Você está na página 1de 19

INSTITUTO POLITÉCNICO DE SAÚDE DE MOÇAMBIQUE - LICHINGA

TRABALHO DO PRIMEIRO GRUPO

TEMA: Política de Cuidados de Saúde Primário em Moçambique


A História da Conferencia de Alma-Ata 1978

DISCENTE
 Ruth Geraldo Damião
 Maicha Amade Assimo DOCENTE
 Catarina Vicente Uale Charifo Mussa Taibo
 Cristina Neves
 Dércia Florinda Alberto
 Canizio Sandar Ngaunje

LICHINGA, 08 DE MARCO DE 2023


Índice

Cuidados de saúde primários em moçambique..............................................................3

Importância de cuidados de saúde primário..................................................................4

Cuidados de saúde nas primeiras organizações de comunidades..................................6

Condições históricas do aparecimento do conceito de cuidados de saúde primários em


Moçambique..................................................................................................................6

Principais características do sistema de saúde colonial.................................................7

História da conferencia de alma ata em 1978................................................................8

A declaração de alma-ata se revestiu de uma grande relevância em vários contextos. .9

Conclusão…………………………………………………………………………….17

Referência bibliográfica………………………………………………………………
19
Introdução

O presente trabalho de pesquisa dos temas Política de Cuidados de Saúde


Primário em Moçambique e A História da Conferencia de Alma-Ata 1978 vem
introduzindo que os cuidados de saúde primários podem cobrir a maioria das
necessidades de saúde de uma pessoa durante toda a sua vida, incluindo a prevenção, o
tratamento, a reabilitação e os cuidados paliativos e a declaração de alma-ata foi adotada
em setembro de 1978, na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde,
realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Alma-Ata (atual Almati),
na República Socialista Soviética do Cazaquistão, expressava a “necessidade de ação
urgente de todos os governos, de todos os que trabalham nos campos da saúde e do
desenvolvimento e da comunidade mundial para promover a saúde de todos os povos do
mundo.

3
CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS EM MOÇAMBIQUE
Os cuidados de saúde primários podem cobrir a maioria das necessidades de
saúde de uma pessoa durante toda a sua vida, incluindo a prevenção, o tratamento, a
reabilitação e os cuidados paliativos.

Pelo menos, metade dos 7,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo ainda não
beneficiam da cobertura total dos serviços essenciais de saúde.

Uma força de trabalho dedicada é essencial para prestar cuidados de saúde


primários e, no entanto, estima-se que faltem 18 milhões de profissionais de saúde em
todo o mundo.

O que são cuidados de saúde primários?

Os cuidados de saúde primários é uma abordagem de toda a sociedade à saúde e


bem-estar, centrada nas necessidades e preferências das pessoas, famílias e
comunidades. Aborda os determinantes da saúde mais vastos e incide sobre os aspectos
completos e interrelacionados da saúde física, mental e social e do bem-estar.

Os cuidados de saúde primários decorrem de um compromisso com a justiça e


equidade social e do reconhecimento do direito fundamental ao nível mais elevado
possível de saúde, conforme o articulado do Artigo 25.º da Declaração Universal dos
Direitos do Homem: “Todas as pessoas têm direito a um nível de vida adequado à sua
saúde e bem-estar próprios e da sua família, incluindo alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e serviços sociais necessários

O conceito de cuidados de saúde primários tem sido várias vezes reinterpretado


e redefinido. Em alguns contextos, refere-se à prestação de serviços de saúde pessoais
ambulatórios ou do primeiro nível. Em outros contextos, cuidados de saúde primários
são entendidos como um conjunto de intervenções de saúde prioritárias oferecidas às
populações de baixos rendimentos (também chamados de cuidados de saúde primários
selectivos). E também há quem entenda os cuidados de saúde primários como uma
componente essencial do desenvolvimento humano, centrada em aspectos económicos,
sociais e políticos.

