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TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA Prof.

José Aroldo Filho


goncalvesfilho@nutmed.com.br
CARDIOVASCULAR

Fisiopatologia e etiologia aterosclerose que envolve alterações na composição e


estrutura da íntima da parede das artérias que produzem
A doença arterial coronariana (DAC) resulta do fluxo de fluxo sangüíneo prejudicado ou inadequado. (Fig. 1)
sangue impedido para a rede de vasos que circundam o
coração e servem o miocárdio. Sua principal causa é a

Fig.1 Progressão da aterosclerose com deposição de lipídios, cálcio e fibrina na íntima da parede das artérias.

A aterosclerose nas artérias coronárias pode causar pelo repouso); nas artérias cerebrais, acidente vascular
infarto e angina (sensação de desconforto no tórax, ou em cerebral (AVC); na circulação periférica, claudicação
região próxima, tipicamente provocado por esforço ou intermitente (sensação de cãibra nas pernas que se torna
ansiedade, em geral, durando alguns minutos, aliviado presente durante exercícios ou caminhadas e ocorre como

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resultado do suprimento de oxigênio diminuído) e de monócitos no subendotélio. Os monócitos
grangrena (morte tecidual quase sempre em massa transformam-se em macrófagos que captam LDL oxidada,
considerável, geralmente com perda de suprimento formando as células espumosas que darão origem as
vascular (nutritivo) e seguida de invasão bacteriana e estrias gordurosas, que são a primeira lesão da
putrefação) e pode afetar também os rins. aterosclerose.

Aterosclerose A formação das células espumosas é acompanhada


pela migração de células musculares lisas presentes na
É a causa mais comum de DAC e da mortalidade com camada muscular para o subendotélio. Moléculas como
esta relacionada. (Krause, 2010) PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas), IGF-1
(fator de crescimento semelhante à insulina 1) e TNFα
A aterosclerose é um processo que se desenvolve em estão envolvidos na proliferação da camada muscular lisa,
artérias musculares médias e grandes (coronárias e levando a formação das placas fibrosas ou ateroscleróticas
artérias das extremidades inferiores) e em artérias que são a lesão madura e contém uma capa fibrosa rica
elásticas (aorta, carótidas e ilíacas). (Chemin) em células musculares lisas envolvendo um núcleo
lipídico.
É uma resposta inflamatória e proliferativa às lesões da
parede arterial (lesão endotelial). Este processo começa O crescimento da lesão está associado à redução do
na infância e leva décadas para avançar e sua patogênese lúmen arterial reduzindo o fluxo sanguíneo. Quando a
é multifatorial. lesão provoca estreitamentos superiores a 70% do lúmen
das coronárias ocorrem sintomas de insuficiência
Alguns fatores que produzem lesão endotelial são: coronariana (angina). Porém é a formação do trombo
- hipercolesterolemia, arterial sobreposto à placa rota a maior responsável pela
- colesterol LDL oxidado, ocorrência de eventos agudos e potencialmente letais.
- hipertensão (HAS), Como o desenvolvimento da lesão é lento podem se
- fumo, desenvolver colaterais para a área de isquemia, evitando
- diabetes mellitus (DM), áreas de necrose ou infarto do miocárdio. Porém quando a
evolução da placa é rápida não há tempo para formação
de colaterais
- obesidade,
- homocisteína e
- dietas ricas em gorduras e colesterol. Disfunção Edotelial

O depósito de lipídios e outros materiais (produtos de O óxido nítrico (ON) é um vasodilatador chave
eliminação celular, cálcio, fibrina) na camada íntima é produzido pelas células endoteliais a partir do aminoácido
chamado de placa ou ateroma. L-arginina. Ele inibe a agregação plaquetária e a
proliferação de células de músculo liso e diminui a
Segundo a Krause, a aterogênese é dividida em 05 aderência de monócitos. Sem a vasodilatação do ON, a
fases e a presença dos fatores de risco influenciam a vasoconstrição aumenta a probabilidade de ruptura da
progressão para lesão mais complicada: placa.

 Fase 01 ou assintomática  consiste de pequenas Os níveis de ON estão diminuídos em diabéticos,


estrias de gordura que não são obstrutivas e que são hipertensos, indivíduos com DAC e fumantes. O teor de L-
observadas em pessoas com menos de 30 anos; arginina é bem alto em nozes, por este motivo seu
 Fase 02  é caracterizada por placa de alto teor de consumo diminui a incidência de DAC. A disfunção
gordura (LDL plasmático que entra na parede endotelial) endotelial é reversível – pode ser modificada pela dieta e
que é mais propensa à ruptura; por mudanças no estilo de vida. (Krause, 2010)
 Fase 03  caracterizada por lesões agudas
complicadas com trombo não oclusivo; Trombose
 Fase 04  consiste de lesões agudas complicadas
com trombo oclusivo (o que gera provação de oxigênio e Resulta da ruptura da capa fibrosa da placa de
nutrição do miocárdio), levando a angina, infarto e morte; ateroma. Os fatores de risco para trombose são:
 Fase 05  lesão fibrótica ou oclusiva. tabagismo, estresse, uso de cocaína, hipercolesterolemia,
fibrinogênio e lipoproteínas, fibrinólise prejudicada e
Na progressão da lesão aterosclerótica, o LDL oxidado infecção.
converte o macrófago em célula espumosa e o HDL
diminui o número e a atividade dos macrófagos, o que A placa de ateroma mais vulnerável a ruptura possui
impede a ruptura da placa e a formação de trombo. capa fibrosa fina, com intensa atividade inflamatória local e
(Krause) hipercoagulabilidade, presença de um volume lipídico no
seu núcleo superior a 50% do volume total da placa, além
Processo aterosclerótico (Chemin e Krause, 2010): de poucas células musculares lisas e muitos macrófagos.

Vários fatores lesam o endotélio, tornando-o mais Prevenção de DAC


permeável e facilitando a entrada de LDL oxidada no
subendotélio. A LDL oxidada, torna-se um estímulo para a Diversos fatores de risco têm sido associados ao aumento
liberação de citocinas que promovem ativação do das DAC.
macrófago com fagocitose do LDL. O macrófago ativado
juntamente com o subendotélio liberam a MCP-1 (proteína Lipídios e Lipoproteínas Sanguíneas
quimioatrativa de monócito 1) atraindo monócitos
circulantes. Este processo inflamatório leva o endotélio a Os lipídios do sangue (colesterol, triglicerídeos e
expressar moléculas de adesão como a ICAM-1 (molécula fosfolipídeos) são transportados no sangue ligados a
de adesão intercelular 1), VCAM-1 (molécula de adesão proteínas (as lipoproteínas) que variam em composição,
vascular 1), E e P selectinas que promovem a penetração

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tamanho e densidade. As lipoproteínas mais densas são Devido à natureza hidrofóbica das gorduras neutras,
as que têm mais proteína e as menos densas, mais lipídios triglicerídeos e éteres de colesterol, o mecanismo de
transporte e distribuição dos lípides no plasma não seria
O colesterol total (CT) tem uma relação positiva direta com possível sem alguma forma de adaptação hidrofílica. Os
DAC. Ele constitui o colesterol contido em todas as lípides são, então, transportados por estruturas micelares
lipoproteínas: complexas, denominadas lipoproteínas, que consistem de
- 60 a 70% encontra-se na LDL uma camada externa que contém proteína (apolipoproteína
- 20 a 30% na HDL e ou simplesmente apo), lípides polares (fosfolípides e
- 10 a 15% na VLDL colesterol não-esterificado) e um núcleo mais terno de
lípides neutros (triglicerídeos, ésteres de colesterol e
IMPORTANTE  o CT já foi recomendado como medida vitaminas lipossolúveis).
para triagem de risco, mas hoje, recomenda-se um perfil
completo de lipoproteínas. Apesar disso, uma redução de
10% no colesterol total pode levar ao decréscimo de cerca Lipoproteínas e Metabolismo
de 30% na incidência de DAC. (Krause, 2010).
As lipoproteínas plasmáticas diferem quanto à origem,
Os níveis de CT são afetados pela idade, dieta de alto à proporção das frações lipídica e protéica e quanto às
teor de gordura, gordura saturada e colesterol, genética, propriedades físicas.
hormônios sexuais, esteróides exógenos (anabolizantes ou
hormônios sexuais), drogas (-bloqueadores, tiazídicos), A porção protéica das lipoproteínas, denominada
peso, intolerância à glicose, atividade física, doenças (DM, apolipoproteína (apo), exerce várias funções fisiológicas no
tireóide, fígado) e estação do ano. metabolismo das lipoproteínas: age como co-fatores de
enzimas, ligantes de receptores de superfície celular, além
As lipoproteínas ricas em triglicerídeos (TG) incluem os de permitir a solubilização da macromolécula em meio
quilomícrons e VLDL e outros remanescentes formados no aquoso.
catabolismo. Os IDL, quilomícrons e VLDL remanescentes
são aterogênicos, uma vez que uma vez que ativam as Transporte exógeno de Lipídios (Fig. 02)
plaquetas e a cascata de coagulação, levando a formação
do coágulo. (Obs. na Krause 2010, no quadro de Os lipídios absorvidos são transportados pelos
lipoproteínas fala que os quilomícrons não são quilomícrons, (que possuem apo B-48 como sua principal
aterogênicos, porém, em vários momentos adiante no lipoproteína) através do sistema linfático para a corrente
capítulo fala que são). sangüínea. Na circulação, interagem com a lipoproteína
HDL e recebem coletsterol, apo CII, apo CIII e apo E. Ao
Pacientes com deficiência de lipoproteína lípase (LPL) adquirir apo CII, sofrem a ação da lípase lipoprotéica (LPL)
terão TG muito alto e necessitam de dieta com 10% de que está presente no endotélio capilar da maioria dos
gordura. (Krause). Pacientes com hiperquilomicronemia, tecidos, que hidrolisa os TG que são enviados como
recomenda-se ingestão de no máximo 15% das calorias ácidos graxos para os tecidos extra-hepáticos para
totais na forma de lipídeos. Os indivíduos com níveis utilização.
elevados de TG geralmente evidenciam altos índices de
apo B, possibilitando a essas partícula um longo período Os quilomícrons remanescentes são, então, captados
para depósito dos lipídios na parede arterial. (Krause, no fígado (a apo E que fará a interação dos quilomícrons
2010) com os hepatócitos, promovendo seu reconhecimento para
captação hepática, segundo a Krause (2010), a apo E
também atua inibindo o apetite)

