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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
ANÁLISE PSICOLÓGICA DO TRABALHO
DOCENTE: PROF. DR. ANÍSIO JOSÉ DA SILVA ARAÚJO

MARIA CLARA ARAÚJO ALVES

RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO “ANÁLISE ERGONÔMICA DE UMA


FERRAMENTA DE TRABALHO NO CONTROLE DE TRÁFEGO AÉREO:
PERCEPÇÃO DOS OPERADORES E CONTRIBUIÇÕES PARA A CARGA DE
TRABALHO”

JOÃO PESSOA
2022
MARIA CLARA ARAÚJO ALVES

RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO “ANÁLISE ERGONÔMICA DE UMA


FERRAMENTA DE TRABALHO NO CONTROLE DE TRÁFEGO AÉREO:
PERCEPÇÃO DOS OPERADORES E CONTRIBUIÇÕES PARA A CARGA DE
TRABALHO”

Trabalho correspondente à primeira nota da


disciplina Análise Psicológica do Trabalho do
semestre 2021.2, ministrada pelo Prof. Dr. Anísio
José da Silva Araújo na modalidade remota

JOÃO PESSOA
2022
RESENHA CRÍTICA

O artigo “Análise ergonômica de uma ferramenta de trabalho no controle de tráfego

aéreo: percepção dos operadores e contribuições para a carga de trabalho” de Arlete Ana

Motter e Leila Amaral Gontijo (2012) mostra as percepções dos operadores e os benefícios

das fichas de progressão de vôo (strips) na carga de trabalho dos controladores de tráfego

aéreo, com base na Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Participaram da pesquisa 35

operadores militares da Força Aérea Brasileira (homens e mulheres), os quais trabalhavam no

Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA II),

localizado em Curitiba/PR.

O artigo traz as strips, fichas utilizadas por controladores de tráfego aéreo, e sua

importância para esses profissionais. Por ser uma ferramenta especificamente da aviação, o

leitor pode não entender inicialmente para que elas servem, principalmente porque no tópico

“Fichas de Progressão de Vôo (Strips)” as informações apresentadas são muitas e não há

exemplos de uso dessas fichas para facilitar a compreensão. Porém, nos resultados e

discussão, com os exemplos que aparecem, quem lê o texto pode adentrar com mais facilidade

no cotidiano do operador e, consequentemente, entender como se utilizam as fichas.

Apesar dos resultados e discussão esclarecerem o que são as strips e como elas são

utilizadas, diversas outras nomenclaturas e operações dos controladores apresentadas nesse

tópico não são tão bem explicadas, como por exemplo, o que é o código transponder,

operação radar ou coordenação. A necessidade de expor uma atividade complexa em poucas

páginas, bem como as falas integrais dos profissionais (que contém uma linguagem da área)

podem ter contribuído para que essa apresentação do cotidiano dos profissionais não fosse

clara o suficiente. No entanto, com esforço, consegue-se absorver bastante do artigo.


O artigo considera a diversidade e a variabilidade das pessoas e da produção no

trabalho, como entendido por Falzon (2007), uma vez que mostra as diversas opiniões dos

controladores entrevistados acerca do desconforto ao preencher manualmente as strips, por

exemplo, bem como a enormidade de fatores que eles devem considerar em sua atividade

diária (e que podem apresentar imprevistos): horários, recebimento de mensagens, falhas no

sistema de tratamento de dados e na comunicação.

As tarefas prescritas (divulgada e esperada), conforme descreve Braatz, Rocha e

Gemma (2021), ou seja, o que o cargo de controlador formalmente deve fazer (divulgada) e as

expectativas dos gestores (esperada), não são bem exploradas no texto, talvez porque a

prescrição não é rígida, mas simples, e cabe majoritariamente aos trabalhadores a gestão de

seu trabalho (como visto na parte em que são expostas as diversas maneiras como eles

manipulam as fichas). Assim, é notório para o leitor que os controladores têm uma grande

liberdade para efetivarem as prescrições conforme acharem mais proveitoso.

É perceptível que foi feita uma análise da atividade desses operadores conforme

Falzon (2007) e de maneira muito admirável, uma vez os trabalhadores são ouvidos (haja

vista as diversas falas presentes no texto) e as atividades, tempos e métodos desses

profissionais são bem descritos. Ademais, o conceito de carga de trabalho também foi

brilhantemente visto nas atividades de trabalho dos operadores, resgatando-se momentos em

que os autores observaram-no de forma mais explícita. Destaca-se também a clareza da

definição operacional de carga de trabalho.

Apesar de definir as etapas que seriam feitas no artigo (análise da demanda, da tarefa,

da atividade, diagnóstico ergonômico e recomendações), efetivamente não se pode identificar

com facilidade todas as etapas. Com isso, não parece haver demanda, uma vez que faltam

informações importantes, segundo Falzon (2007), que estão ligadas a esse conceito como:
quem originou a demanda e quais os principais atores para que uma intervenção seja efetiva.

Ademais, a tarefa e suas especificidades, como já visto nessa resenha, não foram exploradas a

fundo. O diagnóstico ergonômico, ainda segundo Falzon (2007), obtido a partir de

observações e posterior validação do que foi visto com os próprios trabalhadores, bem como

as recomendações são escassos no texto.

O artigo mostra-se, apesar de suas imperfeições, muito importante na construção de

conhecimento para a Análise Psicológica do Trabalho, uma vez que há uma análise profunda,

principalmente da carga de trabalho (majoritariamente cognitiva) dos controladores. A

conclusão do artigo é bem elucidativa, pois sintetiza os diversos aspectos da carga de trabalho

encontrados nos resultados e não permite desdobramentos, já que não incita outros estudos na

área, porém, enfatiza a necessidade de investimentos tecnológicos e de valorização na área de

controle do tráfego.
REFERÊNCIAS

DANIELLOU, François; BÉGUIN, Pascal. Metodologia da ação ergonômica: abordagens do


trabalho real. In: FALZON, Pierre (editor). Ergonomia. São Paulo: Editora Blucher, 2007

MOTTER, Arlete; GONTIJO, Leila. Análise ergonômica de uma ferramenta de trabalho no


controle de tráfego aéreo: percepção dos operadores e contribuições para a carga de trabalho. Revista
Produção Online, Florianópolis, v.12, n. 4, p. 856-875, out./dez. 2012

NASCIMENTO, Adelaide; ROCHA, Raoni. Análise do trabalho em ergonomia: modelos,


métodos e ferramentas. In: BRAATZ, Daniel; ROCHA, Raoni; GEMMA, Sandra
(Orgs.). Engenharia do trabalho: saúde, segurança, ergonomia e projeto. Santana do Parnáiba-SP:
Ex Libris Comunicação, 2021

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