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CAPÍTULO 1
DOM AMANDO BAHLMANN: O MISSIONÁRIO DA EDUCAÇÃO
DO BAIXO AMAZONAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX
INTRODUÇÃO
Do ponto de vista da história da educação a congregação dos
Frades Menores de São Francisco de Assis foi a responsável em estruturar
e alavancar a educação da região do Baixo Amazonas no início do sé-
culo XX. Seu legado ainda é evidente nas escolas centenárias que ainda
hoje formam no ensino fundamental e médio uma boa parcela de crian-
ças e jovens da região como as Escolas Santa Clara e São Francisco em
Santarém; São José e São Francisco em Óbidos; Imaculada Conceição
em Monte Alegre. Esse legado foi iniciado em 1907 com a chegada de
um dos principais nomes da historiografia da região o franciscano
Amando Bahlmann, alemão da cidade de Bartmansholte que, em 1908,
foi sagrado bispo, por ordem do papa Pio X. Dom Amando trabalhou por
mais de 30 anos como bispo da Prelazia3 de Santarém e deixou uma
vasta herança de serviços prestados à região, como construções de es-
colas, hospitais e abrigos. Ainda fundou a Congregação da Imaculada
Conceição que administra a rede de escolas Santa Clara.
O.F.M. Coleção “Centenário”11. São Paulo. Cúria Provincial Franciscana, 1995. Boa
parte das informações deste subitem foi retirada deste livro de d. Amando Bahlmann.
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Padre Bernardo trabalhou nas missões jesuítas no Rio Grande do Sul. Morreu em Porto
Alegre no dia 28 de fevereiro de 1916, vítima de tuberculose. Contraiu a doença no
trabalho missionário.
7 Kulturkampf consistiu no litígio entre a Igreja Católica e os governos de língua alemã,
não havia mais conventos franciscanos próximos de sua cidade, foi en-
tão que teve a ideia de escrever uma carta para a província de Munique
na Baviera onde o Kulturkampf tivera pouca influência.
Não tardou em chegar a resposta da Baviera o aceitando como
postulante à ordem de Francisco. Sua principal obrigação era levar um
atestado, redigido pelo diretor da escola, informando suas qualidades
como ser humano e seu comportamento e assiduidade como estudante.
Dr. Wennemer, diretor da escola em Vechta, refletiu profundamente so-
bre esse pedido e não se convenceu com a ideia de Augusto ir para tão
longe. Logo ofereceu ajuda para que o rapaz fosse estudar no convento
de Havereld, na Holanda, província da Saxônia, bem mais próximo do
que a Baviera. Dr. Wennemer solicitou, através de carta, o ingresso do
jovem Augusto ao Pe. Othmar Maasmann que era provincial em Have-
reld. O pedido foi imediatamente aceito e Augusto seguiu para Holanda.
Em Havereld entrou no noviciado e recebeu os hábitos francisca-
nos e em seguida recebeu o nome de Amando. Nesse convento apro-
fundou-se nos estudos franciscanos, filosofia e teologia. Como conse-
quência do seu destaque intelectual no convento Havereld Amando foi
enviado a Roma, para estudar no colégio Irlandês Santo Isidoro e tam-
bém frequentar a Universidade do Colégio Urbaniano da Propaganda
Fide. Em Roma aperfeiçoou-se em latim, inglês, italiano, história eclesiás-
tica, teologia moral e filosofia. Em 1879 se tornou franciscano, definitiva-
mente, em 1888 foi ordenado sacerdote e em 1889 recebeu o grau de
doutor ao defender em latim sua tese sobre Dogmática e Liturgia.
Ainda quando estudava em Havereld, Amando ficou interessado
pelas missões franciscanas na China, onde havia grandes desafios rela-
tados por missionários que por lá haviam trabalhado. Então, no planeja-
mento de vida, era para a China que iria como missionário após terminar
os estudos.
Ao finalizar os estudos filosóficos em Roma, chegou a notícia tra-
zida pelo bispo do Rio de Janeiro, Dom João Fernando Tiago Esberard
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O episódio da ida forçada de frei Amando para Alemanha está muito obscuro em seu
livro de memórias, não é fácil compreender. Nas entrelinhas pode-se deduzir que houve
um desencontro de informações entre Amando e seu provincial. Com sua ida para a
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Alemanha e diálogo com seu superior tudo ficou resolvido e ele retornou ao trabalho
missionário no Brasil. Idem, p.72.
