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A eficácia dos exergames como tratamento alternativo para

as alterações neurofuncionais da doença de Parkinson.

August 10, 2023 10:00 , Leave a Comment , Rubia Carolina Farias Santos

Rubia Carolina Farias Santos, Assistente Editorial, Fisioterapia em Movimento,


PUCPR, Curitiba, PR, Brasil.

A doença de Parkinson (DP) é uma doença crônica, degenerativa e progressiva


caracterizada por sintomas motores e cognitivos (ARMSTRONG, M.J. e OKUN, M.S.). O
tratamento envolve medicação, cirurgia e reabilitação. Como medicamentos e cirurgia
podem não impedir a progressão da doença ou melhorar as funções cognitivas, o papel da
reabilitação torna-se cada vez mais importante.
Entre as modalidades de tratamento, a realidade virtual é um recurso cognitivo-motor de
reabilitação que permite ao paciente interagir com uma realidade artificial por meio de
simulação de computador, fornecendo feedback em tempo real, controle sobre a
intensidade dos exercícios e um ambiente rico em estimulação sensorial (LOHSE, K., et
al.; MIRELMAN, A., et al.).
Devido ao baixo custo, potencial para uso doméstico e efeito positivo na
motivação, exergames (aglutinação das palavras “exercício” e “games”, também
conhecidos como jogos de movimento) comerciais são uma alternativa viável como nova
ferramenta de intervenção. Estudos anteriores mostraram que o treinamento com
videogame é benéfico, econômico e seguro para pacientes com DP (AFRIDI, A., et al.;
HERZ, N.B., et al.), exigindo habilidades não apenas motoras, como também memória,
atenção e funções visuoespaciais (AFRIDI, A., et al.).
Entre os sistemas comerciais de exergames potencialmente úteis como ferramenta de
reabilitação, o mais utilizado é o Nintendo Wii Fit Plus™. Apesar de alguns estudos terem
confirmado sua eficácia como ferramenta de intervenção para DP, o equilíbrio, a marcha e
a qualidade de vida foram avaliados usando apenas escalas clínicas (AFRIDI, A., et al.;
ALVEZ, M.L.M., et al.; GARCIA-AGUNDEZ, A., et al.; MEIJER, F.J.A., et al.; NEGRINI,
S., et al.).
Dessa forma, seguindo a hipótese de que o treinamento cognitivo-motor fornecido
por exergames poderia estimular áreas do cérebro envolvidas em funções motoras e
cognitivas, e que essa estimulação seria baseada em mudanças na estrutura neural e na
conectividade, pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) e da Università degli
Studi di Palermo (UNIPA) objetivaram avaliar se um treinamento intensivo baseado em
realidade virtual promoveria um efeito superior em determinados desempenhos cognitivos
comparados aos observados após uma terapia exclusivamente motora.
A pesquisa foi apresentada em um artigo publicado no periódico Fisioterapia em
Movimento, intitulado Does exergaming promote neurofunctional changes in Parkinson´s
disease? A pilot clinical study.
Dez pacientes com DP recrutados no Ambulatório de Distúrbios do Movimento da
Universidade Hospital de Palermo participaram do estudo. Todos foram submetidos a
testes cognitivos e ressonância magnética funcional no estado de repouso (RSfMRI) na
semana anterior ao início do primeiro treinamento. Em seguida, foram alocados
aleatoriamente nos grupos Nintendo Wii (WG) e Wii-like (WLG).

Imagem: Pixabay.
Assim que concluída a primeira parte do treinamento, os pacientes de ambos os grupos
foram submetidos à avaliação cognitiva e RSfMRI. Após um intervalo de 45 dias, os dois
grupos iniciaram a segunda sessão de exercícios. Nessa etapa, aqueles que, a princípio,
começaram com o treinamento Wii™ completaram o estudo com exercícios “tipo Wii” e
vice-versa. Ao terminar a segunda sessão, os dois grupos repetiram as avaliações
cognitivas e a RS-fMRI.
O WG consistiu em 10 sessões de treinamento individual supervisionadas por um
fisioterapeuta, cinco vezes por semana, durante duas semanas consecutivas, sempre em
estado ON da medicação dopaminérgica. De acordo com as demandas motoras e
cognitivas, quatro jogos do pacote Wii Fit Plus do videogame Wii™ (pista de obstáculos,
passo básico, desfile rítmico e caminhada na corda bamba) foram previamente
selecionados.
O WLG realizou uma série de exercícios com base nas mesmas demandas motoras, com
número semelhante de repetições, velocidades de movimento e durações exigidas por
cada um dos quatro jogos selecionados para o treinamento Wii. Os mesmos controles e
plataforma foram usados, mas desligados, para aumentar a semelhança com o
treinamento Wii. Não foram fornecidas pistas externas, feedback ou estimulação cognitiva,
oferecidos pelos jogos.
Ambos os treinamentos foram bem tolerados. Verificou-se uma melhora significativa no
desempenho cognitivo após ambos os treinamentos nos testes Rey List, Trail Making
Test Parte B e Rey-Osterrieth Complex Figure Revocation, mas não foram observadas
diferenças significativas no desempenho dos participantes em qualquer outro teste
cognitivo. Em conclusão, observou-se que um intenso treinamento com exergames é
eficaz para melhorar o desempenho cognitivo, principalmente as funções de memória,
funções executivas, atenção e função visuoespacial, sem vantagens sobre o treinamento
convencional.
Apesar do baixo significado das alterações neurofuncionais observadas através dos
exames de RS-fMRI, a melhora cognitiva destacou alterações neurofuncionais da
conectividade cerebral entre áreas envolvidas em domínios cognitivos específicos.
Referências
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