UFCSPA • Fı́sica Médica • Práticas Profissionais III • Prof. Dr.

Mirko Alva

Relatório Medidas no Eixo central (PDD ou PDP)

Amanda Milak, Eduarda Montenegro e Georgia Sandler
Curso de Bacharelado em Fı́sica Médica
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - RS

Resumo

A Porcentagem de Dose em Profundidade (PDP) é um conceito em radioterapia que descreve a variação da dose de radiação
absorvida pelo tecido em relação à profundidade no corpo durante o tratamento. É expresso como a porcentagem da dose máxima
medida na superfı́cie do paciente, fornecendo informações essenciais para garantir a precisão e eficácia da radioterapia. Este trabalho
tem como objetivo de caracterizar a porcentagem de dose em profundidade de um feixe de fótons de alta energia. A PDD foi obtida em
um acelerador linear clı́nico, utilizando um filme radiocrômico posicionado verticalmente entre placas de águas sólidas.

Palavras-chave— radioterapia, porcentagem de dose em profundidade, filmes radiocrômicos, parâmetros dosimétricos

I. Introdução completamente instantaneamente, mas pode continuar a escu-

A utilização da radioterapia para tratamento contra o câncer
vem sendo cada vez mais presente e essencial na medicina. Esse
tratamento utiliza principalmente aceleradores lineares com fei-
xes de fótons e elétrons de alta energia para impedir que as
células tumorais multipliquem-se. (GONÇALVES, 2017)
Devidos aos riscos associados à exposição à radiação ioni-
zante, organizações internacionais vem criando protocolos para
prevenir esses danos e para garantir que as doses de radiação en-
tregues nos tratamentos de radioterapia sejam condizentes com
o planejamento. Na radioterapia, os resultados do tratamento
dependem diretamente da precisão do planejamento e de como
esse planejamento é executado. Para isso, é necessário que o
equipamento esteja devidamente calibrado e que se tenha um
comissionamento desse equipamento. (GONÇALVES, 2017)
Para isso, a Associação Americana de Fı́sica Médica (AAPM),
traz Task Group Reports (TGs) protocolos para o controle de qua-
lidade e para realização da dosimetria de referência de acelerado-
res lineares utilizados na radioterapia. Nesses documentos, são
descritos parâmetros considerados essenciais para determinação
da qualidade de feixes de fótons e elétrons de alta energia, assim
como são descritas maneiras de determinar esses parâmetros.
Um dos parâmetros mı́nimos necessários para o comissiona-
mento de feixes de fótons é a Porcentagem de Dose em Profun-
didade (PDD). (GONÇALVES, 2017)
Filmes radiocrômicos
Os filmes radiocrômicos possibilitam medidas de duas di-
mensões, alta resolução espacial, equivalência à água e são pra-
ticamente independentes da energia. Por isso, são ideais para
dosimetria em radioterapia e para o controle de qualidade (CQ)
dos feixes utilizados.
Ao serem irradiados, os filmes radiocrômicos escurecem, mu-
dando permanentemente de cor. O escurecimento ocorre quase
recer por alguns dias. Esses filmes trazem muitas vantagens na
dosimetria, visto que são tecido-equivalentes, tem baixa sensibi-
lidade espectral e não necessitam de revelação quı́mica. Por isso,
estão se tornando cada vez mais aceitos no controle de qualidade
da radioterapia, principalmente quando é necessária uma alta
resolução espacial da dose. (YAO et al., 2017)
Controle de qualidade
Segundo recomendações da ICRU, a incerteza da dose en-
tregue em um tratamento de radioterapia não deve ultrapassar
5%. Os equipamentos de radioterapia devem passar por testes
de aceitação sempre que forem instalados ou for feita alguma
manutenção neles. (GONÇALVES, 2017)
A publicação nº106 da AAPM traz um protocolo de comissi-
onamento de aceleradores lineares clı́nicos para feixes de fótons
e elétrons. Os dados de comissionamento dos feixes são poste-
riormente utilizados como referência e usados para os sistemas
de planejamento. Por isso, é essencial que esses dados sejam
precisos a fim de evitar erros de dosimetria e de tratamento.
(AAPMTG106, 2008)
Porcentagem de dose em profundidade
Um dos parâmetros descritos tanto na AAPM TG-51 quanto
na TRS-398 é a porcentagem de dose em profundidade (PDD
ou PDP). A PDD é uma curva a qual apresenta a distribuição
da dose ao longo do eixo central do feixe e é normalizada para
Dmax = 100% na profundidade de dose máxima (zmax ). É defi-
nida por: (IAEA, 2000; AAPM, 2001)
DQ D˙Q
PDD = 100% = 100% (1)
DP D˙P
Onde DQ e D˙Q são, respectivamente, a dose e a taxa de dose
em um ponto Q em uma profundidade z do eixo central e DP e