10 As missões populares na Igreja Católica consistem em uma série de pregações, pales-
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Segundo Aquino (2012) o Governo Republicano atribuiu boa parte da culpa do con-
flito em Canudos no interior da Bahia à Igreja Católica que segundo seus argumentos
não tinha controle sobre seu rebanho deixando lideranças messiânicas como Antônio
Conselheiro influenciarem em um número elevado de pessoas, causando instabilidade
social. Em todo o país havia manifestações religiosas com origem no catolicismo, mas
que não tinham relação institucional com a Igreja Católica, como as irmandades e os
centros de devoções ou eremitérios. Tais manifestações sem controle eclesial eram um
risco para a organização e proliferação de insurgências, como aconteceu em Canu-
dos. Tabraj (2016) relata que ao final do século XIX e início do século XX houve no Brasil
uma mudança radical no culto católico, em que se acentuou a proibição de manifes-
tações religiosas fora do ambiente da igreja e se ampliaram as devoções ao terço ma-
riano e apostolados de oração. Os padres e as freiras tinham o total controle sobre os
devotos, a essa mudança deu-se o nome de Romanização do culto católico.
12 Tabraj (2016) reporta que em documento intitulado Carta Pastoral de 1890 a Igreja
para qual província franciscana o novo bispo deveria dirigir-se para pedir
padres ou ajuda financeira. Ao solicitar ajuda à Província de Santo Antô-
nio na Bahia foi-lhe imediatamente negada (falta de regulação). A ale-
gação era o alto custo para financiar uma prelazia com pouca estrutura
e também não queriam deslocar seus padres para uma terra muito dis-
tante. Dom Amando teve que se dirigir diretamente ao Vaticano para
esclarecer o mal entendido e pedir a reelaboração do Decreto para que
ficasse claro a qual província franciscana a prelazia de Santarém deveria
estar ligada. Em 6 de abril de 1909, foi expedido o novo decreto esclare-
cendo que a responsabilidade em contribuir com a Custódia de São Be-
nedito da Amazônia era da Província de Santo Antonio do Brasil com
sede na Bahia (BAHLMANN, 2015, p. 98). Com isso resolvido, Dom Amando
começou a conjecturar a solução de dois problemas: suprir a carência
de padres para missões e de padres e irmãos para tomar conta das es-
colas para meninos e meninas. Como a província de Santo Antônio es-
tava ligada a província da Santa Cruz em Bardel na Baixa Saxônia, D.
Amando poderia solicitar padres bem formados diretamente para a fun-
ção primordial de cuidar da educação masculina. Para cuidar da edu-
cação feminina teria que buscar freiras nas mais diversas congregações,
tarefa que se mostrou de difícil resolução.
Com a visão administrativa aguçada, D. Amando observou o po-
tencial econômico da região, para o financiamento das escolas que ia
começar a construir. Em Óbidos e em Santarém havia uma boa quanti-
dade de comerciantes de produtos tropicais que poderiam pagar as
mensalidades escolares de seus filhos. As conjunturas econômicas e polí-
tica da época não davam condições de oferecer educação gratuita à
população. Isso só irá ocorrer efetivamente a partir da Constituição de
1934. Então era necessário cobrar mensalidade de quem podia pagar e
conceder bolsa de estudo a quem não podia. Segundo Frei Vianey Miller
a maioria dos padres e irmãos franciscanos, além das funções religiosas
tinham que ministrar aulas e também adquirir recursos de seus familiares
e amigos estrangeiros para a manutenção dos educandários, pois o que
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As quatro freiras Concepcionistas eram Madre Coleta da Imaculada Conceição, que
se tornou abadessa do convento em Santarém, e depois fundou a missão com os índios
Cururu; Irmã Verônica da Santíssima Trindade e Irmã Maria do Carmo do Coração de
Jesus, que deixaram a Ordem pedindo secularização; Irmã Maria do Patrocínio de São
José, que conseguiu transferência para o mosteiro da Glória no Recife onde faleceu 5
anos após deixar a missão em Santarém (SANTANA, 2010,p.02).
