria...? — Mordi o lábio quando passou a me punhetar
devagar. Porra... Mãos de fada!
— Transar na sua Ruiva. — Acelerou a punheta, me deixando ainda
mais duro. — Me deixa contar para o Rico? — Deu risada, sem parar de me
masturbar.
— Caralho, magrela... Conta para quem você quiser. Bota no jornal se
preferir. — Ergui a bunda para me livrar das calças e da cueca, as chutando
para o chão. — Pronto. Pode sentar.
Abri um pouco os joelhos, descendo as mãos da sua cinturinha até os
ossinhos dos seus quadris. Ela me olhava com os olhos cintilantes e as
bochechas coradas, sorrindo.
— Amor... Eu nunca fiz assim, por cima. Me ajuda? — hesitou,
encaixando a cabeça do meu pau entre os seus lábios íntimos inchados e
melados, se mexendo de leve para ajeitar a posição.
— Pode deixar. Só... Desce. — Apertei os olhos ao sentir o meu
comprimento sendo engolido pela sua boceta quente, escorregando
lentamente, arrastado, até o final. — Puta que pariu!
— Calma... Deixa eu me acostumar... — Ela sussurrou, mordendo o
lábio. — Me sinto empalada! — Deu risada, me arrancando um sorriso.
Com as mãos nos seus ossinhos, eu a mexi para os lados, ainda todo
enterrado nela, extasiado com a sensação das suas paredes internas me
pressionando. Porra!
— Preparada? — perguntei, com o coração batendo rápido para
caralho. Ela assentiu com a cabeça e passei a erguer e descer o seu peso-pena
em um ritmo preciso, me arrepiando ao entrar e sair da sua boceta justa.
Cacete...
— Nossa, que delícia... — Ela sorriu, me encarando com as pupilas
dilatadas. — Quero tentar fazer sozinha, me solta. — Tirou as minhas mãos
dos seus quadris, posicionando-as nos seus seios.
Madah passou a se impulsionar para cima e para baixo enquanto eu
brincava com os seus biquinhos, que ficaram tão duros que quase furavam o
tecido do vestido. O calor, os olhos azuis fixos nos meus, os sons molhados
de entra e sai, a maciez dos seus peitinhos, o roçar das nossas peles quentes
das coxas... Puta merda... Era demais.
— Estou quase, amor... — Ela avisou, ofegante, perto do limite. Desci
mais uma vez as mãos até os seus quadris acelerando a movimentação,
socando com força, quase brutalidade, nos tirando de órbita.
— Caralho! — Me estremeci inteiro com o seu orgasmo. Gozei um
segundo depois dela, ejaculando forte e sem parar, com o corpo todo sensível,
entorpecido. — Te amo, porra!
— Te amo mais... — Ela se inclinou, me dando um beijo simples nos
lábios, misturando as nossas salivas e o nosso suor.
Eu a puxei para um abraço apertado, sentindo os nossos batimentos
descontrolados no peito. Ficamos parados assim por um tempo, sem falar
nada, ainda encaixados.
Depois liguei o ar condicionado para desembaçar os vidros e peguei um
pacote de lencinhos no porta-luvas.
— Pode sair — falei, dando um beijo casto na sua testa. — Já peguei
lencinhos para você...
Eu a ajudei a se sentar no banco do passageiro. Madah se limpou antes
de vestir a calcinha e ajeitar o vestido. Coloquei a cueca, as calças e os tênis,
em silêncio.
— Eu estou reflexivo aqui. Já era, corrompemos a minha Ruiva. —
Balancei a cabeça, rindo. — Mas valeu. Demais.
— E eu estou com as pernas doloridas. — Massageou as coxas finas,
apertando-as. — Mas valeu. Demais.
— É falta de exercício... Você é preguiçosa para caralho. Em vez de
fazer musculação comigo, fica lá perdida com os seus livros no celular. —
Abri o espelhinho e passei as mãos pelo cabelo. — Livros de putaria que eu
sei. E você nem poderia ler essas coisas, ainda é menor de idade.
— Me deixa! — Ela gargalhou. — Fazer eu posso, ler não?! Então é
melhor a gente não fazer mais "essas coisas" até os meus dezoito anos.
Touché. Me fodi, caindo na risada.
— Nem inventa... Você não conseguiria me negar, magrela.
— Para a sua sorte, não mesmo. — Madah terminou de retocar a
maquiagem e pentear os cabelos. — Pronto... Podemos ir para o restaurante.
— Ainda não — falei, abrindo o compartimento na lateral do meu
banco, perto do câmbio. — Falta uma coisa.
Ela arregalou os olhos ao me ver puxar uma caixinha preta, acelerando
o meu coração. Entreguei o objeto a ela, que o pegou com os dedos trêmulos.
— Pensa que eu não percebi que morreu de inveja do Rico e do Paolo?
— Eu sorri de lado, observando a sua reação ao analisar as alianças de
compromisso. — Mandei fazer este par de alianças para a gente, logo depois
que os dois passaram a usar. Demorou para ficarem prontas... A joalheria não
tinha a pronta-entrega porque o seu dedo é fino como o de uma criança.
Gostou?
Tagarelei, um pouco nervoso com o seu silêncio. Madah simplesmente
não abria a boca, parecendo em choque, olhando para a caixinha, estática.
— Ei... Fala alguma coisa. — Toquei no seu queixo, erguendo o seu
rosto delicado. Meu coração pulou uma batida ao ver os seus olhos claros
cheios de lágrimas.
— Davi Filipo... — Ela riu, piscando devagar, derrubando uma lágrima
solitária. — Se eu gostei?! Isso foi a coisa mais linda do mundo... Eu te amo,
tanto!
Com o olhar emocionado, Madah pôs a sua aliança e me entregou a
minha. E, assim que a deslizei pelo meu dedo, a minha namorada agarrou o
meu pescoço com os braços fininhos, me beijando com devoção. Respirei
fundo, sorrindo sem quebrar o beijo.
Depois, com as nossas testas unidas, eu respondi a sua declaração, com
o coração batendo feliz para caralho. Em paz.
— Eu te amo mais, magrela. Para sempre.