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D˙P são as dose e taxa de dose no ponto P em uma profundidade fótons de várias megavoltagens.
zmax no mesmo eixo central. (PODGORSAK, 2005; GONÇALVES,
2017)
A geometria para medidas da PDD é apresentada na Figura
1. O ponto Q é um ponto arbitrário em uma profundidade z
e o ponto P representa a dose de referência na profundidade
z = zmax no eixo central. O PDD irá depender do tamanho
de campo A, da profundidade z, da distância fonte-superfı́cie
(SSD) e da energia do feixe de fótons. (PODGORSAK, 2005;
GONÇALVES, 2017) Desse modo, pode-se medir desde a dose
superficial (DS) até a região de interesse.

Figura 2: Curvas de PDD na água para um campo 10 x 10 cm2 a uma

SSD de 100 cm e diversas energias. Fonte: (PODGORSAK,
2005)

II. Objetivos

Esse trabalho tem como objetivo principal caracterizar a por-

centagem de dose em profundidade de um feixe de fótons de 6
MV de um acelerador linear do Hospital Santa Rita.
Figura 1: Geometria da medida da PDD. Fonte: (PODGORSAK,
2005)

A porcentagem de dose em profundidade depende de fatores III. Materiais e Métodos

como a área do campo e qualidade do feixe. A PDD se eleva com
o aumento da área do campo, pois com o aumento do volume
irradiado tem-se maior quantidade de radiação espalhada. Além
disso, PDD aumenta juntamente com o aumento da energia dos
feixes incidentes, visto que feixes de altas energias tem maior
poder de penetração e portanto transferem maior percentual de
energia nas profundidades de interesse.
Em um feixe de fótons entra na matéria e deposita uma certa
dose à superfı́cie e rapidamente, numa zona superficial, a dose
aumenta e atinge um valor máximo a uma dada profundidade.
Seguidamente, à medida que a profundidade aumenta, a dose
diminui quase exponencialmente, atingindo um valor no ponto
de saı́da. A profundidade onde a dose é máxima (profundidade
de equilı́brio eletrônico) depende essencialmente da energia ini-
cial do feixe e após essa profundidade, a dose diminui devido à
atenuação dos fótons na matéria, na água sólida ou no paciente
(KHAN´S, 2014).
As interações de fótons espalhados pelo colimador, pelo filtro
achatador, pelo ar e pelo paciente contribuem para a dose na
superfı́cie (GONÇALVES, 2017). A Figura 2 mostra um exemplo
de distribuições de dose para campos de 10 x 10 cm2 e feixes de
A irradiação do filme radiocrômico foi realizada na Sala 04
do Serviço de Radioterapia do Hospital Santa Rita.
Para realizar a irradiação do filme radiocrômico, foram utili-
zados os seguintes parâmetros:
• Tamanho de campo: 10 x 10 cm2
• Energia: 6 MV
• Unidades monitoras: 400 MU
• Taxa de dose: 600 MU/min
O filme foi cortado em um quadrado. Para isso, foram utili-
zadas luvas para evitar que o filme fosse danificado.
Para simular o corpo humano, foram utilizadas placas de
água sólida quadradas de 1 cm de espessura. Foram posicio-
nados 2 conjuntos de 13 placas cada um, a fim de se colocar o
filme radiocrômico em posição vertical entre os dois conjuntos de
maneira que o filme fosse completamente coberto. A montagem
é apresentada na Figura 3

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Figura 4: Escurecimento do filme após irradiado

Para calcular a porcentagem da dose em profundidade no

ImageJ, foi selecionada uma região de interesse (ROI), na vertical
do filme, passando por cada nı́vel de profundidade irradiado.
Utilizou-se a Lei de Beer-Lambert (2) para a normalização dos
valores, obtendo-se o gráfico da PDD da Figura 5.