Ingestão de gordura Absorção de colesterol,


fosfolipídios e TG

AG para tecidos periféricos

Ação de hidrólise pela


LPL (presente Transporte pelos
endotélio células QUILOMÍCRONS na corrente
musculares e sangüínea
adiposas)
Captação de quilomícrons
remanescentes

Fig 02 Metabolismo exógeno de lipídios.

Transporte endógeno de lipídios (Fig. 03) quilomícrions, os TG/fosfolipídios da VLDL sofrem ação da
LPL que hidrolisa os TG que são enviados como ácidos
A VLDL é sintetizada no fígado para transporte de TG graxos para utilização em tecidos periféricos. Os VLDL
e colesterol endógenos (60% da partícula de VLDL é TG). (ricas em apo C e apo E) remanescentes podem ser
A principal apolipoproteína da VLDL é a apo B100. No captados no fígado ou transformarem-se em IDL (ricas em
sangue, as VLDL incorpora, também as Apo CI, CII, CIII e colesterol e em apo E) e, em seguida, LDL (cerca de 50%),
Apo E provenientes das HDL. De modo semelhante aos que farão o transporte de colesterol para os tecidos
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periféricos. A LDL é rica em apo B-100. Após a sua determinantes do nível de colesterol sérico). Um pouco da
formação, 60% da LDL é capturada pelos receptores de LDL pode ser oxidada e captada pelas células endoteliais
LDL no fígado, adrenais e outros tecidos. O restante é e macrófagos na parede arterial, levando aos primeiros
catabolizado através de receptores não renais (tanto o n.° estágios da aterosclerose.
quanto atividade destes receptores são os maiores

VLDL sintetizadas no fígado para


transporte de TG e colesterol endógeno

Ação de hidrólise pela LPL


(presente endotélio células AG para tecidos periféricos VLDL remanescentes
musculares e adiposas)

Transporte de colestrol para


tecidos extra hepáticos LDL IDL

Fig. 03 Metabolismo endógeno de lipídios.

Transporte reverso de colesterol (Fig. 04) colesterol (CETP), no plasma, a HDL tranfere ester de
colesterol para quilomícrons e VLDL em troca de TG. O
O colesterol livre nos tecidos extra-hepáticos é remanescente destas lipoproteínas será também captado
esterificado na circulação e transferido para a HDL. Após, no fígado. A HDL é a lipoproteína de maior conteúdo
o transporte reverso de colesterol ocorre por duas vias: 1) protéico, por isso seu papel em dirigir o metabolismo
após ação da lípase hepática que hidrolisa fosfolipídeos e lipídico. A apo A-I é a principal lipoproteína da HDL, e tem
triglicerídeos, as HDL são captadas pelo fígado por meio papel antiinflamatório e antioxidante. A apo C e a apo E da
de receptores específicos denominados SR-BI, que HDL são transferidas para os quilomícrons e VLDL e a apo
captam seletivamente colesterol esterificado e 2) quando E ajuda o fígado a fazer o reconhecimento dos
por ação da enzima proteína de transferência de éster de quilomícrons/VLDL remanescentes.

Colesterol livre dos tecidos extra- Esterificação sérica pela Lecitina Transporte do colesterol esterificado
hepáticos colesterol Acil transferase para HDL

1
2
Ação de hidrólise pela LPL
(presente endotélio células Ação da Proteína de transferência do
musculares e adiposas) colesterol esterificado para a VLDL

Captação do VLDL remanescentes pelo AG para tecidos periféricos


fígado

Fig 04 Metabolismo do transporte reverso de colesterol.

Lipoproteína Apoproteínas Função Origem


Quilomicron (QM) B-48, CII, CIII, E Transporte de triglicerídeos exógenos Intestinal
QM remanescente B-48, E Transporte de colesterol exógeno Intravascular
VLDL B-100, CII, CIII, E Transporte de triglicerídeos endógenos Hepático
IDL B-100, E Transporte de colesterol Endógeno Intravascular
LDL B-100 Transporte de colesterol aos tecidos Intravascular
HDL AI, AII, CII, CIII, E Transporte reverso de colesterol Intestinal, hepático e intravascular

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Avaliação de Lipoproteínas identificação de xantomas (depósitos de LDL colesterol)
identifica a maioria dos pacientes.
O perfil de lipoproteínas engloba o colesterol total,
LDL, HDL e TG após jejum de 8-12 horas. O LDL pode ser HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR POLIGÊNICA –
obtido pela fórmula de Friedewald (LDL= CT – HDL – defeitos de vários alelos, sendo o alelo Apo E-4 o mais
(TG/5)), que pode ser usada com valores de TG<400 comum. Verifica-se LDL acima do percentil 90 em dois ou
mg/dl. mais membros de família, sem qualquer xantoma de
tendão. O tratamento é mudança de estilo de vida
Os valores para avaliação de todas as lipoproteínas, associado a drogas hipocolesterolemiantes.
colesterol total e TG encontram-se na tabela 01.
HIPERLIPIDEMIA COMBINADA FAMILIAR – dois ou mais
O colesterol total e o LDL aumentam com o membros de família possuem TG ou LDL acima do
envelhecimento, em média, entre os 20 e os 65 anos percentil 90. Está associada à hiperprodução hepática de
aumentarão 13% em homens e 21% em mulheres. Apo B-100 ou defeito no gene da lípase hepática.

Deve-se avaliar perfil lipídico de: DISBETALIPOPROTEINEMIA FAMILIAR – é incomum e


1. portadores de DAC ou de outras manifestações de está associada a catabolismo de remanescentes de VLDL
aterosclerose, independente do sexo e da idade. e QM atrasado, pois a Apo E-2 substitui as Apo E-3 e E-4.
2. todos os homens e mulheres com 20 anos ou mais. As concentrações de colesterol variam de 300 a 600mg/dl
Segundo a Krause (2010), este exame deve ser realizado e TG de 400 a 800mg/dl. O tratamento envolve redução de
a cada 5 anos. peso, controle glicêmico e do DM, restrição de lipídios
saturados e colesterol.

Tab.01 Valores em mg/dl para avaliação de Avaliação do Risco de Doença


lipoproteínas, colesterol e TG
Cardiovascular
Exame Valor Classificação
Triglicerídeos < 150 Normal Os fatores de risco para doenças cardiovasculares
podem ser divididos em modificáveis e não modificáveis.
150 a 199 Limite superior
Observe abaixo os Fatores de Risco modificáveis de
200 a 499 Alto
acordo com as diferentes referências:
≥ 500 Muito alto
Colesterol Total < 200 Desejável DAN E CHEMIN:
200 a 239 Limite superior - Tabagismo
 240 Alto - DM
LDL < 100 Ótimo - HAS
100 a 129 Próximo do ótimo / - Dislipidemias
acima do ótimo - Obesidade, principalmente central
130 a 159 Limite superior - Sedentarismo
160 a 189 Alto - Fatores psicossociais (Chemin, não considera este)
 190 Muito alto Obs: a ausência desses fatores não garante proteção
HDL < 40 Baixo total contra DCV.
 60 Alto
KRAUSE

Segundo Chemin, de acordo com a etiologia as


dislipidemias podem ser classificadas em:

1. primárias, quando são resultantes de causas genéticas


associadas ou não a fatores ambientais e podem ser
classificadas em:
- hipercolesterolemia isolada,
- hipertrigliceridemia isolada,
- hiperlipidemia mista (↑TG e CT),
- redução isolada de HDL ou em associação com ↑ LDL
e/ou TG.