FIM
Epílogo

Ela tem um sorriso


Que me faz lembrar de memórias da infância
Onde tudo era fresco como um céu azul

Sweet Child O' Mine | Guns N' Roses


Davi Filipo Sintori "Sin"

CINCO ANOS DEPOIS

Estávamos todos no deck da piscina de casa, aproveitando o domingo


de sol. O clima continuava quente como nos últimos dias, com poucas nuvens
do céu, anunciando a proximidade do verão.
— Vinte e quatro anos amanhã, é? Um número emblemático.
Viadinho! — Meu cunhado pentelho, Paolo, deu um tapa na minha cabeça,
rindo, antes de se acomodar na espreguiçadeira ao lado de Enrico.
Pois é, eu iria completar vinte e quatro anos. Grande coisa... "Número
emblemático" porra nenhuma. Era só um aniversário como outro qualquer.
— Viadinho, eu?! Nos seus sonhos! — Em pé, mostrei o dedo do meio
antes de retirar a camiseta para me deitar na outra espreguiçadeira. — Bem
que você queria, né...
— Vamos mudando de assunto...? — Enrico ajeitou os óculos escuros,
esparramado, tomando sol. — Que eu ainda não superei a história de vocês
dois se pegando na pré-adolescência.
— Seu noivo é um linguarudo filho da puta... — murmurei, virando a
cabeça na direção deles.
Rico deu risada, puxando a mão de Paolo para o seu colo. As novas
alianças de noivado dos dois brilhavam sob o sol, quase tanto quanto a
felicidade radiante estampada nos seus rostos. Quem diria, anos atrás, que
hoje estariam assim. Em um relacionamento sério para cacete, com conversas
sobre casamento civil e adoção de bebê. Eu estava feliz para caralho por
eles...
Algum tempo depois, o familiar perfume delicado invadiu os meus
sentidos, me arrancando um sorriso lento.
— Cheguei, amor! — Madah se sentou do meu lado, passando uma
mão pelos meus cabelos.
— Bom dia, magrela — falei, reparando no seu olhar perdido na minha
cabeça. — O que foi?
— Me lembrei de quando você os usava platinados... Eu te conheci
loiro.
— E como você prefere...? — perguntei e, a puxando pela cintura para
que se deitasse comigo, fechei os olhos. — Loiro ou moreno?
— Naquela época, loiro — continuou fazendo aquele seu cafuné de
arrepiar, com as pontas dos dedos acariciando o meu couro cabeludo sem
pressa. — Mas agora que você começou a trabalhar na empresa, acho que o
cabelo castanho "combina" mais.
— Como assim? — indaguei e não houve resposta de imediato. Abri os
olhos, encontrando o seu olhar em mim. Linda.
— Ah... Você fica com um ar mais sério, sabe? — Escorregou a mão
pelo meu pescoço até chegar aos bíceps, apertando-os. — Meu CEO gostoso.
— Estou longe de ser o CEO da Modernità, magrela... — Dei risada,
beijando a sua cabeça. — Por enquanto sou um simples assistente
administrativo.
— Assistente administrativo gostoso. — Deu risada, ainda alisando o
meu braço.
— Não vejo a hora de subir na empresa — comentei, acariciando as
suas costas. — Essa faculdade que não acaba... — Suspirei, ansioso para a
nossa formatura em poucos meses.
Madah seria a oradora na formatura. Ela era a aluna mais dedicada do
4º e último ano de Administração da FGV. Nós estudamos na mesma
faculdade e no mesmo curso, porém em salas diferentes. Eram duas turmas,
por ordem alfabética. A minha ia de A L, a dela de M a Z. Por uma maldita
letra, não ficamos juntos... Me lembro de que fiquei mal-humorado quando
descobri, mas ela disse que seria melhor assim, porque eu iria tirar a sua
concentração durante as aulas.
Confesso que optei por Administração por ter ido no embalo dela, mas
passei a gostar do curso de verdade, principalmente depois que comecei a