Figura 3: Posicionamento das placas de água sólida para as medidas

da PDD.

Após posicionado o filme, ele foi irradiado com os

parâmetros descritos nesta seção.
Para calcular a porcentagem de profundidade de dose, foram
selecionadas regiões de interesse (ROIs) por meio do software
ImageJ. Por meio da lei de Beer-Lambert (Equação 2), os valores
de intensidade obtidos foram convertidos em transmitância.

I
T= (2)
I0

Para obter-se I0 , foi selecionada uma ROI no canto supe-

rior esquerdo do filme, a qual não havia sido escurecida pela
irradiação. Os valores normalizados por meio da Equação (2) fo-
ram plotados em um gráfico de porcentagem da dose em função Figura 5: Porcentagem de Dose em Profundidade (PDD) no filme irra-
da profundidade do filme, permitindo-se analisar a PDD. diado.

A análise do gráfico permite a visualização da porcentagem

IV. Resultados
O filme ficou escurecido em todo seu comprimento após
a irraiação, devido ao retroespalhamento resultante das placas
de água sólida. A imagem do filme irradiado foi analisada
para obtenção dos valores de intensidade por pixel, através do
software ImageJ.
de dose em relação à profundidade do filme. Observa-se que nos
primeiros milı́metros há um aumento da dose relativa até atingir
um ponto de máximo, na profundidade de 1,3 cm, que repre-
senta o ponto de profundidade zmax , em que a dose é máxima.
Isso ocorre devido a região de build-up, localizada entre a su-
perfı́cie e a profundidade onde a dose é máxima, que depende
da energia do feixe para gerar a radiação secundária, responsável
pela deposição da dose no filme. Após atingir a profundidade
máxima, a dose decresce pela atenuação e inversamente ao qua-

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drado da distância.
V. Conclusão
Este trabalho evidenciou a existência de uma dependência
da profundidade com a porcentagem de dose, por meio do teste
com um filme radiocrômico. Pode-se analisar que a curva da
PDD possui uma região de aumento de dose, denominada de
região de build up e, após a região de máxima dose, decresce
pela atenuação inversamente proporcional à profundidade.
Além disso, concluiu-se que esta curva pode ser utilizada
para fins de comparação na dosimetria dos aceleradores lineares,
comparando valores atuais com valores obtidos no momento do
comissionamento do aparelho, o que é essencial para garantir o
controle de qualidade na deposição de dose de tratamento.
Referências
AAPM. AAPM’s TG-51 protocol for clinical reference dosimetry of
high-energy photon and electron beams. [S.l.], 2001.
AAPMTG106. Accelerator beam data commissioning equipment
and procedures: Report of the tg-106 of the therapy physics
committee of the aapm. AAPM, 2008.
GONÇALVES, C. Comissionamento dos parâmetros fı́sicos
dosimétricos em aceleradores lineares clı́nicos. Universidade
Federal do Rio Grande - Instituto de Matemática Estatı́stica e Fı́sica,
2017.
IAEA. Absorbed dose determination in external beam radiotherapy.
Technical Report Series No. 398. [S.l.], 2000.
PODGORSAK, E. Radiation Oncology Physics: A Handbook for
Teachers and Students. [S.l.]: International Atomic Energy Agency,
2005.
YAO, T.; LUTHJENS, L.; GASPARINI, A.; WARMAN, J. A study
of four radiochromic films currently used for (2d) radiation
dosimetry. Radiation Physics and Chemistry, 2017.