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Psicologia do Desenvolvimento: Vida Adulta e Maturidade 1

A1 Psicologia do Desenvolvimento: Vida Adulta e Maturidade

Brunna de Andrade Silva 00350592 – Centro Universitário das Américas, FAM: Psicologia.

Relatório de avaliação e entrevista, tendo como objetivo compreender os processos

biopsicossociais que ocorrem nas transições do “Ciclo da Vida”, da adolescência à vida adulta

tardia. Pesquisa realizada de acordo com as dimensões da OMS e orientada pela bibliografia

“Desenvolvimento Humano”, de Diane E. Papalia e Gabriela Martorell.

Sobre o Entrevistado

Raimundo Eliomar de Oliveira Andrade, de 81 anos, nasceu dia 5 de janeiro de 1943,

no interior de Pacoti, Ceará. É filho de João Sampaio de Andrade e Filomena de Oliveira

Andrade. Do primeiro casamento de seu pai, Eliomar tem cinco irmãos, porém, por conta da

saúde precária, apenas um dos cinco irmãos chegou à vida adulta. Depois de viúvo, João

Sampaio casou-se com Filomena, irmã de sua falecida esposa. Com ela teve mais doze filhos,

seis homens e seis mulheres. Eliomar é o sexto filho do casamento, e o terceiro filho homem.

Eliomar nasceu e cresceu no sítio de seu avô e relata ter tido uma infância pacata,

distante da cidade e sem acesso às tecnologias, como rádio, televisão e automóveis. Também

diz que, embora simples, comparado às condições socioculturais e econômicas da época, teve

uma infância bastante agradável e livre.

Quanto à sua personalidade e temperamento, considera que sua personalidade nunca

foi exuberante, e nunca teve temperamento forte. Era uma criança sem muitos amigos, também

bastante obediente e quieta, consequência da constante vigilância dos pais e da vida sem

tecnologia. Eliomar gostava de aventuras e de caminhar longas distâncias até as cidades

vizinhas, mas não considera ter sido um adolescente ousado e ambicioso. Sua ambição, vontade

de aprender e trabalhar vêm do exemplo de seus pais e avós, que buscavam melhorar a condição
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de vida de seus filhos, familiares e comunidade local. Deles também herdou o apreço à família

e sua união, e relata sempre ter tido um bom relacionamento com seus pais e irmãos.

Quanto à sua instrução acadêmica, Eliomar relata que seus primeiros anos escolares

foram em uma escola de bairro, de ensino atrasado e precário. Embora o “atraso” da escola,

diz que seu pai e avô (analfabeto), eram bastante exigentes com a sua educação. Durante o

primário, estudou no centro da cidade de Pacoti, em um internato administrado por padres. Lá,

disse que estranhava a obrigação de “prestar contas” para alguém que não fossem seus pais, e

teve dificuldade para se adaptar e fazer amigos. Um pouco mais velho, fez o exame admissional

em Fortaleza, onde iniciou o ginásio, mas não chegou a concluir.

Aos 18 anos, em 1961, migrou para São Paulo em busca de emprego. Acompanhado de

seu irmão mais velho, Eliomar começou a trabalhar em uma fábrica metalúrgica, uma de muitas

que viriam fazer parte de sua jornada profissional. Sua progressão profissional foi bastante

linear. Começou como operário, depois foi promovido a líder, então instrutor, e por fim

encarregado. Em fevereiro de 1972, comprou um terreno na cidade de Santo André, São Paulo,

onde viria a se estabelecer e construir uma residência para si e para seus irmãos.

Costumava fazer visitas periódicas aos seus pais no Ceará e, em 1972, conheceu

Verônica Rodrigues Andrade, com quem namorou por correspondência e se casou dois anos

depois. Diz que o casamento foi seu único ato de rebeldia, desafiando seus pais e seus sogros

para que abençoassem a união. Casaram-se em janeiro de 1974 e, em março de 1975, tiveram

sua primeira filha, Diane de Andrade, e três anos depois, em 1978, seu segundo e último filho,

Apuena de Andrade.

Aos 48 anos, em 1991, aposentou-se, mas continuou trabalhando em metalúrgicas,

encerrando sua jornada como trabalhador formal apenas em 1996. Depois disso, ocupou-se

com outros pequenos trabalhos em setores diversos, sendo os mais frequentes seu trabalho

como pintor e mestre de obras. Também construiu e reformou as casas de seu terreno para que
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acomodassem a expansão de sua família, permanecendo até hoje na mesma residência. Hoje,

aos 81 anos, não trabalha mais, acreditando ter finalmente chegado o momento de descansar.

A Entrevista:

Transição da Adolescência para a Vida Adulta:

1. Quais foram as experiências e eventos significativos que marcaram sua transição da

adolescência para a vida adulta?

Eliomar: “Quando eu saí da proteção dos meus pais, vindo para São Paulo. Quando eu tive

que ser responsável por mim mesmo, ser independente. Tive que ir atrás de descobrir quem eu

era. De construir minha personalidade”.

2. O senhor acredita que o processo de construção de independência e autonomia causou

mudanças no seu comportamento e no seu modo de pensar?

Eliomar: “Com certeza. Na medida que eu saí de casa, logo quando eu comecei a estudar –

saí de casa com mais ou menos uns 16 anos. Quando eu fui para o colégio, a gente morava lá.

Estudava e morava no colégio. É lógico que a gente, mesmo que a gente não queira, a gente

já vai mudando. Buscando uma responsabilidade maior. É uma coisa quase que natural, né?”

3. Como foi para o senhor assumir novas responsabilidades durante essas transições?

Eliomar: “Na primeira vez que eu saí da companhia dos meus pais, quando eu fui estudar em

um colégio interno, eu achei esquisito. Não tinha mais a proteção dos meus pais. Tinha que

responder à direção da escola e prestar contas para o padre. Já não era mais meu pai e minha

mãe. Aí realmente achei esquisito, pedir orientação para alguém que não fossem eles”.
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Desenvolvimento Físico: Saúde Física

4. O senhor notou diferenças em sua saúde física? Se sim, como senhor lida com elas?

Eliomar: “Ah, tem muita diferença. Na época em que eu era novo eu enfrentava qualquer

negócio, hoje já não dá mais. Eu sinto que, mesmo a cabeça estando boa, o corpo não ajuda,

já não responde igual. Então muitas coisas eu estou deixando de fazer porque eu pego pelas

experiências de outras pessoas que tentaram e acabaram se acidentando e ficando pior. Eu

me previno. Quando eu noto que a coisa dá pra eu fazer, eu também não tenho pressa, eu vou

fazendo bem devagarzinho. Sem correria. Eu não vou fazer alguma coisa pra me machucar.

Faço tudo bem pensado.”

5. Quais são seus hábitos de alimentação e como eles mudaram ao longo dos anos? Você sente

que está mantendo uma alimentação balanceada?

Eliomar: “Sim. Sempre foram. Eu sempre comi bem, nunca fiz nada de extravagante. Sempre

comi bem: arroz, feijão, carne, uma fruta. E nunca deixei a comida chegar até aqui (até a

garganta). Sempre gostei de ficar com um restinho de fome que daria para comer outro tanto,

mas não como. Nunca fui de gula. E sempre gosto de comer uma fruta depois.”

6. E seus hábitos de sono, eles são regulares?

Eliomar: “Sim, sempre foram. Sempre dormi das dez horas da noite até as cinco, seis horas da

manhã. Só não quando eu trabalhei durante a noite, mas aí não foi por muito tempo.”

7. Como você descreveria seus hábitos de exercício físico e atividade física durante as

diferentes fases da vida, desde a adolescência até a vida adulta tardia?