trabalhar na empresa, sob a supervisão de Luca e Domenico.
Além disso, as sessões de terapia que comecei na época da escola me
ajudaram — e ajudam — a entender que todos processos são lentos e
contínuos e que não posso simplesmente querer as coisas de uma hora para a
outra.
Já a minha namorada tinha assumido a parte do pai dela, que
continuava preso — e iria continuar pelos próximos dez ou quinze anos — e,
por isso, já tinha bem mais responsabilidades do que eu na Modernità.
Cinquenta por cento da empresa ficava sob o poder de decisão dela. Só que
dois diretores precisam a assessorar, afinal, ainda não tinha se formado.
— Tudo a seu tempo, Davi Filipo. Agora falta pouco para a gente
terminar a faculdade... — A magrela murmurou, com os lábios macios
roçando no meu pescoço, fazendo o meu pau dar sinal de vida.
— Por falar em faculdade... — comecei, tendo uma boa ideia. —
Amanhã podemos faltar! Já fechamos as notas mesmo... Assim a gente sai
para comemorar o meu aniversário. Que tal?
Madah estreitou os olhos, me encarando com um olhar de reprovação.
— Tá bom! — concordou, sorrindo de leve. — Só porque vai ser o seu
aniversário. Você sabe que não gosto de faltar...
— Obrigado. — Arrastei o seu corpo pequeno para cima do meu e dei
um beijo simples na sua boca.
— O que você quer de presente? — perguntou com o ossinho do
queixo apoiado no meu peito.
— Carta branca? Posso pedir qualquer coisa?
— Pedir, pode. Mas não sei se vou dar... — respondeu, com os olhos
brilhando em divertimento.
— Ok. — Mordi a boca, pensativo. — Deixa eu ver o que quero... Já
sei! Quero que, amanhã, você realize todos os meus desejos sexuais. Vinte e
quatro horas a meu dispor. Fácil, vai...
Obviamente já pensei em sexo anal, que fizemos pela primeira vez
pouco tempo atrás, para a minha felicidade. Madah ficou um pouco
“impressionada” com a intensidade da coisa e tive medo de que nunca fosse
querer repetir a dose, mas ela me tranquilizou no dia dizendo que poderíamos
repetir o feito em ocasiões especiais.
— Vinte e quatro horas a seu dispor?! Impossível! Temos aquela
reunião importante, lembra? Com a outra empresa italiana. Só posso ser toda
sua das seis da tarde em diante.
— Temos que ir mesmo? Che cavolo... — Bufei. — Reunião de
negócios no dia do aniversário é foda...
— Temos que ir, sim. — Ela saiu de cima de mim, se sentando na
espreguiçadeira. — Domenico ainda não voltou da lua-de-mel com Audrey e
Luca foi visitar a filial argentina. É um negócio importante... Vamos oferecer
os nossos serviços de tecnologia para o CEO dessa outra empresa. Um
contrato milionário.
— Não conheço o CEO deles. — Me sentei ao seu lado, interessado no
papo. Gosto muito de negociar os grandes contratos. — É de família italiana
como as nossas? Tem cabeça aberta para as novas tecnologias? Já descobriu
alguma coisa?
— Não muito — respondeu, prendendo os cabelos claros em um rabo-
de-cavalo. — Acho que não é italiano, não. O nome é americano. Sei que é
jovem e inovador. Por isso estou confiante... Acho que vai dar negócio.
Concordei com a cabeça, satisfeito em saber que o sujeito é "jovem e
inovador".
O benefício de namorar a garota com quem você estuda e trabalha era
vivenciar experiências assim. Trocamos conhecimentos, ideias, crescemos
juntos, falamos a mesma língua. Madah vinha se mostrando excepcional...
Ela era inteligente, responsável, dedicada em tudo o que fazia. Eu a amava,
tanto. Era, definitivamente, a melhor fase da minha vida.

