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Artigo original

Efeitos de um treinamento motor-cognitivo


em trilhas na mobilidade e funcionalidade
de idosos institucionalizados: estudo piloto
Effect of cognitive motor training trails on the functionality
of institutionalized elderly: Pilot Study
Tamiris Cassin Mainardi1
Suraya Gomes Novais Shimano1
Isabel Aparecida Porcatti de Wash2
Luciane A. Pascucci Sande de Souza2
Jéssica Karen Alves Nogueira3
Mariana Thays Carvalho3
Victória Reis Rangel3
Lislei Jorge Patrizzi2

RESUMO

Introdução: A institucionalização é uma intervenção com grande impacto na vida do idoso no 45


âmbito da funcionalidade, a soma dos declínios motores e cognitivos relacionados à idade e a inatividade
situacional é propulsora das incapacidades. Objetivo: avaliar se um protocolo de treinamento cognitivo-
motor, quando comparado a um treinamento convencional, promove o aumento da mobilidade e
capacidade funcional de idosos institucionalizados. Metodologia: Cinco idosos foram treinados com o
protocolo investigado e quatro idosos participaram de um treinamento convencional, os nove idosos
foram avaliados antes e após o período da intervenção quanto à mobilidade (TUG) e funcionalidade
(Katz). Resultados: O treinamento cognitivo-motor mostrou-se útil e eficaz para aumentar a mobilidade
e funcionalidade quando comparado com o treinanemnto convencional. Conclusão: O treinamento
proposto reduz risco de quedas, aumenta perspectiva de envelhecimento de forma ativa, promovendo
melhor qualidade de vida, em idosos institucionalizados.

PALAVRAS-CHAVE

Idosos; Limitação de mobilidade; Asilo.

1
Fisioterapeuta especialista em Reabilitação Física / Residente em Fisioterapia do Programa Lato Sensu em Saúde do Idoso da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
2
Professoras associadas da UFTM vinculadas ao Programa de Mestrado em Fisioterapia UFTM/UFU.
3
Mestres do programa de Pós graduação Stricto Sensu em Fisioterapia da UFTM.

Ciência em Movimento - Reabilitação e Saúde - 2021/2, n. 48, v.23


Efeitos de um treinamento motor-cognitivo em trilhas na mobilidade e funcionalidade de idosos institucionalizados: estudo piloto

ABSTRACT

Introduction: Institutionalization is an intervention that has a major impact on the elderly’s life in
terms of functionality, the sum of age-related motor and cognitive declines, and situational inactivity
driving disability. Objective: to evaluate whether a cognitive motor training protocol, when compared to
conventional training, promotes increased mobility and functional capacity of institutionalized elderly.
Methodology: Five elderly were treated with the investigated protocol and four elderly participated in a
conventional training, the nine elderly were evaluated before and after the intervention period for mobility
(TUG) and functionality (Katz). Results: Cognitive-motor training proved to be useful and effective in
increasing mobility and functionality when compared with conventional training. Conclusion: The
proposed training reduces risk of falls, actively increases aging prospects, promoting better quality of life,
in institutionalized elderly.

KEYWORDS

Elderly; Mobility Limitation; Asylum.

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Efeitos de um treinamento motor-cognitivo em trilhas na mobilidade e funcionalidade de idosos institucionalizados: estudo piloto