Eliomar: “Quando era mais novo eu jogava futebol. E na defesa ainda. Isso quando eu ainda

estava no Ceará. Agora nadar, eu nunca consegui aprender a nadar. Se eu nadar daqui até
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ali, eu tenho que voltar, senão eu não consigo (risos). Se eu dou dez braçadas pra frente, tenho

que dar dez braçadas pra traz, pra eu poder voltar e conseguir colocar o pé no chão novamente.

Quando eu vim pra São Paulo eu nunca mais fiz exercício físico, a não ser o trabalho da

fábrica mesmo. De vez enquanto eu tento, mas é difícil, não é rotina. Eu faço quando eu lembro.”

8. O senhor se considera uma pessoa ativa? Como o senhor lida com o envelhecimento físico

e mantém sua saúde e mobilidade durante essa fase?

Eliomar: “Até que sim. Até que eu tenho bastante energia. Talvez seja–, tá certo, talvez eu não

faça nenhum exercício físico, mas eu gosto de andar muito a pé. Nessa Carijós (rua comercial

próxima à residência) a turma diz: ‘Rapaz, mas você não se cansa não? Você já passou –, já

é a terceira vez que você está passando por aqui!’, e eu digo: ‘tem problema não, ainda vou

passar mais umas outras’ (risos). E isso mantém minha energia. Comigo não tem moleza não.

Sempre fui assim.”

9. Como o senhor enfrenta os desafios diários e mantém uma boa saúde física?

Eliomar: “Não fazendo extravagâncias (risos). Eu me alimento bem, dentro do possível.

Descanso um pouco mais. Pego menos pesado quando for pra trabalhar, quando eu for pegar

uma coisinha. E é importante não ficar parado, não totalmente. Se parar totalmente, ficar no

boteco jogando várias horas e bebendo, como eu vejo a turma aqui fazendo, não é pra mim.

Eu até bebo, não vou dizer pra você que não bebo. Mas eu bebo aqui em casa e eu também

não exagero. Só quando é dia de churrasco (risos).”

10. O senhor já teve problemas com vício ou consumo excessivo de alguma substância?

Eliomar: “Comecei a fumar bem moço, mas parei tem mais de 40, 50 anos. Não me fazia bem.

Acho um hábito nojento. não gosto nem do cheiro, mas tem dias que ainda sonho fumando.”
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11. O senhor tem enfrentado algum problema de saúde física específico a esse período?

Eliomar: “Não tenho muitos problemas. Não tenho diabetes, nem pressão alta. Você sabe que

todo homem, depois de uma certa idade ele tem problema de próstata, aí eu tomo o

medicamento. Porque o médico já me descreveu que eu vou tomar isso aí até o fim da minha

vida. E tem o braço. Mas não sei se foi de desgaste ou foi de excesso de exercício. Não sei,

mas já tá melhorando. Bem pouquinho, mas já melhorou, já está bem menos do que antes. E

tem o problema no ouvido, mas eu acho que é da idade mesmo (risos).”

12. Quando você identifica um problema de saúde, como você gerencia? Você busca exames

médicos de rotina regularmente para monitorar sua saúde física?

Eliomar: “Eu não enrolo não. Quando eu noto que tem um negócio diferente, eu já procuro o

médico. Eu também tomo meus remédios direitinho. E outra, o zumbido aqui (no ouvido) eu já

cheguei à conclusão de que, depois de uma certa idade a gente vai perdendo a audição mesmo.

Isso aí é normal. Não posso dizer. Mas o zumbido que eu tenho aqui, eu acho que o problema

é de coluna mesmo. Não é do ouvido. Porque tem dia que ele some, e não fica quase nada.”

13. Quais são suas maiores preocupações em relação à saúde física durante a vida adulta tardia?

Eliomar: “Minha preocupação é ficar um dia em cima de uma cama, sem poder me mexer ou

fazer nada. Pra evitar isso, eu não fico me arriscando (risos).”

14. Como você equilibra as demandas da vida diária com a necessidade de autocuidado físico

e descanso adequado? Como quando, por exemplo, você tem que fazer algum serviço de

obra ou alguma outra atividade que demande esforço físico.

Eliomar: “Eu faço aquilo que dá pra eu fazer, aquilo que é possível fazer. Com segurança pra

mim. Senão eu digo: ‘Não sei fazer, não dá pra eu fazer’. Eu sempre pulo fora.”
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Desenvolvimento Físico: Saúde Mental

15. Quais são seus maiores medos e ansiedades em relação à vida adulta?

Eliomar: “É ver qualquer membro da minha família em dificuldade. Seja por causa de doença,

ou questão financeira. Isso eu tenho medo. Não quero ver.”

16. São os mesmos medos e ansiedades que você sentia antes, quando era mais jovem?

Eliomar: “Sim, pior que é.”

17. Como o senhor lida com esses sentimentos negativos?

Eliomar: “Ah, minha filha, vou te dizer: é encarando cada coisa do seu jeito. Tentando lidar

da melhor maneira possível. Assim, você não pode resolver por impulso. Precisa procurar

devagar encontrar uma saída para aquilo. Porque o impulso é muito rápido, você acaba

tomando uma atitude sendo ela certa ou errada. Porque é difícil. Mas vai mudando com o

tempo. As mesmas questões que você tinha dificuldade antes, hoje você já acha mais fácil. O

importante é enfrentar, mesmo achando difícil. É enfrentar sabendo que ou você faz, ou não

faz. Depende de você mesmo. Não pode deixar para outras pessoas o trabalho de ter que

resolver as coisas pra você.”

18. Você acredita que compartilhar com outras pessoas aquilo que te causa ansiedade auxilia

de alguma forma a lidar com esses sentimentos e ansiedades?

Eliomar: “Eu acho que atrapalha. Principalmente quando você leva um problema da sua casa,

querendo se aconselhar com uma outra pessoa que não é da sua família também. Se você não

consegue (conversar/resolver) com a sua família, não tente do lado de fora. Ou você aguenta,

ou – não pode deixar todo mundo ficar sabendo o que você está fazendo, o que você tem, o que

você não tem. Eu sempre fui assim. (Sempre) Achei que levar meu problema para o outro não
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é o certo, não é o correto. Até quando alguém vem falar pra gente: ‘Ai, porque fulano fez isso

e aquilo’, você não tem como (ajudar). Você só tá vendo um lado da história. Na hora que

você vai ver o outro lado lá, o porquê o fulano fez o que fez, aí você pensa: ‘Ah, vai ver ele fez

isso porque o outro fez aquilo, e aquilo outro’. Você fica em um impasse. Eu já participei nesse

tipo de coisa, me pediram ajuda e não tive como ficar a favor nem de um e nem do outro. Aí

tem vezes que não tem como ajudar.”

19. Quais são suas fontes de inspiração ou motivação ao enfrentar desafios durante essa fase?

Eliomar: “Muitas vezes eu– a gente sempre tenta procurar primeiro a família, mas eu sempre

procuro aprender com o exemplo dos outros, como que a pessoa saiu disso (daquela situação).

A gente sempre vê história, filme, ouve pessoas contando histórias de como elas saíram daquilo,

e a gente guarda aquilo com a gente. Exemplo dos outros sempre é bom. Exemplo bom, é claro.”

20. Como você descreveria sua saúde mental ao longo das diferentes fases da vida, desde a

adolescência até a vida adulta tardia?

Eliomar: “Acho que sempre tive uma boa saúde, nunca me senti mal com essas coisas. Não

sou uma pessoa muito ansiosa.”

21. Você já enfrentou desafios de saúde mental, como ansiedade, depressão, estresse crônico

ou preocupações excessivas, durante esses períodos de transição?

Eliomar: “Eu não sei direito. Acho que não, mas eu sou bastante preocupado com as coisas.”

[Essas preocupações são excessivas? Tiram seu sono?] Eliomar: “Tiram. Tiram sim. Quando

eu me preocupo com alguma coisa eu não consigo dormir.” [Essas situações são frequentes?]