2. secundárias, quando são causadas por outras doenças


ou uso de medicamentos.
- causas clínicas incluem: diabetes mellitus, nefropatia
crônica, hipotireoidismo, obesidade, alcoolismo e lúpus
eritematoso sistêmico.
- causas medicamentosas incluem: diuréticos,
betabloqueadores, anticoncepcionais, corticosteróides,
retinóides, anabolizantes e anti-retrovirais.

HIPERLIPIDEMIAS GENÉTICAS – KRAUSE, 2013

HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR – hiperlipidemia tipo


IIa – é um distúrbio monogenético. Defeitos no receptor de
LDL causam hipercolesterolemia familiar. O tratamento - Avaliação, prevenção e manejo dos fatores de risco: são
com estatina melhora a função e a estrutura arterial. A incluídos na KRAUSE (2013), os seguintes fatores de risco

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principais: HAS; idade (>45 para homens e > 55 para Recomenda-se a observação dos seguintes fatores
mulheres); DM; TFG<60ml/min; microalbuminúria e história nutricionais que afetam o LDL (KRAUSE, 2013):
familiar prematura de DCV (homens <55 anos e mulheres
<65 anos). Nos fatores de estilo de vida inclui-se o sono Aumentam LDL Ácido graxo saturado e trans;
insuficiente. Colesterol dietético;
Excesso de peso.
A AHA sugere que a prevenção primária da Doença Diminuem LDL Ácido graxo poli-insaturado;
Arterial Coronariana (DAC) deve começar aos 2 anos de Fibra viscosa;
idade, sendo a atividade física enfatizada para Estanóis;
manutenção de peso ideal. O rastreio precoce é indicado Perda de peso;
em crianças com história familiar de hipercolesterolemia ou Proteína de soja;
DAC. Proteína de soja contendo isoflavonas
(evidência limitada).
Concentrações Colesterol total (mg/dl) LDL (mg/dl)
Aceitável <170 <110
Limítrofe 170 – 199 110 – 129  Hipertensão (HAS):
Alto ≥200 ≥130
- É definida como pressão sangüínea média de 140/90
Fatores de Risco Modificáveis: mmHg ou pelo uso de medicação anti-hipertensiva.
- A prevalência de HAS aumenta com a idade e é maior
 Fumo de Cigarro: em negros do que em brancos.
- A HAS causa lesão vascular e estresse do miocárdio por
- É um fator de risco que se torna muito maior quando isso contribui para o avanço da doença cardiovascular.
associado com outros fatores de risco e influencia Além disso, é um fator que compõe a Síndrome
diretamente eventos coronarianos agudos (inclusive Metabólica.
formação de trombos), instabilidade da placa e arritmias. - Chemin  é um dos mais importantes fatores de risco
- Mulheres que fumam e usam anticoncepcionais orais tem para as doenças cardiovasculares. Cerca de 25% das
10 vezes mais chance de desenvolver DAC do que as mortes por DAC são explicadas pela HAS.
mulheres sem estes fatores de risco.
- O risco é maior quanto maior o n.° de cigarros e cigarros  Hipertrofia ventricular esquerda:
de baixo teor de alcatrão não diminuem o risco.
- O fumo passivo também é considerado um fator de risco. - Há o aumento do ventrículo esquerdo pela HAS e carga
- O fumo diminui o HDL (6-8 mg/dl), aumenta VLDL e de trabalho. Pode ocorrer secundariamente à obesidade.
glicose.
- Cessar o fumo diminui em 50% o risco e após 15 anos o  Diabetes Mellitus (DM):
risco é semelhante ao da população geral.
- Chemin  é um fator de risco independente para - Tanto DM tipo I quanto tipo II aumenta o risco de DAC.
aterosclerose. Aumenta em 18% a mortalidade - O fator de risco atribuível ao DM é a presença de outros
cardiovascular em homens e 31% em mulheres, para cada fatores de risco concomitantes como dislipidemia, HAS e
10 cigarros fumados ao dia. obesidade.
- Chemin  os diabéticos têm 3 a 5 vezes mais risco de
desenvolver doença cardiovascular do que indivíduos não
 LDL-colesterol: diabéticos. Cerca de 80% dos diabéticos tem como causa
de morte as doenças cardiovasculares.
- Conclusivamente ligada à doença cardiovascular e Entre os efeitos da hiperglicemia persistente, está a
eventos agudos. formação de produtos finais de glicosilação avançada
- A LDL  com o envelhecimento, genética, dieta, baixos (AGE), classe heterogênea de proteínas e lípides
níveis de estrogênio, progestinas, DM, hipotireoidismo, glicosilados que se acumulam no tecido vascular,
síndrome nefrótica, hepatopatia, obesidade e algumas induzindo proliferação celular e a inflamação e,
drogas esteróides e anti-hipertensivas. consequentemente a progressão acelerada da
aterosclerose. O grau de glicosilação é determinado pela
- Dietas com alto teor de gordura e colesterol  o LDL
concentração da glicose e pelo tempo de exposição à
porque diminuem os receptores de LDL no fígado, assim,
hiperglicemia. Além disso, alterações hemostáticas
menos LDL é eliminada do plasma e seus níveis
contribuem para a hipercoagulabilidade e um estado pró-
aumentam.
trombótico.
- Os valores para avaliação da LDL encontram-se na
tabela 01, porém pessoas já com doença cardiovascular
Inatividade física:
ou de, o alvo é sempre LDL < 100 mg/dl, pois quanto
menor, há regressão das lesões e retardo do progresso da
- É um fator de risco independente para DAC e da
aterogênese, bem como menor morbi-mortalidade primária
magnitude da hipercolesterolemia, HAS e do fumo.
e secundária.
- O risco de sedentários é 02 vezes maior que a de
Diferentemente, a Krause (2010) coloca que índice de
fisicamente ativos.
LDL-C < 70mg/dl é apropriado para pacientes de risco
- É o fator de risco modificável mais prevalente.
muito alto. (Incluem-se neste grupo, os pacientes
- Uma atividade física de intensidade moderada por 30
diabéticos e os já portadores de doença cardiovascular) e
minutos é recomendável (caminhar, subir escadas,
mantém a recomendação de níveis < 100mg/dl para
jardinagem, limpar a casa). (Krause)
pacientes de alto risco (aqueles com 2 ou mais fatores de
- A atividade física diminui o risco de DAC por retardar a
risco).
aterogênese, aumentar a vascularidade do miocárdio,
aumentar a fibrinólise e modificar outros fatores de risco
como aumentar o HDL, melhorar a tolerância à glicose e
sensibilidade da insulina, auxiliar o controle do peso e
diminuir a pressão sangüínea.

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- Chemin  atividade física também melhora a -  TG - dieta (vegetariana, baixo teor de gordura,
hipertrigliceridemia. Para alcançar os benefícios, carboidrato refinado) estrógenos, obesidade, DM não
recomenda-se a execução de 3 a 6 sessões por semana, tratado, nefropatia crônica e hepatopatia.
de exercícios aeróbicos com duração de 40 minutos em -  TG – perder peso em pacientes com sobrepeso, dieta
média. com baixo teor de gordura saturada e colesterol, baixa
ingestão de carboidratos refinados, aumentar a atividade
 HDL-colesterol: física, cessar o fumo, tratar o DM, se presente e diminuir o
consumo de álcool.
- Fator de risco independente negativo para a incidência de
DAC e mortalidade em homens e mulheres (HDL >  Lipoproteína (a):
60mg/dl – protetor e HDL< 40mg/dl – fator de risco).
- O mecanismo anti-aterogêncio é desconhecido, mas - Lipoproteína não envolvida no transporte de lipídeos.
sugere-se que pode alterar positivamente o endotélio, além - Tem semelhança estrutural com o plasminogênio, uma
do seu papel no transporte reverso de colesterol que pró-enzima envolvida na quebra de fibrina, porém não tem
auxilia a prevenir o acúmulo de lípides na parede arterial. sua ação, estimulando assim, a fibrinogênese.
-  HDL – estrógeno exógeno, exercício, perda de gordura - Não é recomendada dosagem para triagem de rotina.
corporal em excesso e consumo moderado de álcool. - Os seus níveis diminuem com estrógeno, esteróis e
-  HDL – obesidade, fumo, esteróis adrenérgicos e niacina.
relacionados (anabólicos, anticoncepcionais com
predominância de progesterona), bloqueadores -
adrenérgicos, hipertrigliceridemia e fatores genéticos.
Adicionalmente, a Krause (2010) coloca a inflamação.  Estresse Oxidativo:

 Obesidade: - Quanto maior a oxidação do LDL, maior a aterogênese.