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Militar, era coronel da guarda nacional e presidiu a Câmara Legislativa de Santarém
em 1876 e em 1886. Recebeu o título de Barão, em 1888, um ano antes da Proclamação
da República. Disponível em: <http://www.jesocarneiro.com.br/memoria/ha-95-anos-
morria-o-barao-do-tapajos.html >
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17 São José foi o nome dado ao Hospital construído sob a responsabilidade das irmãs
Clarissas da Imaculada Conceição, que funcionou de 1930 a 1942, quando foi desati-
vado. Em 1943 o local foi transformado na Escola Dom Amando, ainda sob a responsa-
bilidade das irmãs. Em 1951 a escola foi transferida para a administração dos irmãos
americanos da Santa Cruz. FONSECA, 1995.
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cola em 1943.
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João Franco: Estadista (...), ministro e secretário de Estado dos Negócios do Reino;
conselheiro de Sua Majestade e de Estado. Incapaz de governar com os instrumentos
do parlamentarismo, recorre à repressão e à ditadura ("à turca", como então se dizia).
Encerradas as Cortes, remodela o governo a 2 de Maio, afastando os ministros do Par-
tido Progressista. Os protestos contra a instauração da ditadura foram imediatos e es-
tenderam-se à imprensa, aos deputados e pares do reino, ao Conselho de Estado, às
Câmaras Municipais, à Associação Comercial de Lisboa, etc. As reações à ditadura de
João Franco e, em especial, à repressão que conduziu, abriram caminho ao regicídio e
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apressaram a República. Arquivo & Biblioteca - Fundação Mário Soares. Disponível em:
< http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00437>. Acesso em: 15/09/2018.
22 No início da década de 1890, Sebastião de Magalhães Lima passou a ser um dos
principais vultos do Partido Republicano, defendendo um republicanismo de pendor so-
cialista utópico, advogando, no entanto, um entendimento entre a burguesia e o pro-
letariado. Quando do ultimato britânico de 1890, encabeçou a contestação antibritâ-
nica e antimonárquica. Disponível em: < http://sites.ecclesia.pt/cv/sebastiao-de-maga-
lhaes-lima-politico-e-jornalista-republicano/. >. Acesso em: 15/09/2018.
23 A trajetória do carisma franciscano hospitaleiro em solo brasileiro iniciou com o convite
feito por Dom Amando Bahlmann, OFM, Bispo de Santarém, no Pará, em busca de apoio
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A chegada dos Franciscanos para o Baixo Amazonas, sob a lide-
rança de D. Amando Bahlmann, a partir do ano de 1907, mudou a pers-
pectiva educacional da região em virtude de seu empenho em construir
e estruturar escolas com padrão administrativo e educacional. É impor-
tante ressaltar que os religiosos tiveram um papel primordial na consoli-
dação política do regime republicano no país e consequentemente com
o fortalecimento da burguesia agroexportadora da região, contudo não
se pode desconsiderar a obra dos franciscanos em benefício da socie-
dade. Quando iniciaram as atividades educacionais foram os próprios
24Dom Tiago Ryan, nascido na America do Norte, bispo da Ordem Franciscana. 5º pre-
lado e 1º bispo diocesano de Santarém (1958-1985). Disponível em: < https://www.di-
ocesedesantarem.org.br/>. Acesso em: 15de set.2018.
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REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Maria Betânia Barbosa; BARROS, Marilene Maria Aquino
Castro de. A formação de mulheres na Amazônia: entre o rigor dos sabe-
res científicos e o refinamento dos saberes à mesa. Revista Cocar. Belém,
vol. 7, n.13, p. 59-68/ jan-jul 2013.
CAPÍTULO 2
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo trazer para o campo da dis-
cussão o ideal de formação humana cidadã numa região que emana
diversidade e singularidades - a Amazônia brasileira. Longe de apresentar
uma visão cética sobre o cenário atual da região, tampouco propor fór-
mulas para mudanças, é, sobretudo, um esforço reflexivo sobre a educa-
ção escolar no contexto amazônico, com foco especial para a juven-
tude desta área geopolítica do nosso país.
Como pensar uma educação para a juventude que possa promo-
ver a emancipação do indivíduo enquanto sujeito crítico e corresponsá-
vel eco socialmente diante de uma região de grande extensão territorial
como a Amazônia?