Eliomar: “Não, não são tão constantes não, mas tem certas coisas que–, às vezes um

aborrecimentozinho qualquer que eu tenho, aí eu fico, puxa vida... Às vezes me incomoda


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porque eu sei que atitude é minha e eu não posso passar isso pra ninguém. Quando eu tô assim

preocupado, eu fico pensando –, procurando uma alternativa do que fazer. Eu fico pensando,

pensando, pensando, até achar uma saída. Porque eu não gosto de fazer nada por impulso. Eu

tenho que achar uma alternativa que dê para eu resolver. Aí eu espero ficar calmo pra poder

reagir.”

22. Comparado a outros momentos da sua vida, o senhor acredita que hoje, na vida adulta tardia,

o senhor tem sofrido menos com essas preocupações que lhe tiram o sono?

Eliomar: “Sim, porque hoje eu tenho menos problemas do que eu tinha lá trás (risos). Hoje eu

praticamente não tenho problema nenhum. Hoje eu só quero manter o que já tá aí. Eu me

preocupo em manter isso aqui, e só isso.”

23. Como você percebeu as mudanças em sua resiliência emocional e capacidade de lidar com

adversidades ao longo dos anos? Você acredita que a maturidade da vida adulta tardia tem

influência quando o senhor precisa encontrar soluções?

Eliomar: “Sim, pior que sim. Porque quando a gente é jovem, a gente pensa: ‘Ah, vou fazer

isso aqui e acabou’, mas agora não. Agora eu penso mais. Como eu sempre falo pro meu filho,

que gosta muito de resolver as coisas por impulso, eu falo: ‘Meu filho, não é assim. Espera um

pouco. Analisa bem os prós e os contras pra você poder agir’. Mas com eles não tem esse

negócio, sempre chegam e ‘bum!’, fazem as coisas. Mas eu digo pra eles, não é assim, pensa

bem. Eu nunca fui impulsivo. Sempre fui mais cauteloso para resolver as coisas.”

24. Você já buscou apoio profissional, como terapia ou aconselhamento, para cuidar de sua

saúde mental? Se sim, como isso tem sido útil para você?

Eliomar: “Não, nunca procurei.”


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25. E qual a sua opinião quanto a esse tipo de serviço? Você acredita que esse tipo de apoio

profissional pode ser benéfico para as pessoas e para o cuidado da saúde mental?

Eliomar: “Olha, eu acho que ajuda. Porque uma pessoa que é preparada para ser o psicólogo,

é porque ela vai te ajudar. E se ela está ali pra ajudar alguém, então eu acho importante. E

isso é bom. Se eu procurar amanhã –, se eu, mais cedo ou mais tarde, procurar um porque eu

tô precisando, aí eu vou procurar a pessoa certa. Antigamente a gente se aconselhava com

qualquer pessoa, com um amigo do bar, na rua, no jogo de futebol, hoje não é assim.”

26. O senhor acredita que os relacionamentos sociais e o suporte familiar influenciam no bem-

estar emocional e mental de uma pessoa?

Eliomar: “Sim, sim. Claro. Porque eles me conhecem e tem intenção de me ajudar. Esse tipo

de relacionamento é importante. O apoio e amizade da família é tudo.”

27. Quais são os sinais de alerta que você reconhece em si mesmo quando sua saúde mental

precisa de atenção extra?

Eliomar: “Eu percebo que alguma coisa vai me acontecer porque parece que o corpo da gente

adivinha. A gente fica um pouco trêmulo, a gente fica ansioso. Parece que tem algo martelando

sua cabeça. Parece que a gente fica mais pesado.”

28. Como você mantém sua saúde emocional durante crises e conflitos?

Eliomar: “Quando eu vejo uma coisa acontecendo, eu fico só observando, não vou interferir.

É um caso que é da pessoa. Às vezes eu tenho medo de dar a opinião errada. Eu tento sempre

manter a calma. Porque é o seguinte, não adianta nada eu querer fazer, gritar, não adianta

nada. Adianta? Não ia ficar pior? Então. Eu procuro manter a calma. Às vezes eu ia trabalhar

estressado, mas eu não queria levar problema pra ninguém (Falando sobre a depressão e
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alcoolismo da esposa). Mas aí eu simplesmente tentava que afastar um pouco e pensar, pra

não fazer nada errada. Não é uma fuga. É me afastar do problema pra achar alguma

alternativa. Outras vezes, eu me deitava ali e não dormia. Fica pensando naquele lado.

Pedindo a Deus toda hora pra eu encontrar uma alternativa, algo que eu pudesse fazer. Se eu

deveria deixar de lado, esperar pra ver o que ia acontecer, ou que atitude eu poderia tomar.

Mas sabe que sempre dava certo (risos). É ter paciência.”

29. Você acredita se ocupar com atividades criativas e sociais ajudam a lidar com essas crises?

Eliomar: “Distrai e ajuda. A distração sempre acaba ajudando e você acaba achando –, muitas

vezes a coisa está na sua frente e você não enxerga. Eu tinha um chefe que dizia assim: ‘Olha,

você tem um problema e a solução tá aqui na sua cara e você não consegue achar. Mas se

você sair um pouco–’, ele dizia muito: ‘saí, dá uma volta aí fora e depois que você voltar você

vai achar a coisa’. E pior que a gente sempre achava.”

30. Qual a sua opinião quanto a influência de atividade física regular na saúde mental?

Eliomar: “Ajuda. Ajuda e ajuda muito.”

Desenvolvimento Cognitivo:

31. Durante sua infância, o senhor relatou que as escolas eram bastante precárias e atrasadas,

que pouca gente ia para a escola estudar. Como foi a sua educação naquela época?

Eliomar: “Naquela época tinha muita gente analfabeta que não sabia nem fazer o próprio

nome. Na minha época, eram poucas pessoas que sabiam ler e escrever. Eu aprendi a ler e

escrever na escola. Tinha muita gente que tinha dificuldade, mas eu aprendi até que fácil. Fui

aprendendo. Primeiro escrevendo errado, mas a gente já sabia ler uma coisinha, sabe?
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Escrever geralmente era mais difícil. Escrever corretamente. Não era tão estimulado. Mas

meu avô e meu pai faziam questão que a gente aprendesse.”

32. Quais são seus principais métodos de aprendizado durante as fases da vida?

Eliomar: “Eu sempre aprendi tudo observando. Quando eu cheguei aqui, é claro, era tudo

diferente, não era igual lá no Ceará. Então quando eu via a turma fazendo isso e aquilo, eu

ficava só observando. Primeiro, eu não ia na frente. Nunca gostei de ser o primeiro. Sempre

fui mais retraído. Sempre dizia: vou ver primeiro como é que ele faz e depois eu vou fazer igual.

Quando a gente chegou aqui e tinha que andar de trem, ou mesmo de ônibus, a gente pagava,

aí a catraca livrava pra você passar, né? Uma vez eu vi um cara que empurrou, empurrou, e

não conseguiu passar. Aí ele viu um menino, uma criança passando por baixo e tentou passar

também. Aí eu falei: ‘Ué, mas não deve ser isso aí. Se tava rodando praquele, por que não tá

rodando pra esse? Alguma coisa tá errada’. Aí eu ficava observando. Você ia pegar o trem e

tinha essa fichinha, igual uma moedinha de cinco centavos. Você tinha que jogar ela ali e ela

liberava a catraca. Aí você comprava, jogava ali e passava. Aí teve um rapaz, um amigo meu

que chegou do interior, que tentou passar na catraca. Empurrou, empurrou, mas não

conseguia. Aí um outro rapaz disse assim: ‘Coloca a moedinha’, porque ele tava com a

moedinha na mão. Aí ele colocou, se afastou, pegou impulso e ‘vup!’, foi de uma vez e caiu lá

do outro lado (risos). Ele contava e a gente morria de dar risada. A gente perguntava: ‘Mas

rapaz, você fez mesmo isso?’. E ele dizia: ‘Fiz, rapaz. Caí que nem uma besta lá do outro lado,

quase do lado do trem’ (risos).”