- Substâncias que diminuem a oxidação do LDL incluem
- Conforme  IMC  DAC. vitamina C, E, beta caroteno, selênio, flavonóides,
- A obesidade afeta as DAC, provavelmente por estar magnésio e gordura monoinsaturada.
relacionada com outros fatores de risco coexistentes como
intolerância a glicose, HAS, dislipidemia, marcadores  Álcool:
inflamatórios (IL-6, TNF-alfa e proteína C reativa), apnéia
do sono, estado pró-trombótico e disfunção endotelial . - O consumo de 01 dose de álcool ao dia por mulheres ou
- Quanto menor o peso corpóreo, menores os níveis de 02 doses de álcool por dia por homens diminui o rico de
proteína C reativa e de fibrinogênio. DAC, porém não é recomendado.
- A obesidade abdominal é mais preditiva de DAC e afeta a
tolerância a glicose e os níveis séricos de lipídeos. Fatores de Risco Não Modificáveis
- Pequenas perdas de peso podem melhorar o LDL, HDL,
os TG, a HAS, a tolerância à glicose e os valores de (Dan):
proteína C reativa, mesmo sem atingir-se o peso ideal.  Sexo masculino
- Chemin  a obesidade visceral está associada à  Idade >=45 anos(H) >=55 anos (M)
produção de citocinas e mediadores que reduzem a  História familiar precoce de aterosclerose (< 55
sensibilidade à insulina, o que gera uma resposta anos (H) < 65 anos (M)
compensatória no pâncreas, havendo hiperinsulinemia.  Raça (adicionada pela Chemin, 2011)
Essa alteração hormonal favorece o aparecimento de
hipertensão, dislipidemia caracterizada por aumento de (Krause):
TG, redução de HDL e aparecimento de LDLs pequenas e  Menopausa
densas com maior potencial aterogênico.  Idade
O adipócito também produz o inibidor do ativador do  História Familiar
plasminogênio 1 (PAI-1), importante trombolítico que inibe
a agregação plaquetária. O excesso de tecido adiposo
promove redução da produção de adiponectina que é um Fatores de risco não modificáveis
mediador que melhora a sensibilidade insulínica.
 Idade:
 Fatores psicossociais:
- Quanto maior a idade, maior a ocorrência de DAC. Tem
- Personalidade tipo A (urgência de tempo, impaciente e maior risco de DAC:
compulsivo), estresse, depressão e nível educacional Homens com mais de 45 anos e
(inferior a 2° grau), estão associadas ao aumento do risco Mulheres com mais de 55 anos, o que significa,
de doença cardiovascular. normalmente após a menopausa
 Triglicerídeos (TG):  História familiar:
- Uma história familiar de doença prematura (menos de 55
- Níveis aumentados é fator de risco para DAC. anos para homens e menos de 65 anos para mulheres) é
- As lipoproteínas ricas em TG – remanescentes de um forte fator de risco, mesmo quando outros fatores de
quilomícrons, VLDL e IDL- são capazes de ultrapassar a risco são considerados.
barreira endotelial e fornecer material lipídico (TG e
colesterol esterificado) para macrófagos e células  Menopausa:
musculares lisas que se encontram na íntima arterial.
- É comum o aumento de TG na Síndrome Metabólica. - O estrógeno protege contra DAC em mulheres na pós-
- Em função de seus papéis, normalmente TG e HDL estão menopausa provavelmente por prevenir lesão vascular.
inversamente relacionados, ou seja, quando os TG  o Quanto menores os níveis de estrógeno, maior o risco.
HDL .

20
Fatores de risco emergentes – Marcadores - estar fisicamente ativo
Inflamatórios (Krause, 2010/2013) - evitar o uso e a exposição a produtos que contenham
tabaco.
O papel da inflamação na DCV justifica o uso de
marcadores inflamatórios para indicar a presença de Outra estratégia de prevenção primária é a redução de
aterosclerose em indivíduos assintomáticos ou a sua fatores de risco em pessoas que ainda não tem o
extensão em pacientes com sintomas. diagnóstico da doença, sendo que a hipercolesterolemia,
mais especificamente a LDL, tem sido o alvo principal.
Os marcadores mais amplamente estudados são o (Krause)
Fibrinogênio e a proteína C reativa.
 Fibrinogênio Dois cálculos são feitos para avaliar o risco de DAC em
- O Fibrinogênio plasmático é um preditor independente de pessoas sem doença estabelecida. Primeiro são contados
risco para DAC. os fatores de risco, a saber: (Krause 2010)
- Os fatores associados ao índice de fibrinogênio elevado
são: Tabagismo, DM, HAS, obesidade, sedentarismo, - Fumo,
níveis elevados de TG e fatores genéticos. - HAS (> 140/90 mmHg ou em uso de medicação
- O  de trombos está relacionado ao fibrinogênio hipertensiva)
plasmático. - Baixo colesterol HDL (<40 mg/dl),
- História familiar de DAC prematura (DAC em parente do
 Proteína C –reativa (PCR) sexo masculino de primeiro grau com menos de 55 anos e
- Como a aterogênese é um processo inflamatório, a PCR DAC em parente do sexo feminino de primeiro grau com
mostrou-se elevada (> 3) em indivíduos com angina, menos de 65 anos) e
infarto do miocárdio,AVC e doença vascular periférica. - Idade (homens  45 anos e mulheres  55 anos).
- A PCR foi encontrada no ateroma arterial e, portanto, é
considerada agora tanto um fator de risco como um Depois, estes fatores são pontuados, a partir do
AGENTE CAUSAL para a aterotrombose. estudo de Framinghan, levando em consideração a idade
para se determinar o risco de DAC em 10 anos. Este
Os níveis para risco são: sistema classifica o paciente em uma das 03 categorias:
Baixo (< 1mg/L) (Krause, 2010)
Médio (2-3 mg/L) 1. risco alto (isto é, 20% dos indivíduos desenvolverão
Alto (>3 mg/L) DAC ou terão um evento decorrente dentro de 10 anos);
2. risco moderado (isto é, um risco de 10 a 20% de nova
 Homocisteína DAC em 10 anos) e
3. baixo risco (menos de 10% de risco).
- É um metabolito da metionina.
- Como fator de risco é controversa, pois está fortemente Obs.: a Krause de 2010 coloca uma classificação adicional
relacionada com outros fatores de risco como idade, fumo, que sería a de risco muito alto (chance > 30% de
pressão sangüínea, colesterol aumentado e sedentarismo. desenvolver DAC em 10 anos)
- Além disso, a creatinina sérica é um forte preditor de
homocisteína plasmática, pois conforme declina a função Segundo Chemin, usam-se as mesmas categorias de
renal, aumenta a homocisteínae baixos níveis de folato e risco acima (alto, moderado ou baixo risco), porém as
vitamina B12 causam aumento da homocisteína, mas seus categorias de risco são definidas da seguinte forma:
baixos níveis não produzem doença cardiovascular.  Risco alto: doença cardiovascular estabelecida;
diabetes mellitus; ou > 3 fatores de risco.
- A homocisteína tem sido mais preditora de risco em  Risco intermediário: 2 fatores de risco ou
pacientes com insuficiência renal avançada ou naquele síndrome metabólica.
com aterosclerose, pois ela, nestes pacientes, atua como  Risco baixo: 0 – 1 fator de risco.
pró-coagulante ou produzindo lesão endotelial.
Nesta classificação são considerados fatores de risco:
- Aumentar a ingestão de vitaminas B6, B12 e ácido fólico HDL baixo, TG alto, hipertensão arterial, diabetes mellitus,
diminuem a homocisteína, porém não se sabe se as fumo, antecedente familiar de infarto ou AVC e idade
doenças cardiovasculares. avançada (homens > 45 anos e mulheres > 55 anos).
(Chemin). As metas de LDL e lipídios não HDL são
Tratamento diferentes para estes pacientes por conta de seu risco e
encontram-se na tabela 04.
Segundo a Krause, a abordagem de saúde pública para
prevenção primária de DAC consiste de quatro diretrizes Tab. 04 Metas de lipoproteínas (mg/dl) para categorias de
dietéticas maiores: risco do estudo de Framinghan
- padrão alimentar saudável global,
- peso corporal apropriado, Categoria Meta LDL Meta Não-HDL
- perfil de colesterol desejável e 1. Alto risco < 100* < 130
- pressão sangüínea desejável. 2. Risco moderado < 130 < 160
3. Baixo risco < 160 < 190
Segundo a Krause (2010), as metas de dieta e estilo * opcional <70mg/dl – Krause de 2010 e <70mg/dl segundo Dan (2009)
de vida propostos para redução do risco de DCV são da para aterosclerose acentuada
American Heart Association (2006):
- consumir uma dieta saudável em geral O ATP III classifica os outros fatores de risco (além
- obter peso corporal saudável dos já citados acima) em fatores de estilo de vida
- obter níveis recomendados de LDL, HDL e TG (obesidade, inatividade física, dieta aterogênica) e fatores
- obter pressão sangüínea normal de risco emergentes (lipoproteína (a), homocisteína,
- obter nível de glicose normal fatores pró-trombóticos e pró-inflamatórios e glicemia de

21
jejum alterada). Os fatores de estilo de vida constituem as
áreas de intervenção e os fatores de risco emergentes
guiam as decisões com relação à intensidade da terapia de
redução do risco. Tab. 02 Ácidos graxos saturados (Krause e Dan)