4
A OMS concebeu uma definição coesa com base em três componentes:

 Satisfazer as necessidades das pessoas em matéria de saúde, através de cuidados


promotores, protectores, preventivos, curativos, reabilitativos e paliativos
completos durante toda a vida, atribuindo prioridade estratégica aos principais
serviços de cuidados de saúde destinados às pessoas e famílias, através dos
cuidados primários, e às populações através das funções da saúde pública como
elementos centrais de serviços de saúde integrados;
 Abordar de forma sistemática os determinantes da saúde mais vastos (incluindo
sociais, económicos e ambientais, assim como as características e
comportamentos das pessoas), através de políticas e acções públicas informadas
por evidências, em todos os sectores;
 Capacitar as pessoas, famílias e comunidades para optimizarem a sua saúde,
como defensores de políticas que promovam e protejam a saúde e o bem-estar,
como co-criadores de serviços de saúde e sociais e como auto-cuidadores e
prestadores de cuidados a terceiros.

Importância de cuidados de saúde primário


Renovar os cuidados de saúde primários e colocá-los no centro dos esforços para
melhorar a saúde e o bem-estar é fundamental por três razões:

Os cuidados de saúde primários estão bem colocados para dar resposta às


rápidas alterações económicas, tecnológicas e demográficas que ocorrem no mundo e
que exercem, todas elas, impacto sobre a saúde e o bem-estar das pessoas. Uma análise
recente revelou que, aproximadamente, metade das conquistas obtidas na redução da
mortalidade infantil entre 1990 e 2010 se ficou a dever a factores externos ao sector da
saúde (nomeadamente, água e saneamento, educação, crescimento económico). A
abordagem dos cuidados de saúde primários atrai uma vasta gama de partes
interessadas, para examinarem e alterarem as políticas destinadas a abordar os
determinantes sociais, económicos, ambientais e comerciais da saúde e bem-estar.
Tratar as pessoas e as comunidades como actores-chave na produção da sua própria

5
saúde e bem-estar é crucial para compreender e dar resposta às complexidades de um
mundo em mudança.

Os cuidados de saúde primários são, comprovadamente, uma forma altamente


eficaz e eficiente de abordar as principais causas e riscos da falta de saúde e bem-estar
nos nossos dias, assim como de lidar com os desafios emergentes que irão ameaçar a
saúde o bem-estar no futuro. Está igualmente comprovado que são um investimento de
grande valia, visto haver evidências de que os cuidados de saúde primários de qualidade
reduzem os encargos totais com a saúde e melhoram a eficiência, reduzindo os
internamentos hospitalares. A satisfação de necessidades de saúde cada vez mais
complexas exige uma abordagem multissectorial que integre políticas de promoção da
saúde e de prevenção, soluções que respondam às comunidades e serviços de saúde que
sejam centrados nas pessoas. Os cuidados de saúde primários incluem igualmente os
principais elementos necessários para melhorar a segurança sanitária e evitar ameaças à
saúde, designadamente, epidemias e resistência antimicrobiana, através de medidas
como o envolvimento e educação das comunidades, prescrições racionais e um conjunto
básico de funções essenciais de saúde pública, incluindo a vigilância. O reforço dos
sistemas a nível da comunidade e das unidades de saúde periféricas contribui para
construir resiliência, que é crucial para resistir aos impactos sofridos pelo sistema de
saúde.

Cuidados de saúde primários mais fortes são essenciais para atingir os


Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados com a saúde e a
cobertura universal de saúde. Contribuem também para a consecução de outros
objectivos, para além dos da saúde (ODS3), incluindo os relativos à pobreza, fome,
educação, igualdade de género, água potável e saneamento, trabalho e crescimento
económico, reduzindo as desigualdades e o impacto climático.

A OMS reconhece o papel central dos cuidados de saúde primários na


consecução da saúde e bem-estar para todos, em todas as idades. A OMS trabalha com
os países para:

Identificar áreas prioritárias para melhorar a saúde e abordagens específicas de


contextos que se baseiem nos conhecimentos técnicos existentes em toda a OMS.

6
Ajudar os países a elaborarem políticas inclusivas, liderança interna e sistemas de saúde
baseados em cuidados de saúde primários que promovam a igualdade na saúde e
trabalhem no sentido de se atingirem os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e a
cobertura universal de saúde.

Abordar os determinantes sociais e de desigualdade mais vastos na saúde, através da


acção multissectorial.

Cuidados de Saúde nas primeiras organizações de comunidades


Nas primeiras formas de organização de comunidade primitiva em clãs e tribos
com um nível de desenvolvimento económico, social rudimentar, a diferença no
tratamento dos feridos e inválidos terá sido ditada pela necessidade de sobrevivência
colectiva do grupo social como um todo (Salvaguarda a existências dos membros mais
experientes e possuidores de maiores conhecimentos que transmitem pessoalmente;
impossibilidade de manutenção de doentes incuráveis e de pessoas estropiadas; etc.