No dia seguinte, um pouco antes do horário da reunião, passei na sala


da minha namorada, um andar acima do meu.
Parei em frente à porta com o seu nome — Madeleine Laurent Fontini |
Sócia Majoritária — me perguntando quando teria o Sintori acrescido no
final.
Madah me proibiu de falar sobre casamento por enquanto. Ainda
éramos jovens demais... Ela tinha apenas vinte e um anos. Primeiro queria se
formar, fazer pós-graduação e tudo o mais. Errada não estava, porém sempre
fui afoito para cacete e não via a hora de ser o seu marido.
Antes de virmos de manhã para a empresa, tomamos café juntos. Ela
dormiu de ontem para hoje na minha casa e rolou aquele sexo matinal
caprichado para começar bem o dia do meu aniversário, com direito a anal
para celebrar a ocasião especial. Com ela de quatro no meio do meu colchão,
gozei como um condenado naquele seu rabo apertado, preenchendo a
camisinha com tudo.
Abri devagar a porta da sua sala de trabalho, depois de dar as três
batidinhas de sempre para que Madah soubesse que era eu.
— Oi. — Sorri ao vê-la toda arrumada, com uma maquiagem discreta
que destacava os seus olhos bonitos. Sua blusa de seda branca e vermelha lhe
dava um ar refinado. Não sabia como era possível, mas o fato era que a
minha garota estava a cada dia mais linda. — Tudo bem, senhorita
Madeleine?
— Oi, aniversariante lindo. Sabia que, de terno, fica ainda mais
lindo...? — Ela esboçou um sorriso discreto e, levantando-se da sua cadeira,
caminhou até o centro da sala. — Falta meia hora para a reunião. Por que já
está aqui, senhor Davi Filipo? Segundas intenções? Nem vem... Não vou
transar agora. Acabei de retocar a maquiagem.
— Cacete... Mente poluída! Com quem você aprendeu a ser assim? —
Dei risada e ela gargalhou. — Só vim avisar que vou descer para fumar um
cigarro. — Me aproximei dela, pousando as mãos na sua cintura fina.
— Ok. — Deu um selinho nos meus lábios, descendo uma mão pela
minha gravata. — Feliz aniversário, de novo. E não perca a hora.
Embaixo do prédio, depois de esperar por um tempão pelo único
elevador em funcionamento, cacei o maço de cigarros no bolso do terno.
Uma merda trabalhar no 25º andar... Não dava para usar as escadas em
dias assim, quando um dos elevadores ficava desativado para manutenção.
Abri o maço e... Porra! O isqueiro não estava dentro dele. Nem fodendo
que eu iria subir até a minha sala, perdendo mais tempo.
— Com licença. — Me aproximei de um jovem com roupa social,
fumando um cigarro ao lado da porta principal, recostado em uma mureta. —
Me empresta o isqueiro, por favor?
— Claro. — Retirou um zippo prateado do bolso, entregando-o a mim.
Não pude deixar de notar a tatuagem no dorso da sua mão. A mesma
andorinha que tinha no seu pescoço. E, incrivelmente, no meu pescoço.
— Obrigado — murmurei depois de acender o meu cigarro,
devolvendo o objeto de metal a ele. — Tatuagem bacana... — comentei e ele
ergueu os olhos azuis, como se reparasse em mim pela primeira vez.
— De nada — respondeu, franzindo as sobrancelhas. — Você não está
dando em cima de mim, está? Não sou viado, cara.
— Calma, sou hétero. — Dei risada. — Só falei da tatuagem porque
tenho uma igual no pescoço. Está vendo? — Virei a cabeça para que ele
pudesse enxergar.
— Coincidência... — Soltou a fumaça devagar. — Nada contra quem
seja gay, ok? Tenho um irmão que é...
— Eu também tenho! — Balancei a cabeça, rindo. — Mais uma
coincidência, hein? E o meu irmão ainda pegou o meu amigo... Estão noivos
e o caralho.
— Não fode! O meu também! — Ele riu tanto que se engasgou com a
fumaça. — O noivo do meu irmão é o meu melhor amigo! Precisamos ser
amigos, cara.
— Precisamos, sim. — Estendi a mão para ele. — Davi Sintori.
— Sintori? Da Modernità? — Acenou na direção do prédio da empresa,
jogando fora a bituca do cigarro. — Tenho uma reunião com você daqui a
pouco. — Apertou a minha mão, sorrindo de lado. — Adam Carter.
— Adam Carter? Você é o CEO da Ferrari Vanità...? — perguntei,
surpreso, depois de apertar a sua mão.
— Sou. Eu já ia subir para a reunião... — Correu os olhos para a rua,
como se procurasse por alguém. — Só estava esperando o meu amigo
advogado chegar... Pronto, ele chegou. — Mostrou um jovem de cabelo
raspado descendo de um táxi. — Em off... Ele é o noivo do meu irmão.
— Adam. — O engravatado o cumprimentou, estendendo a mão. — Te
fiz esperar demais? Peguei mais trânsito do que o normal.
— Tudo bem, Johnny boy[2]. — Ele apertou a mão do amigo, sorrindo.
— Fiz uma amizade enquanto te esperava.

A reunião foi um sucesso. Adam gostou da nossa proposta de serviços


de tecnologia e logo assinamos o contrato, com o respaldo dos advogados, o
nosso e o dele.
Depois que o nosso advogado saiu, continuamos na sala, batendo papo
por horas. Eu, Madah, Adam e Johnny. Até que combinamos de sair para um
bar, todos juntos, em comemoração ao meu aniversário.
Mais tarde, na Ruiva com a minha garota, liguei o rádio e o som do
Guns, tocando “Sweet Child of Mine”, me deixou ainda mais animado.
— She's got eyes of the bluest skies, as if they thought of rain... —
Cantarolei feliz, arrancando um sorriso bonito da magrela. — Lembra...? —
perguntei, nostálgico.
— Lembro. Você cantou para mim na noite do nosso primeiro beijo —
respondeu, aquecendo o meu coração.
Algum tempo depois, chegamos à mansão Fontini. Enquanto eu
estacionava o carro, flagrei-a olhando pela janela, distraída, com a cabeça
longe. Madah havia pedido para mudar de roupa antes de irmos para o bar.
Eu não quis me trocar. Só tirei o paletó e a gravata, dobrando as mangas da
camisa nos antebraços.
— Uma moeda pelos seus pensamentos — falei, desligando o motor e
levando a mão ao seu rosto, acariciando a sua bochecha.
— Nada demais. Só estou... — Me encarou com os olhos brilhantes. —
Sei lá... Está tudo tão bom. Sabe? Estou feliz... É isso. Te amo.
— Sei... — Me inclinei um pouco na sua direção, passando lentamente
a língua pelos meus lábios. Ela entendeu o recado e me puxou para mais
perto, me presenteando com um beijo calmo, cheio de emoção. Apreciei o
gesto, que me aqueceu o coração e a alma.
— Eu também estou feliz, magrela. Te amo.
Bônus I

