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UVA | Universidade Veiga de Almeida

DIREITO, JUSTIÇA E SOCIEDADE


DIREITO, JUSTIÇA E SOCIEDADE

Trabalho acadêmico apresentado à


disciplina de (nome da disciplina) do
curso de Direito da UNIVERSIDADE
VEIGA DE ALMEIDA como requisito de
nota parcial do semestre.

Orientador: Prof.

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Iniciais


A relação entre Direito e Justiça é um dos temas mais fundamentais e
discutidos tanto no domínio jurídico quanto social. Embora muitas vezes utilizados
como sinônimos, esses conceitos têm particularidades distintas e, ao mesmo tempo,
estreitamente articuladas. Por um lado, o Direito é um componente da Justiça, e, por
outro, a ideia cínica de que o Direito é implicitamente a própria Justiça, em si e com
toda a extensão da responsabilidade pela adoção de qualquer ação, é
completamente oposta à relação entre esses termos. O fundamento dessa questão
está na própria natureza da Justiça, tornando-a um fenômeno ambíguo. De um lado,
os valores morais e éticos da Justiça moderna, como liberdade, igualdade e
dignidade, estão sempre em constante fluxo. Os traços palpáveis do mesmo Direito
são um sistema de normas e princípios desenvolvidos historicamente e
regulamentando a vida social.

Portanto, é crítico reconhecer que, embora o Direito seja um sistema humano


projetado para garantir Justiça, ele pode falhar em fazer isso. Esta incapacidade de
alcançar a harmonia deve-se a fatores como a rigidez das normas, a inabilidade de
se adaptar e a incapacidade de antecipar as mudanças sociais e se tornar mais
sensível. De acordo, há uma necessidade emergente de abordar criticamente as
interações entre Direito e Justiça e examinar a função dos operários do Direito no
que tange a realização dos ideais de Justiça.

Neste sentido, ao percebermos que a criação e aplicação do Direito não se


limitam à esfera legislativa, mas também à interpretação e adaptação a demandas
sociais, podemos identificar o papel dos operadores jurídicos, como juízes,
advogados e jurisprudentes, na construção de uma sociedade mais justa e
igualitária. De fato, esses agentes são responsáveis pela realização dos princípios
de justiça, muitas vezes moldando o direito em função das necessidades e valores
da sociedade. Conforme apresenta o quadro, esta introdução visa a oferecer uma
abordagem introdutória da relação complexa entre Direito e Justiça, explorando suas
interligações e desafios. Por meio dela, procura-se não apenas descrever as
nuances da relação, como pensar sobre o papel dos operadores jurídicos na
realização de uma justiça efetiva e transformadora.

2 Desenvolvimento

2.1 A FINALIDADE DO DIREITO É A REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA

A interseção do Direito e da Justiça é um tópico central que atravessa várias


discussões sociais, pois, como indicado acima, são frequentemente tratados como
sinônimos. No entanto, é fundamental entender que, enquanto o Direito é uma
construção humana, historicamente desenvolvida para aproximar a sociedade e
promover a justiça, a própria noção desta ultrapassa as diretrizes legais. De fato,
inclui propagar valores fundamentais de liberdade, igualdade, fraternidade legislativa
e dignidade humana. Tudo isso foi promulgado muito antes que o Direito passasse a
ser algo além de um duro conjunto de regras. Portanto, pode-se dizer que, se o
Direito busca a Justiça, a última é um conceito em constante mudança e a primeira é
um conjunto de regras destinadas a refletir esses conceitos de valores. Entretanto, a
concretização desse ideal humano, por vezes, não se satisfatória, seja por causa da
falta de adequação do Direito ao transformar social, ou pela falibilidade dos agentes
responsáveis por sua concepção, ou até mesmo pela falta de interesse político em
torná-lo real, o que pode torná-lo, por vezes desejadas, também injusto. Tal qual o
horizonte, na medida que se busca se aproximar, ele se distancia, o Direito ao atingir
a Justiça é incapaz, passa e está sempre em movimento e constante evolução com
a progresso da sociedade.