Neste período, as comunidades recorriam as plantas, animais, minerais e outros


recursos que a natureza oferece para a prática das curas e tratamento.

Condições Históricas do aparecimento do conceito de cuidados de saúde primários


em Moçambique
Inicialmente, a FRELIMO, partido de vanguarda e forca dirigente da nação,
sempre seguiu de perto o desenvolvimento das ideias respeitantes a Sistema de Saúde
que visam benefício dos povos. Procurando constantemente aprender das suas
experiências e da das organizações especializadas.

Portanto, foram experiências históricas do povo moçambicano que constituíram factor


decisivo das suas opções em matéria de cuidados de saúde, no entanto, determinaram a
elaboração do conceito de cuidados de saúde primários em Moçambique, base essencial
da política da saúde no país.

No conjunto dessas experiências, evidenciam-se as seguintes:

As vividas durante o período da luta de libertação nacional;

7
As que se viveram e vivem ainda desde que se iniciou o período da reconstrução
nacional (desde 20 de setembro que se instalou em Moçambique o primeiro governo
que controlava a situação nacional orientado pela linha da FRELIMO).

É certo que, para definir os cuidados de saúde primários em Moçambique, e


sobretudo implementar a escala nacional, tornou se necessário tomar em conta a
situação em que o colonialismo deixou o país.

Principais características do sistema de Saúde Colonial


Os serviços médicos que o colonialismo português implantou em Moçambique faziam
parte do sistema de opressão e exploração colonialista a que o povo Moçambicano
estava sujeito durante cinco seculos.

A situação sanitária que o governo colonial deixou, refletia, portanto, as


características sociais e económicas do sistema colonial capitalista. A característica
dominante desses serviços médicos era seu cariz vincadamente discriminatório:

 Descriminação económica;
 Descriminação racial;
 Descriminação Geográfica.

A descriminação económica:

Patente não só na existência de uma medicina privada apenas aceitável à burguesia


urbana, mas também nas diferenças dos serviços e de preços dentro das próprias
estruturas dos serviços médicos governamentais.

A descriminação racial:

Que se manifestava sem disfarces, na existência de enfermarias, consultas e outros


serviços separados para brancos e pretos, assim como para a classificação e
remuneração dos diversos tipos de técnicos médicos e para médicos segundo a cor da
sua pele.

Descriminação geográfica:

Devido a diferentes facilidades de acesso a assistência medica nas zonas urbanas e nas
zonas rurais, caracterizado pelo reduzido número de unidades samintarias no campo,

8
mas mesmo a rede de cuidados sanitários urbanos era pobre em cuidados hoteleiros e
em meios auxiliares de diagnóstico, estes só existiam nas grandes cidades onde vivia
apenas 7% da população moçambicana.

As unidades sanitárias localizadas nas zonas de implantação dos colonos,


serviam essencialmente como uma triagem para meter ao colono endinheirado aos três
grandes centros urbanos onde existia uma florescente medicina privada;

A fraca extensão dos serviços médicos governamentais está bem patente no orçamento
para saúde em 1974, o qual consumia 3.7% do orçamento geral do estado.

Os serviços médicos caracterizam-se pela primazia absoluta da medicina privada


e lucrativa, o que tinha como consequência logica o seu caracter curativo sendo a
medicina preventiva quase inexistente.

Cuidados médicos

Finalmente é preciso acrescentar que as estruturas de assistência sanitária existentes no


país, estavam pulverizadas por uma miríada de serviços autónomos e semiautónomos,
não existindo qualquer unidade nem coordenação entre eles, esse conjunto
compreendia:

Serviço de saúde e assistência: competia-lhe dar assistência aos funcionários <<


indigentes>> de um modo geral, a todos aqueles que não tinham acesso às outras formas
de assistência medica.