33. Como você percebeu mudanças em sua capacidade de raciocínio e tomada de decisão?

Eliomar: “Acho que eu sempre fui muito de pensar bastante. De raciocinar bastante. E sempre

peguei as coisas rápido. Mas hoje resolver os problemas tá mais fácil.”


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34. Quais habilidades intelectuais o senhor aprimorou ao longo dos anos?

Eliomar: “Ah, a gente hoje pensa mais rápido. Consegue mexer no celular, essas coisinhas.”

35. Você notou alguma dificuldade específica na sua capacidade intelectual e de raciocínio?

Eliomar: “Acho que pra memorizar alguma coisa. Muitas vezes eu vejo uma palavra e no

mesmo instante eu fico: ‘Poxa, que palavra véia foi aquela que eu vi?’. Tem gente que consegue

memorizar. A gente pode se basear nos meus joguinhos (jogos de celular, tabuleiro e cruzadas),

tem gente que encontra várias saídas e eu não consigo. Depois que mexem a peça, aí eu fico

pensando: ‘Poxa, era assim tão fácil? Por que eu não fiz isso?’”

36. Como seus métodos de aprendizado se adaptaram aos diferentes fatores e circunstâncias da

vida adulta tardia? Você acredita que o tempo é um fator importante para o aprendizado?

Eliomar: “A gente tem mais tempo pra fazer aquilo que a gente quer fazer. Aquilo que a gente

não sabe, a gente fica perguntando pra um e pra outro, e no fim a gente consegue. Só não pode

é ficar parado, né? Achando que todo mundo tem que ficar fazendo as coisas pra você.

Primeiro eu vou tentar fazer, eu não conseguir fazer eu procuro alguém que me ensine. É o

que eu mais faço”

37. Você enfrentou desafios de aprendizado na vida adulta tardia?

Eliomar: “Ah, tem muitos. Não tem esses negocinhos aí (aparelho de transmissão de conteúdo

para o televisor)? Vocês apertam as coisas, mas não me dizem a onde foi que você apertou pra

fazer as coisas. Me disse: ‘aperta aqui e vai acolá’, mas eu não vi qual botão que apertou.

Porque eu não consegui ver direito, foi mais difícil de aprender. As coisinhas simples, tudo

bem, agora as complicadas... (sobre o uso de tecnologias) É isso que eu digo pra você, tem

coisa que eu tenho mais dificuldade de memorizar”.


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38. Hoje na vida adulta tardia, o senhor fala bastante dos avanços da tecnologia, como o senhor

utiliza desses recursos para aprimorar suas habilidades cognitivas e intelectuais?

Eliomar: “Ah, a gente aprende –, eu amo a tecnologia, e você está vendo toda hora a turma

fazendo as coisas, aí você vai pegando exemplo. Se o cara resolveu, eu também resolvo.”

39. Quando você lembra daquele momento em que você sentia dificuldades para escrever, você

conseguia imaginar que seria tão capaz de se adaptar ao mundo tecnológico?

Eliomar: “Isso eu nunca pensei, e continuo sem saber (risos). Sei fazer, mas ainda não sei o

suficiente (risos). Ah, mas eu acho que eu evoluí. Hoje eu já consigo mexer no celular, no meu

computador. Como eu não evoluí? Uma pessoa que não sabia nem ligar um rádio. Hoje eu

consigo fazer bem mais rápido”

40. Como o senhor se mantém mentalmente ativo e estimulado durante essa fase da vida?

Eliomar: “Tudo que eu vou fazer eu fico pensando bem antes de começar (risos). Mas eu faço

minhas cruzadas, meus joguinhos. Faço essas coisas pra me desligar um pouco, mas depois

me ajudam a pensar. Porque ficar muito martelando a mesma coisa, não é bom não, viu?”

41. Quais são suas maiores fontes de inspiração ou influência intelectual e como elas moldaram

seu desenvolvimento cognitivo ao longo dos anos?

Eliomar: “Rapaz, eu acho que foi do meu pai. Ele sempre foi muito calmo pra resolver as

coisas. Ele nunca se irritava. Meus tios, eram tudo –, viviam brigando entre si e com os outros.

Já meu pai sempre foi aquele pacificador. E meu pai sempre gostou –, igual eu, sempre gostou

de ficar mexendo nas coisas. O que ele não conseguia mesmo fazer, aí ele pagava alguém pra

fazer. Mas se desse, ele pensava e fazia.”


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Desenvolvimento Profissional

42. Entendendo o trabalho como um ponto central da vida adulta, na sua opinião, quais são as

características e habilidades mais importantes para se manter uma boa vida profissional?

Eliomar: “Eu acho que a dedicação, né? A dedicação, a vontade. Como a gente diz: já que

você está trabalhando para o outro, dê valor ao seu emprego. Seja responsável. Porque você

querendo ou não, é aquele emprego que está sustentando você, sua casa e sua família, e o seu

futuro. Agora, não pode ficar acomodado, né?”

43. Depois de trabalhar doze horas por dia, como o senhor aproveitava seu tempo livre?

Eliomar: “Passeando (risos). Pergunte pra Verônica, eu virava a noite todinha na fábrica e

chegava aqui–, eu trabalhava das seis da tarde às seis da manhã, chegava aqui às sete e meia

para oito horas, aí eu tomava café e dizia: ‘Vamos passear! Vamos pescar!’. Aí a gente

acordava o Apuena e a Diane e botava dentro do carro –, muitas vezes eles iam até dormindo

dentro do carro –, aí quando eu chegava ali pelo Riacho Grande (São Bernardo do Campo),

eu dizia: ‘Vamos pescar não, vamos descer lá para Santos’. E a Verônica sabia que eu mudava

muito de caminho mesmo, aí ela já levava os shorts do Apuena, o maiô da Diane, pra ela e pra

mim também, toalha. Ela já sabia que eu mudava de caminho. Pegar estrada é coisa que eu

mais gostava de fazer. De dia de domingo eu pegava uma estrada, saía dirigindo por aí.

Quando era lá pra meio-dia, eu já tinha dado duzentos, trezentos quilômetros de estrada, aí a

gente procurava um lugar pra almoçar e ficava por lá batendo papo e voltava. Mania de doido”

44. Como eram seus hábitos do sono quando você trabalhava à noite? Você conseguia manter

uma rotina regular?

Eliomar: “Ah, pra dormir de dia assim era ruim. Dormir de noite sim, era bom, mas de dia–.

Eu vinha pra casa, mas não dormia. Dava aquelas cochiladas, mas dormir, dormir mesmo,
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não dormia. Até o japonês lá, que era meu supervisor, ele dizia: ‘cozinha dois ovos bem moles

e um copo de leite morno que você dome’. No primeiro dia eu dormi, no segundo já não

funcionou mais.”

45. Durante o seu tempo de serviço, como o senhor lidava com as pressões profissionais?

Eliomar: “Ah, tem que botar cada coisa no seu lugar. Eu acho o seguinte, tem que fazer tudo

na base da harmonia. Não adianta tentar fazer mais do que você pode. Agora, se você tiver

um chefe ‘turrão’ que quer montar em você, aí você tenta conversar com ele. Eu já fiz isso. Fiz

isso porque é o seguinte, o cara era muito cheio de coisa, aí eu fui lá e pedi para ele me mandar

embora. Eu disse: ‘Olha, eu acho que se eu ficar aqui, vai ser ruim pra você e pra mim. Então

é o seguinte –, a única coisa que eu peço a você é que você me mande embora. Porque aí eu

saio daqui e arranjo outro serviço’. De primeira ele disse que não, que não ia fazer isso.

