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Conhecendo melhor as doenças degenerativas

As doenças degenerativas são aquelas que causam lesões nas células,


podendo afetar a visão, os ossos, os tecidos, os vasos sanguíneos, entre
outros. Essas doenças são crônicas e não são transmitidas, afetando as
células do corpo de forma continua, irreversível e com os sintomas de piora
progressiva, limitando as funções básicas do corpo, como o movimento, a
respiração e o raciocínio, levando em alguns casos à morte.

As causas do surgimento de doenças degenerativas são relacionadas com


aspectos genéticos, fatores ambientais, má alimentação e sedentarismo.
Atualmente, não há cura e nem tratamento específico para essas doenças. O
uso de medicamentos alivia os sintomas da doença e proporciona melhores
condições de vida aos doentes.

Com o crescimento da idade média da população, as doenças degenerativas –


mais comuns nos idosos – têm aumentado na sociedade.

As doenças degenerativas são classificadas como: Doenças degenerativas do


sistema nervoso ou doenças generativas do sistema muscular e as principais
são:

Alzheimer
A doença ou mau de Alzheimer afeta o cérebro e causa a morte de neurônios.
As áreas afetadas no cérebro comprometem a memória, a capacidade de
linguagem e o comportamento.
No Brasil, estima-se que mais de 1 milhão de pessoas sofram com a doença de
Alzheimer. Essa doença afeta, principalmente, as pessoas a partir dos 60 anos
de idade.

Parkinson
A doença ou mau de Parkinson é causada pela destruição de neurônios, na
área conhecida como substância negra. Essa região é responsável pela
produção do neurotransmissor dopamina. Dentre as várias funções da
dopamina está o controle dos movimentos corporais.
Esclerose Múltipla
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, na qual as células de defesa do
organismo atacam os neurônios e destroem a sua bainha de mielina. Essa
condição provoca lesões no cérebro que levam à atrofia ou perda de massa
cerebral. Assim, as funções do sistema nervoso central ficam comprometidas.

Osteoporose:
Ocorre quando as células ósseas não estão sendo renovadas de maneira
satisfatória, ocasionando maior fragilidade e menor espessura óssea. Esta
doença acomete principalmente mulheres, porque seus ossos já são
naturalmente mais finos. Sintomas: fraturas, dor ou sensibilidade óssea,
postura encurvada.
Distrofia Muscular
A distrofia muscular caracteriza um grupo de mais de 30 doenças que causam
a degeneração progressiva dos músculos. Não há cura para qualquer uma das
formas de distrofia muscular.
Na maioria dos casos, não há como prevenir as doenças degenerativas.
Algumas poucas podem resultar da exposição a certos agentes nocivos, como
metais pesados; nesses casos, deve-se evitar o contato com esses agentes.

Na maioria dos casos, não há como prevenir as doenças degenerativas.


Algumas poucas podem resultar da exposição a certos agentes nocivos, como
metais pesados; nesses casos, deve-se evitar o contato com esses agentes.

Adrenoleucodistrofia

1. Descriçao da Patologia
A adrenoleucodistrofia (ADL) é uma doença genética, que apesar de rara, é
uma doença metabólica hereditária de origem peroxissomal mais comum,
sendo considerada, também, de caráter degenerativo e incurável. O nome
"adrenoleucodistrofia" foi aplicado em referência às estruturas mais afetadas
pela doença, sendo elas: “adreno”, referindo-se às glândulas adrenais/supra
renais, as quais localizam-se acima dos rins e secretam alguns hormônios
essenciais ao funcionamento do organismo [Figura 1], além da palavra “leuco”,
que, do grego, significa "branco”, fazendo referência à substância branca
localizada no interior do cérebro (medula cerebral) [Figura 2]. Por fim, a palavra
“distrofia” é usada para expressar o não desenvolvimento dessas estruturas no
corpo da pessoa afetada [Figura 2], ou seja, é empregada sempre que uma
estrutura do nosso corpo não se desenvolve da maneira correta [1]. 
 
                                                       Figura 1: Anatomia da glândula adrenal
 
                    Fonte: WINSLOW, 2013 – André Arana Camis – CC BY-AS 3.0 –
disponível no repositório 
                                 digital da Wikimedia Commons.
 
                                  Figura 2: Tecidos e glândulas afetadas pela
Adrenoleucodistrofia

                                    Fonte: JIA et al., 2019 – André Arana Camis - CC BY-AS


3.0 -
                                    disponível no repositório digital da Wikimedia Commons.
 
Apesar de se tratar de um Erro Inato do Metabolismo (EIM) comum, a
adrenoleucodistrofia possui incidência muito baixa, afetando cerca de uma
pessoa a cada 20 mil nascidos vivos [2], o que, portanto, faz com que muitos
médicos e profissionais da saúde desconheçam tal doença, dificultando seu
diagnóstico e tratamento.
 
