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ART02178 - Seminários De Arte No Brasil ll - Turma U (2023/2)

Professora: Gabriela Motta


Aluna: Andréia Moreira
PAMELA ZORN VIANNA
Pâmela Zorn nasceu em Três Coroas,
filha de mãe com descendência alemã e pai
de família majoritariamente negra.
Seu trabalho tem uma temática
permeada pela figura humana, por noções
de impermanência, desfiguração e
identidade.
Encontra na pintura sempre a
possibilidade de construir, destruir e
reconstruir, faz disso um diálogo permanente
com seu trabalho, que ela chama de “luta” e
complementa que é uma luta que ela adora.
DESTACO “ENTRE LUGARES”
Pintura

Desenho

Fotografia

Autorrepresentação

Autorretrato

Identidade racial

Entre lugares
“Utilizo o termo ENTRE LUGARES para
referir-me ao meu processo artístico,
uma vez que o percebo em lugar de
trânsito entre linguagens e
procedimentos. Entre lugares também
diz respeito a reflexão que faço sobre
o lugar do corpo mestiço / negro de
pele clara e que se torna a figura em
questão representada em meus
trabalhos.”
# pintura acrílica e fotografia

# imagem e palavra

# tratamento pictórico denso, em que a


materialidade da tinta está mais evidente

# tratamento mais diluído que incorpora os


escorridos da tinta na construção das
figuras.
TCC com orientação de Marilice Corona
2015-2022

“que questões o autorretrato levanta em meu


trabalho?

Como as noções de tempo e de


autoconhecimento operam em relação ao
tema?”
“Já havia me dado conta, quando
trabalhei na Pinacoteca Barão de Santo
Ângelo do Instituto de Artes da UFRGS,
que conhecia um número pequeno de
autorrepresentações feitas por pessoas
não-brancas. Busco então, analisar
brevemente, a partir de bell hooks,
presenças e ausências de artistas negros
nas instituições em que trabalhei nos
últimos anos.”
bell-hooks
Lynette Yiadom Boakye
Maria Lidia Magliani
Sidney Amaral, O sonho do
garoto ou o atleta de Kichute
(Estudo), 2014, aquarela e
grafite sobre papel, 38,3 x
27,7 cm.
...”enquanto estudante no Instituto de Artes (IA) da UFRGS,
acredito que me interessei por diversos assuntos e
temáticas e explorei algumas delas em minhas práticas
artísticas. Hoje, sou capaz de enxergar conexões entre
esses temas e, no que diz respeito à linguagem, sempre
estive mais conectada ao fazer manual do desenho e da
pintura - sendo esta última “descoberta”, por assim dizer,
dentro do curso e do atelier do IA. O que me encantou
mesmo foi o exercício da pintura: a manipulação dos
materiais, o acúmulo de matéria e a gestualidade, a
“cozinha da pintura”, o entendimento gradual das cores, a
construção do espaço pictórico e de figuras por camadas, e
o desafio do tempo - pois falar sobre pintura é falar também
(e talvez principalmente) sobre o tempo.”
Pamela Zorn Vianna, Sem título,
série Identidades (in)visíveis, 2015,
aquarela sobre papel, 42 x 29,7 cm.
Fonte: Pamela Zorn Vianna (2015).
2016 e 2018 aulas
de desenho com
Wilson Cavalcante
(Cava) no Atelier
Livre da Prefeitura
de Porto Alegre

Pamela Zorn Vianna, Coabitar (realizada no Atelier Livre,


para a cadeira Tópicos Especiais em Desenho IV), 2017,
carvão mineral e acrílica sobre papel kraft, 96 x 66 cm.
Fonte: Filipe Conde (2017).
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
“A partir de então, trabalhei com diferentes
temáticas, estas sempre permeadas pelas noções
de impermanência e desfiguração, presentes
acima de tudo no tratamento dado aos trabalhos -
a pintura rápida, a marca das pinceladas, a
incorporação dos escorridos de tinta na construção
das figuras. Por algum tempo, durante os anos de
2018 e 2019, utilizei a figura de crânios de
animais, que representei em pinturas em acrílica a
partir de observação direta desses objetos. Havia
nesses trabalhos a atração pelo crânio como
objeto simbólico que, em um nível pessoal, me
remete à passagem de tempo, a finitude da
matéria, ao retorno à terra.”
2019, faz uma série de experimentações a fim de tensionar essa produção,
pensando na ideia da fragmentação e da perda da referência da figura.

