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Como uma flor de palmeira (Salmo 92)

Descobri, lendo para escrever a coluna, que existem mais de 2.500 tipos diferentes de
palmeiras, 500 delas só no Brasil. A gente come coco e toma açaí, pede um palmito na
salada e nem se toca que tudo isso é palmeira, meu povo! Muitas palmeiras são
decorativas. Todas elas possuem uma característica, que é parecer árvore sem ser,
porque não possuem madeira no seu tronco! Mesmo assim, surpreendentemente fortes,
elas crescem, podendo chegar a 30 metros de altura!
Assim como as jaboticabas brasileiras, a tamareira, palmeira mais conhecida dos tempos
bíblicos, também tem a peculiaridade de demorar muito tempo para dar seus frutos. A
habilidade de alterar a genética dessas plantas, com hibridização, nos deu a
oportunidade de hoje, uma tamareira começar a produzir com apenas quatro anos de
vida. Mas os árabes têm um ditado de que quem planta tâmaras não come dos seus
frutos.

A fruta e o salmo
No site bíblia.com.br, encontramos algumas referências bíblicas às palmeiras,
provavelmente de tamareiras. Ali, temos as seguintes informações: “Na jornada dos
filhos de Israel pelo deserto destacavam-se as palmeiras de Elim (Êx 15.2l – Nm 33.9).
As barracas na festa dos tabernáculos deviam ser feitas em parte com palmeiras (Lv
23.40). Jericó era conhecida pelo nome de ‘cidade das palmeiras’ (Dt 34.3 – 2 Cr 2S.15
– cp. com Jz 1.16 – 3.13). Débora habitava debaixo das palmeiras, que estavam em
ligação com o seu nome (Jz 4.5). As palmas admiravam-se na obra de entalhe do templo
de Salomão (1 Rs 6.29, etc.). Com respeito a nomes que a palmeira sugeria, temos
Tamar, Baal-Tamar, Hazazom-Tamar. Quando Jesus entrou em Jerusalém, o povo foi
ao seu encontro com palmas (Jo 12.13). As referências simbólicas feitas à palmeira
mostram que esta árvore era então, como é agora, considerada como tipo de graça e de
beleza. Cantares de Salomão (7.7) referem-se à sua elevada estatura – o salmo 92
(12,14) alude à sua verdura, fertilidade, e duração”.
Essa variedade de usos e presença confirma as pesquisas que mostram que a palmeira
era considerada uma árvore sagrada. Havia ditos de que um beduíno poderia percorrer o
deserto por três dias com a energia de uma única tâmara. E os estudos de hoje
demonstram seu poder antiinflamatório, sua capacidade de produzir hormônios ligados
à produção de energia no corpo e diminuição do estresse, os tipos de óleos que cada
palmeira produz servem a muitos usos... enfim, uma planta poderosa.
O salmista chega a ela ao final de seu cântico, depois de explorar sua relação com Deus.
Vemos em suas palavras que o justo que floresce como palmeira deve, portanto, suas
qualidades a este relacionamento e suas consequências para a vida plena e abundante.

A doçura do louvor
Assim como a tâmara, as palavras de louvor são doces e produzem bem-estar. O
salmista nos relata essa sensação, descrevendo o arco do dia como uma possibilidade de
conhecer toda a extensão da graça divina. De manhã, falamos de sua bondade, pois
esperamos que coisas boas e bênçãos nos sucedam neste dia e que sejamos guardados de
todo o mal. À noite, vivos e preservados, somos capazes de reconhecer sua fidelidade,
isto é, sua qualidade de ser confiável, pois assim como pedimos, foi. A canção acontece
em ritmo solene, com ênfase na reverência, ao som de instrumentos de cordas, como o
saltério e a harpa. Quero te convidar a uma pausa na leitura. Pesquise no seu
computador ou celular o som do saltério. Feche os olhos por um momento e, inspirando
com calma, deixe o som encher seus ouvidos, ecoar no seu peito, tocar seu coração.
Entre no ritmo deste louvor solene e calmo, pois a noite é tempo de repouso e de
quietude. As sombras deixam de dar medo, repousamos na confiança divina e
experimentamos uma sensação próxima ao que o salmista descreve. A tâmara, com suas
capacidades relaxantes, nos lembra que o descanso deve ser aproveitado e, estando na
presença de Deus, o relaxamento torna o louvor mais íntimo, como música suave que se
dança enquanto ouve ao pé do ouvido. Entre nesse ritmo de adoração por um tempo
apenas...