HISTÓRIA DA CONFERENCIA DE ALMA ATA EM 1978


A Declaração de Alma-Ata foi adotada em setembro de 1978, na Conferência
Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) em Alma-Ata (atual Almati), na República Socialista Soviética do
Cazaquistão, expressava a “necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos
os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade mundial
para promover a saúde de todos os povos do mundo”

Características

A Declaração de Alma-Ata se compõe 10 itens que enfatizam a Atenção primária à


saúde (Cuidados de Saúde Primários), salientando a necessidade de atenção especial aos
países em desenvolvimento. Exortando os governos, a OMS, a UNICEF e as demais

9
entidades e organizações, a declaração defende a busca de uma solução urgente para
estabelecer a promoção de saúde como uma das prioridades da nova ordem econômica
internacional.

Tem sido considerada como a primeira declaração internacional que despertou e


enfatizou a importância da atenção primária em saúde, desde então defendida
pela OMS como a chave para uma promoção de saúde de caráter universal.

Os primeiros itens da declaração reafirmam a definição de saúde defendida pela


OMS, como o “completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a
ausência de doença ou enfermidade”, e a defendem como direito fundamental e como a
principal meta social de todos os governos.

A seguir a declaração salienta a interferência da desigualdade social nas políticas


de saúde, ressaltando o papel que a lacuna entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento representa. Exortando todos os países à cooperação, na busca pelo
objetivo comum da saúde, fator que contribui para a qualidade de vida e para a paz
mundial, a declaração defende tal cooperação como direito e dever de todos, individual
e coletivamente.

Segue-se a reafirmação da responsabilidade de todos os governos pela promoção de


saúde, e a reivindicação da atenção primária como fator de viabilidade para uma
universalização dos cuidados, mediante a abrangência e a melhoria social que
possibilitam, integrando governo com todos os setores da sociedade, em prol da
igualdade social.

A Declaração de Alma-Ata se revestiu de uma grande relevância em vários


contextos
Em setembro de 1978, a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de
Saúde, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Alma-Ata, na
República do Cazaquistão, expressava a “necessidade de ação urgente de todos os
governos, de todos os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da
comunidade mundial para promover a saúde de todos os povos do mundo”. A
Declaração de Alma Ata – documento síntese desse encontro – afirmava a partir de dez
pontos que os cuidados primários de saúde precisavam ser desenvolvidos e aplicados
em todo o mundo com urgência, particularmente nos países em desenvolvimento.
Naquele momento, conforme defesa feita pela própria OMS, a saúde era entendida

10
como “completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de
doença ou enfermidade”. Por conta dos 40 anos de Alma Ata, completados neste mês de
setembro de 2018, o Portal EPSJV/Fiocruz ouviu o professor do Departamento de
Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da Rede de
Pesquisas em Atenção Primária à Saúde (Rede APS) da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva, Luiz Augusto Facchini, que fez um balanço das quatro décadas do documento
que foi um marco para o mundo. Nesta entrevista, Facchini fala ainda sobre a
Conferência Global da OMS sobre Atenção Primária em Saúde, marcada para outubro
em Astana, no Cazaquistão, quando será apresentada uma nova Declaração sobre
Atenção Primária à Saúde, analisando até onde os princípios apresentados pelo
documento se aproximam ou se distanciam do texto de 1978.

A declaração de Alma-Ata se revestiu de uma relevância muito importante em


vários contextos, âmbitos e dimensões. Anteriormente à Alma-Ata, existiam
experiências isoladas de atenção primária à saúde que estavam muito vinculadas a duas
ordens de desenvolvimento. Nos sistemas de saúde que estavam se organizando -
especialmente no sistema de saúde inglês, por exemplo -, destacavam-se algumas dessas
experiências, mas a atenção primária não era o elemento central, pelo menos não da
maneira como a gente compreende hoje a atenção primária. Entre 1959 e 60, tivemos a
Revolução Cubana. Foi quando, de fato, se pensou um sistema com serviços de saúde
organizados próximos ao local de moradia, das residências das pessoas e orientado para
o atendimento. Havia um movimento no mundo de iniciativas nacionais e em contextos
particulares. Mas não havia definição de um modelo de atenção primária à saúde.
Teremos referências do início do século 20, em 1920, com o Relatório Dawson, na
Inglaterra. Ali, o médico da família britânica Lord Dawson já havia feito referência a
uma organização de sistemas de saúde baseada em uma rede capitalizada de serviços
que começavam com a atenção primária. A Inglaterra deixou isso de lado, por conta de
enfrentamentos políticos, e essa ideia de atenção primária se perdeu. Alma-Ata foi,
então, o primeiro destaque dado à atenção primária em termos globais, recuperando
experiências e reflexões teóricas. Muitas dessas experiências foram desenvolvidas,
pontualmente, em vários países da África, na Ásia e, até mesmo, na América Latina,
com a participação de profissionais de saúde e, particularmente, de médicos vinculados
às igrejas católicas e protestantes, bastante envolvidas por ocasião da Reforma Luterana.
Havia uma concepção de missionário, de dedicação religiosa filantrópica em relação a