Poder Ácido Fontes e características


Além da abordagem para diminuição da LDL, deve ser
aterogênico graxo
dada atenção a indivíduos portadores de síndrome
01 Mirístico Gordura do leite, cerne de
metabólica que também devem ter seu estilo de vida
(C14:0) palmeira e óleo de coco, leite e
alterado. A síndrome metabólica é um conjunto de fatores
derivados
Na tabela 05 podemos observar os fatores de risco para a
definição de síndrome metabólica que é considerada na 02 Palmítico Mais rico na dieta,
presença de pelo menos 03 fatores. (C16:0) corresponde a 60% do AGS da
dieta. Rico em alimentos de
Tab. 05 Critérios para Identificação da Síndrome origem animal, mas também
metabólica presente em alimentos de
origem vegetal (óleo de dendê)
Fator de risco Limite 03 Láurico Único ácido graxo saturado de
Obesidade abdominal (C12:0) cadeia média. Fontes: óleo de
Homens > 102 cm cerne de palmeira, óleo de
Mulheres > 88 cm coco
Triglicerídeos*  150 mg/dl
Colesterol HDL* Apesar de ser um ácido graxo saturado o ácido
Homens < 40 mg/dl esteárico (C18:0) este não tem feito sobre os lipídios
Mulheres < 50 mg/dl sangüíneos e é considerado neutro, aparentemente porque
é rapidamente convertido em ácido oléico (C18:1) ao
Pressão Sangüínea*  130 /  85 mmHg entrar no corpo.
Glicose de jejum* ≥ 100 mg/dl (Krause, 2010,
Dan, 2009)
Com um aumento de 1% no VET vindo de AGS é
* Se houver tratamento medicamentoso – considera-se o
parâmetro
previsto um aumento de 2,7 mg/dl no colesterol
plasmático. Mas, apesar de os AGS serem
hipercolesterolêmicos, nem todas as pessoas respondem
Fatores Dietéticos da mesma maneira.

Vários fatores dietéticos afetam positivamente ou Todos os AG diminuem os TG de jejum se


negativamente os lipídios séricos, a aterogênese e a DAC. substituídos por carboidratos na dieta. (Krause)

Segundo a Krause, quando se investigam os efeitos Segundo Cuppari (2005) os ácidos graxos de cadeia
dos ácidos graxos sobre os lipídios séricos, 02 pontos de curta como o ácido cáprico (encontrado na carne bovina,
comparação são feitos: como os ácidos graxos se manteiga e coco) não aumentam o colesterol sérico.
comparam quando substituídos por carboidratos e como se
comparam quando eles substituem os ácidos graxos Segundo Chemin, para se diminuir o consumo de AGS
saturados. aconselha-se restrição na ingestão de gordura animal, leite
e derivados integrais, polpa de coco e de alguns óleos
Ácidos graxos Saturados (AGS) vegetais (dendê e coco).

Segundo a Krause (2010), de todas as gorduras


adicionadas a dieta, as mais hipercolesterolêmicas são
Os AGS não possuem duplas ligações e são sólidos à óleos de semente de palma, de coco, banha de porco e a
temperatura ambiente. manteiga.

AGS: Ácidos Graxos Poliinsaturados 6 (AGP6)


- é a principal causa alimentar de elevação do colesterol
LDL do plasma. O ácido linoléico (C18:2) é o mais abundante AGP6
- em função da sua estrutura retilínea, permite maior na dieta, além de constituir-se um ácido graxo essencial e
entrada de colesterol nas partículas de LDL. ser precursor dos demais ácidos graxos poliinsaturados da
(Chemin/Cuppari 2014) série ômega 6.
Mecanismo ação  os AGS aumentam o LDL por:
- diminuírem a síntese e atividade dos receptores celulares
B-E de LDL. Os efeitos demonstrados destes AG até o momento é a
redução do CT e do LDL. Os mecanismos de ação
propostos são:
Na tabela 02 abaixo podemos observar a estrutura e fontes - diminuição a produção e aumento da remoção de LDL
do AGS na ordem de seu poder de aterogenicidade. (provavelmente pelo aumento da atividade do receptor
(Krause) hepático de LDL)
- alteração da estrutura das LDL de forma a diminuir o
Os TCM são ácidos graxos saturados, mas como sua conteúdo de colesterol da partícula.
absorção é direta, via veia porta para o fígado, sua
ingestão não aumenta os níveis de TG em quilomícrons.
As principais fontes são óleos vegetais (com exceção
do de coco, cacau e dendê ou palma), molhos para salada
e margarinas.

22
- Para aqueles com hipertrigliceridemia: 2 a 4 g de
Uma desvantagem dos AG poliinsaturados (AGPI) é a EPA e DHA/dia (Dan, 2009 e Krause, 2010)
suscetibilidade à peroxidação lipídica, quando são
incorporados a LDL, aumentando a fagocitose destes Conteúdo de AG 3 em animais marinhos (por 100g)
pelos macrófagos. A ingestão habitual de AGP6 é de (Chemin)
07% do VET, quantidades aumentadas aumentam a Alimento AG3
oxidação do LDL e por isso, não são recomendadas.
Cavala 1,8 – 5,1
O W-6 exerce efeito adverso na função do endotélio Arenque 1,2 – 3,1
vascular e estimular a produção de citocinas pró-
inflamatórias. Além disso, recomenda-se baixa razão w- Sardinha 1,7
6/w-3. (Krause, 2010)
Salmão 1,0 – 1,4
Segundo a Krause, na dieta se o carboidrato for Atum 0,5 – 1,6
substituído por ácido linoléico ocorre  LDL e  HDL e se o
Truta 0,5 – 1,6
ácido linoléico substituir AGS na dieta ocorre  LDL e 
HDL. Um aumento de 1% no VET com base em AGP6 é Linguado 0,2
previsto uma diminuição no colesterol total de
aproximadamente 1,4 mg/dl. KRAUSE (2013)  ÁCIDOS GRAXOS POLI-
INSATURADOS (PUFAS) DA SÉRIE ÔMEGA 3: os W3
estimulam a produção de óxido nítrico, que promoveria
Ácidos Graxos Poliinsaturados 3 (AGP3) vasodilatação e relaxamento de vasculatura.

São considerados cardioprotetores primários ou Ácidos Graxos Cis-Monoinsaturados (AGCM) ou Série


secundários. Os principais são o ácido eicosapentaenóico ômega 9
(EPA – C20:4) e o ácido docosaexaenóico (DHA - C20:6)
que são ricos em peixes marinhos, óleos de peixe e O ácido oléico (C18:1) é o AGCM mais prevalente na
cápsulas de óleos de peixe. dieta.

Outro AGP3 é o ácido -linolênico. Ele também é A principal fonte de AGCM é o azeite de oliva, mas
também é encontrado no óleo de canola, azeitona, abacate
essencial ao ser humano e é encontrado em vegetais,
e oleoginosas (castanhas, nozes e amêndoas).
principalmente soja e linhaça.
Segundo a Krause, substituir ácido oléico por HC não
Os AGP3:
produz efeito nas lipoproteínas, mas substituir AGS por
- não afetam o colesterol total,
AGCM diminui o colesterol total, LDL e TG, de maneira
- diminuem os TG (em 25 a 30% - Krause).
semelhante aos AGP.
- aumentam o HDL (Chemin)
- diminuem ou não alteram o LDL em indivíduos
Segundo Chemin, Dan (2009) e Cuppari (2014) o
normocolesterolêmicos
ácido oléico é considerado neutro por não interferir na
-aumentam o LDL em indivíduos
concentração de CT e LDL.
hipercolesterolêmicos, (de 05 a 10% - Krause)
Populações que vivem no Mediterrâneo possuem
menor risco de desenvolver doenças cardiovasculares em
A ação dos AGP3 na diminuição dos TG ocorre
virtude da principal fonte de gordura ser o azeite (efeitos
porque eles inibem a síntese de VLDL, apo B100 e
anti-inflamatórios) associado com alto consumo de cereais,
diminuem a lipemia pós prandial. A ação na diminuição dos
vegetais e frutas.
TG depende da dose de AGP3.
KRAUSE (2013) – MUFAS: a substituição de ácido oleico
Os AGP3 também afetam outras etapas da por carboidratos quase não tem efeito significativo sobre
aterogênese, pois são precursores de prostraglandinas os lipídios séricos. A substituição de AGS por MUFAS
que interferem na coagulação sangüínea, ou seja, um diminui CT, LDL e TG no mesmo grau que os ácidos
aumento na ingestão de AGP3 leva a um maior tempo de graxos poli-insaturados (PUFAS). Os efeitos dos
sangramento ( viscosidade do sangue). Além disso, MUFAS no HDL depende do conteúdo gorduroso da dieta.
Chemin coloca que os AGP3 auxiliam no relaxamento Quando a dieta fornece mais de 35% do VET como
das artérias, na redução da pressão arterial e também tem lipídios, sendo >15% de MUFAS a concentração de HDL
efeitos antiarrítmicos e anti-inflamatórios. não se altera ou se eleva ligeralmente, quando comparada
com dietas de baixo teor de lipídios.
As recomendações da quantidade ideal de AGP3 na
dieta ainda não está bem estabelecida.
- FAO (Food and Agriculture Administration) e a OMS Ácidos Graxos Trans (AGT)
(Organização Mundial de Saúde) recomendam a ingestão
de 1 a 2% das calorias totais da dieta. (Chemin e Dan, Os AGT contêm pelo menos uma dupla ligação na
2009) configuração trans, os seja os dois átomos de hidrogênio
- A American Dietetic Association (ADA) recomenda o estão em lados opostos.
consumo semanal de 180g de peixes ricos em ômega 3. A dupla ligação trans é resultado da fermentação
(Chemin e Dan, 2009) bacteriana anaeróbica que ocorre em animais ruminantes
- Ingestão de peixe rico em w-3 pelo menos 2x/sem. (5% da gordura total) e é desta forma introduzida na
(Dan, 2009 e Krause, 2010) cadeia alimentar. Também pode ser formada durante o
- Para aqueles com DCV: 1g de EPA e DHA processo de hidrogenação, que solidifica óleos líquidos
combinados/dia. (Dan, 2009 e Krause, 2010) (60% da gordura total produzida), dando origem as
gorduras hidrogenadas, margarinas e shortenings, que são

