Você está na página 1de 8

Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR

Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

Id.: EN-25

ANÁLISE TERMO-HIDRÁULICA DO NÚCLEO DE UM REATOR TRIGA


MARK-II USANDO O CÓDIGO STHIRP-1

Cristian G. Oliveira1, Clarysson A. M. Silva1


1
Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Nuclear, Av. Pres. Antônio
Carlos, 6627 - Pampulha, Belo Horizonte - MG, 31270-901, Escola de Engenharia, Bloco 4.
cris074614@ufmg.br

Palavras-Chave: Engenharia Nuclear, TRIGA MARK-II, Termo Hidráulica, STHIRP-1.

RESUMO

Foi desenvolvido, pelo Departamento de Engenharia Nuclear (UFMG), um programa


computacional para Simulação Termo Hidráulica de Reatores de Pesquisa (STHIRP-1). Esse
algoritmo é capaz de simular o núcleo de reatores nucleares e obter parâmetros de operação das
distribuições de temperatura nas varetas e no fluido contidos no núcleo do reator. Parâmetros de
segurança como a Razão de Distanciamento em Relação a Ebulição Nucleada (DNBR) também
são calculados pelo algoritmo. Nesse trabalho, foi feita uma análise termo hidráulica do núcleo
do reator de pesquisa TRIGA MARK-II, usando o código de subcanais STHIRP-1. O controle de
parâmetros termo hidráulicos é crucial para a segurança no funcionamento de sistemas nucleares,
observando os limites de segurança característicos dos materiais usados na confecção de um
projeto. O reator avaliado nesse estudo utiliza como combustível uma mistura sólida e homogênea
de U–ZrH1.6, com enriquecimento de 19,7%, refletores e moderador feitos de grafite e água como
refrigerante. Esse reator possui inúmeras aplicações, entre as quais se destacam a produção de
radioisótopos, aplicáveis à medicina e à indústria, e a análise por ativação neutrônica. O presente
trabalho avalia as distribuições axiais de temperatura para a vareta mais quente do reator TRIGA
MARK II e calcula o parâmetro DNBR mínimo para os subcanais associados à vareta. Os
resultados gerados pelo código para as distribuições de temperatura foram comparados com
resultados calculados por outro algoritmo de simulação termo-hidráulica de reatores nucleares,
denominado PARET, cujos dados estão disponíveis na literatura. Os códigos apresentaram um
perfil de temperatura semelhante, sendo que o STHIRP-1 apresenta valores mais altos para nodos
axiais superiores.

1. INTRODUÇÃO

O STHIRP-1 é um código desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Nuclear


(UFMG) usado para avaliação termo hidráulica de reatores nucleares que é aplicado para
análise por subcanais de feixe de varetas e de núcleo [1]. Para as modelagens, é necessário
que o usuário informe dados da configuração geométrica do modelo, parâmetros físicos
associados à propagação de calor, como condutividade térmica, calor específico,
densidade dos materiais e a temperatura de referência para estes parâmetros. O código
obtém o valor das propriedades físicas em temperaturas distintas da temperatura de
referência, usando um polinômio de terceiro grau na temperatura, cujos coeficientes são
definidos pelo usuário. Este trabalho emprega o STHIRP-1 para modelar o núcleo do
reator de pesquisa TRIGA MARK-II (Fig. 1), localizado em Dhaka (Bangladesh), tendo
como referência trabalhos prévios [2] [3]. O principal objetivo é determinar o perfil de
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

temperatura de diferentes regiões da vareta mais quente e calcular o parâmetro DNBR


mínimo referente aos subcanais associados a vareta, a fim de comparar os resultados com
análises anteriores.

Fig. 1. Reator Triga Mark-II [4].

2. METODOLOGIA

Para modelagem do núcleo do reator TRIGA MARK-II, foram usados dados disponíveis
referentes à geometria do núcleo que constam nas referências bibliográficas [2][3]. A Tab.
1 apresenta os principais dados de operação do reator, os quais estão disponíveis na
literatura [2] [3].

Tab. 1. Configuração de entrada para a simulação computacional


Parâmetros de Entrada Valor
Temperatura de entrada (Refrigerante) 40,6 °C
Fluxo de calor médio (Varetas) 672,015 kWm–2
Diâmetro hidráulico 1,80594 cm
Pressão 163,8 kPa
Potência total 3 MW
Coeficiente de perda por fricção 0,7
Vazão média 3208,9 kgm–2s–1

Propriedades físicas do refrigerante (água), das varetas e do combustível, como


condutividade térmica, calor específico e densidade, foram obtidos de trabalhos
anteriores, desenvolvidos com o reator TRIGA IPR-R1 [1]. Para a modelagem do reator
TRIGA MARK-II, foram usadas as distribuições axiais de potência calculadas
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

previamente pelo algoritmo MCNP4B2 e disponibilizadas na literatura [3]. As varetas


combustíveis possuem formato cilíndrico com raio de 1,87706 cm e comprimento total
de 70,307cm (comprimento ativo de 38,1cm). A Fig. 2 ilustra a configuração típica de
uma vareta combustível de um reator TRIGA.