INTRODUÇÃO abordagem motora e cognitiva, seja com ou sem


input auditivo (ROCHA et al., 2015)
Um dos fatores que estão relacionados à Logo pretendeu-se com esse estudo avaliar se
inserção do idoso em Instituição de Longa um protocolo de treinamento motor-cognitivo,
Permanência (ILP) é a mobilidade, pois o quando comparado a um treinamento convencional,
comprometimento funcional tende a diminuir o promove o aumento da mobilidade e capacidade
engajamento social e as redes de contatos funcional de idosos institucionalizados.
interpessoais, dificultando o cuidado prestado por
familiars (ROSSO et al., 2013). Em decorrência METODOLOGIA
disso, verifica-se que além das alterações próprias
do envelhecimento, a institucionalização, Idosos residentes em uma instituição de longa
geralmente favorece a inatividade, provocando permanência no município de Uberaba foram
declínio da força muscular, equilíbrio, flexibilidade convidados a participar desse estudo piloto.
e resistência física, tornando os idosos mais Foram selecionados como critérios de inclusão:
dependentes quanto às atividades de vida diária escore mínimo de 18 pontos no Mini Exame do
(AVDs), com uma tendência a desenvolver síndrome Estado Mental (MEEM), serem sedentários de
da fragilidade ( BARROS et al., 2016; TRINDADE et acordo com a classificação do questionário
al,. 2013; PAES DE ANDRADE et al., 2019). internacional de atividade física (IPAQ- versão
A literatura aponta que a intervenção cognitivo- curta), alfabetizados, com capacidade para realizar
motora pode influenciar domínios cognitivos, o Trail-Making Test (TMT) parte A e com acuidade
sendoqueessafunçãoéessencialparaodesempenho visual preservada ou corrigida.
adequado de tarefas funcionais, diminuindo até A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética
índices de depressão em idosos institucionalizados em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo
47
(PONCE et al., 2019; LAW et al., 2014). Mineiro – UFTM, sob o protocolo n° 2.596/2013.
Os sistemas cognitivo e motor apresentam Todos os idosos assinaram o termo de consenti­
papel fundamental na autonomia funcional dos mento livre e esclarecido.
idosos (MONTEIRO-JUNIOR et al., 2016) uma vez
que, o sinergismo entre treinamento físico e Delineamento
cognitivo sugere resultados favoráveis sobre a Os idosos foram divididos em dois grupos, de
incapacidade e limitação de mobilidade na modo aleatório, denominados grupo dupla tarefa
população idosa (SIPILÄ et al., 2018). (GDT), composto por cinco idosos, e grupo controle
Os protocolos utilizados para treinamento (GC) constituído por quatro idosos. Foram
são variados, a literatura apresenta protocolos submetidos a uma avaliação pré e pós treinamento
com tarefas como falar substantivos iniciados contendo testes para avaliação da mobilidade
com determinadas letras do alfabeto durante a funcional, mobilidade sobre dupla demanda de
execução de um exercício motor (MARTINS et al., atenção e independência para a realização das AVDs.
14), como também atividades com uso de vídeo- O treinamento para ambos os grupos consistiu
game (COUTINHO; GOMES, 2014) no entanto de duas sessões por semana, durante oito semanas,
ainda sem resultados expressivos na funciona­ totalizando 16 sessões. O GDT foi submetido a um
lidade básica do idoso institucionalizado. treinamento composto por atividades de dupla
Sabendo que o grau de complexidade das tarefas tarefa (cognitiva-motora) e o tempo para a
cognitivas quando realizadas simultaneamente realização das mesmas variou de acordo o
com tarefas motoras podem interferir no desempenho funcional de cada participante. A
desempenho da dupla tarefa, sugere-se que os intervenção do GC consistiu em um tratamento
p ro to c o l o s d e t re i n a m e n to te n h a m u m a convencional baseado em alongamento e
fortalecimento com duração de 40 minutos

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Avaliação da Mobilidade cognitivo “Trail-Making Test”. Adaptações