Depois passou uns quinze, vinte dias, aí ele me chamou lá e falou: ‘Olha, eu vou dispensar

você. Vai lá no departamento pessoal que os caras vão falar com você’. Aí eu disse que tudo

bem. Fui lá e eles me dispensaram. Mas eles não deram motivo, nem falaram nada, porque,

né, eles nem tinham o que falar. Se ele disse pra alguém que eu tinha pedido, eu não sei. Aí

depois que eu assinei os papéis e fui dispensado, eu voltei lá nele e falei: ‘é isso aí, muito

obrigado’ (risos) ‘fico feliz por você, e nossa amizade continua’ (risos).”

46. Em sua experiência, quais são as estratégias que o senhor considera essenciais para

promover um equilíbrio saudável no ambiente de trabalho?

Eliomar: “Olha, quando você assume demais –, quando você assume tudo, é um erro. Você

também tem que educar as pessoas pra não fazer isso, ensinando elas a fazer as coisas. Porque

aí fica difícil. Agora, se você fizer isso (assumir muita coisa), você também não pode sair

rapidamente, bem quando as coisas estão difíceis. Se for pra sair, tudo bem. É o certo. Sair
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 17

aos poucos. Saindo aos poucos e depois definitivo. Mas você não consegue fazer isso quando

você ainda está muito ligado. Então, a gente não pode sair rapidamente. Precisa primeiro

colocar tudo no lugar para depois poder circular. Quando também você tem perto gente difícil,

que não aceita nada, você precisa jogar ainda mais obrigações pra essas pessoas. Tem que

falar: ‘ela precisa aprender a se virar, tem que fazer isso e isso’. Porque mesmo que no começo

ela faça sem querer fazer, no final ela já vai estar fazendo. Você está entendendo o porquê?

Porque a gente já deu mais responsabilidade pra ela. Não pode deixar a pessoa sem obrigação.”

47. Com a centralidade do trabalho, muitas pessoas passam mais tempo no trabalho e tem

pouco tempo de lazer e com a família. Como essas responsabilidades eram para o senhor?

Eliomar: “Ah, aí fica difícil, não pode deixar as coisas desequilibradas. Eu trabalhava muito

– doze horas por dia, mas sempre deixava um tempo pra passear com a minha família.”

Desenvolvimento Social:

48. O senhor saiu de casa aos 16 anos, e migrou para São Paulo aos 18 anos. O senhor acredita

que seus relacionamentos sociais te ajudaram nesse período de transição?

Eliomar: “Sim. Porque como eles já estavam aqui, e a gente sempre se comunicava – quero

dizer, aqui eu já tinha alguns parentes, mais outras pessoas. Além do meu irmão, eu já tinha

muitos conhecidos aqui, então não ficou tão difícil. A gente se juntava com eles e ia observando.

Porque eles já eram mais acostumados, moravam a mais tempo aqui. Então, era mais fácil.”

49. Por consequência dessas transições, o senhor acredita que a construção de sua autonomia

causou mudanças em seu relacionamento familiar, costumes e comportamento?

Eliomar: “Quando você sai de uma cidade para a outra, você tem que se adaptar aos costumes

daquele lugar. Os costumes que eu tinha lá no Ceará eram um, quando eu vim para cá eram
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 18

outros. Então você é obrigado a se adaptar aos costumes daqui. Você não pode levar os seus

costumes de lá e querer implantar aqui. É você quem tem que mudar. Não pode querer que as

pessoas mudem para você. Quem precisa mudar para melhor é você. Onde você for é assim.

Quanto aos meus irmãos: Os meus costumes são os meus, eles escolheram os deles. Porque eu

querendo ou não, cada um tem seu jeito de ser. Eu não posso ser igual ao meu irmão. Mesmo

que eu copie alguma coisa dele, eu quero seguir o meu caminho, do meu jeito.”

50. Quando conversamos sobre sua história de vida, o senhor relatou ser muito próximo de seus

pais e irmãos durante a infância. Você acredita que as obrigações da vida adulta dificultam

manter esse tipo de proximidade?

Eliomar: “Acho que não. Continuamos unidos, só que um pouco diferente.”

51. Compreendendo os desafios nos diferentes períodos transicionais, como seus

relacionamentos familiares te influenciaram e te ajudaram nesses momentos?

Eliomar: “As coisas eram diferentes naquela época, a gente saía de casa, mas continuava se

aconselhando com os pais. A gente sempre procurava os pais quando queria tomar uma atitude,

era algo normal que a gente fazia. A gente nunca tomava uma decisão direta, você sempre

queria ter uma opinião melhor, então a gente procurava nossos pais. Na época era assim. E

não é que a gente não tomava decisão. Tinha coisa que era simples, você até decidia sozinho.

Mas coisa séria, não. Até para casar a gente precisava pedia a autorização dos pais, perguntar

o que eles achavam. Mas as vezes –, quando eu quis me casar, mesmo se eles me dissessem

não, eu disse: ‘eu vou me casar’ (risos). Mas era uma questão de formalidade, precisava dar

um parecer. Dizer: ‘essa é a atitude que eu vou tomar e vou até o fim’. Então mesmo assim

você comunicava. Não se fazia nada escondido.”


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 19

52. Qual foi o momento em que o senhor se percebeu independente da opinião de seus pais?

Eliomar: “Eu acho que foi depois do casamento. Eu já tinha 30 anos, então eu me separei (da

opinião deles) porque dali pra frente – quando precisava tomar uma atitude, eu sempre fui de

parar e conversar. Então dali pra frente eu sempre me sentava com a Verônica (esposa) para

conversar e perguntar: ‘O que você acha? Vamos fazer isso? Não vamos fazer?’. Isso é – eu

sempre fui assim, e até hoje faço isso.”

53. Como o senhor mantinha seus relacionamentos no passado, durante a fase da adolescência

e a transição para a vida adulta?

Eliomar: “Era muito difícil. A gente sempre tinha muita coisa para fazer. Mas eu gostava muito

de dançar, de sair (passear). Sair em grupo, com os amigos. Até na fábrica a gente sempre

saía. Coisa normal da vida da gente. Vira coisa normal, da rotina. E eu gosto dessa rotina.”

54. Você sentiu mudanças em suas redes sociais e círculos de amizade ao longo do tempo? Se

sim, como isso influenciou sua vida social?

Eliomar: “Ah, vou falar um negócio pra você; morei aqui mais de 50 anos e vim conhecer

meus vizinhos só agora, depois que me aposentei. Eu não era assim de entrar na casa de um e

outros. Às vezes eu e a Verônica saía pra dançar, mas ficava só nós dois lá sentados em uma

mesa, conversando. A gente não era de ficar fazendo muita amizade com as pessoas não.”

55. O senhor identifica algum fator específico que dificultava (ou dificulta) fazer amizades?

Eliomar: “Ah, porque muitas vezes você não entende o camarada. E eu tenho medo que não

me entendam também. Às vezes eu não sei se meu jeito é bom ou ruim, meu jeito de falar, de

brincar. Não sei se eu posso estar agredindo. Eu acho que é mais preocupação. É isso que

dificulta.”
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 20

56. Compreendendo a complexidade que é manter seus relacionamentos, o senhor acredita que

era mais fácil se relacionar quando o senhor era mais jovem, ou hoje, com a maturidade?

Eliomar: “Eu ainda acho difícil, até hoje. Ter amigo é difícil. Mas amigo mesmo, né? Não

conhecido, colega. Se for colega hoje não, hoje é mais fácil, porque eu tenho mais tempo.

Naquela época eu não tinha. Eu saía de manhã e chegava só de noite, então eu quero dizer –,

não tinha como. Hoje é mais fácil. Hoje eu acho bem melhor, mais fácil de conversar. A gente

conversa quando pode. Com a família é a mesma coisa.”