Fig. 2. Configuração de uma vareta combustível típica do reator Triga Mark-II.


(adaptado de [4])

As varetas são confeccionadas com aço inoxidável, preenchidas com combustível hidreto
de zircônio (U-ZrH1.6), enriquecido a 19,7% e contém grafite em suas extremidades
inferior e superior que atuam como refletores axiais [4].

Para a realização das simulações no STHIRP-1, a região ativa das varetas foi dividida em
15 nodos axiais, nos quais foram obtidos os valores de temperatura. No plano radial foram
feitas 8 divisões, sendo 5 nodos na zona do combustível e 3 nodos na região do
revestimento. Visando avaliar o caso mais crítico, as análises se restringiram a vareta mais
quente do reator (C4), a qual já era conhecida a priori por estar disponibilizada na
literatura [4] (Fig. 3). Os valores de temperatura foram comparados àqueles calculados
previamente pelo PARET [4]. A diferença de temperatura (𝐷𝑃) entre os códigos foi
calculada por meio da equação (01):

𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 − 𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟


𝐷𝑃 (%) = × 100 (01)
𝑚𝑎𝑖𝑜𝑟 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

Nesse estudo, ainda é avaliado o perfil DNBR mínimo para os canais em contato com a
vareta C4, visando quantificar o distanciamento da ebulição nucleada.

Fig. 3. Núcleo do Triga Mark-II (adaptado de [6]).

3. RESULTADOS

O cálculo realizado pelo código STHIRP-1 forneceu os valores de temperatura para o


reator TRIGA operando a potência total de 3MW. A Fig. 4 ilustra a distribuição axial de
temperatura, para a vareta mais quente do reator (C4) e a Tab. 2 apresenta os respectivos
valores de temperatura calculados por STHIRP-1 e PARET [4].

Fig. 4. Distribuição axial de temperatura ao longo comprimento ativo no centro da


vareta mais quente.
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

Tab. 2. Temperatura no centro da vareta C4 calculada pelo STHIRP-1 e PARET.


Temperatura (°C)
Nodo Axial Altura (cm) Diferença (%)
STHIRP PARET
01 15,28 452.1 462.3 2.2
02 18,34 515.4 499.4 3.1
03 21,40 571.1 578.4 1.3
04 24,45 649.5 637.7 1.8
05 27,51 697.1 692.0 0.7
06 30,57 755.5 756.2 0.1
07 33,63 801.0 783.4 2.2
08 36,68 811.2 791.8 2.4
09 39,74 806.1 790.6 1.9
10 42,80 801.0 783.2 2.2
11 45,85 778.6 753.4 3.2
12 48,91 755.6 726.2 3.9
13 51,97 685.7 676.6 1.3
14 55,02 614.2 572.7 6.8
15 58,08 590.1 577.6 2.1

Na Fig. 4 e Tab. 2 é avaliado o perfil axial de temperatura no centro da vareta combustível


mais quente (nodo radial central), ao longo do comprimento ativo. Entre os programas
STHIRP-1 e PARET há uma diferença máxima de 6,8% (nodo axial 14), e a região do
pico de temperatura (nodo axial 08) apresenta uma diferença de 2,4% entre os dois
códigos avaliados (Tab. 2). Nota-se que para os nodos axiais superiores o STHIRP
apresenta valores superestimados, quando comparado ao PARET.

A Fig. 5 ilustra a distribuição de temperatura na superfície da vareta mais quente (nodo


radial 08) gerado pelos códigos STHIRP-1 e PARET e ainda, a Tab. 3 apresenta os
respectivos valores de temperatura. A diferença máxima entre os valores calculados pelos
códigos é de 9,9% (nodo axial 13) e a zona de pico de temperatura (nodos 07 e 08)
apresenta uma diferença de 5,2%. Nesse caso também se verifica que os valores
calculados pelo STHIRP-1 se apresentam superestimados para nodos axiais superiores da
vareta; isto é, a Fig. 4 e a Fig. 5 possuem comportamento similar.
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

Fig. 5. Distribuição axial de temperatura ao longo comprimento ativo para a superfície


da vareta mais quente.