Os testes realizados para medidas de similares já foram realizadas por alguns autores
mobilidade foram, TimedUpandGo (TUG) que utilizaram o teste para avaliação de
convencional (PODSIADLO; RICHARDSON, 1991) comprometimento cognitivo, variabilidade da
timed version of the \”Get-Up and Go\” Test marcha e risco de quedas (BLACKWOOD et al.,
(Mathias et al, 1986 e para mobilidade sobre 2016)including deficits in higher cognitive
condição de dupla tarefa foi realizado o teste TUG processes, like executive function (EF.
motor e TUG cognitivo. No TUG motor o indivíduo Assim o protocolo de treinamento foi desen­
realizou o teste segurando um copo de água, volvido sobre trilhas, confeccionadas em material
faltando 5 cm para estar completo. No TUG plástico tanto para membros superiores (trilha
cognitivo, foi solicitado ao idoso que fizesse presa na parede) como para membros inferiores
subtrações de 3 em 3 a partir do número 100 (trilha presa no chão). Essas trilhas foram
(TANG et al., 2015). confeccionadas em cor preta e nelas foram
desenhados símbolos com giz de cor branca (KIM;
Avaliação da funcionalidade
BAEK; KIM, 2014).
A escala de Katz tem por objetivo avaliar a
O treinamento foi dividido em duas fases, com
independência dos idosos em AVDs (LINO et al.,
duração de quatro semanas cada e com níveis de
2008). No presente estudo foi realizada uma
dificuldade crescente. Na primeira fase, as
adaptação, onde para cada item foi solicitado que
atividades foram realizadas em trilhas simples e
o idoso simulasse a atividade e o tempo para
trilhas com distratores contendo números de 1 a
realizar a mesma foi cronometrado (GOBBO et al.,
10, sendo que os participantes tiveram que seguir
2014). As instruções seguiram a seguinte lógica:
os números em ordem crescente e decrescente
• Item banho: foi instruído ao idoso que,
(Figura 1). A segunda fase de intervenção seguiu a
48 sentado, encostasse a mão na planta do pé
mesma proposta quanto a sequência numérica,
direito e posteriormente no esquerdo,
porém, associando-se formas geométricas de
simulando lavar os pés;
tamanhos diferentes com comando verbal de
• Item capacidade de se vestir: foi instruído
alternância do menor para o maior na sequência
que o idoso vestisse uma camisa e
numérica crescente e do maior para menor na
abotoasse os botões;
sequência decrescente.
• Item higiene pessoal: foi orientado que o
idoso, sentado, levasse cada uma das mãos
Treinamento convencional
até a região das nádegas, simulando a
O treinamento convencional foi baseado em
higiene local;
alongamentos globais padronizados e
• Item alimentação: foi orientado que o idoso
fortalecimento com exercício de agachamento,
simulasse levar uma colher até a boca;
flexão plantar em pé e flexão de cotovelo apoiando
• Item transferências: foi instruído que o
o peso corporal nas mãos dispostas sobre a parede.
idoso movesse-se de decúbito dorsal (DD)
Nas primeiras quatro semanas os alongamentos
para decúbito lateral direito (DLd), DLd
foram realizados três vezes de cada lado com
para decúbito ventral (DV), DD para
duração de trinta segundos cada e os exercícios de
decúbito lateral esquerdo (DLe), DLe para
fortalecimento foram feitos em três séries de oito
DV, DV para 4 apoios, 4 apoios para de
repetições. Nas últimas quatro semanas o tempo
joelho, de joelho para em pé, em pé para
de alongamento foi de 40 segundos e 10 repetições
sentado e sentado para em pé.
para os exercícios de fortalecimento (RUGBEER et
Treinamento motor-cognitivo al., 2017)with inclusion being based on the
O treinamento de dupla tarefa foi desenvolvido outcome of a medical assessment by a sports
com base na adaptação locomotora para o teste physician. A quasi-experimental design was used

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Figura 1. Trilhas utilizadas para o treinamento de dupla tarefa na primeira fase do protocolo. A) Trilha
simples para MMSS. B) Trilha com distratores para MMSS. C) Trilha simples para MMII. D) Trilha com
distratores para MMII.