Dois andarilhos saindo para ver o mundo


Há tanto mundo para se ver
Nós procuramos a mesma coisa
O final do arco-íris

Moon River | Audrey Hepburn


Davi Filipo Sintori

DOIS ANOS DEPOIS / CHILE

— Estou morrendo! — Madah caiu na risada, arrancando as luvas


salpicadas de neve ao entrarmos no chalé. O ambiente aquecido nos fez
arrancar os casacos, luvas e gorros, os pendurando ao lado da porta.
— Você não queria conhecer a neve?! Toma! — Sacudi o meu gorro
bem em cima da sua cabeça, com os pequenos flocos brancos se agarrando às
suas mechas claras, derretendo no mesmo instante por conta do calor.
Depois de passarmos o dia esquiando nas montanhas geladas do Valle
Nevado, todos os músculos do meu corpo estavam latejando, doloridos.
— Nunca pensei que esquiar fosse tão difícil... — resmungou,
sentando-se no banco do hall para retirar suas botas sujas de neve, suspirando
fundo.
— Foi engraçado te ver cair duzentas vezes, magrela. — Apoiei uma
mão na parede, descalçando as botas em pé, arremessando-as embaixo do
banco. Eu estava ansioso para ver o que haviam preparado na sala, a meu
pedido. Mas antes a gente precisava de um banho.
— Foi engraçado te ver passar vergonha falando “Portunhol”. — Ela se
gabou. Por ter crescido no Uruguai, Madah era fluente em Espanhol,
comunicava-se com os chilenos mil vezes melhor do que eu.
— Você fica tão sexy falando outra língua... Aqui na viagem podia me
chamar de “mi amor”, “mi cariño” na hora do sexo. Que tal?
— Vou pensar, “mi novio”. — Sorriu, gelando o meu estômago. Teria
descoberto sobre a surpresa...? Com o coração acelerado, repeti a palavra,
atento às suas reações:
— “Novio”?
— É! Significa “namorado” em Espanhol — explicou, tirando o peso
do mundo dos meus ombros. Não, ela não desconfiava de nada. Porra...
Ainda bem! — Vamos descansar um pouco primeiro? — Ficou em pé,
esticando os braços finos para cima.
Devia estar ainda mais dolorida do que eu. Fez menção de andar na
direção da sala, mas me posicionei na sua frente.
— Vamos tomar um banho relaxante. Pedi para deixarem a nossa
jacuzzi pronta. — Agarrei a sua cinturinha, conduzindo-a pelo corredor que
levava à suíte. Não queria estragar a surpresa que nos aguardava na sala.
— Sério, Davi Filipo? Que coisa mais esnobe... Nunca tive ninguém
para preparar o banho para mim.
— Agora tem. Você é podre de rica, Madeleine Laurent Fontini. Lide
com isso.
Giuliano havia adoecido na cadeia, no ano passado, de tuberculose ou
outra merda do gênero, vindo a falecer pouco tempo depois. Antes dele, tia
Anna já tinha morrido daquela doença dela. Com isso, Marco, Paolo e Madah
herdaram fortunas, em dinheiro e em bens, inclusive a metade da Modernità,
a empresa das nossas famílias.
Por falar em empresa, depois da nossa formatura em Administração há
quase dois anos, eu e a magrela assumimos postos mais altos, com mais
responsabilidades, para o orgulho de Domenico e do meu irmão mais velho.
Tudo caminhava de vento em popa na nossa vida profissional. E, na pessoal,
só faltava um pequeno detalhe para eu me tornar o homem mais feliz do
mundo. O que, se tudo desse certo, aconteceria na noite de hoje.
Ao entrarmos no banheiro enorme, uma jacuzzi redonda nos esperava
com a água quente borbulhando, preenchendo o ambiente com o vapor
perfumado que embaçava as amplas janelas voltadas para as montanhas. O
pôr-do-sol deixava a vista ainda mais incrível, de arrepiar.
Me despi primeiro e, rapidamente, me acomodei sentado com as costas
apoiadas na jacuzzi, apreciando o calor da água me envolvendo até a linha do
peitoral, me relaxando.
— Senta aqui. — Abri as pernas para que Madah se sentasse na minha
frente, com os quadris magrinhos encaixados entre as minhas coxas. Ela já
contava com vinte e três anos e continuava magrela de tudo. Linda. — Parece
que colocaram algum óleo perfumado na água... — comentei, molhando os
seus ombros delicados, os massageando com cuidado. Madah puxou os
cabelos para o lado, facilitando a minha movimentação.
— Lavanda — murmurou, gemendo baixinho enquanto eu apertava a
sua nuca, indo e vindo dos ombros ao pescoço, subindo e descendo. — Bom,
né?
— Muito bom — concordei, escorregando as minhas mãos para a parte
da frente do seu corpo, descendo pelo seu colo lisinho, encontrando os seus
seios macios. Com o tamanho ideal, encaixavam-se perfeitamente nas minhas
palmas. — Delícia...
— Estava falando da água, Davi Filipo! — Ela riu, se remexendo na
minha frente, com a sua bunda estimulando o meu pau, endurecendo-o.
— E eu? Não sou bom? — Continuei provocando os seus seios,
rodeando os mamilos com os polegares, deixando-os duros, bem pontudos.
— Está carente, é? Tudo bem... Vou encher a sua bola — rebateu,
levando as mãos para trás, alisando o meu abdômen, me arrepiando. — Você
é mais do que bom. É o homem mais gostoso do mundo e... Você é meu.
Todo meu. — Agarrou o meu pau, me punhetando devagar por baixo da
água.
— Todo seu — falei, arrastando lentamente as minhas mãos pelas
curvas do seu corpo miúdo. E, agarrando os seus quadris, a ergui com
facilidade, a girando de frente para mim. — Quer sentar...?
Sorrindo, Madah fez que sim com a cabeça e, posicionando os joelhos
nas laterais do meu corpo, me beijou na boca ao descer, com a sua boceta
engolindo o meu pau, centímetro a centímetro, até o final.
— Porra... — gemi, movimentando os quadris, mantendo-a sentada em
mim, enlouquecendo com a pressão da sua musculatura interna se abrindo
para me acomodar. — Nunca vou me acostumar... Nunca — murmurei,
levantando-a e descendo com firmeza, espirrando gotas de água por todo
lado, duas, três, quatro vezes.
— Sin... — Ela arfou, enfiando as unhas nos meus ombros, tentando se
equilibrar enquanto eu a movimentava para cima e para baixo, cada vez mais
rápido, espalhando ondas de tesão por todo o meu corpo. — Estou quase...
Quase...
E, quando percebi que Madah estava prestes a gozar, eu a soquei para
baixo com tudo, me mantendo todo enterrado dentro dela, com os seus
primeiros espasmos me apertando com mais força quando levei uma mão ao
seu clítoris, esfregando-o por baixo da água, prolongando o seu orgasmo.
— Caralho! — Não me aguentei e explodi dois segundos depois,
ejaculando dentro da sua boceta, preenchendo-a. Então eu a abracei apertado,
recuperando o fôlego com o meu queixo apoiando no seu ombro, com os seus
dedos delicados acariciando os meus cabelos molhados.
— Você quer acabar comigo... — Ela riu ao se afastar, levando as
pontas dos dedos à minha boca, ainda entreaberta com a respiração ofegante.
Brincou com os furinhos do antigo piercing, com seus olhos brilhantes me
emocionando, ratificando a certeza de que a queria para sempre. Para toda a
vida.

