Capítulo 22

APLICABILIDADE DE JOGOS SÉRIOS

NOS DISTÚRBIOS MOTORES: UMA
REVISÃO DE LITERATURA

ANA CRISTINA VIEIRA DA COSTA¹

MARIA GISLENE SANTOS SILVA2
NOELI AQUINO DA CRUZ1
ÁLISON MACHADO SANTOS3
BIANCA SÁLIAN RICARDO CUSTÓDIO FERREIRA3
ALANA SILVA DO DESTERRO1
LAYSA EMANUELLE SOUSA LIMA1
ANA HELOÍSA MORAES MELO1
MARCOS VINICIUS VIEIRA DA COSTA4
RENATO MENDES DOS SANTOS5
SILMAR SILVA TEIXEIRA6

1
Discente – Graduanda em Fisioterapia na Universidade Federal do Delta do Parnaíba.
2
Discente – Fisioterapeuta, Doutoranda em Biotecnologia na Universidade Federal do Delta do Parnaíba.
3
Discente – Graduando (a) em Biomedicina na Universidade Federal do Delta do Parnaíba.
4
Enfermeiro – Graduado em Enfermagem na Faculdade UNINASSAU.
5
Docente – Psicólogo, Doutorando em Biotecnologia na Universidade Federal do Delta do Parnaíba.
6
Docente - Doutor em Saúde Mental, Universidade Federal do Delta do Parnaíba.

Palavras-Chave Jogos sérios; Distúrbios motores; Reabilitação.