2.2 A CRIAÇÃO DO DIREITO NÃO É OBRA EXCLUSIVA DO


LEGISLADOR

A segunda questão abordada destaca o papel fundamental desempenhado por


vários operadores do Direito para a concretização do mesmo, não se limitando
unicamente ao legislador, como geralmente se acredita. Apesar de ser o legislador
aquele que cria leis, o Direito vai além da legislação no sentido de incluir uma maior
variedade de interpretações e de aplicações. Tal qual a partitura não esgota a
música, a lei não exaure o Direito. O critério em torno da aplicação do Direito
depende da capacidade e sagacidade destes operadores, que devem adequar as
leis à justiça, mesmo que esta última não seja estipulada de forma inequívoca pelas
mesmas. Essa interpretação criativa é a essência do trabalho dos verdadeiros
juristas, que lutam por justiça, mesmo quando não está codificada na lei. A escola da
exegese também perdeu influência, uma vez que a sociedade percebeu que os
juízes baseavam as suas decisões nos mesmos princípios democráticos que
inspiraram a criação de leis, procurando a justiça para além das limitações literais da
lei. Um exemplo é a responsabilidade civil, justiça sendo reinterpretada de culpa
demonstrada, para risco integral, após significativas mudanças sociais e
tecnológicas no último século. Este exemplo demonstra que a evolução não foi feita
apenas através de legisladores, mas também por juristas ousados que inventavam
novas soluções legais para ajustar o direito com as exigências da sociedade.

2.3 A FINALIDADE DA JUSTIÇA É A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL


A terceira questão abordada enfoca a finalidade da Justiça que seria a
transformação do social. Essa finalidade visa à formação de uma sociedade justa,
nos moldes do artigo 3 da nossa Constituição. A sociedade justa conforma a própria
Constituição rejeita todo preconceito de raça, sexo, cor ou idade e entende por
sociedade justa uma sociedade livre, solidária, sem pobreza e desigualdades
sociais, em que cidadania e dignidade da pessoa humana norteam o Instituto.
Assim, como profissionais do Direito, é imprescindível que não se aplique a lei
quando a aplicação é feita de maneira contrária a esse objetivo, mesmo que a lei em
si não seja a ideal

2.4 O PROBLEMA DA LEI INJUSTA


O quarto subtítulo é “sobre o problema da lei injusta e sobre o papel da
responsabilidade dos operadores de direito”. Embora certamente sejam comuns as
declarações de que a questão da justiça ou injustiça da lei é inteiramente ética para
o legislador, a posição contrária também merece ser cuidadosamente considerada.
É verdade que a lei é aprovada pelo legislador, mas essa lei funciona, em outros
termos, apenas quando é realmente aplicada a alguém. Essa é a responsabilidade
ética do juiz e dos outros operadores diretos, algo semelhante à má lei é a
responsabilidade ética do legislador, má sentença; esse último tem tremendo efeito
em todos os efeitos sociais diretamente ligados. Portanto, é primordial que não
interpretemos ou apliquemos qualquer lei de forma que a resulte em indignidade
humana, desigualdade social e aumento da pobreza, ao fazê-lo estaremos negando
a própria justiça. Como operadores do Direito, somos necessariamente
comprometidos e vinculados não à lei, mas ao Direito e à Justiça. A justiça ou
injustiça de uma sentença não é por responsabilidade do legislador, mas dos juízes
e demais operadores do Direito aos quais é dirigida a prescrição, venha ao texto ou
ao caso concreto. Uma lenda oriental exemplifica de forma expressiva essa
responsabilidade aos operadores do Direito. A lenda conta a história de uma aldeia
que, por sigilo com um antigo profeta, há muitos anos mantinha rigorosa lei que
limitava o consumo diário de frutas, resultando em abundância na região. Por outro
lado, diante da mudança das circunstâncias e da evolução da sociedade, o povo
mantém-se fiel à antiga lei. Assim, cria-se um estado impossível, impedindo a
adaptação às novas condições. Isto é evidente no mundo jurídico, uma vez que a
Convenção de Varsóvia de 1929 limitou a responsabilidade do transportador aéreo.
Portanto, era uma lei racional naquele momento, à medida que o avião era um dos
meios mais perigosos de transporte com a maioria das poucas possibilidades de
sobreviver a um acidente. Mas, por mais paradoxal que pareça, a ciência e a
tecnologia foram longe, e o avião se tornou o meio de transporte mais seguro até
hoje. Apenas a nova lei sobre responsabilidade objetiva ilimitada dos fornecedores
de serviços, incluindo transportadores de aéreos, não foi aplicada imediatamente por
várias razões. Mais uma vez, isso mostra que o problema da decisão injusta não
ocorre apenas no próprio legislador, mas também nos operadores do Direito, cuja
falta de sensibilidade social pode resultar em sentenças injustas, mesmo quando a
lei é eficazmente elaborada.