Pamela Zorn Vianna, Estudo/Experimentação com cortes, 2019, acrílica sobre tela, dimensões variadas.
Fonte: Pamela Zorn Vianna (2019).
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
Esse corpo não é sujo (2019)

Pinacoteca Ruben Berta em Porto Alegre


(exposição coletiva Artistas Mulheres, Tensões e Reminiscências,
de curadoria do coletivo Mulheres nos Acervos)

chave importante para começar a


amarrar sua trajetória. Constrói então, um
conjunto de autorretratos feitos a partir do uso
de espelhos, com observação direta, em que
utiliza como material a sanguínea em barra e o
sangue menstrual.
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
Pamela Zorn Vianna, Esse corpo não é
sujo, 2019, sangue e sanguínea sobre
papel, dimensões variadas. Fonte: Pamela
Zorn Vianna
“Esse trabalho me levou a refletir muito
sobre identidade e também sobre a
impermanência (devido ao material
escolhido, que por sua condição orgânica
se transfigura com o tempo). Também me
levou a refletir sobre os muitos estigmas
racistas relacionados ao corpo da mulher
negra, e sobre a autorrepresentação
como uma maneira poderosa e
contundente de autoafirmação e de
afirmação de uma identidade.”
“Ancorada na pintura figurativa de
autorrepresentação, construída a partir
do estudo do autorretrato, de elementos
autobiográficos e afetivos - tais como
espelhos, porta-retratos, antigos álbuns
de família, indumentária e até mesmo a
reciclagem de antigos trabalhos -, busco
criar um universo pessoal e simbólico
com meus trabalhos, e com eles refletir
sobre questões de identidade e raça, a
partir da investigação em pintura, desenho
e fotografia.”
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
Pamela Zorn Vianna, Pertencimento, 2021, acrílica sobre tela, 150 x 170 cm. Fonte: Pamela Zorn Vianna
Pamela Zorn Vianna, Encenação, 2021, acrílica sobre tela, 170 x 150 cm.. Fonte: Pamela Zorn Vianna
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
“Em se tratando de autorretratos, há uma
contundente tradição do uso do espelho
no decorrer da história. Espelho este que
se configura não apenas como metáfora
para o autoconhecimento, mas também
como ferramenta, como procedimento para
“capturar” a própria imagem em sua
construção.”
.
Pamela Zorn Vianna, Arquivo de trabalho, 2020, fotografia
“No processo de pintura e mesmo de
desenho, usar como referência visual uma
imagem refletida e em movimento é muito
diferente de realizar uma observação
direta de um modelo que posa (em um
retrato), e mais ainda de usar uma
fotografia (de si ou de outra pessoa) como
referência para observação.”
Autorretrato

algum lugar entre (“Entre-Lugares”)

o ser que produz,

o reflexo no espelho

e a obra em processo.
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
Pamela Zorn COABITAR: Pintura, processos e os limiares
“O ponto de partida para conceber os autorretratos foi
a coleta de elementos que referenciam meu
processo de construção identitária em meu núcleo
familiar. Comecei com vestimentas específicas; há
tempos pensava em utilizar essa indumentária que
vêm sendo simbólica em meu entendimento de
identidade: eu, enquanto pessoa negra de pele clara
e filha de uma relação interracial, desde muito nova
sempre me senti convivendo entre e em duas
realidades distantes e distintas (uma da família
materna, branca com descendência alemã, e outra
da família paterna, majoritariamente negra), nas
quais eu me via como uma espécie de ponte,
ocupando uma espécie de “não-lugar”, ou mesmo,
um “lugar-entre”.”
Pamela Zorn Vianna, Arquivo de trabalho, 2020, fotografia.
“...resolvi começar com duas telas de aproximadamente 150 x 170 cm cada, construindo-
as concomitantemente nas paredes do meu quarto. “

Pamela Zorn Vianna, Registro de atelier, 2020.