124 | P á g i n a
10.29327/5189968.8-22
INTRODUÇÃO
O controle motor indica a capacidade de
regular ou direcionar os mecanismos relacio-
nados ao movimento. Sua execução é com-
plexa, inclusive em situações simples, e en-
volve desde o processo cognitivo de volição,
planejamento do movimento e seleção dos
comandos motores para sua realização, até
fatores atencionais e motivacionais (KOJOVI
et al., 2019). A execução desses comandos
envolve a atuação em conjunto de múltiplas
regiões do corpo, como córtex cerebral,
cerebelo, tronco cerebral, medula espinhal,
nervos, músculos, articulações e ossos. Além
disso, áreas de equilíbrio como cóclea, área
auditiva e visual são fundamentais para a
execução dos movimentos (BAO et al., 2021;
MONROZ, 2020).
Ademais, os distúrbios motores são carac-
terizados pelo funcionamento anormal de mo-
vimento, sensação e/ou coordenação de uma
parte do corpo, incluindo sintomas como fra-
queza motora, paralisia dos membros, espas-
mos, perda do controle articular e tremores,
esses que podem acontecer em episódios ou
estarem presentes de forma contínua. Esses
problemas são, normalmente, sintomas decor-
rentes de danos neurológicos ou de doenças
que afetam o sistema do controle motor, como
acidente vascular cerebral, doença de Parkin-
son, tremor essencial e outros distúrbios. Es-
sas alterações prejudicam a realização das
atividades de vida diária do indivíduo afetado
(BAO et al., 2021). O tratamento dos distúr-
bios motores objetiva a melhoria da qualidade
de vida do indivíduo, sendo alcançada, por
exemplo, pela diminuição dos movimentos
involuntários anormais, prevenção de com-
plicações musculoesqueléticas e/ou alívio de
dores (LIBZON et al., 2018).
Além disso, os métodos ainda podem ser
divididos em tradicionais e computacionais.
Os métodos tradicionais utilizam técnicas
neuropsicológicas não computacionais, a fim
de melhorar déficits de atenção e problemas
de foco. É feito de forma presencial e apre-
senta muitas limitações, como dificuldade de
acesso aos locais, altos custos de desloca-
mento, falta de monitoramento preciso, escas-
sez de informações sobre o desempenho do
paciente, além de serem monótonos devido à
sua natureza repetitiva (SHAHMORADI et
al., 2022). Sabendo disso, as interações manu-
ais entre terapeuta e paciente se tornam can-
sativas e desmotivadoras, no qual os terapeu-
tas têm a função de encorajar os pacientes a
frequentar continuamente a reabilitação.
Visto o crescente uso da tecnologia em
diversas áreas do conhecimento, além do no-
tável impacto que estas proporcionam no de-
senvolvimento da ciência, particularmente nas
relacionadas à saúde, diversas técnicas de
diagnóstico e terapêutica estão sendo criadas.
Os métodos baseados em computador, como
jogos sérios, gamificação e realidade virtual,
utilizam de recursos computacionais, como
equipamentos, dispositivos e programas para
favorecer o acesso à reabilitação de pacientes
com diferentes tipos de comprometimentos
(ALBUQUERQUE et al., 2017).
Os jogos sérios são definidos como pro-
gramas interativos de computador, com ou
sem hardware específico, que possuem um
objetivo desafiador, são envolventes, incor-
poram algum sistema de pontuação e favo-
recem melhorias às habilidades, conhe-
cimentos ou atitudes do usuário (OLGERS et
al., 2021). Eles divergem dos videogames
convencionais por possuírem um objetivo
125 | P á g i n a
principal além do entretenimento, visto que
fornecem uma combinação equilibrada entre
desafio e aprendizado (PROENÇA et al.,
2018), estimulando o jogador com seus ele-
mentos competitivos, ao mesmo tempo em
que garante a aquisição, aparentemente sem
esforço, de conhecimentos ou habilidades. Es-
se tipo de jogo vem se destacando sobre os
métodos tradicionais de aprendizado devido
sua alta capacidade de envolver os usuários,
além de diferir dos simuladores e técnicas de
gamificação, por usar de um ambiente distinto
à realidade. Estão presentes em diversas pla-
taformas, como computadores, celulares ou
consoles de videogame, permitindo executá-
los em qualquer ambiente e conferindo-os
maior adesão do paciente (GRAAFLAND et
al., 2012).
Atualmente, estão sendo utilizados no
setor educacional de forma bastante expres-
siva, mas vêm, especialmente, conquistando
espaço e sendo incorporados como aborda-
gens inovadoras de reabilitação de distúrbios
motores, devido seu potencial de estimular os
pacientes, auxiliar nas terapias convencionais
e propiciar excelentes resultados (MUBIN et
al., 2022; ONG et al., 2021). Benefícios como
aperfeiçoamento das habilidades sem riscos
ao indivíduo, nivelamento de dificuldade do
desafio a depender da gravidade da disfunção,
praticidade, qualidade e eficácia desse tipo de
reabilitação o destacam no mercado em rela-
ção aos métodos tradicionais (SHAHMO-
RADI et al., 2022).
Considerando que esta é uma área de
pesquisa ainda em desenvolvimento (MUBIN
et al., 2022), além das falhas e limitações
evidenciadas no método tradicional (SHAH-
MORADI et al., 2022), o objetivo do presente
estudo foi compreender a aplicabilidade dos
jogos sérios em pacientes com distúrbios mo-
tores por meio da análise da literatura atual-
mente disponível.
MÉTODO
Trata-se de uma revisão integrativa da li-
teratura. O método desta pesquisa consiste em
uma ampla abordagem com rigor método-
lógico, no qual foram combinados dados de
estudos para sintetização dos resultados obti-
dos acerca de pesquisas disponíveis sobre de-
terminada temática (SOUZA et al., 2010). Foi