— Davi Filipo! — Madah exclamou ao pisarmos na sala, cobrindo a


boca com as duas mãos, surpresa. O ambiente rústico do chalé estava todo
enfeitado com velas espalhadas pelas mesinhas e aparadores. No centro,
sobre a mesa de jantar, havia uma tábua de queijos e frios, uma garrafa de
vinho e, finalizando a decoração, um vaso com tulipas.
— Gostou da surpresa romântica? — Eu a abracei por trás, inspirando o
seu perfume adocicado, sorrindo.
— Amei. Obrigada. — Ela levou uma mão para o alto, me acariciando
na nuca.
— Fica sentada ali no sofá que eu já volto. — Dei um beijo na sua
cabeça e me afastei, já com o coração batendo mais forte. Corri até o quarto,
retirando do fundo da mala uma caixa do tamanho da palma da minha mão e,
ansioso, voltei para a sala.
— O que você está aprontando? — Apontou para a caixa assim que me
aproximei, com os seus olhos claros refletindo o fogo da velinha da mesa de
centro. Sentado ao seu lado, lhe entreguei o objeto, mal coberto por um papel
simples, porque minhas habilidades com embrulhos eram fortemente
limitadas.
— Eu que embrulhei — comentei para quebrar o silêncio cheio de
expectativas.
— Percebi. — Ela riu, ainda retirando o papel. — O que vale é o
conteúdo.
E, ao encontrar uma caixinha de papelão, Madah ergueu uma
sobrancelha, intrigada, sem fazer ideia do que poderia ser o presente.
— Abre logo, magrela. Estou nervoso aqui. — Passei a tamborilar os
dedos nos meus joelhos, inquieto. Me lembrei de quando fumava, um tempão
atrás, e tinha a nicotina para me relaxar. Mas ter largado o vício, apesar de
difícil, foi uma das melhores decisões que tomei na vida.
— Calma, estou apreciando o momento. — Ela sorriu e, com uma mão,
apertou a minha. Seus dedos delicados se entrelaçaram aos meus, me
acalmando um por cento. — Se aquieta, Davi Filipo.
Com a caixinha apoiada nas suas coxas magrinhas, com a outra mão
Madah ergueu a tampa e, ao enxergar o conteúdo, franziu a testa, incrédula.
— Não pode ser... — murmurou com a voz embargada, com os olhos
se enchendo de lágrimas.
— É ela, sim. Deu um trabalhão para o investigador encontrá-la tantos
anos depois mas, por sorte, uma das enfermeiras antigas do hospital de
Montevidéu havia ficado com ela. É a caixinha de música da sua mãe,
magrela. Eu a recuperei para você.
— Meu Deus... — Chorando, Madah pegou a caixinha de madeira com
as mãos trêmulas, cuidadosamente, como se fosse o tesouro mais frágil.
Levantou-a na altura dos olhos, analisando-a detidamente, hipnotizada.
— Não vai abrir...? Está funcionando. Já dei corda nela antes de
embrulhar. — Passei um braço ao redor da sua cintura, percebendo o seu
corpo trêmulo, com a emoção palpável.
E, quando Madah abriu a caixinha, uma bailarina se colocou a dançar
sobre um espelho, com a canção “Moon River” preenchendo toda a sala, me
arrepiando. A mesma música que ela havia me pedido para colocar na viagem
de jatinho que a levou ao Brasil, tantos anos atrás.
Que a levou para mim.
A magrela chorava de soluçar e quase fiquei sem saber o que fazer. Se
a deixava extravasar a emoção ou se tentava a consolar. A caixinha de música
de Heloise Laurent tinha um puta significado para a minha garota. E, quando
a canção acabou e a bailarina parou de dançar, me ajoelhei na sua frente,
apontando para uma gavetinha na parte da frente da caixinha, ansioso para a
parte final da surpresa.
— Abre aqui embaixo. Tem mais um presente. Com mais fortes
emoções.
— Ah, não... Não sei se o meu coração aguenta... — Ela riu, enxugando
as lágrimas com a lateral da palma, sustentando o meu olhar. Com a outra
mão, puxou a gavetinha.
Sua boca se abriu e seu olhar se paralisou quando ela encontrou o
pequeno objeto ali dentro, solitário. Rapidamente, eu o peguei e, ainda
ajoelhado na sua frente, fiz a pergunta que nunca me imaginei fazendo a
ninguém, que não a ela.
— Madeleine Laurent Fontini. Este anel pertenceu à minha mãe,
Angela Sintori, a mulher mais importante da minha vida, antes de você
aparecer. — Mantendo os meus olhos nos seus, tentei me lembrar do que
ensaiei tantas vezes em frente ao espelho, com a emoção quase me fazendo
engasgar. — Agora, quero entregá-lo a você, junto com o meu coração, com
a certeza de que ele já é seu, desde o primeiro dia. Eu te amo. Eu sei que não
sou perfeito, mas... Quer se casar comigo?
— Quero. — Ela ria e chorava ao mesmo tempo. Linda. — Você é
perfeito para mim. Já disse e vou repetir... Você é o amor da minha vida,
Davi Filipo. — E, colocando a caixinha de lado, estendeu a mão direita para
mim, sorrindo. Tremendo, encaixei o anel no seu dedo e puxei-a para um
abraço apertado, sem conseguir parar de sorrir.
Apertando os olhos, não pude deixar de sentir duas presenças no ar,
abençoando a nossa união. A da mãe dela, representada pela caixinha de
música, e a da minha, pelo anel de noivado. E, mais uma vez, mostrando que
a nossa conexão era foda, Madah sussurrou bem baixinho na minha orelha,
me arrepiando:
— Elas estariam felizes com o nosso noivado, não acha...?
— Elas estão felizes, magrela. Pode acreditar.
Bônus 2