11
essas iniciativas pontuais de atenção primária à saúde ao longo de todo século 20.
Quando então ocorre a Conferência de Alma-Ata, por uma iniciativa da Organização
Mundial de Saúde em parceria com a Unicef [Fundo das Nações Unidas para a
Infância], a proposta de atenção primária ganha destaque e relevância, pois explicita um
modelo altamente abrangente, uma ideia de saúde para todos. Portanto, conforme
anunciado em sua chamada, Alma Ata define a atenção primária como estratégia a ser
ofertada a toda a população. Traz a ideia de ideia de universalidade, e propõe isso no
contexto de um sistema de saúde. A noção de sistema de saúde é articulada nesse
encontro. Alma Ata defende um modelo que em inglês chamamos de compliance, ou
seja, um modelo de integralidade, que abrange o conjunto das necessidades de saúde da
população. O documento fala em articulações intersectoriais, fortalecendo as ideias de
nutrição e alimentação, como também de participação comunitária popular e de esforços
de educação. Alma Ata é uma recomendação de dois organismos internacionais, OMS e
Unicef, e assinada por uma grande quantidade de países que concordavam com a
proposta.

Assim que Alma Ata foi apresentada, começou o debate internacional em torno
da sua implementação. Ela não foi censurada em nenhum momento, mas foi
contraposta. Houve imediatamente uma contraposição àquilo que tinha sido aprovado
em Alma-Ata por iniciativa da OMS e da Unicef. Em 1980, depois de dois anos do
encontro, o Banco Mundial e a própria Unicef fizeram uma proposta alternativa à Alma-
Ata, sob os argumentos de que faltaria dinheiro, vontade política e infraestrutura. Então,
apresentaram um pacote de APS seletiva, com recortes mais restritos: a Estratégia
GOBI (sigla em inglês para indicar monitoração do crescimento, Reidratação Oral,
Aleitamento Materno e Imunizações). Era uma APS centrada fundamentalmente na
atenção à saúde da criança e da mulher. O foco na reidratação oral, por exemplo, se
dava porque na época a diarreia era uma das causas mais impressionantes de
mortalidade de crianças no período pós-neonatal. A ênfase no aleitamento materno era
estratégica para garantir melhores condições de nutrição e imunidade às crianças. E o
foco na imunização era uma forma de expandir toda a questão vinculada com a proteção
vacinal para doenças da época, como sarampo, difteria, tétano, tuberculose, poliomielite
etc. Havia outras recomendações genéricas: educação das mulheres, nascimento das
crianças, suplementação alimentar etc. A Estratégia GOBI, de uma APS seletiva, foi a
primeira na contraposição à Alma Ata. E boa parte dos países passaram a seguir as

12
receitas do Banco Mundial, não apenas desenvolvendo a lógica de uma atenção primária
seletiva e recortada, com foco na saúde materno-infantil, como também passando a
pensar sistemas de saúde com os mesmos recortes.

Ela foi inspiradora em todos os sentidos, pela sua grande abrangência,


especialmente para países que não tinham nada. Para fazer atenção primária à saúde,
temos que formar profissionais e equipes. Então, nas universidades, os currículos de
atenção primária à saúde começaram a se desenvolver. Os departamentos de Medicina
Social dessas universidades, com Alma Ata, começaram a desenvolver conteúdos
relativos às ações de atendimento primário à saúde e de formação dos alunos. Portarias,
diretrizes e normas passaram a ser implementadas. As políticas de saúde como
entendemos fizeram parte de um contexto de estímulos para a educação, a pesquisa, a
prestação de serviços, bem como para a organização de sistema. Alma-Ata foi
inspiradora para a Estratégia Saúde da Família, que em boa medida pode ser
considerada uma das experiências mais bem-sucedidas. No Brasil, a Reforma Sanitária
partiu de dentro da academia, de profissionais de saúde vinculados aos departamentos
de Medicina Preventiva, Enfermagem e todas as áreas que estavam se mobilizando por
um sistema público universal de saúde. A produção de conhecimento e a formação
profissional para o SUS e para a atenção primária sempre tiveram uma vinculação com
as universidades e a academia, e isso se aprofundou nos últimos anos com a criação da
UNA-SUS [Universidade Aberta do SUS], que são universidades que formam uma rede
para a formação profissional em saúde.