23
usados na composição de sorvetes cremosos, cookies,
chocolates, pães, cremes e sobremesas aeradas, óleos Dietas com baixo teor de gordura só diminuem o LDL
para fritura industrial e molhos para salada (maionese). quando acompanhadas da diminuição de AGS (Adult
Painel Treatment III (ATPIII) – ingestão total de gordura 25-
O AGT mais comum na dieta é o ácido elaídico, que é o 35% e de AGS <7%).
isômero trans do ácido oléico.
Colesterol Dietético
A ingestão desses AG aumenta o risco de DAC. Eles:
- aumentam o LDL, da mesma forma que os AGS O colesterol é encontrado somente em produtos de
- reduzem o HDL origem animal.

Mecanismo de ação: O colesterol dietético aumenta o LDL, porém em


- A configuração trans confere semelhança estrutural com extensão menor que os AGS. (Krause, Dan e Chemin).
os AGS, o que pode explicar a ação de elevar o LDL.
- Supressão da atividade dos receptores de LDL no fígado,
- Tem ação inibindo a formação de ácidos graxos Aumentar 25mg de colesterol dietético aumenta em
essenciais de cadeia longa (que aumentam o número de 01mg/dl o colesterol sérico, porém aumentar mais de
receptores de LDL), por interferir na ação da enzima 500mg o colesterol dietético parece aumentar muito pouco
desaturase. Essa ação também pode promover mudanças a mais o colesterol sérico, o que significa que parece haver
na produção de eicosanóides (Chemin). um limiar para uma resposta do colesterol plasmático ao
colesterol dietético.
Se aumentarmos a ingestão de gordura trans em 03%
do VET há um aumento no LDL superior aos AGS e se Algumas pessoas são hiporresponsivas (não
aumentarmos o trans em 06% do VET há diminuição do aumentam o colesterol sérico frente a aumentos de
HDL. As gorduras hidrogenadas mais sólidas são as que colesterol dietético) enquanto outras são hiperresponsivas.
mais elevam a colesterolemia. (Krause) Sugeriu-se que os hiperresponsivos podem ter alelo E-4 e
taxas precárias de conversão de colesterol em ácidos
O consumo de AGT é bastante variável entre a biliares o que provoca aumento do colesterol.
população. Nos Estados Unidos é em média de 2,6% do
VET. Os AGS e o colesterol dietético têm efeito sinérgico
sobre os níveis de colesterol LDL, juntos, eles diminuem a
Recomenda-se não mais que 1% do VET de ingestão síntese e atividade dos receptores de LDL, aumentam
de AG Trans (cerca de 1 a 3g/dia) (Krause, 2010) VLDL enriquecida com apo E, aumentam todas as
lipoproteínas e diminuem o tamanho dos quilomícrons
(associadas a DAC).
Conteúdo de ácido elaídico em alimentos produzidos no
Brasil (por 100g) (Chemin) Fibras

Alimento Ac Elaídico As fibras solúveis (pectinas, gomas, mucilagens,


polissacarídeos de algas e algumas hemiceluloses)
Biscoito wafer sabor morango 7,24 diminuem o colesterol sérico total e o LDL (as fibras
Tablete de caldo de carne 5,32 insolúveis não têm esta ação).

Biscoito cream cracker 1,57 Recomendações de fibras:


Biscoito de maisena 1,36 - Cuppari (2005/2014) - 20 a 30g ao dia, sendo 25%
de fibra solúvel
Carne bovina, cupim cru 0,30 - Chemin e NCEP (National Cholesterol Education
Program) – 20 a 30g/dia, sendo 5 a 10g de fibra solúvel
Carne bovina, filé mignon magro cru 0,10
- Krause (2010) – 25 a 30 g/dia, sendo 6 a 10g de fibra
Carne bovina, lagarto cru 0,08 solúvel
- ADA – 20 a 35g/dia
Carne de frango,peito sem pele cru 0,03
Leite condensado 0,20 Segundo a Krause, a quantidade de fibra necessária
para obtenção da ação hipolipemiante depende da fonte e
Chocolate ao leite 0,17 pode ser visualizada na tabela 03.

Quantidade de Gordura Dietética Tab.03 Quantidade de fibra solúvel diária necessária para
produzir efeitos na diminuição do colesterol (Krause)
A ingestão total de gordura está relacionada com a
obesidade que afeta outros fatores de risco para Fonte Quantidade (g)
aterosclerose. O aumento da ingestão de gordura aumenta Pectina 6-40
a lipemia pós-prandial e os remanescentes de Gomas 8-36
quilomícrons e ambos estão associados com maior risco Psílio 10-30
de DAC. Farelo de aveia seco 25-100
Farinha de aveia 57-140
Segundo o Dan (2009), o excesso de calorias leva ao
Feijões secos ou leguminosas 100-150
aumento do LDL.
A média de diminuição do colesterol com o uso de
Mecanismo de ação: Excesso de gordura  excesso de
fibras solúveis é de 14% para hipercolesterolêmicos e de
calorias  aumento do peso  sobrecarga do fígado 
10% para normocolesterolêmicos. (Krause)
produz mais VLDL  o excesso desta é transformada em
LDL.