57. O senhor acredita que os avanços tecnológicos são facilitadores sociais?

Eliomar: “Acredito que facilita. Ajuda a gente a manter os contatos. Não muita coisa. Ainda é

ele lá e eu aqui. Mas me ajuda a me manter em contato com meus irmãos, essas coisas. Mas a

cultivar uma amizade, manter mesmo, não.”

58. Com relação aos relacionamentos matrimoniais, muitos jovens acreditam ser mais fácil

lidar com crises de relacionamento no início da relação, quando a paixão ainda é novidade.

Depois de completar 50 anos de casados em janeiro, o senhor concorda com essa opinião?

Eliomar: “Eu não vou dizer isso (que era mais fácil). Do jeito que eu era antes – do jeito que

eu comecei com a Verônica, eu tô hoje. Todo mundo passa por crise. Nós também tivemos

crises, mas eu nunca abandonei [falando sobre a depressão de sua esposa, Verônica]. Sempre

achei que um dia as coisas iam mudar. Eu tinha esperança. E graças a Deus hoje mudou muito,

ela (a esposa) está muito feliz, e eu estou ainda mais feliz que ela. E embora, eu sempre achei

que –, a gente via que ela as vezes ficava dois três meses sem recair, aí ela começava a

apresentar o que a gente acreditava que era um começo de depressão. Era uma depressão, e

o alcoolismo era uma fuga. Todo mundo tem seu jeito (de lidar). Tem pessoa que se isola, não
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 21

quer ver ninguém. Tem outras que ficam agressivas. A Verônica foi pro lado da bebida. Mas

foi se tratando e hoje está bem melhor. Não bebe mais.”

59. Conflitos são comuns no casamento, ainda mais depois de 50 anos juntos. Como o senhor

equilibra as demandas e crises de relacionamento?

Eliomar: “O certo é viver bem. Procurar viver bem para poder viver sempre em harmonia e

em paz. E procurar entender o outro. Eu acho que a gente também nunca pode passar os

problemas matrimonias do casal para os filhos. Tem que viver como se –, não é fingir, mas

não mostrar apenas o pior. Tem que dar o exemplo.”

60. Quanto à paternidade, qual a sua opinião quanto a influência dos pais no desenvolvimento

dos filhos? Quais são os objetivos e expectativas ao educar uma criança?

Eliomar: “Eu sempre disse, em toda a minha vida... O meu avô, coitado, cuidou dos filhos com

muita dificuldade, mas ele – ele não sabia ler, mas ele fez questão de que todos os filhos

aprendessem. Ou pouco, ou muito, mas tinha que fazer. Mas eu notei que: ele foi criado com

uma vida difícil, mas os filhos já tiveram uma vida melhor – que são meus pais e meus tios. Eu

tenho certeza de que eu fiquei melhor que meu pai. E que meus irmãos também ficaram um

pouquinho melhor que ele. Tem alguns que não conseguiram, mas enfim. É sempre assim. O

que a gente pensa – o que eu penso, eu sempre quero que meus filhos (sejam) melhores do que

eu. Meu maior sonho é que meu filho fizesse faculdade, mas ele não conseguiu. Tentei várias

vezes, mas ele não conseguiu. A Diane ainda conseguiu, mas o Apuena não. Já meus netos,

graças a Deus, todos eles fizeram faculdade. E amanhã eles vão construir suas famílias e vão

querer que eles sejam bem melhores que eles. Isso é o natural da vida.”
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 22

61. Quando falamos sobre sua infância, o senhor contou que sua experiência e educação foram

bem diferentes do que vemos hoje em dia. O senhor acredita que essas mudanças afetam o

desenvolvimento de modo positivo ou negativo? No passado, era mais difícil ou mais fácil

educar uma criança?

Eliomar: “Acho que antes era mais difícil. Hoje é bem mais fácil. Porque hoje os pais sabem

se comunicar melhor com os filhos, e os filhos sabem se comunicar melhor com os pais.”

62. O senhor contou que durante a infância, o senhor não teve contato com qualquer forma de

tecnologia e influência externa. O senhor acredita que hoje, essas influências tecnológicas

dificultam a educação dos filhos?

Eliomar: “Eu acho que não. A tecnologia está aí para ajudar a gente, e não destruir a gente.

Só tem que saber usar.”

63. O senhor enfrentou dificuldades para se adaptar a mudanças nas dinâmicas de

relacionamento, como casamento, paternidade/maternidade, entre outros?

Eliomar: “Ah, é uma coisa que acontece naturalmente, né? Não sei como, mas a gente aceita

e acaba se acostumando. Mas sempre deixa uma falta. É a mesma coisa, no domingo que eles

não vêm aqui eu sinto uma falta danada. Mas também não vou obrigar eles virem aqui todo

domingo. Eles vêm quando dá pra eles virem.”

64. E como o senhor nutre e mantém seus relacionamentos familiares ao longo dos anos, em

especial agora na vida adulta tardia?

Eliomar: “Sabendo que sempre tem um outro domingo pra eles virem aqui (risos).”
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 23

65. Você sente que suas habilidades sociais e de comunicação evoluíram ao longo do tempo?

Se sim, de que maneira?

Eliomar: “Ah sim, com certeza. Porque a gente é mais aberto, sei lá. As coisas acontecem mais

naturalmente, sem a gente forçar. Então se torna mais fácil, mais amigo. Mais sincero.”

66. Quais são os aspectos mais gratificantes de seus relacionamentos interpessoais agora na

vida adulta tardia? Como você aproveita seu tempo com eles?

Eliomar: “Ah, um conta uma piada, um conta uma história, a gente discute futebol... Quando

meu time ganha, eu vou lá e tiro o sarro deles. Isso aí pra mim é uma maravilha (risos). E

quando meu time perde, eu digo: ‘tudo bem, perdeu, mas vai ganhar de novo’ (risos). Aí a

gente leva tudo na brincadeira. O negócio é brincar enquanto pode. E eu gosto muito de festa.

Adoro. Sempre gostei. A coisa que eu mais gosto é quando eu tô aqui em casa, fazendo meu

churrasquinho, tem bastante gente pra gente conversar, brincar, trocar ideia. Nos

aniversários... Isso eu gosto. E eu gosto que junte a família com os amigos, os dois. Quando

uma pessoa vem à minha casa é porque ela gosta de mim e eu dela, e com a minha família é

também a mesma coisa, claro.”

67. O senhor tem o costume de participar de atividades sociais e comunitárias?

Eliomar: “Ah, de vez em quando a gente tenta fazer uma coisinha, uma brincadeirinha. Gosto

de fazer churrasco e chamar os amigos, reunir a família, fazer uma cantoria. Eu gosto de

bagunça. Antes a gente fazia o ‘Dia das Crianças’ na praça e a gente ia atrás de doce,

brinquedo e palhaço pras crianças. Mas aí começou a ficar difícil. Muita coisinha. Hoje eu

tenho meus amigos do bar, da rua. Também tenho meus irmãos, minha família. A gente faz o

que dá. Mas eu gosto de fazer essas reuniões. É meu costume. Coisa normal de rotina.”
Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 24

68. Durante seu tempo trabalhando, você participava de algum movimento, ação ou atividade

social e comunitária?

Eliomar: “Sim, eu me envolvia. Ih, o quanto eu fiz greve... Fiz muitas. Eu ia e dizia: ‘vou

participar também’. Porque eu achava –, a greve sempre era pra adquirir alguma coisa pra

gente. Então eu ia por prazer.”