A satisfação da alegria
A sensação de bem-estar nos leva a produzir bons hormônios no corpo e com eles vêm a
alegria e o prazer. É assim, alegre, que o salmista pensa nos feitos de Deus (v.4-8). A
tolice do homem néscio, que não compreende as coisas de Deus, reside nessa
incapacidade de gratidão: seus planos autocentrados são rápidos para acontecer, como a
erva daninha. A planta que produz fruto geralmente exige tempo de cultivo e dedicação.
Ser justo é um trabalho de longo prazo que Deus faz na alma da gente. É por isso que
parece haver mais impiedade do que justiça nesse mundo. Quando não entendemos isso,
podemos ser surpreendidos pela desesperança e até tomados pelo desespero. Mas olhe
de novo: os ímpios parecem muitos, como a erva, mas não resistem aos tempos difíceis.
Eles secam e somem logo. Mas veja a bondade: ela resiste, renova-se, brota e se
multiplica, assim como a tamareira!
O salmista reforça que Deus está nas alturas. É preciso crescer para encontrá-lo. Há uma
potência nessa metáfora que ele usa! Gente rasa não pode entender de Deus. Gente que
se encolhe, que quer as coisas depressa. Gente que não tem tempo de cultivar sua alma e
que não encontra forças nos tempos difíceis vai viver pequeno. Para ser justo é preciso
crescer. E para crescer, é preciso resistir a tudo o que queira lhe derrubar. Deus está nas
alturas, mas seus inimigos, não. Por isso, eles perecem e são dispersos, não aprofundam
raízes e não avançam para cima. Uma tamareira pode ser amarrada, mas ainda assim ela
cresce para o alto. Nada detém seu crescimento. Assim é com o justo, pois seu anseio é
encontrar o Deus que habita nas alturas!

O óleo da unção
No verso 10, o salmista fala que seu poder foi elevado e ele foi ungido com óleo fresco.
Outra característica das palmeiras é produzir óleos a partir de seus frutos ou sementes.
No caso da tamareira, até hoje os óleos de suas sementes são usados em processos de
saponificação, isto é, como base para sabonetes e cremes hidratantes para a pele. O óleo
fresco, passado sobre a pele, tira a sequidão do deserto e protege a pele de danos
causados pelo sol, pelo mau tempo e pelo passar dos anos. Há uma regeneração celular.
Os cabelos também podem ser hidratados e ficam sedosos e brilhantes.
A prática bíblica da unção com óleo vai se tornar um ritual para marcar o início do
ministério de reis, profetas e sacerdotes. Mas o óleo, no cotidiano, era remédio
constante nas casas. Ele também curava feridas, com seu potencial cicatrizante.
A presença de Deus na nossa vida tem esse resultado. Não apenas podemos usufruir do
óleo que ele nos dá, mas nossa vida mesma pode produzir esse efeito nas outras pessoas.
O justo não apenas é ungido, mas sua presença é óleo fresco na vida de muitos!

O tempo da floração
Os justos florescerão, promete o salmista, plantados na casa de Deus. Assim como o
cedro, árvore nobre, a palmeira é mencionada como exemplo de longevidade. O justo
cresce, matura e floresce. Este tempo é ansiosamente esperado, porque as flores
sinalizam que, em breve, os frutos virão. Também demonstram que a planta venceu o
teste do tempo e está madura. Compreendendo o ciclo de vida de uma tamareira, fica
fácil compreender por que o salmista diz que “na velhice, darão frutos, serão viçosos e
florescentes” (v.14).
A tâmara, não sem razão, é chamada de tesouro do deserto, por sua capacidade de salvar
a vida do transeunte cansado. Assim é o justo. Sua raiz está na casa do Senhor.
Florescendo e crescendo, ele produz folhas para cobrir casas, para tecer cestos. Seus
frutos alimentam as pessoas.
Quando uma palmeira é cortada, ela ainda entrega um valioso alimento escondido em
seu interior, que é o palmito. Assim também é o justo. Geralmente, quando vamos a um
velório de uma pessoa justa, vemos camadas e camadas sendo descascadas nos
testemunhos. Até os parentes se surpreendem com atos de bondade que jamais
imaginaram que aquela pessoa era capaz de produzir! Em meus anos de pastora, vi isso
muitas vezes... que inspiração poderosa!

Tudo isso anuncia que o Senhor é reto


Ao contrário do ímpio, que é autocentrado, a vida do justo aponta para a retidão de
Deus. É dele que vem a natureza, o propósito e os frutos dessa palmeira. Sua doçura
deriva do solo sagrado no qual é plantada. Sua florescência aponta para a graciosidade
de Deus. Sua altura sinaliza de longe que estamos perto de um oásis no meio das nossas
buscas. Que coisa magnífica é o justo! Que assim seja a nossa vida, anunciando a
retidão do Senhor com frutos doces, sombra refrescante, crescimento constante e
alimento interior! Louve a Deus com sua vida, seja como uma palmeira!

Bispa Hideide Brito Torres


Oitava Região Eclesiástica (DF, RN, GO, TO, MT)
hideide@gmail.com

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