Pamela Zorn Vianna, Arquivo de trabalho, 2020.
... aprendi, assim, que uma só
imagem se torna o acúmulo de
muitos momentos.
Fonte: ROSA, Renato. Magliani: A solidão do
corpo. Pinacoteca Aldo Locatelli. Prefeitura de
Porto Alegre, 2013, p. 4
(...) não sei como me definir deste ou daquele jeito. Ficariam faltando
muitos ‘eus’ que não conheço, que ainda não encontrei. Não vejo nada de
extraordinário nisto, suponho que aconteça com todos. (...) Acho
importante quando falam sobre o que o meu trabalho move em cada um,
independentemente de sua cultura ou formação. Sou eu que estou
querendo perguntar, não explicar. Não sou eu que tenho as respostas,
mas talvez cada um de nós encontre a sua, desde que se ouça e continue
se perguntando sempre. Prefiro ouvir, saber como os demais estão vendo
e saber em que sentido ou medida estou acrescentando ou não. Meu
idioma é a imagem, a forma, a procura de um alfabeto próprio através da
cor (MAGLIANI, 1987).
Na mesma entrevista, ao ser questionada sobre possíveis questões da
negritude e feminismo em sua obra, Magliani questiona de volta: “É minha
vez de perguntar: por que parece tão excepcional que um negro pinte? Por
que a condição racial dos artistas de cor branca nunca é mencionada?”
(MAGLIANI, 1987. In: Magliani: Solidão do corpo, 2013).
“Comecei a sentir necessidade de diminuir um pouco a escala, e ir jogando com a diferença
de dimensões, produzindo vários desenhos pequenos de 15 x 22 cm, com lápis de cor sobre
papel pólen.”

Pamela Zorn Vianna, série Álbum de Família, 2020, lápis de cor sobre papel pólen, 15 x 22 cm (cada).
Pamela Zorn Vianna, série Álbum de família, 2020, lápis de cor sobre papel pólen, 15 x 22 cm (cada).
Pamela Zorn Vianna, políptico Este solo é ruim para certos tipos de flores, 2020-21, acrílica sobre tela, 25 x 30 cm (aproximadamente).
Pamela Zorn Vianna, políptico Este solo é ruim para certos tipos de flores, 2020-21, acrílica sobre tela, 25 x 30 cm (aproximadamente).
Pamela Zorn Vianna, políptico Este solo é ruim para certos tipos de flores, 2020-21, acrílica sobre tela, 25 x 30 cm (aproximadamente).
Pamela Zorn Vianna, políptico Este solo é ruim para certos tipos de flores, 2020-21, acrílica sobre tela, 25 x 30 cm (aproximadamente).
mente).
Pamela Zorn Vianna, políptico Este solo é ruim para certos tipos de flores, 2020-21, acrílica sobre tela, 180 x 330 cm (aproximada
“Este solo é ruim para certos tipos de flores é
o título deste trabalho, e é também uma
passagem da escritora Toni Morrison (1931-
2019), das últimas páginas do romance O
olho mais azul (1970). Ela foi a primeira
escritora negra a receber o prêmio 81 Nobel
de Literatura, em 1993.”
“O políptico conta hoje com 66 telas de
aproximadamente 25 x 30 cm cada (uma
dimensão aproximada, uma vez que os cortes
não são feitos com tanta exatidão), ou seja,
quando instalado em sua totalidade, poderia
chegar em cerca de 180 x 330 cm de dimensão.
Entretanto, não considero o trabalho acabado:
acredito que esta pode ser realmente uma
pintura em processo contínuo, que possibilitará
uma infinidade de descobertas pictóricas e de
combinações instalativas - o que por sua vez
pode gerar novos sentidos e interpretações a
quem lhe dirigir o olhar.”
Lugares de busca...

https://ariogoncalves.com.br

https://www.youtube.com/watch?v=0Jp8zGPwPzA

https://drive.google.com/file/d/1AEZiaE0W-GOEyBIywusfB7f5B68AAANr/view

https://www.instagram.com/p/CV3Jn3iJ7De

https://www.facebook.com/pamela.zorn

https://www.escavador.com/sobre/561049072/pmela-zorn-vianaa

https://lume.ufrgs.br/handle/10183/222935

https://www.instagram.com/a_risca.rs/

https://www.artequeacontece.com.br/qual-e-a-importancia-do-trabalho-de-lynette-yiadom-boakye/

https://peita.me/blogs/putablog/com-pesar-nos-despedimos-bell-hooks-ananda-vilela

https://projetoafro.com/editorial/curtas/festival-negrarte-homenageia-sidney-amaral/

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