I. A Conferência reafirma enfaticamente que a saúde - estado de completo bem-


estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou
enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais
alto
nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização
requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor da
saúde.
II. A chocante desigualdade existente no estado de saúde dos povos,
particularmente entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim
como

13
dentro dos países, é política, social e economicamente inaceitável e constitui por
isso objeto da preocupação comum de todos os países.
III. O desenvolvimento econômico e social baseado numa ordem econômica
internacional é de importância fundamental para a mais plena realização da meta
de saúde para todos e para a redução da lacuna entre o estado de saúde dos
países
em desenvolvimento e dos desenvolvidos. A promoção e proteção da saúde dos
povos é essencial para o contínuo desenvolvimento econômico e social e
contribui
para a melhor qualidade de vida e para a paz mundial.
IV. É direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no
planejamento e na execução de seus cuidados de saúde.
V. Os governos têm pela saúde de seus povos uma responsabilidade que só pode
ser realizada mediante adequadas medidas sanitárias e sociais. Uma das
principais
metas sociais dos governos, das organizações internacionais e de toda a
comunidade mundial na próxima década deve ser a de que todos os povos do
mundo, até o ano 2000, atinjam um nível de saúde que lhes permita levar uma
vida social e economicamente produtiva. Os cuidados primários de saúde
constituem a chave para que essa meta seja atingida, como parte do
desenvolvimento, no espírito da justiça social.
VI. Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em
métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e
socialmente
aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da
comunidade,
mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país podem
manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e
autodeterminação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do
qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento
social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de
contato
dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde
pelo

14
qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares
onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um
continuado processo de assistência à saúde.
VII. Os cuidados primários de saúde:
 refletem, e a partir delas evoluem, as condições econômicas e as
características sócio-culturais e políticas do país e de suas comunidades,
e
se baseiam na aplicação dos resultados relevantes da pesquisa social,
biomédica e de serviços de saúde e da experiência em saúde pública.
 têm em vista os principais problemas de saúde da comunidade,
proporcionando serviços de proteção, prevenção, cura e reabilitação,
conforme as necessidades.
 incluem pelo menos: educação no tocante a problemas prevalecentes de
saúde e aos métodos para sua prevenção e controle, promoção da
distribuição de alimentos e da nutrição apropriada , provisão adequada de
água de boa qualidade e saneamento básico, cuidados de saúde materno-
infantil, inclusive planejamento familiar, imunização contra as principais
doenças infecciosas, prevenção e controle de doenças localmente
endêmicas, tratamento apropriado de doenças e lesões comuns e
fornecimento de medicamentos essenciais.
 envolvem, além do setor saúde, todos os setores e aspectos correlatos do
desenvolvimento nacional e comunitário, mormente a agricultura, a
pecuária, a produção de alimentos, a indústria, a educação, a habitação,
as
obras públicas, as comunicações e outros setores.
 requerem e promovem a máxima autoconfiança e participação
comunitária e individual no planejamento, organização, operação e
controle dos cuidados primários de saúde, fazendo o mais pleno uso
possível de recursos
disponíveis, locais, nacionais e outros, e para esse fim desenvolvem,
através
da educação apropriada, a capacidade de participação das comunidades.