realizada no período de novembro a dezembro
de 2022, por meio de pesquisas nas bases de
dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
PubMed e Web of Science. Utilizando a meto-
dologia PICO para construir a pergunta de
pesquisa, e utilizando os termos descritores
("motor disorders") AND ("serious games"
OR Gamification OR "Video Games" OR
"Video Game" OR "Computer Games" OR
"Computer Game"). Desta busca foram en-
contrados 39 artigos, posteriormente subme-
tidos aos critérios de seleção.
Como critérios de inclusão: Estudo com
temática central a aplicabilidade de jogos
sérios em pacientes com distúrbios motores,
estudos experimentais, relatos de caso, revi-
sões e metanálises, escritos em qualquer idio-
ma e publicados nos últimos 10 anos. Os cri-
térios de exclusão foram teses, dissertações,
resenha de livros, anais de congressos e traba-
lhos com inadequação à questão norteadora.
A análise teve como finalidade realizar
uma integração interpretativa de achados qua-
litativos, comparando as convergências e dife-
renças, compondo uma síntese para a compre-
ensão dos dados. Portanto, a partir dos crité-
rios de inclusão e exclusão, foram selecio-
nados 13 artigos que possuem relação direta
com o objetivo do presente estudo (Figura
126 | P á g i n a
22.1). A descrição dos artigos selecionados
para análise encontra-se na Tabela 22.1.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estudos ressaltam várias formas de reabi-
litação para pacientes com distúrbios motores.
Conforme foi investigada a possibilidade de
aplicar os jogos sérios para fins de reabili-
tação, verificou-se a melhora da intensidade e
a frequência da recuperação, possibilidade de
feedback em tempo real para o paciente e para
o profissional e aumento da motivação do pa-
ciente para completar o programa de recupe-
ração funcional. Além de proporcionar a rea-
bilitação em domicílio sem a perda do acom-
panhamento profissional e redução dos custos
e dos esforços do sistema de saúde (ECKERT
et al., 2017).
A seguir, os dados dos artigos estão des-
critos na Tabela 22.1, no qual são identifi-
cadas algumas características como: o nome
dos autores e ano, tipo de estudo, objetivos e
princípios.
Os grupos de pacientes estudados são na
maioria idosos [com acidente vascular cere-
bral (AVC) e doença de Parkinson (DP)] e
crianças e adolescentes. Entretanto, esses últi-
mos são raramente abordados mesmo sendo
Figura 22.1 Fluxograma da busca e seleção dos estudos
um excelente público-alvo, devido as suas fai-
xas etárias que apresentam uma maior afini-
dade com a utilização dos jogos sérios. Con-
tudo, a utilização desse tipo de intervenção
não visa substituir a tomada de decisão clíni-
ca, a recuperação funcional e o conjunto de
habilidades de um profissional da área da
saúde (ECKERT et al., 2017).
A literatura disponível indica melhores
resultados com a reabilitação gamificada
quando comparada à reabilitação convencio-
nal. As terapias gamificadas podem promover
os principais componentes de um programa de
reabilitação bem-sucedida: alta intensidade de
movimentos orientados para a tarefa e propor-
sitais, níveis ótimos de prazer, engajamento e
motivação (TOSTO-MANCUSO et al.,
2022).
Além disso, os jogos abordam questões
como interação social, reconhecimento, regu-
lação emocional e cognição, apresentando re-
sultados positivos. Existem jogos que traba-
lham com habilidades motoras grossas e finas,
que podem ter um papel significativo no pro-
cesso de aprendizagem, sendo também uma
ferramenta dentro e fora da sala de aula
(VUKIĆEVIĆ et al., 2019).
127 | P á g i n a
Tabela 22.1 Publicações utilizadas para a análise e discussão dos resultados
Autor/ano Tipo de estudo Objetivo do protocolo Princípios
A eficácia da realidade virtual, co- Funcionalidade, potencialização do controle
VIEIRA Revisão de mo uma ferramenta terapêutica para motor, capacidade cognitiva e equilíbrio na do-
et al., 2014 literatura reabilitação de pacientes com doen- ença de Parkinson utilizando a realidade vir-
ça de Parkinson. tual.
Ampliação de movimento; retardar Repetição de movimentos básicos em diferen-
ECKERT Estudo perda de funcionalidades básicas; tes ambientes de jogo.
et al., 2017 experimental controle do corpo e cabeça.
Ganho de equilíbrio dos pacientes, Utilizado para reabilitação física, a ferramenta
GROSSI evolução do padrão de marcha. lúdica difere dos métodos de tratamentos con-
Relato de caso
et al., 2017 vencionais.
Aprendizagem motora que visava Utilização dos jogos para pacientes com aci-
Estudo aumentar o número de repetições de dente vascular cerebral.
STANDEN
randomizado movimentos funcionais com feed-
et al., 2016
controlado back.
Diferenciar entre as letras do alfabe- Uso de objetos de cenário, novos ambientes e
PERES Revisão to e rabiscos, números e sinais mate- personagens para avaliar as habilidades de
et al., 2018 integrativa máticos para auxiliar no apren- leitura de alunos com deficiência motora.
dizado.
Estimular a função cognitiva e mo- Utilização de simulador para o desenvolvimen-
FARIA Estudo tora. to e reabilitação das capacidades cognitivas
et al., 2018 experimental motoras.
Emprego da realidade virtual para Exibição de imagens virtuais, realidade virtual
reabilitação cognitiva e motora e in- como interface de usuário–computador, esti-
TIERI Revisão
vestigação de técnicas e dispositivos mulando a interação em um ambiente virtual,
et al., 2018 integrativa
promissores para pacientes. por meio de dispositivos.