Eu procurei em todo o universo


E me achei
Dentro dos olhos dela

This I Love | Guns N' Roses


MESES DEPOIS

Madeleine Laurent Fontini “Madah”

— Princesa, nunca vi uma noiva mais linda — Enrico comentou,


sorridente, me observando. Ele estava todo formal de terno e gravata, parado
sob o batente da porta do meu antigo quarto na mansão dos Sintori. — Quero
só ver a cara do pirralho...
A ideia de que o casamento fosse aqui partiu de Sin, já que a casa havia
sido o palco inicial de tudo. Optamos por uma cerimônia mais simples, de dia
e no quintal, para poucos convidados.
— E você está muito elegante como padrinho. Nunca tinha te visto de
terno e gravata, Rico. Adorei! — elogiei, fazendo o seu sorriso crescer. — E
Paolo? Já chegou?
— Já. Veio assim que Aninha acordou da soneca. Está eufórico com a
entrada de Angelo com as alianças. Espero que o seu sobrinho não trave no
meio do caminho. — Coçou a nuca daquele seu jeito tímido.
— Tenho certeza de que o pequeno vai arrasar. Ele é muito esperto e
carismático. Você e Paolo estão de parabéns, já disse isso mil vezes.
Desde que se casaram, eles haviam adotado duas crianças. Aninha, uma
bebê de um aninho e Angelo, um garotinho de quatro. Ao escolherem os
nomes, homenagearam postumamente suas respectivas mães. Angela Sintori
e Anna Fontini, que faleceu no ano passado.
— Estamos tentando, ser pai não é nada fácil... Vamos? Está pronta?
Me olhei no espelho pela última vez, desejando que minha mãe pudesse
estar comigo. O vestido cor de pérola simples e elegante, com um ar antigo
como o de Bella Swan da Saga Crepúsculo, combinava com o anel vintage
que pertenceu à mãe de Sin. A maquiagem leve no rosto, destacando os meus
olhos claros. Os cabelos arrumados em um coque despojado, sob um longo
véu. E, o mais emocionante, o sorriso nervoso que não deixava os meus
lábios, com o meu coração se acelerando mais e mais a cada minuto.
— Vamos. — Estendi a mão para ele e, suspirando fundo, deixei o
quarto, prestes a dar os passos mais importantes da minha vida.
Ao descer as escadas de braços dados com Enrico, repassei
mentalmente tudo o que havia acontecido nos últimos anos, nos trazendo até
aquele momento.
Quem diria que estaria me casando com o bad boy que mais havia me
hostilizado, querendo me ver longe da casa que, anos depois, seria o palco do
nosso casamento.
Que caminharia, vestida de noiva, de braços dados com o garoto que
deu o seu primeiro beijo em mim e que, atualmente, era casado com o meu
irmão do meio.
Inacreditável...
Assim que pisamos do lado de fora da casa, apertei os olhos com a
luminosidade do final de tarde, percebendo a brisa morna me envolver,
fazendo o véu tremular. O sol continuava brilhando, iluminando o gramado
com o caminho comprido, delineado por flores brancas e bancos enfileirados
levando ao altar.
Uma música instrumental suave era tocada por violinistas, entretendo
as dezenas de pessoas que se puseram em pé assim que aparecemos, com
todas as cabeças se voltando para nós ao mesmo tempo. Baixei o rosto no
mesmo instante, com os batimentos descontrolados me deixando sem ar.
— Ai, Rico... Estou apavorada... — murmurei, apertando mais o seu
braço enquanto a gente seguia pelo caminho, sem coragem de tirar os olhos
do chão.
— Respira fundo, princesa, que... — Enrico se interrompeu no instante
em que começaram a tocar a marcha nupcial. Com os primeiros "tãnãnãnã"
ele literalmente estremeceu. — Cacete, gelei agora...
Dei risada, feliz por não ser a única nervosa. E, levando o meu olhar
para a frente, eu o vi.
Sin.
Meus joelhos amoleceram quando encontrei os seus olhos, me
perdendo naquela imensidão azul. Ele me fitava com a emoção palpável,
ostentando um sorriso trêmulo, ansioso. Eu poderia jurar que murmurou um
"te amo, magrela", disparando ainda mais o meu coração.
Eu o amo, tanto!
Ao seu lado, Domenico exibia um daqueles seus sorrisos largos,
expansivos, de braços dados com Audrey, que ostentava uma bonita barriga
de grávida. Do outro lado de Sin, enxerguei Paolo, Luca e Marco, nossos
irmãos e padrinhos, os dois últimos com as respectivas namoradas. Todos
enfileirados, lindos, felizes. Mas era apenas com o olhar de um deles que eu
me importava de verdade. O olhar mais azul de todos.