69. Quais são suas estratégias para lidar com conflitos e desafios interpessoais?

Eliomar: “Se é questão de família, de ver alguém da minha fazendo algo. Eu observo e digo

assim: se a pessoa pedir minha opinião, eu vou tentar dar. Agora, se ela não pedir, eu também

não vou interferir. Agora, se for coisa de dividir a responsabilidade e tomar decisão, no

trabalho– eu sempre fui assim, eu nunca fui de passar na frente ou ser o ‘cagueta’. Nunca fui

de dedurar. Eu sempre fui de chegar e falar: ‘Ó fulano, o que você está fazendo é errado, e

isso aí vai dar problema pra você, vai dar problema pra equipe, e é o seguinte, é melhor você

parar agora, resolver e esquecer isso que você está fazendo’. Agora, se ele não fizer isso, se

ele continuar fazendo, aí eu primeiramente vou falar pra ele–, eu seria capaz de dizer assim:

‘Olha fulano, eu não vou segurar essa bucha só, eu vou passar isso pra frente. Agora você, o

que você vai fazer? Você vai lá na frente e fala, ou quer que eu fale? Eu quero a sua opinião.

Se você não quiser fazer, eu vou fazer–, falar. Agora, se você falar é muito melhor do que

deixar que um outro fale um problema que é seu. Agora, se você não tiver coragem de falar,

eu vou ter que botar isso pra frente’. Eu sou muito de ser direto. Eu digo logo: ‘Eu não estou

te enganando, eu não quero amanhã ou depois dizendo que alguém dedou você. Porque se

existe algum cara que vai dedar você, esse alguém não sou eu. Não é dedar, eu tô falando que

é isso que eu vou fazer. Eu vou comunicar você e vou dizer que você está sabendo que eu vou

repassar isso pra fulano. Não tô falando pelas costas. Se alguém chamar você aqui pra

conversar, você sabe que foi eu que avisei’.”


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 25

70. Quando o senhor assiste outras pessoas fazendo coisas que vão contra aquilo que você

considera correto, você se abstém, é uma pessoa mais evasiva, ou se considera uma pessoa

combativa, que se posiciona e diz o que pensa?

Eliomar: “Ah não, eu prefiro ajudar. Prefiro ensinar a pessoa. Eu prefiro. Eu acho que se eu

tô vendo que não tá certo, não adianta você se afastar da pessoa. Pra amanhã ou depois você

não parar e pensar: ‘poxa, eu não devia ter ajudado’.”

Transição para a Vida Adulta Tardia:

71. De 80 anos para cá aconteceram muitas mudanças culturais sociais, políticas e tecnológicas.

Como você se adapta à essas rápidas e constantes mudanças?

Eliomar: “A minha opinião é a seguinte: ou você muda ou fica para trás. E mesmo que você

não consiga acompanhar a tecnologia, que é muito rápida, você precisa ir mudando aos

pouquinhos. Mesmo que você não queira, você muda. Não é questão de querer mudar, você é

obrigado a mudar para poder acompanhar.”

72. Você acredita que os comportamentos e modos de pensar coletivos também mudaram?

Eliomar: “Na minha época, a gente sempre respeitava os mais velhos. Pedia a opinião deles.

Hoje você não tem mais isso. Devido a tecnologia, as pessoas são mais antenadas, tem mais

opinião própria. Então tem muita mudança daquela época para cá. Não tínhamos televisão,

nem sequer um rádio. Hoje não, você tem tudo na mão. Fora isso, a nossa maior preocupação

é que nosso filho vá trabalhar e volte seguro. E é a mesma preocupação que meu pai tinha na

época. Que vá e volte seguro. Apesar de toda a violência nas ruas de hoje, não tem tanta

diferença daquela época. As preocupações eu acho que são as mesmas.”


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 26

73. Como se expectativas de vida que o senhor tinha na juventude influenciaram suas escolhas?

O senhor acredita que essas expectativas mudaram agora na vida adulta tardia?

Eliomar: “Mudar (as expectativas) é natural da vida, mas isso foi construído. Pra eu viver

essa naturalidade que eu tenho hoje, eu levei um bom tempo pra construir. Por isso eu acho

que é construir com naturalidade. Vivendo essas expectativas naturalmente. Eu construí meu

passado, meu presente, pra ter um futuro agradável. Pra ter um futuro mais tranquilo.”

74. Como o senhor lida com as expectativas sociais e culturais referentes a vida adulta tardia?

Eliomar: “Enfrentando (risos). Eu não me preocupo com as expectativas sociais, eu prefiro as

minhas. Porque nem sempre a gente vai conseguir o que o outro quer. Até se aproxima, mas

cem por cento você não chega não.”

75. O senhor acredita que sua identidade e ambições foram mudando com o tempo?

Eliomar: “Não. Eu acho que não. Eu nunca fui um cara ambicioso. Eu sempre gostei de ter o

suficiente para sobreviver, mas nunca sonhei em fica rico. Tendo meu dinheiro para comprar

arroz e feijão, e dar meus passeios de vez em quando… Isso foi o que eu sonhei sempre e

graças à Deus é o que eu tenho. Eu tenho uma família maravilhosa. Então eu não mudei, me

adaptei. Eu fui acompanhando a evolução do tempo. Mas mudar meu modo de ser, não.”

76. O senhor acredita que atingiu as metas que estabeleceu para si mesmo quando era mais

jovem? Se não, como isso afeta sua perspectiva sobre a vida adulta tardia?

Eliomar: “Com certeza. Minhas metas eram casar, trabalhar, ter filhos, comprar minha casa,

ter um carro pra me levar pra passear, que atenda minhas necessidades e não precisar de

ninguém. Conseguir sustentar minha própria sobrevivência. Eu consegui todas. Já estou muito

satisfeito. Me sinto realizado..”


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 27

77. Como o senhor definiria sucesso pessoal? E quais são os atributos que o senhor considera

mais importantes na vida adulta?

Eliomar: “É aquela pessoa que venceu por si mesma. Aquela pessoa que não é gananciosa,

não é uma pessoa que pensa só nela. Uma pessoa que sempre pensa no conjunto. Pra mim

uma pessoa bem-sucedida é assim, venceu por si mesma. Não tentou passar por cima de

ninguém. Tem muitas pessoas que, para vencer, sai prejudicando, tratando, matando,

roubando, traindo. Não tem dignidade nenhuma. Então é aquela que venceu, mas sem deixar

de ser o que sempre foi: uma pessoa boa. E tem gente que vence e depois se isola, mas também

não é assim. Você já viu? Não tem pessoas que querem ser mais do que elas são? Não tem

muita gente assim? A pessoa não precisa fazer isso não. Pode ser rica, mas ainda ser simples.”

78. Quais são suas expectativas em relação à saúde, família, finanças, relacionamentos e

qualidade de vida durante essa fase da vida?

Eliomar: “Ah, trabalhar eu não posso mais, né? Mas com relação a família eu quero viver

bem. Em contato com eles, sem nenhuma inimizade. E passando somente coisas boas. Não

quero passar nada de ruim. Deixando que cada pessoa viva sua vida, fazendo o que quiser,

mas com respeito. Sempre respeitando o direito dos outros.”

79. Como o senhor lidou e lida com as incertezas do futuro durante as diferentes fases da vida?

Eliomar: “Estou sempre pensando: Eu quero fazer hoje para não me faltar amanhã. Eu tô

sempre assim. Entendeu? É dentro daquilo que eu acho que –, o futuro que a gente pensa é:

amanhã eu tenho que ter arroz e feijão para comer. Então, todo dia a gente pensa assim. Se

eu vou comer hoje, tem que guardar para dar pra eu comer amanhã também. A gente nunca

pode esquecer que o futuro pode pegar a gente desprevenido. Precisa construir o presente,

para poder receber o futuro,”


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 28

80. Quais são suas maiores preocupações e esperanças em relação à vida adulta tardia?

Eliomar: “Meu maior medo é fica na cama. É porque eu ainda acho que –, parece que meus

filhos, meus netos ainda não encontraram totalmente o caminho deles. Aí eu tenho esperança

que eu vou ver eles conseguindo muito em breve. Aí sim eu vou ficar realizado. Só peço que

Deus me dê essa alegria.”