Tab. 3. Temperatura na superfície da vareta C4 calculada pelo STHIRP-1 e PARET.


Temperatura (°C)
Nodo Axial Altura (cm) Diferença (%)
STHIRP PARET
01 15,28 91,0 98,1 7,2
02 18,34 99,5 100,6 1,1
03 21,40 107,2 110,5 3,0
04 24,45 118,1 117,9 0,2
05 27,51 116,0 125,3 7,4
06 30,57 133,2 132,0 0,9
07 33,63 139,5 132,3 5,2
08 36,68 139,5 132,2 5,2
09 39,74 139,4 132,1 5,2
10 42,80 139,3 130,3 6,5
11 45,85 136,7 125,3 8,3
12 48,91 133,5 122,9 7,9
13 51,97 123,8 111,5 9,9
14 55,02 114,1 105,5 7,5
15 58,08 110,9 105,5 4,8
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

Ainda, usando o STHIRP, foi avaliado o perfil de DNBR mínimo associado a vareta C4,
que é apresentado na Fig. 6. Não há dados para comparação com o código PARET, uma
vez que nas referências não foi apresentado esse perfil. O valor mínimo para o DNBR
calculado pelo algoritmo STHIRP-1 foi de 2,771, caracterizando um valor relativamente
distante da razão-limite da ebulição nucleada mais frequentemente denominado DNBR
(Departure from Nucleate Boiling Ratio), cujo valor seguro é superior a 1,3.

Fig. 6. Perfil de DNBR referente ao subcanal mais quente calculado pelo algoritmo
STHIRP-1.

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho, o núcleo do TRIGA MARK-II foi modelado usando o código STHIRP-I
onde foi avaliado o perfil axial de temperatura para a vareta mais quente considerando o
reator a uma potência de 3 MW. O perfil axial de temperatura foi avaliado para duas
regiões radiais da vareta combustível: o centro e a superfície externa da barra. Os
resultados foram comparados com um trabalho de referência [4] o qual utiliza o código
PARET. Verifica-se que o código STHIRP-I apresenta um perfil de temperatura similar
ao PARET, mas possui valores de temperatura superestimados para os nodos axiais
superiores. Ainda, usando o STHIRP-1, foram calculados os valores de DNBR para o
canal mais quente, verificando-se um distanciamento em relação à ebulição nucleada.
Sob o enfoque das análises realizadas, o programa STHIRP-1 reproduz bem o
comportamento termo hidráulico dos parâmetros avaliados. Contudo, novos estudos
poderão ser desenvolvidos para verificar a concordância do STHIRP-1 com outros
parâmetros e outros resultados experimentais e de simulação computacional.
Semana Nacional de Engenharia Nuclear e da Energia e Ciências das Radiações – VI SENCIR
Belo Horizonte, 8 a 10 de novembro de 2022

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), por viabilizar


a realização do projeto, ao Departamento de Engenharia Nuclear (UFMG), às agências:
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] M. A. F. Veloso. Analise termofluidodinamica de reatores nucleares de pesquisa refrigerados


a água em regime de convecção natural. 2004. 250p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual
de Campinas, Faculdade de Engenharia Quimica, Campinas, SP.

[2] M. M. Rahman, M.S. Hussain, M.A. Imtiaz, M.Q. Huda. Computational analysis of thermo-
hydraulic behavior of TRIGA research reactor. Annals of Nuclear Energy, Vol. 49, pp. 48-56
(2012).

[3] M. Q. Hda et al., Neutronic Analysis of the 3 MW TRIGA MARK II Research Reactor, Part
I: Monte Carlo Simulation. Internal Report. Institute of Nuclear Science Technology Atomic
Energy Research Establishment Ganakbari, INST-88IRPED-20, Dhaka, Bangladesh (2003).

[4]https://nucleus.iaea.org/sites/connect/RRIHpublic/Lists/Slider/DispForm.aspx?ID=7&Conten
tTypeId=0x0100CB8170C9AD1F0D4B88C2FDC526ADB73B, acessado em 30/09/2022.

[5] M. A. Zulquarnain et al, Experience with the operation, maintenance and utilisation of the 3
MW TRIGA Mark-II research reactor of Bangladesh. International Journal of Nuclear Energy
Science and Technology, Vol.4, No.4, pp. 299-312 (2009).

[6] M. M. Hassan et al., Estimation of control rod worth, xenon effect on reactivity and power
defect of BAEC TRIGA Mark-II research reactor. Modern Physics Letters A. Vol. 33, No. 39
(2018).

Você também pode gostar