Ferramenta para avaliar e classificar Quantificação padronizada e objetiva de carac-

SUMMA Estudo as tarefas motoras realizadas confor- terísticas atáxicas em pacientes.
et al, 2019 experimental me a escala para avaliação e classi-
ficação de ataxia.
Aprimorar a coordenação visuo- Exercício de atenção seletiva, sistema de re-
VUKIĆEVIĆ Estudo motora, concentração e planejamen- compensa, testados em crianças com transtorno
et al., 2019 experimental to motor; estimular a criatividade. do espectro autista.
Ferramenta computadorizada para Facilitar a interação dos alunos com o ambiente
BISSACO Estudo alunos com dificuldades em alfabe- interativo, acessível, contendo gráficos colori-
et al., 2020 experimental tização e elaborar estratégias de en- dos, animação e atenção dos estudantes duran-
sino te sua execução.

REYES- Identificar possíveis diferenças entre Realização de tarefas funcionais que requerem
Estudo condições saudáveis e patológicas. movimentos dos membros superiores, especifi-
GUZMÁN
experimental camente gestos manuais.
et al., 2021
Utilizar de jogos de realidade vir- Ampla gama de movimentos dos membros
tual mediados por robôs, visando superiores, atividades motoras em realidade
EL-KAFY Estudo acelerar a recuperação de pessoas virtual que praticassem controle dos padrões de
et al., 2022 experimental com acidente vascular cerebral crô- movimentos intencionados.
nico.
TOSTO- Eficácia, viabilidade e estratégia de Tecnologias promissoras de neurorreabilitação
Revisão de implantação de serviço de reabilita- gamificadas para indivíduos pós-acidente vas-
MANCUSO
literatura ção. cular cerebral.
et al., 2022

Crianças com transtorno do espectro coce nas habilidades motoras. Dessa forma,
autista (TEA) apresentam um desenvolvi- estudos evidenciaram a necessidade do uso de
mento motor mais lento notável na primeira jogos nesses pacientes, pois os jogos edu-
infância, sendo aconselhável tratamento pre-