Fonte: Dos autores

to compare the effect of a 12 week group exercise oito anos (22%). Todos os participantes eram
programme on two groups of participants using aposentados, com renda individual de um salário
49
pre-test and post-test procedures.\nRESULTS: A mínimo, residentes em uma ILP. Em relação às
significant difference was noted in social function doenças mais prevalentes detectadas na amostra
post training 2X/week (MD = -13.85, 95% CI do estudo estão hipertensão (77,7%) e diabetes
[-24.66, -3.38], p = 0.017, d = 0.674. (11,1%).
Em relação aos grupos, ambos mostraram-se
Análise estatística homogêneos quanto à idade (p=0,43) e IMC
Foi realizado análise descritiva dos dados (p=0,89). As médias de idade e IMC foram
obtidos, apresentando média ± desvio padrão. respectivamente, 73,6 (±6,23) e 24,46 (±5,36) para
Após análise da distribuição da amostra o GDT e 78,8 (±10,5) e 24,08 (±3,18) para o GC.
(Kolmogorov Smirnov), o teste t pareado foi Após intervenção em dupla demanda de
utilizado para comparação dos dados antes e após atenção, foi observado redução significativa no
intervenção. Para comparações intergrupos, tempo de realização do teste TUG (p = 0,021),
utilizou-se o teste t para amostras independentes. tempo para realizar dupla tarefa motora (p =
O nível de significância adotado foi de 5%. 0,018) e cognitiva (p = 0,008), além do tempo
para realizar as atividades básicas de vida diária
Resultados (p = 0,002) (TABELA 1). Ainda sobre o tempo
A amostra foi composta por nove idosos p a ra re a l i z a r a s a t iv i d a d e s b á s i c a s e s s a
institucionalizados, sendo 44,4% do sexo intervenção foi significativamente (p = 0,015)
masculino e 55,5% do sexo feminino. A escolaridade superior à intervenção convencional realizada no
variou entre um a quatro anos (77,7 %) e quatro e grupo controle.

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Tabela 1. Medidas de resultados antes e após os dois protocolos de treinamento

Grupo dupla tarefa Grupo controle


Testes Pré Pós Pré Pós
TUG convencional (s) 17,13 ± 8,66 12,66 ± 6,69* 15,50 ± 6,92 10,41 ± 2,87
TUG motor (s) 18,06 ± 9,93 14,06 ± 8,19* 15,83 ± 7,20 11,33 ± 3,07
TUG cognitivo (s) 26,73 ± 10,89 18.93 ± 7,92* 19,00 ± 6,43 14,25 ± 4,17
Katz (modificado) (s) 112,4 ± 24,3 83,6 ± 30,20* 70,00 ± 19,37 69,25 ± 6,45
*p < 0.05 para diferenças intra-grupo.

DISCUSSÃO pós-treinamento (COUTINHO; GOMES, 2014) No


presente estudo o índice de Barthel foi adaptado e
O presente estudo investigou um protocolo de desta forma tornou-se mais sensível, o que talvez
intervenção baseado em duplas tarefas e buscou possa justificar os resultados obtidos.
avaliar o seu efeito na mobilidade e funcionalidade. Os idosos abrigados em ILP, tendem a um
No entanto, o estudo difere de demais protocolos, declínio de funções cognitivas e físicas (GONZÁLEZ-
quando sugerimos que uma adaptação locomotora COLAÇO HARMAND et al., 2014; FURTADO et al.,
para o teste cognitivo chamado “Trail-Making 2015), uma vez que a escassez de estímulos, pode
Test” ou “Teste de Trilhas” pode ser usada como limitar a indepêndencia na realização das AVDs,
protocolo de treinamento. incentivando o ciclo do desuso dos sistemas
A população estudada foi composta por fisiológicos, potencializando a dependência
indivíduos sedentários, com idade média de 76 funcional (KEOGH et al., 2014), comprometendo
50 anos, eutróficos, residentes em ILP, sendo a diretamente a qualidade de vida.
maioria do sexo feminino, viúvos e de baixa Com base nessas informações, percebe-se a
e s c o l a r i d a d e . U m e s t u d o q u e ave r i g u o u importância de intervenções que abordem
indicadores de institucionalização demonstra componentes multissensoriais, pois além de
em seus resultados que idosos do sexo feminino, manter a funcionalidade, são eficazes para
de idade avançada, sem companheiros (viúvos ou promover habilidade cognitiva em idosos
solteiros), sem escolaridade, pouco ativos e institucionalizados (MOREIRA et al., 2018). Nesse
inativos e com incapacidade funcional, apresen­ contexto, a intervenção cognitivo-motora torna-se
tam maiores chances de serem institucionalizados essencial, já que fornece estímulos cognitivos,
(DEL DUCA et al., 2012). influenciando as funções cognitivas, estímulos
O protocolo de treinamento motor-cognitivo do motores, otimizando a flexibilidade, força
presente estudo é eficaz para aumento de muscular, resistência, equilíbrio, propriocepção e
mobilidade e funcionalidade para esses idosos. coordenação motora, incentivando positivamente
Poucos estudos avaliaram essa relação e aqueles o desenpenho das atividades básicas de vida diária
que o fizeram não encontraram resultados similares. (ABVDs) e independência funcional (MENEZES et
Segundo MARTINS et al. (2014) não foi observada al., 2016). Observa-se que diante do protocolo de
diferença significativa na variável escala de Katz, intervenção prosposto, houve melhora da
após três meses de treinamento motor-cognitivo. funcionalidade, promovendo melhor capacidade
Outro estudo onde se avaliava os efeitos de um para a realização de ABVDs, pois a estratégia de
protocolo com Nintendo Wii, durante 4 semanas, adaptação envolveu raciocínio, elaboração da ação
sobre as dimensões físicas e cognitivas em idosos, e coordenação do movimento aprimorando,
utilizou-se o índice de Barthel, e observou-se um consequentemente, a capacidade para as funções
resultado não significativo entre as avaliações pré e executivas desses idosos.