15
 devem ser apoiados por sistemas de referência integrados, funcionais e
mutuamente amparados, levando à progressiva melhoria dos cuidados
gerais de saúde para todos e dando prioridade aos que têm mais
necessidade.
 baseiam-se, aos níveis local e de encaminhamento, nos que trabalham no
campo da saúde, inclusive médicos, enfermeiras, parteiras, auxiliares e
agentes comunitários, conforme seja aplicável, assim como em
praticantes
tradicionais, conforme seja necessário, convenientemente treinados para
trabalhar, social e tecnicamente, ao lado da equipe de saúde e para
responder às necessidades expressas de saúde da comunidade.
VIII. Todos os governos devem formular políticas, estratégias e planos nacionais
de ação, para lançar e sustentar os cuidados primários de saúde em coordenação
com outros setores. Para esse fim, será necessário agir com vontade política,
mobilizar os recursos do país e utilizar racionalmente os recursos externos
disponíveis.
IX. Todos os países devem cooperar, num espírito de comunidade e serviço, para
assegurar os cuidados primários de saúde a todos os povos, uma vez que a
consecução da saúde do povo de qualquer país interessa e beneficia diretamente
todos os outros países. Nesse contexto, o relatório conjunto da OMS/UNICEF
sobre
cuidados primários de saúde constitui sólida base para o aprimoramento
adicional e a operação dos cuidados primários de saúde em todo o mundo.
X. Poder-se-á atingir um nível aceitável de saúde para todos os povos do mundo
até o ano 200 mediante o melhor e mais completo uso dos recursos mundiais,
dos
quais uma parte considerável é atualmente gasta em armamentos e conflitos
militares. Uma política legítima de independência, paz. Distensão e
desarmamento
pode e deve liberar recursos adicionais, que podem ser destinados a fins
pacíficos
e, em particular, à aceleração do desenvolvimento social e econômico, do qual
os

16
cuidados primários de saúde, como parte essencial, devem receber sua parcela
apropriada.

A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde concita à ação


internacional e nacional urgente e eficaz, para que os cuidados primários de saúde
sejam desenvolvidos e aplicados em todo o mundo e, particularmente, nos países
em desenvolvimento, num espírito de cooperação técnica e em consonância com a
nova ordem econômica internacional. Exorta os governos, a OMS e o UNICEF,
assim como outras organizações internacionais, bem como entidades multilaterais e
bilaterais, organizações governamentais, agências financeiras, todos os que
trabalham no campo da saúde e toda a comunidade mundial a apoiar um
compromisso nacional e internacional para com os cuidados primários de saúde e a
canalizar maior volume de apoio técnico e financeiro para esse fim, particularmente
nos países em desenvolvimento. A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários
de Saúde concita à ação internacional e nacional urgente e eficaz, para que os cuidados
primários de saúde sejam desenvolvidos e aplicados em todo o mundo e,
particularmente, nos países em desenvolvimento, num espírito de cooperação técnica e
em consonância com a nova ordem econômica internacional. Exorta os governos, a
OMS e o UNICEF,
assim como outras organizações internacionais, bem como entidades multilaterais e
bilaterais, organizações governamentais, agências financeiras, todos os que
trabalham no campo da saúde e toda a comunidade mundial a apoiar um
compromisso nacional e internacional para com os cuidados primários de saúde e a
canalizar maior volume de apoio técnico e financeiro para esse fim, particularmente
nos países em desenvolvimento. A Conferência concita todos eles a colaborar para
que os cuidados primários de saúde sejam introduzidos, desenvolvidos e mantidos,
de acordo com a letra e espírito desta Declaração,

17
Conclusão

Concluímos que os cuidados de saúde primários é uma abordagem de toda a sociedade à


saúde e bem-estar, centrada nas necessidades e preferências das pessoas, famílias e
comunidades. Aborda os determinantes da saúde mais vastos e incide sobre os aspectos
completos e interrelacionados da saúde física, mental e social e do bem-estar, e também
a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde concita à ação
internacional e nacional urgente e eficaz, para que os cuidados primários de saúde
sejam desenvolvidos e aplicados em todo o mundo e, particularmente, nos países
em desenvolvimento, num espírito de cooperação técnica e em consonância com a
nova ordem econômica internacional. Exorta os governos, a OMS e o UNICEF,
assim como outras organizações internacionais, bem como entidades multilaterais e
bilaterais, organizações governamentais, agências financeiras, todos os que
trabalham no campo da saúde e toda a comunidade mundial a apoiar um
compromisso nacional e internacional para com os cuidados primários de saúde e a
canalizar maior volume de apoio técnico e financeiro para esse fim, particularmente
nos países em desenvolvimento

18
Referência bibliográfica

MISAU. Cuidados de Saúde Primários em Moçambique, República Popular de


Moçambique. 128pp.

Fonte: Ministério da Saúde.

19

Você também pode gostar