2. Como a doença se dá biologicamente?
 
A adrenoleucodistrofia ocorre por conta de uma alteração genética, que faz
com que o corpo não produza, ou produza com deficiência, uma proteína
chamada de ALDP (Adrenoleukodystrophy protein). Os problemas causados
pela ausência, ou mal funcionamento, desta proteína fazem com que os
chamados ácidos graxos de cadeia muito longa (AGCML), uma espécie de
gordura que é produzida pelo próprio corpo, não consigam entrar no interior de
uma estrutura chamada de peroxissomo [Figura 3] e fiquem armazenados
dentro das células [3].
 
               Figura 3: Não entrada dos AGCML nos peroxissomos, pela falta
da proteína ALPD

     Normal: Refere-se a pessoa que não apresenta variação para a proteína
ALDP; X-ALD: refere-se a pessoa que possui a variação para a proteína ALDP,
e assim possui adrenoleucodistrofia (ALD), que é uma doença ligada ao
cromossomo X.  Fonte: NEWBORNSCREENING, 2020 – André Arana Camis -
CC BY-AS 3.0 - disponível no repositório digital da Wikimedia Commons.
 
Os peroxissomos [Figura 4] são organelas caracterizadas pela degradação de
subprodutos tóxicos do metabolismo celular, por meio da produção de enzimas
oxidativas. Desempenhando um papel importante na mielinização e migração
neuronal, eles são também importantes na oxidação dos ácidos graxos. As
enzimas peroxissomais possuem papel fundamental no metabolismo lipídico,
especificamente na oxidação dos AGCML e na síntese de glicolipídios e lipídios
de glicerol éster [4]. 
 
                                                              Figura 4: Peroxissomos

 
                                           Fonte: SOBIOLOGIA, 2018 - CC BY-AS 3.0 -
disponível no repositório
                                                       digital da Wikimedia Commons.
 
Desse modo, tendo em vista o acúmulo dos AGCML nas células de diversos
tecidos, a ADL afeta, principalmente, as glândulas suprarrenais, os neurônios
do sistema nervoso central (SNC) e, em alguns casos, os testículos [2]. 
Quando a ADL afeta o SNC, a doença pode causar a destruição da bainha de
mielina (uma camada de gordura que envolve o axônio do neurônio e otimiza a
transmissão sináptica) dos neurônios, somado à destruição dos axônios e das
células da microglia [5]. Isso ocorre porque as moléculas de ácido graxo de
cadeias muito longas são extremamente hidrofóbicas, causando, também, a
despolarização das mitocôndrias celulares e a desregulação da homeostase
intracelular de cálcio nas áreas em que ficam armazenadas [3]. Portanto, tais
alterações nas estruturas e funções neuronais afetam drasticamente a
transmissão dos impulsos nervosos.
O SNC, por sua vez, é a “central de comando” do corpo humano. Comandado
pelo encéfalo, este sistema possui como principal função a recepção dos
estímulos sensoriais, tanto internos quanto externos ao corpo, e a conversão
destes em respostas adequadas, por meio de impulsos nervosos [6]. Além
disso, o SNC é considerado o centro da inteligência humana, pois é nele que
são processadas informações racionais, irracionais, emotivas e, também, a
memória [6]. Um indivíduo com o SNC comprometido pode apresentar
dificuldades de locomoção, tanto na marcha quanto na coordenação motora,
dificuldades na fala, retardos mentais e intelectuais, dentre outras.
Por outro lado, quando a doença ataca as glândulas suprarrenais, ela causa
uma insuficiência dessa estrutura, chamada de Doença de Addison, que é
caracterizada por uma hipoatividade das glândulas supra renais, localizadas
acima dos rins [7]. Sendo assim, hormônios como adrenalina, noradrenalina,
cortisol e aldosterona são produzidos em quantidades insuficientes no corpo,
causando distúrbios como fadiga, náuseas, escurecimento da pele e baixa
pressão arterial [7]. Quando o indivíduo afetado pela doença está sob efeito do
estresse, a baixa pressão arterial configura grande risco à vida.
Por fim, a adrenoleucodistrofia, além dos sintomas supracitados, pode também
apresentar: dificuldades de percepção auditiva e visual, perda de memória,
irritabilidade crescente e dificuldades de relacionamento [3].
 
3. Como é a doença geneticamente?
 
A adrenoleucodistrofia é uma doença genética com padrão de herança
recessivo ligado ao X, que consiste em um erro inato do metabolismo por
mutações no gene que codifica o transportador peroxisomal ABCD1, localizado
no braço longo do cromossomo X, Xq28 [Figura 5] [2]. Por conta disso, a
proteína conhecida como proteína da ALD, ou ALDP, deixa de ser produzida.
Uma vez que essa proteína de membrana é responsável pelo transporte de
ácidos graxos de cadeia muito longa em peroxissomos, a fim de promover sua
degradação por oxidação, o distúrbio é caracterizado por acúmulo de ácidos
graxos em tecidos e fluidos corporais [2]. Consequentemente, leva à
insuficiência adrenal e à desmielinização axonal. Essa patologia afeta 1:15.000
a 25.000 indivíduos em todo o mundo, sem predisposição por raça ou etnia [2].
Nas doenças recessivas ligadas ao cromossomo X, as mulheres (XX) precisam
de dois X com o gene mutados para manifestarem a doença, enquanto para os
homens (XY) basta apenas um X com o alelo mutado para manifestar [8].
Sendo assim, essa herança é ligada ao sexo de caráter recessivo transmitida
por mulheres portadoras, porém afetam principalmente homens [Figura 6] [2]. 
A mãe que é portadora da doença tem 50% de chance de ter um filho que
desenvolva os sintomas.
 