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Além disso, o ganho de mobilidade foi até 10 segundos é dado como normal para adultos
demonstrado pelo teste TUG motor e cognitivo saudáveis, de 11 a 20 segundos é considerado
que envolvem a marcha sobre dupla demanda de normal para idosos com deficiência ou frágeis e
atenção, pois protocolos de exercícios físicos que com baixo risco de quedas e, acima de 20 segundos,
envolvem multicomponentes podem induzir indica déficit importante da mobilidade física e
ganhos relacionados a marcha, já que melhoram risco de quedas. Ainda que os valores do TUG
velocidade, comprimento da passada, ritmo dos fossem classificados como normal no pré
movimentos de tronco em idosos com treinamento, houve uma diminuição expressiva no
comprometimento cognitivo leve (DOI et al., tempo de realização do teste pós intervenção de
2013), visto que alterações de controle postural dupla tarefa, indicando ganhos quanto à mobilidade
dinâmico são notórios durante realização de dupla física com esse tipo de treinamento, uma vez que
tarefa em idosos, o que predispõe o risco de quedas programas de intervenção multissensorial (visual,
(GOMES et al., 2016). auditivo, tátil e motor), melhoram a cognição,
Após análise dos resultados deste estudo, a equilíbrio, desempenho funcional e mobilidade
literatura ainda aponta que o treinamento (DOI et al., 2013).
abordando um método de realidade virtual de O estudo piloto limita a generalização de
dupla tarefa cognitivo-motora, mostrou resultados nossos resultados em outros cenários. A
satisfatórios em idosos institucionalizados com reprodução dessa intervenção em amostras
demência e comprometimento cognitivo leve, sobre maiores, está sendo desenvolvida em diferentes
aspectos funcionais envolvendo equilíbrio dinâmico grupos de idosos, como idosos ativos, sedentários,
(DELBROEK; VERMEYLEN; SPILDOOREN, 2017), em risco de quedas, entre outros.
visto que essa intervenção interativa estimula
regiões cerebrais relacionadas a cognição e aumenta CONCLUSÃO
51
estímulos sensoriais, melhorando funções
Ao considerar os resultados que encontramos
executivas (SIPILÄ et al., 2018).
no presente estudo concluímos que o treinamento
No pós-treinamento, o tempo para realizar o
utilizando a adaptação do Teste de trilhas mostra-
teste TUG não superou 20 segundos em nenhum
se útil para aumentar a mobilidade e funcio­
dos grupos avaliados, conferindo a todos os idosos
nalidade de idosos intitucionalizados de Uberaba,
avaliados um tempo de realização do teste normal
sendo os ganhos superiores aos obtidos por meio
e com baixo risco de quedas. Aspectos como
de um treinamento convencional. Acredita-se,
mobilidade funcional e equilíbrio são exigidos
portanto, que sua utilização nas instuições de
durante a realização do TUG permitindo predizer o
longa permanência promoverá redução do risco
risco de quedas por meio de um menor desempenho
de quedas, aumento da perspectiva de enve­
do mesmo (SANTOS et al., 2015). Segundo BISCHOFF
lhecimento de forma ativa, promovendo melhor
et al. (2003) o tempo para a realização do TUG de
qualidade de vida.

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