24
Os mecanismos propostos para esta ação são: Dentre os compostos estudados salientamos a
1) a fibra se liga aos sais biliares no intestino favorecendo vitamina E, flavonóides, vitamina C e betacaroteno.
a sua excreção e aumentando a necessidade de colesterol
para síntese de novos sais biliares; A vitamina E é o antioxidante mais concentrado
2) as bactérias colônicas fermentam a fibra e produzem carreado na LDL, sendo a sua quantidade 20 a 300 vezes
ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato e maior que qualquer outro antioxidante. A função mais
butirato) que inibem a síntese de colesterol. (limitando a importante da vitamina E é prevenir a oxidação de AGP na
ação da HMG-CoA redutase) membrana celular. Parece que a vitamina E e os
carotenóides estão inversamente relacionados com a
Segundo Chemin, o farelo de aveia é o alimento mais doença cardiovascular mas estudos ainda não são
rico em fibras solúveis e com maior capacidade de diminuir conclusivos.
o colesterol sanguíneo, reduzindo a absorção de colesterol
e retardando a digestão das gorduras. A American Heart Association não recomenda a
suplementação de carotenóides ou vitamina E para
A American Heart Association não recomenda a prevenção de DAC.
suplementação de fibras para prevenção de DAC, ainda
que muitas pessoas o façam. Além disso, alimentos com quantidades concentradas
dos fitonutrientes catequinas (uvas vermelhas, vinho tinto,
O Dan (2009), relata ainda algumas funções adicinais das chá verde, chocolate e óleo de oliva) melhoram a
fibras: reatividade vascular. (Krause, 2010)
 Redução do colesterol (fibras solúveis)
 Redução do triglicerídeo (principalmente fibras Cálcio
solúveis)
 Redução da HAS ( solúveis e insolúveis) Parece produzir pequenas diminuições de colesterol
 Redução da Glicemia pós- prandial (solúveis e LDL em homens hipercolesterolêmicos, pois
insolúveis) provavelmente este mineral aumenta a formação de
sabões insolúveis com os ácidos graxos disponíveis, mas
Frutooligossacarídeos (FOS) – reduzem o LDL. Segundo maiores pesquisa ainda estão em desenvolvimento.
Chemin também reduzem os TG. O uso de FOS com
alimentos que contêm certos tipos de lactobacilos parece Proteína da soja
potencializar o efeito redutor do perfil lipídico.
Substituir a fonte protéica por soja diminui o colesterol
Álcool total (9%), LDL (13%) e TG (11%) não possuindo efeito
nos níveis de HDL.
O álcool aumenta os TG dependendo da dose e tem
um efeito maior em pessoas com TG > 150 mg/dl. O álcool Os efeitos são adicionais aos da dieta passo I e
também aumenta o HDL, mas seu uso com este objetivo parecem ocorrer somente em pessoas com
não é recomendado. hipercolesterolemia. Há uma resposta dose-dependente de
ingestão de soja e os efeitos são independentes de outros
O resveratrol do vinho (componente antifúngico da fatores de risco.
casca da uva) aumenta o HDL e inibe a oxidação do LDL,
além de reduzir o fibrinogênio. Ingestão de 25g de proteína de soja ao dia com, pelo
menos, 50mg de isoflavonas intactas diminui o LDL em 4 a
Café 8% em pessoas hipercolesterolêmicas e assim, a
incidência de DAC.
Os grãos de café possuem duas substâncias lipídicas,
denominadas cafestol e kahweol, que aumentam o Segundo o Dan (2009), um produto deverá conter
colesterol sérico. 6,25g de proteína da soja ou mais, pouca quantidade de
gordura total (<3g) e gordura saturada (<1g) e possuir
A água quente, utilizada para o preparo do café, baixo teor de colesterol (<20mg) para efetivamente
remove algumas substâncias gordurosas dos grãos e melhorar o perfil lipídico. (Não mencionam o peso total do
estas ficam presentes no líquido que não é coado, produto!!!)
segundo Cuppari (2005), o coador de pano também tem a
capacidade de reter estas substâncias). Portanto a Acredita-se que as isoflavonas possam estar
recomendação é sempre usar o filtro de papel, pois estes relacionadas à prevenção da aterosclerose pelas ações
têm a capacidade de reter as substâncias citadas. que exercem sobre concentração dos lípides plasmáticos,
efeitos antioxidantes, efeitos antiproliferativos e
O consumo de 720 ml de café ao dia aumenta o antimigratórios sobre as células musculares lisas, efeitos
colesterol total (9mg/dl), o LDL (6 mg/dl) e o HDL (4 mg/dl) sobre a formação do trombo e na manutenção da
com efeito maior para o café fervido (método europeu, reatividade vascular normal. (Chemin e Dan, 2009)
expresso ou árabe) do que do café filtrado (método
americano). Porém, os estudos não demonstram relação Porém, segundo a Krause (2010), Somente grandes
entre consumo de café e aumento da incidência e quantidades de ingestão de proteína de soja (pelo menos
mortalidade por DAC. metade da ingestão de proteína diária) podem diminuir o
LDL em pequeno % quando a soja é substituída pela
Antioxidantes proteína animal.

Dois componentes da dieta que afetam a oxidação da Recomendação: 28 – 57 g de soja/dia.


LDL são os níveis de ácido linoléico na partícula e a
disponibilidade de antioxidantes.

25
Estanóis e Esteróis Flavonóides (Cuppari, 2005 e Dan, 2009)

Os esteróis vegetais também são conhecidos como São oxidantes polifenólicos encontrados nos
fitosteróis e são em extrato vegetal de sementes de alimentos, principalmente em verduras, frutas, grãos,
girassol e soja. sementes, castanhas, condimentos e ervas, e também em
bebidas como vinho tinto, suco de uva e chá verde.
Os fitosteróis mais comuns são: sitosterol,
campesterol e estigmasterol. Eles reduzem o colesterol Os flavonóides mais importantes são quercetina
LDL por reduzir a absorção intestinal do colesterol (frutas, grãos, batata, berinjela, feijão marrom e cebola),
exógeno (dietético) e do colesterol endógeno (produzido campferol (rabanete, couve, escarola e nabo), miricetina
pelo fígado e liberado no intestino junto com a bile). (vinhos e suco de uva) e crisina.

Para que o colesterol seja absorvido na luz intestinal, Estudos demonstram relação inversa entre o consumo
ele precisa se tornar solúvel através da sua interação com de alimentos ricos em flavonóides e mortalidade por DAC
a bile e formação de micelas, caso contrário permanecerá em virtude de sua ação na inibição da oxidação da LDL-
insolúvel e será eliminado nas fezes. colesterol e na redução da agregação plaquetária.
Oleuropeína e hidroxitirosol são poderosos
Quando os fitosteróis estão presentes na dieta eles
antioxidantes presentes no azeite de oliva, principalmente
são introduzidos nas micelas, impedindo a entrada ou
no extra virgem.
deslocando o colesterol destas micelas.

A redução na absorção do colesterol estimula o fígado Conduta Dietoterápica nas Dislipidemias


a aumentar a síntese de colesterol, porém esse aumento (Dan, 2009)
não é suficiente, havendo também um aumento no número
de receptores de LDL. Consequentemente caem o CT e Hipertrigliceridemia Grave (TG>500mg/dL)
LDL, sem alterar o HDL.
Dieta hipolipídica: <15% do VET
Segundo Chemin e Dan (2009), a dose de 1,6g de > quantidade de fibras
fitosteróis reduz de 8 a 15% os níveis de colesterol e LDL. Açúcar simples< 10%
Segundo a Krause, o consumo de 02 a 03 gramas ao dia Restringir bebidas alcoólica
diminui o colesterol em 09 a 20%.
Hipercolesterolemia isolada (↑ CT e ↑ LDL-c)
Cuppari (2014)  uma dieta balanceada fornece cerca de
200 a 400mg de fitoesteróis, no entanto é necessário
consumo mínimo de 2g/dia para redução média de 10 a
15% do LDL-colesterol.

Os fitosteróis são encontrados adicionados a


margarina sendo recomendada a ingestão de 20g/d, para
atingir 1,6g de fitosterol.
O ATP III inclui os estanóis como parte das
recomendações para diminuição do LDL em adultos. Os
esteróis não afetam os níveis de TG e HDL.

Hipertrigliceridemia isolada (TG>150 e <500mg/dL)

26
Dislipidemia mista (aumento de CT, LDL e TG)

Terapia Clínica e Nutricional Tab. 06 Composição da dieta de alteração do estilo de vida


(Krause, 2010; Cuppari, 2005; Dan, 2009) (Recomendações
do ATP III, AHA e Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemia
Alteração do Estilo de vida 2010)
Segundo a Krause, a terapia nutricional que inclui Nutrientes Ingestão recomendada
atividade física é a intervenção primária para pacientes com
Gordura total 25 a 35% VET
colesterol LDL elevado. Com dieta, exercício e redução do
Ácidos graxos ≤ 7% VET
peso, geralmente os pacientes podem atingir as metas de
saturados
lipídios séricos. Segundo Krause (2010) e Cuppari (2005), as
Ácidos graxos Até 10% VET
recomendações dietéticas do ATP III, conhecidas como dieta
poliinsaturados
de alteração do estilo de vida terapêutico (AEVT) é uma
dieta passo II intensificada (Tabela 07). Ácidos graxos Até 20% do VET
monoinsaturados
Segundo a Krause (2010) a dieta AEVT deve ser Carboidratos 50 a 60% do VET
seguida por 06 semanas. Na 2ª visita a LDL é avaliada e a Fibra 20 a 30 g/dia
terapia é intensificada conforme necessário. Adjuvantes Proteínas Aproximadamente 15% do VET
como esteróis/estanóis vegetais, fibras e soja são Colesterol < 200 mg/dia
incorporadas na dieta na segunda visita. Calorias Para atingir e manter o peso desejável

Na terceira visita (após mais 06 semanas) o tratamento Obs.: segundo a Krause de 2010, a recomendação de fibras
da síndrome metabólica começa se o LDL-alvo for atingido. é de 25-30g/dia. Além disso, a Krause coloca que a perda do
Aumentar a atividade física e diminuir a ingestão de energia excesso de peso é primordial para a redução do LDL,
para facilitar a perda de peso são peças chave para juntamente com as demais medidas dietéticas.
normalizar os fatores de risco da síndrome metabólica.
Segundo a Krause (2010), junto ao padrão dietético de
AEVT, o padrão DASH também é bastante apropriado para
a prevenção e o tratamento de DCV.

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Recomendações dietéticas para hipercolesterolemia – V Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose

Dieta de Alteração do Estilo de Vida (AEVT) (Krause) 3. reduzir o colesterol LDL para menos de 100 mg/dl e
os níveis de não HDL para menos de 130 mg/dl;
O ATP III recomenda a dieta AEVT para a prevenção 4. atividade física moderada por 30 minutos por dia três
primária e secundária da DCV. a quatro vezes por semana;
5. controle de peso para atingir IMC abaixo de 25;
Para atingir os objetivos acima, esta dieta enfatiza os 6. hemoglobina glicosilada abaixo de 7%;
grãos, cereais, leguminosas, vegetais, frutas, carnes 7. uso indefinido de duas drogas anti-hipertensivas após
magras, aves, peixes e produtos lácteos sem gordura. IM, a menos que contra-indicado.
Nenhum grupo alimentar deve ser restringido, é uma
questão de escolha. Normalmente para atingir níveis menores de colesterol
LDL, a terapia de dieta agressiva é necessária.
Nesta dieta, o uso de fibras e ésteres de esterol/estanol
é encorajado. Atualmente os ésteres de estanol/esterol
estão amplamente disponpiveis apenas na margarina. É Tratamento Farmacológico
recomendado também limitar o consumo de sódio a 2400mg
ao dia. A terapia farmacológica segue é dependente da
categoria de risco e do alcance da meta de colesterol
Dietas Agressivas (Krause) conforme a tabela 08.