81. Você se sente otimista ou pessimista em relação ao seu futuro durante a vida adulta tardia?

Eliomar: “Otimista, é claro. É porque eu vejo que, devagarzinho as coisas estão chegando

onde eu quero. Então é sinal de que eu não tô errado (risos). Eu sou otimista de que vai dar

certo pra todo mundo. Essa é minha esperança. Eu nunca deixo de acreditar.”

82. Você cultiva algum tipo de arrependimento com relação ao seu passado?

Eliomar: “Não. Não. Eu sempre disse que o certo é a gente nunca errar, pra não precisar

depois ficar pedindo desculpas. E me sinto uma pessoa de verdade realizada. Eu acho que eu

alcancei boa parte dos meus objetivos, já estão todos praticamente concluídos. Então sou uma

pessoa feliz, muito realizada.”

83. Atualmente, quais são suas maiores fontes de satisfação e felicidade?

Eliomar: “É ver minha família feliz e unida.”

84. Percebendo sua influência e papel na sociedade durante essa fase da vida, o que você

gostaria de deixar para os seus filhos e netos?

Eliomar: “Ah, que eles continuem vivendo em harmonia e paz. Possam continuar sempre se

encontrando. Essa vida que a gente já leva. Quero deixar de exemplo a vida que eu levo. Sem

deixar saudade, mas exemplos.”


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 29

85. Quais são os valores fundamentais que o senhor acredita que deixará como legado?

Eliomar: “Ah, a união. Uma família sem união é muito difícil.”

86. Finalizando essa entrevista, o senhor gostaria de deixar um conselho para as próximas

gerações atingirem esse mesmo nível de realização? Na sua opinião, quais são as qualidades

necessárias para que as pessoas superem as dificuldades e façam uma boa transição para os

diferentes períodos da vida?

Eliomar: “Eu acho que a pessoa precisa se instruir, estudar mais para poder acompanhar a

evolução do tempo. Uma pessoa sem um estudo hoje, sem uma educação boa, não vai ter a

mesma facilidade que nós tivemos lá trás. Antes, com qualquer coisinha você sobrevivia. Hoje

você já não consegue mais. Ou você estuda e acompanha, ou vai passar muita dificuldade.

Isso é o que eu acho. Uma pessoa sem uma faculdade ou um bom curso técnico, ela vai viver

sempre com dificuldade. Com a mesma dificuldade que a gente viveu lá na minha época. Quem

sabia ler e escrever um pouquinho sempre se saia melhor. Então precisa continuar aprendendo.

Evoluindo. É isso que eu acho. E ser humilde. Escutar o que o outro está tentando te ensinar.”

Relatório de Avaliação

Na obra “Desenvolvimento Humano”, de Diane E. Papalia, discute-se o como, à medida

que avançamos na vida, enfrentamos diferentes desafios e responsabilidades. Em específico às

transições para a vida adulta emergente, intermediária e tardia, o livro argumenta o como

enfrentamos questões como: a necessidade de nos estabelecermos em nossas carreiras,

construir relacionamentos duradouros, criar famílias e lidar com as demandas financeiras e

emocionais associadas à vida adulta. Além disso, “Desenvolvimento Humano” explora o como

os hábitos em diferentes períodos da vida se relacionam com o envelhecimento, saúde e bem-

estar, bem como a necessidade de encontrar significado e propósito em nossas vidas.


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 30

Avaliando a transição nos diferentes ciclos de vida, consolidados no período atual do

entrevistado, a Vida Adulta Tardia, podemos notar um progresso linear, alicerçado por hábitos

saudáveis e uma identidade sólida. Observando as questões de saúde prevalentes na vida adulta

tardia, como doenças crônicas, condições médicas relacionadas à idade, problemas de

mobilidade e gerenciamento de saúde geral, identifica-se em Eliomar um envelhecimento

saudável, fundado em bons hábitos de alimentação, saúde do sono, exercício regular, cuidados

preventivos, controle do estresse, e a boa manutenção da saúde física, emocional, cognitiva, e

dos relacionamentos interpessoais. Nota-se um alto nível de independência e autonomia,

relacionadas ao bom sustento das capacidades funcionais que, embora não respondam mais

com a mesma vitalidade da juventude, são adaptadas pela autoconsciência, senso de

responsabilidade e autocuidado do entrevistado.

Quanto ao desenvolvimento da personalidade, de acordo com o modelo de traços, em

particular a Teoria dos Cinco Fatores, Eliomar parece pontuar bem nas cinco dimensões

principais: abertura à experiência, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e neuroticismo

(ou estabilidade emocional). Nota-se no entrevistado curiosidade e interesse ativo pelo mundo

exterior (abertura à experiência), expressos através da sua busca por aprimoramento e

atividades intelectualmente estimulantes. Eliomar também mantém um alto nível de

engajamento em suas atividades cotidianas, preservando a organização, responsabilidade e a

disciplina ao longo da vida, com ênfase no compromisso em manter hábitos saudáveis ao longo

da vida (conscienciosidade).

Além disso, embora se apresente como uma pessoa pacata, muito pensativa, e sem

muitos amigos (apenas colegas), Eliomar expressa uma tendência ao comportamento social

assertivo e voltado para o exterior (extroversão), mantendo uma ampla rede de relacionamentos,

interações sociais e se envolvendo em atividades comunitárias. Também, ainda relacionado à

essas interrelações, nota-se em Eliomar um alto nível de gentileza, empatia e cooperação


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 31

(amabilidade), concentrando-se em manter relacionamentos saudáveis, oferecer apoio

emocional aos outros e contribuir para o bem-estar da comunidade. E por fim, relacionado ao

último fator, o neuroticismo ou estabilidade emocional, Eliomar apresenta uma capacidade

expressiva em lidar com o estresse, manter um estado de espírito positivo e o cultivo de uma

alta resiliência emocional.

Além da Teoria dos Cinco Fatores, seguindo aos pressupostos de Erik Erikson,

podemos avaliar o entrevistado utilizando os estudos da oitava fase do desenvolvimento, a qual

se refere à Vida Adulta Tardia. Erikson sugere que nesse estágio, que ocorre aproximadamente

após os 65 anos, os indivíduos enfrentam a crise entre “integridade versus desespero”, onde,

ao refletirem sobre a qualidade suas vidas, ponderando se suas metas e objetivos foram

alcançadas, os indivíduos buscam um senso de realização e contentamento, ou podem

experimentar sentimentos de arrependimento e desespero. Segundo Erikson, a conclusão

satisfatória dessa crise resultaria em um bem-estar emocional e psicológico, importantes para

o bom desenvolvimento na vida adulta tardia.

Quanto ao entrevistado, nota-se que Eliomar apresenta um senso genuíno de satisfação

e aceitação das próprias escolhas e conquistas, expressando-se como uma pessoa receptiva às

mudanças e desafios. Ao alcançar a “integridade”, Eliomar apresenta em suas palavras paz e

contentamento consigo mesmo, aceitando seus sucessos e falhas igualmente, concluindo em

uma visão positiva de sua própria vida.

Outra questão que aponta para a conclusão satisfatória dessa fase são suas conexões

interpessoais, expressas através da boa manutenção dos relacionamentos sociais, familiares e

afetivos, assim como a boa percepção e valorização pessoal de sua contribuição e influência

em seu núcleo social. Na bibliografia de Papalia, os autores também sugerem que o bom

enfrentamento das mudanças nos relacionamentos, como aposentadoria, perda de entes

queridos, transições familiares e mudanças na saúde, como também o estabelecimento de uma


Psicologia Escolar e das Necessidades Especiais: Relatório de Avaliação 32

rede de apoio social forte, podem auxiliar os adultos a lidarem com os estresses, desafios e

ansiedades da vida adulta tardia, promovendo o envelhecimento saudável e melhorando sua

qualidade de vida.

Referências

PAPALIA, Diane E.; MARTORELL, Gabriela. Desenvolvimento Humano. 12ª

Edição. Porto Alegre: Artmed. 2022.

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