                                Figura 5: Localização do gene afetado no cromossomo


X
 
    Fonte: WIKIPEDIA, 2020 – André Arana Camis - CC BY-AS 3.0 - disponível
no repositório digital da Wikimedia Commons.
 
                                    Figura 6: Heredograma da patologia
 

      Fonte: ENGELEN et al., 2019 – André Arana Camis - CC BY-AS 3.0 -
disponível no repositório digital da Wikimedia Commons.
 
4. Tratamento fisioterapêutico na adrenoleucodistrofia
 
A adrenoleucodistrofia é uma doença que exige um tratamento multidisciplinar,
ou seja, são necessárias diversas especialidades da saúde no
acompanhamento do paciente – como enfermeiros, fisioterapeutas,
fonoaudiólogas e psicólogos [1].
A intervenção da fisioterapia na adrenoleucodistrofia deve acontecer desde o
diagnóstico da doença [Figura 7]. Nas manifestações da enfermidade nota-se
mudanças no tônus do corpo da criança, nos movimentos, marcha, fala,
habilidades para comer, visão, audição, comportamento, memória e processos
mentais, e, a partir de então, o trabalho fisioterapêutico torna-se paliativo [9].
No início, o indivíduo afetado perde a orientação espacial (noção de
profundidade, lateralidade). Sendo assim, o trabalho do fisioterapeuta começa
com a estimulação sensorial por meio de exercícios que trabalhem os membros
inferiores. Como, subir e descer de bolas, estar em superfícies diferentes como
grama e areia para assim, quando ocorrer a perda da visão, o paciente ter a
noção de como se locomover. Além disso, há a prevenção de deformidades
(encurtamentos e alterações articulares) tentando melhorar o encurtamento dos
pés e dedos. Trabalha-se também a parte de capacidade respiratória que,
numa fase tardia da doença, será o trabalho base da fisioterapia. O paciente,
em fases avançadas, necessita do respirador para sobreviver e os cuidados
para sua instalação e programação é responsabilidade do fisioterapeuta [1].
 
                             Figura 7: Juan Lucas – tratamento fisioterapêutico da
adrenoleucodistrofia

 
          Fonte: SILVANA, 2012 - CC BY-AS 3.0 - disponível no repositório digital
da Wikimedia Commons.
 
Nos estágios mais graves seguintes, o fisioterapeuta orienta a família sobre as
mudanças de posicionamentos necessárias e a utilização de talas para
prevenir deformidades e escaras, sendo feita também a mobilização dos
membros para não criar rigidez articular, em detrimento a incapacidade do
paciente em se movimentar na cama. Com o avanço da perda de função dos
pulmões, o profissional deve trabalhar passivamente realizando manobras
respiratórias específicas, muitas vezes sendo a aspiração traqueobrônica e
higienização brônquica [1]. 
A fisioterapia tem um papel de extrema importância na melhora da qualidade
de vida dos indivíduos acometidos, uma vez que atua na manutenção da
funcionalidade e auxilia no retardo da progressão da doença [8].
Os objetivos   terapêuticos são voltados em   promover a independência
funcional, melhorar o equilíbrio e a amplitude de movimento, treinar a marcha,
prevenir e diminuir encurtamentos musculares, normalizar o tônus e estimular
as atividades de vida diária [8].
A terapia curativa/preventiva é composta pela dietoterapia que compreende a
restrição de alimentos que contenham AGCML, principalmente o C26:0,
combinada a administração do óleo de Lorenzo e lovastatina. Ambos atuam
diminuindo a concentração plasmática e em fibroblastos desses ácidos graxos
nos indivíduos com X-ALD. A reposição de esteroides adrenais em pacientes
com comprometimento da função adrenal e o transplante de células tronco
hematopoiéticas em pacientes com acometimento inicial do cérebro, se
apresentam como medidas terapêuticas na patologia em questão. Além disso,
a terapia com drogas antioxidantes é utilizada para os casos em que ocorre
neuroinflamação [10].
O transplante de medula óssea (TMO), especificamente de CTH, se apresenta
como uma das formas terapêuticas mais agressivas na X-ALD. Isso é indicado
apenas para pacientes que se encontram em fase inicial e inflamatória da
doença, sendo uma possível cura. No entanto, como a maioria dos
diagnósticos são tardios, os tratamentos tornam-se paliativos, ou seja, não
possuem cura. Esses tratamentos ajudam a prolongar a vida do paciente e
proporcionar uma melhor qualidade da mesma [10].

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