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O Auto da Compadecida

de Ariano Suassuna
Ariano Suassuna (1927- 2014) foi um escritor
brasileiro. "O Auto da Compadecida", sua obra-prima,
foi adaptada para a televisão e para o cinema. Sua
obra reúne, além da capacidade imaginativa, seus
conhecimentos sobre o folclore nordestino.

Foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, professor


e advogado. Em 1989, foi eleito para a cadeira n.º 32
da Academia Brasileira de Letras
O Auto da Compadecida foi escrito com base em romances e
histórias populares do Nordeste. Sua encenação deve, portanto,
seguir a maior linha de simplicidade, dentro do espírito em que
foi concebido e realizado. O cenário (usado na encenação como
um picadeiro de circo, numa idéia excelente de Clênio
Wanderley, que a peça sugeria) pode apresentar uma entrada de
igreja à direita, com uma pequena balaustrada ao fundo, uma vez
que o centro do palco representa um desses pátios comuns nas
igrejas das vilas do interior.
Elenco:
PALHAÇO BISPO
JOÃO GRILO FRADE
CHICÓ SEVERINO DO ARACAJU
PADRE JOÃO CANGACEIRO
ANTÔNIO MORAIS DEMÓNIO
SACRISTÃO O ENCOURADO (O DIABO)
PADEIRO MANUEL (Nosso SENHOR JESUS CRISTO)
MULHER DO PADEIRO COMPADECIDA (NOSSA SENHORA)
História do cavalo que defecava dinheiro
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=ruicordel&pagfis=1844

Na cidade de Macaé Se vendo o compadre pobre


Antigamente existia Naquela vida privada
Um duque velho invejoso Foi trabalhar nos engenhos
Que nada o satisfazia Longe da sua morada
Desejava possuir Na volta trouxe um cavalo
Todo objeto que via Que não servia pra nada

Esse duque era compadre Disse o pobre à mulher:


De um pobre muito atrasado _ Como havemos de passar?
Que morava em sua terra O cavalo é magro e velho
Num rancho todo estragado Não pode mais trabalhar
Sustentava seus filhinhos Vamos inventar um “quengo”
Na vida de alugado. Pra ver se o querem comprar
Foi na venda e de lá trouxe Quando o duque velho soube Chegou salvando o compadre
Três moedas de cruzado Que ele tinha esse cavalo Muito desinteressado:
Sem dizer nada a ninguém Disse pra velha duquesa: _Compadre, Como lhe vai?
Para não ser censurado _Amanhã vou visitá-lo Onde tanto tem andado?
No fiofó do cavalo Se o animal for assim Há dias que lhe vejo
Foi o dinheiro guardado Faço o jeito de comprá-lo! Parece está melhorado…

Do fiofó do cavalo Saiu o duque vexado _É muito certo compadre


Ele fez um mealheiro Fazendo que não sabia, Ainda não melhorei
Saiu dizendo: _ Sou rico! Saiu percorrendo as terras Porque andava por fora
Inda mais que um fazendeiro, Como quem não conhecia Faz três dias que cheguei
Porque possuo o cavalo Foi visitar a choupana, Mas breve farei fortuna
Que só defeca dinheiro. Onde o pobre residia.. Com um cavalo que comprei
O castigo da Soberbahttp://cordelparaiba.blogspot.com/2014/03/o-castigo-da-soberba-obra-recolhida-por.html

Agora eu passo a contar A mulher deste Barão


Do que houve em algum tempo: Tinha honras de rainha,
O Castigo da Soberba, Sessenta e cinco criadas
Que ficou para exemplo, Para lhe servir na cozinha,
Foi um caso acontecido, Parecia inda mais bela
Não é coisa que eu invento. Pelos cabelos que tinha.

Era um homem muito rico, Com vinte anos de idade


Tinha honras de Barão, Ele tomou novo estado,
Tinha vinte engenho de ferro, Aumentou o cabedal
Em metal trinta milhão, Adespois de ter casado,
Doze mil vacas paridas Que, antes de interar dez anos,
Nas fazendas do sertão. Sete vez havia herdado.
Bem conhecido e falado Seus cinqüenta anos de idade No campo os bichos de folgo
Dos mais homens brasileiros, Tinha ele já contado, De repente se acabavam,
Tanto por bens de fortuna Tinha vinte de solteiro, As plantações que fazia
Como em crédito de dinheiro, Tinha trinta de casado, Nasciam mas não vingavam,
Mas não tinha nem um filho Esperança de ter filho Dinheiro que desse juro
Para dele ser herdeiro. Já estava desenganado. Nunca mais lhe pagavam.

Era grande no respeito Quando interou cinqüenta anos, Não se passou muito tempo,
Pelos bens que possuía... Deu-se um certo movimento: Acabou-se a tal grandeza:
Se era grande na riqueza, Seus bens, sem se saber como, Olhe o pobre acabrunhado,
Maior era em fidalguia Se acabavam num momento, Carregado de pobreza,
E, se era grande em nobreza, Era como ridimunho Desprezado dos amigos
Maior era em soberbia. Ou tempestade de vento. Em quem contava firmeza!
O enterro do cachorro
http://www.cordelendo.com/2020/05/classicos-do-cordel-o-dinheiro-ou-o.html

O dinheiro neste mundo No dinheiro tem-se visto


Não há força que o debande Nobreza desconhecida
Nem perigo que o enfrente Meios que ganham questão
Nem senhoria que o mande Ainda estando perdida
Tudo está abaixo dele Honra por meio da infâmia
Só ele ali é o grande. Gloria mal adquirida

Ele impera sobre um trono Porque só mesmo o dinheiro


Cercado por ambição Tem maior utilidade
O chaleirismo a seus pés É o farol que mais brilha
Sempre está de prontidão Perante a sociedade
Perguntando-lhe com cuidado: O código dali é ele
- O que lhe falta, patrão? A lei é sua vontade.
O homem tendo dinheiro Ainda que vá a júri Dinheiro dá eloquência
Mata até o próprio pai Compra logo atenuante A quem nunca teve estudo
A justiça fecha os olhos Dá um unto nos jurados Imprime coragem ao fraco
A polícia lá não vai Se livra no mesmo instante Dá animação a tudo
Passam-se cinco ou seis meses Tem o juiz a favor Vence batalhas sem arma
Vai indo, o processo cai. Jurados e assim por diante. Faz vez de lança e escudo.

Compra cinco testemunhas Essas questões muito sérias Aonde não há dinheiro
Que depõem a seu favor Que vão para o tribunal Todo trabalho é perdido
Aluga dois escrivães Ali se exigem papéis Toda questão esmorece
E compra o procurador Que levem prova legal Todo negócio é falido
Faz dois doutores de prata Cédulas de 500 fachos Todo cálculo sai errado
Pronto o homem, meu senhor! É o papel principal. Todo debate é vencido.

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