2.5 O PROBLEMA DA LEI INJUSTA


O quinto subtítulo aborda o poder transformador do Direito, uma vez que é criado
e aplicado corretamente. Ou seja, “o Direito, em última instância, não pode ser
deixado em indiferença aos valores da justiça; ao contrário, ele age conformando ou,
pelo menos, transformando a realidade na qual está inserido”. O Código de Defesa
do Consumidor é um exemplo perfeito dado por autores para ilustrar o poder
transformador do Direito. O CDC “é uma legislação avançada, criada por juristas
competentes”. Porém, a eficácia quase não ocorreu devido à relutância inicial dos
operadores do Direito em seguir seus preceitos. No entanto, em locais onde foi
aplicado corretamente, seus benefícios foram óbvios. Deve-se dizer que houve uma
massificação sobre a questão do Direito do Consumidor, e uma modificação
expressiva da conduta das empresas, como é exemplificado pelo recolhimento e
destruição de milhões de pneus defeituosos da marca Firestone pela Montadora
Ford. Um outro exemplo utilizado foi o próprio veto do Governo em utilizar o CDC,
com a afirmação de que a situação da crise energética era uma situação fora de
proteção pelo CDC. Porém, o movimento dos juristas, da OAB e dos consumidores
fez o Governo rever a sua posição, o que mostra que o Direito tem sim capacidade
de gerar transformações significativas quando há aplicação correta. Esses dois
casos ilustram bem o poder do Direito e como ele pode modificar positivamente a
sociedade quando busca a aplicação justa pelos operadores do sistema jurídico.

2.6 ADEQUAR O DIREITO À JUSTIÇA OBRA PERENE DO


OPERADOR DO DIREITO

O último subtítulo ressalta que a legislação, embora suficiente, ainda exige que o
operador de Direito a ela se amolde à Justiça. Como a doutrina sugere, visto que a
Justiça é um conceito fluido em rápida evolução, é vital que os novos atos legais
sejam constantemente forjados e ajustados para servir a mudanças sociais e ideais
emergentes de Justiça.

Por exemplo, um caso do Superior Tribunal de Justiça. Um homem comprou uma


máquina filmadora nos Estados Unidos e a enviou ao Brasil, onde ela se quebrou
assim que chegou. O representante da marca argumentou que não vendeu ou
importou ao consumidor brasileiro e, portanto, não poderia ser responsabilizado. A
lei consignada no Código de Defesa do Consumidor não se aplica claramente a este
caso. No entanto, o Supremo Tribunal de Justiça, responsabilizou a empresa no
Brasil pelo ocorrido, demonstrando a importância da defesa do consumidor em uma
economia global. A resenha reitera ainda que se o objetivo do direito é a justiça, e a
justiça é a transformação social em uma sociedade justa e equitativa, todos os
operadores jurídicos são responsáveis por um direito verdadeiramente justo.
Reforça-se que, apesar de o legislador criar a lei, ela é só uma parte do Direito, pois
sua aplicação e interpretação adequadas são necessárias para sua eficácia.
Reforça-se também que, no início deste novo século, se coloca o desafio de
continuar a alinhar o Direito à Justiça, a fim de construir uma sociedade mais justa e
fraterna para as futuras gerações.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, o debate proposto sobre a relação entre Direito e Justiça demonstra o


quão complexa essa interação é. Mesmo sendo interconectados, muitas vezes eles
caminham isoladamente. Para esclarecer essa alegação, entende-se que enquanto
o Direito é uma criação humana, a Justiça é um valor universal e, por vezes,
transcendente. Assim, fica evidente a importância de constantemente alinhar essas
duas esferas.

Tratou-se acerca do relevante papel dos operadores do Direito tanto criador quanto
aplicador das leis, para estimular que a interpretação e adequação do Direito à
Justiça não é apenas responsabilidade do legislador. Ao contrário, o juiz e o
advogado e todos os profissionais da área em geral também a observam.
Exemplificações concretas à sequência do trabalho, isto é, o CDC e a
responsabilização empresarial em um contexto de globalização, permitiram verificar
que esses profissionais podem sim atuar como heróis.
Em suma, a compreensão do fato de que o Direito transforma é a prerrogativa de
que, se o Direito é aplicado em linha com todos esses regulamentos, as leis devem
se desenvolver junto com os desejos sociais e os novos padrões de Justiça. Para
mencionar um exemplo, o caso da máquina filmadora e a atuação do Superior
Tribunal de Justiça testemunhou a necessidade de uma maneira mais dinâmica de
interpretar a legislação para proteger a influência dos princípios de justiça em um
mundo mutante.

Assim, pode-se concluir que este trabalho possibilita fortalecer o compromisso dos
operadores do Direito com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
Afinal, essa é uma tarefa contínua que exige ações de aprimoramento e de
constante reflexão e renovação, adaptando-se às novas demandas sociais. Diante
dos desafios do século atual, é imperativo que esses profissionais procurem se
engajar na harmonização do Direito e da Justiça, com a promoção do bem-estar
social e dos valores democráticos e humanitários.
5. REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA

DIREITO, JUSTIÇA E SOCIEDADE SERGIO CAVALIERI FILHO Desembargador do


TJ/RJ. Diretor-Geral da EMERJ. Professor da Universidade Estácio de Sá.

Revista da EMERJ, v.5, n.18, 2002

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