Depois da linda cerimônia, Sin me puxou pela mão para dentro da casa.
— Onde vamos, marido? — Sorri, gostando de pronunciar a nova
palavra que deixava uma sensação diferente na língua, fazendo-a formigar.
— Você já vai descobrir, magrela. — Abriu um dos seus sorrisos de
lado, com um ar misterioso. Seus cabelos castanhos penteados para trás com
gel lhe davam um aspecto mais sério. Mais sedutor.
— Não acredito! — Dei risada, percebendo as suas intenções conforme
ele empurrava a porta do seu antigo quarto com uma mão, me puxando pela
cintura com a outra.
— Lembra que foi aqui a nossa primeira vez...? — perguntou, me
fazendo prender ao ar ao notar a decoração romântica, com flores e velas ao
redor da cama arrumada com lençóis cobertos por pétalas.
— Teria como esquecer...? — Corri os olhos por tudo, encantada, com
um friozinho na barriga me consumindo, me excitando.
— Quero que também seja aqui a nossa primeira vez como marido e
mulher — comentou, retirando o paletó daquele seu jeito confiante, com
agilidade. — Gostou?
— É demais... Você é demais, amor.
Sin mordeu a boca, convencido, continuando a se despir. Fiz o mesmo,
retirando o meu vestido delicado com cuidado. Em silêncio, ele se
aproximou, me puxando pela cintura, com os olhos presos aos meus.
Desceu as mãos, enganchando os polegares nas laterais da minha
calcinha, escorregando-a para baixo sem desviar o olhar, fazendo todas as
borboletas pularem no meu estômago, sem controle.
— Posso degustar a noiva? — Deu risada, beijando o meu pescoço,
com as mãos apertando a minha cintura. — Eu te amo, magrela.
— Pode. Eu te amo, Davi Filipo.
Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus e meus pais, por tudo. Ao meu
marido e nossos dois filhos, pela paciência e compreensão. Foram
incontáveis horas longe deles para que eu pudesse me dedicar ao livro, que
surgiu como um simples hobby e, depois, tomou outras formas.
Em especial, agradeço aos meus leitores do Wattpad. Todos que se
irritaram com Sin, que torceram para que Madah ficasse com Enrico, que
choraram quando descobriram sobre o passado do nosso bad boy, que
xingaram Paolo "alma livre", que imploraram pela morte de Rita. Graças a
vocês, leitores que se tornaram amigos, me apoiando e me incentivando
desde a primeira publicação online, SIN se tornou um sonho possível.
Meninas do grupo “Pecados da Pauline”, vocês têm todo o meu
coração! Incentivadoras, apoiadoras, amadas, me deram o gás que faltava nos
dias mais nublados. Em ordem alfabética, as mais ativas: Ana Beatriz, Ana
Carolina, Ana Luiza, Ana Paula, Cristiane, Elisandra, Franciele, Isis,
Ketellen, Lara, Letícia V., Leticia X., Maria, Monique, Raissa, Rebeca,
Sabrina, Tatiane, Thiffany. As duas leitoras-autoras queridas que mais me
ajudaram: Bruna e Vanessa. E, finalmente, as duas maravilhosas que mais
torceram, me presenteando com marketing, divulgações e afins, essenciais
para que eu desse o próximo passo: Luana e Rafaela.
Por fim, agradeço à Editora The Books, que acreditou em mim e na
minha história.
Escrever SIN foi uma experiência intensa e inesquecível. Me sinto
extremamente honrada em poder entregá-lo a vocês. Com carinho,
Pauline G.
[1]
A sigla “BV” se refere a “boca virgem”, ou seja, uma pessoa que nunca beijou na boca.
[2]
N/A. Adam e Johnny são personagens do meu livro “Pecados e Confissões” e aparecem
aqui para um rápido “crossover”.

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