Para alguns pacientes que consigam seguir e queiram Independente da droga, as alterações do estilo de vida
evitar a terapia com drogas podes ser utilizadas dietas de sustentam todo o tratamento. Uma dieta AEVT com drogas
teor de gordura muito baixo que são eficazes para atingir as pode reduzir os lipídios em até 40%.
metas de lipídio sangüíneo. estas dietas também podem ser
usadas como adjuvante para a terapia de drogas, para As drogas de diminuição dos lipídios uma vez iniciadas são
prevenção secundária e possível regressão das lesões. tais necessárias por toda a vida.
dietas contém:
- quantidade mínima de produtos de origem animal, As classes de drogas englobam:
- AGS (< 3% VET), 1. Seqüestrantes de ácidos biliares (colestiramina)
- colesterol (< 5mg/dia) e 2. Ácido nicotínico
- gordura total (< 10% VET). 3. Inibidores da redutase da HMG-Coa (lovastatina,
provastatina)
4. derivados do ácido fíbrico (clofibrato, genfibrozil),
5. probucol

Prevenção Secundária da DCV (Krause) Obs: as classes 1, 2 e 3 são as de 1ª escolha para o


tratamento (NCEP, 2001).
A prevenção secundária inclui:
1. para de fumar completamente; Hoje existem várias drogas para a redução de LDL-c,
2. reduzir a pressão sangüínea para menos de 140/90 sendo as estatinas (ou inibidoras da HMG-CoA redutase,
ou 130/85 se DAC, insuficiência renal ou DM estiverem enzima-chave na síntese endógena de colesterol) as de
presentes; primeira escolha.

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Têm-se também as resinas seqüestrantes de sais Os fibratos são drogas que tem maior efeito na redução
biliares (colestiramina) que atuam ligando-se aos ácidos dos TG, pois estimulam a atividade da enzima lípase
biliares no intestino, diminuindo sua absorção e forçando, lipoprotéica, aumentando a retirada de ácidos graxos da
assim, sua maior produção a partir de colesterol hepático, circulação, aumentando a oxidação hepática de sais biliares
precursor de ácidos biliares. e reduzindo a exportação hepática de TG em VLDL.

Tabela 7. Classificação para Prevenção e Tratamento das DCV: (Chemin)

Categorias de risco Meta de LDL Nível de LDL no qual iniciar Nível de LDL no qual
as aletrações de estilo de considerar farmacoterapia
vida
ICC ou equivalente de risco <100mg/dL ≥100mg/dL ≥130mg/dL
( risco de 10 anos >20%) (100 – 129mg/dL é opcional)
Mais de 2 fatores de risco <130mg/dL ≥130mg/dL Risco de 10 anos: 10 a 20%:
≥130mg/dL
0 a 1 fator de risco <160mg/dL ≥160mg/dL ≥190mg/dL
(160 – 189mg/dL é opcional)

(Krause, 2010 e Dan, 2009)

Obs.: O Dan (2009) coloca que o nível de LDL-colesterol ideal para indivíduos com aterosclerose acentuada <70mg/dl e o HDL
deve ser (>40mg/dl para homens e > 50mg/dl para mulheres e diabéticos.

Tab. 8. Medidas Terapêuticas iniciais e períodos de avaliação (Dan, 2009)

Estrato Medida terapêutica inicial Reavaliação das metas


Baxo risco MEV 6 meses
Risco intermediáio MEV 3 meses
Alto risco MEV + tratamento farmacológico 3 meses
Aterosclerose manifesta MEV + tratamento farmacológico Individualizada

Em crianças com hipercolesterolemia, usa-se uma dieta


Tratamento da Hipercolesterolemia em Crianças e passo I por 03 meses, após reavalia-se. Se o nível desejável
Adolescentes não for atingido usa-se então a dieta passo II por mais 06
meses. Se após 6 meses a 01 ano não tiver havido
Com relação à triagem, o NCEP recomenda: diminuição adequada do colesterol, pode-se considerar
 Triagem de crianças e adolescentes cujos pais e avós, terapia com drogas para crianças com mais de 10 anos.
aos 55 anos ou menos descobriram ter aterosclerose,
ou sofreram de alguma doença cardiovascular ou foram Na tabela 10 podemos observar os limites de colesterol
submetidos a terapia cardíaca invasiva; total e LDL para crianças e adolescentes e na tabela 11 os
 Triagem de colesterol na prole de um pai com um níveis séricos recomendados de TG e HDL.
colesterol sangüineo de 240mg/dl ou mais.
Tab. 9 Níveis séricos de colesterol e LDL em mg/dl em
Em 1991, o Programa de Educação em Colesterol crianças e adolescentes
(NCEP) fez recomendações para o tratamento da Categoria Colesterol total Colesterol - LDL
hipercolesterolemia a ser aplicado a adolescentes e crianças Aceitável < 170 < 110
com mais de 02 anos: Limite 170 a 199 110 a 129
Alto  200  130
 Dieta nutricionalnete adequada, variada
 Ingestão de energia adequada para promover
crescimento
 Gordura saturada – menos que 10% VET
 Gordura total – máximo 30% VET
 Colesterol dietético – menos que 300mg/dia

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Tab. 10 Níveis séricos de TG e HDL-colesterol em mg/dl em  recomendações de macro e micronutrientes devem
crianças e adolescentes estar de acordo com o quadro clínico e exames
Lipídeos Idade Desejável Risco laboratoriais;
séricos  necessidade hídrica do indivíduo adulto em torno de
HDL-c Abaixo 10 > 40 1500 ml ao dia (30 ml/kg/dia) e em idosos mínimo de
anos 1700 ml ao dia (30 kcal/kg/dia).
10-19 anos >30  contra-indica-se o uso de alimentos que dificultem o
TG Abaixo 10 < 100 > 100 funcionamento intestinal, bem como alimentos
anos flatulentos que possam causar desconforto
10-19 anos < 130 > 130 digestório;
 considerando a boa evolução do quadro, pacientes
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM) infartados podem voltar à alimentação com consistência
normal após o 4° ou 5° dia pós-IAM, desde que já
(CUPPARI, CHEMIN E DAN, 2009)
estejam deambulando.
 seguir recomendações do NCEP para prevenir
A principal causa do IAM é a privação de fluxo complicações secundárias.
sangüíneo para o miocárdio. O trombo ocorre sobre uma
placa aterosclerótica complexa e irregular, geralmente
fissurada e ulcerada.

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento


do IAM são:
- herança genética;
- sexo masculino;
- idade > 45 anos para homens e > 55 anos para mulheres;
- HAS;
- DM;
- dislipidemias;
- obesidade;
- tabagismo;
- estresse e;
- alterações hemostáticas.

A terapia nutricional terá como objetivo diminuir a


sobrecarga cardíaca. Para isso, recomenda-se hábitos
alimentares saudáveis, dieta equilibrada e individualizada,
promovendo, assim, a manutenção e a recuperação do
estado nutricional, e considerando fatores como idade, sexo,
peso e presença ou não de patologias associadas. (Cuppari)

Para o cálculo das necessidades calóricas, pode-se


usar a fórmula de Harris-Benedict, acrescentando-se os
fatores de lesão e estresse. Porém, na maioria dos
pacientes a oferta de 20 a 30 kcal/kg supre as
necessidades. (Cuppari)

O paciente deverá permanecer em jejum nas primeiras


04 a 12 horas (no máximo, segundo Chemin e Dan).
Vômitos e náuseas são comuns nas primeiras 24horas.
Após diagnosticado o evento e, ao iniciar a alimentação, é
recomendado seguir as seguintes orientações:
 em caso de pacientes hemodinamicamente estáveis,
porém com incapacidade de se alimentar por via oral,
deve-se instituir suporte nutricional por via enteral,
utilizando baixa velocidade de infusão; (Chemin e Dan)
 fracionar a dieta em 4 a 6 vezes ao dia, ou seja,
pequenos volumes e várias vezes, evitando assim
sobrecarga do trabalho cardíaco no processo de
digestão;
 consistência líquido-pastosa para melhor mastigação,
deglutição e digestão, afastando o risco de bronco-
aspiração;
 evitar temperaturas extremas dos alimentos, prevenindo
assim, resposta vagal;
 incluir fibras (solúveis e insolúveis) para facilitar o
funcionamento intestinal, a quantidade recomendada é
de 20 a 30 gramas ao dia;
 pode-se usar suplementos orais para atingir-se as
necessidades calóricas do pacientes, caso seja
necessário;

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