128 | P á g i n a
cativos podem apresentar novas formas de
tratamento (VUKIĆEVIĆ et al., 2019).
Vukićević et al. (2019), desenvolveram
quatro jogos visuomotores no kinect (disposi-
tivo de entrada de movimento do Microsoft
Windows) e realizaram a comparação de qua-
tro jogos educacionais: Sorting, Catching,
Imitating e Searching, cada uma abordando o
desenvolvimento de diferentes habilidades
afetadas em crianças com TEA. O Sorting
estimula a atenção seletiva, concentração,
planejamento motor, foco em determinada
tarefa e coordenação visuomotora. Além des-
se, o Catching treina equilíbrio, coordenação
de cabeça-mão e captura, enquanto o jogo
Imitating proporciona o estímulo de habili-
dades motoras grossas, como controlar a
cabeça, braços, agachar, pular e estabilidade
do tronco. O último Searching, incentiva o
treino de concentração e da criatividade.
Segundo os autores, os jogos deveriam incluir
movimentos repetitivos para ganho de manu-
tenção da atenção e adaptação motora, tor-
nando-os mais interessantes.
Ademais, crianças com paralisia cerebral
(PC), apresentam alterações musculoesque-
léticas e limitações nas atividades de vida
diária. Dessa maneira, a utilização de estra-
tégias lúdicas na reabilitação motora é funda-
mental. Assim, novas intervenções foram
empregadas nos distúrbios motores na PC, tais
como a realidade virtual, jogos interativos e
videogames (PERES et al., 2018).
A partir das necessidades captadas pelos
pesquisadores foram desenvolvidas ferramen-
tas computadorizadas para avaliar as habili-
dades de leitura de alunos com deficiência
motora. Outrossim, os pesquisadores realiza-
ram um teste computadorizado visando a
avaliação das limitações dos movimentos de
membro superior. Este teste é de caráter
interativo, com animações e gráficos e possui
um personagem controlado pelo usuário. Com
isso, o teste trouxe grande satisfação ao
público, pela sua acessibilidade e por ser
utilizado em comparação com os testes na-
teriores, já que seus resultados são gravados
no programa (BISSACO et al., 2020). As
formas de intervenções, incluindo hardware e
software baseados em jogos voltados para
ensino da educação especial, fornecem um
ambiente seguro e previsível, tendo capaci-
dade de interação social para reduzir a na-
siedade de aprendizagem, proporcionando
não apenas entretenimento, mas sim educa-
ção, treinamento e simulação (VUKIĆEVIĆ
et al., 2019).
Novas tecnologias, incluindo interfaces de
computador e videogames que surgiram para
aplicações clínicas nessa patologia. Deste
modo, Summa et al. (2019), desenvolveram a
ferramenta Sarahome com intuito de realizar
a avaliação domiciliar de pessoas com ataxia
espinocerebelosa de início infantil (IOSCA).
Pacientes com IOSCA apresentam distúrbios
neurológicos com etiologia hereditária ou
adquirida, caracterizada por distúrbios da
marcha, coordenação e equilíbrio, que pode-
rão utilizar a Sarahome (SUMMA et al.,
2019).
A SARA (Escala de Avaliação e Classi-
ficação de Ataxia) inclui oito itens separados
como marcha, postura, sentado e fala; perse-
guição dos dedos, nariz dedo, movimentos al-
ternados rápidos das mãos e deslizamento
calcanhar-canela para ambos os lados. O
Sarahome rastreia e avalia as tarefas motoras
derivadas da SARA por meio do esqueleto do
corpo inteiro sendo produzido pelo kinect e
pelo LCM (dispositivo desenvolvido com fi-
nalidade específica de reconhecimento de ges-
tos) (SUMMA et al., 2019).
Além de outras tecnologias, o Nintendo®
Wii vem sendo implementado na reabilitação.
129 | P á g i n a
Ele é considerado uma ferramenta lúdica, tra-
zendo benefícios para a recuperação física
funcional, incluindo adesão dos pacientes, a
motivação, melhora do equilíbrio, correções
posturais, aumento da capacidade de loco-
moção e da amplitude de movimento. Além
de aumentar a resistência, também auxilia na
respiração, estimula a atividade cerebral e
engloba a participação social. Entretanto, o
Nintendo® Wii não foi desenvolvido para a
reabilitação, mas sim para o entretenimento.
Dessa forma, apresenta algumas restrições de
implementação para a recuperação física fun-
cional. Ademais, Grossi et al. (2017), realiza-
ram os testes utilizando o jogo Wii Fit para
mensurar a descarga de peso nos membros
inferiores. As evidências mostraram que o
jogo de Wii Fit proporciona equilíbrio na
descarga de peso e um alinhamento fidedigno
do centro de gravidade, corroborando para a
evolução da marcha.
A Realidade Virtual (RV) oferece vanta-
gens para o profissional, incluindo a possibili-
dade de criar ambientes 3D. Além de um pa-
pel importante pelos dispositivos que permi-
tem interação naturalista entre o usuário e o
ambiente virtual, assim como podem fornecer
características de imersão e interação típicas
da RV. Isso se deu pelo desenvolvimento na
ciência da computação que permitiram com-
binar a RV com o mundo real, fornecendo
resultados positivos em um curto período
(TIERI et al., 2018). A utilização da RV
associado a reabilitação convencional de pa-
cientes com doença de Parkinson tem demos-
trado um aumento da motivação e melhor
adesão dos pacientes (VIEIRA et al., 2014).
Foi descrito um alto interesse e partici-
pação dos pacientes nos jogos para a recupe-
ração funcional. Embora as tecnologias tra-
gam bons resultados, esforços são necessários
para desenvolver tarefas específicas para a
avaliação e reabilitação dos pacientes (SUM-
MA et al., 2019). O simulador de jogo Boccia,
é um serious game adaptado para pessoas com
deficiências e apresenta resultados satisfató-
rios, no qual a maioria da amostra foi apro-
vada pelo público. Neste caso, o simulador
permite que sua prática tenha um aspecto de
diversão e é também direcionado a usuários
casuais. Vale ressaltar, que o nível de frus-
tração possui um valor baixo, o que significa
que o simulador apresentou um baixo nível de
insatisfação, ou seja, este resultado irá corro-
borar no avanço do desenvolvimento do jogo
(FARIA et al., 2018).
Contudo, é necessário avaliar a eficácia e
relevância dos sistemas na recuperação fun-
cional. Os estudos também apresentaram
como objetivo a adaptação dos jogos para
cada paciente, focando nos seus comprome-
timentos e limitações. Além de criar um
ambiente divertido com jogos de aventuras,
para que os jogadores entrem no mundo
virtual (VUKIĆEVIĆ et al., 2019; TIERI et
al., 2018; VIEIRA et al., 2014).
Conforme descrito, ocorreu um crescente
uso de tecnologia na reabilitação nos últimos
anos. Isso deve a tecnologia possuir um alto
potencial para uso como ferramentas diag-
nósticas e terapêuticas de doenças neuroló-
gicas e de distúrbios incapacitantes que perdu-
ram por toda a vida do paciente.
Reyes-Guzmán et al. (2021), destacaram o
processo de reabilitação de pacientes com
lesão medular cervical, que pode se estender
para além da fase de internação, sendo im-
portante envolver tecnologias de baixo custo.
Desenvolvendo assim, o protótipo Rehab-
Hand, baseado em aplicativos virtuais para
reabilitação de habilidades manipulativas dos
membros superiores com intuito de apresentar
intervenções para pacientes com condições
neurológicas.
130 | P á g i n a
 Além disso, aplicativos virtuais, como os
Playground baseados no Leap Motion Con-
troller, envolvem a realização de tarefas fun-
cionais, desenvolvidas também com intuito de
entretenimento como jogos de coleta de
pétalas e montagem de robôs (REYES-GUZ-
MÁN et al., 2021). Do ponto de vista clínico,
os jogos guiados por robôs, podem ser usados
para melhorar as funções motoras em pacien-
tes pós-AVC. Em indivíduos com hemiplegia,
o uso de biofeedback eletromiográfico no
membro superior, trouxe um amortecimento
na hiperatividade da sinergia flexora. Além
disso, os jogos de RV com robôs podem
estimular a capacidade de lidar e exercer um
maior controle com diferentes desafios, prati-
cando tarefas virtuais de forma independente
sobre suas ações motoras (EL-KAFY et al.,
2022).
CONCLUSÃO
Conforme a análise da literatura, conclui-
se que os jogos sérios são promissoras ferra-
mentas no tratamento fisioterapêutico, e que
essas inovações tecnológicas estão se expan-
dindo rapidamente com fortes evidências,
sugerindo sua eficácia. Atualmente, são utili-
zados em pacientes com diversos tipos de
deficiências motoras, como, por exemplo,
doença de Parkinson, lesão medular, ataxia
espinocerebelosa de início infantil, paralisias
decorrentes de acidente vascular cerebral, li-
mitação na movimentação dos membros supe-
riores e falha na marcha.
Sendo assim, seu uso é justificado pela
aplicabilidade no diagnóstico, acompanha-
mento e terapêutica, isso impacta positiva-
mente na amplificação de movimento, aumen-
to das funcionalidades de controle, potencia-
lização da aprendizagem motora, acréscimo
na capacidade cognitiva e no equilíbrio. Tais
avanços são possíveis devido a sua capaci-
dade de maior adesão, obtida a partir das
características de imersão, envolvimento, mo-
tivação, viabilidade, tolerabilidade e facilida-
de de uso, além de tornar a terapia mais lúdica
e próxima da realidade.
No entanto, ainda existem desafios para a
adoção e implementação difundida desses jo-
gos, como a necessidade de avaliações mais
específicas dos fundamentos neurobiológicos,
desenvolvimento voltado para deficiências
graves, simplicidade nos enredos, recom-
pensas e interface, além de tarefas mais es-
pecíficas que visem disfunções negligen-
ciadas, alto valor de mercado e carência de
algoritmos precisos para diagnóstico e esta-
diamento. Portanto, é primordial um maior
investimento nessa área, com foco na busca
por uma maior qualidade e quantidade de
terapias, objetivando sua adoção gradual nas
práticas de reabilitação dos distúrbios mo-
tores.
131 | P á g i n a
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